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Poder Judiciário da União Fls.

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Órgão : 2ª TURMA CÍVEL


Classe : APELAÇÃO CÍVEL
N. Processo : 20160710150948APC
(0014355-66.2016.8.07.0007)
Apelante(s) : DISTRITO FEDERAL
Apelado(s) : ESPOLIO DE NICOLA DE BRITO E OUTROS
Relator : Desembargador JOÃO EGMONT
Acórdão N. : 1068932

EMENTA

CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO.


ARROLAMENTO SUMÁRIO. IMPOSTO DE TRANSMISSÂO
CAUSA MORTIS. ITCD. PARTILHA AMIGÁVEL. FORMAL DE
PARTILHA. PRÉVIA QUITAÇÃO DOS TRIBUTOS.
DESNECESSIDADE. INOVAÇÃO DO CPC DE 2015.
RESERVA DE LEI COMPLEMENTAR. ART. 146, III, CF.
MATÉRIA PROCESSUAL. RECURSO IMPROVIDO.
1. Apelação Cível contra sentença proferida no procedimento
de arrolamento sumário. 1.1. Expedição de formal de partilha
de imóvel e de veículo à meeira e à herdeira do autor da
herança, sem prova de quitação do ITCD.
2. É fato incontroverso a aplicação do arrolamento sumário ao
caso, pois as partes são maiores, capazes e há consenso na
partilha na partilha dos bens. 2.1. O legislador, ao prever o
procedimento sumário, quis dar celeridade ao processo de
inventário, com o intuito de amenizar a dor da família e realizar
a divisão dos bens do de cujus da forma mais célere possível.
2.2. Em face dessa peculiaridade do arrolamento sumário, o
art. 662, § 2º, do CPC dispõe que no referido instituto não
serão apreciadas questões relativas à quitação de tributos
cabíveis. 3.3 Eventuais diferenças apuradas pelo Fisco em
sede administrativa poderão ser cobradas por execução fiscal.
3. Aobrigatoriedade de recolhimento de todos os tributos
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previamente ao julgamento da partilha (art. 664, §5º, CPC) foi


afastada pelo próprio art. 659, ao prever sua aplicação apenas
ao arrolamento comum. 3.1. A inovação trazida pelo Novo
Código de Processo Civil de 2015, em seu art. 659, §2º, com
foco na celeridade processual, permite que a partilha amigável
seja homologada anteriormente ao recolhimento do imposto de
transmissão causa mortis, e somente após a expedição do
formal de partilha ou da carta de adjudicação é que a Fazenda
Pública será intimada para providenciar o lançamento
administrativo do imposto, supostamente devido. 3.2.
Precedente desta Turma: "(...) 2. O Novo Código de Processo
Civil de 2015 não condicionou a homologação da partilha à
quitação dos tributos cabíveis, limitando-se, apenas, a
determinar, após o trânsito em julgado, a intimação da Fazenda
Publica para o lançamento administrativo do tributo cabível.
(...)" (20150710123720APC, Relator: Gislene Pinheiro, 2ª
Turma Cível, DJE: 15/08/2016).
4. Tal regra excepcionou o art. 192 do Código Tributário
Nacional ("nenhuma sentença de julgamento de partilha ou
adjudicação será proferida sem prova da quitação de todos os
tributos relativos aos bens do espólio, ou às suas rendas"), haja
vista que, tendo por base o rol elencado no art. 146 da
Constituição Federal, o conteúdo do supracitado artigo não é
de natureza tributária, e sim processual, sendo o mesmo
entendimento aplicado ao art. 31 da Lei de Execução Fiscal.
4.1. Desse modo, não sendo os dispositivos de reserva de Lei
Complementar, entende-se que o mencionado artigo do CTN
poderá ser derrogado por Lei Ordinária mais recente.
5. Em suma: diante da nova sistemática processual civil, não há
se proceder em tais casos (arrolamento sumário) à verificação
da regularidade tributária por parte do Fisco antes da
homologação da partilha, devendo tal matéria ser tratada na
esfera administrativa, após o trânsito em julgado da
homologação da partilha.
6. Apelação improvida.

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ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 2ª TURMA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, JOÃO EGMONT - Relator,
CARMELITA BRASIL - 1º Vogal, CESAR LOYOLA - 2º Vogal, sob a presidência do
Senhor Desembargador CESAR LOYOLA, em proferir a seguinte decisão: NEGAR
PROVIMENTO. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas
taquigráficas.
Brasilia(DF), 13 de Dezembro de 2017.

Documento Assinado Eletronicamente


JOÃO EGMONT
Relator

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RELATÓRIO

Cuida-se de apelação interposta pelo DISTRITO FEDERAL contra


a sentença de fl. 36, que homologou partilha de fl. 2/5, nos autos do inventário nº
2016.07.1.015094-8 (arrolamento sumário), ajuizado por MARIA DE NAZARÉ DE
SOUZA BRITO E MARIA ADRIANA DE SOUZA BRITO SILVA, herdeiras de Nicola
de Brito.
Na inicial, as autoras pedem a homologação da partilha dos bens
deixados por Nicola de Brito, falecido em 11/4/2016, esposo e pai das autoras. O
falecido possuía um imóvel localizado na QSF 12, Casa 206, Taguatinga Sul/DF,
CEP: 72.025-620, no valor de R$ 132.092,71, e de um automóvel FIAT UNO Mille
Eletronic, ano 1993, avaliado em R$ 6.108,00. As autoras acordaram que os bens
seriam partilhados 50% para cada uma das partes e esclarecem que não havia
qualquer débito com a Fazenda Pública Federal (fls. 2/5).
Por meio da sentença, foi homologada a partilha, ressalvando os
direitos de terceiros, determinando-se a expedição de formal de partilha e demais
documentos. Também foi determinada a intimação da “Fazendo Pública para
lançamento administrativo do imposto de transmissão e de outros tributos porventura
incidentes, conforme dispuser a legislação tributária, consoante o §2º do art. 622”(fl.
36).
Em sua apelação, o Distrito Federal pugna pela reforma da
sentença na parte em que determinou a expedição de formal de partilha sem prova
da quitação do ITCD incidente sobre os bens transmitidos, condicionando-se tal
expedição à prévia comprovação do pagamento do referido tributo e de outros que
eventualmente incidam. Sustenta que não houve prévia comprovação de quitação do
ITCD e dos demais débitos tributários eventualmente devidos pelo espólio, tendo
sido intimada a Fazenda para lançamento administrativo do imposto de transmissão
e de outros tributos por ventura incidentes. Alega que há risco de grave dano ao
Distrito Federal, porquanto, pode haver a expedição dos formais de partilha e demais
documentos som a prova da quitação dos tributos devidos. Assevera que nem no
Código de Processo Civil de 1973 e nem no atual é permitido o encerramento do
arrolamento sem a prévia comprovação de quitação dos tributos. Alega que o não
pagamento de tributos não impede a homologação da partilha, mas impede a
expedição dos formais e alvarás (fls. 44/61).
Contrarrazões pelo improvimento do apelo (fls. 75/84).
É o relatório.

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VOTOS

O Senhor Desembargador JOÃO EGMONT - Relator


Conheço do recurso, porquanto presentes os pressupostos de
admissibilidade.
Cuida-se de apelação interposta pelo DISTRITO FEDERAL contra a
sentença de fl. 36, que homologou partilha de fl. 2/5, nos autos do inventário nº
2016.07.1.015094-8 (arrolamento sumário), ajuizado por MARIA DE NAZARÉ DE
SOUZA BRITO E MARIA ADRIANA DE SOUZA BRITO SILVA, meeira e herdeira de
Nicola de Brito.
Em sua apelação, o Distrito Federal pugna pela reforma da sentença
na parte em que determinou a expedição de formal de partilha sem prova da
quitação do ITCD incidente sobre os bens transmitidos, condicionando-se tal
expedição à prévia comprovação do pagamento do referido tributo e de outros que
eventualmente incidam. Sustenta que não houve prévia comprovação de quitação do
ITCD e dos demais débitos tributários eventualmente devidos pelo espólio, tendo
sido intimada a Fazenda para lançamento administrativo do imposto de transmissão
e de outros tributos por ventura incidentes. Alega que há risco de grave dano ao
Distrito Federal, porquanto, pode haver a expedição dos formais de partilha e demais
documentos som a prova da quitação dos tributos devidos. Assevera que nem no
Código de Processo Civil de 1973 e nem no atual é permitido o encerramento do
arrolamento sem a prévia comprovação de quitação dos tributos. Alega que o não
pagamento de tributos não impede a homologação da partilha, mas impede a
expedição dos formais e alvarás (fls. 44/61).
No caso dos autos, discute-se se é possível a expedição de formal
de partilha sem prova da quitação do ITCD incidente sobre os bens transmitidos.
O tema tratado nos autos (arrolamento sumário) sofreu alteração
com o advento do Novo Código de Processo Civil de 2015, que modificou sua forma
de tramitação.
Vale frisar que há no ordenamento jurídico três procedimentos para
instrumentalizar a sucessão: a) o inventário sob o rito comum, ou arrolamento
comum, atualmente disciplinado nos artigos 664, 665 e 667 do Código de Processo
Civil, considerado como regra geral; b) o arrolamento sumário, previsto nos artigos
659 a 663 do Código de Processo Civil, utilizado nos casos de partilha amigável,
como é o caso dos autos; c) o inventário extrajudicial, previsto no artigo 610, §§ 1º
e 2º, do mesmo diploma legal.

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É fato incontroverso a aplicação do arrolamento sumário ao caso,


pois as partes são todas capazes e há consenso na partilha dos bens do autor da
herança.
O legislador, ao prever o procedimento sumário, quis dar celeridade
ao processo de inventário, com o intuito de amenizar a dor da família e realizar a
divisão dos bens do de cujus da forma mais célere possível.
A respeito do tema arrolamento sumário, o docente Marcus Vinícius
Rios Gonçalves tece as seguintes considerações (Direito Processual Civil
Esquematizado, São Paulo: Saraiva, 2016, p. 624), in verbis:

"(...) este constitui forma ainda mais simplificada, a ser


observada quando todos os herdeiros forem maiores e
capazes, e estiverem de acordo. A rigor, não haveria
necessidade de ingresso em juízo, já que preenchidos tais
requisitos, o inventário e a partilha podem ser feitos por
escritura pública. Mas os interessados podem preferir a via
judicial, caso em que se valerão do arrolamento sumário. O
valor dos bens é irrelevante, bastando que haja acordo entre os
herdeiros, e que eles sejam todos capazes." (grifo do autor).

Em face dessa peculiaridade do arrolamento sumário, os art. 659, §


2º, e art. 662, § 2º, do CPC dispõem que no referido instituto não serão apreciadas
questões relativas à quitação de tributos cabíveis, nos seguintes termos:

"Art. 659. A partilha amigável, celebrada entre partes capazes,


nos termos da lei, será homologada de plano pelo juiz, com
observância dos arts. 660 a 663.
§ 1o O disposto neste artigo aplica-se, também, ao pedido de
adjudicação, quando houver herdeiro único.
§ 2o Transitada em julgado a sentença de homologação de
partilha ou de adjudicação, será lavrado o formal de partilha ou
elaborada a carta de adjudicação e, em seguida, serão
expedidos os alvarás referentes aos bens e às rendas por ele

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abrangidos,intimando-se o fisco para lançamento


administrativo do imposto de transmissão e de outros
tributos porventura incidentes, conforme dispuser a
legislação tributária, nos termos do § 2 o do art. 662.
[...]
Art. 662. No arrolamento, não serão conhecidas ou
apreciadas questões relativas ao lançamento, ao
pagamento ou à quitação de taxas judiciárias e de tributos
incidentes sobre a transmissão da propriedade dos bens
do espólio.
§ 1o A taxa judiciária, se devida, será calculada com base no
valor atribuído pelos herdeiros, cabendo ao fisco, se apurar em
processo administrativo valor diverso do estimado, exigir a
eventual diferença pelos meios adequados ao lançamento de
créditos tributários em geral.
§ 2o O imposto de transmissão será objeto de lançamento
administrativo, conforme dispuser a legislação tributária,
não ficando as autoridades fazendárias adstritas aos
valores dos bens do espólio atribuídos pelos herdeiros."

Assim, nota-se que no arrolamento sumário não há necessidade da


Fazenda Pública ser citada, sendo necessário apenas sua intimação da sentença
homologatória. Nesse sentido, são válidas as lições do professor Humberto
Theodoro Junior em sua obra "Curso de Direito Processual Civil", Volume II, 2016, p.
301 (versão e-book):

"A apuração, lançamento e cobrança do tributo sucessório


serão realizados totalmente pelas vias administrativas (art. 662,
§ 2º). Isto em nada diminui as garantias do Fisco, uma vez que,
após a homologação da partilha, o seu registro não se poderá
fazer no Registro de Imóveis sem o comprovante do
recolhimento do tributo devido (art. 143 da Lei dos Registros
Públicos). (...)

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Com isso, tornaram-se estranhas ao arrolamento todas as


questões relativas ao tributo incidente sobre a transmissão
hereditária de bens. De tal sorte que, nesse procedimento
especial, "não pode a Fazenda Pública impugnar a estimativa
do valor dos bens do espólio feita pelo inventariante - valor
atribuído tão somente para fins de partilha - e requerer nova
avaliação para que se possa proceder ao cálculo do Imposto de
Transmissão causa mortis, uma vez que este será sempre
objeto de lançamento administrativo, conforme dispuser a
legislação tributária, não podendo ser discutido nos autos de
arrolamento".
Em face dessa nova orientação legislativa, nem mesmo vista
mais se abre à Fazenda Pública para falar sobre as
declarações do inventariante. Como tem proclamado a
jurisprudência, "a vista, que tinha a Fazenda no texto anterior
(art. 1.033) [NCPC, art. 661], foi deliberadamente suprimida no
texto novo, o que significa que a fiscalização se deslocou para
a esfera administrativa".

Dessa forma, ao contrário do afirmado pelo apelante, a


obrigatoriedade de recolhimento de todos os tributos previamente ao julgamento da
partilha (art. 664, §5º, CPC) foi afastada pelo próprio art. 659, ao prever sua
aplicação apenas ao arrolamento comum.
Observa-se que, ao contrário do art. 1.031, §2º do CPC de 1973, no
qual o formal de partilha ou alvarás referentes aos bens, só eram expedidos
mediante, verificação pela Fazenda Pública, do pagamento de todos os tributos, a
inovação trazida pelo Novo Código de Processo Civil de 2015, em seu art. 659, §2º,
com foco na celeridade processual, permite que a partilha amigável seja
homologada anteriormente ao recolhimento do imposto de transmissão causa mortis
, e somente após a expedição do formal de partilha ou da carta de adjudicação é que
a Fazenda Pública será intimada para providenciar o lançamento administrativo do
imposto, supostamente devido.
Isso quer dizer que, após a lavratura do formal de partilha, e
consequentemente às expedições de alvarás é que a Fazenda Pública toma ciência
acerca de eventuais tributos devidos, e somente a partir daí possa se adotar as

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providências concernentes à cobrança dos tributos na seara administrativa.


Nesse sentido precedentes deste Tribunal:

"APELAÇÃO CÍVEL. PROCEDIMENTO SUCESSÓRIO SOB O


RITO DO ARROLAMENTO SUMÁRIO. REQUISITOS.
EXPEDIÇÃO DOS FORMAIS DE PARTILHA ANTES DO
RECOLHIMENTO DO IMPOSTO DE TRANSMISSÃO.
POSSIBILIDADE. (...) Com a inovação trazida pelo art. 659 do
CPC, a partilha amigável, no arrolamento sumário, será
homologada antes do recolhimento do imposto de transmissão
causa mortis e, somente após a expedição do formal de
partilha e demais diligências pertinentes, é que a Fazenda
Pública será intimada para providenciar o lançamento
administrativo do imposto e outros tributos, excepcionando,
assim, a regra contida no art. 192 do CTN, que estabelece que
"nenhuma sentença de julgamento de partilha ou adjudicação
será proferida sem prova da quitação de todos os tributos
relativos aos bens do espólio, ou às suas rendas."
(20140310141079APC, Relator: Carmelita Brasil, 2ª Turma
Cível, DJE: 09/09/2016).
"PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. INVENTÁRIO.
CONVERSÃO. ARROLAMENTO SUMÁRIO. HOMOLOGAÇÃO
DA PARTILHA. TRANSITADO EM JULGADO. ARTIGO 659,
§2º, DO CPC DE 2015. COMPROVAÇÃO DE QUITAÇÃO.
NÃO CONDICIONADO. LANÇAMENTO ADMINISTRATIVO.
ARTIGO 662 DO CPC DE 2015. ARTIGO 192 DO CTN.
NATUREZA PROCESSUAL. SENTENÇA MANTIDA (...) 2. O
Novo Código de Processo Civil de 2015 não condicionou a
homologação da partilha à quitação dos tributos cabíveis,
limitando-se, apenas, a determinar, após o trânsito em
julgado, a intimação da Fazenda Publica para o lançamento
administrativo do tributo cabível. 3. Nos termos do artigo 662
do CPC de 2015, "No arrolamento, não serão conhecidas
ou apreciadas questões relativas ao lançamento, ao
pagamento ou à quitação de taxas judiciárias e de tributos

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incidentes sobre a transmissão da propriedade dos bens


do espólio." 4. Lei Ordinária mais recente poderá derrogar
artigo de Lei Complementar quando o dispositivo desta não
estiver elencado no rol do artigo 146 da Constituição Federal
de 1988. 5. Recurso conhecido e não provido."
(20150710123720APC, Relator: Gislene Pinheiro, 2ª Turma
Cível, DJE: 15/08/2016) - g.n.

Sobre o assunto, confira o entendimento do Superior Tribunal de


Justiça:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO - ARROLAMENTO


SUMÁRIO - DISCUSSÃO RELATIVA A IMPOSTO SOBRE
TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS - INADMISSIBILIDADE -
TESE PELO SOBRESTAMENTO DO FEITO - SUPOSTA
AFRONTA A LEI ESTADUAL - SÚMULA 280 DO STF. 1. O
caput do art. 1034 do Código de Processo Civil dispõe que, "no
arrolamento, não serão conhecidas ou apreciadas questões
relativas ao lançamento, ao pagamento ou à quitação de taxas
judiciárias e de tributos incidentes sobre a transmissão da
propriedade dos bens do espólio". 2. É inadmissível, no
âmbito do arrolamento sumário, a apreciação de
pretensões fazendárias que envolvam o imposto sobre
transmissão causa mortis. 3. O pedido de suspensão do
andamento do feito, até que a Fazenda Estadual investigue a
correção dos pagamentos realizados pelo espólio, não tem
respaldo em lei federal. 4. Examinar a tese relativa à Lei
Estadual Paulista 10.705/00 dependeria de expediente inviável
nesta via, nos termos da Súmula 280 do STF: "Por ofensa a
direito local não cabe recurso extraordinário". 5. Recurso
especial não provido. (REsp 1246791/SP, Rel. Ministra Eliana
Calmon, Segunda Turma, DJe 25/04/2013) - g.n.

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Deve-se ressaltar que tal regra excepcionou o art. 192 do Código


Tributário Nacional ("nenhuma sentença de julgamento de partilha ou adjudicação
será proferida sem prova da quitação de todos os tributos relativos aos bens do
espólio, ou às suas rendas"), haja vista que, tendo por base o rol elencado no art.
146 da Constituição Federal, o conteúdo do supracitado artigo não é de natureza
tributária, e sim processual, sendo o mesmo entendimento aplicado ao art. 31 da Lei
de Execução Fiscal.
Desse modo, não sendo os dispositivos de reserva de Lei
Complementar, entende-se que o mencionado artigo do CTN poderá ser derrogado
por Lei Ordinária mais recente.
Nessa lógica, podemos citar o professor Daniel Amorim Assumpção
Neves, em sua obra "Manual de Direito Processual Civil", volume único, 8ª edição,
2016, p. 1629 (versão e-book):

"Nos termos do § 2º do art. 659 do Novo CPC, o fisco será


intimado para lançamento administrativo do imposto de
transmissão e de outros tributos porventura incidentes,
conforme dispuser a legislação tributária, somente depois de
transitada em julgado a sentença de homologação de partilha
ou de adjudicação e da lavratura do formal de partilha ou da
elaboração de carta de adjudicação.
O dispositivo dá a entender que a partilha amigável poderá ser
realizada mesmo sem a apresentação da quitação dos tributos
incidentes sobre os bens objeto da partilha ou da adjudicação,
com o que se estaria modificando a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça a respeito do tema 34, que exige para
homologação do juiz a prova de quitação dos tributos relativos
aos bens do espólio e às suas rendas.
Há, entretanto, corrente doutrinária que defende que mesmo
diante da opção legislativa consagrada pelo § 2º do art. 659 do
Novo CPC, a homologação da partilha ou de adjudicação
continua a depender de prova anterior de pagamento de todos
os tributos referentes aos bens do espólio pela aplicação ao

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caso do art. 192 do CTN. É inegável o conflito entre o art. 659,


§ 2º, do Novo CPC e o art. 192 do CTN, mas nesse caso
entende-se que a norma mais recente, presente no diploma
processual, deve prevalecer."

Diante da nova sistemática processual civil, não há que se proceder


em tais casos (arrolamento sumário) à verificação da regularidade tributária por parte
do Fisco antes da homologação da partilha, devendo a matéria ser tratada na esfera
administrativa, após o trânsito em julgado da homologação da partilha.
NEGO PROVIMENTOao apelo,
É como voto.

A Senhora Desembargadora CARMELITA BRASIL - Vogal


Com o relator

O Senhor Desembargador CESAR LOYOLA - Vogal


Com o relator

DECISÃO

NEGAR PROVIMENTO. UNÂNIME

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