2 É inquestionável a importância da agricultura no Brasil, tanto do ponto de vista econômico
3 quanto ambiental. Entretanto, para que possamos superar o grande desafio agronômico do século 4 XXI, que é produzir alimentos, fibras e energia para uma população em crescimento e, ao mesmo 5 tempo, preservar os recursos naturais, é imprescindível que as áreas já incorporadas ao processo 6 produtivo sejam utilizadas de maneira racional, de acordo com sua capacidade produtiva. Nesse 7 contexto, o manejo visando à preservação do solo e da água assume fundamental importância para 8 que seja garantida a sustentabilidade produtiva na atual e futura geração. 9 No Brasil, como em muitas nações do mundo, em muitas regiões ainda se pratica o uso 10 irracional do solo, ao lado do uso indiscriminado do fogo, do pastoreio esgotante e da exploração 11 desmedida das matas. Destrói-se, assim, a cobertura vegetal protetora que mantinha o equilíbrio 12 ecológico. Altera-se com isso, o regime climático e o ciclo hidrológico, dando lugar a extremos de secas e 13 chuvas torrenciais. Essas chuvas, incidindo sobre superfícies descobertas, em declives acentuados, 14 formam enxurradas desenfreadas que ocasionam a erosão acelerada, a sedimentação e a devastação 15 dos campos.
16 A erosão do solo é um processo geológico, porém o seu agravamento em solos
17 agrícolas se deve à quebra do equilíbrio natural entre o solo e o ambiente, geralmente promovida e 18 acelerada pelo homem. A velocidade do processo está diretamente associada aos fatores extrínsecos e 19 intrínsecos do solo. Os seus efeitos negativos são sentidos, progressivamente, devido à perda 20 das camadas mais férteis do solo, tendo como consequências a perda de produtividade das culturas e 21 o aumento dos custos de produção, com a demanda de mais insumos para poder manter a mesma 22 produtividade anterior. Finalmente, tem-se o esgotamento total do solo e seu posterior abandono. O 23 problema da erosão assume proporções alarmantes em muitas regiões do país e tende a se 24 agravar, sendo observado variadas formas, desde a erosão laminar, imperceptível nos seus estágios 25 iniciais, até os grandes voçorocamentos. 26 Alguma das causas do esgotamento do solo pela erosão podem ser 27 controladas, e todas as técnicas uti lizadas para aumentar a resistência do solo ou 28 diminuir as forças do processo erosivo denominam-se práti cas conservacionistas. 29 Essas práti cas têm as seguintes fi nalidades : redução do impacto das gotas de chuva na 30 superfície do solo; redução na desagregação do solo; aumento da infiltração de água no solo; 31 diminuição da velocidade de escorrimento da enxurrada. De forma didática, Bertoni e 32 Lombardi Neto (1990) dividiram as práticas conservacionistas em três grupos: Práticas de 33 caráter vegetativo, edáfico e mecânico. As práticas conservacionistas sejam mecânicas, edáficas ou 34 vegetativas, são as principais medidas para o controle dos processos erosivos nas áreas ocupadas com 35 as atividades agrícolas, pois resultam na melhoria das condições da terra e sua adaptação aos 36 modelos de exploração adotados pelo agricultor. É importante ressaltar que todas elas são 37 complementares e devem ser utilizadas de forma integrada para que a conservação do solo e da água 38 ocorra de maneira eficiente. 39 As práticas conservacionistas de caráter vegetativo são aquelas em que se usa a 40 vegetação ou restos culturais para proteger o solo, inclusive da degradação causada pelo impacto 41 das gotas de chuva. O manejo adequado da vegetação e/ou restos culturais é fundamental para a 42 manutenção ou até aumento dos teores de matéria orgânica do solo, com reflexos na melhoria de 43 suas características físicas, químicas e biológicas. Entre as principais práticas vegetativas pode-se 44 citar: alternância de capinas; cobertura morta; culturas em faixas alternadas; faixas permanentes de 45 retenção ou renques de proteção permanente; 46incorporação de restos de cultura; manejo adequado da pastagem; rotação de 47culturas; quebra ventos; manutenção de cobertura vegetal; reflorestamento.
48 Praticas conservacionistas de caráter edáfico são utilizadas com o
49 objetivo de melhorar atributos do solo, sejam eles químicos, como a fertilidade; físicos, 50 como a aeração e retenção de água; ou biológicos, como a atividade microbiana. Para 51 tanto, utiliza-se o manejo da fertilidade do solo, que compreende calagens, gessagens, 52 adubações corretivas e de manutenção, podendo-se incluir, além da adubação mineral, 53 adubações orgânicas. Como práticas conservacionistas de caráter edáfico, considera- 54 se o manejo preventivo da compactação do solo, bem como técnicas necessárias 55 para sua remediação, como arações, escarificações, subsolagens.
56 Praticas conservacionistas de caráter mecânico são procedimentos em que se
57 recorre às estruturas artificiais, geralmente formadas por porções de terra dispostas 58 adequadamente em relação a declividade do terreno, tendo como principal objetivo 59 conter os efeitos da enxurrada, disciplinando seu escoamento e favorecendo a infiltração 60 de água no solo. Dessa forma, são práticas conservacionistas de caráter mecânico os 61 sistemas de terraceamento; semeadura e cultivo em contorno, planejamento adequado 62 de caminhos e cercas. Essas práticas devem ser utilizadas de forma integrada com outras 63 práticas.