• Estudos têm apontado que, embora o basquetebol tenha origem fora
do país, esta modalidade é uma das quatro mais praticadas nas aulas de educação física escolar no país (KRUG et al., 2012). O ensino do basquetebol na escola • O ensino de educação física na escola é marcado por uma triste dicotomia: por um lado, parte dos alunos gosta das aulas e crêem na importância do esporte e, por outro, uma importante parcela a consideram chata e até desagradável (BETTI e LIZ, 2003). • Isso decorre em grande parte da concepção tradicional de ensino que é excludente, valoriza apenas o desempenho físico e deixa de considerar a cultura corporal. • Assim, o objetivo deste texto foi fazer uma breve abordagem de duas vertentes atuais que visam o ensino-aprendizagem do basquete na escola considerando também a importantíssima contribuição da visão social e da cultura corporal na educação física escolar. Dilemas da Educação Física escolar no ensino do basquetebol
• Anos atrás, era possível compreender o acirrado debate entre a
visão fisiologista ou técnica e a concepção histórico-sociológica e filosófica no ensino da educação física. • Certamente, o ensino de basquetebol era bastante influenciado pela vertente escolhida ou aprendida pelo professor durante sua graduação, predominando a visão de esporte competitivo, rendimento físico, exclusão dos “menos hábeis” e outros fatores técnicos (Ferreira, 1998). • Neste sentido, Ramos et al. (2006) demonstraram claramente que os estudantes de educação física cometem equívocos no ensino do basquetebol, uma vez que sobrevalorizam o ensino do jogo formal ou o ensino dos fundamentos, deixando de lado o basquete recreativo, bem como as situações de ataque e defesa com oposição simplificada, características do que chamamos de “complexo de jogo”. • Do mesmo modo, a prática dos professores de educação física tem sido pautada por excessivo ensino prático esportivo, pouca valorização da cultura corporal e desconhecimento por parte dos alunos dos conteúdos de educação física escolar o que tem levado a educação física a um isolamento das outras disciplinas, assim como à falta de interesse e significado por parte dos alunos de acordo com estudo em Americana (SP) (Gueriero e Araújo, 2004). Resultados similares foram observados por outros autores em Curitiba (PR) (MEIRA et al., 2012). • Ressalta-se que nos estudos de Gueriero e Araújo (2004), Ramos et al. (2006) e Meira et al. (2012) fica evidente o desconhecimento das regras e técnicas do basquetebol por parte dos professores o que pode comprometer o ensino da modalidade. Novos modelos de ensino do basquetebol escolar • Porém, como tem proposto Tani (2008) é preciso haver uma convergência entre as correntes histórico-sociais e biomecânicas- fisiológicas da educação física no sentido de ensinar-se de modo integral a educação física para os escolares. • Neste sentido, um novo paradigma e referencial no ensino de esportes escolares, que supera o impasse entre a visão sociológica e a fisiológica, consiste no ensino-aprendizagem e treinamento na prática das habilidades técnicas e corporais (KRÖGER e ROTH, 1999). Neste sentido, duas vertentes, não necessariamente excludentes, têm se destacado: • A) A Iniciação esportiva universal (GRECO E BENDA, 1998; GRECO, 2003)- que busca integrar três grandes áreas de desenvolvimento da criança: 1) a aprendizagem e o treinamento das táticas (capacidades táticas básicas, estruturas funcionais gerais e direcionadas- especializadas); 2) a aprendizagem motora e o treinamento das táticas e técnicas (treinamento da coordenação e habilidades técnicas); e 3) Treinamento tático-técnico (treinamento tático, técnico e integrado) • B) A escola da bola (KRÖGER e ROTH, 1999), que visa o ensino- aprendizagem das capacidades táticas básicas cuja finalidade é que o aluno aprenda a lógica básica do jogo, com ênfase no ensino dos esportes coletivos (basquetebol, voleibol, handebol, futebol, futsal, etc.). A escola da bola visa na prática desmitificar que as habilidades requeridas para jogar o basquete ou outros esportes sejam possíveis somente para alguns. Além disso, esta corrente tem como objetivo também motivar, romper as barreiras e promover a felicidade e o bem-estar por meio do esporte (ROTH, 2003). • Neste sentido, ressalta-se a importância da aprendizagem tática, ou seja, as ações motoras específicas em determinada situação do jogo. Da aprendizagem tática decorre a aprendizagem motora cujo cerne é desenvolver as habilidades essenciais do jogar: rebater, empurrar, saltar, lançar, correr, arremessar, passar, receber, driblar, etc. (GUARIZI e SHIGUNOV, 2002). • Além disso, estas vertentes citadas anteriormente visam também ensinar a aprendizagem na prática dos aspectos táticos mais importantes inerentes ao basquetebol, bem como a outras modalidades esportivas. Assim, durante um jogo o time que está na defesa tem como objetivo precípuo não sofrer cestas e tentar recuperar a posse da bola, interceptando os adversários ou tentando impedir seus movimentos. • Ao contrário, o time que ataca visa transportar a bola, ou seja, são ensinados os fundamentos do passe. Além de passar a bola, o time no ataque visa acertar a cesta (objetivo ou finalidade do jogo), mas para isso é necessário ter uma compreensão da distribuição espacial dos jogadores na quadra de modo a conseguir driblar e prosseguir em direção ao alvo (cesta). Além disso, quem não tem a posse da bola precisa oferecer-se e para isso ter noção espacial e temporal dentro da quadra de modo a quebrar ou desviar da marcação e conseguir avançar ou recuar se for o caso. O ensino de basquetebol também inclui o treinamento das capacidades técnicas da modalidade. Neste sentido, Greco (2005) destacam as seguintes habilidades técnicas que devem ser ensinadas:
• Organização dos ângulos no arremesso;
• Controle da força na condução, lançamento ou arremesso da bola; • Determinar e controlar o tempo de passe da bola; • Determinar linhas de corrida no lançamento da bola; • Se oferecer ou movimentar-se no momento e espaço mais adequados ao jogo; • Antecipar a direção e a distância do passe; • Antecipar ou tentar prever a posição da defesa; • Observar os deslocamentos dos adversários e dos seus parceiros. A terceira vertente importante é o desenvolvimento das capacidades coordenativas em jogos escolares (GRECO, 2005). Neste sentido, diversos exemplos de atividades de ensino são apontadas (GRECO, 2005):
• Dançar com bolas conforme a música;
• Balançar-se num banco sueco, lançar e pegar uma bola; • Jogo da sombra com o colega quicando uma bola; • Balançar-se num banco sueco e conduzir uma bola; • Circundução simultânea dos braços ou em sentido contrário; • Lançar uma bola para cima e pegá-la após um giro completo sobre o eixo longitudinal; e • Andar paralelo a uma linha reta e simultaneamente cruzar os braços, abrir e fechar pernas e pés. Atitudes, valores e cultura: contribuições do ensino de basquetebol • É muito importante enfatizar que o ensino do basquetebol na escola deve sempre considerar os pontos crucias abordados por Darido (2012) e Souza Junior e Darido (2003): • Valorizar a cultura corporal já presente nos alunos; • Promover a inclusão por meio da educação física e tentar evitar a exclusão, inclusive a autoexclusão; • Dar significado ou contextualizar as atividades e saberes a serem desenvolvidos; • Promover a participação ativa dos alunos mediante rodas que proponham modificação das atividades (se for o caso) e das regras dos jogos; • Diversificação dos espaços, das atividades, das aulas e dos materiais utilizados; • Utilizar as regras dos jogos para ensinar a importância da disciplina; • Promover a participação de meninas e meninos; • Integrar o ensino-aprendizagem da educação física ao projeto político-pedagógico da escola, bem como à família e à comunidade em geral. • Embora muitos professores ainda sobrevalorizem os aspectos técnicos e até midiáticos do esporte, deixando de discutir os conteúdos do basquetebol com os alunos, outros têm sido abertos a ir além da técnica, discutindo e formulando democraticamente seus conteúdos de disciplina, buscando também ensinar e discutir valores fundamentais da cidadania, como inclusão, diversidade, autonomia e cooperação (Impolceto et al., 2007). • Neste sentido, a experiência de uma professora de escola pública em bairro pobre de Pelotas (RS), enfatizando conhecimentos, valores e atitudes, valorizou a construção de um projeto político pedagógico pautado na inclusão social e na cidadania. A longo prazo as aulas de Educação Física, incluindo o conteúdo de basquetebol, vêm contribuindo para a discussão da violência e tem reduzido as diferentes formas de discriminação e “bullying” naquela escola (Guimarães, 2011). Conclusão
• O ensino atual do basquetebol na escola deve enfatizar os preceitos
da iniciação esportiva universal, respeitando a cultura e bagagem cultural dos alunos, bem como integrando o esporte à escola e à comunidade e resgatando a cidadania, a motivação, o prazer e a alegria de jogar. • https://www.efdeportes.com/efd181/ensino-do-basquetebol-na- escola.htm