Antes da Filosofia, o conhecimento mítico explicava o mundo. Já antes da
“busca racional” o homem sentia necessidade de questionar o sentido da vida, o surgimento do universo, do homem e tudo que podia ser observado, também despertava a curiosidade do homem as justificativas das normas que garantiam a vida em comunidade. Bem antes da Filosofia o homem queria saber o porquê das Coisas. E competia aos Mitos explicar. O mito era uma verdade revelada, eram histórias indiscutíveis. Tudo que era contado pelos mitos não era discutido, debatido e nem criticado. As histórias mitológicas eram sagradas, elas explicavam o surgimento de tudo, inclusive das coisas que “nasceram” antes da existência do homem. Todo filme, novela, peça teatral tem personagem, na mitologia acontecia o mesmo, com o detalhe de que as personalidades não eram seres humanos, eram Deuses ou Heróis civilizadores. Contar um mito é contar a origem das coisas através da linguagem mitológica que é fantasiosa. O mito se impunha na sociedade grega, quanto mais velhas as histórias mais forças elas tinham, mais respeitadas elas eram, e assim, a existência do homem e a organização do mundo era explicado. Novamente comparando aos filmes, novelas, peças de teatro… Nos mitos, os personagens (divinos) entravam em divergências, havia intrigas, amizades, desejo de justiça… dessa forma, a linguagem dos mitos escondia interesse de classes e podia ser manipulada por aqueles que detinham o poder. Essas histórias inquestionáveis impunham os comportamentos morais à comunidade e uma hierarquia de punições para aqueles que não as seguiam. Mas chegou o período das navegações, dos encontros com outros povos, o comércio se expandiu. Foi ai que os gregos mais cultos notaram que os mitos eram na verdade explicações regionais da Grécia. O Mito eram histórias condensadas de interesses locais. Com o desenvolvimento do homem grego, o mito já não mais satisfazia as necessidades culturais da época. Assim nasce uma nova forma de ver o mundo, de explicá-lo. Surgiu uma nova linguagem, novos conceitos, a cultura estava se transformando, dessa vez por causa da Razão.
Com o surgimento da Filosofia os conceitos foram mudando. Veja o quadro
abaixo: Antes da Filosofia Com o surgimento da Filosofia Conceito Significado Significado Verdade Era o que a tradição dizia, Era obtida por um conhecimento o que as autoridades e os universal e não por histórias deuses determinavam regionais. Ela era para todos, acima que fosse. A verdade era das particularidades, raças, nações. inquestionável, deveria ser aceita e ponto final. Responsabilidade Quando o homem não Os bons e maus resultados da obedecia a verdade organização da cidade dependem das mítica ele era castigado relações sociais. A política, a economia pelos deuses que ficavam e a moral são construções humanas. enfurecidos. Não havia responsabilidade, pois o homem não era livre, e sim escravo dos seus medos.
Mas qual a importância do meu mundo com esse “nascimento filosófico”?
O valor desse fato é que foi a filosofia que fez a cultura grega influenciar nossa forma de pensar e de questionar tanto a natureza quanto o ser humano e as divindades. Além disso, concomitantemente, surgiu a noção de cidadania, de Estado, de ciência. Na história do pensamento ocidental, a filosofia nasce na Grécia por volta do século VI (ou VII) a.C. Por meio de longo processo histórico, surge promovendo a passagem do saber mítico ao pensamento racional, sem, entretanto, romper bruscamente como todos os conhecimentos do passado. Durante muito tempo, os primeiros filósofos gregos compartilhavam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracterizaria a filosofia. Se considerarmos filosofia a atividade racional voltada à discussão e à explicação intelectualizada das coisas que nos circundam, tem-se o século VI como a data mais provável da origem da filosofia. Nessa época temos a instituição da moeda, do calendário e da escrita alfabética, a florescente navegação, que favoreceu o intenso contato com outras culturas, esses acontecimentos propiciaram o processo de desdobramento do pensamento poético em filosófico. Alguns fatores históricos foram fundamentais para o surgimento da filosofia na Grécia, dentre eles podemos apontar como principais os seguintes:
as viagens marítimas, que permitiram aos gregos descobrir que os locais
que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitados por monstros e seres fabulosos não possuíam nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produziram o desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer; a invenção do calendário, que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível; a invenção da moeda, que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização; o surgimento da vida urbana, com predomínio do comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, e diminuindo o prestígio das famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (as linhagens constituídas pelas famílias), fez com que se procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a Filosofia poderá surgir; o surgimento da escrita alfabética, que, como a do calendário e a da moeda, revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização, uma vez que a escrita alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas - como, por exemplo, os hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas dos chineses -, supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a ideia dela, o que dela se pensa e se transcreve; a invenção da política, que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da Filosofia: 1. A ideia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas. O aspecto legislativo e regulado da cidade - da polis - servirá de modelo para a Filosofia propor o aspecto legislado, regulado e ordenado do mundo como um mundo racional. 2. O surgimento de um espaço público, que fez aparecer um novo tipo de palavra ou de discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito. Com a polis, isto é, a cidade política, surge a palavra como direito de cada cidadão de emitir em público sua opinião, discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar uma decisão proposta por ele. 3. A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário, ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos.
De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é
conhecida como período pré-socrático. Esse período abrange o conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até Sócrates (468-399 a.C.). A Filosofia surgiu como herdeira da mitologia, mas com uma missão mais clara: apresentar aos seres humanos explicações que fossem além dos mitos. Os primeiros filósofos ainda acreditavam em parte dos mitos, mas acreditavam que havia uma explicação racional para os fenômenos e tudo o que ocorre no mundo. O pensamento dos primeiros filósofos se diferenciava do pensamento mítico por ter explicações internas do mundo, ou seja, que não dependiam de nada fora do mundo para explica-lo, como deuses; a filosofia também é sistemática, ou seja, o mundo pode ser explicado em sua totalidade, e sua explicação é simples. A principal pergunta que esses primeiros filósofos faziam era qual é o elemento que deu origem, que sustenta o cosmo e do qual ele é feito. Assim, eles buscavam uma arché. A arché é o princípio, os elementos ou o elemento básico de que algo é feito e que, combinados, formam todas as coisas. Eles também buscavam o logos (afirmar, sustentar discurso, explicação), ou seja, a explicação de algo, ou a razão pela qual uma coisa é o que ela é. Por isso, suas ideias eram uma cosmologia (cosmos: universo; logia: lógica, explicação). Eram chamados de pré-socráticos, pois vieram antes do filósofo Sócrates, que inaugurou o período clássico da Filosofia. Abaixo é possível ver uma lista com alguns dos principais filósofos e qual era, na opinião deles, a arché, ou o elemento de que todo o universo era feito: Tales de Mileto — Água Anaximandro de Mileto — Apeirón Pitágoras de Samos — Números Parmênides de Eleia — o Ser Heráclito de Éfeso — fogo Anaxímenes — ar Empédocles — fogo, terra, ar e água Demócrito — átomo Anaxágoras — Nous (mente, intelecto)