CAPITÃO POÇO-PA
2019
DANILSON MANOEL COSTA MOREIRA
GUTIERRE PEREIRA MACIEL
CAPITÃO POÇO-PA
2019
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Ficha Catalográfica
Biblioteca Maria Auxiliadora Feio Gomes / UFRA - Capitão Poço
Gostaríamos de agradecer também à instituição UFRA Campus Capitão Poço e a todo o seu
corpo docente que fizeram parte da nossa formação acadêmica.
De forma especial ao nosso orientador Prof. Dr. Francisco José Sosa-Duque, pela competente
orientação e contribuição em nosso aprendizado para a vida profissional.
Ao Francisco Alves da Silva (“Galego”), que fez o preparo do solo, onde foi implantado o
experimento.
Aos alunos que participaram das etapas de semeadura, adubação e do manejo da irrigação: Ana
Paula Souza Ferreira, Antônio Willian Pontes do Nascimento, Brendo dos Anjos Silva, Cledson
Silva Sarmento, Fernanda Karoline Oliveira Santos, João Lazaro dos Santos Rodrigues, Jonatan
de Lima Damasceno, Lorena Nazaré costa, Luiz Carlos Pantoja Chuva de Abreu, Luís Otávio
Cunha Neto, Maria Leidiane Reis Barreto, Maciel Pereira Maciel, Thiago Caio Moura Oliveira
e Washington Duarte Silva da Silva.
Aos discentes que ajudaram na pesagem das doses de fertilizantes: Ana Clara Ferreira Souza,
Ana Flávia Trindade de Lima, Camila Galdino da Silva, Camila Oliveira das Mercês, Francisca
Monaline Lima de Moura, Francisca Sabrine Lima de Moura, Lorenna Jeovana Reis Romão,
Lowrrany do Nascimento Vaz, Maria Márcia Soares Teotônio, Renata Carine Nascimento
Soares e Willian de Souza Pantoja.
Aos Técnicos: Osvaldo de Azevedo Noronha, que executou suas funções com eficiência, sendo
um elo facilitador dos trâmites burocráticos do curso; Sandro Henrique dos Reis Chaves e
Fledson Chagas Barbosa, os quais dentro de suas atribuições, cederam equipamentos e
máquinas necessários à execução de diversas etapas do projeto.
Ao prof. Dr. Davi Henrique Lima Teixeira pela colaboração no processamento e análise dos
dados.
E a todos os demais que nos auxiliaram direta e indiretamente para concretização deste trabalho
de pesquisa.
Eu, Gutierre Maciel, gostaria de agradecer ao prof. Wanderson Cunha Pereira, meu orientador
da monitoria de Álgebra Linear e cálculo I. Agradeço pelo apoio e incentivo aos estudos. Como
docente, um profissional extremamente competente, didático e responsável. Como pessoa,
muito humilde e extrovertido com todos. Hoje, o pouco conhecimento que adquiri sobre
matemática e estatística, deve-se a ele – muito obrigado!
A monitoria me fez crescer muito, como aluno e pessoa. Ajudei muitas pessoas dentro e fora
do meu horário de atendimento, na UFRA ou em outros locais. Fui fiel para essa função, e não
me arrependo! Contribuir para a formação de outros discentes foi especial, pois vi de perto, a
dificuldade dos alunos com as propriedades de matemática, contudo, nunca julguei um ou outro,
pelo contrário, apoiava e incentivava! Visto que a culpa não era totalmente deles, mas sim! Em
maior parte, dos poucos recursos aplicados na educação brasileira, sobretudo no interior dos
Estados, e dos políticos corruptos que desviam essa verba que já não é suficiente.
Aos professores Eric Victor de Oliveira Ferreira e Wilson José de Mello e Silva Maia, por terem
aceitado o convite para participar da banca examinadora. Suas contribuições foram muito
pertinentes e construtivas, colaborando positivamente para este trabalho de conclusão de curso.
RESUMO
O feijão-caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.) apresenta grande importância na dieta da população de baixa renda
das regiões Norte e Nordeste do Brasil, visto que é rico em proteínas, carboidratos, ferro e outros minerais. Essa
cultura caracteriza-se por ser rústica, de porte baixo, ciclo curto, fixar nitrogênio (N) da atmosfera, relativamente
tolerante ao déficit hídrico e solos de baixa fertilidade química. No entanto, é uma espécie suscetível ao ataque de
insetos-praga, que prejudicam o desenvolvimento da cultura e impactam negativamente a sua produção. Embora
a região Nordeste Paraense seja grande produtora de feijão-caupi, ainda é pouco o que se conhece sobre os efeitos
da nutrição mineral, inoculação com rizobactérias e calagem do solo sobre a incidência de insetos-praga e as suas
implicações na cultura. O trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da calagem, adubação mineral e rizobactérias
na incidência de insetos-praga em dois cultivares de feijão-caupi em Capitão Poço-PA. Conduziu-se o
experimento, de agosto a novembro de 2018, em esquema fatorial 2 x 6 (2 cultivares x 6 níveis de fertilidade),
com delineamento em blocos ao acaso (DBC), com parcelas subdivididas e 4 repetições. Cada parcela experimental
teve uma dimensão de 18 m² (5 m x 3,6 m), com 6 linhas de plantio e um total de 300 plantas. Os cultivares de
feijão-caupi utilizados foram o BRS Maratoã e BRS Tapaihum. Os níveis de fertilidade (NF) foram os seguintes:
Testemunha (NF1); Adubação com fósforo (P), potássio (K), calagem e Inoculação das Sementes com
Rizobactérias (ISR) (NF2); Adubação com P, K e ISR (NF3); Adubação com N mineral, P, K e calagem (NF4);
Adubação com P, K e calagem (NF5); e, Adubação com N, P, K, calagem e ISR (NF6). Para avaliar a incidência
de insetos-praga sobre a cultura, utilizou-se um pano de batida, o qual foi estendido em cada parcela experimental,
entre duas fileiras (3º e 4º) de plantio com feijão-caupi, de modo que 10 plantas fossem alcançadas e amostradas.
As plantas da área compreendida pelo pano foram sacudidas vigorosamente sobre este com o intuito de provocar
a queda dos insetos e, assim, quantifica-los e identifica-los. Em relação aos níveis de fertilidade do solo, houve
diferença significativa entre as cultivares apenas para a testemunha (NF1), em que o cultivar Maratoã apresentou
a menor número de insetos-praga. Essa baixa incidência de insetos-praga deve estar relacionada à baixa densidade
de plantas do cultivar Maratoã neste nível de fertilidade, e não necessariamente à menor resistências das plantas.
Para ambos os cultivares utilizados no experimento, a abundância das espécies de insetos-praga foi relativamente
baixa e não atingiu os níveis de controle. No geral, a calagem associada à fonte de N mineral ou à Rizobactérias
proporcionaram maior incidência de insetos-praga. Os principais e mais abundantes insetos-praga coletados foram:
Andrector arcuatus, Empoasca kraemeri, Piezodorus guildinii, Ceresa sp. e Chinavia ubica.
Al – Alumínio
ATP – Adenosina Trifosfato
Ca – Cálcio
CM – Cultivar Maratoã
CPSMV – Vírus do Mosaico Severo do Caupi
CT – Cultivar Tapaihum
CTC – Capacidade de Troca de Cátions
DBC – Delineamento em Blocos ao Acaso
FBN – Fixação Biológica de Nitrogênio
H – Hidrogênio
ISR – Inoculação de Sementes com Rizobactérias
K – Potássio
LEI – Laboratório de Engenharia da Irrigação
m% – Saturação por Alumínio
Mg – Magnésio
N – Nitrogênio
Na – Sódio
NF1 – Nível de fertilidade 1
NF2 – Nível de fertilidade 2
NF3 – Nível de fertilidade 3
NF4 – Nível de fertilidade 4
NF5 – Nível de fertilidade 5
NF6 – Nível de fertilidade 6
P – Fósforo
pH – Potencial hidrogeniônico
PRNT – Poder Relativo de Neutralização Total
Prof. – Profundidade do solo
UFRA – Universidade Federal Rural da Amazônia
V% – Saturação por Bases
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 12
2.4 Cultivares.................................................................................................................. 14
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 32
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 32
12
1 INTRODUÇÃO
O feijão-caupi [Vigna unguiculata (L.) Walp.] é uma leguminosa de grande importância
socioeconômica, já que gera emprego, renda, e é considerada a principal fonte de proteína na
dieta alimentar de populações das regiões Norte e Nordeste do Brasil, consideradas as maiores
produtoras dessa cultura (FROTA et al. 2008; OLIVEIRA et al., 2010). Além disso, os produtos
e subprodutos desta cultura podem ser utilizados como forragem verde, feno, silagem na dieta
de ruminantes, assim como, adubo verde e proteção do solo (DUTRA; TEÓFILO, 2007).
O Brasil é um dos principais produtores de feijão-caupi do mundo, junto com Nigéria,
Níger e Burkina Faso (CASTELLETTI; COSTA, 2013; PEREIRA et al., 2001). Em 2016, o
Estado do Pará obteve produção de 24.066 toneladas de feijão-caupi, com área colhida de 31.
312 hectares, o que resultou em uma produtividade média 768,6 kg ha-1 (SEDAP, 2018). No
entanto, uma parcela considerável dos agricultores da mesorregião Nordeste Paraense
frequentemente não atinge esse rendimento por conta do manejo inadequado e ineficiente da
cultura, à falta de conhecimento técnico e, ou, recurso financeiro.
É fato que a cultura do feijão-caupi apresenta elevada rusticidade, ciclo biológico curto,
baixa demanda hídrica, desenvolvimento relativamente satisfatório em solos de baixa
fertilidade química e habilidade de fixar nitrogênio (N) da atmosfera por meio de simbioses
com bactérias do gênero Bradyrhizobium (VALE et al., 2017; GAZZELLI, 1988). Porém, é
uma espécie sensível à incidência insetos-praga, os quais prejudicam o metabolismo da planta
e, por conseguinte, ocasionam redução no acúmulo de fotoassimilados com consequências
potencialmente drásticas na produção.
Um dos insetos mais prejudiciais à lavoura é a mosca-branca Bemisia tabaci
(Gennadius, 1889) biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae), a qual tem se destacado como a praga
mais limitante da cultura (SILVA et al., 2004), ocasionando danos diretos ao desenvolvimento
vegetativo e reprodutivo das plantas. Ao mesmo tempo, é considerada um dos vetores mais
importantes de patógenos virais do mundo, já que possui a capacidade de transmitir mais de
110 fitoviroses (LACERDA; CARVALHO, 2008; MUSA; REN, 2005).
Embora a região Nordeste Paraense seja grande produtora de feijão-caupi, ainda é pouco
o que se conhece sobre os efeitos da nutrição mineral, inoculação com rizobactérias e calagem
sobre a incidência de insetos-praga e as suas implicações na cultura.
Com base nas informações acima, elaboraram-se as seguintes perguntas de pesquisa: i)
existe preferência dos insetos-praga por algum dos cultivares utilizados no experimento? ii)
existe alguma interferência da nutrição mineral e correção da acidez do solo sobre a presença
de insetos-praga? iii) a fertilidade e a nutrição influenciam a incidência de insetos-praga?
13
Por este motivo, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da calagem,
adubação mineral e inoculação das sementes com rizobactérias na incidência de insetos-praga
em dois cultivares de feijão-caupi no Nordeste Paraense.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Origem, história e botânica do feijão-caupi
O centro de origem do feijão-caupi é o continente africano, a partir do qual expandiu-se
pelo mundo (MOSTASSO et al., 2002). No Brasil, foi introduzido em meados do século XVI
pelos colonizadores portugueses na Bahia (FREIRE FILHO, 1988). Atualmente esta cultura é
conhecida vulgarmente como feijão-da-colônia, feijão-de-estrada, feijão-de-praia, na região
Norte do Brasil; feijão-macassar ou feijão-de-corda, na região Nordeste e, feijão-miúdo, na
região Sul (FREIRE FILHO; CARDOSO; ARAÚJO, 1983).
Essa leguminosa é uma dicotiledônea, pertencente à ordem Fabales, família Fabaceae,
subfamília Faboideae, tribo Phaseoleae, subtribo Phaseolineae, gênero Vigna, subgênero Vigna,
espécie Vigna unguiculata (L.) Walp. (MARÉCHAL; MASCHERPA; STAINIER, 1978;
PADULOSI; NG, 1997; SMARTT, 1990; VERDCOURT, 1970).
A espécie apresenta um mecanismo especial de reprodução autógama, denominado
cleistogamia, que consiste na polinização antes da antese, isto é, da abertura do botão floral
(EHLERS; HALL, 1997). Portanto, as abelhas e quaisquer outros polinizadores possuem pouca
ou nenhuma relevância durante o processo de fecundação dos óvulos da flor.
O porte morfológico do feijão-caupi varia bastante, mas os principais são o porte ereto,
semiereto, semiprostrado e prostrado (FREIRE FILHO et al., 2005). Para o cultivo do feijão-
caupi mecanizado, é interessante que as plantas apresentem aspecto compacto e ereto, o que
beneficia o desempenho do processo de colheita mecanizada (FROTA et al., 2000; ROCHA et
al., 2009).
2.4 Cultivares
A alta variabilidade do feijão-caupi no Brasil é compreendida do ponto de vista que
desde sua chegada, no século XVI, houve tempo suficiente para que manifestasse segregações
15
e mutações que resultaram em novos genótipos (BERTINI et al., 2009; CORREA et al., 2012;
FREIRE FILHO et al., 2011).
De acordo com Freire Filho et al. (2005) o lançamento comercial de novos cultivares de
feijão-caupi, melhor adaptados, mais tolerantes às doenças e pragas, mais produtivos e com
grãos de alto padrão comercial, contribuiu para reduzir o uso de defensivos químicos, os custos
de produção, aumentar a renda do produtor, assim como aumentar também a oferta e a
sustentabilidade do produto no agronegócio, o que garante a segurança alimentar do feijão-
caupi.
O melhoramento genético também tem um papel fundamental nesta cultura, já que visa
elevar a produtividade e a tolerância da planta, em especial contra viroses, assim como, adequar
a morfologia da planta a um determinado sistema de produção (SANTOS et al., 2009). É
essencial que os produtores se atualizem sobre os cultivares e variedades de feijão-caupi
produtivos e tolerantes no mercado, já que o uso de variedades tradicionais é apontado como
um dos motivos do baixo rendimento da cultura no Nordeste (OLIVEIRA et al., 2002).
Os cultivares podem ser classificados quanto ao ciclo agronômico, como superprecoce,
maturidade atingida em até 60 dias após a semeadura; precoce, entre 61 e 70 dias; médio-
precoce, 71-80 dias; médio-tardio, 80-90 dias; e, o ciclo tardio, a partir de 91 dias após a
semeadura (FREIRE FILHO et al., 2005).
O cultivar BRS Maratoã possui hábito de crescimento indeterminado, porte
semiprostrado, cor da flor roxa, nível de inserção das vagens acima da folhagem, peso de 100
grãos igual a 15,5 g, subclasse comercial sempre verde, ciclo de 70-75 dias, resistente ao
mosaico severo do feijão-caupi (Cowpea Severe Mosaic Virus - SCMV), com produtividade
entre 831 e 1.807 kg ha-1 (FREIRE FILHO et al., 2004).
O cultivar BRS Tapaihum possui hábito de crescimento semi determinado, porte ereto,
cor da flor roxa, inserção das vagens acima da folhagem, peso de 100 grãos igual a 19,0 g, ciclo
de 54 dias, com produtividade média entre 1.415 kg ha-1 (SANTOS, 2011).
Contudo, do ponto de vista químico, este solo é ácido, pobre em nutrientes, matéria
orgânica e apresenta toxidez por alumínio, elemento que limita o crescimento das raízes, que
ficam curtas e grossas e tornam a planta mais suscetível a períodos de estiagem.
Os principais entraves da produtividade da cultura estão associados a problemas de
fertilidade do solo, baixo emprego de tecnologias no sistema de produção e o ataque de pragas
e doenças (SALES et al., 1988; MATOS FILHO et al., 2009). De acordo com Medeiros Filho
e Teófilo (2005) sementes de baixa qualidade, não tratadas, acarretam baixa densidade de
plantas e consequente redução da produção com menores benefícios financeiros.
O nitrogênio (N) é um elemento constituinte dos ácidos nucleicos, aminoácidos,
proteínas e da clorofila, que é responsável pela captação da energia solar durante a síntese de
fotoassimilados (MARTINS; MARTINS; BORGES, 2017).
O fósforo (P), embora extraído em menores quantidades é considerado o principal fator
limitante do feijão-caupi (FREIRE FILHO et al., 2005). Este nutriente está relacionado ao
desenvolvimento de pelos radiculares que aumentam os sítios de infecção bacteriana e auxiliam
no processo de nodulação pela transferência de energia na forma de Adenosina Trifosfato
(ATP) (OKELEYE; OKELANA, 1997; OTHMAN et al., 1991).
O potássio (K), por sua vez, é importante no transporte dos glicídios nos vasos
condutores. Logo, baixos teores de K prejudica a relação fonte-dreno na planta, reduzindo o
transporte de fotoassimilados das folhas para os grãos (MARTINS; MARTINS; BORGES,
2017).
Outro nutriente essencial é o cálcio (Ca), pois participa de processos importantes como
a síntese da parede celular, crescimento radicular, osmorregulação e armazenamento de
carboidratos e proteínas (CAKMAK, 2005; MARSCHNER, 2012; TAIZ; ZEIGER, 2008). A
sua absorção é reduzida pelo K e magnésio (Mg) em níveis elevados no solo (MALAVOLTA,
2006).
A calagem tem a finalidade de aumentar o pH do solo, ofertar Ca e Mg em superfície
(0-20 cm), elevar a saturação por base (V %) e reduzir Alumínio (Al) e Manganês (Mn)
trocáveis no solo (CAIRES et al., 2002). Assim, os nutrientes ficam mais disponíveis para serem
absorvidos pela planta, tornando-a mais vigorosa e com maior tolerância ao ataque de insetos-
praga.
Contudo, embora mais tolerante, a planta pode atrair mais insetos-praga por estar mais
nutrida, ou seja, por apresentar elevados teores de N, elemento essencial na síntese de
aminoácidos, principal alimento dos insetos (PANIZZI; PARRA, 1991).
17
2.7 Insetos-pragas
Em geral, a incidência de determinadas espécies de insetos-praga ocorre de acordo com
a idade da planta, ou melhor, conforme seu estádio fenológico (SILVA et al., 2005). Assim, é
possível distribuir os insetos-praga de acordo com a fenologia do feijão-caupi (Figura 1).
Insetos-praga
Paquinha Paquinha, Lagarta Vaquinhas, Pulgão, Percevejo, Manhoso,
elasmo, Lagarta- Lagartas Pragas de
rosca, Larvas de desfolhadoras, armazenamento
vaquinha, Vaquinhas, Lagarta das vagens,
Lagartas Mosca-branca,
desfolhadoras, Minador-das-folhas,
Cigarrinha, Pulgão, Percevejo, Manhoso
Mosca-branca,
Minador-das-folhas
Estádio fenológico
Germinação/emergência Emergência-floração Floração-maturação Maturação-colheita
Fase vegetativa Fase reprodutiva
Fonte: adaptado de Andrade Júnior et al. (2002).
3 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido, de julho a outubro de 2018, na área experimental da
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Campus de Capitão Poço-PA, na
microrregião do Guamá, nas coordenadas geográficas de 01º44’47’’ S e 47º03’34’’ O.
21
O município apresenta temperatura média anual de 26,2 °C, clima tipo Am, conforme a
classificação de Koppen, precipitação anual em torno de 2.500 mm e umidade média de 82 %
(SCHWART, 2007; SILVA et al., 2011). A principal classe de solo é o Latossolo Amarelo
distrófico, de textura franco-arenosa, com boa aeração, drenagem e profundidade (VELOSO et
al., 2001).
Anteriormente à instalação do experimento, foi realizada a amostragem de solo na
camada de 0-20 cm de profundidade, para caracterização física (Tabela 01) e química do solo
(Tabela 02).
Fonte: autores.
Fonte: autores.
A B
C D
Fonte: autores.
A B
3
2
Fonte: autores.
24
A B
C D
Fonte: autores.
26
A B
Fonte: autores.
27
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No total, foram coletados 338 espécimes de insetos associados a dois cultivares de
fejião-caupi. As seguintes espécies foram identificadas: Chinavia ubica (Rolston, 1983)
(19/338 = 5,62 % do total contabilizado); Piezodorus guildinii (Westwood, 1837) (28/338 =
8,28 %); Euschistus heros (Fabricius, 1798) (3/338 = 0,89 %); Empoasca kraemeri (Ross &
Moore, 1957) (Hemiptera: Pentatomidae) (66/338 = 19,53 %); Ceresa sp. (Hemiptera:
Cicadellidae) (26/338 = 7,69 %); Andrector arcuatus (Olivier, 1791) (Coleoptera:
Chrysomelidae) (67/338 = 19,82 %); Liriomyza sp. (Diptera: Agromyzidae) (4/338 = 1,18 %);
Calcodermnus bimaculatus (Fiedler, 1936) (1/338 = 0,30 %); Omiodes indicata (Fabricius,
1775) (3/338 = 0,89 %) e outros (121/338 = 35,8 %), as quais, com exceção de Ch. ubica, tem
registos prévios para o feijão-caupi no Brasil e outras regiões produtoras (NEVES et al., 2011;
OLIVEIRA et al., 1998; QUINTELA, 2001; QUINTELA; NEVES, 1991).
Schwertner e Grazia (2007) relatam que Ch. ubica (percevejo-verde) tem sido criada em
condições de laboratório em V. unguiculata, porém relatos prévios desta espécie como inseto-
praga no Brasil somente existem para a cultura da soja (HOFFMANN-CAMPO et al., 2000).
Quintela e Neves (1991) relataram o gênero Acrosternum para a cultura do feijão-caupi
no estado de Goias. Este fato permite inferir que provavelmente espécies do gênero Chinavia
28
tinham sido identificadas de forma errada dentro dos gêneros Nezara ou Acrosternum os quais
apresentam espécies com caracteristicas externas similares.
Verificou-se que houve interação significativa entre os cultivares de feijão-caupi e os
níveis de fertilidade, em relação ao número de insetos-praga (Tabela 3).
Tabela 3. Análise de variância do número de insetos-praga em função dos cultivares e níveis
de fertilidade do solo.
Causa de variação GL SQ QM F P
Efeito cultivar (A) 1 14,083 14,083 0,96NS 0,3347
Efeito níveis fertilidade (B) 5 742,916 148,583 10,11** 0,0001
Efeito interação AxB 5 399,666 79,933 5,44** 0,0009
Tratamentos 11 1156,666 - -
Blocos 3 75,166 25,055 1,71NS 0,1849
Resíduo 33 484,833 14,691 -
Total 47 1716,666 - -
**Significativo a 1 % de probabilidade (p<0,01) pelo teste F e NS Não significativo.
20 Aa
Aa
18 Aa
16
Aab Aab
Número de insetos-praga
14 Aab
12 Aab
10 Aab BRS Tapaihum
8 Ab
Abc Abc BRS Maratoã
6
4 Bc
2
0
NF1 NF2 NF3 NF4 NF5 NF6
Níveis de fertilidade
CV (%) = 35,9
NF1 = Testemunha; NF2 = Adubação P, K, e calagem e ISR; NF3 = Adubação P, K e ISR; NF4 = Adubação N,
P e K, e calagem; NF5 = Adubação P e K, e calagem; e, NF6 = Adubação N, P e K, calagem e ISR.
Médias dos níveis de fertilidade dentro dos cultivares, na cor preta ou cinza, seguidas por letras iguais e
minúsculas, não diferem pelo teste de Tukey, a 5 % de probabilidade (p<0,05).
Médias dos cultivares dentro dos níveis de fertilidade, nas colunas adjacentes, seguidas por letras iguais e
maiúsculas, não diferem pelo teste de Tukey, a 5 % de probabilidade (p<0,05).
29
35
30
Número de insetos-praga
25 A. arcuatus CT
A. arcuatus CM
20
E. kraemeri CT
15 E. kraemeri CM
10 P. guildinii CT
P. guildinii CM
5
Com relação a Emp. kraemeri, esta praga teve comportamento semelhante em ambos
cultivares ao longo das amostragens, porém apresentou um pico populacional na 5ª amostragem
(final da fase vegetativa). No entanto, de forma súbita, esta alça populacional aparentemente
foi regulada por fatores bióticos e abióticos. Na figura 9 pode-se observar os principais insetos-
praga amostrados ao longo dos ciclos dos cultivares de feijão-caupi.
C D
E F
G H
5 CONCLUSÕES
Foram encontrados registros locais dos insetos-praga coletados e identficados para
culturas fabáceas no estado do Pará, à exceçã de Ch. ubica, o que pode estar vinculado à
identificação errônea da espécie como Nezara ou Acrosternun, por serem ambos os gêneros
muito parecidos externamente.
Para ambos os cultivares utilizados no experimento, a abundância das espécies foi
relativamente baixa e não atingiu os níveis de controle. Assim, serão necessários novos estudos
de campo para estabelecer comparações mais precisas sobre o comportamento das pragas em
diferentes níveis de fertilização do solo, assim como, para recomendar um ou outro tipo de
cultivar sob as condições que foram testadas no presente trabalho.
Não foram encontrados relatos bibliográficos que indiquem que a fertilização
nitrogenada mineral associada a rizobactérias estimulem à resistência de plantas a insetos.
Assim, será necessário realizar novos estudos para avaliar este comportamento.
A incidência de insetos-praga independe do cultivar, ou seja, a população é a mesma
para BRS Maratoã e BRS Tapaihum.
Para ambos cultivares, os níveis de fertilidade influenciaram a população de insetos-
praga, que foi maior quando houve suprimento adequado de N (mineral ou via rizobactérias)
associado à calagem.
REFERÊNCIAS
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B.; VIANA, F. M. P.; FREIRE FILHO, F. R.; CARNEIRO, J. S.; ROCHA, M. M.; CARDOSO,
M. J.; SILVA, P. H. S.; RIBEIRO, V. Q. Cultivo do feijão-caupi (Vigna unguiculata (L.)
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