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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS


FACULDADE DE PSICOLOGIA
TÓPICOS ESPECIAIS EM PSICOLOGIA CLÍNICA

Rafaela Levinthal da Silva

Resenha Crítica da Terapia Cognitivo-Comportamental

MANAUS - AM
2019
Rafaela Levinthal da Silva

Resenha Crítica da Terapia Cognitivo-Comportamental

Fichamento apresentado à Profª. Dra.


Nazaré Maria de Albuquerque Hayasida,
para obtenção de nota parcial da
disciplina de Tópicos Especiais em
Psicologia Clínica da Faculdade de
Psicologia, da Universidade Federal do
Amazonas.

MANAUS – AM
2019
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Resumo
A presente resenha tem por objetivo abarcar a história da Terapia Cognitivo-
Comportamental (TCC), apresentando as três ondas que a originaram para fins
didáticos, assim como as técnicas e métodos utilizados. Também foram exploradas
algumas distorções cognitivas e abordada a técnica do modelo ABC, a qual compreende
que um pensamento automático, crenças ou distorções cognitivas podem ser ativados
por uma situação, gerando consequências. Explora-se bem, por fim, a capacidade do
terapeuta de ensinar e do paciente de aprender com as sessões, sendo estas diretivas e
focais, numa relação colaborativa que fornece a este uma maior flexibilidade quanto aos
seus problemas.
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Sumário

FUNDAMENTOS, MODELOS CONCEITUAIS, APLICAÇÕES E PESQUISA DA


TERAPIA COGNITIVA..............................................................................................................................4

EPISTEMOLOGIA DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL: CASAMENTO,


AMIZADE OU SEPARAÇÃO ENTRE AS TEORIAS?..........................................................................5

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL PARA LEIGOS.........................................7

APRENDENDO A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL: UM GUIA


ILUSTRADO................................................................................................................................................9
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Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva.


KNAPP, P. BECK, A.T. Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e
pesquisa da terapia cognitiva. Rev. Bras. Psiquiatria. 2008;30 (Supl II): S54-64).
O primeiro a desenvolver a Terapia Cognitiva (TC) foi Aaron Beck ao tratar
transtornos depressivos. Notou que tais pacientes traziam consigo crenças de desamor,
desamparo e desvalor, de modo que identificou ser um entendimento distorcido da
realidade, com a tentativa de resolucionar um problema presente.
A TC gira em torno de que a realidade do paciente pode não condizer com a
realidade objetiva, que, por sua vez, influencia o modo de se portar e lidar com os
problemas. Para elucidá-los, é necessário testar o que é trazido de queixa, para que
assim seja possível levar uma outra perspectiva da realidade, distinta da qual estava
preso.
O que se entende a partir da TC é que o indivíduo interpreta uma situação,
gerando os pensamentos automáticos (P.A’s) e seus significados que conduzem à
crença central ou esquemas, certezas disfuncionais incorporadas como verdades
absolutas que, por sua vez, desencadeiam crenças intermediárias, que mais uma vez é
vista como verdade para o paciente. Essa última, no entanto, é menos rígida.
A partir disso, é possível notar o peso das distorções cognitivas no
comportamento, em virtude de que para lidar com o sofrimento a pessoa desenvolve
estratégias compensatórias, podendo gerar um ciclo vicioso – na medida em que se
utiliza as estratégias, mais o paciente se prende às suas crenças que reforçam seu
comportamento e pensamento. Fato semelhante é visto na questão do afeto e
pensamento, posto que crenças de desvalor, por exemplo, fortalecem e aumentam a
probabilidade de sentimentos de fracasso.
O tratamento por meio da TC, nesse sentido, acontece primeiramente com a
construção do vínculo entre terapeuta e paciente. As sessões são estruturadas e guiam o
paciente através do questionamento socrático com o intuito de guiá-lo a fim de que o
mesmo note seu pensamento disfuncional, ao mesmo tempo é ativo nesse processo que
é dinâmico e, com o tempo e com as técnicas aprendidas, torna-se capaz de tomar a
rédea de seus próprios pensamentos e comportamentos.
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Epistemologia da terapia cognitivo-comportamental: casamento, amizade ou


separação entre as teorias?
BARBOSA, A.S. TERROSO, L.B. ARGIMON, I.I. Epistemologia da terapia
cognitivo-comportamental: casamento, amizade ou separação entre as teorias? Bol.
Acad. Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil – V. 34, nº 34, p- 63-79.
O texto, primeiramente, traz a diferença entre dois segmentos pontuando de onde
advém o comportamento para cada um deles, em que a Teoria Comportamental se atém
ao meio que influencia o modo de ser individual e a Terapia Cognitiva postula que a
partir de pensamentos disfuncionais o paciente tem seu comportamento alterado.
No entanto, devido a diversas influências, surge a terapia cognitivo-
comportamental que tem se mostrado cada vez mais eficaz em abarcar de uma melhor
forma os problemas atuais.
A construção da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) se deu em ondas.
A primeira delas, behaviorista e composta principalmente por três autores, teve origem
com Pavlov que veio com conceitos de condicionamento obtidos através da associação
de um estímulo neutro (que não elicia resposta) a um estímulo incondicionado (eliciador
inato de resposta), o estímulo neutro então passa a apresentar propriedades eliciadoras e
se torna estímulo condicionado – conhecido como condicionamento clássico.
Para Watson, o foco da psicologia deveria ser o comportamento mensurável - o
que leva um indivíduo a agir da forma que age, ou seja, o que afeta o organismo é o
meio onde está inserido. Posteriormente surge o termo condicionamento operante
criado por Skinner, o qual postula que o organismo ao emitir um comportamento
produzirá consequência.
Albert Ellis, na segunda onda, inova com a criação da terapia conhecida como
Terapia Racional Emotiva Comportamental e o modelo ABC, no qual um evento leva a
uma interpretação que, por sua vez, gera consequências (como emoções e
comportamentos). Mais à frente, a Psicoterapia Cognitiva de Aaron Beck mostra ser
possível os pensamentos disfuncionais darem lugar a uma visão mais realista da
situação em que o paciente se encontra – no entanto, persistindo tais pensamentos, pode
influenciar negativamente no comportamento e sentimentos da pessoa. Além disso,
Beck utilizou fundamentos do Estoicismo que assume que pensamentos geram emoções
que culminam em atitudes, isto é, levanta a questão de que a interpretação dos fatos
provoca comportamentos.
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Uma das influências significativas nessa onda é pautada por Karl Popper que
caracteriza o conhecimento científico como falseado, ou seja, por não ser verdade
absoluta a hipótese da qual se parte, pode ser contestado ou comprovado, testando-o.
As múltiplas teorias que fazem parte da terceira onda usam, basicamente,
técnicas de mindfulness e aceitação com o intuito de que seja possível acolher não só a
própria emoção, como também a de terceiros, abraçando os pensamentos mesmo que
sejam negativos.
Verifica-se, portanto, a evolução da TCC através de cada onda por meio das
quais a próxima é capaz de compensar algo da anterior, havendo mútua contribuição.
Por outro lado, essa divisão é meramente didática, visto que o conhecimento científico é
dinâmico e a cada teoria, a mesma tem de ser testada.
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Terapia Cognitivo-Comportamental para Leigos.


BRANCH, R. Você sente da forma como pensa. IN: Terapia Cognitivo-
Comportamental para Leigos. 2 Ed. Rio de Janeiro, Alta Books, 2018.
A Terapia Cognitivo-Comportamental relaciona-se com o modo do indivíduo
de agir e pensar, é clara e objetiva e tem por finalidade resolucionar um problema. Sua
eficácia é comprovada, e ainda que não atrelada a medicamentos, hoje já é possível ter a
certeza de sua real serventia mediante pesquisas principalmente com pessoas com
transtornos depressivos e ansiedade.
Para ser efetiva, a TCC utiliza de técnicas como a psicoeducação que resultam
em menor taxa de recaída e bem-estar mais prolongado, isto é, em virtude dos
ensinamentos fornecidos pelo terapeuta, o paciente aprende a ser o seu próprio,
identificando sentimentos e pensamentos danosos a si.
Pensamentos geram sentimentos, ou vice-versa, que por sua vez podem gerar
atitudes/comportamentos que influenciam nos mesmos. Sendo assim, a TCC entra em
cena para auxiliar na mudança de pensamentos disfuncionais em pensamentos
compatíveis com a realidade objetiva.
Tal terapia traz consigo vieses além de cientifico, no que diz respeito aos
pensamentos serem hipóteses capazes de serem testadas na realidade, um viés também
filosófico ao mostrar ao paciente a possibilidade de ser mais flexível quanto as suas
crenças.
Entende-se, então, que a partir da interpretação dos fatos dá-se ou não
importância a um evento, e sendo o significado dado negativo, uma resposta em
desacordo com a realidade é emitida pelo organismo, tendo potencial do comportamento
ser, por exemplo, autodestrutivo.
O TCC utiliza a técnica do modelo ABC, no qual uma situação real ou não
(gatilho) ativa um pensamento presente ou futuro (pensamento automático, crenças,
estratégias de enfrentamento, distorções cognitivas) que leva a uma consequência
(reações fisiológicas, emoções, comportamentos). Assim, aprender o ABC fornece ao
paciente melhor entendimento do que pensa, sente e por que age de tal maneira e, dessa
forma, “mudar os padrões dos pensamentos nocivos e os padrões dos comportamentos
nocivos”. (Página 17)
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BRANCH, R. Encontro distorções em seu pensamento. IN: Terapia


Cognitivo-Comportamental para Leigos. 2 Ed. Rio de Janeiro, Alta Books, 2018.
Olhar por uma lente suja é difícil de ver as coisas como realmente são. O mesmo
acontece com relação aos pensamentos – se distorcido, é impossível enxergar a vida
com clareza. Apesar das distorções cognitivas serem comuns a todos, há pessoas que as
têm exacerbadamente o que influencia negativamente nos seus dia-a-dia.
Dentre as falhas de pensamento está o tudo ou nada, em que para o indivíduo
ou é 8 ou 80, sempre está entre dois extremos e não vê a possibilidade de haver meio
termo. Não é porque, por exemplo, alguém fez algo ruim que a pessoa é 100% má. É
necessário que o terapeuta o faça ver que a realidade é outra, diferente da que ele está
acostumado.
Há também a adivinhação, a habilidade impossível que a pessoa pensa ter de
prever o futuro. Com o propósito de diminuir essa distorção, é importante testar
hipóteses através do questionamento socrático ou na prática, permitindo-se novas
experiências ao não levar em consideração o que bloqueia e trava.
A rotulação, por outro lado, é assumir a si próprio algo negativo, como ser
fracassado. O que não entendem é que as pessoas são dinâmicas e nessa fluidez há
“chance de mudança e aprimoramento” (Página 30).
Já quando se tem o filtro mental, ou visão de túnel, vê-se só o que se quer ver, ou
seja, mesmo havendo aspectos majoritariamente positivos, o pensamento é focalizado
no negativo. Para que cesse ou minimize essa distorção, é útil identificar o que vai
contra esse pensamento, para prová-lo irreal.
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Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: um guia ilustrado


WRIGHT, J. Princípios básicos da terapia cognitivo-comportamental. IN:
Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: um guia ilustrado, pg: 15 - 32. Porto
Alegre. Artmed, 2008.
A Terapia Cognitivo-Comportamental é tem princípios que passam pelo que já
se pensa do por que uma determinada pessoa se comporta e se sente de determinada
maneira. Baseada na filosofia grega, coloca em evidência o estoicismo, no qual a
interpretação sobre ações geram comportamentos, além de trazer um cenário em que o
“estilo saudável de pensamento pode reduzir a angústia” (Página 15) – assim como
podemos passar a desenvolver bons hábitos alimentares, devemos desenvolver bons
hábitos mentais.
A parte comportamental da TCC é oriunda de Pavlov principalmente, de forma
que o objetivo era apenas reforçar o comportamento observável e excluir respostas
disfuncionais. Com o tempo, houve a fusão da comportamental com a cognitiva, em
virtude de notarem o benefício das duas somadas.
Métodos oriundos do modelo cognitivo-comportamental de Beck, o precursor,
pôde ser aplicado em uma gama de casos clínicos e comprovou ser efetivo o tratamento
por meio dessa combinação de teorias para mitigar sintomas.
Pensamento e emoção é parte importante da TCC, de forma que a maneira que
um indivíduo significa um evento pode ser reforçador para ele seguir emitindo um
mesmo comportamento danoso para si. Ela entra para resolver os conflitos, ensinar o
paciente a identificar e mudar seus pensamentos da melhor forma. Os terapeutas dessa
abordagem não negam a composição biológica, ou seja, compreendem que a
desregulação de neurotransmissores pode alterar o comportamento e consequentemente
a forma de pensar e vice-versa, que por sua vez, tem influência do ambiente.
Quando os pensamentos automáticos (P.A’s) ocorrem frequentemente, notam-se
emoções negativas exacerbadas. O dever do terapeuta é, portanto, auxiliar o paciente a
identificar os que lhe causam prejuízo e os esquemas, suporte para como processamos
um evento, isto é, deve fornecer autonomia ao paciente com a finalidade de que ele
mesmo possa controlar tanto suas cognições quanto seu comportamento.
Logo, é importante salientar que a TCC não é apenas aplicação de técnica, é
fundamental saber a teoria, que serve de apoio para a primeira. Ao saber a teoria posso
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aplicar a técnica que melhor se encaixa no caso, muda conforme paciente, o que
funciona com um não necessariamente vai funcionar com outro, com caso semelhante
ou distinto.

WRIGHT, J. Relação Terapêutica. Empirismo colaborativo em ação. IN:


Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: um guia ilustrado, pg: 33 - 44. Porto
Alegre. Artmed, 2008.
A relação terapêutica na TCC é tida como colaborativa e de participação ativa,
visa a aliança segura entre terapeuta e paciente em que este se sinta ouvido. Apresenta-
se pelo empirismo colaborativo, logo, o que o paciente aprende durante as sessões é
possível aplicar em sua vida fora do consultório. Muito do que aprende é resultado,
inclusive, do vínculo estabelecido.
A cada sessão é preciso que haja afeto. No entanto, é de suma importância não se
envolver emocionalmente com o paciente, contudo isso não o impede de ser empático
com o que ele traz – deve-se ser afetuoso na medida e não ignorar o sofrimento alheio,
manter um equilíbrio é fundamental para fortalecer a relação. Outro ponto considerável
é ter cuidado para não ser condescendente ou compreensivo demais e acabar validando
distorções cognitivas que favorecem sentimentos negativos.
A autenticidade permite ao terapeuta entender que o paciente é um ser passível
de melhora. Acredita-se, então, na sua capacidade de enfrentar os problemas de maneira
saudável num processo colaborativo, no que diz respeito ao paciente em vez de ser
passivo, ser ativo. Prontamente, a dupla foca em pensamentos e comportamentos que
são testados para verificar se a veracidade objetiva está ou não em contraste com a
verdade trazida até o consultório.
Com o tratamento espera-se do paciente maior flexibilidade ao manejar suas
distorções cognitivas e seus padrões comportamentais, minimizando-as. Conforme o
terapeuta intervém numa relação semelhante a de professor-aluno, com a colaboração e
o método socrático, o “estudante” passa a compreender e ser condicionado por meio da
estrutura da sessão e passa a aplicar a técnica aprendida em sua vida.
Quem leciona, portanto, deve ser criativo, pensar rápido nesse processo
dinâmico que guie o paciente a também ser assim, dando condições com o fim de que
paciente seja o seu próprio terapeuta. É preciso lembrar que não se pode esperar uma
mudança brusca do indivíduo, pois cada um tem o seu tempo e uns demoram mais para
conseguir identificar o padrão que causa certas distorções.
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Sendo assim, a relação terapêutica quando há uma aliança terapêutica saudável


permite ao terapeuta a ser como um tradutor para o paciente, tendo que se adaptar a
essência de cada um, despido de preconceitos para melhor atendê-lo, com o intuito de
que posteriormente ele se torne capaz de resolver suas angústias sem precisar de auxílio
a não ser dele mesmo.
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