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DIFICULDADES GERADAS PELO ATRASO DE REPASSES DO GOVERNO

ESTADUAL NA EXECUÇÃO DO ORÇAMENTO MUNICIPAL BOM-JESUENSE NO


EXERCÍCIO DE 2018
Maikon Augusto da Silveira¹
Leiner Marchetti Pereira²

RESUMO
A falta de execução de bons programas e prestação de um bom serviço público por parte de
diversos municípios é frequentemente lembrada. O objetivo do presente estudo é demonstrar a
dificuldade na execução do orçamento municipal de Bom Jesus da Penha, causada pelo atraso
em repasses obrigatórios de recursos por parte do governo estadual. Para este fim, utilizou-se
de pesquisa de campo e cruzamento de dados fornecidos pelo ente municipal a fim de realizar
o estudo de caso. O resultado mostra que caso os atrasos persistam, serviços essenciais à saúde,
educação e demais áreas serão reduzidos ou muitas vezes cancelados, inviabilizando a iniciativa
de novos projetos e políticas públicas e afetando diretamente a vida do bom-jesuense.
Palavras-chave: Transferências constitucionais. Atraso de repasses. Execução orçamentária.
Dificuldade de gestão municipal.

DIFFICULTIES CAUSED BY THE STATE GOVERNMENT'S DELAY IN EXECUTING


THE BOM-JESUENSE MUNICIPAL BUDGET IN 2018

ABSTRACT
The lack of implementation of good programmes and provision of a good public service by
several municipalities is often remembered. The objective of this study is to demonstrate the
difficulty in executing the Bom Jesus da Penha municipal budget, caused by the delay in
obligatory transfers of resources by the state government. To this end, field research and cross-
checking of data provided by the municipal entity was used in order to carry out the case study.
The result shows that if the delays persist, essential services to health, education and other areas
will be reduced or often cancelled, making the initiative of new projects and public policies
impossible and directly affecting the life of Bom-jesuense people.
Keyword: Constitutional transfers. Delay in transfers. Budget execution. Difficulty in municipal
management.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS E CONTEXTUALIZAÇÃO


As dificuldades geradas pelo atraso de repasses do governo estadual na execução do
orçamento municipal bom-jesuense no exercício de 2018 vem demonstrar quais os problemas
enfrentados pelo gestor de Bom Jesus da Penha na execução de seu orçamento e quais as
consequências não só na administração pública como no dia a dia do munícipe. Tomando-se
como ponto de vista abordado, a visão pelos olhos do município e do gestor no cumprimento
de seu orçamento para o exercício de 2018, primeiramente parte-se da descrição do sistema
administrativo que rege nosso país, a forma de financiamento dos municípios e a falta de
cumprimento das obrigações do Estado.
¹ Graduado em Ciências Contábeis (2016). Acadêmico do Curso de Especialização em Gestão Pública do Instituto Federal do
Sul de Minas – campus Muzambinho. E-mail: maikon.silveira@hotmail.com.br
² Graduado em Direito. Especialista em Administração Pública. Mestre em Direito. Professor convidado do curso de
Especialização em Gestão Pública do Instituto Federal do Sul de Minas – campus Muzambinho. E-mail:
leinermarchetti@hotmail.com
Tema de grande relevância pela magnitude que o problema encontrado inflige a
população bom-jesuense e, quão larga é a escala dos danos causados, na maioria das vezes,
desconhecidos pela população. A hipótese de pesquisa apresentada se posiciona com a melhora
na arrecadação da receita própria do município e com a expectativa de recebimento destes
repasses atrasados, já que são obrigatórios pelo governo estadual ao ente municipal.
O objetivo pretendido é de obter quais as dificuldades encontradas para se executar o
orçamento em Bom Jesus da Penha no exercício abordado e mostrar o dano causado ao
cumprimento dos deveres administrativos. O método proposto é de, por meio de trabalho de
campo e cruzamento de dados, realizar um estudo de caso e levantar a diferença entre a
expectativa de receita que o município havia definido em seu orçamento e o que realmente foi
realizado pelo governo estadual. Tal método tem como razão a necessidade de dados reais que
o tema requer, assim sendo, a melhor maneira foi o trabalho de campo diretamente com a
administração do município bom-jesuense, gerando os dados para realizar um comparativo
entre a expectativa de receitas contra a realizada, evidenciando que a expectativa ficou muito
aquém do desejado, à custa dos atrasos do governo estadual.
A estrutura do presente trabalho foi dividida em tópicos para facilitar o entendimento
dos dados apresentados e como estes são formados.
O referencial teórico produzido traz primeiramente a divisão do sistema administrativo
do Brasil, para assim, dar estrutura e conhecimento ao modo de arrecadação de recursos e ao
financiamento das despesas que cada município possui para execução de suas políticas públicas,
em especial, do município de Bom Jesus da Penha. Em seguida, é apresentado os dados do
município, sua arrecadação efetiva, e um comparativo com o orçamento respectivo ao mesmo
período da arrecadação.
A finalidade da pesquisa é buscar uma conclusão para os efeitos causados pelos atrasos
nos repasses das receitas, bem como as consequências que podem vir a surgir caso o problema
persista.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Federalismo Fiscal
Antes de adentrar diretamente no mérito da pesquisa, torna-se prudente analisar o
funcionamento do sistema de poder público do nosso país, o qual propõe uma distribuição de
responsabilidades fazendo com que se obtenha uma administração eficiente, chamado também
de federalismo. Este sistema de governo pode ser definido como “um estado federal compartilha
as competências constitucionais com os estados membros concedendo-lhes certo grau de
autonomia, e distribuindo entre eles responsabilidades e benefícios, mas cada um conservando
seu próprio domínio” (MASSARDI e ABRANTES, 2014, p.147)
Simplificando, o federalismo concede autonomia a um determinado ente; autonomia
política, tributária, administrativa, dentre outras, e isso é feito através de um pacto federativo,
que no caso do Brasil é definido através da Constituição Federal de 1988 em seus artigos 18 a
32 e 145 a 162.
Estes artigos da Constituição Federal trazem a atual configuração política brasileira que
se dividem em quatro entes federados, sendo eles: União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, e distribui a competência tanto comum a cada ente, quanto peculiar, em sua forma
de governo, sua forma de legislar e o âmbito particular de cada um dessa legislação.
No que se diz respeito à descentralização das competências tributárias e da gestão das
despesas públicas tem-se o chamado Federalismo Fiscal, o qual é utilizado com o intuito de
uma maior organização política e um meio de combate às desigualdades regionais, sendo que
cada ente federado possui receitas tributárias próprias e alguns possuem receitas fruto de
transferências governamentais.

2.2 Estrutura de financiamento dos municípios


Segundo Domingos Poubel de Castro (2013), receita é um termo técnico, utilizado pela
contabilidade para evidenciar fatos que provocam acréscimos ao Patrimônio Líquido de uma
entidade, ou seja, que provoquem aumento do patrimônio e, no caso dos municípios,
responsáveis por custear os investimentos e as despesas públicas.
As receitas públicas são classificadas em dois tipos: orçamentarias e extra
orçamentárias, sendo as primeiras correspondentes àquelas previstas no próprio orçamento,
enquanto que as extras orçamentárias compreendem as receitas que não estão previstas no
orçamento, uma vez que não o afetam (SANTOS; CAMACHO, 2014).
Tem ainda, a definição da Secretaria do Tesouro Nacional, órgão responsável por gerir
as finanças públicas do país, sobre Receita Orçamentária, da qual tratar-se-á com enfoque neste
estudo:
São disponibilidades de recursos financeiros que ingressam durante o exercício e que
aumentam o saldo financeiro da instituição. Instrumento por meio do qual se viabiliza
a execução das políticas públicas, as receitas orçamentárias são fontes de recursos
utilizadas pelo Estado em programas e ações cuja finalidade precípua é atender às
necessidades públicas e demandas da sociedade.
Essas receitas pertencem ao Estado, transitam pelo patrimônio do Poder Público e, via
de regra, por força do princípio orçamentário da universalidade, estão previstas na Lei
Orçamentária Anual – LOA (PUBLICO..., 2018, p. 32)

A Lei Orgânica do Município de Bom Jesus da Penha regula acerca das receitas
pertinentes ao município:
Art. 157 – A Receita Municipal constituir-se-á da arrecadação dos tributos
municipais, da participação em tributos da União e do Estado, dos recursos faltantes
do Fundo de Participação dos Municípios e da utilização de seus bens, serviços,
atividades e de outros ingressos.
Art. 158 – Pertence ao Município:
I – o produto da arrecadação do imposto da União sobre as rendas e proveitos de
qualquer natureza, incidente na fonte sobre rendimentos pagos a qualquer título, pela
Administração Direta, Autarquias e Fundações Municipais;
II – cinquenta por cento do produto de arrecadação do imposto da União sobre a
propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis situados no Município;
III – cinquenta por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre
propriedade de veículos automotores licenciados no Território Municipal;
IV – vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre
operações relativa à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal de comunicação.
Art. 159 - Caberá também ao Município:
I - a respectiva quota no Fundo de Participação dos Municípios, como disposto no art.
159, inciso I, alínea “b”, da Constituição da República;
II - a respectiva quota do produto da arrecadação do imposto sobre produtos
industrializados, como disposto no art. 159, inciso II e § 3º, da Constituição da
República e no art. 150, inciso III e § 1º, da Constituição do Estado;
III - a respectiva quota do produto da arrecadação do imposto de que trata o inciso V
do art. 153 da Constituição da República, nos termos do inciso II do § 5º do mesmo
artigo. (BOM JESUS DA PENHA, MG, 2010)

Como pode ser observado, os municípios dispõem de diversas fontes de receitas, dentre
elas: receitas tributárias, referentes aos impostos, taxas e contribuições de melhoria; receitas de
contribuições, realizadas para custeio do serviço de iluminação pública; receitas de
transferências constitucionais, os quais respondem a maior fatia do orçamento de receitas de
municípios de pequeno porte e são elas transferidas pelo Estado e União aos municípios – tema
deste artigo – ; receitas patrimoniais, que correspondem a exploração econômica do patrimônio
público, como exemplo venda de bens imóveis, aluguéis, etc.; receitas de serviços como a
cobrança de tarifas sobre o transporte coletivo e por fim, outras receitas, decorrentes de multas
e outras penalidades administrativas.
Estas receitas são previstas na Constituição Federal de 1988 em seus artigos 158 e 159
e na Constituição do Estado de Minas Gerais, na subseção I, em específico art. 150 que trata da
distribuição das receitas para os impostos de competência do Estado e que pertencem aos
Municípios (FEDERAL, 1988; MINAS, 1989)

2.3 Financiamento das despesas públicas


Já as despesas públicas, se referem aos gastos que as entidades e órgãos públicos
realizam na execução de seus serviços e na aquisição de bens necessários à sua manutenção e
na construção de obras, como exemplo, manutenção de estradas, construção e funcionamento
das escolas e creches, pagamento da remuneração dos agentes públicos, serviços de transporte
coletivo, serviços voltados ao esporte e lazer, aquisição de combustíveis para os veículos
oficiais, dentre outros.
A despesa pública corresponde à aplicação de certa quantia, em dinheiro, ou ao
reconhecimento de uma dívida por parte da autoridade ou agente público competente,
dentro de uma autorização legislativa (orçamento) visando a uma finalidade de
interesse público (CARTILHA..., 2005, p.14)

Com a definição acima, dada pela Controladoria Geral da União – órgão responsável
pela defesa do patrimônio público, transparência e combate à corrupção – pode ser observado
que uma despesa não pode ser executada sem sua prévia autorização legislativa, ou seja, sem
que haja previsão orçamentária para realiza-la.
Torna-se prudente ressaltar a forma com que as receitas dos municípios podem ser
utilizadas para execução das despesas públicas, afinal, nem sempre elas são de livre utilização
pelo gestor, o que significa que algumas delas tem suas vinculações e particularidades, tal qual
o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que corresponde a maior receita dos
municípios de pequeno porte.
De acordo com o Art. 159, I, da Constituição Federal, a União é obrigada a compor dois
fundos de participação, um destinado aos estados e outro aos municípios. Estes são chamados,
respectivamente, de FPE e FPM. Eles possuem juntos a destinação de 49% (quarenta e nove
por cento) da receita arrecadada com dois tributos: o Imposto de Renda e Proventos de Qualquer
Natureza (IR) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
O Fundo de Participação dos Municípios (FPM) corresponde a 22,5% dessa arrecadação
(total), porém, de acordo com a Emenda Constitucional nº 84 de 02 de dezembro de 2014, o
Fundo de Participação dos Municípios conta com 2% a mais, que corresponderá a um montante
acumulado durante todo o ano na conta do Tesouro Nacional, sendo depositado para o
município 1% no primeiro decêndio de julho e outros 1% no primeiro decêndio de dezembro
de cada ano.
Vale destacar, também, que algumas despesas obrigatórias são baseadas no conceito do
total bruto da receita, conforme situações definidas por lei. O montante de 20% será destinado
a formação do Fundo de Educação Básica (FUNDEB), conforme a Lei nº 11.494/2007; 15%
para o Serviços de Saúde de acordo com a Lei nº 141/2012 e 1% para o Programa de Formação
do Patrimônio do Servidor Público (PASEP) através da Lei nº 9.715/1998.
Quando se discute sobre vinculação, deve ser lembrado dos limites mínimos impostos
pela CF/88 para gastos com Saúde e Educação, já que, neste caso, determinada receita deve ser
utilizada em certa finalidade, para tal, pode ser observado o que está estabelecido pela
Constituição Federal e seus complementos para as principais receitas dos municípios:
Quadro 1
Gasto Mínimo Fundamento legal
No mínimo 15% da receita de impostos e Art. 7º Lei Complementar 141/2012 que
transferências constitucionais devem ser regulamenta o Art. 198, §2º, I da CF/88
aplicados em ações e serviços públicos de
saúde
No mínimo 25% da receita de impostos e Art. 212 da CF/88
transferências constitucionais devem ser
aplicados na manutenção e
desenvolvimento do ensino
Fonte: Planalto.gov.br

Existem ainda, vinculações de outros tipos de receitas como, por exemplo, aquelas
conseguidas através de um convênio, que nada mais é que um contrato realizado entre duas
entidades (mais frequentemente união/estado com o município) em que sua finalidade já é
definida nesse contrato. Não podendo então o saldo ser utilizado para outro fim, porém, não se
adentrará nestas áreas, pois o foco são as receitas que são calculadas e repassadas pelo Estado
de Minas Gerais ao município de Bom Jesus da Penha.

3 CRISE DO ESTADO E ATRASO DOS REPASSES


3.1 O município de Bom Jesus da Penha
Bom Jesus da Penha foi elevado à município no dia 01/03/1963, completados então no
ano de 2019 seus 56 anos de emancipação. É um município situado no sul/sudoeste de Minas
Gerais, com população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em
4.190 habitantes no ano de 2018, em uma área territorial de 208.349 km², com clima anual
temperado.

3.2 Atraso dos repasses do Estado


De acordo com a Constituição Estadual de Minas Gerais/89 as receitas repassadas pelo
Estado aos Municípios são:
Art. 150 – Na repartição das respectivas receitas, em relação aos impostos de
competência do Estado, pertencem aos Municípios:
I – cinquenta por cento do produto da arrecadação do Imposto sobre a Propriedade de
Veículos Automotores;
II – vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do Imposto sobre Operações
Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação;
(Vide Lei nº 13.803, de 27/12/2000.)
III – vinte e cinco por cento dos recursos recebidos pelo Estado, em razão do disposto
no inciso II do art. 159 da Constituição da República, na forma estabelecida no § 1º
deste artigo.
§ 1º – As parcelas a que se referem os incisos serão diretamente creditadas em contas
próprias dos Municípios beneficiários, em estabelecimento oficial de crédito, onde
houver, observados, quanto às indicadas nos incisos II e III, os seguintes critérios:
I – três quartos, no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações relativas
à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em seus
territórios;
II – até um quarto, de acordo com o que dispuser a lei.
(Vide Lei nº 18.030, de 12/1/2009.)
§ 2º – As parcelas do imposto a que se refere o inciso I serão transferidas pelo Poder
Executivo Estadual aos Municípios até o último dia do mês subsequente ao da
arrecadação.
§ 3º – É vedada a retenção ou a restrição à entrega ou ao emprego dos recursos
atribuídos aos Municípios e previstos nesta subseção, não estando impedido o Estado
de condicionar a entrega de recursos ao pagamento de seus créditos, inclusive de suas
autarquias.
(Parágrafo com redação dada pelo art. 3º da Emenda à Constituição nº 10, de
2/9/1993.) (MINAS GERAIS, 1989)
Segundo o site da Associação Mineira dos Municípios (2018), os atrasos tiveram início
desde junho de 2016, momento em que os recursos estaduais para a execução de políticas
públicas de saúde já não eram repassados em dia.
Segue os dados dos atrasos em Bom Jesus da Penha, reunidos pela AMM, referente aos
últimos quatro meses de 2018 e divulgados pelo município:
Quadro 2
DÍVIDA DO ESTADO COM A PREFEITURA MUNICIPAL DE BOM JESUS DA PENHA
Data de Atualização: 12/09/2018
FUNDEB Transporte Escolar Piso Mineiro Assist. Social ICMS
381.721,31 13.140,00 38.000,00 0,00

Saúde ICMS (juros e correções) FUNDEB (juros e correções)


748.145,80 90.079,33 34.365,95

TOTAL = 1.305.452,39
Data de Atualização: 10/10/2018
FUNDEB Transporte Escolar Piso Mineiro Assist. Social ICMS
410.049,81 19.710,00 40.000,00 113.023,82

Saúde ICMS (juros e correções) FUNDEB (juros e correções)


748.145,80 105.509,89 41.959,28

TOTAL = 1.478.398,60
Data de Atualização: 14/11/2018
FUNDEB Transporte Escolar Piso Mineiro Assist. Social ICMS
531.878,31 26.280,00 42.000,00 291.983,61

Saúde ICMS (juros e correções) FUNDEB (juros e correções)


748.145,80 108.955,60 42.962,55

TOTAL = 1.792.205,87
Data de Atualização: 05/12/2018
FUNDEB Transporte Escolar Piso Mineiro Assist. Social ICMS
573.112,95 32.850,00 44.000,00 343.269,67

Saúde ICMS (juros e correções) FUNDEB (juros e correções)


748.145,80 108.955,60 42.962,55

TOTAL = 1.893.296,57
Fonte: Portal AMM e Prefeitura do Município de Bom Jesus da Penha.

Pode-se notar de acordo com os dados acima, que ao fim do terceiro e último
quadrimestre de 2018, a dívida do Estado de Minas Gerais com o Município de Bom Jesus da
Penha, já chegava próximo à casa de R$ 1.900.000,00 (um milhão e novecentos mil reais) em
um orçamento que totalizava para o mesmo exercício, uma receita orçamentaria bruta de R$
16.934.598,00 (dezesseis milhões, novecentos e trinta e quatro mil e quinhentos e noventa e
oito reais).
Porém, como o município não possuía os dados desta dívida no início de 2018, para
averiguar e evidenciar os impactos gerados pelo atraso, se faz necessário comparar a receita
estimada pela Lei municipal nº 1.288/2017 (LOA) e a receita orçamentária efetivamente
arrecadada:

Quadro 3
Mês Receita Orçada Rec. Arrecadada Diferença (%)
Setembro 1.471.970,03 1.077.847,20 (26,78)
Outubro 1.464.865,25 1.021.517,78 (30,27)
Novembro 1.293.568,51 999.211,86 (22,76)
Dezembro 2.813.864,38 1.994.316,39 (29,13)
TOTAL 7.044.268,17 5.092.893,23 (27,70)
Fonte: Prefeitura Municipal de Bom Jesus da Penha.

Observa-se que os últimos meses não atingiram as respectivas receitas estimadas no


orçamento (finalizando o quadrimestre com diferença média de mais de vinte e sete por cento
abaixo do valor estimado na Lei Orçamentaria Anual para este exercício), em grande parte
devido ao acumulo dos atrasos que evidenciou-se no Quadro 2, causando grandes impactos
demonstrados a seguir.

3.3 Impactos, consequências e dificuldades causadas pelo atraso e o efeito cascata

As consequências geradas pelos atrasos nos repasses causam um efeito cascata na


administração pública e, como exemplo, expõe-se a primeira receita do quadro 2: FUNDEB.

O FUNDEB, ou Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de


Valorização dos Profissionais da Educação, foi criado pela EC 53/2006 e regulamentado pela
Lei nº11.494/2007 e Decreto nº 6.253/2007¹. É um fundo de natureza contábil que objetiva
menor desigualdade de recursos entre as redes de ensino e é a principal fonte de financiamento
da educação básica. Dentre uma das receitas que compõem este fundo, está o FPM com a

¹Com posterior alterações pelo Decreto nº 6.278/2007


retenção de 20% conforme a Lei já citada. Do total dos recursos do FUNDEB, no mínimo 60%
devem ser usados na remuneração de profissionais do magistério, como professores e diretores.
O restante serve para outras despesas de manutenção, por exemplo, equipamentos, construções
e outros profissionais ligados a educação.
Em pesquisa junto ao Setor de Contabilidade e Finanças do Município de Bom Jesus da
Penha, relativo aos quatro últimos meses de 2018, foi constatado os seguintes dados:
Receita total do fundo entre setembro a dez/2018- - - - - - - - - - - - - - - - 313.030,07
Valor Aplicado com Pessoal Docente (aquele enquadrado nos 60%)- -- - 468.397,60
Com os dados acima nota-se que não só a receita total repassada pelo Estado foi
integralmente utilizada para pagamento do pessoal docente (professores, diretores), como
também, que o município teve que utilizar de seus recursos ordinários ou também chamados de
recursos próprios (aqueles sem vinculação específica) para conseguir pagar os salários dos
professores.
Atrasos como o do Programa de Transporte Escolar fazem com que seja necessário mais
uma vez, que o gestor tenha de utilizar um recurso com outra finalidade para custear outra
despesa, o transporte escolar de alunos da zona rural. Já as parcelas referentes ao repasse do
Piso Mineiro de Assistência Social são utilizadas para financiamento de serviços e benefícios
eventuais socioassistenciais que promovam a proteção social daqueles que o necessitarem, ou
seja, pessoas que se encontram em vulnerabilidade social. As receitas vinculadas a saúde
vinham se arrastando já há algum tempo e diversos órgãos governamentais que também
dependem desta receita como o próprio Sistema Único de Saúde (SUS) noticiavam a
paralisação de diversos serviços, como cirurgias eletivas e serviços de urgência e emergência
já precisavam do custeio de recursos próprios dos gestores municipais. Por consequência o
município tinha dificuldade em fornecer outros serviços ou itens na área da saúde, a exemplo
os medicamentos.
Pode-se ver no Quadro 2 que o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação
de Serviços (ICMS) teve início dos atrasos entre setembro e outubro de 2018 e, ao finalizar o
quadrimestre, tais atrasos representavam quase dez por cento do total orçado de receita de ICMS
para o exercício financeiro de 2018 (que contabilizava na LOA o valor total do imposto em R$
3.500.000,00). Essa receita importa em uma das maiores que os municípios possuem, é gerada
toda vez que existe circulação de mercadorias, além de transportes interestaduais e
intermunicipais e também sobre serviços de comunicação. A Administração pública pode
utiliza-lo em diversas áreas, não tendo uma vinculação tão específica como as demais receitas
citadas anteriormente, o que significa que este recurso pode ser utilizado para qualquer tipo de
despesa em que o gestor possa executar com recursos próprios, desta forma, o que poderia ser
uma ajuda para “tapar os buracos” causados pelas receitas vinculadas em atraso, se torna
também outro problema a ser solucionado pelo gestor.
Tendo-se em vista tal cenário, o município inevitavelmente encontrará dificuldades para
criar ou mesmo manter suas políticas públicas, desde novos projetos, a setores essenciais, como
a saúde e educação, já que o ente é “obrigado” a desviar determinado recurso para outro fim,
ocasionando carência em outro setor – gerando assim, o efeito cascata –, por exemplo, não
pagamento de fornecedores, escassez de medicamentos na rede pública, diminuição nas
consultas médicas fornecidas pelo município, causando aumento de judicialização de processos
envolvendo a saúde pública e acarretando maiores gastos e despesas para o órgão público. Tais
consequências podem acarretar no ato definido no Art. 8, inc. VI, da Lei nº 12.608/2012,
estabelecendo a elaboração de um decreto de estado de emergência, do qual o gestor reconhece
legalmente que há uma situação anormal, porém, que é suportável e superável e em último caso
um estado de calamidade pública, quando a situação pode causar sérios danos a comunidade,
inclusive risco de vida a seus habitantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O resultado encontrado mostrou os impactos causados em Bom Jesus da Penha e, caso
o problema persista, a consequência em “modo cascata” que ocorrerá na prestação de serviços
públicos, afetando saúde, educação, cultura, dentre as demais áreas atendidas pela
administração pública. Por isso se faz necessária a fiscalização efetiva não só das despesas, mas
também das receitas municipais. Sabe-se que municípios de pequeno porte não possuem
receitas próprias suficientes para cobrir suas despesas, porém, este deve fortalecer seu setor de
arrecadação e tributos para que, caso haja novos atrasos, possam custear e manter seus serviços
essenciais, tais como, saúde, limpeza pública, segurança etc.

O gestor de Bom Jesus da Penha optou por paralisar os investimentos que estavam sendo
realizados para assim, possuir recursos suficientes e cumprir com os compromissos financeiros
relativos a educação e aos servidores públicos, como exemplo, pagamento de décimo terceiro
salário. Segundo o próprio gestor, alguns municípios haviam noticiado que não conseguiriam
realizar estes pagamentos aos agentes públicos em dia.

Outro reflexo foi a diminuição na realização de atividades desenvolvidas pelo setor de


desporto; exames eletivos tiveram aumento na fila de pessoas aguardando e também foi
necessário desvio do recurso próprio para aquisição de medicamentos básicos fornecidos aos
munícipes através da Farmácia Pública, destinados a atender a Atenção Primária a Saúde,
recursos estes que possuíam outras destinações.

Coloca-se aqui a sugestão de uma pesquisa dos exercícios financeiros seguintes do


município de Bom Jesus da Penha, afim de visualizar quais danos foram causados nos
orçamentos posteriores e nos serviços prestados a comunidade.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRANTES, L.; MASSARDI, W. Classificação dos municípios mineiros em relação à
composição de suas receitas. Revista de Gestão, Finanças e Contabilidade, ISSN 2238-5320,
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Disponível em: https://www.camarabomjesusdapenha.mg.gov.br/legislacao/lei-organica-
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