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Universidade de Brasília

Departamento de História
Disciplina: Introdução ao Estudo da História
Professor Daniel Faria
Estudante: Cristiano Lucas Ferreira

Ressentimentos e conformação de identidades


Identidades inconclusas no Brasil do século XX – Fundamentos de um lugar comum.
Stella Bresciani

Questão: Por que, de acordo com os intelectuais analisados criticamente por Stella
Bresciani, a natureza tropical é um obstáculo para a criação de uma “civilização
brasileira”?

A autora, parte de uma sequência de questionamentos, para compreendermos a


tradição historiográfica brasileira que, utilizando-se de lugares-comuns, arquiteta nossa
identidade nacional. A independência do Brasil, em 1822, exigia uma representação
simbólica daquilo que nos constituía como um povo singular. E essa singularidade,
fundada nas três raças, era a origem mítica do povo brasileiro.
A partir dessa origem, intelectuais brasileiros e brasileiras ora enfatizavam que a
mestiçagem entre as raças, era um traço inferiorizador de nossa identidade, ora,
interpretavam ufanisticamente a democracia racial, existente no país.
A partir da década de 1920, outras leituras foram sendo acrescentadas, formando
outros lugares-comuns, demonstrando uma noção de inacabamento de nossa identidade.
Buscavam romper com a historiografia criada ao redor de grandes acontecimentos,
dispostos cronologicamente. Passava-se então a analisar os usos e costumes, com o
objetivo de focar nas pessoas por trás das instituições.
Esses e essas intelectuais do início do século XX, enxergavam a ausência de
uma identidade nacional, consequência de uma deformidade, causada pela cultura
europeia. Tanto a unidade nacional e sua uniformidade cultural eram resultado de um
violento e rígido controle para manter a integridade política, suprimindo as identidades
étnicas e movimentos separatistas. Para alguns autores, era justamente durante o
período colonial que o Brasil se distinguia dos outros países. Com a reeuropização do
país, nossa diversidade foi suprimida e moldada.
O Brasil, desencontrado de si mesmo, produzia em seu povo, um arcabouço de
imagens negativas e ressentidas. O problema do Brasil estava em sua origem, tanto em
relação povo português, que nos colonizou, como a natureza, bela e inóspita.
Em relação à paisagem natural, o clima tropical era um empecilho para que a
cultura europeia se adequasse. A floresta, com seus animais e plantas, exóticas e
perigosas, dificultavam a empreitada colonizadora. As longas distâncias, necessárias
para se cruzar o Atlântico, a imensidão do território, o clima “amolecedor” dos homens
eram fatores que contribuíram para que as instituições europeias, não prosperassem
como nas colônias inglesas da América do Norte.
A partir dessas comparações, inúmeros intelectuais, ao analisarem as diferenças
entre a América temperada e a América tropical eram unânimes em apontar o clima
como o fator primordial do sucesso ou fracasso das colônias e das pessoas que nelas,
habitavam.
Enquanto a paisagem temperada exigia dos homens, inteligência, força,
robustez, a paisagem tropical era a representação do mundo dos sentidos. Enquanto nas
primeiras, havia um projeto político e um ideal religioso, nos trópicos, os homens,
diante da exuberância da natureza, eram motivados pelas sensações. Essa explicação
também é um lugar comum.
O Brasil estaria fadado a ser um país sem identidade justamente porque o clima
tropical, esfacelou a dinâmica colonizadora portuguesa, sendo sempre, um país formado
para abastecer o mundo.
A historiografia brasileira, como pude perceber, está rodeada de lugares-comuns,
quase que intransponíveis. Apesar das críticas feitas a esse tipo de historiografia,
estamos sempre patinando ora na tradição portuguesa, ora na paisagem tropical.
Acredito que seja possível analisar não a identidade, mas as identidades que formaram o
país. Nos tempos atuais, tantos outros clichês estão sendo contestados. A cordialidade
do povo brasileiro, a imagem de um povo alegre e feliz, mesmo com as adversidades,
não se encaixam nesse início de século XXI. Se por um lado, vemos um movimento
político e cultural, vindo das classes empobrecidas, por outro, o reacionarismo e as
aproximações com o fascismo renderão aos historiadores e historiadoras, um arsenal de
novas interpretações.

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