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Artigo Direito Penal: No Brasil é assim, só não vai pra cadeia quem tem $orte!

Samuel de Souza, acadêmico de direito –


universidade positivo

Devido a forte influência midiática, principalmente aquelas que alcançam um elevado


número de pessoas, alguns temas são constantemente discutido no seio da sociedade brasileira.
Recentemente uma novela, lançou uma pergunta, um tanto antiga, porém hodierna, um tanto
complexa, porém capaz de arrancar indagações dos mais indoutos. O questionário levantado foi o
seguinte: No Brasil, os ricos vão para a cadeia? Diante de tal indagação, a princípio, a resposta é
sim, obviamente. A lei tem que valer para todos. Contudo tal questão, tem de ser respondida sobre
um ângulo diferente. Uma análise mais crítica. Um exame mais profundo, precisamos de fato
chegar ao seu âmago.
Uma frase cômica, no entanto digna de aceitação, ilustra a real situação do sistema prisional
brasileiro, é enfatizada pelo professor Pedro Luciano*, onde o mesmo afirma que só não vai para a
cadeia quem tem $orte! Verdade seja dita, existem falhas formais e materiais no que tange a questão
prisional no brasil. Veremos nesta artigo, as situações benéficas que evidenciam a $orte, daqueles
que cometem crimes, no entanto, acabam se livrando das condenações que mereciam, analisando
sobre o senso mínimo de justiça.
A influência da mídia.
Alguns atos, só foram parar na legislação brasileira, pela força que a mídia o impõe, pois
foram provocados devidos os sentimentos da sociedade em relação a alguns crimes, logo as penas
para estes crimes estão diretamente ligadas, com o que a mídia definir. Neste contexto, vemos que
a forte influência da mídia sobre o legislador acaba por determinar à criação de normas
desproporcionais ou irrazoável e que foram formadas às pressas, tudo com o fim de aplacar a
sensação de insegurança e impunidade que paira sobre o seio da sociedade. Existem os chamados
crimes de grande comoção pública, como exemplo, as rotineiras notícias sobre sequestros de
pessoas pertencentes à alta sociedade brasileira provocaram a impetuosa política criminal de
intervenção máxima. O estado começa a partir de então, classificar com elevada repressão
determinadas condutas consideradas espúrias.
Notícias envolvendo pedófilos, que foram taxados de tal forma pela mídia, e
consequentemente definidos assim pela sociedade, mesmo que não haja um flagrante , ou provas,
que venha confirmar tal conduta. Evidentemente, tais deliberações legislativas possuem um alto
grau de aceitação popular, tudo amparado pela repercussão midiática. A mídia cada vez mais,
explora as notícias, ditas como “mais fortes”, mais sensacionalistas, para que o clamor da
comunidade se intensifica, e por suas vezes, colocam em estado sensível os responsáveis pela paz e
segurança do estado. Então a mídia acaba determinando o que é um ato criminoso, e também qual
seria a sua respectiva pena.
A falha do poder Legislativo.
A primeira falha já começa no poder legislativo, onde as leis incriminadoras de ricos são
contemplados com inúmeras benesses da própria natureza do crime, que é feito sem violência. Um
exemplo disso, é o crime de furto, onde a devolução da coisa ou ressarcimento da mesma é mera
atenuante, e nos crimes tributários extingue a punibilidade. Quem pratica um simples furto? E
quem pratica os crimes tributários, com cifras enormes? Conforme artigos a seguir: Artigo 65
,Inciso III, b do CP: são circunstâncias que sempre atuam as penas, se o agente procurar por sua
espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as
consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano. E Artigo 168, § 2º do CP: É extinta a
punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das
contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na
forma definida em lei ou regulamento, antes do inicio da ação fiscal.
Emitir um cheque furtado para pagar uma dívida no supermercado, de R$100,00 é crime de
estelionato, não importando o ressarcimento do prejuízo da vítima, levando o réu a uma
condenação, (e a legislação é bem aceita pela comunidade, se não é, pelo menos todo mundo viu,
causando a impressão de que alguma coisa está sendo feita. Não recolher ao fisco de um milhão de
reais é crime de sonegação fiscal, que automaticamente tem a punibilidade extinta e o processo
arquivado quando o sonegador ressarce o prejuízo ou se inclui em programa de recuperação fiscal e
cumpre a obrigação, o que também é bem visto por toda a sociedade, afinal o vilão, virou
“mocinho”, e devolveu todo dinheiro roubado. É grande o paradoxo, se o pobre devolve, não fez
mais do que o seu dever, se é o rico, o “coitado”, não é tal mal assim. Os comportamentos eleitos,
portanto, para figurar como crime e combate são exatamente aqueles que afetam as camadas mais
pobres da população (furtos basicamente) e por isso mesmo menos influentes ao poder. Sonegações,
crimes de colarinhos brancos, fraudes financeiras, ficam fora disto tudo, senão pela legislação então
pela leniência do executivo ou deficiência do judiciário, como veremos no tópico seguinte.
Diante do exposto, verificamos o aparente conflito em relação à razoabilidade, sabemos que
na maioria esmagadora das vezes, os crimes tributários, são valores muitos maiores, do que a
maioria dos crimes de furtos, no entanto, o maior diferencial dos agentes praticantes destes crimes,
não é outra coisa, senão a classe social dos mesmos, como afirmou o Mestre Zaffaroni, ser
impossível, construir o direito penal, sem levar em consideração o comportamento real das
pessoas, suas motivações, sua iserção social suas relações de poder (grifo meu), etc. [1]
Sabemos que não é só no direito penal, que existem falhas no legislativo, existem também
nas demais áreas do direito brasileiro. Veja o caso de legislações infla-constitucionais a respeito da
entrega dos coquetéis para aidéticos distribuídos de forma gratuita, seria coincidência de classe ser
proporcional o número de aidéticos? Enquanto isso foi atestando como inconstitucional o dever
irrestrito do estado para cuidar de doenças como a malária, proveniente das classes mais pobres. Tal
situação, é só a tipo de exemplificação, visto que estamos tratando apenas da esfera penal, o que
deve ser tratado de maneira muito especial, devido a importância do Direito Penal, como afirmou o
Mestre em Direito Penal, Pedro Luciano: O Direito Penal possui fundamental importância, uma vez
que é responsável pela proteção dos interesses e valores mais importantes e essenciais para a
sociedade. Esta proteção será realizada por meio da proibição de condutas humanas lesivas (real
ou potencialmente) aos deveres ético-sociais elementares consubstanciados na figura dos bens
jurídico-penais.[2].
Falha no poder Judiciário.
Passamos a uma análise do poder judiciário. Não necessita portanto, de uma análise
profunda para verificarmos que o judiciário é nitidamente comprado, e extremamente classista.
Basta olharmos quais casos que chegam a nós pela mídia, e os que não chegam. Os advogados
“sublimes da defensoria pública” que não tem nenhum (ou pouco) comprometimento e
envolvimento com a causa, ante a grande responsabilidade e total envolvimento que um advogado
“dos grandes” tem com a causa na qual defende. Em seguida, veremos também como o judiciário
favorecem algumas classes, através das as instâncias e medidas frustrando qualquer cooperatividade
e boa fé no processo com intuito único de causar morosidade. Além claro, da seletividade do
sistema, como exemplo: Policial que não quer perseguição política não persegue amigos do
governador/presidente/quem bancou a campanha. Este é um pequeno exemplo, visto a grosso modo,
contudo esta situação ganha grandes proporções, quando alcança grandes esferas do sistema, como
o jurisdicional.
Sabemos que estas questões não são de agora, e isto já está incutido na história do Brasil, no
entanto quando falamos que no Brasil só é condenado se for “um dos Ps” (preto, pobre e puta)
causamos um enorme mal estar na sociedade. Contudo quem não tem $orte continua sofrendo o
rigor da lei. Enquanto os $ortudos apenas mostram “a cara” para ela, e saem de fininho.

Referências Bibliográficas:
1. Zaffaroni, E. Raúl, direito penal brasileiro – I, 2003, 2º ed. Pg. 65.
2. Ferreira, Pedro L. Evangelista, Artigo As Múltiplas Funções do Bem Jurídico no Direito
Penal, Pag. 6
* - Pedro Luciano Evangelista Ferreira é Advogado,Professor de Direito Penal, Prática e
Processo Penal do UnicenP, Mestre em Direito Penal e Criminologia pela UCAM/RJ

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