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Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação - UFF

CHAMADA FOPESQ - 2020

Título: A “prática” das políticas públicas: etnografias das formas de intervenção e


mobilização social em situações de conflitos étnico-raciais-religiosos e de gênero

Identificação do proponente: Ana Paula Mendes de Miranda; Matrícula SIAPE: 1692024

Área de Concentração: Ciências Humanas


Endereço onde será executado o projeto: Campus Niterói
Palavras‐chave: políticas públicas; mobilização social; reconhecimento de direitos
Unidade (s) de realização do Projeto na UFF: Instituto de Ciências Humanas e Filosofia
/ Departamento de Antropologia
Resumo: O projeto apresenta uma abordagem antropológica sobre políticas públicas, a
partir de etnografias sobre a interação entre as “burocracias” estatais e os movimentos
sociais na busca por reconhecimento de direitos em situações de conflitos identitários. O
foco principal são os de natureza étnico-raciais-religiosas e de gênero para compreender
como se dão na prática a implantação da gestão pública e as formas de administração de
conflitos, permitindo expor as diferentes percepções dos agentes envolvidos. A
metodologia adotada será a abordagem multimétodo, que se caracteriza pela integração
de técnicas quantitativas e qualitativas (mixed data-collection e mixed data-analysis), para
possibilitar a demonstração da dinâmica e amplitude dos fenômenos nos diferentes
contextos onde a pesquisa será realizada. Essa abordagem favorece a
complementaridade da análise quali-quanti tornando possível avaliar as vantagens e
limitações de cada técnica e/ou tipo de dado no tratamento dos fenômenos em foco.

Introdução

O objeto desta pesquisa é a análise de práticas estatais designadas como “políticas


públicas” (Souza Lima e Castro, 2015; Teixeira e Souza Lima, 2010; Souza Lima, 2002,
2014), em especial, àquelas referentes às situações de conflitos identitários de natureza
étnico-raciais-religiosas e de gênero, a partir da análise dos modos de administração dos
conflitos e intervenção das “burocracias”, bem como das estratégicas de mobilização
social para reconhecimento de direitos (Miranda e Boniolo, 2017; Miranda, Correa e Pinto,
2017; Miranda e Silva, 2017; Miranda, 2014). A perspectiva é inspirada na análise de
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situações sociais (Gluckman, 1987; Van Velsen, 1987) para identificar as controvérsias
entre as práticas locais e o universalismo dos modelos normativos (Simião, 2015), bem
como seus efeitos na ação social.
Este projeto é um desdobramento de minha bolsa de produtividade do CNPq, atual e
a anterior, com a intenção de dar continuidade às minhas atividades de pesquisa, ensino,
orientação e extensão/inovação, na área de Antropologia Política. A proposta busca
consolidar e ampliar experiências anteriores de pesquisa, com a incorporação de novas
perspectivas analíticas sobre as formas de intervenção de agentes públicos e
representantes de movimentos sociais organizados, em suas reivindicações de políticas
públicas voltadas a reconhecimento de direitos, que tenho desenvolvido em campos
empíricos distintos:
a) A produção e gestão da informação sobre criminalidade violenta e segurança
pública;
b) As demandas de reconhecimento de direitos em conflitos de natureza étnico-racial-
religiosa e de gênero;
c) A atuação de agentes públicos em organizações estatais e sua interface com os
movimentos sociais/ a sociedade civil.
O contraste desses universos empíricos revela que uma política pública no Brasil
não se encaixa na ficção analítica, presente nas representações clássicas sobre o tema,
de um ciclo que se inicia com o diagnóstico – a identificação de um “problema”, passa
pela formulação de respostas para o “problema” – definição de metas, e segue com a
retroalimentação do modelo por meio da “avaliação”. Segundo esse modelo, a política
pública supõe a existência de saberes específicos, que serão construídos pelos
profissionais em consonância com as “demandas sociais”, num contexto de um Estado
nacional, liberal-democrático, como nos lembram Souza Lima e Castro (2015). Essa
representação oculta os modos de fazer a política, a natureza desses problemas, bem
como o alcance de suas soluções e a centralidade das “autoridades públicas” na
efetivação das políticas públicas, fortemente marcada pelos calendários eleitorais
(Castilho, Souza Lima, Teixeira, 2014).
Em minha tese de doutorado (Miranda, 2015) analisei a constituição da burocracia
fiscal, no Brasil, a partir de uma pesquisa junto aos auditores-fiscais da Receita Federal
que atuavam na cobrança do imposto de renda. Uma das preocupações era a de
problematizar como as “categorias de pensamento produzidas e garantidas pelo Estado”
(Bourdieu, 1996: 91) orientam as práticas dos agentes e limitam, ou mesmo
impossibilitam, a mobilização da sociedade civil em suas demandas por direitos. É
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necessário esclarecer, portanto, qual sentido é atribuído à categoria “burocracia”, que é
pensada como um conjunto diferenciado de agentes públicos, que se constitui como
grupo, a partir do exercício da tutela estatal na regulação dos “cidadãos”. É através
dessas intervenções e criação de ritos administrativos que se revela a “estatalidade”
(Miranda e Pita, 2011; Pita e Miranda, 2015), entendida aqui como um acréscimo de
autoridade que reveste as ações de certos indivíduos e/ou grupos de pessoas, que afeta
diretamente a capacidade e os modos de intervenção do Estado. A estatalidade funciona
como um campo no qual as relações de poder são performadas e orientadas por meio da
interveniência de saberes – informais – que delimitam o que “é” e o que “deve ser” objeto
de atenção do Estado, independentemente de sua garantia legal, criando situações
conhecidas como o “não pode, mas pode” do dia-a-dia.
Tenho me dedicado a compreender como agentes públicos se constituem como um
corpo de especialistas que servem aos objetivos do Estado para, deste modo, construir as
chamadas “políticas públicas”. Neste contexto tem sido possível compreender como os
“problemas sociais” são interpretados pelos agentes de modo a superar a perspectiva
normativista que tem marcado as análises sobre as políticas públicas no campo da
segurança, justiça e reconhecimento de direitos. Outra contribuição relevante da
abordagem etnográfica é a análise da construção de um “saber prático” dos agentes
(Bourdieu, 2009), que atuam nas mais variadas funções estatais, permitindo perceber
como veem seu papel na instituição e desempenham suas atividades. Tal perspectiva é
uma dimensão essencial quando se trata de políticas públicas, tendo em vista que os
agentes são identificados como um dos fatores fundamentais na possibilidade de sucesso
ou fracasso na formulação/implantação das “políticas públicas” (Frey, 2000; Hochman,
Arretche, Marques, 2007).

Justificativa

O interesse sobre as práticas de intervenção estatal está associado à compreensão


de como alguns conflitos são tratados como “problemas” que exigem “respostas” do
Estado, enquanto outros são desqualificados como problemas públicos, principalmente
quando se tratam de casos de discriminação étnico-racial-religiosa e de gênero (Cefaï,
1996; Miranda, Correa e Almeida, 2019; Miranda, Mota e Pires, 2019; Miranda e Silva,
2017).
A importância dessa abordagem está no reconhecimento de que há uma lacuna no
campo de análise das políticas públicas quando se trata de certa tradição de reflexão
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sobre o state building brasileiro, que prioriza expor o “papel do Estado” nos processos de
normatização da vida social brasileira. A contribuição da Antropologia ao estudo das
políticas públicas no Brasil é um campo em expansão, que se deu sob influência dos
trabalhos de Laura Nader (1972); Talal Asad (1973) e Marc Abélès (1990), dentre outros.
Porém, é preciso ressaltar que as pesquisas produzidas internacionalmente, nos anos
1970, estavam marcadas por um confronto entre as realidades que os antropólogos
viviam e estudavam. No caso brasileiro as pesquisas se dão no mesmo contexto onde
são produzidas, o que dificulta a desnaturalização das práticas.
Assim, partindo das perguntas “como se governa?” “com/para quem se governa?”,
proponho que analisar uma política pública não significa apenas compreender o que o
Estado faz como um resultado de seu funcionamento frequente, financiado pelos
impostos arrecadados, com o fim de assegurar direitos. Penso que a análise corresponde
à identificação de distintas formas de intervenção, por meio das quais os agentes
normatizam e codificam comportamentos e valores, revelam interesses corporativos que
podem, ou não, estar em consonância com demandas sociais e garantia de direitos dos
grupos que deveriam ser beneficiários das políticas.
A realização de pesquisas empíricas neste campo aponta que a sua prática é mais
complexa do que se imagina. É necessário transformar os referenciais teóricos e políticos,
através dos quais a ideia de direitos é entendida. Significa colaborar para constituir
argumentos para pensar as políticas públicas, na medida em que ficam explicitadas as
limitações das normatividades e seus efeitos. Logo a disjunção entre o universalismo, que
funda a ideia de “direitos humanos”, e as escalas locais, nas quais os atores
experimentam as políticas, levanta dúvidas quanto a possibilidade de se estudar o
impacto dos direitos. Outro desafio está em evidenciar como a tensão entre o discurso e
as práticas podem resultar, em certos contextos, a uma associação entre direitos aos
benefícios particulares, compreendidos como privilégios.
Dedicar-se à avaliação e/ou análise de políticas públicas pressupõe pensar sobre
formas eficazes de intervenção política e institucional, em áreas específicas, em
articulação com espaços de produção de conhecimento (universidades, institutos de
pesquisa e organizações não governamentais). Cada uma dessas instâncias está
marcada por linguagens próprias. Algumas são tradicionalmente caracterizadas como
extremamente analíticas, pouco "práticas". Outras são identificadas como ágeis na
capacidade de diagnóstico e resposta, mas por outro lado são rotuladas de superficiais ao
focar na busca por soluções dos problemas sociais. Assim, a participação de
pesquisadores em consultorias, que tem o papel de promover reformas padronizadas,
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nem sempre contribui analiticamente para o desenvolvimento de políticas em nível local.
Aqui estamos diante de um desafio ainda pouco explorado pela Antropologia, apesar da
crescente participação de profissionais nesse mercado de trabalho, que se expande ainda
mais por ações de inovação em parcerias com empresas privadas, o que pude
experimentar durante a coordenação do projeto P&D, realizado em parceria com a
empresa ENEL, sob financiamento da ANEEL (Miranda, Muniz e Corrêa, 2019).
O último aspecto a ser destacado é a centralidade epistêmica da categoria
“violência” como desafio à prática de reconhecimento e exercício de direitos, que tem sido
pensada como um processo social específico, não como um conceito, explicitando
dramaticamente a dimensão da experiência dos atores nas violações e abusos, nos
traumas físicos e psicológicos a que são submetidos. No caso que pretendo explorar – as
políticas públicas voltadas às religiões de matriz afro-brasileira em casos de intolerância
religiosa e discriminação étnico-racial e de gênero – importa salientar como a retórica de
direitos humanos, como base na identidade possessivo-individualista (Leve, 2007) se
mostra em conflito com os modos de organização política desses grupos, estruturados em
termos de ancestralidade (negritude / africanidade) e territorialidade.

Objetivos
Gerais:
1. Realizar pesquisas etnográficas sobre mobilizações políticas de religiosos de
matriz afro, em ambientes virtuais por conta da pandemia.
2. Sistematizar dados referentes à análise das políticas públicas voltadas aos
conflitos de natureza étnico-racial-religiosa e de gênero, realizadas anteriormente
em Aracaju - SE, Brasília – DF; Maceió - AL, Rio de Janeiro - RJ.
3. Formar estudantes em nível de pós-graduação e graduação na metodologia de
análise de políticas públicas e reconhecimento de direitos.
Específicos:
 Identificar como as variáveis de gênero, etnia, idade, classe, religião etc.
influenciam, ou não, as formas de interação entre os agentes e os integrantes de
movimentos sociais, impactando nas políticas públicas.
 Analisar as formas de produção da informação sobre conflitos e segurança,
tomando por base experiências de pesquisas anteriores, privilegiando as diferentes
perspectivas de agentes públicos sobre suas representações e práticas de
produção de verdades jurídicas e administrativas.

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 Mapear as situações de conflito, cuja motivação seja de natureza étnico-religiosa e
de gênero, bem como as formas de mobilização política, visibilidade e
administração institucional de conflitos por órgãos do segurança pública e justiça,
numa perspectiva comparada.
 Compreender o funcionamento dos mecanismos e atuação das instituições
voltadas ao atendimento de demandas por reconhecimento de direitos em casos
de discriminação étnico-racial-religiosa.
 Comparar as estratégias de visibilização das situações de conflitos de natureza
étnico-racial-religiosa nos diferentes contextos empíricos.

Método

A principal metodologia a ser aplicada no projeto é a que visa a identificação e


compreensão de políticas públicas, seja no que se refere à construção das rotinas dos
agentes públicos responsáveis pela sua gestão e execução, seja no mapeamento de
situações sociais associadas à violência e violação de direitos humanos, em especial
aquelas de natureza étnico-racial-religiosa e de gênero. Para atingir esse objetivo serão
articuladas diferentes técnicas de pesquisa, em função do recorte que se pretende
delimitar:
1. O levantamento dos casos em diferentes contextos empíricos pressupõe uma
articulação de metodologias quantitativa e qualitativa de modo a caracterizar as
regiões mais afetadas por esse tipo de conflito em contraste com as políticas
públicas de segurança disponíveis nas cidades. A abordagem multimétodo, que se
caracteriza pela integração de abordagens quantitativas e qualitativas (mixed data-
collection e mixed data-analysis), tem a vantagem de possibilitar a demonstração
de como os fenômenos dinâmicos, como a violência, podem apresentar
características diferentes em cada contexto. Outro benefício dessa abordagem tem
a ver com a complementaridade, posto que a articulação de dados qualitativos e
quantitativos torna possível avaliar as vantagens e limitações de cada técnica e/ou
tipo de dado no tratamento dos fenômenos em foco, além do que o uso de dados
quantitativos é uma característica das políticas públicas.
2. A inspiração na análise situacional (extended case method), proposta por
Gluckman (1987), Van Velsen (1987) e Hannerz (2015): a ênfase na análise
política das situações de conflito permite perceber como as narrativas podem ser
decompostas em relação às relações sociais existentes em contextos urbanos.
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Esta perspectiva focaliza a análise de normas, valores e moralidades tal como se
apresentam pelos atores, quer seja, como frequentemente contraditórios entre si,
modelados de acordo com as lógicas dos agente em situações sociais concretas. A
observação de situações sociais é ferramenta importante para dar conta de
cenários de mudança rápida no que tange aos parâmetros contextuais, qual sejam,
os comportamentos naturalizados dos sujeitos; os processos de mobilidade e
instabilidade nas relações sociais; a heterogeneidade étnica e de gênero; as
diferenciações econômicas – estilos de vida – e estratificação social; as ações
politico-administrativas dos movimentos sociais; bem como a distribuição espacial
dos casos identificados, geralmente concentrados nas chamadas “periferias”.
3. As abordagens teóricas sobre a “prática” (ação/práxis) com base no trabalho de
Sherry Ortner (2007) que privilegia a observação e reconstrução do comportamento
concreto de indivíduos específicos em situações vividas, com foco na centralidade
do agente na construção dos processos e ações, a partir de uma perspectiva
histórica, destacando que as sociedades estão em movimento constante. Tal
perspectiva associada aos trabalhos de Das e Poole (2004) expressa um esforço
em desnaturalizar a ideia de “sistema”, tão presente nas narrativas dos
interlocutores, ao mesmo tempo em que possibilita compreender como ele é
produzido e reproduzido em cada contexto.
Nesse sentido, este projeto será desenvolvido privilegiando a análise de dados
empíricos a partir de:
a) Realização de etnografia virtual dos processos de mobilização social e das
respostas institucionais do sistema de justiça criminal em casos de
intolerância religiosa e discriminação étnico-racial e de gênero;
b) Sistematização e construção de bases de dados comparativas sobre os
conflitos e as políticas públicas disponíveis, a partir de dados construídos
anteriormente, mas ainda não analisados;
c) Compilação e análise de documentos produzidos pelas diversas agências
estatais envolvidas no atendimento de casos de intolerância religiosa e
discriminação étnico-racial e de gênero;
d) Organização de material audiovisual, obtido em pesquisas anteriores, para a
produção de uma exposição virtual. O uso de linguagens audiovisuais é uma
estratégia que permite facilitar o tratamento de temas e abordagens
antropológicos, considerados controversos, tais como os conflitos envolvendo
os religiosos de matriz afro-brasileira. Nesse sentido, o uso dessa linguagem
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permite uma perspectiva transdisciplinar, como forma não só de difusão
científica, mas de estímulo à interlocução entre diferentes olhares disciplinares
sobre os temas a serem analisados na pesquisa.
As escolhas metodológicas feitas para o projeto podem enriquecer o debate teórico
de forma interdisciplinar, tendo em vista a possibilidade de comparação de processos
sociais e políticas públicas em diferentes contextos e pertencimentos institucionais. Tal
perspectiva leva à desnaturalização e desomogeneização do conceito de Estado
(Miranda, 2015; Abélès, 1990). Outro aspecto a ser ressaltado diz respeito à contribuição
que essa abordagem pode ter sobre o estudo dos conflitos, advindos da imposição de
modelos por parte do Estado, e também na compreensão da complexidade das atividades
de regulação (Asad, 2004), o que permite expor as diferentes concepções dos grupos
sujeitos a essas políticas e as percepções dos agentes envolvidos na implantação das
mesmas.
Como se trata de um desdobramento de pesquisa, a etnografia em outras cidades já
está em andamento, o que torna possível, neste momento de pandemia, que a pesquisa
seja realizada apenas por meio das redes sociais, tendo em vista já existir uma rede de
contatos com religiosos e pesquisadores. Ressalta-se ainda que, embora existam grupos
consolidados de pesquisa sobre religião no Brasil, poucos são aqueles que se dedicam a
estudar os conflitos de natureza religiosa, tal como proposto aqui. A originalidade da
proposta está, portanto, na construção de um olhar interdisciplinar para um fenômeno de
relevância social e teórica, tendo em vista a orientação de duas estudantes oriundas de
outras áreas (Geografia e Comunicação Social). A originalidade do tema está associada à
perspectiva incorporada na análise do problema social – intolerância religiosa e
discriminação étnico-racial e de gênero – a partir de uma construção teórico-metodológica
voltada à explicitação de correlações importantes no que se refere ao tratamento que os
agentes públicos dão aos casos, bem como os modos pelos quais as pessoas se
organizam para reivindicar direitos e denunciar preconceitos que influenciam as decisões
sobre os conflitos analisados.
Outro aspecto a ser explorado como dimensão metodológica de pesquisa está
associado às ações de educação e difusão do conhecimento, já que a esses espaços de
interlocução representam outro campo empírico importante nas pesquisas sobre políticas
públicas, já que as ações de disseminação do conhecimento produzido na universidade é
fundamental para a crítica e envolvimento cooperativo da sociedade nos temas em
ciência, tecnologia social & inovação, posto que estas ações podem auxiliar a transformar
as práticas dos agentes e aprimorar o desenvolvimento de políticas públicas.
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Metas

1. Construção de uma base de dados dos conflitos de natureza étnico-racial-religiosa


e de gênero no Estado do Rio de Janeiro.
2. Constituição de um mapeamento desses no Estado do Rio de Janeiro, onde já há
maior produção de pesquisas sobre o tema.
3. Organização de material audiovisual sobre os casos e o tratamento recebido pelas
vítimas em uma exposição virtual, a ser disponibilizada nas redes sociais.
4. Produção de publicações (no mínimo, 1 artigo (A1, A2 ou B1) ou 1 capítulo de
livro), a fim de divulgar publicamente os resultados do projeto.
5. Organização de um seminário (virtual), a fim de divulgar e debater publicamente
com outros grupos de pesquisa, com gestores públicos, estudantes e público em
geral, os resultados do projeto.
6. Formação de estudantes (graduação e pós-graduação) em etnografias sobre
políticas públicas, reconhecimento de direitos e mobilização social.
7. Apresentação de trabalhos em Congressos de resultados parciais do projeto.
8. Produção de textos para blogs, jornais e revistas de grande circulação sobre as
temáticas do projeto.

Resultados Esperados

Este projeto se insere num campo de estudos sobre formas institucionais de


administração de conflitos, tendo em vista que integro o Instituto de Estudos Comparados
em Administração Institucional de Conflitos (INCT - InEAC-UFF). Nesse sentido, a
realização do projeto resultará no fortalecimento das perspectivas teóricas a partir de
produção etnográfica qualificada. Por meio da interlocução com projetos em curso em
outros estados da Federação, os produtos da pesquisa têm grande potencial de impacto
na produção coordenada de reflexões comparadas no setor.
Em um momento em que prioridades de investimento público são revistas e
reduzidas, a valorização da pesquisa em Ciências Humanas por meio de atividades que
aproximem a Universidade da comunidade à sua volta ganha ainda maior importância e
relevo.
A presente proposta tem grande potencial para tornar mais produtiva a interface
entre pesquisadores, formuladores de políticas públicas, operadores da justiça,
profissionais de segurança pública e sociedade civil organizada, caracterizando-se assim
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como um projeto aderente à área estratégia – segurança pública, conforme as Portarias
MCTIC 1122/2020 e 1329/2020.
A qualificação deste diálogo com o envolvimento da sociedade civil pode ser um
aspecto inovador, por meio da democratização de informação e conhecimento, resultando
num potencial de impacto para a melhoria da qualidade de vida e desenvolvimento das
políticas públicas no Brasil.

Orçamento:
1) Serviço de Terceiros (Pessoa Jurídica)
 Produção, revisão, tradução, editoração, confecção e publicação de conteúdos
científicos-acadêmicos e de divulgação das atividades desenvolvidas no âmbito
do projeto.
Total para esse item: R$ 7.500,00
2) Material de consumo - Previsão de gastos:
 MATERIAL DE EXPEDIENTE – material de escritório, caixas box, pastas,
papel para impressão, toner para impressora laser.
 Aquisição e manutenção de tecnologias em informática e da informação
caracterizadas como custeio.
Total para esse item: R$ 2.500,00
Total de recursos a serem solicitados: R$ 10.000,00

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