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RESUMO
A falta de execução de bons programas e prestação de um bom serviço público por parte de
diversos municípios é frequentemente lembrada. O objetivo do presente estudo é demonstrar a
dificuldade na execução do orçamento municipal de Bom Jesus da Penha, causada pelo atraso
em repasses obrigatórios de recursos por parte do governo estadual. Para este fim, utilizou-se
de pesquisa de campo e cruzamento de dados fornecidos pelo ente municipal a fim de realizar
o estudo de caso. O resultado mostra que caso os atrasos persistam, serviços essenciais à saúde,
educação e demais áreas serão reduzidos ou muitas vezes cancelados, inviabilizando a iniciativa
de novos projetos e políticas públicas e afetando diretamente a vida do bom-jesuense.
Palavras-chave: Transferências constitucionais. Atraso de repasses. Execução orçamentária.
Dificuldade de gestão municipal.
ABSTRACT
The lack of implementation of good programmes and provision of a good public service by
several municipalities is often remembered. The objective of this study is to demonstrate the
difficulty in executing the Bom Jesus da Penha municipal budget, caused by the delay in
obligatory transfers of resources by the state government. To this end, field research and cross-
checking of data provided by the municipal entity was used in order to carry out the case study.
The result shows that if the delays persist, essential services to health, education and other areas
will be reduced or often cancelled, making the initiative of new projects and public policies
impossible and directly affecting the life of Bom-jesuense people.
Keyword: Constitutional transfers. Delay in transfers. Budget execution. Difficulty in municipal
management.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Federalismo Fiscal
Antes de adentrar diretamente no mérito da pesquisa, torna-se prudente analisar o
funcionamento do sistema de poder público do nosso país, o qual propõe uma distribuição de
responsabilidades fazendo com que se obtenha uma administração eficiente, chamado também
de federalismo. Este sistema de governo pode ser definido como “um estado federal compartilha
as competências constitucionais com os estados membros concedendo-lhes certo grau de
autonomia, e distribuindo entre eles responsabilidades e benefícios, mas cada um conservando
seu próprio domínio” (MASSARDI e ABRANTES, 2014, p.147)
Simplificando, o federalismo concede autonomia a um determinado ente; autonomia
política, tributária, administrativa, dentre outras, e isso é feito através de um pacto federativo,
que no caso do Brasil é definido através da Constituição Federal de 1988 em seus artigos 18 a
32 e 145 a 162.
Estes artigos da Constituição Federal trazem a atual configuração política brasileira que
se dividem em quatro entes federados, sendo eles: União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, e distribui a competência tanto comum a cada ente, quanto peculiar, em sua forma
de governo, sua forma de legislar e o âmbito particular de cada um dessa legislação.
No que se diz respeito à descentralização das competências tributárias e da gestão das
despesas públicas tem-se o chamado Federalismo Fiscal, o qual é utilizado com o intuito de
uma maior organização política e um meio de combate às desigualdades regionais, sendo que
cada ente federado possui receitas tributárias próprias e alguns possuem receitas fruto de
transferências governamentais.
A Lei Orgânica do Município de Bom Jesus da Penha regula acerca das receitas
pertinentes ao município:
Art. 157 – A Receita Municipal constituir-se-á da arrecadação dos tributos
municipais, da participação em tributos da União e do Estado, dos recursos faltantes
do Fundo de Participação dos Municípios e da utilização de seus bens, serviços,
atividades e de outros ingressos.
Art. 158 – Pertence ao Município:
I – o produto da arrecadação do imposto da União sobre as rendas e proveitos de
qualquer natureza, incidente na fonte sobre rendimentos pagos a qualquer título, pela
Administração Direta, Autarquias e Fundações Municipais;
II – cinquenta por cento do produto de arrecadação do imposto da União sobre a
propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis situados no Município;
III – cinquenta por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre
propriedade de veículos automotores licenciados no Território Municipal;
IV – vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre
operações relativa à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal de comunicação.
Art. 159 - Caberá também ao Município:
I - a respectiva quota no Fundo de Participação dos Municípios, como disposto no art.
159, inciso I, alínea “b”, da Constituição da República;
II - a respectiva quota do produto da arrecadação do imposto sobre produtos
industrializados, como disposto no art. 159, inciso II e § 3º, da Constituição da
República e no art. 150, inciso III e § 1º, da Constituição do Estado;
III - a respectiva quota do produto da arrecadação do imposto de que trata o inciso V
do art. 153 da Constituição da República, nos termos do inciso II do § 5º do mesmo
artigo. (BOM JESUS DA PENHA, MG, 2010)
Como pode ser observado, os municípios dispõem de diversas fontes de receitas, dentre
elas: receitas tributárias, referentes aos impostos, taxas e contribuições de melhoria; receitas de
contribuições, realizadas para custeio do serviço de iluminação pública; receitas de
transferências constitucionais, os quais respondem a maior fatia do orçamento de receitas de
municípios de pequeno porte e são elas transferidas pelo Estado e União aos municípios – tema
deste artigo – ; receitas patrimoniais, que correspondem a exploração econômica do patrimônio
público, como exemplo venda de bens imóveis, aluguéis, etc.; receitas de serviços como a
cobrança de tarifas sobre o transporte coletivo e por fim, outras receitas, decorrentes de multas
e outras penalidades administrativas.
Estas receitas são previstas na Constituição Federal de 1988 em seus artigos 158 e 159
e na Constituição do Estado de Minas Gerais, na subseção I, em específico art. 150 que trata da
distribuição das receitas para os impostos de competência do Estado e que pertencem aos
Municípios (FEDERAL, 1988; MINAS, 1989)
Com a definição acima, dada pela Controladoria Geral da União – órgão responsável
pela defesa do patrimônio público, transparência e combate à corrupção – pode ser observado
que uma despesa não pode ser executada sem sua prévia autorização legislativa, ou seja, sem
que haja previsão orçamentária para realiza-la.
Torna-se prudente ressaltar a forma com que as receitas dos municípios podem ser
utilizadas para execução das despesas públicas, afinal, nem sempre elas são de livre utilização
pelo gestor, o que significa que algumas delas tem suas vinculações e particularidades, tal qual
o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que corresponde a maior receita dos
municípios de pequeno porte.
De acordo com o Art. 159, I, da Constituição Federal, a União é obrigada a compor dois
fundos de participação, um destinado aos estados e outro aos municípios. Estes são chamados,
respectivamente, de FPE e FPM. Eles possuem juntos a destinação de 49% (quarenta e nove
por cento) da receita arrecadada com dois tributos: o Imposto de Renda e Proventos de Qualquer
Natureza (IR) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
O Fundo de Participação dos Municípios (FPM) corresponde a 22,5% dessa arrecadação
(total), porém, de acordo com a Emenda Constitucional nº 84 de 02 de dezembro de 2014, o
Fundo de Participação dos Municípios conta com 2% a mais, que corresponderá a um montante
acumulado durante todo o ano na conta do Tesouro Nacional, sendo depositado para o
município 1% no primeiro decêndio de julho e outros 1% no primeiro decêndio de dezembro
de cada ano.
Vale destacar, também, que algumas despesas obrigatórias são baseadas no conceito do
total bruto da receita, conforme situações definidas por lei. O montante de 20% será destinado
a formação do Fundo de Educação Básica (FUNDEB), conforme a Lei nº 11.494/2007; 15%
para o Serviços de Saúde de acordo com a Lei nº 141/2012 e 1% para o Programa de Formação
do Patrimônio do Servidor Público (PASEP) através da Lei nº 9.715/1998.
Quando se discute sobre vinculação, deve ser lembrado dos limites mínimos impostos
pela CF/88 para gastos com Saúde e Educação, já que, neste caso, determinada receita deve ser
utilizada em certa finalidade, para tal, pode ser observado o que está estabelecido pela
Constituição Federal e seus complementos para as principais receitas dos municípios:
Quadro 1
Gasto Mínimo Fundamento legal
No mínimo 15% da receita de impostos e Art. 7º Lei Complementar 141/2012 que
transferências constitucionais devem ser regulamenta o Art. 198, §2º, I da CF/88
aplicados em ações e serviços públicos de
saúde
No mínimo 25% da receita de impostos e Art. 212 da CF/88
transferências constitucionais devem ser
aplicados na manutenção e
desenvolvimento do ensino
Fonte: Planalto.gov.br
Existem ainda, vinculações de outros tipos de receitas como, por exemplo, aquelas
conseguidas através de um convênio, que nada mais é que um contrato realizado entre duas
entidades (mais frequentemente união/estado com o município) em que sua finalidade já é
definida nesse contrato. Não podendo então o saldo ser utilizado para outro fim, porém, não se
adentrará nestas áreas, pois o foco são as receitas que são calculadas e repassadas pelo Estado
de Minas Gerais ao município de Bom Jesus da Penha.
TOTAL = 1.305.452,39
Data de Atualização: 10/10/2018
FUNDEB Transporte Escolar Piso Mineiro Assist. Social ICMS
410.049,81 19.710,00 40.000,00 113.023,82
TOTAL = 1.478.398,60
Data de Atualização: 14/11/2018
FUNDEB Transporte Escolar Piso Mineiro Assist. Social ICMS
531.878,31 26.280,00 42.000,00 291.983,61
TOTAL = 1.792.205,87
Data de Atualização: 05/12/2018
FUNDEB Transporte Escolar Piso Mineiro Assist. Social ICMS
573.112,95 32.850,00 44.000,00 343.269,67
TOTAL = 1.893.296,57
Fonte: Portal AMM e Prefeitura do Município de Bom Jesus da Penha.
Pode-se notar de acordo com os dados acima, que ao fim do terceiro e último
quadrimestre de 2018, a dívida do Estado de Minas Gerais com o Município de Bom Jesus da
Penha, já chegava próximo à casa de R$ 1.900.000,00 (um milhão e novecentos mil reais) em
um orçamento que totalizava para o mesmo exercício, uma receita orçamentaria bruta de R$
16.934.598,00 (dezesseis milhões, novecentos e trinta e quatro mil e quinhentos e noventa e
oito reais).
Porém, como o município não possuía os dados desta dívida no início de 2018, para
averiguar e evidenciar os impactos gerados pelo atraso, se faz necessário comparar a receita
estimada pela Lei municipal nº 1.288/2017 (LOA) e a receita orçamentária efetivamente
arrecadada:
Quadro 3
Mês Receita Orçada Rec. Arrecadada Diferença (%)
Setembro 1.471.970,03 1.077.847,20 (26,78)
Outubro 1.464.865,25 1.021.517,78 (30,27)
Novembro 1.293.568,51 999.211,86 (22,76)
Dezembro 2.813.864,38 1.994.316,39 (29,13)
TOTAL 7.044.268,17 5.092.893,23 (27,70)
Fonte: Prefeitura Municipal de Bom Jesus da Penha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O resultado encontrado mostrou os impactos causados em Bom Jesus da Penha e, caso
o problema persista, a consequência em “modo cascata” que ocorrerá na prestação de serviços
públicos, afetando saúde, educação, cultura, dentre as demais áreas atendidas pela
administração pública. Por isso se faz necessária a fiscalização efetiva não só das despesas, mas
também das receitas municipais. Sabe-se que municípios de pequeno porte não possuem
receitas próprias suficientes para cobrir suas despesas, porém, este deve fortalecer seu setor de
arrecadação e tributos para que, caso haja novos atrasos, possam custear e manter seus serviços
essenciais, tais como, saúde, limpeza pública, segurança etc.
O gestor de Bom Jesus da Penha optou por paralisar os investimentos que estavam sendo
realizados para assim, possuir recursos suficientes e cumprir com os compromissos financeiros
relativos a educação e aos servidores públicos, como exemplo, pagamento de décimo terceiro
salário. Segundo o próprio gestor, alguns municípios haviam noticiado que não conseguiriam
realizar estes pagamentos aos agentes públicos em dia.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRANTES, L.; MASSARDI, W. Classificação dos municípios mineiros em relação à
composição de suas receitas. Revista de Gestão, Finanças e Contabilidade, ISSN 2238-5320,
UNEB, Salvador, v. 4, n. 1, p. 144- 161, jan./abr., 2014.
AMM, Portal. TCE-MG solicita informações à AMM sobre dívida do Estado na área da
Saúde. Disponível em: https://portalamm.org.br/tce-mg-solicita-informacoes-a-amm-sobre-
divida-do-estado-na-area-da-saude/. Acesso em: 21 de mar. 2020.
BRASIL, Lei Complementar 141 de 13 de janeiro de 2012. Seção I – Dos recursos mínimos,
art. 7. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp141.htm. Acesso
em: 02 de mar. 2020.
FONTES, Letícia. Prefeitos de MG administram saúde com verba 83% menor. O tempo, 07
de dezembro de 2018. Disponível em: https://www.otempo.com.br/cidades/prefeitos-de-mg-
administram-saude-com-verba-83-menor-1.2077570. Acesso em: 21 de mar. 2020.
MINAS GERAIS, Constituição (1989). Subseção I – Disposições Gerais, art. 150.
Disponível em: https://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/completa/completa-nova-
min.html?tipo=CON&num=1989&ano=1989 . Acesso em: 15 de fev. 2020.