Matemática Discreta
Tópicos da Teoria dos Conjuntos
Parte 1
Conjuntos
Sumário
1 Introdução 1
3 Igualdade 9
3.1 Observações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.2 Exercı́cios resolvidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1 Introdução
Em todas as áreas da Matemática, e até mesmo nas outras ciências, é usual
empregarmos a palavra
conjunto
para nos referirmos a uma totalidade de objetos que, por uma razão ou outra, que-
remos considerar como distinguidos dos demais.
Por exemplo, em um estudo socioeconômico, podemos classificar a totalidade
dos indivı́duos envolvidos em 3 classes, de acordo com os seus poderes aquisitivos:
o conjunto dos indivı́duos mais abastados, que formam a classe A; o conjunto dos
indivı́duos com um bom poder aquisitivo, que formam a classe B; e o conjunto dos
indivı́duos com baixo poder aquisitivo, que formam a classe C.
Ou, ainda, em aritmética, é usual considerarmos a totalidade dos números natu-
rais dividida em outras totalidades: o conjunto dos números pares, o conjunto dos
números ı́mpares, o conjunto dos números primos, etc.
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Um conjunto é um
de objetos.
(d) O conjunto formado pela estátua do Cristo Redentor e pela saudade que sentimos
quando estamos longe de um ente querido.
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(e) O conjunto formado pelo conjunto dos números pares e pelo conjunto dos
números ı́mpares.
Observe no Exemplo 1 que um conjunto pode ser formado por: (a) um número
especı́fico de objetos; (b) um número não especı́fico mas finito de objetos; (c) um
número infinito de objetos; (d) objetos concretos e objetos abstratos; (e) outros
conjuntos.
Uma diferença essencial entre a maneira como a palavra “conjunto” é empregada
em Matemática e como ela é usada no dia a dia é a seguinte:
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Assim, pertinência é uma relação entre dois objetos, que se estabelece quando
o segundo é um conjunto e o primeiro é um elemento do segundo.
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Temos que
América ∈ C : V
Oceano Atlântico ∈ C : F
Oceano Atlântico ∈ G : V
G ∈ Oceano Atlântico : F
C∈C : F
(c) Considere o conjunto S das seleções que participaram da Copa do Mundo de 2002
(observe que, como estamos tratando de um conjunto, não estamos considerando
nenhuma hierarquia entre as seleções). Neste caso, consideramos que cada seleção é
um conjunto de jogadores (analogamente, como estamos tratando de conjuntos, não
estamos considerando nenhuma hierarquia entre os jogadores de cada seleção).
Temos que
Seleção Brasileira ∈ S : V
Observe que, neste caso, o conjunto Seleção Brasileira pertence a outro con-
junto, S.
Também, temos que
Seleção Peruana ∈ S : F
Além disso, neste caso, temos que
Sempre que for conveniente, vamos denotar conjuntos genéricos por letras latinas
maiúsculas, como
A, B, C, . . . , X, Y, Z
e elementos genéricos destes conjuntos por letras latinas minúsculas, como
a, b, c, . . . , x, y, z.
a é um elemento de A
a∈A a pertence a A
a faz parte de A
a não é um elemento de A
a 6∈ A a não pertence a A
a não faz parte de A
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Em particular, as notações
a 6∈ A
e
¬(a ∈ A)
são equivalentes.
Exemplo 4 Em relação ao Exemplo 3, podemos escrever:
Sol 6∈ P
Oceano Atlântico 6∈ P
Seleção Peruana 6∈ S
Romário 6∈ Seleção Brasileira
2.1 Observações
Observação 1 Um aspecto importante dos conjuntos usados em Matemática é o
seguinte:
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a∈A
Já vimos exemplos desta situação no Exemplo 3(c), onde cada elemento do con-
junto S é um conjunto de jogadores, e na Observação 1, onde cada elemento do
conjunto UFF é um conjunto de departamentos.
Aparentemente, esta elaboração de que os elementos de um conjunto podem por
sua vez ser vistos como conjuntos sempre pode ser levada adiante.
Por exemplo, voltando a UFF e seus departamentos, temos que cada departa-
mento da UFF é, por sua vez, um conjunto de professores. Assim, temos o Professor
Petrucio Viana, Petrucio, que é um dos professores do Departamento de Análise do
Instituto de Matemática e Estatı́stica da UFF, ou seja,
Petrucio ∈ GAN.
Mas a Professora Márcia Cerioli, Márcia, não é professora do Departamento de
Análise do Instituto de Matemática e Estatı́stica da UFF, ou seja,
Márcia 6∈ GAN.
Na verdade, Márcia Cerioli não é professora da UFF mas, sim, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, UFRJ.
Assim, neste contexto, o Instituto de Matemática da UFF é um conjunto de
departamentos, e cada departamento é um conjunto de professores.
Em resumo, de acordo com esta análise, a UFF é um conjunto cujos elementos são
institutos; o IME (que é um dos elementos da UFF) é um conjunto cujos elementos
são departamentos; o GAN (que é um dos elementos do IME) é um conjunto cujos
elementos são professores; e o Petrucio (que é um dos elementos do GAN) é um
professor.
Observação 3 Admitimos como conhecidos os conjuntos numéricos usuais:
N : dos números naturais, inclusive o zero;
N∗ : dos números naturais, exclusive o zero;
Z : dos números inteiros, negativos, zero e positivos;
Q : dos números racionais, frações negativas, zero e frações positivas;
R : dos números reais, dı́zimas periódicas e não periódicas, negativas
ou positivas, e zero.
Fazemos referências aos elementos destes conjuntos, suas propriedades e relações,
sempre que for necessário, confiando no entendimento que já obtivemos destes ob-
jetos, em estudos anteriores.
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Exercı́cio 2 Dê exemplo de um objeto que pode ser visto como um conjunto cujos
elementos também são conjuntos.
Agora, baseados nesta mesma análise, é correto concluir que Petrucio ∈ UFF?
Resolução do Exercı́cio 1 : (i) “Bolo” não está sendo usada como conjunto, pois para formar
um bolo, devemos observar a ordem das camadas. (ii) “Urna” está sendo usada como conjunto,
pois para formar uma urna, não precisamos observar a ordem das bolas. (iii) “Trajeto” não está
sendo usada como conjunto, pois para formar um trajeto, devemos, primeiro seguir a escadaria,
segundo seguir a calçada e, terceiro, seguir a outra escadaria. (iv) “Gaveta” está sendo usada
como conjunto, pois para formar uma gaveta não precisamos observar a ordem das bugigangas.
(v) “Vestimenta” não está sendo usada como conjunto, pois para formar uma vestimenta devemos,
em alguma ordem, colocar os sapatos nos pés, cobrir as pernas com a calça e cobrir o tórax com
a camisa. Resolução do Exercı́cio 2 : Há muitas possibilidades de respostas para esta questão.
Por exemplo, o conjunto dos seres humanos. Em certas circunstâncias, cada ser humano pode
ser visto como um conjunto de órgãos. Resolução do Exercı́cio 3 : Não é correto. Segundo a
análise feita na Observação 2, a UFF é um conjunto de institutos e Petrucio é um professor e não
um instituto. Observação: Nada impede que em outras circunstâncias analisemos a UFF como um
conjunto de professores. E, neste caso, seria correto concluir que Petrucio ∈ UFF. Mas esta seria
uma outra análise!
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3 Igualdade
Além da pertinência, outra relação fundamental entre os objetos da Teoria dos
Conjuntos é a relação de igualdade. Quando estamos tratando de conjuntos, ela é
regulada pelo seguinte princı́pio:
Princı́pio da Extensão:
Dois conjuntos são iguais se, e somente se, possuem os mesmos elementos.
A=B
Ou, de uma maneira mais formal e deixando o universo implı́cito, como é usual:
A=B
por definição
∀x(x ∈ A ↔ x ∈ B)
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A igualdade é uma relação importante entre conjuntos que possui várias propri-
edades fundamentais. Dentre elas, as mais destacadas são:
Propriedades da Igualdade:
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a∈A
a∈A↔a∈B
a∈B
é válido.
Assim, temos que a ∈ B é V .
3.1 Observações
Observação 4 Como uma aplicação direta dos conhecimentos de Linguagem e
Lógica Matemáticas, podemos negar o Princı́pio da Extensão, para descrever preci-
samente quando um conjunto A é diferente de um conjunto B. De fato, temos:
¬(A = B)
é equivalente a
¬∀x(x ∈ A ↔ x ∈ B)
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é equivalente a
∃x¬(x ∈ A ↔ x ∈ B)
é equivalente a
∃x¬[(x ∈ A → x ∈ B) ∧ (x ∈ B → x ∈ A)]
é equivalente a
é equivalente a
é equivalente a
∃x[(x ∈ A ∧ x 6∈ B) ∨ (x ∈ B ∧ x 6∈ A)]
o que, em resumo, nos dá a definição de quando um conjunto é diferente de outro:
A 6= B
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(i) Se A = B, B = C e C = D, então A = D.
(ii) Se a ∈ A, A = B e B = C, então a ∈ C.
Neste caso, sempre que for conveniente, vamos especificar os conjuntos listando
(os nomes dos) seus elementos entre chaves e separados por vı́rgulas.
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{K, C}
{a}
Cuidado para não confundir ∅ (conjunto vazio) com 0 (número zero). Estes
objetos matemáticos, embora relacionados, não são iguais.
A primeira vista, ∅ parece ser um conceito estranho, já que o que caracteriza
um conjunto são os seus elementos e ∅ não possui elementos. Mas, como veremos
adiante, a noção de conjunto vazio é extremamente útil no desenvolvimento teórico
e nas aplicações da Teoria dos Conjuntos.
4.1 Observação
Observação 5 Um problema com o qual nos deparamos frequentemente é o seguin-
te:
Dado um conjunto A especificado por listagem e um objeto x, qualquer,
determinar se x ∈ A ou não.
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e os objetos {2} e {{2}} (que por sua vez também são conjuntos) temos que
{2} 6∈ A
mas
{{2}} ∈ A.
De fato, apagando as chaves que “delimitam” A e as vı́rgulas que “separam” os
elementos de A, “sobram” os objetos:
Observe que {{2}} ocorre na lista acima, mas {2} não ocorre.
Exercı́cio 7 Seja A = {{1}, {2}, {3, 4}, {5, 6}, {7, 8, 9}, 10}. Classifique como V ou
F . Justifique.
(i) A tem 10 elementos
(ii) A é finito
(iii) 1 é um elemento de A
(iv) 1 é um elemento de um elemento de A
(v) {1} é um elemento de A
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Resolução do Exercı́cio 6 : (i) {ó, u, a, ê,ı́}. (ii) {Matematica Básica, Geometria Plana, Se-
minários EAD, Introdução à Informática}. (iii) {Monte Everest, K2, Kangchenjunga}. (iv) {2}. (v) ∅.
Resolução do Exercı́cio 7 : (i) F . Apagando as chaves e as vı́rgulas que delimitam A, “sobram”
os seguintes elementos de A: {1} {2} {3, 4} {5, 6} {7, 8, 9} 10. Assim, A tem 6 elementos. (ii)
V . Como vimos em (i), A tem 6 elementos. (iii) F . 1 não ocorre na lista dos elementos de A. (iv)
V . Temos que 1 ∈ {1} e {1} ocorre na lista dos elementos de A. (v) V . Como vimos em (iv), {1}
ocorre na lista dos elementos de A. Resolução do Exercı́cio 8 : (i) F . Apagando as chaves que
delimitam {{{{∅}}}} “sobra” um único elemento: {{{∅}}}. Assim, por exemplo, ∅ 6∈ {{{{∅}}}}.
(ii) V . Apagando as chaves que delimitam {∅, {∅}} “sobram” dois elementos: ∅ {∅}. Assim,
{∅, {∅}} tem dois elementos. (iii) F . Por exemplo, ∅ ∈ {∅, 1, {2, 3}, {4, 5, 6}, 7, 8, 9, {10}}, mas
∅ 6∈ {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10}.
Neste caso, como não queremos listar os (nomes de todos os) elementos de um
conjunto para especificá-lo, podemos usar duas notações alternativas.
Podemos especificar um conjunto sem listar (os nomes de todos os) elementos,
listando apenas alguns deles e utilizando as reticências . . . para denotar os
elementos não listados, que consideramos implı́citos no contexto.
{1, 2, 3, 4, . . . , 63.450.432.000}
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Está subentendido que este conjunto só possui como elementos, além dos que
estão listados, os outros números naturais entre 4 e 63.450.432.000 que não estão
listados.
{a1 , a2 , . . . , an }
{}
Podemos definir um conjunto sem listar (todos os) seus elementos usando uma
propriedade (referente ao conjunto universo) que é verdadeira somente quando
se refere aos elementos que estão no conjunto que queremos especificar.
x é vogal
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{y ∈ U | y é consoante}
{z ∈ U | ¬ (z é vogal)}
ou seja,
{z ∈ U | z não é vogal}
Assim, temos
{x ∈ U | x é vogal} = {a, e, i, o, u}
e
{y ∈ U | y é consoante} = {z ∈ U | ¬ (z é vogal)} = {b, c, d, . . . , x, y, z}
{u ∈ N | 1 ≤ u ≤ 63.450.432.000}
1 ≤ u ∧ u ≤ 63.450.432.000
1 ≤ u ≤ 63.450.432.000
(c) Considerando como universo o conjunto N dos números naturais, o conjunto dos
números pares entre 1 e 100 (exclusive 1 e 100) pode ser especificado como
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De maneira geral:
{v ∈ U | E(v)}
{x ∈ R | x2 + 1 = 0}
é o conjunto vazio.
5.1 Observações
Observação 6 A listagem com reticências deve ser usada com cuidado, pois pode
levar a ambiguidades quando o contexto não deixa claro quais são os elementos que
não estão sendo listados.
Por exemplo, em um certo contexto, o conjunto A dos números naturais entre 2
e 2.011, inclusive 2 e 2.011, pode ser especificado como
{2, 3, . . . , 2.011}
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{2, 3, . . . , 2.011}
{x ∈ N | 1 ≤ x ≤ n e x é par}
ou ainda como
{x ∈ N | 1 ≤ x ≤ n e x não é ı́mpar},
ou ainda de outras maneiras.
{x ∈ N | x é quadrado perfeito}
e
{y ∈ N | ∃x ∈ N (y = x2 )}
têm os mesmos elementos: 0, 1, 4, 9, . . . . Por isto, são iguais.
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Resolução do Exercı́cio 9 : (i) ∈, pois 0 é listado como elemento de {0, 1, 2, 3, 4}. (ii) 6∈,
pois {4} não é listado como elemento de {{1}, {2}, {3}, 4}. (iii) ∈, pois 1 < 32 < 25 é V . (iv)
6∈, pois {3} não possui dois elementos. (v) ∈, pois como {3, {3}} = {3, {3}} é V , temos que
{3, {3}} = 3 ∨ {3, {3}} = {3} ∨ {3, {3}} = {3, {3}} é V . Resolução do Exercı́cio 10 : (i) U = N;
E(x) : 3 < x; {x ∈ N | 3 < x}. (ii) U = N; E(x) : x = 2; {x ∈ N | x = 2}. (iii) U :
o conjunto formado pelos números naturais e pelos conjuntos de números naturais; E(x) : x =
1 ∨ x = {1, 2}; {x ∈ U | x = 1 ∨ x = {1, 2}}. (iv) U = Z; E(x) : x não é quadrado perfeito;
{x ∈ Z | x não é quadrado perfeito}; Ou ainda, {x ∈ Z | ¬ (x é quadrado perfeito)}. Observe
que x é quadrado perfeito é equivalente a ∃y(y ∈ N ∧ x = y 2 ). Assim, o conjunto também
pode ser definido como {x ∈ Z | ¬∃y(y ∈ N ∧ x = y 2 )}. Além disso, como ¬∃y(y ∈ N ∧ x = y 2 )
é equivalente a ∀y(y ∈ N → x 6= y 2 ), o conjunto também pode ser definido como {x ∈ Z |
¬∀y(y ∈ N → x 6= y 2 )}. (v) U = N; E(x) : x é primo; {x ∈ N | x é primo}.
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