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CLUCiANA) ‘Titulo original: The Patient and. the Analist (The Basis of the Psychoanalytic Process) Copyright © 1973 by Joseph Sandler Editoragao Coordenagio: Marcia Salomio Pech ‘Tradugio: José Luis Meurer (1. ed.) Capa: Mauro Kleiman (12 ed.) Revisiio: Sylvia: Mattos 1986 | Difeitos adquirides por IMAGO EDITORA LTDA. | Rea Santos Rodrigues, 201-A 20250 — Rio de Janeiro — RJ | ‘els. 293-1092 — 295-1098 Todos és direitos de reprodugio, divulgagio e tradugdo so reserva- dos, Nenhume parte desta obra ‘poderé ser reproduzida por fotoce: pias, microfilme ou outro processo -fotomeciinico. Impresso no Brasil Printed in Brazil JOSEPH SANDLER CHRISTOPHER DARE ALEX HOLDER O PACIENTE E O ANALISTA Pundamentos do Processo Psicanalitico Série Anelytica Diego de JAIME SALOMAO 2. Edigdo IMAGO EDITORA LTDA. Rio de Janeiro ‘slilizada,-e:o-emprego-de-estruture-sintomética, mais.aniga adensensinibida Todos os sistema cas de psico- teraplaGnclsiveterapin” do compen iameilo)~ poset abundantes solucdes_alternativas que conferem semuranga ¢ que_podem ser adofadas pelo paciente. Embora a resisténcia, nd inicio, f _Emb nck (cio, fosse encarada em fungio das | Fesisténcias do paciente a rememoraco © & associagio Ii dente que logo 6 conceito f i aden oy ob ampliado para incluir tod z 05 obst tulos. coe -objetvon © precedimomes 6" uatament, orginuroe a ‘bietandspecfonts-Wapateandlise ©-ha-palastoraple palcenalllce os aciente. Na psicanélise © ha psicotorapia psicanalitice, os Tenutneles Mio tiporadoe-not-melo-dee-inerpeetasies ¢ de cotor, fas_sfio_supsrades.por meio «as interpreiagbes. e de_ouiras intenvenedes.docanaliet (capitulo 11, A forme e.9 conixto-da re. -yieram_a-ser vistas como stil fonte de informacio paia_o terapeuta, Essa concepedo relativa a Fesisténcia possibilita que o ‘conceito seja estendido da psicandlise pare, todas as formas de trata- mento, e podemos constatar as manifestacses di ia até mesmo no_cotidiano da clinica_médicap sob a forma de esquecimento des ‘Congultas maroadas, -equivocos_referentes_a Tasttigben do made, Faeionalizacao para Interromper o-traiamente, ¢ coisas semelhantes: ‘Silesia i eanene podem ot 2s. ‘aiamenfo.podem simular. diferentes fontas se isso _explica por que um método pode ter éxito com ‘uma paciente, quando outro método nfo < terfa, Na veal iméisdosde-tiatements soden. deve? set cuseuo-a0"Tuto de due co Sqsindiomnarsoblaserie-fonteyde felotnclay es, de (Gua Todo, talver. eeja verdade que outros méiodos podem fracassar porque nao sé fomou nenhuma precaugdo para o manejo adequado das resisténe jas-que podem surgiraMesmo em todas essas diferentes situagbes, a resisténcia pode ser em si uma Util fonte de informaga, 6 Capitulo 8 A REACAO TERAPEUTICA NEGATIVA © conceito clinico de reagéo terapéutica negativa foi incluido neste livro por diversas razdes. Bum conceito de importéncia especial ha histéria da psicanilise, pois representa o fendmeno clinico esco: thido por Freud (1923) ‘para ilustrar a ago de um “sentimento inconseiente de culpa” c para indicar a existéncia do que ele con- Cobia como instincia psiquica especial — o superego. Além disso, tra- jeandlise clinica, conquanto tae de conceito amplamente usado na psi fe tenha escrito pouco sobre o assunto desde a formulagao original de Freud, Diferentemente do que aconteceu a conceites como os de fransferéncia (capfutlos 4 ¢ 5) e atuagio (capitulo 9), nfo teve sua aplicagio estendice além da psicandlise clinica, Isso pode, ser con. sRierado surpreendente, ante 0 fato de que poderia ser facilmente aplicével, sem modificagio, a uma ampla variedade de situagoes clinicas, ‘O fendmeno da reagio terapeutica negativa no tratamento psica- nalitico foi, pela primeira vez, desctito e explicado por Freud, da guinte méneira (1923): HG certas pessoas que se comportam, durante © twabalho analitico de modo muito caracteristico, Quando se Ihe fala fm tam esperangoso, ou se exprime satisfaga0 com © pro gresso do tretamento, elas mostram sinais de. descontenta. frente, e seu estado piora, invariavelmente, Comega-se por imaginar que isso € um desafio © uma tentativa de provatem que sto superiores a0 médico, mas, depois, consegue-se uma disto mais profunda e mais correta, Chege-se & conviegio Mp apenas dé que tais pessoas nfo conseguem suportar jualquer elogio au sinal de aprego, mas que realmente res gem em razio inversa 20 progresso do tratamento, Cada Jolugio parcial, que deveria resultar, © que em outras pes soas efetivamente resulta, em melhora ou suspenséo tempo- Faria dos sintomas, produz nelas, & época, uma exacerbagio de sua doenga; ao invés de melhorar, pioram durante o ta tamento, 1 Freud atribuiu isso & agio daquilo que ele concebeu como um sentimento inconsciente de culpa, devido & ago da conseiéneia moral um aspecto do superego) do paciente.* Nesses casos, a doenge pode 4$et considerada, pelo menos em parte, como estando a servigo da, fungio de apaziguar ou reduzir o sentimento de ctilpa do padente, Seus sentimentos de culpa podem representar_uma necessidade de punicéo ow sofrimento, uma tentativa de aplacar uma conscigncis moral excessivamente severa c critica, Segue-se que a recuperagio, ou 8 promessa de recuperagio, representa, para esses pacientes, um tipo especial de_ameaga, isto é, 0 perigo dé experimentar sentimentos de Gulpa agudos ¢ talvex insuportéveis, Pensa-sc que, de certa forma, o estado que consiste em estar livre dos sintomas, nesses pacientes, deve representar a: realizagio de desejos inconscientes infantis cuja tatificagdo € poreebida como internamente proibida, Pouco depois, escrevendo a respeito do masoquismo (1924), Freud acrescentou que 0 “‘sentimento inconsciente de culpa”, que’ podia conduzir & reagio terapéutica negativa, em certos casos podie set reforgado por uma tendéncia masoquista inconsciente, octilta,.Tes0, levaria a um ganho adicional, decorrente do sofrimento causeds pela docnsa, ¢ representaria uma maior resisténcia 4 recuperagig, Fre sugeriu que “o sofrimento causado pelas neuroses & precisarcente a fator que as torna valiosas para a tendéncia masoquista” ¢ acres centou que: contratiamente a toda teoria ¢ expectativa, ...a neurose que desafiou todos os esforcos terapeuticos pode desaparecer se 4 pessoa cai na miséria, ou se envolye num casimente in. feliz, ou perde todo o seu dinheire, ou desenvolve uma doen; ‘ga orginica perigoss. Nesses casos, uma forma de sofrimen, {o foi substituida por outra 7 Pode ser de algum interesse saber que Freud, em seu trabalho, eri que @ idéia de um sentimento inconscionte de culpa € algo diffcil de explicar aos pacientes, algo, psicologicamente, de. favs incorreto,** Comentou que a idéia de uma “necessidade de punicio caracteriza spropriadamente essa situagio observada Ver, Sandler (19600) © Sandler, Holder e Meet 1953) pure ma sical ete comenes’ mals sib, se "Breudafrmava” qu os sntimentee nfo sehes’ser_propiamen desarits como ‘Tnconscentes' (1825, 1924), mas ectediova ae ee {stores quo produzei sentinentosincomities de cigh’ peie ade nee da aperepsio. conscience, ee 0 conceit de vin “setae eink de culpa’ @ Gul upesar das objegSercccessemateeen® aneareciente tae 78 Assim, Froud empregou a expresso “reagio terapéutica negati va" como (I) deserigao de um fendmeno clinico especial, isto , a piora da condiggo do pacieite apds alguma experiénefa encorajadora (por exemplo, ‘se 0 analista exprime satisfagao pelo progresso do trabalho analitico, ou se 0 préprio paciente percebe que foi feito algum progresso através da elucidagao de algum problema), 1830 corre quando notmalmente poderfamos esperar que ele sentisse alivio. (11) Como explicago do fenémeno clfnico em fungao de um mecanismo psicolégico, isto é, uma réagio que consiste em o paciente ficar ou sentir-se pior,'a0 invés de melhor, reagio que visa a reduzit 08 sentimentos de culpa suscitados pela methora. Nas pessoas que mostram essa reacdo, pode-se pensar que a melhota representa a gre: fificagio de um desejo sujeito @ uma proibigio interna e, por conse- guinte, @ melhora é sentida como ameaga, Freud considera a reacio terapéutica negativa como uma .ca- racteristica de certos tipos de pacientes em anélise, e € interessante verifcar que, alguié-anox-aites-ele-descreverdeacnclahmente mesmo mecanismo em um contexto inteiramente diferente, Em 1916, ele incluira, na desctigio de diversos tipos diferentes de cardter, “os que sdo atrastados pelo éxito”, Comecando @ partit do comentétio de que @ neurose se origina na frustragao de um desejo instintual, ele continua: Deve parecer bastante surpreendente, ¢ mesmo desorienta- dor, quando, como médico, se faz a'descoberta de que as pessoas, as vezes, adoccem justamente quando se realize um desejo profundamente arraigado e por muito tempo acalen tado, Parece que, entao, € como se nio fossem capazes de supottar sta felicidade; pois nfo pode haver divida de que existe uma conexdo causal entre 0 seu éxito e 0 seu adoccer. Freud ilustrou sua tese referindo 0 caso de uma mulher que vi vera feliz com seu amante por muitos anos, parocendo apenas neces sitar da legalizagio de sua uniao para obter completa felicidade, Quando, por fim, ela ¢ 0 amante casaram, ela ruiu completamente, desenvolvendo uma doenca parandide incurével. Freud também cita ‘0 caso de um professor que, por muitos anos, acaticiare 0 desejo de suseder ao mestte que © havia iniciado nos seus estudos. Quando realmente foi escolhido como sucessor, desenvolveu sentiments de diivida ¢ desvalia, vindo a sucumbir de uma doenga depressiva que urow alguns anos.* * Freud mencionou Lady Macbeth, © também Rebeccn West, de Rosmersholm, de Ibsen, como exemples, 79 “© trabalho analitico”, diz Freud, “nao tem dificuldade em nos mostrar que sio as forgas da consciéncia moral que proibem fa pessoa de obter da afortunada modificagéo da realidade a vanta- gem hé muito esperada (1916). Exceto quanto a um maior reconhecimento da importéncia eli- nica da reagéo (erapéutica negative, a bibliogtatia psicanalitica a respeito desse tema especifico ¢ relativamente escassa. Wilhelm Reich (1934) sugeriu que a ocorréncia da reagao torapéution negativa se devin @ deficiéncia na técnica analitica, especialmente deixar de, analisar a transferéncia negativa, ¢ um artigo da autoria de Feigen- baum (1934) descreve um trecho de um caso clinico que ilustra a situagao, Entretanto, dois trabathos, publicados logo apés, procuram ampliar 0 conceito original de Freud no sentido de incluir diversos mecanismos diferentes (Rivitre, 1.36; Horney, 1936). Em 1936, Joan Rivigre assinalou que a reagio terapeutisa ne- gativa, conforme descrita por Freud, nfo significava que 0 paciente sempre fosse ndc-analisivel. O paciente que reage dessa forma nem sempre interrompe 0 tratamento, podem efetuarse mudangas no pacients através de um trabalho’ analitico apropriedo. Rivitre pros- segue ¢ afirma que “o titulo que Freud dew a essa reagio, n0 en tanto, nao ¢ realmente muito especifico; uma reago terapeutica ne- gativa também serviria para caracterizar 0 caso de qualquer pa- ciente que nio se beneficia com o tratamento”. Riviére parece ter desenvolvido 0 coneeito mais amplamente do que o fez Freud, e inclui nele uma série de tipos de resistencia grave & anélise (em es- pevial, os casos refratérios), Concordando com diversos autores sub- seqiientes (por exemplo, Rosenfeld, 1968), a autora incluiu certas formas de ‘resistencia nas quais o paciente, explicita ou implicita: mento, rejeita as interpretagbes do analista, Grande parte da exposi- go de Rividre se refere ao que temos descrito como resisténcia de- vida A ameaca que o tratamento enalitico representa pare a aulo- estima do paciente e as resistencias causadas pelos tracos de_card- ter ‘fixos’ (capitulo 7). Outros aspectos referem-se & auséncia de uma adequada alianga terapéutica em certos tipos de paciense (ca pitulo 3). Contrastando com Rivigre, um outro trabalho técnico impor- tante, de Karen Horney. (1936), comega com a formulagio de que a reagio terapéutica negativa nao significa, indiscriminadamente, toda deterioragao na condigo do paciente, Ela sugere que s6 se deveria incluir entre tais casos aqueles nos quais seria razodvel esperar que ‘© paciente se sentisse aliviado. B diz mais que, em muitos casos de reagio terapéutica negativa, muito fregiientemente, 0 paciente de fato sente esse alivio nitidamente, ¢ entio, um pouco depois, reage, conforme descrito, por exemplo, com um aumento dos sintomas, de- 80 stinimo, desejo de interromper 0 tratumento, ‘ete Em principio, pa rece estar presente uma seqiléncia, definida de reagies. Primeiro, 0 paciente sente nitido alivio, seguindose de um retraimento ante a perspectiva de melhora, desinimo, diividas (acerca de si mesmo ou do analista), desesperanga, descjos de interromper, e comentarios como o de que “estou muito velho para mudar”. Horney sugeriu que a reago teraputica sc instala em pessoas com um tipo especial de estrutura de_personalidade ‘masoquista’. Nessas pessoas, 0 efeito de uma ‘boa’ interpretagio feita pelo ana lista (no sentido de que a initerpretacdo & sentida pelo paciente como correla) pode ser considerada coma,sendo de cinco tipos, Estes nfo estio sempre. presentes, e mio (ém igual intensidade, mas podem existir em diferentes combinagées: 1, Esses pacientes recebem uma ‘boa’ interpretag#o como es: timulo para competir com o analista, © paciente fica res- sentido com o que ele sente ser a superioridade do anatista, Horney ‘considera que, em tais pacientes, a competi¢éo fa rivalidade situamse acima da média, € que eles sio ex: tremamente ambiciosos. Fundida com sua ambica0 esta uma excessiva quantidade de hostilidede, Muitas vezes, ex- primem sua hostilidade ¢ seu sentimento de derrota depre- Ciando o analiste © procurendo derroté-lo. A reagio do.pa- ciente, neste caso, nfo se Taz contra 0 contetido da inter: pretagio, mas contra a habilidade demonstrada pelo ang- tista 2. A interpretagio também pode ser considerada um golpe para a auto-estima do paciente, quando ela The mostra que le nao 6 perfeito e tem ansiedades ‘comuns’, Ble se sente censurado © pode mostrar uma reagdo terapéutica negativa, numa tentativa de inverter as posigdes, censurando 0 ana. Ita, 3. A interpretagdo se segue um sentimento de alivio, ainda que fugaz, ¢ 0 paciente reage como se a solugdo signifi casse um movimento em diregio"& cura © ao éxito, Essa reagio pareceria incorporar 80 mestno tempo um_receio do sucesso eum receio do fracasso. Bnguanto, por um lado, © paciente sente que, se ele obtiver éxito, incorreré nna mesma espécie de inveja e ralva que sente em relacio 0 Grito dos outros, por outro fado, teme que, se -fizer tum movimento em diregfio a objetivos ambiciosos ¢ fra. cassar, as outras pessoas 0 esmagardo assim como ele gos: taria de esmagitlas, Tais pacientes retrocedem, diante de 81 qualquer objetivo que envolva competigio e se impdem uma constante inibigio ou um processo de autocontrole, 4, A interpretagiio € sentida como acusagao injusta, © © pa ciente sente constantemente como se a andlise fosse uma prova. A interpretagdo reforga sentimentos existentes de autocondenagio, e o paciente reage com acusagbes ao ana: 5, © paciente sente a interpretagio como repulsa e toma 6 desamor ou desprezo de parte do analista, Esso tipo de Teacdo relacionase a uma intensa necessidade de aleicao, e uma igualmente intensa sensibilidade & rejeigdo. Esses tipos de teagio form descritos por Horney, € nis os mencionamos aqui de modo um tanto detalhade por causa de sua evidente importincia clinica, No entanto, a despeito de sua descri- g40, inicialmente precisa, da reago terapéutica negativa, Horney {assim como Rivigre) inclui outras respostas ‘nogativas’ com base em diferentes processos psicoldgicos subjacentes. Conquanto estas sejam importantes do ponto de vista do tratamento” de pacientes com es trutura de personalidade ‘narcisica’ ¢ ‘masoquista’, diferem, ne sua natureza, da reagéo terapéutica negativa tal como desctita por Freud. (© paciente que mostra essa reapao softe uma deterioragio, quando setia de se esperar dole uma melhora, ¢ isto € muito diferente do pa: cients que fica ressentido com uma ‘interpretagZo “correla”, ow que mostra algama forma de ‘oposicao' agressiva, A prova clinica da existéncia de uma reagio terapéutica negs- tiva, em pacientes que apresentam intensos sentimentos de culpa fe uma ‘necessidade de punigao', As vezes pode ser obtida a partir da reagéo paradoxal de tais pacientes a interpretagées que. sio sen- tidas por eles como alaque, critica ou castigo, Isso esté demons- trado num caso de uma pdciente bastante masoquista, descrita por Sandler (1959. Grande parte de seu siléncio_¢ dificuldade de produzir associagdes destinaya-so a ine provorar raiva, ¢, semio eu relativamente inexperiente, nessa época, algumas vezes. deixel transparecer minha ireitagfo com ela, nos meus co- entérios ou no tom de minha voz, Sempre que isso acon. tecia, cla relaxava, ¢ a sesso seguinte era uma sessio “boa”; ela conseguia associer sem dificuldade, e surgia material novo, A €poca, entendi isso como sendo o resul- tado de, involuntariamente, eu haver satisfeito sua “neces- sidade de punigio” 82 As obras psicanaliticas relativas ou pettinentes a esse tema (por exemplo, Feigenbaum, 1934; Rivitre, 1936; Horney, 1936; Ivimey, 1948; Bidelberg, 1948; Lewin, 1950; Cesio, 1956, 1960a, 1960b; baum, 1956; Brenner, 1959; Salzman, 1960; Arkin, 1960; k, 1964; Rosenfeld, 1968) tém acrescentado, assim nos’ parece, pouca coisa ao nosso conhecimento ev a nossa compreensio desse mecanismo, com a condigéo de que mantenhamos os aspectos esp: cificos da reago descrita por Freud. Grande parte da bibliografia publicada aborda tipos mais gerais de resistencia e de atitudes ‘ne gativistas’, ou vincula a reagfo terapéutica nogativa ao masoguismo em geral. Essas obras coniribuem para um melhor entendimento do negativismo e do masoquismo, porém, conforme dissemos, nio deitam muita Iuz sobre as caracteristicas especificas da reagéo terapéutica negativa, mas, antes, tendem a tornar indistinta a sua especificidade, Parece recomendével reservar a expressdo “resco tcrapéutica nega- tiva” para o fenémeno e 0 mecanismo tal como originalmente des- ctitos por Freud ¢ por ele vinculados & necessidade de 0 paciente se proteger de sentimentos de culpa relativos a experiéncia ou & possi bilidade de éxito ou melhora, Contudo, pense-se que, para os pacien- tes que mostram essa reagio na anélise, 0 prognéstico ¢ muito me. Thor do que o era nos comecos de psicanilise, tendo em conta os aperfeigoamentos no manejo técnico das reagSes de calpa medisnie a andlisc da transferéncia, Visto que esse mecanismo, como outros, se desenvolve, na ctianga, em relago a personagens importantes da Infancia, a comprecnsao’ da repetigao desses relacionamentos na transferéncia do paciente em relagio 20 analista pode propiciar o desenvolvimento de formas diferentes de reagir © de atcnuar os efeitos de uma consciéncia moral severa Um artigo de revisio do tema, extraordinariamente til, da autoria de Olinick (1964), avalia criticamente as muitas concepgties ertOneas existentes entre 05 analistas no que conceme & natureza da reagdo terapéutica negativa, Também ele se preocupa com a tendén- cia de tornar indistinto 0 significado dessa expressio, ¢ comenta: “As veres, ainda se verifica que essa expressfio é usada para desig- nat toda ¢ qualquer piora da condigao do paciente durante 0 trata- mento. Isso invalida, injustificadamente, as meticulosas observagdes clinicas de autores precedentes”, Olinick fala de reagdes terapéuti- as negativas ‘falsificadas’, para caracterizar o efeito de uma técnica falha, quando uma interpretayao de um desejo inconsciente & dada antes de o paciente ter sido adequadamente preparado para ela, Em vyer, de proporcionar alivio, a interpretagao premature faz com que © paciente se sinta pior, mas isso no € reagdo terapéutica negativa no sentido descrito por Freud. 83, Olinick prossegue’é considera a reagio terapéutioa negativa um caso especial de negetivismo, Ele atribui as origens de uma attude negativista aos primeiros anos de vida ¢ vincula-se a situagées que alimentam sentimentos de agressividade ¢ tebeldia rancorosa na crlanca, ‘A ocorréncia da reagfo terapéutica negativa em pacientes pro- pensos & depressio € um tema que vem sendo debatido, na biblio- grafia, desde 1936 em diante (Rividre, 1936; Horney, 1936; Gero, 1936; Lewin, 1950, 1961). Parece provavel que, para alguns pecien- te, 0 éxito representa, paradoxalmente, um afastamento ou um perda de um estado “ideal” do self ligado a certas exigencies ripi- das da consciéncia moral do paciente, F provavelmente a perda desse ideal’ que esté associada ao desenvolvimento de uma reagao depres: siva (Joffe e Sandler, 1965). Um vinculo adicional, ainda que menos. direio, entre a reagio teraptutica negativa ¢ a depressio pode ser localizado, segundo nossa experiéncia clinica, nas tentatives que fazem certos pacientes, os quais mostram uma tendéncia & reagio terapéutica negativa, no sentido de desenvolver sintomas que visam fa afastar ou cvitar o desenvolvimento de um estado depressiva, © desenvolvimento de tais sintomas foi desefito em relagao:t dor peicogénica (Joffe © Sandler, 1967), ‘Visto que poderos considerar que a propensio is reagdes tera: péuticas negatives reside no cardter do individuo, de preferéncia a ser uma conseqiiéncia da situagdo do tratamento psicanalitico, pode- se considerar que essas reagdes aparentemente paradoxais & ameaga de cura ou de éxito ocorrem iguslmente em outras situagdes clinicas, ‘Assim, € de esperar que elas possam.ser detectadas, em certos indi vviduos, como resposta ao progresso (ou 8s expresses de satisfagdo manifestadas. pelo terapeuta) em tratamentos de quaisquer espScies Isso Ievaria, também, & conclusio de que a historia prévie cessas pessoas indicaria reagdes ‘negativas’ semelhantes, diante de oytras experitncids de éxito © tealizagdes. Deve ser assinalado. que existem_diversas outras razées para, que, om situagées nas quais ocorreu uma melhora, um paciente sofra uma recaida, Essas situagées podem ser muito distintas da reagao ferapéutica negativa conforme descrita por Freud, Por exemplo, época do término'do tratamento, pode ocorrer um retorno tempo: rario dos sintomas, [sso se observa também em outras situagoes de fratamento, como quando se discute com 0 paciente a sua aka do hospital ou se sugere a cessagio do atendimento ambulatorial. Pode: se pensar que algumas dessas recafdas acontecem em fungio de uma dependéneia nfo-solucionada do paciente em relagho & pessoa do médico, De forma semelhante, as recidivas também podem repre: sentar tontativas de manejar os temores de uma dertocada apés 4 84 cessagio do tratamento, que, sio agora enfrentados adoecendo nova, mente antes do fim do tratamento A reagio lerapéutica negativa parece ser um fendmeno clinico bem delineado © sua ocorréneia nfo indica necessariamente falha técnica ou intervengéo inadequada por parte do terapeuta, No en fanto, entatizaefamos novemente que parece haver uma multiplici dade de causas para que um tratomento fracasse ov seja ineficar, 3 quais néo constituem reagio terapéutica negativa © conhecimento do mecanismo © da significagio progndstica do tipo especial da esirutura de carster em que pode ocorver a reagdo terapéutica negativa tem extensa aplicagio clinica, Assim, por exemplo, esse conhecimento pode lever o clinico a ser caute. loso a respeito de sugerir a pacientes deprimidos, que mostram intensos sentimentos de culpa ¢ um padrao de reagio que corres- ponde & reagdo terapeutica negativa, que eles devem “tirar umas {érias”, A culpa que isso engendra pode levar a grave softimento 6 deprsifo, porto meno de preeipitar um suite, Para concluir, podemos resuinir o tema dizendo que a expressi “reagio terapéutica negative’ € usada nas seguintes formast L. Como descrigdo da situagio em que a piora ocorte depois que © paciente percebe, ou o terapeute assinala, uma ms. hora. 2, Como explicagio dese fenémeno clinico no qual 0 ree parecimento de sintomas € atribuido 4 ago da culpa en- gendrade pela atmosfera de encorajamento, otimismo, ou aprovacio, 5. Essa expresso tem sido ampliada, na bibliogratia, para descrever uma reagio caracteroldgica de ‘negativismo" ou ‘oposi¢ao, que se torna manifesta numa situagio clinica, sob a forma de oposigso a0 tratamento ou incapecidede de aceitar um beneficio do tratamento. Esses pacientes, naturalmente, podem melhorar durante © tratamento, mas go admitem a muelhora, Conquanto isso tenha importin- cia clinica, néo nos parece que seja uma extenséo til do conceito conforme desctito por Freud, © pode reduzir sua utilidade, 4. Tem sido usado, incorretamente, a nosso ver, para incluir muitas outras formas de resisténcia ao proceso do trate. mento psicanalitic. 8

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