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A cultura yoruba foi a mais importante das culturas negras trasladadas ao Brasil
(RAMOS, 1979, p. 189)
Religiões e cultos, folclore, música e dança, cultura material, língua... todos esses
elementos culturais foram transportados para o Brasil pelos negros nagôs,
dominando as outras culturas negras aqui introduzidas. (RAMOS, 1979, p. 190)
∗
Graduando em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, CCHS, sob orientação do Prof. Dr.
Jérri Roberto Marin.
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A chegada dos daomeanos, chamados jejes no Brasil, deu-se durante os dois últimos
períodos, enquanto a dos nagôs-iorubás corresponde sobretudo ao último.
(VERGER, 1987, p.10 apud PRANDI, 2000, p.56)
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Iorubalândia: Termo utilizado para referir-se ao território ancestral iorubá, localizado no que hoje corresponde
ao sudoeste da Nigéria e leste do Benin, na região de fronteira com a Nigéria.
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Isefá: Pronuncia-se Ixefá. Trata-se da primeira intervenção ritual dentro do culto específico de Orunmilá-Ifá.
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Isese ou Esin Ibile Yoruba: Nomes, em yoruba, do que no Brasil é chamado de Religião Tradicional Yoruba.
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atender os filhos e os clientes. Ele ainda não possui casa aberta em Mato Grosso do Sul até o
momento, sendo esse um projeto em andamento. Baba Rodrigo é um caso peculiar. Iniciou-se
no Candomblé Ketu, tradição de Axé Muritiba, filho de Pai Marco e neto de Mãe Juju, vindo
posteriormente a iniciar-se no Isese no culto do Orixá Obatalá e no culto de Oxum, sendo,
pelo Isese, filho do Babá Sikiru Salami (Babá King) do Templo Oduduwa. Contudo, Babá
Rodrigo não abandonou totalmente o Candomblé, pois prefere a agregação, isto é, agregar
conhecimentos através do culto yorubá, ao passo em que mantém-se fiel à sua tradição de
Candomblé, onde é iniciado do Orixá Oxaguiã. Dessa forma, Babá Rodrigo preserva a
estrutura do Candomblé e os ensinamentos de sua família de axé candomblecista, ao passo em
que traz do Isese mais conhecimentos teológicos e rituais, supostamente perdidos no
Candomblé. Ele atende utilizando o Merindinlogun-Ifá em sistema africano, para citar uma
das situações em que faz uso de seu conhecimento adquirido no Isese, ou religião tradicional
yoruba.
Todos esses sacerdotes, exceto Pai Rodrigo de Oxalá, tem em comum a busca pela
originalidade nagô, pelo fundamento perdido no Brasil e que estaria preservado na África.
Acreditam e pregam que a religião tradicional yorùbá é o culto mais autêntico aos Orixás, o
original, e que o Candomblé estaria deturpado e muito distante de suas origens. Pai Rodrigo
difere-se pela crença de que é preciso cautela frente a tal discurso de originalidade, pois o
Candomblé também é um culto de Orixá autêntico, porém adaptado ao Brasil e que diz
respeito aos brasileiros e que, nesse caso, a atitude mais prudente seria a de aproximar-se da
religião tradicional yoruba no sentido de agregar e não de abandonar a ancestralidade
brasileira.
O campo das religiões africanas é objeto de inúmeras relações de forças, de lutas pelo
poder, de tensões entre instituições, entre os diferentes agentes e entre esses e os
consumidores de produtos desse mercado. O capital simbólico é desigualmente distribuído
entre aqueles que o detém, ou seja, um especialista, aquele que tem autoridade, que vende um
produto e, no outro extremo, os destituídos de capital simbólico, os leigos, os consumidores
de um ou mais produtos. “Essa distribuição desigual do capital simbólico determina a
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estrutura do campo, que é definida pelo estado entre as forças (agentes, instituições,
especialistas, leigos) presentes nele” (OLIVEIRA, 2003, p. 179). Esses agentes, que detém
um capital simbólico específico e vendem um produto, disputam com a concorrência o
mercado de bens simbólicos. Assim, combatem aos concorrentes, às novas ideias e os
pensamentos divergentes a fim de legitimarem as suas posições e manterem-se no poder e no
mercado. O objetivo é excluir e deslegitimar a concorrência a fim de conquistarem o domínio
completo do trabalho do outro. Enfim, o campo das religiões de matriz africana é marcado por
conflitos, tensões e lutas pelo poder.
A (re)africanização significa a oferta de um novo produto, mais competitivo, num
mercado que é disputadíssimo. A defesa da originalidade trazida pelo Isese, ou pelo culto de
Ifá no Brasil, funciona como estratégia de marketing, tanto por parte de africanos que,
sabendo que o Brasil é um país com grande fé nos Orixás e imigram para o Brasil, quanto dos
adeptos brasileiros, que financiam a vinda de sacerdotes africanos iorubas ou vão à África,
investindo em sua formação religiosa. Essa proximidade da África lhes garante a propaganda
de que seus serviços são melhores, especialmente em relação aos serviços oferecidos pelas
religiões afro-brasileiras, atraindo filhos e clientes, conquistando um mercado que em um
passado próximo era disputado principalmente entre a Umbanda e o Candomblé no cenário
afro-religioso. Agora, no Brasil, tem-se mais um produto religioso: a Religião Tradicional
Yoruba ou Culto de Ifá.
Outros adeptos optam por manterem-se fiéis ao Candomblé, vendo a (re)africanização
como uma incoerência e um desrespeito ao que os ancestrais afro-brasileiros construíram em
duras épocas, como é o caso de Pai Air de Ogun e da Iyawo Geisseli de Yemanjá, ambos do
Ile Ase Ogun, casa de Candomblé Ketu, descendente do Ile Oxumarê, em Campo Grande.
A ideia de originalidade trazida pela (re)africanização do Candomblé é questionável.
A cultura e a religião yorùbá sofreu adaptações e transformações tanto no Brasil como em
território africano. A Iorubalândia sofreu invasões muçulmanas e europeias que, além de
terem convertido a maioria da população ao Islamismo ou ao Cristianismo, influenciaram a
cultura e a religião. O próprio tráfico transatlântico de escravizados fez com que muitos
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Para ele foi impactante encontrar do outro lado do Atlântico uma história que foi
extraída de sua origem de forma violenta séculos atrás, e que hoje é perpetuada por
descendentes brasileiros e que lutam para preservação deste patrimônio. (...) O rei
saiu daqui maravilhado com tudo que viu. Por diversas vezes, ele falava do orgulho
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Alaafin: Título tradicional do Rei (Obá) de Oyó.
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