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AVIVAMENTO NA ÁFRICA DO SUL

(relato verbal compilado em livro)

ERLO STEGEN

INTRODUÇÃO
A minha história de vida começou em tempos muito distantes.
Começou numa pequena vila no norte da Alemanha entre 1840-1850
onde vivia um pastor Luterano, Louis Harms. Através das suas
pregações Deus trouxe um avivamento na região de Lunenburg. Mais e
mais pessoas vinham à igreja assistir aos cultos, ao ponto de não haver
lugar para acomodar toda a gente. Um culto já não era suficiente e
Louis Harms necessitava de fazer cultos pela tarde também. Mas, logo
se viu que também isso não bastava. Havia, no povo, uma fome enorme
pela Palavra de Deus. No final, decidiu-se fazer três cultos ao Domingo
e algumas pessoas chegavam a caminhar 80 km para assistirem aos
cultos.
Naquele tempo, as pessoas eram maioritariamente pobres. Os filhos
dos agricultores não viviam bem. Bebiam muito e entregavam-se ao
mundo e aos seus pecados. Mas, sob as pregações de Lous Harms, os
jovens começaram a converter-se. Pararam com suas vidas inúteis,
pararam de beber e com suas vidas de mentiras e de falsa moralidade.
Um dia, chegaram a Louis Harms e disseram-lhe: “Pastor, queremos
contar-lhe uma coisa. Temos uma enorme vontade de pregar o
evangelho aos pagãos. Eles também precisam de ouvir esta
mensagem”.
Louis Harms concordou com aquele desejo. Mas, a pergunta surgiu em
seu coração sobre onde seriam formados estes jovens para que
pudessem empreender tal responsabilidade. Então, enviou-os para a
Universidade de Hamburgo. Contudo, duas semanas mais tarde,
estavam de volta a casa muito tristes e desapontados com tudo. Qual
seria a razão? Os professores acharam-nos pouco inteligentes para
pregarem o evangelho. Porém, os jovens não estavam na disposição de
aceitar tal desfecho para as suas pretensões e desejos de pregar o
evangelho de Jesus. Então, Louis resolveu enviá-los para a
Universidade de Bremem, mas, aconteceu a mesma coisa por lá e
foram devolvidos a casa uma vez mais. Mas, nem mesmo este segundo
rude golpe conseguiu demovê-los de pregarem o evangelho. No final,
Louis Harms não viu outra saída para a questão senão criar uma
escola onde formar os jovens como missionários.
Após haver resolvido este problema da formação, apareceu o segundo
problema. Como fazê-los chegar a África? Era o desejo intenso de
Louis conseguir fazer chegar estes missionários à África Oriental, para
a tribo dos Gala, na Etiópia. Era um povo valente, mas, cheios de fome
por honra e conquistas. A vida desta tribo consistia em conquistas e
guerras. Louis estava convencido que conseguiria trazer esta tribo a
Deus e que eles, por sua vez, iriam fazer chegar o evangelho ao resto de
África. Com esse propósito, um navio foi construído. Foi um ato audaz
de pura fé porque a congregação não era propriamente rica. Contudo,
confiaram no Senhor e perguntaram-lhe em oração se Ele iria
providenciar tudo que necessitavam para o efeito. Pouco tempo depois,
um empresário de Hamburgo ofereceu todo o metal e outro material
necessário para a construção do navio. Um outro comerciante
providenciou a madeira e assim construíram aquele pequeno navio que
passou a chamar-se Kandace.
Em 1854, Louis Harms enviou os seus primeiros missionários para
África. Despediu-se deles com estas palavras: “Nunca mais nos
veremos. Despedimo-nos aqui até ao dia que nos veremos no céu”. (De
fato, os missionários nunca mais voltaram para a sua terra natal. Eles
faleceram longe de seu país no meio dos povos pagãos de África. Não
havia sido fácil, mas, eles ofertaram suas vidas para a propagação do
evangelho de Cristo).
Assim, o navio partiu em direcção a África Oriental. Os missionários
aproximaram-se de seu destino e atracaram, cremos, na região de
Mombaça. Mas, logo se aperceberam que as portas da Etiópia não se
iriam abrir para eles. Ficaram profundamente desapontados e não
teriam outra alternativa senão voltarem para a Alemanha. Podemos
apenas imaginar o tamanho do seu desapontamento. A caminho de
casa, o navio atracou em Durban. Ali, os missionários começaram a
tocar as suas trompetes na proa do navio. Merensky trabalhava, na
altura, em Durban. Ele havia sido enviado por uma organização
missionária de Berlim. Assim que ouviu as trompetes, deduziu
imediatamente que se tratava de alemães. Subiu a bordo para conhecer
os missionários de Hermannsburg. Quando terminaram de relatar
toda a sua história de desapontamentos, Merensky confortou aqueles
jovens com as seguintes palavras: “Fiquem aqui no meio da tribo Zulu!
Os Zulus são tão guerreiros quantos os Galas. Tragam o evangelho a
eles porque eles também não sabem nada sobre Jesus”.
Os missionários resolveram aceitar o conselho e ficaram na África do
Sul. Foi o início da obra missionária Alemã entre os Zulus e, desde
então, os Alemães tornaram-se muito familiares para os Zulus.
Depois disso, levou mais dez anos até que a minha família, os Stegens,
embarcassem no Kandace e viessem parar em Durban. Chegaram
para permanecer para sempre na África do Sul. Não chegaram como
missionários, mas, como fazendeiros que desejavam prosperar para
suportarem os missionários na obra de Deus. Houve outras famílias
que chegaram antes e depois deles, mas, foi assim que os alemães
começaram a povoar aquela zona da África do Sul. Não demorou
muito até que houvesse uma comunidade alemã vasta e igrejas deles
por todo lado.

INFÂNCIA E CONVERSÃO
Os meus antepassados que chegaram em 1869 eram de parte de minha
mãe. Da parte de meu pai, chegaram apenas entre os anos 1881-1883.
Na nossa história familiar nunca houve um pregador. Também, já no
ano 1900 toda a família havia perdido contato com os familiares que
permaneceram na Europa. Nunca mais ouvimos falar deles. Alguns de
nós, daqueles que vieram viver na África do Sul, acabaram virando as
costas para Deus com o decorrer dos anos. Meu pai e minha mãe
permaneceram, contudo, dentro de uma disciplina evangélica rígida.
Todos os domingos éramos obrigados a ir à igreja, frequentar os cultos
e não era nada agradável. Por essa razão, eu já havia determinado em
meu coração que, assim que me tornasse adulto, jogaria toda a religião
para o alto e não iria querer saber mais nada de Deus. Claro que era
de esperar que não usássemos o tempo que nos resta para aprofundar
a nossa fé cristã. Muitas vezes, mentíamos para nossos pais para
arranjarmos maneira de escaparmos aos cultos. Recordo-me que, por
vezes, fazíamos planos para jogarmos à bola e inventávamos uma dor
muito grande para podermos ficar em casa na hora do culto. Assim
que os nossos pais saiam para o culto, vestíamos calções e íamos chutar
a bola na rua. Com certeza que já não nos queixávamos de dor!
Apesar dessas coisas, a nossa família tinha fama e nome de quem era
fiel à igreja e de quem frequentava os cultos assiduamente. Mas, a
verdade era que éramos pessoas completamente mundanas. A sala de
dança estava no nosso terreno. O chão era devidamente preparado
durante dias para que as nossas danças corressem bem. Havia
casamentos, noivados e outras coisas que serviam de desculpa para
termos nossas festanças e danças. As pessoas de todo o condado e
arredores frequentavam o nosso salão de bailes particular. Ali bebiam
e dançavam. E esse tipo de vida persistiu até ao dia em que algo
aconteceu em nossa igreja que marcou definitivamente a minha
própria vida e a de outros.
O nosso pastor foi chamado para outro lugar e chegou um outro.
Tínhamos o hábito de levar rebuçados para o culto. Assim, não
adormecíamos nos cultos. Os bombons ajudavam a manter-nos
acordados. Mas, com o novo pastor, as coisas mudaram. Os seus
sermões pegavam em nós e faziam a diferença. Era algo que nos
chamava a atenção naturalmente. E, ainda por cima, ele tinha uma
mão segura sobre nós, as crianças. Lembro que quando havia corridas
de carros em Pietermaritzburg por altura da Páscoa, pediamos que
seus sermões fossem mais curtos para podermos ir assistir a elas.
Então, ele fazia o sermão durar apenas uns dez ou quinze minutos.
Para nós, era uma coisa muito linda e todos afirmavam que aquele era,
realmente, o melhor pastor que alguém podia desejar. “É o melhor
pastor do mundo! É o homem mais certo para nós! Não poderíamos
desejar melhor!” Era o que todos diziam.
Mas, na verdade, o nosso pastor era a pessoa mais infeliz do mundo.
Ele apercebia-se que faltava algo muito importante em sua vida. Nunca
teve paz em seu coração desde a sua meninice. Pensou que alcançaria
essa paz tornando-se pregador da Palavra. Foi assim que saiu para a
Europa para estudar teologia durante um ano. Como era uma pessoa
muito talentosa e inteligente, teve a melhor prestação nos estudos. No
final dos seus estudos, os seus professores não o queriam deixar voltar
para África. Desejavam que se tornasse pregador na Europa e
tentaram de tudo para convencê-lo que toda aquela inteligência nunca
seria prestável ou apreciada em África. A isso respondeu da seguinte
forma: “Sabem, na minha terra (África do Sul) as bananas são todas
tortas e preciso ir lá endireitá-las!”
Os professores concordaram com ele rindo, pois, viram que seria inútil
persistirem contra seu desejo. Deixaram-no voltar a África. Tornou-se
missionário e, com o decorrer do tempo, tornou-se o pastor de nossa
congregação.
Contudo, ficou claro para ele que os seus sermões e obra não
conseguiam preencher as suas necessidades espirituais mais básicas.
Por vezes, ficava com a impressão que deveria trabalhar mais e até
começou a ter mais cultos durante a semana. Como consequência
disso, esgotou-se completamente e já não conseguia terminar a obra de
abrir mais congregações aqui e ali. Toda a situação levou-o a um
esgotamento, o que o levou a consultar um médico Judeu. Após a
consulta, o médico disse-lhe isto: “Eu admiro-me muito que vocês,
crentes, tenham tanto medo da morte. Vejo que os meus pacientes
cristãos dizem que crêem no Messias e são os que mais têm medo de
morrer!”
Para o nosso pastor, aquelas palavras foram como um murro no
estômago. O médico aconselhou-o a parar por três meses se quisesse
evitar um colapso nervoso e esclareceu que, caso isso acontecesse, iria
acabar internado em algum hospital. O nosso pastor não acatou as
palavras do seu médico e foi para casa, desmotivado e triste. Mas, as
palavras do médico sobre os crentes tiraram-lhe a paz que ainda lhe
restava. Depois de pensar lucidamente durante um tempo nelas,
chegou e disse à sua esposa: “Eu não consigo acreditar que não haja
uma pessoa neste mundo que não me consiga ajudar. Tenho
consciência de uma grande falta em minha vida, mas, não consigo
colocar meu dedo no problema. Não consigo ver qual é o problema.
Tenho a certeza que em algum canto deste mundo deve existir uma
pessoa capaz de ajudar-me”.
Partiu em viajem decidido a encontrar alguma pessoa que soubesse
ajudá-lo. Estava decidido a não regressar enquanto não obtivesse todas
as respostas para todas as suas questões, ainda que tivesse de viajar
pelo mundo todo. Foi assim que chegou a Pretória onde encontrou um
evangelista. Era de se saber que havia muita gente que não gostava
nada do evangelista em questão e muitos até falavam mal dele e o
desprezavam. Mesmo tendo conhecimento de tudo que acontecia à
volta desse evangelista desprezado, nosso pastor resolveu, ainda assim,
ir conversar com ele sobre as suas necessidades espirituais. Tinha
esperança de encontrar as respostas naquele homem.
Ao entrar, o nosso pastor teve um grande desapontamento. O
evangelista mal conhecia o Grego arcaico e o seu Hebraico também
não era lá grande coisa. Perguntou-se: “Como é que este homem me
pode ajudar? Ele sabe menos que eu! Se nem conhece os idiomas nos
quais a Bíblia foi escrita, como poderá este homem ajudar-me?”
Contudo, o evangelista conhecia o Senhor Jesus e sabia orar de forma
a ser atendido. Enquanto escutava o seu visitante, clamava a Deus
secretamente: “Senhor, suplico-te que anules as coisas que impedem
este homem de Te ver. Brilha com Tua luz n’Ele porque ele precisa de
Ti”. No fim da visita, o evangelista propôs que orassem juntos. Assim
que se ajoelharam, o pastor entendeu pela primeira vez as palavras de
Jesus: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e
abrir, entrarei e cearei com ele e ele Comigo”, Apoc.3:20.
Foi somente naquele preciso momento que se apercebeu que Deus
sempre esteve fora de sua vida. Não vivia em seu coração – só na sua
cabeça. Com uma fé de criança confiante pediu ao Senhor para entrar
em seu coração. Foi uma experiência maravilhosa para o nosso pastor,
pois, todo seu interior mudou e quando se levantou de seus joelhos
tinha uma paz que nunca havia experimentado. Foi o dia mais
importante de toda a sua existência. Voltou logo para a sua
congregação e no domingo seguinte estava de volta ao púlpito. A sua
pregação havia mudado radicalmente. Era como se o estivéssemos
ouvindo pela primeira vez. Ouvindo todas as suas palavras, dava para
perceber que algo muito significativo havia acontecido com ele. Diante
de nós estava um novo homem, uma criatura completamente nova.
Tudo que lhe aconteceu teve a capacidade de impressionar-nos a todos.
Eu sabia que também precisava de tudo aquilo que meu pastor havia
achado porque eu não conseguia vitória sobre nenhum dos meus
pecados e de minhas tentações. Era uma guerra constante a que se
dava dentro de mim. Éramos seis filhos, cinco rapazes e uma menina.
A menina era a mais nova. Quando íamos para a Santa Ceia, íamos
muito pesados porque as nossas consciências pesavam bastante e
acusavam-nos. Estávamos sempre conscientes da nossa natureza
pecadora nessas ocasiões. Após confessarmos certos pecados e depois
de havermos participado na Ceia, voltávamos para casa mais leves, isto
é, menos pesados. Mas, a caminho de casa, já os meus irmãos
começavam a brigar e tudo voltava ao usual. A verdade é que o
arrependimento chega sempre tarde. Quando chegávamos a casa, já
não tínhamos a paz que havíamos obtido durante o culto da Ceia por
havermos brigado muito no caminho. Isso preocupava-me bastante e
eu sabia que já estava contaminado com pecado novamente. Sentia-me
sujo. Então, percebia que teria de esperar mais três meses para a
próxima Ceia para tornar a confessar os meus pecados. Essa ideia
perturbava-me bastante. Quando chegava a hora que era pronunciado
o perdão de nossos pecados novamente, sentia-me deveras feliz.
Contudo, nada mudava. Continuava sendo desobediente a meus pais,
respondia e falava alto; não honrava meus pais; dava sempre a minha
opinião e fazia aquilo que me apetecia. Variadíssimas vezes, apercebia-
me que agia mais como um filho do diabo que um filho de Deus. A
minha consciência perturbava-me continuamente e tinha plena
consciência que desprezava o mandamento de Deus, o qual diz-nos
para honrarmos nosso pai e nossa mãe. Sabia que pecava contra Deus,
principalmente nesse aspecto. Tudo isso fazia-me muito infeliz e dizia:
Senhor, eu nunca mais farei tal coisa, nunca mais cometerei tal pecado.
Não quero mais ser assim”. Mas, não demorava muito e voltava tudo
ao mesmo.
O nosso pastor exteriorizava a sua nova relação com Jesus. Ele vivia
um momento lindo. Pregava que precisamos de Jesus
incondicionalmente em nossas vidas e que não teríamos como nos
libertar de nós mesmos de outra maneira, porque somente Ele pode
libertar-nos de todos os nossos pecados. Somente Ele poderia
fortificar-nos ao ponto de obtermos êxito total lutando contra os nossos
pecados. Isso causou uma transformação em minha própria vida. Eu
orava com lágrimas: “Senhor Jesus, preciso muito de Ti! Liberta-me
da minha desobediência, da minha vontade de brigar e da minha boca
grande!” E tudo mudou. Já não era preciso que alguém me dissesse
para ir à igreja e sentia-me muito mal quando não podia ir. O Senhor
Jesus também começou a operar em nossa casa. Não demorou muito
até que o salão de danças e de bailes fosse transformado em um lugar
onde a Palavra de Deus era pregada e ensinada. Aos poucos, chegava
mais e mais gente para ouvir o evangelho em nossa casa.
Após a minha conversão, a Bíblia tornou-se o livro mais amado e mais
querido. Nunca fui amigo de leitura e até mesmo na escola a leitura
era, para mim, um castigo enorme. Mas, assim que Jesus entrou em
meu coração, tudo mudou e eu podia ficar horas e horas, noite e dia,
lendo a Bíblia e lendo todos os livros sobre avivamento. O meu coração
ficava cheio de alegria lendo como as pessoas vinham a Jesus e
verificando como os seus corações eram profundamente tocados pelo
Deus vivo. A Bíblia tornou-se o livro mais importante da minha vida e
perdi a vontade de fazer qualquer outra coisa. Não havia nada mais
com valor para mim.
Quando a minha família saia para visitar alguém, eu tratava sempre
de arranjar uma desculpa para ficar em casa. Nunca lhes contava que
desejava ficar em casa para ler a Bíblia e cantar do hinário de Salmos
que tinha. Antes disso, nunca alguém me via cantar. Mas, Jesus mudou
tudo em mim, pois, eu já não conseguia ficar sem cantar. Sempre que
ficava sozinho em casa, pegava em minha Bíblia e lia-a de joelhos.
Quando a família estava em casa, eu pegava na Bíblia e dizia-lhes que
ia caminhar um pouco. Desaparecia entre as plantações de árvores e
passava ali horas muito agradáveis e produtivas. Jesus falava mesmo
comigo. Onde fosse ou onde estivesse, no campo ou em cima do trator,
meu Novo Testamento estava sempre comigo. Lia um capítulo atrás do
outro e até os memorizava. Ninguém me obrigava a fazer isso, mas, a
própria Palavra criava um desejo enorme e ela vivia dentro de mim.
Era, para mim, mais doce que o mel.
Os meus colegas de escola vivam uma vida superficial e inútil.
Passavam seus dias com as moças. Não conseguiam entender por que
razão eu era diferente e que proveito eu tirava de tudo aquilo. Não
entendiam como é que eu podia passar horas lendo minha Bíblia. Mas,
a verdade é que Jesus significava muito para mim. Ele era grandioso a
meus olhos. Tornou-se o meu primeiro amor. Experimentava uma
alegria muito profunda e inexplicável. Sentia um grande
encorajamento através das promessas que o Senhor fazia na Bíblia.
Por exemplo, João 15:7: “Se vós estiverdes em mim e as minhas
palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será
feito”. E eu pensava para mim que, nem que fosse a única promessa
existente na Bíblia, ainda assim seria a pérola mais preciosa na face da
terra. Contudo, não era a única promessa. Li mais adiante: “Até agora
nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo
se cumpra”, João 16:24. Estas palavras enchiam-me de um gozo
inexplicável. Se era verdade aquilo que lia, podia pedir qualquer coisa
para que a Sua alegria em nós transbordasse e fosse plenamente
aperfeiçoada. Outra promessa que causou uma grande impressão em
meu espírito: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em
mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas,
porque eu vou para meu Pai”, João 14:12.
Todas estas coisas aconteceram entre os anos 1949 e 1951. Ainda era
muito jovem e tudo era aceite e crido com uma fé espontânea de
criança. Sempre que lia as palavras de Jesus que diziam “Na verdade,
na verdade, vos digo…” eu cria nelas como se da verdade se tratasse e
nem questionava nada. Jesus não era mentiroso! Em Mateus, Marcos,
Lucas e João eu lia sobre as obras de Jesus e dizia para mim que, se
deveras crêssemos em Jesus e a Sua palavra fosse viva em nós, de
acordo com aquela promessa, faríamos qualquer obra que Ele fez e até
mesmo obras ainda maiores que aquelas. Não consigo achar palavras
para explicar tudo o que aquilo significava para mim na altura. Era
como se o Céu se tivesse aberto! Jesus e a Sua Palavra eram tudo para
mim. Não tinha tempo para moças e para qualquer outra coisa do
mundo.
O CHAMADO DE DEUS
O pensamento de alguma vez tornar-me Pastor nunca me cruzara a
cabeça. Eu sempre dizia: “A coisa mais ruim é alguém ser professor.
Mas, alguém ser pastor ainda é pior que isso!” Meus pais e avós
desejavam muito que me tornasse fazendeiro. Mas, o meu alvo era
fazer dinheiro e ser rico. O dinheiro era o meu deus. Já quando era
criança desejava ser rico e até cheguei a fazer uma plantação de tabaco
para vendê-lo. Enquanto os meus amigos queriam andar com as
moças, eu fazia tudo para andar atrás de dinheiro. O meu pensamento
era: “Primeiro o dinheiro. Depois, as outras coisas”.
Eu não pensava sequer na obra missionária. Após haver completado a
escola, prontifiquei-me logo para ir ajudar o meu pai em sua fazenda,
onde morávamos e trabalhávamos felizes. Foi ali que, pela primeira
vez, ouvi o chamado de Deus de forma inesperada. Chamava-me para
ir trabalhar na Sua vinha. Minha mãe havia oferecido um livro a cada
um de nós pouco tempo antes disso. O livro que me calhou foi um de
Werner Heukelbach. Era a história de um homem que experimentara
uma transformação em toda a sua existência e vida. Antes havia sido
um homem iníquo e pecador e, mais tarde, um evangelista. Aquele
livro chegou a mim no momento mais apropriado. Não poderia ter
chegado em melhor altura. Foi, então, que senti que Deus me queria na
Sua obra. Disse de pronto: “Senhor, se me pedires isso, estou pronto e
disposto para ir”. Naturalmente que naquela fase de primeiro amor e
de grande entusiasmo pessoal, eu não havia feito as contas sobre tudo o
que me iria custar. Dirigi-me de imediato aos meus pais, irmãos, irmã
e, também, ao meu pastor, dizendo que eu estava seguro que Deus me
estava chamando para a a obra missionária. O nosso pastor ficou
muito entusiasmado e convidou-me para ir com ele para Transvaal-
Este. Havia ali uma conferência onde iriam estar os melhores e mais
conhecidos evangelistas do mundo. Concordei e tinha a convicção de
que aquela conferência seria uma enorme bênção para mim.
Era a primeira vez que me afastava da minha família e da fazenda. Lá
no Transvaal tive muito tempo para pensar e repensar na decisão
sobre o meu futuro. Foi então que me apercebi que seria o fim do
trabalho na fazenda que muito amava. Iria deixar os meus pais e
irmãos. E também não conseguia aceitar ser um pastor pobre e viver
como um pobre coitado. O dinheiro ainda significava muito para mim.
Os meus pensamentos começaram a ver a vida que o nosso pastor
levava e muitos outros iguais a ele. Via como eles apenas sobreviviam
na pobreza e não faziam mais nada senão pregar, batizar e enterrar
pessoas nos funerais. Eu reconheci que eu não desejava ser assim.
Definitivamente, aquilo não era obra para mim!
Assim, estava disposto a recuar na minha decisão porque eu
simplesmente não estava na disposição de seguir por aquele caminho.
Naquela conferência havia, de fato, bons pregadores. Quando assistia o
culto da noite o meu coração clamava alto e dizia: “Senhor, estou
disposto a seguir-te, quero seguir Teu caminho”. Mas, na manhã
seguinte, o meu coração estava novamente endurecido e decidi que ia
voltar para casa. Escutava mais um culto à noite e desejava seguir ao
Senhor. O meu coração derretia-se a favor do Senhor e de Sua causa e
estava disposto a atender o Seu chamado. Mas, no dia seguinte,
repetia-se aquela dureza novamente. E assim continuava até que uma
manhã decidi mesmo voltar para casa e tornar-me fazendeiro. Mas,
havia um problema que eu não sabia como resolver: havia afirmado ao
meu pastor que ouvira a voz de Deus e que Ele me chamara. O que
responderia se ele me perguntasse qual a razão por que mudara de
ideia? Antes, havia dito claramente que Deus me havia chamado para
a Sua obra e até convenci todos que estava firme na minha convicção.
E agora precisava arranjar maneira de sair daquela enrascada.
Estava, deveras, desolado.
Mas, um outro problema surgiu. O que responderia à minha mãe
quando ela perguntasse como é que a minha volta para casa rimava
com o tal chamado que eu afirmei vir de Deus? Aquelas questões
perturbavam meus pensamentos. Até que cheguei a uma ideia
brilhante: na conferência falara-se de como algumas pessoas
afirmavam haver tido uma palavra de Deus quando abriam as
Escrituras. A ideia surgiu e vi nela uma maneira de sair daquela
situação complicada onde me metera. Diria ao meu pastor que havia
ouvido mal ou que, talvez, Deus me tivesse colocado à prova como
colocou Abraão quando lhe pediu para sacrificar seu filho, Isaque.
Deus só desejava colocar à prova a capacidade de Abraão obedecer-
Lhe. Deus somente quis provar a sua fidelidade a Ele. Tal como Deus
permitiu que Isaque ganhasse sua vida de volta, desse mesmo jeito
Deus permitia que eu voltasse para a minha. Ganhava minha vida de
volta como Isaque e ia trabalhar na fazenda completamente dedicado a
Ele. Mas, precisava confirmar isso com uma palavra abrindo as
Escrituras em qualquer lugar.
Também poderia usar o mesmo argumento com minha mãe. Fazendo
isso, tudo se encaixaria dentro da verdade que eu supunha. Ninguém
iria discutir mais comigo e todos concordariam com os argumentos
apresentados. Resolvi afastar-me dali um pouco sentei-me em cima
duma rocha. Só precisava pedir a Deus uma palavra na Bíblia, onde
ela se abrisse. Peguei em minha Bíblia e expliquei ao Senhor como Ele
havia de proceder comigo, e como devia dar-me uma palavra que
revertesse toda a minha decisão. Expliquei-Lhe o queria de minha
vida. Eu iria trabalhar numa fazenda minha e usaria o meu dinheiro
para suportar a igreja e os missionários. A minha casa estaria à
disposição de Deus para estudos bíblicos, reuniões de oração e
quaisquer cultos. Expliquei a Deus tudo que sentia nos mínimos
detalhes. Era isso que desejava para a minha vida. Então, orei:
“Senhor, não desejo fazer todas estas coisas sem Ti. Preciso da Tua
bênção sobre a minha decisão e sobre tudo que irei fazer por Ti.
Agora, preciso que me dês uma palavra para confirmar todos estes
planos que tenho e os quais compartilhei contigo”. Atrevi-me a abrir a
Bíblia na esperança que algum versículo se destacasse e estivesse em
negrito. Mas, foi um desapontamento total. Os meus olhos caíram
sobre um versículo de letras normais no lado direito da Bíblia. Como
isso aconteceu não sei dizer, mas, vi aquele versículo: “Vinde após mim
e eu vos farei pescadores de homens”, Mat.4:19.
Fiquei zangado e fechei a minha Bíblia com estrondo como se tal coisa
fosse capaz de tirar de mim aquelas palavras que não desejei ver ao
abrir a Bíblia daquela maneira. Eu estava a ferver por dentro e na
minha raiva disse: “Senhor, vou-Te mostrar que eu não farei isso! Eu
não me tornarei pescador de homens nenhum! Eu não quero isso para
a minha vida e prefiro passar pela vida sem Ti do que fazer isso!”
Voltei para o lugar das conferências, arrumei as minhas coisas e disse
ao meu pastor de forma grossa e curta que estava voltando para os
meus pais na província do Natal. Ele ficou tranquilo e não me disse
nada. Mas, passado um pouco de tempo acabou por me dizer:
“Erlo, tens a certeza que essa é a vontade de Deus para ti?”
“Sim, claro que tenho!” disse-lhe e tornei a confirmar-lhe uma
vez mais.
“Então, não desejo tornar a falar sobre este assunto contigo.
Quero que seja a última vez”.

Foi dessa maneira que consegui enganar meu pastor e mentir-lhe. É


uma coisa inexplicável que um crente tenha a coragem de mentir
daquela maneira! Naquele dia apercebi-me como o coração do homem
pode tornar-se tão mau de um momento para o outro. E eu já me podia
considerar um filho de Deus.
O meu pastor levou-me para a estação para apanhar o transporte para
casa. Antes de partir, ele ligou para os meus pais para informar que
chegaria à estação de Pietermaritzburg às seis horas da manhã
seguinte. O meu pai e os meus irmãos foram buscar-me. Assim que nos
encontramos na estação, um deles disse alegre: “É tão bom que estejas
de volta! O nosso Deus é verdadeiramente um Deus de amor!”
Naturalmente que os meus irmãos não conseguiam imaginar nada do
que se passava dentro do meu coração. Eu sabia muito bem que não
havia sido aquele Deus de amor que me trouxera de volta! Estava em
rebeldia e em oposição a Deus. Virara as minhas costas a Ele e havia-
Lhe dito que não desejava seguir o Seu caminho para a minha vida.
Uns dias mais tarde, encontrava-me sozinho com minha mãe e ela
perguntou-me de repente: “Erlo, o que aconteceu? Tu primeiro
disseste-nos que o Senhor havia-te chamado para trabalhar na Sua
vinha e agora voltaste atrás. Por que razão fizeste isso?”
O que poderia dar como resposta ali a uma pergunta tão direta? Não
tinha palavras para responder-lhe. A única coisa em que pensei foi
fazer chantagem emocional: “Mãe, se a senhora não me quiser mais
aqui, basta dizer!” Saí dali abruptamente e enfurecido, batendo a
porta atrás de mim.
Isso também significou o fim dos cânticos e de ler a Bíblia. Não tocava
mais na Bíblia. Os dezoito meses que se seguiram foram, para mim, o
inferno aqui na terra. Eu tinha de reconhecer que desobedecer a Deus
é dez mil vezes pior que obedecê-Lo. Uma decisão contra Deus leva-nos
por um caminho muito difícil. Nunca mais quero passar por tal coisa.
Dizemos com frequência: “O preço que se paga para seguir Deus é
muito alto para mim. O sacrifício é grande demais! Não consigo pagar
todo esse preço”. Mas, podem crer em mim que o preço da
desobediência é maior e mais difícil. Após dezoito meses, entrei em
meu quarto para ajoelhar-me. Pela primeira vez depois daquela
guerra terrível haver começado, peguei em minha Bíblia novamente. O
meu olho caiu, novamente, sobre um versículo específico que falava do
amor de Deus por mim. É muito difícil explicar o que se passou em
meu coração entorpecido e destroçado naquele momento. Muito triste,
dizia ao Senhor: “Senhor, como é possível ainda teres amor por mim?
Mesmo tendo esbofeteado Teu rosto e de ter virado minhas costas para
Ti, ainda assim me amas!” Não consigo descrever aqui tudo que se
passou, mas, resumindo, posso dizer que o amor de Deus desarmou-me
completamente. Meu coração insensível ficou partido e toda a
resistência desapareceu como nevoeiro diante do sol quente. Chorei
como uma criança e nunca consegui entender como o Senhor ainda
tinha amor por mim. Logo a mim que o magoou tanto. Naquele
momento experimentei o que é, realmente, o amor de Deus.
Uns dias depois, tornei a abrir a minha Bíblia onde lia: “Simão, filho
de Jonas, amas-Me mais do que estes?”, João 21:15. Era como se o
Senhor estivesse ali do meu lado perguntando: “Erlo, amas-Me
realmente?” É verdade que amava meus pais, meus irmãos, a casa de
meus pais e a fazenda. Mas, agora o Senhor perguntava-me se O
amava a Ele. Sim, eu amava o Senhor, nem teria como não amá-Lo.
Pedro respondeu-Lhe: “Sim Senhor, Tu sabes que te amo”. E o Senhor
respondeu-lhe de volta: “Apascenta as minhas ovelhas”. O Senhor
tornou a perguntar a Pedro se o amava. Pedro tornou a pensar e a
responder da mesma forma. E Jesus disse-lhe para apascentar as Suas
ovelhas. Mas, na terceira repetição, Pedro entristeceu-se com a
pergunta e clamou: “Senhor, Tu sabes todas as coisas, sabes que Te
amo”. E foi assim que aconteceu comigo, também. E Jesus respondia:
“Apascenta as minhas ovelhas!” Bastou para mim. Levantei-me de
meus joelhos, fui ter com minha mãe e disse-lhe: Mãe, agora vou
começar uma nova vida!”
Logo de seguida, procurei meu pastor e disse-lhe que as minhas
dúvidas haviam chegado ao fim e que toda a guerra interior dos
tempos anteriores havia sido encerrada. E foi assim que comecei uma
vida completamente nova. Inscrevi-me, de imediato, numa Escola
Bíblica e, desde então, nunca mais tive qualquer dúvida sobre o
chamado de Deus.
DOZE ANOS NO DESERTO
Antes de ter iniciado o meu ministério em 1951, eu ainda disse uma
coisa ao Senhor que me traria grandes problemas no futuro.
“Senhor, este passo que estou dando está-me custando um preço muito
alto. Estou deixando os meus pais, a minha herança, os meus irmãos e
irmã, tudo que possuo ou que poderia considerar como meu. Por essa
razão oro e peço que, por causa do Teu nome e onde eu andar Contigo
por esta terra, eu não esteja brincando às igrejas. Eu saio nessa
condição. Se saio para pregar o evangelho, quero fazê-lo da maneira
que Tu fazias e não me importa onde isso aconteça. Mesmo não
trabalhando numa igreja de tijolo, que seja nas montanhas, no campo,
eu desejo pregar da maneira que vem nas Escrituras. É dessa maneira
que desejo servir-Te. E que as Tuas promessas e a Tua Palavra se
manifestem em minha vida e se cumpram da maneira que vem na
Bíblia. Da maneira que Tu pregavas e ensinavas as pessoas quero eu
ensinar e pregar também, porque dizes na Tua Palavra: “Assim como
o Pai me enviou, também eu vos envio a vós”, João 20:21”.
Quando terminei os meus estudos no Seminário, aconteceu algo
inesperado. O Senhor abriu uma porta para ir pregar entre os Zulus.
Nós vivíamos no meio dos Zulus, mas, eu nem sequer falava Zulu. De
todos em minha família, eu era o mais fraco nesse aspecto, pois, era de
todos o que menos conseguia expressar-me em Zulu. Por essa razão, eu
não conseguia entender muito bem por que razão Deus me enviava
para o meio dessa tribo. Fiz o seminário numa escola branca e agora o
Senhor abria uma porta entre os negros Zulus. Era claro que Deus
tinha outros planos diferentes dos meus. Mas, como eu amava ao
Senhor, desejava fazer a Sua vontade. E foi assim que me tornei um
missionário entre os Zulus.
Durante muito tempo, os Zulus escutaram a minha mensagem, mas,
diziam: “É verdade, o Cristianismo é uma coisa excelente. O
Cristianismo trouxe-nos coisas muito boas. Existem escolas, hospitais e
até podemos tornar-nos pessoas qualificadas. Contudo, o Cristianismo
ainda é uma coisa estranha para todos nós. Continua sendo a religião
dos brancos, feita para os brancos. É a religião deles, é a sua tradição.
Vocês, os brancos, têm os vossos Deuses: Deus Pai, Deus Filho e Deus
Espírito Santo. Mas, nós temos os nossos espíritos e todos eles também
têm nomes. Mesmo que o Cristianismo não seja uma coisa má na
generalidade, ainda assim não basta para nós. Não serve. Para nós é
como uma água que se joga em cima do fogo para apagá-lo. O
Cristianismo até apaga o fogo, mas, não tem poder para alcançar as
raízes das nossas vidas e da nossa cultura. Por isso é que necessitamos
manter os nossos deuses e precisamos manter as tradições dos
sacrifícios aos espíritos que herdamos de nossos pais e antepassados”.
Os Zulus também me diziam: “O Cristianismo é uma coisa boa. Mas, é
pena que queiram pregar para nós, trazendo o evangelho, para nós, os
negros. Seria muito melhor para vocês levarem essas palavras aos
brancos para que eles se convertessem primeiro! Nós trabalhamos
para os brancos e bem sabemos como eles são. Brigam muito e ficam
zangados e impacientes por tudo e por nada! Eles tratam mal e xingam
muito facilmente. São pessoas que não têm amor. Não vemos esse amor
neles”. Alguns iam mais longe ainda e diziam-me: “Nós não te
queremos mais aqui. Vai pregar para os brancos! Vai ver as coisas que
eles fazem! Eles vão aos cinemas, bebem muito, fumam, são imorais. E
tu vens pregar para nós para nos converter? Por que razão não se
convertem vocês? Se vocês se converterem de verdade, poderíamos ver
mais claramente o que o vosso evangelho significa e que ele funciona!”
Seis anos depois de haver começado esse ministério, orei a Deus muito
intensamente e disse: “Senhor, dá-me a sabedoria e o poder do Espírito
Santo para eu poder convencer este povo que Tu não és somente Deus
dos brancos, mas, que és Deus de todos os povos e que Jesus morreu
para salvar qualquer pessoa. Que possam ver que Jesus, o Filho do
Deus vivo, é Salvador para todo mundo e para toda a humanidade.
Que saibam que ninguém chega ao Pai senão por Jesus”. Logo de
seguida, preparei-me exaustivamente para trazer-lhes uma mensagem.
Nessa época, assistiam às pregações centenas de pessoas. Eles
chegavam de todos os lados. Comecei pelo Velho Testamento e revelei-
lhes como os profetas já falavam antecipadamente no Messias e
previam a Sua vinda; como Jesus veio de uma maneira muito invulgar
havendo nascido de uma virgem; como Jesus ainda com doze anos de
idade se sentava no Templo argumentando com os doutores da Lei.
Prossegui falando do seu batismo, das tentações no deserto, do Seu
ministério na terra e sobre a Sua morte em Golgota para reconciliar o
mundo com Ele. Prossegui falando sobre a maneira como ressuscitou
dos mortos e como subiu aos céus. Afirmei que agora encontrava-se à
direita do Pai e que todo poder no céu e na terra Lhe havia sido dado.
E frisei, ainda, que nenhuma pessoa aqui da terra pode ser ajudada ou
guardada sem ser pelo nome de Jesus. Não existe outro nome no céu e
nem debaixo na terra que nos possa preservar em segurança. E Ele
voltará um dia para julgar os vivos e os mortos, (continuei) e todo
aquele que n’Ele crê nunca será condenado com a morte eterna. Tentei
de tudo para convencer os meus ouvintes que Jesus era a única saída, o
caminho, a verdade e a vida e que ninguém se salvaria a não ser
através do nome d’Ele. Finalizei a minha mensagem com as seguintes
palavras: “Jesus é o mesmo hoje, ontem e será para sempre a mesma
pessoa. Tudo muda, mas Jesus nunca mudará. Ele ainda é o mesmo
que era dois mil anos atrás. Por isso, não precisam ir aos feiticeiros,
aosizinyanga e izangoma e não precisam procurar contatos com os
mortos. Venham a Jesus, a Ele que vence a morte e que ressuscitou e é
o Deus dos mortos e dos vivos. Venham a Jesus com vossos pecados,
necessidades e problemas. Deixem os mortos, pois, existe um Deus
vivo! ”
Não tinha a menor suspeita do que aconteceria depois deste sermão.
Não imaginei onde me havia metido. Uma pessoa presente no culto
escutava atentamente as minhas palavras. Assim que o culto terminou,
aquela senhora Zulu, de idade avançada, chegou e disse:
“Mfundisi (Pastor), diga-me: isto tudo que o senhor acabou
de dizer é mesmo verdade? É mesmo assim como o senhor
disse?”
“Claro que sim!” respondi. “A senhora pensa que inventei
tudo isto e que estas coisas vêm da minha cabeça? Ou não
sabe que quando servimos ao Senhor já não podemos
mentir? Tudo o que disse aqui é mesmo a verdade!”
“Jesus, o Deus dos brancos, está mesmo vivo? Ele é um Deus
vivo?”
“Sim, Ele é o Deus vivo”.
Ela perguntava: “Ele ainda faz hoje aquilo que fazia dois
mil anos atrás?”
“Sim, claro que faz!”
“O senhor tem como falar com Ele?”
“Sim, claro que posso. Nós, os Cristãos, chamamos a isso
oração. Qualquer pessoa pode orar”.
A senhora exclamou sorridente: “Como estou feliz! Hoje
encontrei uma pessoa que serve um Deus vivo! Eu tenho
uma filha, já adulta, que se encontra completamente
possessa de demónios. O senhor pode falar com Deus para
curá-la?”
“Sim, posso!”
Com aquelas últimas palavras eu amarrei-me e comprometi-me. Toda
a minha coragem e determinação ficaram à deriva. “Ó Erlo”, comecei
a ralhar comigo próprio, “és tão burro como um filho de jumento!
Agora metestes-te em uma enrascada muito grande! Por que razão não
deixaste uma abertura no teu sermão por onde pudesses escapar e
livrar-te de coisas destas? O que vais fazer agora? Como vais livrar o
teu couro desta situação?” Na verdade, aquilo serviu de lição para
mim. Muitos pensamentos cruzaram a minha mente naquele momento.
Pareciam raios passando pela minha cabeça. Como reagiria a senhora
se lhe perguntasse se ela realmente achava que Jesus queria ajudar a
sua filha? Mas, surgiu logo um segundo pensamento: “Erlo, tu
acabaste de dizer às pessoas que viessem a Jesus com qualquer tipo de
problema e que não procurassem os izinyanga e os izangoma.“ Mais e
mais pensamentos contraditórios surgiam do nada. Talvez aquela fosse
a cruz que a mulher tivesse de carregar o resto da vida! Essas coisas
podem acontecer por esse tipo de motivo! Ou talvez não seja a vontade
de Deus curá-la! E certas coisas devem acontecer apenas no tempo
determinado de Deus! Será que era esta a altura certa de curar a
moça? “Ó pobre mãe”, pensava em mim, “se fosses uma mãe branca
ou europeia poderíamos facilmente chegar a um acordo e
conversarmos inteligentemente sobre este assunto. Mas, és uma mulher
simples de África e pensas como uma criança sem qualquer
experiência e sem conhecimento dos fatos desta vida!”
Isso eram coisas que passavam pelos meus pensamentos como
relâmpagos. Na verdade, aquela senhora simples vinha a Jesus com
uma fé pura de criança. Era dela que o Senhor falava quando dizia que
alguém devia crer como um daqueles pequeninos! O problema aqui
era eu. Não era ela quem tinha o problema. Mas, o que eu deveria
fazer naquela situação? Eu não queria, de maneira nenhuma, que ela
pensasse que havia-se metido num beco sem saída. Então, permaneci
calmo exteriormente, o mais calmo que podia transparecer. Deixei
passar o tempo para que conseguisse achar as palavras. “deixando
passar o tempo, chega o conselho”. Resolvi fazer-lhe umas perguntas.
Perguntei onde se encontrava a filha dela, se estava ali.
“Não, ela não está aqui”, respondeu prontamente. “Ela está
em casa. Vivo a 1 km daqui. Podemos ir de carro metade do
caminho e, o resto do caminho, temos de caminhar”.
“Certo”, disse. “Eu vou consigo até lá”
Enquanto íamos a caminho, a senhora começou a contar-me aquilo que
verdadeiramente se passava. Ela era viúva há quatro anos, o seu filho
trabalhava em Durban e ela vivia junto com a sua nora e com aquela
filha possessa e louca. Por fim, chegamos à sua cubata e eu pude entrar
para ver a moça. Olhei e fiquei em estado de choque. “Mas, a senhora
não me contou a metade daquilo que estou a ver!”
No centro das cubatas dos Zulus existe sempre um pau que serve de
pilar para sustentar a cubata. Haviam amarrado a moça possessa
naquele pilar. Mas, amarraram-na com arames de aço e esses arames
já haviam cortado a sua pele e carne. Os ferimentos sangravam e já
existiam muitas cicatrizes nos pulsos e nos braços dela onde ferimentos
antigos haviam sarado. Alguns desses ferimentos ainda não haviam
sarado completamente. A moça possuía uma força inexplicável com a
qual tentava libertar-se das suas cadeias. O arame de aço cortava a sua
carne como uma faca. E ela falava numa língua estranha que ninguém
entendia.
“Há quanto tempo é que a amarram assim, deste jeito?”
Perguntei.
“Há três semanas. E ela fala todo tempo nessa língua que
ninguém entende. Fala noite e dia sem parar. Não come, não
dorme e se lhe damos algo para comer, ela agarra no prato e
atira contra a parede”.
“Por que razão não tentam usar algo menos cortante para
amarrá-la? Não podem usar cordas?”
“Não funciona”, suspira a mãe. “Já tentamos tudo. Ela
rebenta com a corda mais forte que temos. E quando se
solta, quebra tudo que encontra, sai correndo e foge. Depois,
torna-se tarefa impossível trazê-la de volta. Ela corre por aí
como um animal feroz de cubata em cubata e pelos campos e
terrenos dos vizinhos. Onde passa, arranca as plantas, o
milho, repolho e tudo que encontra. Os homens da tribo
perseguem-na com paus e batem nela com muita força. Ela
foge para as montanhas e não a vemos durante muito tempo.
Apanha chuva, está sujeita aos relâmpagos (*), apanha
muito frio e eu, como sua mãe, não sei mais onde encontrá-
la!” (* Nota do tradutor: os zulus temem muito os
relâmpagos).
A senhora olhou para mim com lágrimas nos olhos.
“O senhor tem noção do que acontece dentro do coração
duma mãe que tem uma filha assim? Se ao menos ela
morresse, seria muito melhor! Era preferível a morte a viver
desta maneira!”
Ela acalmou-se um pouco e conseguiu continuar a sua descrição.
“A minha filha rasga a roupa toda e anda nua pelos campos.
É muito perigosa. Quando morde alguém, os seus dentes
penetram fundo e ela não larga até arrancar carne. Quando
alguém tenta libertar as suas vítimas, ela não abre a boca.
Por essa razão, as pessoas trancam-se em suas cubatas
quando a vêm aproximar-se. Se ela corre para a escola, as
crianças pulam pelas janelas em pânico e fogem para tudo
que é canto. O diretor da escola já convocou os professores
para informar que esta situação não pode continuar assim”.
Em tom de choro, mostrou-me o seu kraal.
“Já não tenho uma vaca sequer, nem uma ovelha ou cabrito.
Já sacrifiquei tudo aos nossos antepassados e aos espíritos.
Não tenho mais nada para sacrificar. O que não sacrifiquei,
tive de vender para conseguir dinheiro para pagar
os izinyanga. Eles pedem muito dinheiro para as suas
feitiçarias. E, depois de receberem, dizem que os nossos
deuses não conseguem ajudar minha filha. Agora estou
muito pobre. Todo o meu dinheiro acabou e até eu estou no
fim das minhas forças. Sabe, Mfundisi, já peguei algumas
vezes numa faca para matar minha própria filha. Estava em
desespero. Mas, era como se alguém me dissesse para não
fazê-lo e que era um grande pecado. Depois, queria dar um
fim à minha própria vida. Mas, quem cuidaria da minha
filha? O que aconteceria com ela? Mas, agora estou muito
feliz! Finalmente encontrei alguém que serve o Deus vivo.
Agora sei que a minha filha vai ser finalmente curada e
tratada!”
Aquelas últimas palavras penetraram em mim como uma espada.
Cortaram meu coração. Quase rompi em lágrimas. Ali lembrei as
palavras de Gideão: “O que é feito de todas as suas maravilhas que
nossos pais nos contaram?”, Juízes 6:13. No meu interior clamava ao
Senhor: “Senhor, faz um milagre! Tu tens o poder para ajudar esta
pobre infeliz e de curá-la”. Prometi à senhora que voltaria e que iria
procurar todos os meus amigos e cooperadores para contar-lhes o que
se passava. Desejava saber se eles iriam orar comigo pela moça. Todos
concordaram em fazê-lo e chegaram a prometer colocar de lado todo
tipo de trabalho para ajudarem na intercessão.
“Sabem”, dizia-lhes eu, “há seis anos que oramos por um
avivamento e ainda não aconteceu nada. Quem sabe se é isto
que precisávamos, a tal fagulha que irá causar o incêndio. Se
esta moça for curada, pode ser o início de um avivamento
porque toda a tribo conhece-a. Que grande vitória poderá
ser esta para o Senhor Jesus diante de todo o povo! Assim,
os Zulus saberão que Jesus é realmente o verdadeiro Deus
de toda a humanidade”.
Fui até à nossa fazenda e perguntei aos meus pais se não
disponibilizariam um quarto durante todo tempo que estivéssemos
orando e intercedendo pela moça. Concordaram em ajudar e eu,
juntamente com outros homens, levamos a moça enraivecida para a
casa de meus pais. Toda a tribo estava a par de tudo que se passava e
comentavam todos sobre o que estávamos tentando fazer pela moça.
Mal a moça entrou no quarto, começou a quebrar as cadeiras e
derrubou a mesa. Decidimos, então, tirar tudo de lá e deixamos
somente a cama. Mas, até a cama ela tentou destruir e tirou as penas
do colchão que rasgou. Fomos obrigados a tirar a cama também. No
fim, colocamos somente uma esteira e umas mantas no chão. Ela bateu
nas grades das janelas arrancando e torcendo algumas. Em poucas
horas, o quarto transformou-se numa pocilga.
Durante três longas semanas estivemos orando e jejuando pela moça,
mas, ela não se curava. Ela cantava hinos satânicos que ela própria
compunha. Alguém aconselhou-nos a usar o nome de Jesus e de clamar
pelo sangue d’Ele. Assim, os demônios fugiriam. Mas, nem assim os
demônios se calavam. Pelo contrário, eles amaldiçoavam o sangue de
Jesus e blasfemavam sem problemas. Eram as coisas mais horríveis e
desprezíveis aquelas que os demônios diziam e faziam. A moça tirou
toda a sua roupa e sentou-se em cima dos seus próprios excrementos.
Com os seus pés descalços batia com tanta força no chão que se ouvia à
distância. Parecia que alguém batia no chão com uma marreta. Por
vezes, isso durava horas. As pessoas à volta não conseguiam suportar
aquelas pancadas no chão, muito menos a sua maneira estranha de
gritar e os hinos de blasfêmia que cantava em alta voz. Era como se a
moça fosse uma amostra do próprio inferno!
Após três semanas, eu estava no fim de mim mesmo. Estava prestes a
ter um colapso nervoso. Eu não tinha explicação para nada do que se
passava entre nós. Nós seguimos a Bíblia à risca, contudo, não
funcionou. A parte prática não batia com a teoria. Tudo aquilo que a
Bíblia diz na teoria é certo, mas, na prática não funcionava. Era um
amargo de boca que eu precisava engolir. Que mais podia fazer? Só
podia ir ter com a mãe da moça e confessar toda a minha incapacidade.
Como lhe diria que a sua querida filha não se havia curado? E toda a
tribo e toda a gente nas redondezas sabia que nós, os crentes,
estávamos orando pela moça. Todos eles haviam ouvido que nós
dizíamos para eles não irem pedir ajuda aos feiticeiros e que viessem a
Jesus com qualquer tipo de necessidade ou problema. Dizíamos que
Jesus nunca rejeitaria quem viesse a Ele. E agora, deveria ir ter com
aquela mãe e dizer que Deus nos mentiu? E não apenas a nós, mas, a
todos os que esperavam algo de nós e a quem pregávamos o nome de
Jesus. Isso eu não poderia fazer!
Com uma oração final, clamamos dizendo: “Ó Senhor, não é o nosso
nome que está em causa aqui. É o Teu nome que ficará mal visto. Tem
tudo a ver com a manifestação do Teu poder e de toda a Tua
autoridade. O que comentarão todos os pagãos que vierem a saber de
tudo que se passou aqui se enviarmos a moça tresloucada de volta sem
estar curada? Ó Senhor, não queres operar e conceder-nos um milagre,
não para nossa glória, mas, por causa da Tua glória e do Teu nome?”
Todas as nossas súplicas eram em vão e nada de bom acontecia. Deus
estava mudo e escondido nos Céus. Era terrível para todos nós. Eu não
tinha mais nada a fazer senão ir conversar com aquela mãe e
reconhecer que não conseguíamos ajudá-la. Era uma coisa muito difícil
para mim e orei ao Senhor com muita firmeza e seriedade: “Senhor, já
não tenho coragem para olhar estas pessoas de frente. Preciso ser
totalmente sincero com elas. Como é que poderei continuar a pregar
para elas se eles próprios são testemunhas que a realidade é diferente
daquilo que prego? E eu também não posso fingir e mentir para mim
mesmo. Também tenho uma consciência! Também preciso ser sincero
comigo próprio. Senhor, não tenho condições para continuar a
trabalhar nesta área. Se for possível, envia-me para outro lugar”.
O Senhor foi misericordioso comigo e eu pude ir para outro distrito,
para Hanover, para o lado da Costa Sul. Permaneci lá dois anos. Mas,
a partir de então já não conseguia crer na Bíblia toda. Não conseguia
acreditar que a Bíblia era realmente a Palavra inspirada de Deus e que
tudo que ela dizia era verdade. Talvez fosse parcialmente verdade,
mas, não tudo que vinha lá escrito. Contudo, estava certo que Deus não
era mentiroso. A convicção que nem tudo na Bíblia batia certo poderia
ter muitas explicações. Talvez por não haver editoras ou edições
impressas como temos hoje e por tudo haver sido escrito à mão e ter
andado de mão em mão, a Bíblia poderia conter erros e algumas
inverdades poderão ter sido colocadas por algumas pessoas que
ajudaram a escrevê-la. Talvez alguns versículos não fossem exatamente
aquilo que originalmente foi dito por Deus. Se fosse assim, havia
explicação para o que sucedeu conosco. Para mim, havia muitas coisas
na Bíblia que batiam certo. Contudo, havia outras que não. A partir de
então, sempre que pregava, escolhia as porções que me convinham
mais e aquelas que faziam sentido para a minha experiência pessoal.
Todas as porções das Escrituras que não batiam com aquilo que
experimentava pessoalmente, eu procurava evitar.
Vou citar um exemplo. O Senhor Jesus disse à mulher Samaritana:
“Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; mas, aquele que
beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu
lhe der se fará nele uma fonte de água que salta para a vida eterna”,
João 4:13-14.
Aos meus olhos, havia ali um erro qualquer. Havia algo que eu não
entendia muito bem. Como pregador já havia viajado muito por
muitos lugares, visitado muitas igrejas e congregações. Centenas de
pessoas haviam-se entregado a Jesus e vieram beber naquela fonte de
água viva que Jesus dava. Bebiam daquela água, mas, continuavam
tendo sede. Entre só nas casas dos crentes e verifique por si mesmo.
Veja quantas coisas do mundo encontra em suas casas, quantas
revistas, quantos romances e outras coisas que significam prazer – até
mesmo livros e material pornográfico e sobre sexo. Conhecia homens
jovens que não conseguiam passar por uma livraria sem olhar para as
mulheres expostas nas revistas e jornais. Muitos ainda compram tais
coisas, levam para casa e escondem-nas de seus pais. E são jovens que
afirmam crer em Jesus e que beberam da água viva! Contudo, ainda
demonstram ter uma sede que tentam satisfazer com as coisas do
mundo. Os seus tesouros são terrenos e perecíveis.
Será que existe alguma pessoa que tenha mais sede que os próprios
crentes? Quantos deles não só desejam ter o mundo, mas, ainda
desejam pecar? Talvez, a maioria deles não ceda ao pecado
abertamente, mas, fazem-no mais que os outros em secreto e quando
ninguém os vê! Existem crentes que desejam fumar, outros desejam e
bebem álcool e muitos outros praticam e desejam os pecados horríveis
do sexo. Alguns filhos de crentes exigem saber dos pais por que razões
não podem frequentar as discotecas da mesma maneira que os seus
amigos do mundo frequentam. “Por que razão”, dizem, “não podemos
levar uma vida igual à que o mundo leva?” Os pais crentes têm uma
enorme dificuldade em criar seus filhos na fé e ainda se dizem crentes.
Fazem tudo isso e ainda se dizem evangélicos! Contudo, a Bíblia diz
assim: “Não ameis o mundo nem o que o mundo tem”, 1 João 2:15.
Olhem um pouco para os crentes e comparem-nos com as pessoas do
mundo! Conseguem ver alguma diferença entre eles? E em Romanos
12:1 lemos: “Não sejam iguais a este mundo, mas, sejam transformados
pelo conhecimento da vontade de Deus”. Aqui as Escrituras dizem-nos,
sem sombra de dúvida, que nunca nos devemos perder no mundo e
nem entregarmo-nos a ele em nenhum aspecto. Mas, qual é a situação
dos crentes? Em que estado é que eles se encontram?
A minha conclusão final era que as pessoas continuavam com sede
depois de haverem bebido uma vez da água viva. Por essa razão, eu
achava que Deus não poderia ter afirmado aquilo. Como Deus não é
mentiroso, só podia ser um dos erros nas Escrituras. Concluí que
aquele versículo havia sido mal escrito e que Jesus não poderia ter dito
aquilo daquela forma. Assim, eu encontrava muitos versículos nas
Escrituras que, na minha opinião, os crentes atuais não podiam
interpretar literalmente da forma que vinha explícito. Não deviam
levar a sério certas partes das Escrituras. De acordo com a minha
experiência, ninguém podia ter o livro dos Atos dos Apóstolos como um
livro para os dias atuais. Aquilo foi para uma era, até o final do
primeiro século, talvez. É verdade que eu tinha conhecimento de ter
havido alguns avivamentos aqui e ali, mas, também eram coisas
esporádicas e coisas do passado. Não estávamos ali clamando por um
avivamento de todo coração? Tanto pedimos e tanto imploramos que já
estávamos cansados e exaustos de clamar!
Com o decorrer do tempo, um cooperador disse-me:
“Erlo, precisamos orar por um avivamento”.
Eu já havia aprendido a lidar com uma situação dessas e olhei
diretamente para ele e respondi-lhe:
“Meu querido irmão, estás sendo extremista! Eu já fui assim,
já pensei dessa maneira. Nós já oramos por um avivamento
de todo o nosso coração e nada aconteceu. Provavelmente, os
avivamentos só aconteciam no passado devido ao amor e à
entrega dos crentes daquelas épocas. Mas, hoje isso já não é
possível. Não mais. Espero que, em breve, esta verdade que te
falo te seja revelada para que consigas alcançar a maturidade
espiritual”!
Conseguem ter uma ideia daquilo que se passava comigo? Permitia que
as minhas próprias conclusões me levassem por caminhos errados e
para conclusões torcidas. No decurso dos anos, apercebi-me (como você
certamente já deve ter-se apercebido também), que no mundo existem
congregações e denominações que colocam suas coisas preferidas e
ensinos prediletos como bandeira. Pastores na América davam uma
enorme ênfase à fé. “Creia, basta crer!” Para eles não importa o
verdadeiro estado do coração: basta crer. Quando ouvi isso, imaginei
que fosse essa a coisa que me faltava. Poderia ser esse o segredo que eu
ainda não havia descoberto. Quem sabe era a chave para resolver o
imbróglio onde me encontrava. Seria essa a chave que buscava há tanto
tempo? Talvez o avivamento ainda não me tenha sorrido por minha fé
ser pequena! Aquele pensamento dava-me novo alento e resolvi
comprovar a sua veracidade, imaginado que, aquele que não arrisca,
também não alcança.
O meu sermão seguinte foi sobre fé. Repetia uma vez atrás da outra
que era necessário termos fé. De todo o meu coração e com toda a
minha convicção eu afirmava que a fé era a coisa mais importante: “Se
crermos, se tivermos fé, podemos mudar as montanhas do seu lugar!”
Sabe o que aconteceu a seguir? Na audiência haviam pessoas que
tinham um cego em casa. Quando me ouviram dizer que através da fé
poderíamos experimentar e ver a glória de Deus, ficaram muito felizes.
Logo após o culto foram até casa buscar o seu pai cego e disseram-me:
“O senhor disse ali no culto que não existe coisa impossível
para quem tem fé. O nosso pai está cego. O senhor pode orar
para que se cure?
“Sim, claro”, respondi. Mas, em meu coração estava com
ansiedade de ver onde aquilo ia terminar. Não exteriorizava
nada da minha intranquilidade. “Vocês também crêem que
Deus pode fazer isto?”
“Mas, é claro que cremos, pastor!”
“Está bem. Sabem, é que o Senhor Jesus sempre perguntava
aos doentes que vinham a Ele se eles criam que Ele era capaz
de curá-los”.
Daquela maneira, eu poderia consolar-me e justificar-me caso o
homem não ficasse bom. No mínimo, aquelas pessoas iriam sentir-se
meio culpadas caso nada acontecesse e não somente eu. Pedi para
voltarem lá pela tarde para orarmos. Entretanto, eu usei todo aquele
tempo para reunir toda a fé que podia reunir para que eu estivesse
pronto assim que chegassem. Eu raspava todo pedaço de esperança e
de fé, para acumulá-la no meu coração. Eu desejava muito que a minha
fé se tornasse tão grande como uma montanha. Não pensei nas
palavras de Jesus que diziam: “Em verdade vos digo que, se tiverdes fé
como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para
acolá e há-de passar; e nada vos será impossível”, Mat.17:20. É pena
que os crentes troquem as coisas e queiram que a fé é que seja como a
montanha e a obra pequena! Gostam muito de trocar as coisas e de vê-
las ao contrário. Os crentes fazem a fé ser do tamanho da montanha
para moverem a pequena semente de mostarda!”
As pessoas vieram conforme havíamos combinado. Eu havia-me
preparado e tinha esperança que aquelas pessoas também tivessem
reunido toda a fé que lhes fosse possível para podermos orar com
eficácia. Após havermos orado, abri meus olhos rapidamente para ver
o que havia acontecido. Fiquei bastante admirado vendo o homem
ainda cego. Continuava cego! Abanei a minha cabeça e não conseguia
entender por que razão as coisas aconteciam daquela maneira. Eu
estava mesmo cheio de fé e de esperança. Minha fé era intensa. As
pessoas voltaram para casa, desapontadas e eu fiquei sozinho, na
minha casa, com os meus pensamentos. Repetia uma vez atrás da
outra: “Senhor, eu não entendo! Verdadeiramente, não consigo
perceber!”
Depois desta má experiência com aquele homem cego, disse para mim
mesmo: “Agora é o fim Erlo! Já chega. Nunca mais tornas a fazer uma
asneira destas. Jumento idiota! Precisas aprender a ser cauteloso com
tuas palavras. Sempre que pregares, precisas ter uma porta de fundo
aberta por onde possas escapar para nunca mais caíres em situações
desconfortáveis como estas”. Depois disso, as minhas pregações eram
muito cautelosas, muito bem preparadas e muito mais cuidadosas.
E assim se passaram mais seis anos pregando o evangelho.
Normalmente, fazíamos os nossos cultos em uma tenda grande onde eu
pregava duas vezes por dia, de manhã e à noite. Quando mudava de
área, ficava por lá uns oito, nove, doze e, por vezes, catorze meses.
Trazia a palavra de Deus sem cessar. E sempre aconteciam as mesmas
coisas. No início havia umas cem pessoas nos cultos. Depois crescia
para duzentas, trezentas, quatrocentas, seiscentas pessoas. Depois
disso, começava a diminuir aos poucos até que no final do ano não
restavam mais que cem pessoas. Durante aquelas campanhas
exaustivas de evangelização, muitas pessoas convertiam-se ao Senhor.
Era usual que duas centenas de pessoas ou mais viessem à frente
entregar as suas vidas a Jesus. Também acontecia as pessoas que se
entregavam a Deus ficarem para trás depois dos cultos para se
arranjarem com Deus. Mas, uns meses mais tarde, tudo voltava àquilo
que era. Não se notava mais a mudança nas pessoas! Durante os
períodos de evangelização, chegavam a comprar centenas de Bíblias,
mas, as suas vidas não mudavam de maneira nenhuma. Talvez
houvessem exceções aqui e ali, mas, nada que se destacasse.
Durante aquele tempo, muitos pastores vinham perguntar-me como eu
conseguia reunir tanta gente nos meus cultos. Qual era o segredo do
meu ‘sucesso’, perguntavam-me. Eles só viam os números e aquilo que
era visível. Só não sabiam que eu era a pessoa mais infeliz deste
mundo! Eu sabia muito bem qual era o verdadeiro estado das coisas.
Sabia como as coisas começavam e como elas terminavam
eventualmente. Eu não entendia nada de tudo aquilo que se passava
comigo. Ainda por cima, havia um pensamento que me atormentava
continuamente e me mantinha sempre ocupado na mais profunda
tristeza e agonia. Sempre que erguia a minha tenda em algum local, eu
escolhia o lugar mais densamente habitado para que fosse mais fácil
atrair as pessoas para os cultos de evangelização. E confrontava-me a
mim mesmo e dizia: “Erlo, tu não és nada parecido com João Batista!
Ele pregava no deserto, longe de tudo que era cidade ou vila e em
lugares onde não viviam pessoas. Contudo, toda a Jerusalém vinha
ouvi-lo e não apenas Jerusalém, mas, todas as pessoas em lugares
distantes como Samaria, Judeia e arredores. E que fazes tu, Erlo?
Podes explicar-me? Tu vais para onde tem muita gente e nem mesmo
assim consegues atrai-las para a verdade!”
Perguntava a João em meus pensamentos: “João, como conseguias
isso? Qual era o teu segredo?” Eu não fazia a mínima ideia de como
tornar tal coisa possível e dizia para mim mesmo em forma de consolo,
mas, que não convencia ninguém: “Talvez João tivesse uma forte
personalidade que atraía pessoas. Ou talvez tivesse um dom que eu não
tenho, um dom de prender as pessoas às suas palavras”. Eu lia uma vez
e outra as palavras dele e ficava pasmado. E ficava-me perguntando se
havia mais alguém neste mundo com a mesma coragem de João, capaz
de confrontar as pessoas da maneira que ele confrontava. Eu dizia:
“João, se tivesses vivido no nosso tempo, certamente que te teriam
degolado ainda mais cedo do que fizeram no teu tempo!” Eu nunca
tinha visto um pastor falar ao povo daquela maneira que João falava.
Ele clamava e dizia que as pessoas eram “víboras”. “Raça de víboras,
quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois, frutos
dignos de arrependimento…”, Luc.3:7-8.
O que acontecesse nos tempos de hoje? Era isso que me perguntava. O
discurso de João não era atraente. Hoje, as pessoas chegam com um
sorriso, aceitam Jesus para se salvarem, vão para casa e, não tarda,
continuam com a mesma vidinha de sempre. Nada muda. Passados
alguns meses precisávamos convertê-las novamente. Qual era o segredo
de João Batista? Sabemos que a fonte o seu poder não consistia no fato
de comer gafanhotos no deserto! Ele não era convincente porque vestia
roupas de pobre, as quais eram amarradas por um cinto com cabelos
de camelo! Fazia milagres para atrair gente? Não temos qualquer
conhecimento de qualquer milagre que tivesse feito! Não curava
ninguém, os cegos não se curavam quando vinham a ele para ouvi-lo,
os coxos não ficavam curados. Qual era o seu segredo? De onde vinha a
sua virtude?
Aquele homem, João, falava contra o pecado. Mas, sabemos que isso
está fora de moda hoje. Não ‘podemos’ falar contra o pecado hoje.
Muitos pensam que falar assim é estar fora de época. Recentemente,
um pastor perguntou-me: “Erlo, quando pregas, qual é o teu tema? Se
eu prego sobre o pecado e se menciono certos pecados pelo nome, a
congregação sente-se mal e fica com mal-estar. Eles começam a mexer-
se nas cadeiras e ficam inquietos. Será que sou bobo continuando a
pregar dessa maneira?” Amigos, não foi para nos libertar de todos os
nossos pecados que Jesus veio morrer por nós? Por essa razão é que se
chamou “JESUS”, aquele que salva do pecado (Mat.1:21). Jesus deseja
que todo o seu povo fique consciente de cada pecado que comete. E o
homem que veio preparar o Seu caminho, fazia precisamente o mesmo.
Por que razão, então, as pessoas daquele tempo se aproximavam para
escutar aquelas palavras fortes e diretas de João? Por que razão
desejavam ardentemente ouvir as pregações dele? E por que razões
hoje não desejam ter esse tipo de pregação dentro das igrejas? Isso era
um enigma para mim. Eu não conseguia dar uma resposta clara a
nenhuma destas questões.
“Senhor”, orei, “dá-me este dom que João tinha. Preciso tê-lo
também”. Mas, apesar da minha oração ardente, na campanha
seguinte ficava tudo igual. Nada de diferente acontecia. Centenas de
pessoas vinham e muitas Bíblias eram distribuídas – eram até
compradas! Mas, no final, apenas umas tantas pessoas permaneciam
em Jesus.
Enquanto pensava e meditava nestas coisas, lembrei-me de uma coisa
que havia acontecido em minha vida antigamente. Em 1965 estive na
Namíbia, uma terra semi-deserta, muito seca. Lá não buscam ouro na
terra, pois, não é tão importante para elas. Se conseguirem achar água,
tem mais valor para elas que ouro. Enquanto estava de visita a um
fazendeiro daquelas bandas, ele mostrou-nos uma coisa interessante.
Mesmo ao lado de sua casa, fizeram um furo e encontraram muita
água. Colocaram uma bomba com a qual a extraíam. O fazendeiro
pegou numa caneca, tirou um pouco daquela água e deu-me a provar.
Dei um gole e tive de cuspir a água para o chão. Não era possível bebê-
la. O fazendeiro começou a contar-nos que havia muita água debaixo
da terra e que nem sequer precisavam furar muito fundo para
encontrar fortes correntes de água. Mas, quando encontraram aquela
água, ficaram felizes depressa demais. Estava saturada de sais minerais
e de outros compostos químicos. Era água má demais para alguém
conseguir beber. Então, decidiram usar aquela água apenas para fins
domésticos, como lavar roupa e louça. Mas, para seu desapontamento,
viram que as roupas apareciam furadas por causa dos compostos
químicos. O fazendeiro quis consolar-se regando as plantas e o jardim.
Mas, duas semanas depois estava tudo morto. Foi então que ficaram
com a certeza que não podiam usar aquela água para nada. Não tinha
nenhum proveito. Onde aquela água fosse usada, surgiam estragos
irreparáveis.
Assim que o fazendeiro terminou o seu relato, um pensamento cruzou a
minha mente tão veloz como um raio cruza os céus: “Escuta, Erlo. O
teu ministério é assim, desse jeito. Quanto mais tempo tu pregas, tanto
mais pessoas se afastam de ti. São cada dia menos pessoas em teus
cultos. Pregas e as pessoas morrem. A tua água é igual a esta, Erlo”.
Aquilo nunca mais me deu descanso e começou a devorar-me por
dentro como um câncer. “”Ó Senhor”, falei, “quanto mais prego e
quanto melhor tento pregar, mais me coloco em Teu caminho e
perturbo Tua obra! Ó meu Deus, o que mais devo fazer?”
E foi assim que decidi que, depois de doze anos de evangelista e de
missionário, eu não podia continuar daquele jeito. Só podia reconhecer
que durante todos aqueles anos de trabalho nada havia mudado. O
mundo continuava igual. Tudo era como um deserto muito árido.
Perguntei a mim mesmo: “Erlo, onde está o fruto destes doze anos de
trabalho? Podes enumerar pelo menos uma dúzia de pessoas que são
realmente fiéis ao Senhor e que se hajam convertido através do teu
ministério e de tuas pregações?” Eu tinha de reconhecer que era um
caso perdido. Não conseguia achar uma pessoa realmente fiel e
dedicada a Jesus depois de tanto tempo de trabalho! Será que valia a
pena continuar com aquele ministério que não produzia qualquer fruto
digno desse nome?
Não, de maneira nenhuma! Perdi meu tempo. Muitas pessoas
estiveram ganhando dinheiro e gozando as suas vidas. Por que razão eu
não poderia ter feito o mesmo? Por que razão havia eu de continuar
como um missionário pobre e sem sucesso na pregação, tentando
convencer as pessoas daquilo que na teoria era certo, mas, que na
prática não dava resultados? Se Deus ainda hoje é realmente o mesmo
e se a Sua palavra nunca mudará, por que razão a vida cristã é tão
pobre e tão questionável à luz das promessas de Deus? Eu orava, mas
não obtinha respostas às minhas orações. Eu batia e nada se abria.
Procurava e não achava. Estava à beira do desespero total.

QUANDO A PALAVRA DE DEUS SE TORNA VIVA


Chegamos a Mapumulo em 1966. É uma pequena vila mais ou menos a
100 km de Durban. Eu havia feito uma campanha de evangelização
naquela área em 1963 e centenas de pessoas haviam-se convertido na
altura. Desses convertidos, restou uma pequena congregação de cerca
de 130 pessoas. Todas as vezes que visitava aquela congregação, eu
precisava trazer a paz entre os membros. As pessoas de lá brigavam
muito e atiravam-se uns aos outros. Não se entendiam muito bem entre
eles.
Tornou-se claro, para mim, que Deus nunca iria operar em nosso meio
enquanto aquelas pessoas não restabelecessem a paz entre elas e
enquanto não reatassem relacionados. O Senhor necessita de canais
limpos e nós, os Seus filhos, precisamos ser esses canais. O nosso maior
problema não é os pagãos não conhecerem Jesus, mas, os crentes não
andarem nos caminhos d’Ele, fazendo tropeçar a verdade. É trágico,
mas, os crentes causam maiores estragos à obra de Deus que os pagãos
todos juntos. É desses crentes que a Bíblia diz que não são quentes e
nem são frios. Nas reuniões, dirigi-me a todos e disse:
“Sabem, amigos, ando pensando muito nos últimos tempos
sobre aquilo que eu disse a Deus em 1951 quando Ele,
inicialmente, chamou-me para a Sua obra. Eu havia dito que
sairia para pregar somente na condição de tornar-me um
verdadeiro evangelista e nunca alguém que brinca às igrejas.
Olhando para trás, agora, preciso confessar que todo o meu
ministério até ao momento não passou de um show, um circo.
Sinto-me espiritualmente falido e não tenho nenhuma
intenção de continuar assim”.
“Olhem para os lugares onde há festas e bailes”, continuei.
“Se vier uma banda nova, uma orquestra, vêm mais de
trezentas pessoas. Mas, num estudo Bíblico, não vêm mais
que 30 pessoas. Vão ver o que se passa nos campos de futebol.
Quantas pessoas assistem a um jogo e com que espírito? E
nos nossos cultos vêm cinquenta, talvez cem pessoas. Como é
que isso é possível se Deus ainda é o mesmo hoje, se o Espírito
de Deus ainda não mudou e se a Bíblia é, ainda,
verdadeiramente a Palavra de Deus? Se olharmos
atentamente para as teorias, ideologias e as doutrinas dos que
não são cristãos e onde eles colocam seus corações e
pensamentos com alegria e com determinação, comprovamos
que as suas ideias crescem, abundam, aumentam de volume e
seu sucesso expande-se. E a verdade diminui a cada dia que
passa! De acordo com as estatísticas, em 1945, a população do
mundo era 38% cristã. Mas, de acordo com as previsões, no
ano 2000 a população cristã será aproximadamente 10% ou
até menos. É um fato muito triste, mas, não deixa de ser uma
verdade. Na história deste mundo nunca houve uma época
com tantos pagãos como na atual. Se continuarmos desta
maneira, a verdade e a fé cristãs desaparecerão em breve e
para sempre”.
Aos que prestavam atenção àquilo que eu dizia, coloquei uma questão:
“Estão dispostos a reunirem-se todos os dias às sete horas da
manhã e todas as noites às seis horas para investigarmos a
Palavra de Deus com toda a atenção, para orarmos de todo o
nosso coração para buscarmos a Sua face? Quem sabe se
Deus nos dá ouvidos e se nos será misericordioso. Pode dar-se
o caso de começar a operar no nosso meio da Sua maneira e
da maneira que a Bíblia diz”.
Os crentes levaram a minha proposta a sério e concordaram em fazer
isso que pedia. Reuníamo-nos de manhã e ao fim da tarde. A partir
daquele dia, os nossos cultos nunca mais foram os mesmos. Pegamos o
nosso versículo em João 7:38: “Quem crê em mim como a Escritura
diz, do seu interior correrão rios de água viva”. Subitamente, algo
chamou a nossa mais profunda atenção.
Jesus pronunciou estas palavras no último dia da festa dos Judeus e no
início do capítulo lemos: “Depois disto andava Jesus pela Galileia; pois
não queria andar pela Judeia, porque os judeus procuravam matá-lo.
Ora, estava próxima a festa dos judeus, a dos tabernáculos. Disseram-
lhe, então, seus irmãos: Retira-te daqui e vai para a Judeia, para que
também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque ninguém
faz coisa alguma em oculto, quando procura ser conhecido. Já que
fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Pois nem seus irmãos criam
nele”. Foi aqui que Jesus respondeu dizendo algo muito valioso. “O
Meu tempo ainda não é chegado; mas, o vosso tempo está sempre
presente”. Nestas palavras existe um pensamento secreto, um tesouro
escondido. Isto significa que cada pessoa que deveras confia em Jesus e
realmente caminha com Ele não tem autoridade para andar conforme
quer e nem quando quer. Nem Jesus podia fazer isso. Ele era tão
dependente do Pai do Céu que só podia fazer aquelas obras nas quais a
boa vontade de Deus fosse clara. Só agia quando e conforme o Pai
orientava ou dizia para fazer. O próprio Senhor Jesus dá-nos, aqui, o
exemplo de que nunca podemos agir de autoria própria e que, sem Ele,
nada podemos e nada devemos fazer. Não podia dizer, sequer, aquilo
que o Pai não Lhe houvesse dito em segredo a cada momento da Sua
vida. O Senhor dá-nos, aqui, um cheirinho do que realmente significa
segui-Lo. Além do mais, tudo quanto façamos sem Ele nunca terá
qualquer valor diante de nosso Pai. Tal e qual Jesus era totalmente
dependente do Pai, nós devemos ser d’Ele. É bom que levemos estas
palavras muito a sério!
A Bíblia diz-nos o que aconteceu a seguir. “Mas quando seus irmãos já
tinham subido à festa, então subiu ele também, não publicamente, mas,
como que em secreto”. Durante a festa, Jesus teve a grande
oportunidade de dirigir-se ao povo ali presente. Mas, não fez isso, não
falou ao povo senão quando a festa já ia a meio. No último dia da festa,
Jesus clamou e disse: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem
crê em mim como a Escritura diz, do seu interior correrão rios de água
viva”, João 7:37-38. Mesmo tendo Jesus consciência que muitas
pessoas andavam buscando a Sua vida para matá-Lo, ainda assim
clamou no meio do povo e não se escondeu de ninguém. Ele clamou em
alta voz. É interessante ver qual a palavra usada no grego original
quanto a esta palavra “clamar em alta voz”. A palavra é “krazõ”. É
esta mesma palavra que é usada quando Jesus clamou na Cruz na hora
da Sua morte. “Cerca da hora nona, bradou Jesus em alta voz e
entregou o espírito”. Ele não falou baixinho no meio da festa onde
muitas pessoas O buscavam para matá-Lo. Aqui, vemos, claramente,
que Jesus tinha uma enorme necessidade interior pressionando-O do
lado de dentro para expressar-se diante do povo. E Ele só o fez no
último dia da festa. Algo, finalmente, explodiu em Seu coração. E é por
esta razão que devemos assumir que estas palavras seriam muito
importantes e que devemos prestar muita atenção a elas.
Enquanto Jesus clamava em alta voz, daquela maneira e com aquelas
palavras, não se estava importando com nada do que Lhe poderia
acontecer. Não se preocupou com as consequências. Para Ele só
importava que alguém cresse naquilo que dizia e que escutassem o que
dizia e estivessem totalmente atentos ao significado profundo das Suas
palavras. “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crê em
mim como a Escritura diz, do seu interior correrão rios de água viva”.
É fácil vermos aqui que Jesus não estava falando de umas gotas de
água viva. Falava de correntes de água viva, de rios fortes. Também
não falava de água normal, mas, de água viva. Se encontrarmos um rio
em pleno deserto, comprovaremos que o deserto transforma-se no mais
lindo jardim. Um rio tem esse poder. O que uma corrente de água viva
é capaz de conseguir num deserto seco e árido? E quase todas as
pessoas também sabem que ninguém consegue parar um rio em sua
força total. Quando um único rio está na sua máxima força e uma
barreira está diante dele, as águas sobem alto e passam por cima.
Ninguém consegue deter um rio. Um rio tem muita força e essa força
causa enorme pressão. Se a parede da barragem não ceder com a
pressão, a água galgará por cima dela. E as terras à sua volta serão
inundadas.
Espiritualmente falando, isto significa o seguinte: quando cremos em
Jesus do jeito que dizem as Escrituras, a vida de Deus fluirá de dentro
de nós como poderosas correntes de água viva. Tão fortes serão que
não existe qualquer coisa capaz de impedi-las na sua força. Nem as
paredes do ateísmo, nenhum mundanismo, nenhum poder conseguirá
impedir estas águas vivas de fluírem e de alcançarem aquilo que devem
alcançar. E tem mais: quanto maior for a resistência do inimigo, mais
forte se torna a força das correntes. E aqui lemos não apenas de um
rio, mas, de vários rios que fluirão a partir do nosso interior. Se é
impossível travar a corrente forte de um rio, imagine se alguém é capaz
de impedir a força de vários rios de água viva ao mesmo tempo!
Prestem atenção a um detalhe: as Escrituras não dizem aqui que estas
águas vivas fluirão a partir da vida de um pastor ou de um missionário
abençoado, mas, a partir de todas as vidas entregues a Jesus e de todos
aqueles que crêem n’Ele! Se você realmente confia em Jesus, isto aqui
está falando de si e não do seu pastor.
Quando, em 1966, começamos a ler as Escrituras com intenção de
investiga-las a fundo, começamos a perguntar-nos a nós mesmos como
é que era possível que nós, que tanto buscávamos estas correntes
poderosas de água viva, nunca as houvéssemos achado. Não é verdade
que quem busca acha? Mas, as Escrituras afirmam na sua
simplicidade que todo aquele que crê em Jesus terá estas correntes
fortes de água viva dentro dele e que se inundará tudo à sua volta. Nem
será preciso falar muito para isso acontecer! As próprias correntes de
água viva falarão por nós, em nosso lugar. Elas falarão por si. Coloquei
uma pergunta simples diante de todos ali presentes:
“Quem, aqui, crê em Jesus?”
“Eu creio”, disseram todos levantando o dedo sem excepção.
Mas, não é uma coisa admirável? Não seria de esperar que isto que
Jesus diz fosse verdadeiramente comprovado por nós também? Não
deveriam estar fluindo rios fortes de água viva a partir de nós? Estão
fluindo? Claro que não! Nenhuma das nossas vidas dava evidências de
qualquer corrente de água viva. A realidade da nossa vida não batia
com aquilo que as Escrituras dizem. E porque não? Ainda que cremos
em Jesus, estas coisas não estavam acontecendo conosco! “Estamos
perante um enorme problema, um enigma. Deveríamos ter estas
correntes em nós - era suposto termos isto que a Bíblia diz. Qual será o
nosso problema? Ou será que toda a nossa fé é um engano completo,
uma mentira?” Estávamos todos perplexos com o que nos estava
acontecendo! Nós sabíamos, sem sombra de dúvida, que críamos em
Jesus e que a Bíblia estaria falando de nós, ali. Sabíamos que éramos
crentes. Mas, havia alguma coisa que não estava batendo certo. De
repente, algo chamou-nos a atenção. “… Como dizem as Escrituras…”
Em Apoc.22:18-19 vem escrito o seguinte: “Eu testifico a todo aquele
que ouvir as palavras da profecia deste livro: Se alguém lhes
acrescentar alguma coisa, Deus lhe acrescentará as pragas que estão
escritas neste livro; e se alguém tirar qualquer coisa das palavras do
livro desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte da árvore da vida, e da
cidade santa, que estão descritas neste livro”. Uma oração de temor
surgiu dentro de nós: “Senhor, será que não estamos crendo do jeito
que dizem as Escrituras? Havemos torcido as Escrituras em algum
lugar? Não estamos conscientes de o haver feito propositadamente!”
Conforme íamos lendo e analisando as Escrituras, apercebemo-nos
deste pequeno detalhe: “…Como as Escrituras dizem…”. Ali estava o
segredo daquele versículo. Era um segredo de enorme relevância. Toda
a nossa visão mudou a partir de então. É importante crermos da
maneira que as Escrituras dizem e não da maneira que desejamos crer.
É necessário que a nossa fé esteja de acordo com tudo aquilo que dizem
as Escrituras e que a nossa fé seja, realmente, “aquilo que dizem as
Escrituras”. E concluímos que, se Jesus naquele tempo provava a fé
das pessoas com o que as Escrituras dizem, se colocava a fé deles
diante daquilo que as Escrituras revelam e manifestam, devemos fazer
o mesmo agora, colocando a nossa fé à luz das Escrituras. O que dizem
as Escrituras e qual o seu verdadeiro significado de tudo que dizem?
Essa frase levou-nos a buscar nas Escrituras tudo que diziam para
fazermos uma comparação cuidada entre a nossa fé e aquilo que elas
dizem.
Ainda antes de havermos começado a investigar as Escrituras, os
nossos corações haviam determinado que deveríamos lê-las como
crianças sem engano. Devíamos aceitar as Escrituras com fé de
criança, mas, sem nunca adotarmos criancices. Não desejávamos
comer o creme do bolo e recusar comer o resto. Não seria bom
aproveitarmos a cereja do bolo e desprezar ou negligenciar o resto.
Muitos só querem ouvir falar do amor de Deus, da graça e não se
interessam por mais nada. Aliás, ainda recusam falar sobre outras
coisas e rejeitam quem fala de outra maneira. Decidimos que não
iríamos ser assim. Não agiríamos daquele jeito. Não nos
justificaríamos, não nos faríamos passar por melhores ou piores
pessoas. Seriamos objetivos e fiéis ao que as Escrituras realmente
dissessem. Iríamos julgar-nos à luz das Escrituras da maneira que
seremos julgados um dia diante de Deus. Iríamos olhar para tudo o
que a Luz manifestasse. Iríamos colocar-nos na luz, enfrentar a luz –
custasse o que custasse. Não nos deixaríamos levar pelo nosso próprio
entendimento das coisas, mas, somente por aquilo que as Escrituras
dizem mesmo! Não nos comportaríamos como meninos malandros em
relação à verdade, alimentando-nos somente daquilo que nos convinha
ouvir. Queríamos olhar a verdade nos olhos. Desejávamos levar a
palavra de Deus como a verdadeira palavra de um Deus vivo.
Queríamos permitir que toda a Sua Palavra tivesse a oportunidade de
se expressar a nós e de se manifestar aos nossos corações tal e qual ela
é. Nossos corações estariam abertos para tudo que as Escrituras
dissessem ainda que aquilo que dissessem não fosse do nosso agrado e
não fosse aquilo que desejássemos ouvir ou, ainda, que não estivesse de
acordo com os nossos sentimentos ou com as nossas experiências ou
expectativas pessoais. Também determinamos que iríamos ler um livro
inteiro de cada vez e não andar pulando de versículo em versículo. Não
queríamos tirar uma ideia daqui e outra dali, mas, desejávamos ter
uma imagem global de toda a verdade e conhecer o seu todo.
Desejávamos uma imagem mais completa e muito correta de toda a
Escritura para melhor a entendermos.
Não sei como aconteceu, mas, começamos com o livro dos Atos dos
Apóstolos. Por que razões escolhemos aquele livro para começarmos,
não sei dizer ao certo. Aconteceu assim. Contudo, a Palavra começou a
atacar-nos em nosso íntimo logo desde o início. Um versículo atrás do
outro atingia-nos profundamente. Quanto mais líamos e
investigávamos, tanto mais éramos atingidos. Através da Sua Palavra
fomos humilhados e quebrantados. Fomos averiguar minuciosamente a
vida dos discípulos de Jesus depois da Sua ascensão.
Pouco tempo antes de haver subido aos Céus, Jesus disse aos Seus
discípulos de forma clara que de maneira nenhuma se ausentassem de
Jerusalém, mas, que esperassem pelo momento que Seu Espírito fosse
derramado sobre todos eles. Os discípulos, aproximando-se d’Ele,
perguntaram-Lhe se seria aquela a época em que o reino de Israel ia
ser restaurado. Ao que Jesus respondeu: “A vós não vos compete saber
os tempos ou as épocas que o Pai reservou à sua própria autoridade.
Mas, recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo e ser-me-
eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e
Samaria e até aos confins da terra”, At.1:7-8. Vemos, aqui, que os
discípulos estavam ocupados com coisas da terra novamente e que
estavam muito preocupados com coisas que não lhes pertenciam e nem
cabiam saber. Jesus impediu o rumo dos seus pensamentos e dirigiu
toda a sua atenção para a coisa mais importante e mais desejável de
todas para cada um deles: receber o Espírito Santo em toda a Sua
plenitude! E a razão? Para que fossem testemunhas d’Ele.
O Senhor tornou-nos conscientes do fato de que nós, também, nunca
nos deveríamos ocupar com coisas menos importantes, nem mesmo
enquanto lemos as Escrituras, mas, que estivéssemos ocupados com a
parte importante: receber o Espírito Santo. Sempre que estamos
ocupados com coisas de menor importância – ainda que essas coisas
venham nas Escrituras como era o caso do reino de Israel na terra –
faz com que percamos a visão daquilo que é, realmente, de grande
importância. Era o que estaria para acontecer com os discípulos depois
da ressurreição. Eles estavam ocupados em tentar saber qual seria o
acontecimento seguinte sobre o futuro terreno de Israel e em que época
seria a consumação de Israel como nação. Jesus, porém, chamou-lhes à
atenção dizendo: “A vós não vos compete saber os tempos ou as épocas
que o Pai reservou à sua própria autoridade”. Quantas vezes
encontramos cristãos que se encontram ocupados precisamente com
coisas como essas? Eles só querem determinar o tempo e hora para a
vinda do Senhor e o que irá acontecer em Israel. Mas, Jesus disse
claramente que veio “para lançar fogo sobre a terra e como desejo que
esteja aceso!” Luc.12:49. Contudo, nós – os próprios discípulos de
Jesus – conversamos sobre coisas e mais coisas e andamos muito
ocupados com outras coisas enquanto o coração de Jesus se quebranta
com o desejo de ver o Seu fogo aceso na terra! Jesus não permitiu que
os discípulos saíssem de Israel precisamente porque deveria ser ali que
receberiam o Espírito Santo.
Jerusalém, na altura, era um lugar terrível para os discípulos. A
cidade era um ninho do mal. A coisa pior que poderia acontecer neste
mundo aconteceu precisamente em Jerusalém: o ungido de Deus, o
Salvador do mundo, havia sido crucificado ali. Depois da morte de
Jesus, todos os discípulos viviam fechados e escondidos quando
estavam em Jerusalém. Mas, apesar de tudo, Jesus mandou-os para
dentro de Templo ao invés de saírem dali. Ele mandou-os de volta para
Jerusalém para permanecerem lá até receberem o Espírito Santo. Esta
foi a nossa primeira lição importante que aprendemos.
Nós éramos tal e qual aos discípulos e eles eram tal e qual a nós. Todos
temos a tendência de evitar problemas. Quando um lugar se torna
insuportável para nós, fazemos de tudo para fugirmos dele. E, depois,
os Cristãos tentam sempre justificar as suas más opções. Culpam os
filhos, ou o marido ou a mulher pelos problemas que têm. As esposas
acham que as coisas são muito mais fáceis para os maridos. Os
maridos, por sua vez, acusam o fato de as coisas serem mais fáceis para
elas. Os filhos pensam o mesmo dos pais e os pais dos filhos. Cada qual
tem as suas próprias ideias. Assim, a mulher pensa em abandonar o
seu marido por crer que é impossível continuar a viver com um
homem como dela. O homem abandona a sua família por crer que se
tornou impossível viver com a sua esposa debaixo do mesmo teto. Um
diz que não suporta mais viver em seu próprio lar por haver-se
tornado um inferno e que seu próprio lar é uma coisa horrível! Outras
famílias dizem que precisam mudar de residência por haver-se tornado
impossível viver no seu bairro ou cidade.
Sabem, se eu não conseguir ser funcional para Deus de forma simples
no lugar onde vivo, não irei consegui-lo em nenhum outro lugar. Os
Zulus têm um provérbio que diz assim: “Se uma batata estragada for
colocada num saco de batatas boas, isso nunca transformará a batata
estragada em batata boa”. Se a minha vida não anda bem, se a minha
caminhada cristã está apodrecida onde estou, mudar de lugar nunca
resolverá nada. Pelo contrário, estragará os lugares para onde for. Se
Deus não me consegue usar onde estou, não serei uma bênção onde for.
Talvez essa tenha sido uma das razões por que Jesus mandou os Seus
discípulos permanecerem em Jerusalém. Ele conhece as fraquezas
humanas todas. Ele avisou-os que receberiam poder quando o Espírito
Santo descesse sobre eles. Uma das provas que alguém foi cheio do
Espírito Santo é a visibilidade de que o Espírito Santo, realmente, vive
dentro da pessoa. Lemos em Atos 1:8: “Recebereis poder quando o
Espírito Santo vier sobre vós…”. Jesus afirmou que o poder do
Espírito Santo é a tal prova que somos batizados no Espírito Santo. A
palavra grega é “dínamos”. Foi a partir dessa palavra que nasceu a
palavra “dinamite”, a qual usamos atualmente. Nós não usamos
dinamite para fazer explodir areia solta ou terra mole. Usamos
dinamite para rebentar rocha dura. A dinamite é usada onde os outros
meios não obtêm qualquer sucesso. É por isso que os discípulos
precisavam o poder do Espírito Santo e nós também. Eles precisavam
ser discípulos em Jerusalém primeiro. O poder de Deus torna-se visível
precisamente no lugar mais difícil e mais complicado de todos,
humanamente falando. É nesse terreno onde o poder de Deus se pode
manifestar e os seus efeitos ficarem visíveis. Nas trevas mais difíceis,
nos lugares mais complicados é onde o Espírito Santo melhor se
manifesta. Ali obtém o mais saboroso dos sucessos e será ali onde deve
operar com a maior facilidade. Jesus prometera-lhes este poder que
deveriam receber em Jerusalém e que ali deveriam trabalhar em
primeiro lugar, antes de irem para Samaria e outros lugares do
mundo. Ali, em Jerusalém, o terreno era mais endurecido que rocha e
seria ali que iriam trabalhar e ser testemunhas de Jesus. Ali
precisavam de dinamite. Que poder!
Mas, para que receberiam aquele poder? Jesus disse: “Mas recebereis
poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo e ser-me-eis testemunhas,
tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria e até os confins
da terra”, At.1:8. Mostrei ao grupo que Jesus não havia dito que os
discípulos receberiam poder para curar os enfermos ou para fazer
milagres! Não é verdade que os crentes, hoje, acreditam serem essas as
coisas mais importantes e que para isso receberão poder? Mas, não é
assim. Jesus disse que receberiam poder para dar testemunho de Jesus
e não testemunho de milagres. Por essa razão, somente aquele que
recebe de verdade o poder de Jesus pode tornar-se uma verdadeira
testemunha de Cristo.
Que entendemos sobre ser uma testemunha de Cristo? A palavra
original em Grego usada é “martus”. Isso significa “mártir”. Isso seria
dizer que alguém morre por aquilo em que acredita. Por isso, o poder
que recebemos, que é o poder do Espírito Santo, tem como objetivo
tornar-nos testemunhas desse calibre: chegarmos ao ponto de poder
ser mártires por Jesus. Isso significa poder para sermos fiéis a Jesus
até ao fim e permanecermos firmes sob qualquer circunstância. É
poder para seguirmos em frente sem qualquer vontade de olhar para a
esquerda ou para a direita! É poder para conseguirmos ser como o
primeiro mártir, Estêvão. Enquanto era apedrejado, Estêvão via o céu
e seu rosto brilhava de alegria. O céu estava aberto para ele, não tinha
nenhum mistério. Mas, o que acontece quando as pessoas nos atiram
pedras? E quando as pessoas são antipáticas para nós? E quando
fazem certos comentários acerca de nós? E quando pisam os nossos
calos? Como fica o nosso rosto? Brilha? Brilha como o rosto de um
anjo como aconteceu com Estêvão? Vemos o céu aberto como ele?
Olhem só como as pessoas ficavam quando eram cheias do poder do
Espírito Santo! Estêvão, um homem de oração, uma testemunha de
Deus! Enquanto era apedrejado, via o céu aberto e o seu rosto brilhava
como o de um anjo. Estando a morrer, clamava: “Senhor, não lhes
imputes este pecado!” Sim, isso era o verdadeiro poder do alto, um
homem que não vacilava sob circunstância alguma e permaneceu fiel
até ao fim. Ele era um homem de Deus e não camaleão que muda o seu
semblante mediante as circunstancias em que se encontra.
Então, este poder do qual Jesus falava aqui seria para que fossem
testemunhas - mártires. E caiu em nós que, naquela altura, nunca nos
seria possível sermos mártires por Jesus na África do Sul, pois, as
circunstâncias nunca chegariam a esse ponto. Concluíamos que, para
podermos ser mártires para Jesus, haveríamos de viver em países onde
os filhos de Deus são perseguidos pela sua fé. Mas, Heb.12:4 diz outra
coisa: “Ainda não lutastes contra o pecado até ao sangue”. Noutras
palavras, ainda não lutaram contra o pecado até à morte. Por isso, a
pessoa cheia do poder de Jesus lutaria até à morte contra o seu pecado,
preferiria morrer a pecar. Então, podemos ser testemunhas de Jesus e
de Seu poder em qualquer parte do mundo. Vamos colocar isto de
forma prática: “Prefiro morrer do que deitar-me com outra mulher”.
“Prefiro morrer que mentir”.
O nosso grupinho começou a pensar se seriam capazes de se tornarem
nesse tipo de testemunhas para Cristo. Sabem, a nossa fé corre maiores
perigos quando pecamos do que quando somos perseguidos! Perguntei-
lhes:
“Vocês não dizem que acreditam que a perseguição opera
para o bem daqueles que amam a Deus? Então, deve ser
precisamente durante tempos de perseguição que um crente
dá maior e melhor testemunho do verdadeiro poder de Jesus.
Será ali que veremos se a pessoa é realmente crente ou não”.
Enquanto pensávamos nisto, voltámos os nossos corações
quebrantados para o Senhor. Olhámos para nós mesmos e verificamos
que éramos pessoas iguais àquelas que Paulo descrevia em 2 Tim.3:
“Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos penosos;
pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos,
soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos, ímpios, sem
afeição natural, implacáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis,
inimigos do bem, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos
deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas,
negando-lhe o poder”.
Por que era assim? Não é verdade que isto está falando de coisas feias
como divórcios e adultérios? Sim, a Bíblia afirma que virão tempos
difíceis porque as pessoas irão ter aparência de santidade, mas,
negarão o seu poder. Uns vão desejar aparentar que frutificam, mas,
negam Deus em sua essência. Fala aqui de todos aqueles que se
chamam crentes e negam o verdadeiro poder de Deus! Se pudéssemos
olhar bem para a gravidade destas coisas, veríamos como isto é
demoníaco e feio. São as coisas mais feias que podemos imaginar.
Quando nos apercebemos que aquele trecho de Timóteo se referia a
nós, os nossos corações quebrantaram-se! Fomos atingidos
profundamente e começamos a perguntar-nos a nós mesmos como
estariam as nossas vidas e em que situação estávamos diante da
verdade. Ficamos conscientes das nossas incapacidades e das nossas
fraquezas. Os nossos corações quebraram.
Persistimos e fomos mais fundo na Palavra de Deus. Cavamos ainda
mais fundo. Vimos que os discípulos voltaram para Jerusalém depois
de Jesus haver subido para os céus. Eles reuniram-se no templo e
oravam. Entre eles estava Maria, a mãe de Jesus e Seus irmãos. A
Bíblia afirma que estavam todos unidos e eram de um só coração e
alma, tal era a união entre eles. Aquele tipo de união era deveras muito
invulgar, pois, o Espírito Santo ainda não havia sido derramado sobre
eles. Aquilo que aconteceu em Golgota e com Jesus e Sua cruz bastava
para unir os corações dos discípulos daquela maneira. Naquela união
invulgar, todos, com o mesmo coração e em uníssono, estavam orando
a Deus para o derramamento do Espírito Santo. Podemos fazer uma
pequena ideia de como a Cruz de Cristo penetrou fundo nas vidas
daquelas pessoas e o que ela significava para todos eles. Hoje, existem
pessoas que dizem que não conseguem ser uma união porque ainda não
foram cheios do Espírito Santo. Nesta parte das Escrituras vemos que
esses pensamentos são loucura e desvario! Na verdade, para haver
união, basta a Cruz de Cristo e basta as pessoas haverem-se achegado
a ela. Somente a Cruz de Cristo consegue alcançar o fim das
inimizades, brigas, desuniões e divórcios e isso para sempre. Naquele
tempo, a Cruz de Cristo tinha um significado tão grande para todos
que até os próprios irmãos de Jesus (que antes O perseguiam e
criticavam) estavam ali, orando e clamando pelo poder do Espírito
Santo. Eles tornaram-se crentes e até se uniram aos demais discípulos.
Continuamos lendo os Atos dos Apóstolos para vermos que tipos de
vidas levavam todos os discípulos de Jesus depois da Sua ascensão. No
dia de Pentecostes, o Espírito Santo foi derramado sobre os Apóstolos e
sobre outros crentes ali presentes. As pessoas ao redor admiravam-se
por verem os discípulos falando em seus idiomas de origem: Partos,
Medos, Egípcios. Alguns começaram a gozar e diziam: “Estão
bêbados!” Pedro, porém, levantou-se para explicar-lhes tudo que se
estava passando: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que
derramarei do meu Espírito sobre toda a carne”, At.2:17. Se Deus
chamava aquilo de “’últimos dias” há dois mil anos atrás, quanto mais
agora serão os últimos dias? Agora era mais “últimos dias” que dois
mil anos atrás! Se aquelas palavras proféticas contavam para o tempo
dos Apóstolos, quanto mais contariam para nós! Aquilo era para nós
também! Deveria acontecer conosco, pois, hoje é mais “’últimos dias”
que então. Se já naquele tempo os discípulos cuidavam das suas
próprias vidas esperando a vinda de Jesus a qualquer momento,
quanto mais nós, agora, dois mil anos depois, devemos estar atentos
com nossas vidas? Se existe uma diferença marcante entre nós e os
discípulos de Jesus daquele tempo, então, só pode ser o fato de não
estarmos em fogo como eles estavam para Deus! Então, perguntem-me
como é possível que os crentes atuais vivam de maneira imprópria e
muito pior que os piores crentes de então. Nós, hoje, deveríamos estar
mais em chama para Jesus que os discípulos daqueles tempos! Estou
plenamente convencido que deveria ser assim! Se a promessa da vinda
de Jesus não passa de palavras vazias, então, essa verdade deveria
tornar-nos crentes mais firmes que qualquer outro crente em qualquer
outra época. Então, sendo hoje mais últimos dias que dois mil anos
atrás, devemos hoje estar amando o Senhor mais ainda e ter mais
dedicação ao Senhor e ainda estar crescendo cada vez mais em poder e
em todas as virtudes do Céu.
Continuamos lendo. Vimos que quando a promessa se cumpriu com os
discípulos, logo no primeiro dia, 3.000 pessoas converteram-se. Se
quiséssemos, poderíamos ver de quantas nações havia convertidos.
Havia ali convertidos de várias nações e de outros idiomas. Pensem
nisto! Milhares de pessoas reuniam-se diariamente sendo um de
coração, um de espírito em união total. Como era possível? Eram
pessoas de nacionalidades diferentes, falavam idiomas diferentes e,
ainda assim, estavam em união. Será que temos noção do que se estava
passando aqui? Conhecemos bem as características duma alma. Agora,
imaginemos uma multidão de mil almas juntas. Temos noção do que
significa termos uma grande multidão em união e isso não apenas na
aparência? Sua união era verdadeira e real. Não era uma união
superficial, não tinha como ser superficial. Era o maior dos milagres!
Entre nós as coisas aconteciam da seguinte forma: quando se colocava
uma pergunta, alguém respondia de uma maneira ou de outra, outra já
respondia de outra maneira e uma terceira pessoa teria ainda outra
opinião. Assim, várias pessoas tinham uma ideia própria, diferente. E
ali só estávamos 30 pessoas! Eu lembro muito bem ainda, como um
certo senhor dizia numa de nossas reuniões: “Estou muito feliz que
aquela senhora não frequenta as nossas reuniões! Agora, não preciso
ver a mulher todos os dias, porque, se tivesse, estaria sempre irritado
aqui nas reuniões”. É muito fácil vermos crentes que se irritam
mutuamente! É frequente acontecer isso. Agora, será que dentro
daquela multidão de 3.000 pessoas não havia nenhuma mulher? Claro
que havia! Havia mulheres e homens, jovens e adultos e todos os dias
reuniam-se em perfeita união para orarem e fazerem coisas em
comum! Não vemos alguém que não queria estar perto de algum outro,
não vemos algumas pessoas evitarem as outras. Havia uma união
perfeita entre eles. Aliás, nem se falava na possibilidade de
rompimentos de relações ou de brigas! Nem existia essa possibilidade
sequer.
Analisamos as vidas e a convivência daquele povo convertido. Víamos
que a pessoa de Jesus era real entre eles e que não era apenas uma
arma de arremesso contra os outros. Também não era o desejo de
participarem na Ceia que os movia, nem uma hora ou duas de culto e
de estudo da Palavra. Rodavam à volta da pessoa de Jesus em uníssono
e em união perfeita! Aqueles crentes eram diferentes de nós. Jesus era
a sua vida. Todas as outras coisas eram de menor importância e de
pequena relevância. Víamos como todos aqueles que possuíam bens e
casas vendiam-nas sem serem forçados ou exortados a fazê-lo, para
entregarem aos pés dos apóstolos, os quais diziam, ainda assim, que
não possuíam prata e nem outro. Ninguém considerava seu nada
daquilo que possuía. Tudo era feito em comunhão uns com os outros e
tudo pertencia a todos. Por essa razão, não faltava nada a ninguém.
Que congregação aquela!
Foi assim que nos apercebemos por que razão o local onde eles oraram
sacudia e a terra onde pisavam tremia quando oravam. Mas, o que
acontecia entre nós? Os nossos filhos é que nos sacudiam! Alguns
homens eram sacudidos por suas esposas, outros por seus familiares.
Mas, quando aqueles crentes oravam, era o local e a terra que
tremiam! Quando oraram, toda a Jerusalém tremeu e houve grandes
transformações dentro da cidade!
Ficou claro que os crentes de hoje, nós, vivíamos em constante temor
dos homens. Temos tanto medo do que irá acontecer aos nossos filhos e
sobre o que nos reserva o futuro. Se a porta não for trancada à noite,
os crentes medrosos não conseguem dormir sossegados e os seus
pensamentos atormentam-nos e, em alguns casos, levam-nos ao
desespero! Claro que isso não é operado pelo Espírito de Jesus! Tais
pessoas e tais congregações nunca conseguirão sacudir o local onde se
encontram! O lugar é que sacode a eles. Quanto menos podem esperar
sacudir as portas do inferno! Se não são capazes de sacudir o lugar
onde estão, como conseguirão abalar as portas do inferno? Quanto
mais seguíamos adiante, lendo, tanto mais éramos convictos e
quebrantados! Os nossos encontros já não eram estudos Bíblicos, mas,
tornaram-se encontros de choro, lágrimas e lamentações profundas.
Quando nos comparávamos àquela primeira congregação de
discípulos, nossa principal reação foi abanar a cabeça e ficarmos
perplexos. Estávamos cheios de vergonha. Eu, pessoalmente, clamava
ao Senhor pedindo-lhe para no futuro, lá no céu, Ele nunca me
apresentar ao Apóstolo Paulo. Se o fizesse, imaginem Paulo falando
comigo e dizendo: “Erlo, conta-me alguma coisa importante que tenha
acontecido durante o teu ministério na terra”! Ou a Pedro. E se ele me
perguntasse: “Erlo, como era a congregação que lideraste na terra?
Conta-me e eu falo-te da minha”. “Ó Senhor”, dizia eu sentindo-me
desqualificado e inútil, “será que ainda posso considerar-me crente?”
Continuamos lendo. Chegamos ao capítulo 5 de Atos. Ali apercebemo-
nos de que, onde o Senhor opera, o diabo também se encontra muito
ativo. Ele não dorme. Ele sempre vem para destruir, principalmente
onde Deus opera. E ele entrou no coração de Ananias e de Safira.
Quando Ananias verificou que as pessoas levavam as suas posses e
propriedades e as entregavam aos apóstolos para ajudar os pobres e
outros, sentiu que também deveria vender a sua propriedade. Marido e
mulher estavam de acordo sobre a coisa errada. Decidiram, em
conjunto, vender a sua terra e esconder parte do preço sem
necessidade de esconder e entregar a Pedro uma parte como se
tivessem entregue tudo. Poderiam dizer a Pedro que só estavam
entregando metade e ninguém acharia estranho. Mas, Pedro era um
homem de Deus cheio do Espírito Santo. E logo ali, o Espírito Santo
falou com Pedro mostrando-lhe o que se passava. Pedro, que não
estava ali para agradar pessoas, perguntou de imediato a Ananias se
havia vendido a sua propriedade pelo valor que estava entregando.
Sem hesitação, Ananias respondeu que sim. Pedro falou com ele
novamente, dizendo: “Ananias, por que encheu Satanás o teu coração,
para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço do
terreno? Enquanto o possuías, não era teu? E vendido, não estava o
preço em teu poder? Como, pois, formaste este desígnio em teu
coração? Não mentiste aos homens, mas, a Deus. E Ananias, ouvindo
estas palavras, caiu e expirou. E grande temor veio sobre todos os que
souberam disto. Levantando-se os moços, cobriram-no e,
transportando-o para fora, o sepultaram”, At.5:3-6.
Três horas mais tarde chegou a sua esposa fingida, Safira. Ela não
sabia de nada do que se havia passado. Assim que Pedro a avistou,
perguntou-lhe: “Venderam a vossa propriedade por este preço?” O
que acham que ela responderia? Ela não tinha intenções de ir contra o
marido e de negar a palavra dele diante de Pedro! Ela queria ser fiel a
ele nesse aspecto! Já havíamos falado que os casais discordam
facilmente e que brigam por tudo e por nada e dividem-se facilmente.
Mas, este casal concordava facilmente com o pecado. Na primeira
igreja era assim. Naquele tempo, as esposas e os maridos estavam de
acordo! E era assim, também, com Ananias e Safira. Safira respondeu
afirmativamente à pergunta que Pedro lhe fez. Pedro respondeu
imediatamente: “Por que é que combinastes entre vós provar o
Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu
marido e te levarão também a ti”, At.5:9. Safira caiu morta aos pés de
Pedro e vieram umas pessoas que a levaram e sepultaram ao lado do
marido.
Enquanto líamos o historial daquela congregação dos Apóstolos,
perguntávamo-nos a nós mesmos se teríamos algum desejo de
pertencer àquela congregação onde as pessoas caíam mortas por
mentir. Não seria arriscado demais? Ali estava uma congregação onde
qualquer tipo de pecado era revelado em qualquer pessoa (até nos que
ofertavam) e onde nunca passava em claro qualquer transgressão. Ali,
a mentira era punida ao vivo e no primeiro momento oportuno. O que
aconteceria conosco se pertencêssemos àquela congregação? Todos
sentíamos que tínhamos grandes pecados para esconder e tínhamos
outros pecadinhos que só aos nossos olhos seriam pequenos. Bem,
depois de pensarmos objetivamente, concluímos que talvez fosse
melhor não estarmos orando por um avivamento. Não seria muito bom
pertencermos a tais congregações! Perguntava-me a mim mesmo o que
aconteceria comigo se Ananias ou Safira fossem meus familiares ou
irmãos. Como me sentiria? Que faria eu naquelas circunstâncias? Eu
penso que sairia para contar a todas as outras congregações ao redor e
para avisá-las para nunca se associarem àquela congregação e para
ninguém colocar os pés dentro dela! Eu diria aos irmãos de outras
congregações: “Acham que isto é amor? Como podem chamar isto de
amor de Deus? Pensem um pouco e digam se isso é coisa certa, se é
algo que se faça! Não! Cem vezes digo: Não! Tenham cuidado e nunca
vão a esse lugar! Tenho a certeza que não é o Espírito de Deus que está
operando através de Pedro!”
E, por outro lado, que aconteceria se estivéssemos no lugar de Pedro?
Como reagiríamos ouvindo o Espírito Santo sussurrar dentro de nós
sobre o que se estava passando? Que diríamos nós a Ananias, um
homem que trazia dinheiro para a igreja? Eu creio que, nas minhas
circunstancias, eu o abraçaria dando-lhe meu carinho de irmão e até
diria: “Ó irmão, que Deus te abençoe por isto! Na próxima reunião
iremos mencionar a bondade do teu feito para que todos fiquem
sabendo. Iremos propor-te como líder ou como presbítero da nossa
congregação porque todos nós precisamos de pessoas como tu!” Temos
necessidade de pessoas assim, de pessoas que trazem dinheiro para a
igreja! Mas, não foi isso que Pedro fez. Os homens que estão
verdadeiramente e realmente cheios do Espírito têm outra linguagem e
falam de outra maneira com qualquer pessoa. Eles dizem: “Antes a
morte e a fome do que viver numa congregação de mentirosos e
aproveitadores!” Era essa a perspectiva da verdadeira congregação de
Cristo e era essa a visão que tinham. A santidade de Deus era tão óbvia
e tão atuante que o pecado era castigado até com a morte, se fosse
preciso. Ao olharmos para isso dessa maneira, podemos ver por que
razões congregações como as de Pedro conseguiam mudar o mundo
através do poder de Jesus. Eles e suas orações não apenas sacudiam a
terra, mas, sacudiam os próprios portões do inferno. Agradeçamos
todos a Deus que aquela congregação não era descartada e
incriminada como seria nos dias de hoje. Vamos agradecer a Deus por
ela ter sobrevivido!
Voltamos a Atos 3. Vemos Pedro entrando no Templo juntamente com
João. Havia ali um coxo de nascença, o qual colocavam na porta do
templo para mendigar. Ambos os Apóstolos olharam de frente para o
coxo e disseram-lhe: “Olha para nós. Não tenho prata nem ouro; mas o
que tenho, isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o nazareno, levanta-te
e anda”, At.3:4,6. Assim que Pedro acabou de falar e de expressar a
verdade, um milagre ocorreu. Nós analisamos aquele texto
minuciosamente. Inicialmente, Pedro e João olharam fixamente para
aquele homem. Admirei-me muito com as palavras de Pedro. Comecei
a repreender Pedro em meus pensamentos. Seu comportamento não foi
o melhor. “Pedro, já te esqueceste que ainda há bem pouco tempo
negaste o Senhor e que não podes dizer às pessoas para olharem para
ti? Como podes chegar diante de alguém e dizer, “Olha para mim”?
Como podes olhar as pessoas diretamente nos olhos e dizer uma coisa
dessas? Deverias ter vergonha de te colocar como exemplo!” E, na
minha imaginação, era como se Pedro me estivesse respondendo. “É,
Erlo. Bem sei que neguei ao Senhor uma e outra vez e até mais vezes
do que sabes. E é verdade que me senti miseravelmente desprezível.
Quando Jesus olhou para mim e perguntou se O amava, quebrou meu
coração. Em profunda agonia e mágoa pedi ao Senhor que me
perdoasse e Ele esqueceu meus pecados para sempre. Agora posso
olhar as pessoas nos olhos. Não preciso ter vergonha”. É precisamente
essa a boa notícia do Evangelho. Em Jesus alcançamos perdão. Mesmo
que os nossos pecados sejam vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão
tão brancos como a neve.
Assegurei o nosso grupinho que os maiores pecadores estarão sempre
em vantagem: eles amarão Jesus mais que todos os outros. Precisava
assegurar-lhes essa verdade. Um Fariseu, uma vez, convidou Jesus
para comer em sua casa e viu como uma prostituta começou a lavar-
lhe os pés com suas lágrimas e a derramar unguento sobre Ele,
secando-Lhe os pés com seus cabelos sujos. Aquele Fariseu “justo”
começou a pensar que Jesus não sabia quem era aquela mulher e que,
se realmente fosse profeta, saberia que era uma mulher sem vergonha.
Mas, Jesus conhecia os pensamentos do Fariseu e respondeu-lhe assim:
“Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os
pés; mas, esta com suas lágrimas os regou e com seus cabelos os
enxugou. Por isso te digo: Perdoados lhe são os pecados, que são
muitos; porque ela muito amou; mas, aquele a quem pouco se perdoa,
pouco ama”, Luc.7:44,47.
“Estas palavras de Jesus ainda valem para os dias de hoje”, assegurei-
lhes. As pessoas que pecaram muito e vêm a Jesus para alcançarem
grande perdão, são pessoas muito privilegiadas – amarão mais a Jesus
que nós, os “justos” e os certinhos. Eles conseguem amar Jesus mais
que todos e isso é algo precioso. Não podemos desprezar o amor que
têm por Jesus. Quanto mais funda for a obra de Deus em nós, quanto
mais profundamente operar o Espírito Santo dentro de nós, quanto
mais profunda for a nossa conversão a Jesus, maior será o nosso amor
por Ele. Existem crentes e pessoas que não amam Jesus
profundamente porque nunca chegaram a ver a sua própria natureza
pecadora e nunca olharam os seus pecados de frente e nunca os viram
como Deus os vê. Por essa razão não dão valor a Jesus, não O amam
como convém. Foi esta a principal verdade que ficou clara para nós a
partir daquele texto.
E Pedro disse: “Olha para nós!” Eu não conseguia entender aquilo.
Aquelas palavras eram contrárias a toda a minha escola, eram opostas
a tudo que havia aprendido. A teologia era contrária àquilo que Pedro
estava fazendo. Nós somos instruídos a colocar Jesus como o foco
central e a desviar o olhar das pessoas de nós e dizemos para eles
olharem para Jesus e não nos terem como exemplos. E ali estava Pedro
dizendo ao homem para olhar para ele. Pedro era um homem cheio do
Espírito Santo e cometia erros primários! Como podia Pedro cometer
erros desses? Não se pode falar assim quando pregamos a Jesus às
pessoas. Antes, dizemos: “Olhem para Jesus! Olhem para a Cruz, em
Golgota! Olhem para Deus, o Pai! Olhem para a Sua Palavra!”
Ninguém de bom senso, por muito justo que seja, deve dizer, “olha
para mim” e nem “olha para nós”! Os olhos das pessoas têm de estar
focalizados em Jesus e sob circunstância alguma nesta terra devemos
chamar a atenção das pessoas para colocá-la sobre nós! “Ó Senhor”,
orei, “será que cometeste algum erro entregando a Pedro as chaves do
Reino do Céus? Como pudeste confiar num homem destes?”
Não conseguíamos entender nada daquilo. E foi assim que fomos
levados à Palavra de Deus novamente. Em 2Cor.3:2-3 lemos o
seguinte: “Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida
e lida por todos os homens, sendo manifestos como carta de Cristo,
ministrada por nós e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do
Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne do
coração”. E foi assim que ficamos esclarecidos. De acordo com as
Escrituras, Pedro e João eram cartas vivas, escritas pelo Espírito Santo
de Deus. Todos podiam e deviam olhar para eles, vendo o seu exemplo
e perguntar como conseguiam ser assim. Por essa razão, podiam olhar
para aquele coxo e dizer-lhe para olhar para eles. Estávamos
completamente seguros que aquele homem deficiente via e lia Jesus ao
olhar fixamente para Pedro e para João. Eles eram um espelho, uma
imagem fiel do que Jesus era e ainda é. Se assim não fosse, aquele
homem nunca teria reagido da maneira que reagiu, olhando fixamente
para Pedro e levantando-se de sua doença. Por trás daqueles homens
era visível toda a glória de Deus e todo o Seu poder. Senão fosse assim,
aquele homem não creria ao ponto de curar-se. Se Pedro e João não
revelassem claramente a glória e o esplendor de Deus, aquele homem
olharia para eles e diria algo mais ou menos assim: “ Pedro, como
podes dizer uma coisa dessas para mim? Não sabes que sou enfermo
desde que nasci? Porque estás brincando comigo, gozando comigo?
Não se faz uma coisa dessas com ninguém!” Contudo, vemos naquele
homem uma reação completamente diferente. Ele, realmente, viu a
glória e esplendor de Deus por trás de Pedro e de João. Se não fosse
assim, nunca teria reagido com fé e pulado sobre os seus pés. Tal é o
poder de Deus visível em seus servos e tal é o poder de Jesus, nosso
Redentor!
Aqueles homens de Deus eram, deveras, uma carta aberta de Cristo.
Concluíamos que não tínhamos qualquer direito de pregar o evangelho
se não conseguíssemos dizer: “Olhem para nós”! Se não
conseguíssemos ser um exemplo bom, uma amostra verdadeira do que
significa o Evangelho, não temos nenhum direito de abrir a boca para
falar em Deus a alguém. Nunca devemos sequer pensar em dar
testemunho se não pudermos dizer para as outras pessoas olharem
para nós. Se o fizermos, causaremos enormíssimos estragos à causa de
Jesus na terra. As nossas vidas devem ser uma carta aberta de Cristo
ao mundo. Devemos ser somente um reflexo real de Jesus. Se não o
formos, seremos como aqueles Fariseus de quem Jesus dizia em
Mat.23:3: “Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observai;
mas, não façais conforme as suas obras; porque dizem e não
praticam”. Ainda hoje encontramos aqueles que pregam as verdades
que não vivem e nem experimentam na vida prática. Ainda existe
muito Fariseu hoje em dia e talvez você seja um deles. João e Pedro
eram pessoas que podiam dizer à qualquer pessoa do mundo para
olharem para eles. E nós? Eles eram verdadeiras testemunhas da vida
e da realidade de Jesus. Somos nós cartas abertas de Jesus que
qualquer homem pode ler e entender? É triste comprovar que poucos
crentes lêem a Bíblia da maneira que devem e entendem-na muito
menos do que devem. Não conseguem entender a Bíblia. Mas, com os
jornais e as revistas não têm problema nenhum. Entendem tudo, lêem
tudo e até comentam sobre tudo que lá vem. Conhecem os jornais e as
revistas melhor que a própria Palavra de Deus. E ainda assim se auto-
denominam de crentes que nasceram de novo.
Sabem, se formos uma carta aberta de Jesus, até os analfabetos
conseguirão lê-la. Sabe o que eles lêem? Eles lêem as nossas vidas, as
nossas coisas todas. O mundo ainda hoje aponta o seu dedo para onde
estão lendo. Eles costumam dizer: “Olhem para aquele crente! E ainda
se chama crente! Mas, vejam só como é que ele vive! Só sabe brigar e
gritar com os outros! Vejam como se zanga! Vejam o que faz quando
se zanga! Se alguém fala com ele, está-se defendendo sempre de
alguma coisa!” As nossas vidas precisam ser aquilo que o evangelho é.
É aí onde se encontra o maior segredo do poder do evangelho em
qualquer parte do mundo. Deixem-me perguntar: como estão as nossas
vidas? Devemos perguntar a nós próprios se, por acaso, as outras
pessoas vêem o nosso Senhor Jesus Cristo bem manifesto em nós.
Somos um espelho daquilo que Jesus é? Os meus filhos e a minha
esposa vêem mesmo Jesus em mim em todos os aspectos da minha
vida?
Um evangelista muito conhecido, o qual recebia muitos convites para
pregar pelo mundo fora, um dia resolveu levar a sua esposa junto com
ele. Era um orador muito talentoso, cheio de vigor e de palavreado.
Todos ficavam pendurados em seus lábios. Todos gostavam de ouvir os
seus discursos. Não havia alguém capaz de pregar como ele. Numa
certa congregação onde discursava, duas senhoras estavam sentadas ao
lado da esposa do pregador, uma de cada lado, na fila da frente. Depois
da pregação do marido, todos ainda estavam sob o efeito da pregação
dele e via-se que havia causado uma grande impressão em cada alma
presente. Só podiam dizer “amém” a tudo que haviam ouvido. Havia
sido um discurso muito forte. Uma das senhoras comentou com a
esposa do pastor: “Ó, que privilégio é viver com um homem destes e tê-
lo como marido!” Foi, então, que a esposa respondeu da seguinte
maneira: “Vocês não sabem nada do que se passa lá em casa! Lá, é um
inferno viver com ele!”
Então, quando a tua própria vida não consegue causar uma boa
impressão sobre tua esposa, é melhor não falares de Jesus para
ninguém neste mundo, pois, não assustará o diabo sequer. Se não
impressionas a tua esposa, como é que essa vida irá causar impressão
aos poderes do inferno? Será melhor, então, limpar a nossa porta em
vez de andarmos a criticar este e aquele pecado nos outros.
Mas, voltando à história de Pedro e de João e sobre aquilo que
disseram ao coxo depois de haverem dito para ele olhar para eles:
“Prata e ouro não tenho, mas, aquilo que tenho te dou”. Até onde
sabemos, parecia que o Apóstolo João não possuía o dom de curar. Isso
não significava, de maneira nenhuma, que ele não estivesse cheio do
Espírito Santo também ou que ele não possuísse o Espírito Santo de
Deus em seu poder. Na verdade, João possuía um poder tal que
devemos estar agradecidos por ele já não estar vivo e aqui entre nós
hoje! Ficaríamos muito incomodados com a sua presença e com o
testemunho de vida no ministério pobre que temos. E se ele dissesse:
“Quem comete pecado é do Diabo (…) Qualquer que é nascido de Deus
não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode
pecar, porque é nascido de Deus”, 1João 3:8-9. O que lhe
responderíamos hoje à luz dessa parte da Escritura? “João, ainda bem
que já morreste! Nenhum cristão do século vinte concorda contigo
nesse aspecto! João, foste longe demais nas tuas afirmações! Não
existem pessoas que consigam ficar sem pecar o tempo todo!” Mesmo
que João tivesse sido carne como qualquer um de nós, era muito
evidente a manifestação do verdadeiro poder de Deus em sua vida
nesse aspecto da santidade. Ele experimentava o verdadeiro poder de
Deus em toda a sua vida, de alto a baixo. Ele vivia Jesus de tal maneira
que não conseguia entender como é que era possível alguém pecar
depois de conhecer Jesus e seu poder. Ele não conseguia imaginar a
possibilidade de alguém pecar depois de haver nascido de novo.
A Bíblia diz: “Aquele que roubava, não roube mais. Aquele que
mentia, não minta mais. Aquele que se pensava em divorciar-se, não se
divorcie”. E por ai adiante. Isto significa que a pessoa já lidou com os
seus pecados e que não existem mais. Até Jesus que foi crucificado por
nós, disse: “Vai e não peques mais!” Vêem, era esse o tipo de
linguagem de Cristo e dos Cristãos da altura. Era o idioma de quem
estava realmente cheio do Espírito Santo. Só assim podemos entender
qual era, realmente, a fonte de todo aquele poder. E era óbvio que as
suas vidas não envergonhavam ninguém que realmente pertencesse a
Deus. “Olha para nós!” Pedro continuou: “Prata e ouro não tenho”.
Não é verdade que só quando tudo vai bem conosco é que somos
capazes de sorrir? Só quando temos tudo é que o nosso rosto é capaz
de brilhar e manifestar satisfação e alegria. Só quando temos prata e
ouro é que seremos capazes de ser exemplos de alegria e dizer: “Olha
para mim!” Contudo, quando as coisas correm mal e quando somos
obrigados a reconhecer que não temos prata ou ouro, como está nosso
rosto e nosso sorriso? Será que ficamos muito preocupados sem saber
como iremos fazer para comer amanhã? Ficamos nervosos e
impacientes por tudo e por nada? Pedro era capaz de dizer: “Prata e
ouro não tenho, mas, olha para mim. Ainda sou capaz de dar-te aquilo
que tenho!”
Ainda me recordo daqueles momentos quando líamos essa passagem e
comentávamos sobre isso. Contei ao pequeno grupo de Zulus uma
história que aconteceu numa certa catedral, onde estavam mais ou
menos umas 2.000 pessoas presentes. Lá não tinham o hábito de passar
o saco para as pessoas colocarem o seu dinheiro, mas, na saída havia
uma enorme mesa onde se colocavam as ofertas ao saírem. Depois de
todas haverem saído, a mesa estava cheia de dinheiro e de moedas.
Podemos dizer que estava cheia de prata e de ouro. O velho sacerdote
começou a contar o dinheiro juntamente com o seu sacristão. Dizia
para o jovem assistente: “Olha só, jovem! Pedro já não pode dizer que
não tem prata e ouro!” O jovem respondeu: “É verdade, mas, o Pedro
de hoje também já não consegue dizer ‘em nome de Jesus de Nazaré
levanta-te e anda!’”
Disse aos meus ouvintes: “Como podem ver, os papéis inverteram-se.
O que os Apóstolos podiam dizer e fazer naquele tempo, nós já não
dizemos e nem fazemos. O que eles diziam, nós já não dizemos e o que
eles eram capazes de fazer, nós já não alcançamos. Aquilo que eles não
tinham, na altura, hoje em dia é uma coisa de grande importância. Não
é assim? Muitas vezes, são essas coisas que determinam se desejamos
fazer ou concluir toda a vontade de Deus. Quem sabe se não estamos
mais longe do Céu e de Jesus que Judas Iscariotes estava!”
Ainda antes de eu haver concluído aquele pensamento, aconteceu algo
muito inesperado. Uma jovem Zulu levantou-se repentinamente no
meio do culto. Estava lavada em lágrimas. Profundamente tocada, ela
disse:
“Pastor, pare, por favor! Não suporto mais ouvir! Posso
orar? Por favor?”
Aquilo aconteceu de forma tão inesperada que eu fiquei sem saber o
que fazer. Muitos pensamentos passaram por minha cabeça como
faíscas. A moça havia-se convertido há cerca de três meses. Será que
sabia orar? E se orasse sobre a coisa errada? O que ela iria dizer na
oração? Havia sido a primeira vez que alguém me interrompera e,
também, interrompera um culto enquanto eu falava. Não sabia o que
fazer. Fiquei sem reação. Por fim, resolvi colocar de lado as minhas
dúvidas e disse-lhe: “Está bem, pode orar”.
Com os olhos cheios de lágrimas, ela começou a orar. Foi uma oração
muito simples. Ela falou com Jesus:
“Senhor Jesus, nós ouvimos o que diz a Tua palavra e a Tua
promessa. Ouvimos como os primeiros discípulos eram
poderosos e como a primeira congregação era e fazia. Ó
Senhor, não podes voltar a fazer o mesmo entre nós e dar-nos
um avivamento? Não podes novamente derramar sobre nós o
Espírito que os discípulos tinham antigamente? Não podes
fazer, neste século vinte, o mesmo que fizeste com os Teus
filhos de antigamente?”
Eu não tenho palavras para descrever aquilo que se passou dentro de
mim naquele momento. O meu coração queimava dentro de mim.
Lembrei-me dos dois discípulos de Emaús depois de haverem estado a
falar com Jesus sem saberem de quem se tratava: “Porventura
não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava e
quando nos abria as Escrituras?” Luc.24:32. Senti que aquela oração
havia sido inspirada pelo Espírito Santo. Quando a moça terminou de
orar, dei o culto por encerrado e dirigi-me de imediato para casa do
meu irmão em Mapumulo, onde eu estava alojado.
“Friedel”, disse-lhe, “aconteceu uma coisa muito estranha
hoje. O culto foi interrompido. Não foi interrompido por
terroristas ou ladrões, mas, por uma oração. E se aquela
oração veio do Espírito Santo, eu creio que em breve teremos
um avivamento em nosso meio e que acontecerão as mesmas
coisas aqui que aconteceram com os discípulos antigamente,
há dois mil anos atrás”.
Pouco tempo depois disso, os Céus romperam e o Espírito Santo foi
derramado sobre nós como um vento.

AVIVAMENTO COMEÇA SEMPRE POR TI


Antes de descrever o que aconteceu quando o Espírito de Deus
começou a Sua obra em nosso meio, ainda quero contar algumas coisas
importantes. À medida que nos reuníamos à volta da Palavra de Deus e
orávamos de todo coração, suplicando para que um avivamento
ocorresse entre nós, Deus pegou no maior pecador ali presente. Sabem
quem era ele? Era eu mesmo, Erlo Stegen. Foi precisamente comigo, o
pastor, quem Deus começou a confrontar e a convencer do pecado.
O que aconteceu comigo pessoalmente fez-me pensar no que havia
acontecido com um certo pastor na América. Aquele pastor sofria sob
o peso do seu ministério e suspirava debaixo da sua carga. Não havia
crescimento em sua congregação e as pessoas estavam mortas. Tudo
estava frio e muito morto. Os jovens não participavam no Evangelho,
não viviam o Evangelho; os Presbíteros eram brutos e viviam com falta
de amor. Para o pastor, não havia solução, pois, já havia tentado de
tudo. Quando pregava aos Domingos, era como se houvesse uma
parede de concreto entre ele e a audiência. As palavras voltavam
vazias e sem fruto, faziam ricochete no povo. O pastor em questão
ouviu falar de um outro pastor que começou a experimentar
avivamento em sua congregação. Decidiu ir visitá-lo e consultá-lo sobre
o seu problema. Saiu para descobrir qual seria o seu segredo e viajou
cerca de dois mil quilômetros. Quando chegou lá, contou o seu dilema e
a sua necessidade ao pastor que experimentava avivamento. Mal
entrou, disse logo: “A minha congregação está morta e não acontece
nada com as pessoas. Os diáconos e os presbíteros estão mortos e são
insensíveis, não querem ouvir nada do que digo e os jovens andam
sempre ocupados com as coisas do mundo”.
“Oh meu irmão”, respondeu o pastor depois de ouvir toda a queixa, “o
senhor não precisa ficar aqui muito tempo. Posso dar-lhe já a receita
que o senhor tanto deseja. Pode voltar ainda hoje para casa. Assim que
chegar em casa, entre em seu escritório ou local de trabalho, sente-se
no chão, pegue num pedaço de giz e faça um círculo à sua volta. Fique
dentro desse círculo e ore seriamente para Deus operar dentro daquele
círculo. Peça a Deus um avivamento dentro daquele círculo. Pergunte-
Lhe se não pode começar ali com a Sua obra!”
Quando o visitante ouviu aquilo, é óbvio que não ficou muito feliz. O
conselho que ouvira era um comprimido muito amargo para engolir.
Ficou irritado porque aquilo era tudo menos um elogio. Aquelas
palavras diziam que o culpado era ele e não a congregação. Ficou
zangado, como aconteceu com Naaman, o oficial Sírio ao qual Eliseu
mandou mergulhar sete vezes no rio Jordão. Provavelmente, pensou
que a água do Jordão era muito suja e que seria muito inadequado
mergulhar nele sete vezes. Poderia parecer uma forma de desprezo
para um oficial Sírio tendo o valor que tinha, pois, provavelmente
achava-se digno demais para que Eliseu “brincasse” com ele daquela
maneira após haver feito uma viagem tão longa para ir vê-lo de
propósito acerca da sua lepra. Mas, os servos de Naaman
convenceram-no a mergulhar no Jordão e, quando o fez, ficou
completamente são de todas as suas feridas na pele. O pastor acabou
por se acalmar e humilhar-se.
Quando chegou a casa, decidiu fazer aquilo que seu irmão e colega o
havia aconselhado fazer. Começou a orar intensamente para que a
obra de Deus fosse feita nele. Depois de haver começado a fazer isso,
entendeu pela primeira vez o verdadeiro significado de tudo aquilo. No
domingo seguinte, dois homens começaram a clamar por
arrependimento sob a sua pregação. Choravam e, depois do culto,
vieram confessar-se a ele dizendo que as suas vidas estavam perdidas e
numa desordem total. Não estavam bem com Deus. Levavam vidas
muito mundanas e muito desordenadas. E, no culto, aperceberam-se
que, sendo amigos do mundo, haviam-se tornado inimigos de Deus. Os
dois homens converteram-se. Mas, isso foi apenas o inicio de tudo.
Depois disso, o fogo de Deus consumiu toda a dureza e todo pecado
naquela congregação.
Com esse exemplo, quero exemplificar e explicar o que se estava
passando entre todos nós naqueles momentos. Jesus começou a operar
duma maneira que não esperávamos. Quando eu me perguntava qual a
razão por que não experimentávamos avivamento e por que razão
todos à minha volta eram frios, eu tinha muitas respostas e muitas
conclusões próprias. Eu afirmava que a culpa era do bem-estar e da
riqueza de muitas pessoas dali; dizia às pessoas que as coisas também
não eram fáceis para os missionários brancos que trabalhavam entre
os negros; desculpava-me afirmando que eles tinham muitos
preconceitos contra os brancos e que havia muita política nas suas
cabeças e que isso impedia a obra de Deus; dizia que as tradições e os
costumes dos negros eram coisas mais importantes para eles e que não
as desejavam abandonar; que os negros diziam que o Cristianismo era
a religião dos brancos e acreditavam mesmo nessa mentira; ademais,
estava convencido que os homens e as mulheres tinham maior interesse
em bebida e em álcool do que em Jesus; eu culpava os jovens de
amarem o mundo; dizia que as cabeças das moças só rodavam com
música e que os moços só andavam atrás de dinheiro. Dizia, também,
que tudo que faziam girava à volta de desejos e de sexo ou outras
coisas da carne.
Sempre culpei os outros por eu não experimentar avivamento. Via
todos os pecados do meu próximo e dos membros das minhas
congregações. Via os pecados de outros pastores. Mas, quando
começamos a orar de todo coração por um avivamento entre nós, Jesus
começou a pôr luz em minha vida, mostrando e revelando tudo que se
passava em mim. Obrigou-me a ver os meus próprios pecados e a
deixar de olhar para os pecados e erros dos outros. Deixei de ter tempo
para buscar os erros nos outros e de pensar neles como a causa
principal de tudo que se passava no nosso meio. Eu não enxergava os
meus próprios pecados. A verdade é que, quando Jesus começou a
trabalhar comigo, deixei de me lembrar do resto do mundo, na
verdade, esqueci tudo o resto à minha volta. Antes, fazia precisamente
o oposto: esquecia-me de mim e de minhas faltas para olhar para as
dos outros. Antes, estava plenamente convencido que eu havia sido
chamado para tratar das outras pessoas e fazê-los converterem-se. Era
isso que fazia. Fiz isso durante todos aqueles anos. Pregava para as
pessoas e dizia-lhes que abandonassem os seus pecados e aceitassem
Jesus como seu Salvador. E eu trabalhava arduamente nesse sentido. E
pretendia trabalhar assim até que o céu descesse sobre nós. Contudo,
não havia sinais do fogo que Jesus prometeu. E só vimos os primeiros
sinais desse fogo quando Jesus começou a operar dentro de mim. Jesus
pegou fundo em minha vida e em meus pecados. Revelou todos os meus
pecados, os secretos e os outros. E tudo que ocorreu naquela altura
está tão fresco em minha memória como se tivesse ocorrido no dia de
ontem. Quero, por isso, descrever os acontecimentos na sua ordem e da
maneira que aconteceram para que possa servir de bênção para
alguém.
Conforme já foi dito, havíamos decidido investigar as Escrituras
minuciosamente dando toda a atenção aos pormenores. O nosso
objetivo era claro e estivemos reunidos diariamente cerca de três a
quatro meses. O lugar que achamos para nos reunirmos era um
estábulo de vacas abandonado. O estábulo virou local de oração e de
súplicas. Limpamos o estrume todo, lavamos o local e raspamos as
paredes para ficarem menos escuras. Reconheço que, na altura, eu
ainda não conseguia entender a mensagem que Jesus me queria passar
e ensinar pessoalmente. Jesus queria dizer-me mais ou menos o
seguinte: “Erlo, se realmente queres que o Meu Espírito opere em teu
ministério e através da tua vida, então precisa acontecer contigo aquilo
que está acontecendo com este estábulo. Precisas ser limpo e
purificado”. Somente um tempo depois da operação de Deus haver
começado em mim é que comecei a ver e a entender quanto estrume
endurecido havia em minha vida e em minhas paredes e de quantas
coisas sujas me teria de limpar. Eram aquelas coisas que tornavam os
ouvidos de Deus surdos ao ponto de nunca escutarem as nossas
súplicas urgentes, (Is.59:1,2).
A maioria das vezes que falta avivamento genuíno, tem como razão
principal o não somos canais puros e purificados para transportarmos
as águas puras e vivas das quais o Senhor Jesus é o autor. Por essa
razão, desejo falar sobre minha vida e sobre minha experiencia
pessoal, exemplificando através de mim qual a razão principal por que
Deus, muitas vezes, não opera como dantes. É porque não somos
instrumentos que Deus possa usar. Somos instrumentos descartáveis e
inúteis, tal e qual eu era na altura.
Numa manhã de Sábado, alguns crentes zulus vieram ter comigo para
me perguntarem se não havia maneira de anteciparmos a reunião da
noite para as duas da tarde. Alguns deles vinham de muito longe e
queriam voltar para suas casas, caminhando, antes de anoitecer.
Naturalmente que concordei sem hesitação. Quando nos reunimos à
hora marcada, olhei pela janela para o lado de fora. Estava lá o
Governador do Distrito, algumas pessoas importantes da vila, o chefe
dos correios, o chefe da polícia e o juiz. Jogavam tênis do outro lado da
rua. Fiquei com vergonha e comecei a pensar: “Que estarão aqueles a
pensar de mim? Eis-me aqui, orando, chorando e clamando a Deus
com estes negros, de joelhos. Com certeza que pensam que enlouqueci!
Devem pensar que sou doido. Que devo fazer? Devo adiar a reunião e
dizer que seria melhor voltarem à noite? Assim, as pessoas importantes
que jogavam tênis já teriam ido para casa! E que pensariam os Zulus
de mim se o fizesse? Eu havia prometido ter o culto às duas da tarde!”
Comecei a duvidar disto e daquilo e logo tive uma ideia brilhante:
fechar a janela e ninguém de fora iria ouvir nada do que se passava lá
dentro! Levantei-me em direcção à janela e quando a fechei Deus falou
comigo:
“Está bem, Erlo, podes fechar a janela. Mas, estarás dentro
com o povo e eu fico do lado de fora! Eu também não vos
ouvirei tal e qual o povo do outro lado da rua!”
Eu entendi de imediato a mensagem. A verdade da voz era clara e fez
muito sentido para mim. Vi que Deus não se referia nem à janela e
nem aos brancos importantes que jogavam tênis. Deus estava
apontando o Seu dedo ao meu orgulho e ao meu coração altivo. Era
esse coração que me estava separando do Deus vivo, fechando a janela.
Foi a primeira vez que, realmente, me apercebi que o Espírito de Deus
era um Espírito Santo. Foi ali que tive essa noção pela primeira vez. Já
havia falado sobre o Espírito Santo centenas de vezes, talvez milhares
de vezes, mas, nunca me havia apercebido da santidade do
Espírito Santo. Nunca havia experimentado nada que me revelasse o
tipo de santidade do Espírito de Jesus. Pregava muito sobre o Espírito
Santo e o Seu poder, mas, nunca me havia apercebido da Sua
santidade. Mas, ali ficou claro para mim pela primeira vez. Afinal, eu
não sabia do que estava falando quando falava do Espírito Santo.
Sempre frisei os aspectos da misericórdia, mas, sobre a Sua santidade
nunca havia pensado e nunca me havia confrontado com ela. Nunca
tive uma revelação da verdadeira santidade de Deus. Atingiu a minha
alma tão profundamente que caí de joelhos diante daquele grupo de
crentes, chorando como uma criança muito ferida. Olhei para cima e vi
claramente em minha mente as palavras escritas em Tiago:
“Deus resiste aos soberbos”.
Foi, então, que me apercebi pela primeira vez em toda a minha vida
em que posição me encontrava em relação a Deus. Ele resistia-me. Não
estava afim de me abençoar e antes afim de resistir-me. Sempre
imaginei que era o diabo quem me resistia. Sempre tive essa convicção.
Mas, de acordo com a Bíblia, era o próprio Deus quem me resistia,
ainda que pregasse o Evangelho. Se fosse o diabo a resistir-me, ainda
haveria esperança para mim. Mas, se é Deus quem me resiste, que
esperança haveria para mim? Quem me salvaria da mão d’Ele? Nunca
me havia passado pela cabeça que havia dois poderosos a resistir-me
todos aqueles anos. Havia o diabo, o dono deste mundo, o príncipe das
trevas neste mundo, poderoso; e havia o Senhor, o Deus Todo-
Poderoso, Criador do Céu e da Terra. Clamei do fundo do meu
coração:
“Erlo, estás verdadeiramente perdido! Não existe esperança
para ti!”
Naquele momento ficou bem claro para mim por que razão as pessoas
não se convertiam de verdade sob a minha pregação. Deus resistia a
um orgulhoso e altivo. Estava explicado por que razão os doze anos de
trabalho árduo não haviam produzido qualquer fruto digno desse
nome! Eu preciso explicar, aqui, que eu não era do tipo de pessoa que
chorava facilmente. Mas, naquele momento, o meu coração ficou tão
atingido que não me consegui conter. Chorei amargamente por causa
do meu pecado. Estava envergonhado. Meu coração duro e sujo como
aquele estábulo estava quebrantado e foi dilacerado veementemente.
Já nem sentia vergonha de me encontrar a chorar na frente da
congregação. Todos olhavam para mim admirados, sem saber o que se
passava comigo. Só conseguia soluçar e dizer que era, realmente, um
grande pecador. Disse que era pessoa muito orgulhosa e que o meu
orgulho era grande e que Deus, afinal, me resistia. Era Ele quem
estava contra mim. Não consegui continuar com o culto. Somente
lembrei de pedir a todos ali presentes que orassem por mim. Coloquei-
me sobre meus joelhos e chorava amargamente, dizendo:
“Senhor, perdoa-me, um pecador. Salva-me. Tem
misericórdia!”
Mas, Jesus não parou por ali. Operou ainda mais profundamente em
mim. Continuou revelando um pecado atrás do outro. Era época do
Natal. Antes, o Natal era uma ocasião muito importante para todos
nós, especialmente para nós, seis irmãos e a família. Por vezes, já
começávamos a cantar hinos de Natal um mês antes da ocasião. Nós
nos alegrávamos e nos regozijávamos como os passarinhos que se
preparam para imigrar para o calor. Mas, o Natal de 1966 foi
diferente. Depois dos dias festivos, um irmão veio perguntar-me:
“O senhor sabe que o Natal já passou? Sabia que era Natal?”
“Não irmão, eu não me havia apercebido que era Natal”
Não havíamos tido nenhuma mensagem ou culto de Natal, nenhuma
comemoração, nenhuma decoração específica da ocasião. Contudo,
posso afirmar que havia sido o Natal mais feliz de toda a minha
existência! Deus estava muito ocupado comigo. Eu só pensava em uma
única coisa e clamava a Deus sem interrupção: que tivesse misericórdia
de mim. Todo o resto havia perdido importância.
Uns dias depois disso, já a nossa pequena congregação se reunia
quando eu passava de carro. Eu podia ouvi-los cantar e senti um
grande desejo de juntar-me a eles de imediato. Mas, logo pensei: “Não
posso fazer isso! Preciso ir mudar de roupa e barbear-me. Não posso ir
para o culto com roupa normal sem estar bem vestido. Preciso colocar
a minha gravata e ser um exemplo quando compareço diante das
pessoas. Não posso abrir a Bíblia diante do povo vestido desta maneira.
Que irão pensar os meus irmãos e irmãs?” E aos olhos do meu espírito
havia certas pessoas cujas opiniões sobre mim eram importantes. De
repente, as palavras do profeta que eu mais amava na Bíblia cortaram
o meu coração. Elias, quando estava diante de um rei, o Rei Acab,
disse-lhe (não se importando diante de quem estava presente): “Deus,
diante de quem eu estou…” 1 Reis 17:1.
Podemos pensar um pouco nesta palavras de Elias e ter muitas
opiniões sobre elas. Mas, vamos colocar-nos a nós mesmos na situação
de Elias. Aquele rei terreno era seu rei e tinha todo poder para tirar-
lhe a vida ou de permitir-lhe viver. Mas, Elias estava à vontade porque
estava mais consciente da presença de Deus. “Deus em cuja presença
estou…”. Diante de um rei, o seu rei, Elias só tinha consciência de
Deus. A presença do Rei Acab não o afetou minimamente. E era rei. E
o que estava acontecendo comigo? Eu não estava diante de nenhum rei
sequer. Ia estar diante dos presbíteros e do povo de minha igreja.
Certamente que eu nunca seria capaz de dizer aquilo que Elias disse se
fosse eu diante de um rei. E ali estava eu preocupado com o que certas
pessoas iriam pensar de mim.
Quando eu estava diante da minha congregação para pregar, tudo era
feito para agradar pessoas. Perguntava a mim mesmo se iriam gostar
de ouvir isto ou como reagiriam se eu falasse sobre aquilo. Perguntava-
me se iria magoar alguém com minhas palavras, etc. Nunca me
perguntava o que Deus pensaria de mim ou de minhas palavras. Não
estava consciente de meu Deus, que é maior que qualquer rei. As
pessoas eram, para mim, a parte mais importante juntamente com
suas opiniões! E foi ali que vi claramente em que situação
perigosíssima qualquer pregador pode colocar-se quando prega para o
agrado de certas pessoas ou para o desagrado de outras. É muito
perigoso estarmos a pregar sobre aquilo que as pessoas gostariam de
ouvir. Deus fez-me lembrar as palavras de Paulo: “Se eu ainda agrado
pessoas, não posso ser um servo de Cristo”, Gal.1:10. “Paulo”, clamei,
“também disseste que aquele que prega para os outros deve ter o
cuidado de não tornar-se rejeitado! Mas, em que situação me coloquei
a mim mesmo? Como é que Deus me está vendo agora? Como fico
diante da Sua Palavra sendo julgado por ela?” Eu sempre afirmava
aos meus ouvintes que vinha a eles como servo de Jesus. Mas, agora
ficava claro que eu era servo de pessoas. Tudo provava que eu nem
poderia ser membro duma congregação de Deus, onde Deus fosse
realmente rei e senhor. Quanto mais ser servo de Jesus! Foi dessa
maneira que fui sumariamente julgado pela Palavra de Deus.
Eu penso que era isso que Jesus queria transmitir ao dizer que a
palavra que Ele falou é que nos julgaria. Ele disse que não veio para
julgar o mundo, mas, que a Sua palavra o faria. No momento que senti
que alguém pode, realmente, estar pregando para os demais e, ainda
assim, ser rejeitado e desqualificado por não participar dessa prova
segundo as regras, foi precisamente o momento que me senti julgado
pela Palavra que Jesus trouxe. Fiquei profundamente tocado. Chorava
amargamente. E do nada surgiu uma imagem em minha cabeça. Tenho
a certeza que se eu conseguisse pintar, se fosse artista, eu pintaria
(ainda hoje) a imagem que estava diante de mim. Vi um enorme
templo pagão cheio de deuses estranhos e um homem andando e se
encurvando diante de cada ídolo pelo qual passava. Ora se encurvava
diante de um, ora diante de outro conforme a necessidade. Dobrava
com muita reverência e adorava a imagem. E vi que aquele homem era
eu. Nem mais: era mesmo eu! Deus deu-me uma imagem de como eu
era de fato. Foi assim que me apercebi que tipo de pessoa era aos Seus
olhos.
Enquanto visualizava aquela imagem, o meu coração quebrantou-se e
entrei num pranto que não conseguia parar. Era demais para meu
coração. Durante doze anos eu andei pregando para os outros
deixarem seus deuses e pecados e que não servissem ídolos e deuses,
afirmando que somente o Senhor é Deus. Mas, eis-me aqui dobrando
minhas costas diante de ídolos e de outros deuses da minha cabeça. Eu,
afinal, servia o diabo e os seus deuses. Quando isso aconteceu vi que, de
fato, amava outros deuses e os servia; até diante de pessoas eu cedia.
Isso era servir outros deuses. Não é fácil colocar em palavras aquilo
que se passou em mim naqueles momentos. Não sei como descrever o
que se passou. Estava em estado de choque ao contemplar-me e ver-me
da maneira que Deus me via. Ficou tudo claro. Tudo me parecia em
vão. Fiquei muito tempo ali espetado no chão, como se nada existisse
ao meu redor. Por fim, virei-me e dirigi-me para o local da reunião.
Não fui capaz de pregar ou de dizer uma palavra. Não foi possível
conduzir o estudo Bíblico naquele momento. Lavado em lágrimas, só
disse:
“Vamos orar”. Ajoelhei-me, chorei e continuei: “Senhor,
perdoa-me, um pecador. Preciso ser salvo”.
Havia esquecido completamente que um dia me havia convertido,
quando era criança. Uma coisa é falarmos de Deus ou sobre Jesus.
Outra coisa é estarmos debaixo do juízo d’Ele e das palavras que falou
e experimentar esse juízo de forma real.
“Ó Senhor”, orava, “tem misericórdia de mim, um pecador.
Quebra todos os ídolos que encontrares em mim”.
Eu já não pensava na riqueza ou na pobreza como razão para o
insucesso; já não me escondia por trás dos pecados dos jovens; já não
acusava os erros dos outros. Era eu o pecador. Havia-me esquecido
totalmente de todas as outras pessoas. E Deus havia-me colocado em
Seu moinho. E moía fino, não deixando grãos intocados. Certamente,
somente aqueles que, um dia, tiverem ou tiveram o privilégio de
experimentar estas coisas que tento descrever, entenderão aquilo a que
me estou referindo. Naqueles momentos, eu esqueci que já pregava o
Evangelho há doze anos e esqueci toda a minha formação teológica.
Não valia de nada. Sentia que era como aquele publicano que batia no
peito dentro do templo: “Senhor, tem misericórdia de mim, um
pecador!” Tal como ele, batia forte em meu peito para experimentar
uma conversão profunda. Era eu quem precisava de perdão. Eu era,
realmente, um tolo cego, tão cego como a morte. O Senhor teve de me
pegar pelo colarinho para esfregar o meu nariz nos meus pecados. De
outra maneira, nunca os veria da maneira que Deus os vê.
Um certo dia, caminhava com a minha Bíblia na mão em direção ao
local das nossas reuniões. Cheguei a uma loja onde algumas pessoas se
encontravam. Enquanto passava, sem querer toquei em minha própria
face. Foi então que me apercebi que não me havia barbeado. Havia
esquecido. Desde pequeno que me haviam ensinado que isso era uma
vergonha para um homem, sair à rua sem se barbear. Sempre me
haviam dito que era uma vergonha para qualquer homem aparecer no
meio de pessoas com a barba por fazer. Fiquei espetado no chão,
chocado. Como me pude esquecer? Logo de imediato surgiu aquela
mesma perguntinha de sempre: “O que este povo estará pensando de
mim?” E uma vez mais veio a mim uma palavra que me bateu como
um martelo poderoso: “Que pensam as pessoas de ti!? Não está escrito
que todos devemos estar verdadeiramente mortos para o mundo e para
o pecado?” Era novamente a Palavra de Deus a julgar-me
impiedosamente. A luz manifestou outro pecado novamente. O meu
entendimento ficou claro.
Como vêem, durante um verdadeiro avivamento, a Palavra de Deus é
vivente. Ela opera poderosamente sem poupar qualquer pessoa. A
Palavra atingia-nos profundamente e éramos escrutinados
minuciosamente. É nessas alturas que não devemos agir como patos ou
como gansos. Os patos e os gansos não ficam molhados por baixo das
penas quando mergulham. Mal saem da água, estão secos. Sacodem a
água como se nada tivesse acontecido. Ou como as pedras que
permanecem anos dentro da água ou no fundo de um rio, as quais
estão sempre molhadas por fora, mas, dentro continuam secas.
Durante tempos de verdadeiro avivamento, a Palavra funciona como
um martelo poderoso e quebra tudo que é duro e tudo que é rocha.
“Senhor”, disse, “eu creio verdadeiramente em Ti, mas,
confesso que não creio do jeito que as Escrituras dizem, pois,
a Tua Palavra afirma que todo aquele que crê em Ti está
realmente morto para o mundo e o mundo para ele. Eu não
estou morto para o mundo. Ainda me preocupo com aquilo
que pensam de mim”.
Era verdade. Eu não me sentia morto para aquilo que o mundo dizia
ou pensava. O mundo sobrevivia em mim e era, deveras, uma coisa
muito importante para mim. Estava mais morto para Deus que para o
mundo. E no momento que me apercebi disso, eu obtive outra resposta
para o enigma da falta de poder no meu ministério. Permanecendo
vivo para o mundo, não me era possível crer da maneira que as
Escrituras dizem. Era por isso que eu também não experimentava os
tais rios de água viva fluindo através de mim. O Senhor havia
afirmado que os rios de água viva só fluiriam através daqueles que
cressem como as Escrituras dizem. Agora era fácil ver por que razão o
meu ministério durante doze anos não havia dado frutos e por que
razão eu era mais seco que um deserto árido. Agora também estava
explicado por que razão os corações das pessoas permaneciam duros
ouvindo-me. Apercebi-me que eu era, realmente, o verdadeiro tropeço
para Deus e para a Sua obra. Era fácil ver por que as promessas de
Deus não davam certo em minha vida. Por essas razões era impossível
termos um avivamento em nosso meio. Deus não tinha como operar
através de mim e de meu ministério. Havia muitas coisas carnais em
minha vida que impossibilitavam a operação de Deus. Essas
carnalidades entristeciam e anulavam por completo a obra do Espírito
Santo em nosso meio. Nós havíamos tornado Deus surdo. Éramos os
principais responsáveis pelo afastamento de Deus. Ou não sabemos nós
que um avivamento é a mais pura obra do Espírito de Deus que é
Santo? Havemos esquecido isso? Quando me apercebi disso, o meu
coração quebrantou-se novamente e tornei a chorar amargamente. Na
verdade, Deus não me dava descanso. A Sua mão não se levantava de
cima de mim. Eu implorava para Deus transformar-me numa nova
criatura e numa pessoa realmente nova para que pudesse ser usada
por Ele sem impedimentos.
Depois disso, Deus começou a revelar qual era o real estado do meu
coração morno e sem vida. Mostrou-me um monte de três camadas. Na
parte inferior, havia muitas pessoas. Na camada seguinte, havia menos
gente e os seus rostos mostravam, por vezes, tristeza e pesos. E, na
parte superior, havia pessoas cujos rostos brilhavam como o de anjos.
Eles estavam cheios de luz e de vida. Como eu desejava chegar à parte
superior! Não entendi imediatamente o significado daquela imagem
que eu contemplara. Mas, uns dias depois, eu li: “Antes fosses quente
ou frio! Mas, agora que és morno e não és nem quente e nem frio,
cuspir-te-ei da minha boca para fora!” (Apoc.3:16,16). E foi daquela
maneira que Deus me revelou como existem pessoas frias, mornas e
quentes e como a vida de morno é dura e implacável; e como ser
morno põe Deus em agonia ao ponto de querer vomitar. Vi como ser
morno era uma coisa muito horrível aos olhos de Deus.
Era precisamente isso que acontecia comigo. Quando o Senhor me
manifestou a verdade e mostrou como eu era aos Seus olhos, apercebi-
me de como todos os meus pecados estavam relacionados com o fato de
eu ser uma pessoa morna. Ali, caí sobre os meus joelhos, rompi em
lágrimas e clamei ao Senhor:
“Senhor, imploro-te que me dês um coração que esteja em
fogo para Ti noite e dia! Não suporto mais ser morno assim.
Retira de mim este coração morno e sujo, retira a minha
espiritualidade preguiçosa e livra-me desta situação trágica.
Dá-me um coração igual ao que queres! Tem misericórdia de
mim! Tu vieste para lançar fogo sobre a terra e eu estou
morno! Por favor, Senhor, faz meu coração um fogo. Começa
comigo, em mim. Entrego-me totalmente em Tuas mãos para
que prossigas com essa obra do jeito que entenderes. Pega em
minha vida toda e faz dela tudo aquilo que te convém e tudo
aquilo que desejas alcançar!”
Mas, o Senhor continuou trabalhando, operando ainda mais fundo.
Revelava um pecado atrás do outro. Um dia, pensava distraidamente
nas palavras que ouvira de um Primeiro-ministro da África do Sul,
Hendrik Verwoerd. Anos atrás, ele dizia acerca do grande problema
racial no nosso País, que devemos amar o nosso próximo como a nós
mesmos. E ali estava o Senhor a lembrar-me das palavras do nosso
Primeiro-ministro. Eu havia comentado: “É mais fácil falar que
fazer!”
“Erlo, lembras as palavras do teu Primeiro-ministro?”
Perguntou-me Jesus. “Ainda te recordas do que ele vos havia
dito? Lembras que ele disse que precisas amar o teu próximo
como amas a ti mesmo? Bem, hoje não é o Primeiro-ministro
do teu País que te fala, mas, o Rei dos reis e o Senhor acima
de todos os senhores. Diz-me, Erlo, tu realmente amas o teu
próximo como a ti mesmo?”
Sabem, quando estamos diante do Deus vivo e Ele faz-nos uma
pergunta dessas, precisamos pensar bem antes de responder.
“Falando a verdade, Senhor, eu entreguei a minha própria
vida por causa deles. Dei a minha vida para salvar estes
negros à minha volta. Deixei todas as coisas que queria por
causa das suas vidas”.
“Erlo”, respondeu-me, “Eu não perguntei se deste a tua vida
por eles. Só estou perguntando se os amas como amas a ti
mesmo e com aquele amor que as Escrituras dizem. Tu
realmente amas o teu próximo como a ti mesmo com esse
amor?”
Em 1 Cor.13:3 lemos o seguinte: “E ainda que eu distribua todos os
meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo
para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará”.
“Senhor”, tive de admitir, “se for realmente sincero, tenho de
reconhecer que não amo o meu próximo do jeito que me amo
a mim mesmo. Quando eu preciso passar a noite em algum
lugar e tenho uma cama e o que comer, reconheço que não
penso muito na possibilidade dos outros não terem tudo que
tenho. Desde que eu tenha o que preciso, estou satisfeito. Se o
meu próximo consegue o que precisa ou não, não tem muita
importância para mim. É verdade, Senhor, não amo o meu
próximo como a mim mesmo”.
Jesus persistia com a sua pressão sobre mim e não cedia de maneira
nenhuma. Continuou, dizendo:
“Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam,
fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas”,
Mat.7:12. “Tu fazes isso, Erlo?”
“Senhor”, suspirei, “nunca pensei nessas coisas dessa
maneira. Eu não faço isso. Quando chego a algum lugar,
recebo sempre do melhor por ser o pregador. Todas as
pessoas são sempre simpáticas comigo e, quando não são, fico
indisposto e zangado com elas. Por vezes, até lhes digo como
se estão comportando mal comigo”.
“Erlo”, continuou, “Os primeiros serão os últimos e os
últimos serão os primeiros, os maiores serão menores e os
menores serão os maiores. Eu mesmo coloquei esse exemplo
diante de vós, para o seguirem na perfeição. Eu não lavei os
vossos pés? Não me tornei no menor e no mais insignificante
de todos, um servo para qualquer um?”
“Ah Senhor”, clamei em agonia e quebrantado, “não é isso
que se passa comigo. Eu não faço isso! Os outros lavam os
meus pés, mas, eu não lavo os pés de ninguém. Eu não sou o
menor de todos aqui!”
Como era fácil, para mim naquele tempo, falar e pregar sobre estes
assuntos! Mas, quando é Deus a colocar os fatos diante dos nossos
olhos de forma tão clara, as coisas parecem, realmente, muito
diferentes!
“Que tipo de relacionamento tens com estas pessoas à tua
volta! Como te relacionas com cada uma delas?”
Se um humano nos faz uma pergunta dessas, arranjamos sempre uma
maneira de dar respostas dúbias ou de nos esquivarmos à resposta.
Mas, isso não tem como acontecer quando é com o Deus vivo que
estamos lidando e quando é Ele quem nos faz as perguntas.
“Senhor! Isso não! Não podes pedir tal coisa de mim! Por
favor Senhor, isso não!” Supliquei ao Senhor.
Era algo que eu não conseguiria fazer. Quando ia a algum lugar,
aparecia sempre alguém oferecendo-se para levar a minha mala.
Significaria isso que, sempre que um negro vem vindo com uma mala
na sua mão, eu devo oferecer-me para carregar-lhe a mala? Preciso
mesmo ser o mais insignificante?
“Não posso, Senhor! Eu, um servo de todos e de qualquer
pessoa? Isso não pode ser assim! As pessoas daqui são
diferentes! Eles vão abusar e rir de mim, com certeza! Eles
vão aproveitar-se de mim! Não creio que seja capaz de fazer
isso dessa maneira, Senhor. De maneira nenhuma!”
“Não ouviste dizer, Erlo, que todo aquele que quer salvar a
sua própria vida perdê-la-á e todo aquele que perdê-la,
ganhá-la-á? E que todo aquele que perder a sua vida por
minha causa e por causa daquilo que quero, ganhará a vida
eterna? Erlo, tu entregas a tua vida assim a essa morte?”
“Oh, Senhor, existe alguma coisa mais difícil que morrer?
Morrer, eu? Abandonar tudo, tirar tudo de mim eu até
consigo, mas, pedir que morra é outra coisa. Preciso mesmo
morrer?”
Uma vez mais, ouvi aquela voz especial de Deus: “Se não
estás disposto a tornar-te um servo de todos e de qualquer
um, se teu coração não tem nele a disposição de ser sempre o
menor de todos, todas as tuas orações são em vão. Por isso,
pára de pedir-Me avivamento, pois, nunca ouvirei essa
oração. Eu não descerei”.
Fiquei entre a espada e a parede, estava preso numa esquina sem
saída. Dia e noite havia uma enorme luta dentro do meu coração. A
luta dentro de mim era tão intensa que, quando despertava de noite, a
minha cama estava toda molhada de tanta transpiração! Eu não estava
doente ou com febre! Era tudo por causa daquilo que se passava
dentro de mim! A luta era feroz e Deus não cedia de maneira
nenhuma! Eu creio, firmemente, que, por vezes, é mais fácil para
qualquer um de nós estarmos sem Deus que na Sua presença, quando
ela é mesmo real. Numa dessas ocasiões de luta feroz, Deus dirigiu-me
à Sua Palavra:
“Erlo, quando fazes uma coisa a favor ou contra o menor de
todos, fazes a Mim. Por isso, quando fores julgado, um dia,
irei colocar o menor diante de Ti e tudo que lhe houveres feito
ou não é que te irá julgar, pois, foi isso que fizeste a Mim”.
Fiquei estupefado! Não dava para crer naquilo que ouvi!
“O que é isso que Me estás dizendo, Senhor? Como é isso
Senhor?”
Sabem, amigos, quando é realmente o Senhor quem fala connosco, usa
as palavras que conhecemos há muito tempo de trás para a frente e
apercebemo-nos que as havíamos entendido de outra maneira. Só
assim entendemos o verdadeiro significado de todas as Suas palavras.
Então, perguntei-me qual era a pessoa mais insignificante aos meus
olhos. Pergunte isso a si mesmo! Qual é a pessoa mais insignificante aos
seus próprios olhos? Se você deseja, realmente, medir a sua
espiritualidade e a sua proximidade a Jesus, se precisa medir a
profundidade de seu amor por Deus, se quer mesmo saber qual a
medida correta, então, procure saber qual a pessoa mais insignificante
aos seus olhos. Podemos ter a certeza que o verdadeiro relacionamento
que temos com Deus nunca será maior que o relacionamento que temos
com essa pessoa. Também não temos maior amor por Jesus que temos
por um irmão ou irmã que é insignificante aos nossos olhos. Essa é a
única maneira de medir de forma correta o amor que realmente temos
por Deus. É equivalente ao que temos pelo menor de todos aos nossos
olhos. É essa a verdade por toda a eternidade. Tudo o mais que
disserem ou tentarem explicar sobre este assunto não passam de
mentiras e de esquemas enganadores. É hipocrisia, é fingimento. A
Verdade é esta: “O Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o
fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes”,
Mat.25:40.
Pois é, irmãos, quando vemos estas coisas como elas realmente são,
quando as vemos sob a luz de Deus, somos atingidos por um tipo de
temor que não conseguimos explicar ou descrever. Tudo pára à nossa
volta. Mas, isso não deixa de ser bom, pois, tudo que se encontra em
nosso coração sai para fora, para a visibilidade. E, também, foi assim
comigo, pois, tive de reconhecer diante de Deus que, em minha vida, as
coisas não andavam muito bem. Não estavam da maneira que deviam
estar. Eu não pensaria se havia alguma criança que precisava de
alguma manta ou coberta desde que eu estive debaixo da minha
própria. Não perguntaria se alguma criança estava quentinha e
aconchegada. Se eu não tivesse de partilhar o meu quarto com alguém
que roncasse, para mim estaria tudo bem. Que seja outro a partilhar o
quarto com uma pessoa que ressona! Mas, chegará o dia quando Deus
nos dirá: “Sabias que era Eu quem iria estar no quarto contigo e era
Eu quem roncava?” E que poderemos responder? “Oh Senhor, se eu
soubesse que eras Tu! Se alguém me tivesse dito que eras Tu, eu Te
daria meu quarto todo ou ficaria lá Contigo!”
É dessa maneira calada que Deus nos coloca à prova. Deus faz a
maioria das coisas naqueles momentos e daquelas maneiras que menos
esperamos. Nós encontramos o nosso coração e a maneira como
tratamos o Senhor ao lado de uma pessoa acamada que fede, ao lado de
um deficiente, ao lado de um cego ou ao lado de uma pessoa muito
pobre. É nesses momentos que podemos medir o nosso amor por Jesus
também. Se não estamos dispostos a levar essas coisas a sério já, neste
momento, olhando esse touro de frente, então iremos encará-lo de
frente um dia no Juízo Final.
Houve um dia, por essa ocasião, que eu estava em pé debaixo de uma
árvore. Uns negros passavam e iam conversando e ouvi um comentário
que faziam sobre mim:
“Olha aquele branco ali”, apontando para mim. “Deve ser
um bêbado. Mas, parece que não é dos piores”.
Não sei o que eu estava parecendo para eles, ou em que estado me
encontrava. Mas, uma coisa é certa: Deus havia transformado uma
pessoa orgulhosa e segura de si em alguém que era desprezado por
aqueles que eram considerados os menores. Antes, eu olhava de cima
para baixo sobre eles. Mas, agora era a vez deles. Foi isso que
aconteceu comigo quando Deus começou a trabalhar em minha vida.
Os dias foram passando, mas, Deus não parava. Era persistente e
perseguia todo o Seu intento sem dó. Ele revelava todas as minhas
ações à luz d’Ele, mostrava como Ele as via. Ele dizia mais ou menos
assim:
“Erlo, quando falaste com essa criança, falaste como Eu o
faria? A maneira como falaste com ela é mesmo a maneira
que Eu próprio o faria? Por que não me respondes, Erlo, que
se passa contigo? Responde-Me!”
As coisas tornaram-se demais para mim. Já estava no meu limite. Não
aguentava mais.
“Senhor, não aguento mais! Estou no meu limite!”
Logo de seguida chegava a resposta:
“Erlo, não estás pedindo por avivamento? Só te quero dizer
que avivamento é isso: é amares teu próximo e tratá-los como
a ti mesmo. Isso é o avivamento. Então, pára de pedir
avivamento. Eu não descerei de outra maneira. Tu pedes que
eu desça, Eu começo a operar e a fazer aquilo que virei fazer
em vosso meio e tu dizes que não aguentas mais? Sabes que,
se Eu descer, vai ser para Eu ser Deus e Senhor em vosso
meio? Queres que venha fazer o que tu queres? Assim, não
descerei”.
Já percebem por que razão muitas pessoas pedem avivamento e não
recebem. Por essa razão, muitos chegam ao fim das suas vidas sem
nunca haverem experimentado avivamento. Sabem por que razão? Por
as suas orações hipócritas e fingidas não passam disso mesmo. Não
passa de teatro e Deus não participa em peças de teatro. Ele não tolera
coisas fingidas. Ele não quer nada com hipócritas. Eu creio de todo o
meu coração que, se a nossas vidas e a nossa fé estiverem, realmente, de
acordo com as Escrituras, não precisaremos orar por avivamento: ele
aparecerá sem mais nem menos. O avivamento será uma consequência
natural de vidas dessas e duma fé que está de acordo com aquilo que as
Escrituras dizem. Não será necessário oramos e suplicarmos por rios
de água viva, porque os rios de água viva fluirão naturalmente. Essa é
a minha opinião pessoal. Assim que a nossa fé estiver de acordo com o
que as Escrituras dizem, esses rios aparecerão. Se temos de orar, que
oremos para Deus colocar-nos de acordo com as Escrituras e que
aquilo em que cremos e somos se torne uma cópia fiel das Escrituras. E
o Senhor continuou operando em minha vida até que eu, finalmente,
cedi. Clamei e disse:
“Ó Senhor, opera e faz conforme queres. Não olhes para as
minhas queixas e continua fazendo tudo que desejas em mim.
Ainda que isso signifique a minha própria morte, não deixes
de operar conforme Teu desejo. Eu quero ter essa disposição.
Quero ser “um povo disposto para o Senhor”, Luc.1:17. E se
ainda assim não estiver de acordo, faz na mesma a Tua
vontade comigo até eu ter essa disposição”.
Ainda me lembrei de uma outra coisa que hoje me faz sentir uma
enorme vergonha. Eu pedia ao Senhor:
“Senhor, dá-nos um avivamento, mas, que seja uma coisa que
esteja de acordo com as nossas maneiras de agir e que siga a
ordem à qual estamos habituados. Que haja ordem e que não
apareçam coisas estranhas para nós”
Naquele tempo, nós tínhamos as nossas próprias heresias, maneiras e
comportamentos hipócritas. O Senhor respondeu-me assim:
“Erlo, Tu realmente tens noção de quem Eu sou? Queres tu
ser o meu deus? Queres ser o Mestre e que eu seja o
discípulo? Será que tens autoridade para prescrever a
maneira como devo ou não devo agir em vosso meio? Sempre
que o Meu Espírito opera e quando Ele começar a operar
aqui, Ele fará aquilo que Me apraz, tudo aquilo
que Eu desejo. Eu não irei operar de acordo com teus desejos
e de acordo com tuas ideias. Se não queres humilhar-te e
abandonar as tuas próprias ideias e doutrinas, Eu
simplesmente não descerei. Os teus pensamentos não são
iguais aos Meus, os Meus pensamentos não são os teus e os
teus caminhos não são os Meus.”
Aquelas palavras penetraram fundo em mim e levei-as muito a sério. O
meu coração quebrantou-se novamente. É natural que, hoje, é fácil
entender que somente aquilo que Deus faz tem como manter-se. Agora
sei que isso é uma verdade. Todo o resto nunca deixará de ser
imaginações de pessoas e pensamentos que nunca geram fruto
duradouro. A outra verdade é que só existe verdadeira ordem onde
Deus realmente opera. Onde Deus não está, não existe ordem
verdadeira. As coisas até podem decorrer calmamente onde Deus não
reina e as pessoas podem estar muito caladas, mas, os pensamentos
podem estar desordenados e levar a pessoa para aqui e ali. Isso é,
também, desordem. Verdadeira ordem só pode existir onde Deus
realmente reina e quando pode ter firme sobre nós a Sua mão. Mas,
não deixa de ser verdade que onde Deus opera, Ele faz tudo da maneira
que quer. Nós não podemos estar a dar indicações a Deus de como deve
operar ou agir no nosso meio. Deus é o Senhor e somente as Suas obras
permanecem para sempre. Ele tem o direito que Lhe pertence, pois, é
Deus do Céu e da Terra. Quando é, realmente, Deus quem opera, as
coisas acontecem da maneira que Ele quer. Ele não é o servo, não é
nosso discípulo ou o escravo. Ele não pode fazer parte da nossa vida
como se fosse o nosso cachorrinho que chamamos e mandamos para
onde queremos. Ele é Deus. É o Deus vivo e o Senhor dos senhores.
Estaremos orando em vão se não estivermos providenciando espaço
para Ele operar da maneira que quer e como quiser. Foi assim que
Deus me trouxe ao ponto onde havia de aceitar toda a Sua autoridade
sobre tudo e onde eu me submetesse ao Deus vivo, aceitando ser d’Ele o
reino sobre mim e não meu.
Durante o tempo que Deus estava ocupado comigo, trazendo todo o
tipo de pecados para a luz, não suspeitava, sequer, que Deus também
estava ocupado com o resto da congregação. Deus estava operando ao
mesmo nível com todos. O Seu Espírito começara a trabalhar. Mostrou
os pecados de todos, humilhou a todos. Um ia pedir perdão ao outro
por haver sido antipático; outro, ainda, confessava a uma criança que a
havia tratado mal e implorava o perdão à criança; outro que não havia
castigado o filho da maneira que devia. Os filhos reconciliavam-se com
os pais e os pais com os filhos. Um dizia: “Por favor, perdoa-me por
haver falado desta maneira e castigado gritando”. Outro: “Perdoa-me,
o meu coração estava amargurado contra ti”. Outro: “Perdoa-me por
te ter julgado e falado de ti com os outros em vez de te buscar para
esclarecer tudo”.
Daquela maneira, as pessoas começaram a acertar as suas vidas - entre
elas e Deus e entre elas mesmas pedindo perdão e chamando o pecado
pelo nome. Um irmão escreveu-me uma carta onde pedia perdão por
haver contado mentiras sobre mim a outros e que não deveria ter feito,
ainda mais sendo eu servo de Deus, dizia ele. Mas, eu não tinha mais o
direito de julgar fosse quem fosse por aquilo que me fizeram, pois, eu
próprio era o maior dos pecadores. Eu só sabia orar: “Senhor, perdoa
os meus pecados. Sou um enorme pecador. Jesus salva-nos ou então
morreremos para sempre!”
O Senhor nunca parou de trabalhar em todos os corações até haver
conseguido exterminar tudo que era impureza. Ele purificou-nos de
alto a baixo. Limpou a eira completamente de tudo aquilo que
entristecia o Seu Espírito e tudo aquilo que fazia com que não ouvisse
nenhuma das nossas orações. Quando eliminou por completo todas as
coisas sujas em nós e retirou de nós todas as obras do diabo e as obras
que se fazem às escondidas nas trevas, finalmente, o caminho do
Senhor havia sido preparado para que pudesse trabalhar sem
impedimentos ou limitações. Os Céus romperam-se subitamente num
dia que não esperávamos e o Espírito Santo desceu sobre nós como
havia acontecido no tempo dos Apóstolos.
Em 1 Pedro 4:17 lemos, claramente, que o Juízo de Deus começa pela
casa de Deus. E, também, é ali que Deus começa a trabalhar através do
Seu Espírito. A obra do Espírito Santo começa sempre na casa de Deus
e entre o Seu povo. Nem podia ser de outra maneira. Deus, quando
começa a trabalhar, não começa com os pecados dos outros, não
começa com os pecados dos nossos filhos, ou dos nossos pais, mas,
começa sempre nos nossos próprios pecados. Senhora, Deus não
começa a trabalhar no seu marido e antes em si. Precisa varrer do
mapa os seus próprios pecados. É esse o evangelho, são essas as boas
novas do Evangelho de Jesus. E você, meu honrado senhor, deve
esquecer todos os pecados de sua querida esposa e começar pelos seus.
O verdadeiro avivamento de Deus só pode começar por nós e nunca
pelos outros. Não precisamos ficar à espera que seja o nosso próximo a
resolver-se. Não é preciso. Basta lidarmos com os nossos pecados e,
principalmente, com os prediletos. Devemos parar com os nossos
próprios pecados e estancá-los para sempre – eliminar e exterminar
tudo aquilo que possa entristecer o Espírito Santo e possa fechar os
Seus ouvidos santos para as nossas orações. Os pecados dos outros, o
mal dos nossos amigos, não têm capacidade de extinguir o fogo do
Espírito Santo em nossos corações – de maneira nenhuma!
A Palavra de Deus diz, por alguma razão, para nunca entristecermos o
Espírito Santo. Sempre que não haja avivamento em nós ou entre nós,
não podemos culpar ninguém desse fato. Somos supra-responsáveis por
essa situação. Somente nós somos responsáveis pela ausência de
avivamento e do Espírito Santo. Se Deus não opera no nosso meio, de
quem mais será a culpa senão nossa? Não coloquem as culpas no
mundo ou na sua força, não se desculpem atribuindo as culpas à
imoralidade ao redor. Antes, coloquem a culpa no hipócrita que se diz
crente e não experimenta o poder de Deus em sua própria vida e igreja.
O Juízo começa sempre na casa de Deus e, antes de qualquer
avivamento, somos julgados pela Palavra de Jesus. Esta é a verdade. E
se a verdade é uma boa nova para si ou se é uma má notícia, não deixa
de ser o medicamento apropriado para o seu problema, seja ele qual
for. Queixe-se de si mesmo se não vê o Espírito Santo de Deus a mover-
se como em tempos antigos. Você também se queixa da ausência do
Espírito Santo da mesma maneira que eu fazia? É uma dessas pessoas?
DAS TREVAS PARA A LUZ
Em João 16:7-8 o Senhor Jesus disse assim: “Todavia digo-vos a
verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o
Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei. E,
quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”.
A palavra “Consolador” no grego original é “parakletos”. Isso significa
mais ou menos “aquele que está do teu lado, ombro a ombro,
apoiando”. Os Céus rasgaram-se e Ele veio habitar no meio do Seu
povo. Ele falava com o povo em uma linguagem que todos entendiam.
Naquele dia, todos entendiam muito bem o significado da Palavra de
Deus e tudo quanto o Espírito Santo lhes dizia era claro. Mas, nem
mesmo assim se convertiam todos quantos ouviam. Alguns eram
avessos e até gozavam dizendo que os que foram cheios do Espírito
estavam bêbados. E esses que gozavam com os discípulos também
ouviam o evangelho em seu próprio idioma. Assumimos que o Espírito
Santo fala uma linguagem que todos entendem – até mesmo os que
rejeitavam. Quando o Espírito Santo começa a operar, tudo perde seu
valor: a cor da pele, a nacionalidade, a religião, o idioma e qualquer
outra coisa que seja importante para o ser humano. O Espírito Santo é
capaz de tocar em qualquer tipo de coração. Ele conhece os idiomas do
mundo inteiro. Ele fala a médicos e professores, para izangomas
e izinyanga, para analfabetos, para ímpios e para teólogos, para alunos
quanto para professores. Só podemos ficar maravilhados com o modo
como Ele fala aos corações dos homens de qualquer nação em qualquer
parte do mundo.
Logo após o Espírito Santo haver descido sobre nós, Deus começou a
manifestar-se ao povo da nossa região e arredores. Cada dia trazia
mais e mais pessoas ao conhecimento do Evangelho e começou a
penetrar fundo nas barreiras de Satanás que ali existiam. Não
tocávamos sinos para chamar as populações para os cultos; não
enviávamos convites; não fizemos nenhuma publicidade; não
organizamos nenhum evento ou coisa do gênero. Aquele mesmo
Espírito que reuniu todas aquelas pessoas no dia de Pentecostes, Ele
mesmo começou a trazer o povo até nós e a reunir as pessoas. Começou
a operar. Agora, aquele problema em minha cabeça sobre o que
acontecia com João Baptista estava explicado. Ele, João, estava cheio
do Espírito desde o ventre de sua mãe. Foi esse mesmo Espírito que
começou a operar em nosso meio de forma poderosa.
A primeira pessoa a vir até nós foi uma isangoma (feiticeira). Ela tinha
uma escola para isangomas. Andou cerca de 7 km a pé. Eu não a
conhecia e não sabia quem era ela. Perguntei-lhe o que desejava.
“Desejo que o senhor ore por mim”, respondeu. “Desejo
muito conhecer Jesus. Já estou farta desta vida que levo.
Estou presa e acorrentada a Satanás e aos poderes do
inferno!”
“O que me está dizendo?” Perguntei sem entender muito
bem.
Quase não dava para acreditar! Eu não entendia. Durante doze anos de
ministério sempre tentei converter feiticeiros e bruxas, mas, nunca
havia obtido qualquer sucesso. Eu passava semanas e semanas
pregando o evangelho nas suas zonas e nunca uma pessoa daquelas se
havia convertido. E eis aqui, agora, uma feiticeira explicando para
mim o que ela precisava fazer. Ela pedia para a libertarmos daquelas
correntes do inferno que a prendiam. Eu não entendia.
“Quem falou com a senhora?”
“Ninguém”.
“Quem é que lhe falou sobre Jesus, então?”
“Ninguém!”
“A senhora esteve em algum culto ou pregação
recentemente?”
“Não, eu nunca frequentei qualquer culto em toda a minha
vida”.
“Então, quem é que enviou a senhora aqui?”
“Ninguém!”
“Mas, eu não entendo”. Os meus olhos deveriam estar muito
arregalados de surpresa. “Quem enviou a senhora até nós?
Quem lhe contou que estávamos aqui?”
A Feiticeira interrompeu-me subitamente. Eram perguntas a mais e
sem nexo para uma pessoa aflita.
“Por favor, pode parar de fazer tantas perguntas? Estou a
caminho do inferno, estou a um passo de ser condenada para
sempre. Se Jesus não me salvar agora e se Ele não me libertar
das garras de Satanás, tenho a certeza que irei cair dentro do
inferno. Serei amaldiçoada para sempre e nunca mais terei
oportunidade de me acertar com Jesus. A minha única
esperança é que Jesus ainda me consiga salvar!”
Fiquei ainda uns momentos sem qualquer reação a olhar para aquele
‘fenômeno’, pensando no que deveria fazer. Nunca havia lidado com
um caso daqueles. Chamei alguns cooperadores e expliquei-lhes o que
se passava. Depois, perguntei à feiticeira se ela estava disposta a
confessar todos os seus pecados e de entregar-se completamente a
Jesus. Em Prov.28:13 lemos: “Aquele que encobre as suas
transgressões, não prosperará. Mas, aquele que as confessa e deixa,
alcançará misericórdia”. Se alguém estiver confessando qualquer
pecado sem a clara intenção irrevogável de nunca mais torná-lo a
cometer, a confissão será sempre vã. Tais confissões não passam de
palavras fingidas e discursos hipócritas. Somente os que confessam e
abandonam os seus pecados para sempre, alcançam misericórdia. Por
isso, perguntei:
“A senhora está disposta a confessar todas as feitiçarias como
pecado e a abandonar tais práticas para sempre?”
Ela estava disposta. Mal terminei a pergunta, ela começou a confessar
todos os seus pecados e nem perdeu tempo. Só depois de ela estar
confessando é que eu comecei a perguntar-me de que forma
deveríamos orar por ela. Ela estava possessa de demônios. Lembrei que
antes eu já havia tentado expulsar demônios de pessoas usando o Nome
de Jesus e invocando Seu sangue de perdão sobre a pessoa. Mas,
sempre que o fiz, os demônios riam na minha cara e blasfemavam o
Nome de Jesus. Para eles, era pura brincadeira se os mandasse sair ou
tentasse expulsar. Não lhes acontecia nada. “E agora, como devo orar
por esta mulher?” Perguntei-me.
Fomos para o meu quarto e colocamos várias cadeiras em forma de
círculo. Começamos a cantar um hino de Páscoa que falava sobre a
ressurreição de Jesus. Cantamos sobre como Jesus venceu a morte, o
pecado e todos os poderes do inferno. Cantamos sobre como o Seu
sangue precioso lava de todo pecado. Quando cantávamos o hino pela
segunda vez, a feiticeira levantou-se da sua cadeira subitamente. Os
olhos de ódio dela eram como os olhos de um tigre feroz. Parecia um
animal feroz querendo atirar-se para cima da sua presa. Um dos
cooperadores pôs-se a fugir de medo, correndo para fora. Tivemos de
chamá-lo de volta e precisamos assegurar-lhe carinhosamente que não
precisava temer as forças do inferno porque o Senhor Jesus havia
vencido tudo por nós. Asseguramos-lhe que Jesus era a nossa vitória.
Parecia que o próprio Satanás olhava para nós através dos olhos
daquela pobre mulher. Era algo muito repugnante e chocante de ver.
Logo de seguida, aquela mulher que nunca vira um branco em toda a
sua vida, começou a falar num inglês perfeito. Depois, latiu como um
cachorro. O latir não era coisa fingida – era coisa real. Era tão real que
um cachorro da rua atirou-se à janela pelo lado de fora querendo
briga. Depois disso, ouvimos muitos porcos a guinchar dentro dela.
Clamamos ao Senhor Jesus e expulsamos os demônios em Nome de
Jesus. Os demônios responderam gozando conosco:
“Somos trezentos guerreiros e possuímos esta mulher. Ela
pertence-nos desde sempre. Não sairemos daqui de dentro
dela. Ela pertence-nos”.
Persistimos com a ordem e persistimos orando e, de repente, os
demônios começaram a gritar em pânico:
“Agora está muito quente para nós aqui! O fogo de Deus está-
nos queimando! Temos de ir, senão ficamos esturricados!”
Depois daquelas palavras, saíram cem demônios dela e depois mais
cem. Os últimos cem atacaram o corpo da senhora e saíram dela com
gritos estridentes. Mas, antes de haverem saído, disseram uma coisa
invulgar, algo que, para nós, era de extrema importância:
“Já sabíamos da existência de Deus Pai e de Deus Filho, mas,
nunca nos havíamos cruzado com Deus o Espírito Santo.
Agora que Ele chegou, estamos aqui sendo derretidos como
asfalto!”
Aquilo fez-me pensar muito nas palavras em Zacarias 4:6: “Não por
força nem por violência, mas, pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos
Exércitos”. Antes, eu não conseguia entender muito bem o verdadeiro
significado das palavras em Efésios 6:12: “Porque não temos que lutar
contra a carne e o sangue, mas, contra os principados, contra as
potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes
espirituais da maldade, nos lugares celestiais”. Antigamente, eu
somente me perguntava de que maneira teríamos de lutar contra essas
forças. Era um mistério para mim. Mas, de repente ficou tudo claro.
Não pode ser a carne a lutar contra aquelas forças do mal e das trevas,
mas, o Espírito de Deus. Jesus também havia falado muito sobre o fogo
do Espírito Santo. A Bíblia também fala de Deus como um fogo
consumidor. O verdadeiro significado daquelas palavras só ali se
tornou claro para mim. Entendi pela primeira vez da maneira que se
deve entender. Aqueles acontecimentos foram tornando as coisas mais
claras para todos nós.
Depois de todos os demônios haverem abandonado aquela senhora, o
rosto dela mudou completamente. Pode imaginar um rosto de uma
bruxa sofrida, cheia de rugas e de pesar? Bem, assim que ela se viu
liberta, ela parecia mais com alguém que esteve toda a sua vida toda
aos pés do Senhor Jesus. Parecia uma pessoa que havia sido santificada
durante anos pela presença do Senhor. O seu rosto brilhava de alegria,
parecia que o céu brilhava através do seu semblante. Com um sorriso
celestial e seguro, ela ia dizendo:
“Como é maravilhoso! Jesus libertou-me do mal! Ele
comprou-me com Seu sangue. Comprou a minha liberdade.
Ele quebrou as correntes que me prendiam!”
Nunca mais irei esquecer aquela imagem! Quando vivemos uma coisa
daquelas, só podemos dobrar os nossos joelhos em profunda humildade
e estar agradecidos. Como o nosso Salvador é maravilhoso e vitorioso!
Depois daquela feiticeira, chegou uma outra pessoa e mais outra. No
inicio, só chegavam feiticeiros e pessoas ligadas ao ocultismo e à
feitiçaria. Deus começou com o epicentro de Satanás. Com o passar do
tempo, também iam chegando todos aqueles que estavam possessos de
espíritos malignos, uma pessoa atrás da outra. Alguns demônios
contavam quantos demônios havia na região e falavam de centenas e de
milhares deles. Alguns deles diziam que não saiam sem antes verem
sangue. Por isso, muitas das pessoas possessas que apareciam
chegavam a vomitar sangue antes de serem completamente libertas.
Naqueles dias, perguntávamos sempre às pessoas quem os havia
trazido ali ou quem os havia enviado. A resposta era sempre a mesma:
“Ninguém!”
Nenhuma das pessoas que chegavam havia estado em algum culto ou
sob alguma pregação de alguém. Todos, sem exceção, experimentavam
que era o Espírito Santo quem os trazia até nós de forma inexplicável.
Acontecia a mesma coisa que aconteceu no dia de Pentecostes com os
discípulos. As pessoas diziam-nos:
“Não temos paz em nosso coração. Algo dentro de nós
empurra-nos até aqui. Nunca em toda a nossa vida estivemos
tão conscientes de todos os nossos pecados como agora.
Sentimos em nosso coração que devíamos vir para aqui
salvar-nos!”
Outros, por sua vez, diziam que ouviram uma voz dizendo:
“Ide àquele lugar assim e assim e lá vos será dito tudo que
devem fazer”.
Também havia pessoas que haviam visto algum ser ou rosto o qual lhes
indicava o caminho para onde deviam ir. Algumas pessoas apareciam
com tornozelos inchados e com ferimentos nos pés de tanto
caminharem. Chegavam a andar durante semanas inteiras até
chegarem onde estávamos. Alguns andavam noite e dia sem parar. Eu
nunca pensei que fosse possível alguém sobreviver sem dormir.
Contudo, nós trabalhávamos noite e dia e nunca nos sentíamos
cansados. Vivíamos através do verdadeiro poder de Deus. Não
tínhamos tempo para comer. O Senhor levava-nos como que sobre asas
de águia. Não importava a que horas saíamos de casa, a qualquer hora
ou dia havia sempre pessoas esperando e pedindo ajuda. Por vezes,
cem, duzentas e, muitas vezes, trezentas pessoas de uma só vez, todas
profundamente convictas de pecado. Havia homens duros e
sanguinários que vinham humilhar-se diante do seu Criador. Antes não
queriam nada com o Cristianismo e ei-los ali suplicando por salvação.
Choravam amargamente como crianças que haviam apanhado uma
grande surra. Estavam de rastos, espiritualmente falando. Imploravam
por misericórdia. Deus havia-lhes revelado todos os seus pecados e o
Seu Juízo sobre eles manifestava-se juntamente com toda a Sua justiça.
“Por que razão não vão trabalhar e voltam mais tarde para
serem atendidos?” Perguntávamos.
“Não podemos!” Diziam. “Não conseguimos dormir, não
temos sossego”.
“Que aconteceu?”
“Somos grandes pecadores. Será que Deus ainda nos pode
perdoar?” As pessoas que nunca haviam chorado, rompiam
em lágrimas cheias de aflição e lamentavam todos os seus
muitos pecados. “Será que ainda existe esperança para nós?”
“Claro que sim!” Respondíamos.
“Ah, só dizem isso porque não sabem como havemos pecado e
como os nossos pecados são grandes!”
Pegávamos na Bíblia e líamos para eles em lugares como Is.1:18:
“Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão
brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se
tornarão como a branca lã”. Alguns abanavam as suas cabeças,
perplexos e admirados com aquele perdão tão grande. Tinham uma
convicção de pecado tão profunda que não conseguiam imaginar o
tamanho do presente que Deus lhes estava dando em troca. O próprio
Espírito Santo convencia as pessoas de pecado de tal maneira que
alguns entravam em desespero total, pensando que já não havia
esperança para eles. Era como se estivessem perante o Dia do Juízo de
Deus. Não acreditavam ser possível o seu perdão. Era necessário
insistir muito com a Palavra de Deus até estarem plenamente
convencidos ao ponto de confessarem seus pecados um por um. Um
dia, apareceu um pagão, um homem enorme, o qual chorava de tal
maneira que eu já não conseguia ouvir mais o seu choro. Tive de deixar
tudo que tinha para fazer e colocar de lado todos que estava ajudando
só para ir ajudar aquele homem. Perguntei-lhe:
“Amigo, pode dizer-me o que se passa consigo?”
“Oh”, respondeu-me entre os soluços fortes, “eu sou um
grande pecador e só me falta um pouquinho até cair no
inferno. Em breve irei parar lá”.
Lemos em João 16:7 o seguinte: “Todavia digo-vos a verdade, que vos
convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós;
mas, quando eu for, vo-lo enviarei”. Podemos perguntar-nos a nós
mesmos o que é isso de um CONSOLADOR que vem até nós. Aquilo
era tudo menos consolo. Mas, no versículo seguinte vemos confirmado
que a verdadeira obra desse Consolador seria, precisamente, convencer
o mundo de pecado, do juízo e da justiça de Deus. Por norma, quando
as pessoas apregoam as novas de um Consolador, falam de tudo menos
daquele tipo de desconsolo que nós presenciávamos ali diante de nossos
olhos. Muitos mesmo perguntariam debaixo de dúvidas que tipo de
consolo seria aquele. A verdade é que aquelas pessoas não aceitavam
ser consoladas. Se mencionássemos algum dos seus pecados, parecia
que ficavam ainda mais loucos e em maior agonia. Quando Deus envia
o Seu Consolador, a primeira coisa que faz é convencer as pessoas
tanto do pecado, como da gravidade das suas culpas e da realidade do
Seu juízo. É por essa razão que, aqui, nós não entendemos como é que é
possível alguém afirmar que tem o Espírito Santo quando ainda
guarda algum pecado em sua vida. Como conseguem andar com
pecado em suas vidas se dizem ter o Espírito Santo? A primeira coisa
que o Espírito de Deus faz é convencer a pessoa do pecado e do juízo. E
esse juízo acontece ali mesmo, ao vivo diante dos nossos olhos.
É precisamente isso que experimentamos quando o Espírito de Deus
realmente desce sobre um lugar. Sentimos como se o dia do Juízo
tivesse chegado. As pessoas ficavam sem dormir, aflitas, ficavam sem
vontade de comer e sem beber e não encontravam descanso em lugar
nenhum e de nenhuma maneira. Essa situação dura até que cada um
que chegue à Cruz de Cristo e a experimente de forma igualmente real.
Nenhuma daquelas pessoas se contenta com uma oração de entrega do
seu coração a Jesus. Nenhum achava a sua paz confessando seus
pecados sozinho e silenciosamente. Os pecados eram trazidos para a
luz e para o conhecimento de quem ouvia. As pessoas mencionavam
todos os seus pecados um por um de forma bem audível e clara e só
depois disso experimentavam o perdão do qual falavam logo de
seguida. Descreviam os detalhes dos mesmos e não apenas os títulos -
não sentiam paz até haverem confessado todos daquela maneira.
Muitas vezes, orávamos por uma multidão de até quinhentas pessoas
para que fossem perdoadas de seus pecados. Mas, depois, quando
estávamos querendo ir para casa, as pessoas não saiam dali e
continuavam sentados clamando e chorando sem haver achado perdão.
Cada pessoa tinha um desejo enorme de ser atendida de forma
individual e pessoal, confessando todos os seus pecados juntamente
com um missionário ou cooperador, nomeando cada pecado pelo seu
nome. Se não fizessem assim, não sentiam paz e nem sossego e não
experimentavam qualquer perdão. Não eram libertos de seus pecados e
nem das suas correntes do mal. Uma oração geral ou qualquer tipo de
oração de entrega de vida era simplesmente incapaz e ineficaz. Era
coisa banal e sem qualquer proveito. Lemos em Efésios 5:13 o seguinte:
“Mas todas estas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz,
porque a luz tudo manifesta”. Também lemos em 1 João 1:7: “Mas, se
andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os
outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o
pecado”. Aqui fica claro para todos nós que o sangue de Jesus só limpa
se nós colocarmos toda a nossa vida na luz, juntamente com tudo
aquilo que fizemos. Precisa ficar tudo claro e tudo tem de ficar visível
na luz. O poder purificador do nosso Salvador nunca se poderá
manifestar enquanto algum pecado se encontra, ainda, encoberto ou
escondido da vista de alguém. Não podemos viver nas trevas,
escondendo no escuro onde ninguém vê. Devemos colocar tudo na luz e
andar, dali em diante, na luz de Deus do modo que Ele mesmo está na
luz.
Quero aproveitar para acrescentar que, quando olhamos para certo
tipo de pecados através de olhos humanos, a maioria deles parecem
banais e inofensivos. Mas, quando o pecado é revelado aos nossos olhos
por Deus, qualquer pecado por pequeno que seja torna-se grande, tão
grande como uma montanha que não pode ser ultrapassada. O Senhor
Jesus usa como exemplo quando alguém olha para uma mulher por
causa do desejo. Jesus afirma que tal pessoa é um adúltero. E quando
uma pessoa não tem paciência com seu próximo ou diz que seu
próximo é louco, Deus classifica-o como assassino e reserva-lhe o fogo
do inferno como recompensa justa. Na verdade, é essa a medida
através da qual somos julgados à luz de Deus. A medida d’Aquele a
quem chamamos de Salvador é essa. É óbvio que a medida de qualquer
crente morno nunca será a mesma que a de Jesus, pois, o crente morno
fecha os olhos para a realidade da sua própria situação pecaminosa,
afirmando que não é coisa grave ou séria. Se experimentarmos a
santidade e a verdadeira presença de Deus, não pensaremos mais dessa
maneira. Teremos outra opinião sobre qualquer tipo de pecado. Se isso
nunca acontecer conosco aqui na terra, certamente que nunca
impedirá que um dia encaremos Deus e a Sua opinião. Contudo, será
tarde demais, pois, acontecerá no dia do Juízo quando já não houver
nada a fazer. Podemos ter a certeza que, um dia, experimentaremos a
presença de Deus: ou aqui ou no dia do Juízo Final. Se não passarmos
pelo moinho purificador de Deus aqui na terra antes de morrermos,
iremos seguramente encarar a realidade de outra maneira em algum
tempo desta vida.
Quando visito a Europa, ouço com frequência as pessoas comentarem:
“É verdade, mas, essas coisas só acontecem lá em África, entre os
negros”. Esquecem que a Bíblia tanto é branca como negra, para
África, para a Europa, ou para qualquer outra parte do mundo. Em
África, a Bíblia não é diferente. A Palavra de Deus é e será sempre a
mesma em todos os lugares. Deus é verdadeiramente Luz e todos
aqueles que entram nessa Luz tornam-se luz também, igual à de Jesus,
com a mesma intensidade. Vemos como, muitas vezes, nos chegam
pessoas sob o jugo do pecado, ou tristes e pesados sofrendo debaixo do
jugo das trevas e do encobrimento do pecado e, assim que trazem todos
os seus pecados e iniquidades para a luz, os seus rostos e semblantes
transformam-se maravilhosamente. Experimentam de forma real como
Jesus realmente perdoa pecado e saem com um brilho em seus rostos
difícil de descrever. Refletem a luz e o perdão de Deus sem a
necessidade de usar palavras.
Foi dessa maneira que o fogo de Deus se manifestou no nosso meio. O
próprio Espírito Santo trazia as pessoas até nós. E ele mesmo as guiava
para fora das trevas e para a sua maravilhosa Luz. Levaria muitas
horas para descrever aqui tudo aquilo que acontece entre nós. Mas,
prefiro ser breve.
Uma jovem, um dia, vinha da escola a caminho de casa e sentou-se
debaixo de um limoeiro. De repente, apareceu-lhe um quadro diante
dos olhos no qual uma mão invisível começou a escrever. Cada palavra
escrita era um pecado que ela havia cometido. Depois de haver lido a
longa lista dos seus pecados, pegou num pedaço de carvão que estava
ali no chão e um pedaço de papel que encontrou e começou a escrever o
que lia. E cada pecado que escrevia no papel era apagado do quadro. A
moça ficou muito angustiada sentindo uma enorme convicção de
pecado. Sem qualquer descanso, ela andou vários quilômetros até
chegar a nós. “Estes são os meus pecados”, dizia ela mostrando-nos o
papel sujo onde escrevera e entregando-o a mim. “Deus mostrou-me
todos os meus pecados e toda a minha vida. Será que ainda existe
perdão para mim?” Ela converteu-se naquele mesmo dia.
Vivemos várias experiências do gênero muitas vezes. Um jovem pagão
que nunca havia aprendido a escrever ou a ler, trabalhava no campo.
Era uma tarde cheia de sol e não havia qualquer nuvem no horizonte.
De repente, tudo ficou escuro à sua volta. No meio da escuridão, aquele
jovem viu um quadro onde alguém escrevia. O que ele entendeu foi que
o que estava sendo escrito eram os seus pecados e que tudo aquilo
testemunhava contra a sua vida. Aquele jovem analfabeto conseguia ler
cada palavra. Depois de haver lido até à última palavra, a escuridão
desapareceu e tudo ficou claro novamente. Ficou tão impressionado
com aquilo que aconteceu que todo o seu corpo tremia com temor. Não
sabia o que fazer. De repente, lembrou-se que havia uma certa mulher
crente na vizinhança e desatou a correr para lá. Entrou pela cabana
dela e perguntou-lhe se ela sabia escrever. A senhora confirmou que
sim. Ele disse-lhe:
“Deus mostrou-me todos os meus pecados! Eu não fazia ideia
de que era um pecador tão grande! Nunca me havia
apercebido que Deus era tão santo assim! Eu não poderei
comparecer diante de Deus desta maneira! Eu irei dizer quais
são os meus pecados e a senhora pode escrevê-los para mim?”
Começou a ditá-los e a senhora escrevia-os todos, um por um. Depois
disso, o moço caminhou uns 20 a 30 km até chegar a nós. Chegou
cansado e todo suado. Contou-nos tudo que se havia passado com ele e
entregou-me o papel escrito pela senhora crente. Disse:
“Por favor, leia tudo. Estão aí as coisas feias que cometi em
toda a minha vida. Não deve existir pecador maior que eu
neste mundo. O que vai acontecer comigo agora? O senhor
pode ajudar-me? Será que Deus irá perdoar-me?”
Indicamos-lhe o caminho para Jesus e precisamos assegurar-lhe sobre
o que dizia a Palavra de Deus: “Se confessarmos os nossos pecados, ele
é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a
injustiça”, 1 João 1:9. Ele ficou incrédulo, perplexo! Não conseguia
acreditar que existisse tal perdão ou que fosse possível ser perdoado de
tão grandes pecados! Pediu-nos para nos ajoelharmos e orarmos aos
pés de Jesus colocando ali a lista dos seus muitos pecados. Levantou-se
uma nova pessoa e saiu com uma alegria difícil de descrever em
palavras.
“Agora, preciso buscar os meus pais, os meus irmãos e
restante família para pedir-lhes perdão, pois, sempre fui
rebelde e desobediente. Também nunca fui honesto no meu
trabalho!”
Saiu com o firme propósito de ir contar à sua família e conhecidos tudo
que lhe aconteceu e pedir-lhes perdão de tudo que se lembrasse. Deus
operou daquela maneira em sua vida, dando-lhe uma última
oportunidade de arranjar a sua vida.
Outros que eram analfabetos e tinham filhos na escola que sabiam ler,
traziam a Bíblia para casa pedindo às crianças para a lerem em voz
alta para eles. Depois, chegavam a nós narrando de que maneira Deus
havia falado com eles através da Bíblia. Amigos, Deus operou de tantas
maneiras diferentes que torna-se impossível definir um padrão. Ele,
realmente, usa muitas formas de alcançar pessoas. Um dia, apareceu
uma senhora que também era uma isangoma (feiticeira). Relatou-nos
como Deus falara com ela, mandando-lhe pegar na Bíblia e ler um
certo capítulo e um versículo específico. A senhora pegou na Bíblia e
buscou o dito versículo. Ela chegou à fé em Jesus. Depois, veio
confessar todos os seus pecados. Era analfabeta e nunca havia
aprendido a ler. No entanto, conseguia ler a Bíblia. Pusemos à prova a
sua capacidade de leitura e, lendo em voz alta, vimos que lia de forma
perfeita. Este não foi um caso isolado. Houve muitos casos destes.
Houve muitos que se converteram que não sabiam ler e nem escrever.
Mas, haviam recebido ordem para lerem a Bíblia ouvindo uma voz e
assim que a abriam, conseguiam lê-la. Assim que obedeciam,
ganhavam a capacidade de ler. Mas, não eram capazes de ler mais
nada para além da Bíblia.
Quando um Zulu adoece por alguma razão, não vai ao médico e vai
antes a algum inyanga ou isangoma para tentar descobrir a razão ou a
causa da sua doença. Um certo inyanga famoso tinha um filho de vinte
e cinco anos de idade. Aquele filho era o braço direito do seu pai, sendo
um ajudante precioso em seu ofício. O seu nome era Mabanga. Um dia,
o moço adoeceu severamente. Ganhou gangrena e até se viam os
tendões dos dedos dos pés de fora. Os seus pés apodreciam
rapidamente. Com o apodrecimento da sua carne, sentia tanta dor que
não conseguia descansar um só momento. As feitiçarias do pai já não
resolviam nada e o pai mandou vir um izinyanga do Zimbabwe. Mas,
nem assim conseguiram curar a sua doença. O pai viajou até
Moçambique e trouxe de lá um dos feiticeiros mais famosos que havia
na altura. Também não conseguiu resolver nada. As dores
aumentavam cada vez mais. Precisamente na altura que estava muito
mal fomos convidados a trazer a mensagem do Evangelho pela
primeira vez à sua região. Um cristão local dirigiu-se ao
jovem inyanga e disse-lhe:
“Olha, moço, estão chegando uns mensageiros de Deus aqui
ao nosso distrito. Vai ter com eles e pede-lhes para orarem
por ti para seres curado”.
“Não! De maneira nenhuma!” Respondeu. “Feitiçaria não
bate com o Cristianismo. Essas coisas não andam juntas”.
Contudo, as dores intensificavam-se mais e mais e ele acabou por vir a
um dos cultos sem ninguém saber. Sentou-se na última fila na
esperança de que ninguém, por ali, o reconhecesse ou visse.
Naturalmente que o pregador não conhecia o moço e não suspeitava
que fosse o filho de um feiticeiro famoso. Conforme acontecia sempre,
limitou-se a trazer a mensagem do Evangelho de forma clara. Mas, a
mensagem descrevia com precisão o que estava acontecendo com
Mabanga. O jovem escondia-se atrás das pessoas e começou a pensar:
“Quem contou toda a minha vida para aquele homem na
frente? Como sabe ele de todos os meus pecados?”
Não conseguia entender como era possível que o pregador conhecesse
toda a sua vida daquela maneira. Tinha a certeza que havia sido aquele
Cristão que o convidou que havia contado tudo ao pregador. Durante a
pregação, a Palavra causou uma forte convicção de pecado no jovem
feiticeiro e ele viu toda a sua vida pecaminosa a desenrolar-se diante de
seus olhos. Quando todas as pessoas se haviam levantado para deixar o
local do culto, o jovem permaneceu sentado sem poder levantar-se.
Parecia que estava pregado à cadeira. Todas as pessoas do lado direito
e do esquerdo já haviam ido embora, mas, ele continuava ali espetado,
sem mover-se. Assim que o pregador se aproximou dele, começou a
chorar e clamou:
“Eu sou um pecador! Estou a caminho da perdição! Sem
Cristo, estarei perdido para sempre. Será que Jesus ainda me
pode perdoar?”
Aquele pagão abriu todo o seu coração e confessou cada pecado que
cometeu. E, logo de seguida, Jesus tocou nele e foi curado
imediatamente de todo o seu sofrimento. O pregador nem havia sequer
pedido pela cura do jovem feiticeiro. Jesus curou o moço por Sua
própria autoria e iniciativa. Jesus não apenas se compadeceu da sua
alma, mas, também de seu corpo enfermo.
Tais coisas só acontecem quando o Espírito Santo realmente desce
sobre nós. Em 1 Cor.14:23-25 lemos que quando um incrédulo entra
num culto onde o Espírito Santo esteja operando de verdade, os
segredos do seu coração são trazidos para a luz e o incrédulo será
convencido por todos que Deus está, realmente, ali presente entre eles.
Será convicto e cairá sobre o seu rosto para reconhecer Deus como
Senhor e adorará o Senhor vendo claramente como Deus está nas
orações das pessoas dentro do lugar. Foi o que aconteceu ali, naquele
dia.
Pouco tempo depois disso, o jovem teve um sonho. Os céus abriram-se
e uma Bíblia desceu até ele e foi colocada na sua frente. No sonho, uma
voz dizia-lhe:
“Mabanga, abre a Bíblia e lê Provérbios 8 versículo 1”.
“Senhor, eu não sei ler!” Respondia. “Sou analfabeto e nunca
aprendi letras. Nunca frequentei uma escola”.
“Se sou Eu a mandar que leias, não podes, de maneira
nenhuma, afirmar que não consegues ler porque fui Eu quem
criou o teu entendimento e os teus olhos”.
Mabanga abriu a Bíblia e assim que a abriu, conseguia ler. Foi a
primeira vez em toda a sua vida que conseguiu ler alguma coisa.
Depois, continuou lendo e chegou aos versículos adiante: “A vós, ó
homens, clamo; e a minha voz se dirige aos filhos dos homens.
Entendei, ó simples, a prudência; e vós, insensatos, entendei de
coração”, Prov.8:4-5.
Quando terminou de ler aqueles versículos, a Bíblia fechou-se e foi
recolhida para os Céus novamente. No dia seguinte, o sonho foi
repetido. O Céu tornou a abrir-se e a Bíblia desceu novamente. A
mesma voz disse:
“Mabanga, abre a Bíblia e lê em Isaías 49 versículo 15 e 16”.
Abriu a Bíblia e leu o seguinte:
“Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho
que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre?
Mas, ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me
esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mãos eu te
gravei; os teus muros estão continuamente diante de mim”.
A Bíblia tornou a ser recolhida. No dia seguinte, aconteceu a mesma
coisa e Deus mandou que lesse em Jeremias 1 versículos 4 a 7.
“Assim veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Antes
que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da
madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta. Então disse
eu: Ah, Senhor Deus! Eis que não sei falar; porque ainda sou
um menino. Mas o Senhor me disse: Não digas: Eu sou um
menino; porque a todos a quem eu te enviar, irás; e tudo
quanto te mandar, falarás”.
Mabanga quase não conseguia esperar para amanhecer. Saiu à
procura de uma Bíblia. Levado pela sua fome da Palavra de Deus, foi
de cabana em cabana entre o seu povo perguntando se, por acaso,
alguém tinha uma Bíblia. No final, indicaram-lhe um pregador local.
Teve a certeza que seria ali que encontraria aquela Bíblia que tanto
desejava. Assim que chegou à casa do pregador, perguntou de forma
bruta e direta:
“O senhor tem alguma Bíblia?”
“Tenho sim”, veio a resposta.
“Posso pedi-la emprestada por uns momentos?”
“Claro que não!”Respondeu o pregador. “Para que queres a
minha Bíblia? Tu não sabes ler e só vais sujá-la! Não és o
filho do feiticeiro? Os filhos de feiticeiros não podem
frequentar a escola para poderem apascentar as ovelhas e as
cabras do pai. Nunca foste a uma escola!”
“Sim, é verdade! Mas, deixe-me só pegar na Bíblia um
pouquinho, por favor”.
Aquilo era muito estranho para o pregador. Convidou a sua visita a
entrar. Colocou vários livros diante dele, os quais tirou duma caixa,
com os títulos virados para ele:
“Diz-me, qual destes livros é a Bíblia?”
Mabanga apontou imediatamente para a Bíblia e suplicou:
“Por favor, posso só pegar nela para verificar uma coisa!?”
Abriu a Bíblia e, para admiração tanto dele como do pregador,
conseguia ler cada palavra para a qual olhava. A partir daquele
momento, aquele feiticeiro analfabeto não apenas conseguia ler de
maneira perfeita, mas, conseguia escrever também.
Depois disso, saiu com uma Bíblia na mão por todas as vilas e aldeias
ao redor pregando e trazendo o Evangelho de Cristo a todos que
ouviam. Um dia, chegou a uma conferência e pediu autorização para
falar. Deram-lhe cinco minutos. Depois dos cinco minutos, assumiu que
poderia falar mais um pouquinho e falou mais um quarto de hora.
Mas, no final, o seu discurso durou mais de uma hora e todos os
pastores ali presentes ficaram admirados e perguntaram-lhe:
“Mas, onde aprendeu letras? Onde estudou? Em que
seminário esteve?”
Ergueu a sua Bíblia e afirmou com segurança:
“A minha Bíblia é o meu Seminário”
“Mas, onde obteve todo este conhecimento?”
“Aprendi da Bíblia”, respondeu erguendo a sua Bíblia
novamente.
Aquele filho de feiticeiro que nunca estudou é, desde então, um
excelente cooperador e missionário nosso. É um instrumento muito
ativo e Deus usa-o poderosamente desde então. O Senhor tem operado
muito acima daquilo que Lhe pedimos e suplicamos. Ao Senhor
pertence todo o poder de toda a Terra e Céu. Ele é hoje aquilo que foi
ontem e aquilo que será para sempre em toda a eternidade.
Quero contar mais algumas coisas que aconteceram depois que o
avivamento começou entre nós. Desde o inicio do avivamento que se
tornou uma coisa normal alguém converter-se e, duas ou três semanas
depois de voltar à sua aldeia ou casa, pedir-nos para visitarmos a sua
região. Perguntávamos o que estava acontecendo e a resposta era
sempre: “A região está em fogo, toda pronta para a colheita”. Quando
chegávamos, havia centenas e centenas de pessoas esperando pela
mensagem do Evangelho. Estavam debaixo de árvores e ao ar livre,
todos esperando que lhes trouxéssemos uma mensagem.
Perguntávamos:
“O que aconteceu por aqui? Por que razão se reuniram todos
aqui desta maneira?”
“Este homem (mulher) que vive aqui converteu-se. Nós
estivemos olhando para a sua vida em todos os detalhes.
Agora, desejamos a vida que ele(a) tem. Também nos
queremos converter ao mesmo Deus que ele(a) se converteu.
Desejamos o mesmo Deus que ele(a) tem”.
As vidas de todas aquelas pessoas estavam prontas para a ceifa e para
o reino de Deus. O terreno estava preparado e o fruto bem maduro e
pronto para ser colhido. E o Senhor ia alcançando mais e mais terreno
para nós e para a Verdade espalhando o Evangelho. Em menos de uma
semana vinham centenas e centenas de pessoas a Deus, limpando todas
as suas vidas de pecado. Em muitas regiões, as discotecas, os bares e os
campos de desporto eram fechados. Perguntam-me por que razão?
Porque as pessoas achavam que já não tinham tempo para tais coisas!
Todo o seu tempo era usado a favor do Evangelho. Saíam com a
mensagem e voltavam com convertidos. Até mesmo as crianças
levavam o Evangelho com sucesso a muitas e muitas pessoas. É verdade
que não tinham qualquer conhecimento teológico ou preparação, mas,
sabiam uma coisa: “Conhecemos Jesus pessoalmente e Ele perdoou
todos os nossos pecados. Jesus nos tem salvado. Através de Jesus somos
feitos Filhos de Deus”. Era essa a mensagem que levavam.
Era dessa maneira que os convertidos alcançavam o povo para Deus:
através das suas vidas. Chegavam centenas de pessoas a quem Deus
curava espírito, alma e corpo. Provavelmente, aconteceu entre nós de
tudo que vem descrito no livro dos Atos dos Apóstolos. Deus
apresentou-se em nosso meio com Seu poder e glória e manifestava-se
às pessoas de variadas maneiras. Fazia milagres, curas e outros sinais.
Muitas vezes, vinham pessoas paralíticas que eram colocados no chão
ou no gramado. Deus tocava neles, muitas vezes, mesmo antes de
começarem os cultos da pregação do Evangelho. Lembro-me
perfeitamente como chegou até nós um homem cego. Nós fizemos um
culto ao ar livre, na rua. Durante uma das pregações, os seus olhos
abriram-se de repente sem ninguém haver orado por ele. Nunca mais
esquecerei como aquele homem caminhava no meio das pessoas,
passando pelos ‘corredores’ e entre as abertas. Levantou no ar o pau
que usava quando era cego e exclamou alto:
“Eu sempre disse que Jesus era o Deus dos brancos. Mas,
agora sei que Ele também é meu Deus!”
Desde logo, desde o inicio do avivamento, os negros não podiam mais
argumentar e esconderem-se atrás da desculpa que Deus era somente
para os brancos. Agora afirmavam: “O Senhor Jesus é o nosso Deus!”
Ainda quero contar mais algumas coisas em relação àquela moça
possessa da qual falei no inicio e pela qual oramos e não conseguimos
tratar. Deve estar lembrado que tivemos de entregar a moça de volta à
mãe e contar-lhe desapontados que nada podíamos fazer por ela. Desde
aquele dia até ao dia que começou o avivamento entre nós haviam-se
passado seis anos. Tornei a pensar na moça e orava incessantemente
para que Deus nos concedesse a oportunidade de ajudá-la, caso ainda
estivesse viva. Enquanto estávamos em uma campanha missionária em
um certo lugar, avistamos aquela triste mãe. Havia envelhecido
bastante desde a última vez que a vimos. Parecia que haviam passado
mais de vinte anos sobre ela e não seis. O meu coração saltou dentro de
mim alegre por havê-la avistado ali! Sabem o que aconteceu? Deus
operou milagrosamente e restabeleceu a moça totalmente, dando-lhe
uma vida normal. Deixou de ser necessário viver escondida nas
montanhas. Ela entregou-se a Jesus de coração. Tão poderoso é o nosso
Deus e tão poderosa é a mensagem do Evangelho de Cristo!
Muitos pagãos que ouviam a mensagem de Jesus pela primeira vez
abandonavam de imediato a sua vã maneira de viver para seguir Jesus.
Todos eles se sujeitavam à soberania e ao poder de Deus. Contudo, não
lhes era possível saberem tudo sobre a nova vida. Ainda que
desejassem muito, era-lhes impossível entender tudo de imediato. Jesus
mesmo disse assim: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o
podeis suportar agora”, João 16:12. Era, também, isso que acontecia
com os recém-convertidos. Quando se convertiam, voltavam às suas
casas e aldeias e Deus guiava todos os seus caminhos de forma clara e
precisa. Jesus instrui-os sobre seu andar e sobre seu viver futuro
também. Muitos deles voltavam regularmente até nós para
confirmarem que tudo que haviam aprendido de Jesus pessoalmente
era a coisa certa e que não se haviam enganado. Queriam confirmar
que era mesmo Jesus quem os estava ensinando e falando com eles.
Conforme já disse, havia muito analfabetismo entre a população negra.
A maioria não sabia ler nem escrever. Não tinham maneira de
consultar a Palavra de Deus e muitos nem haviam ouvido falar dela
sequer. Mas, Jesus tornou-se o seu Mestre e ensinava cada ovelha d’Ele
de maneira individual, pessoal e clara.
Uma certa senhora de idade esteve escravizada ao álcool durante muito
tempo. Ela converteu-se. Depois disso, foi para sua casa. Mas, uns dias
mais tarde, voltou a nós com uma pergunta: “Digam-me: se me tornei
Cristã e se entreguei a minha vida a Jesus, não devo beber mais?”
Ficamos muito curiosos sobre a razão daquela pergunta e tentamos
descobrir mais. Perguntamos por que razão perguntava aquilo.
“Depois dos cultos que assisti aqui, fui para casa e lá sempre
tivemos o hábito de nos reunirmos com os amigos para beber.
Quando dei o primeiro gole de álcool, fiquei muito mal e senti
uma vontade enorme de vomitar. Tive de sair de casa,
correndo, para não vomitar ali dentro. Aquilo durou tanto
tempo e tinha tantas dores que pensei que ia morrer. Nunca
tal coisa me havia acontecido! Uns dias depois, tornei a tentar
e aconteceu-me a mesma coisa. Agora, não consigo ver vinho
sequer, pois, fico agoniada com o cheiro dele. Por favor,
digam-me: os que são crentes não podem beber vinho? Será
que beber vinho é contrário à natureza Cristã? Eu não
entendo. Parece que Deus mudou muitas coisas em minha
vida e existem muitas coisas que já não consigo fazer. Isso é
certo? É certo viver dessa maneira?”
Foi assim que muitas pessoas tomaram conhecimento das verdades
Cristãs. Eles confirmavam que a Palavra de Deus era, realmente, a
Verdade: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as
coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”, 2 Cor.5:17.
Entre os Zulus, é frequente encontrarmos muitas coisas estranhas. Por
exemplo, há crianças que são sujeitas a feitiçarias logo desde o
nascimento. Depois, na sua vida de adultos, sujeitam-se
irremediavelmente a feitiçarias, a sacrifícios aos antepassados e
mortos. Isso são coisas muito comuns entre eles. Uma vez, um Zulu
converteu-se e, depois, foi convidado por um irmão seu para fazer-lhe
uma visita. Antes da visita, o dito irmão havia sacrificado aos
antepassados e falado com eles. Aquele recém-convertido não sabia que
haviam sido feitas oferendas aos espíritos dos antepassados naquele
dia. Enquanto comia sem saber que aquela comida havia sido oferecida
aos mortos, aconteceu uma coisa muito estranha diante dos olhos de
todos. Todos viram. O corpo do recém-convertido começou a inchar-se.
Inchou de tal maneira que não conseguia abrir os olhos sequer.
Chamou o seu irmão e perguntou-lhe que tipo de carne havia colocado
na mesa e se era carne oferecida aos espíritos. O irmão disse que era
carne de sacrifícios. Então, o homem inchado suplicou aos que estavam
ali para levá-lo rapidamente para casa. Chegando lá, colocou-se sobre
seus joelhos e implorou a Deus que lhe perdoasse aquele pecado de
haver comido carne oferecida a espíritos, ainda que não soubesse de
nada. Enquanto orava, o inchaço desapareceu por completo e voltou ao
seu estado normal. Foi daquela maneira que aprendeu que não podia
mais participar em oferendas aos espíritos de seus antepassados
falecidos. Apercebeu-se que não podia comer carne de oferendas.
Ainda hoje, em nossos dias, Deus continua operando da mesma
maneira e falando com todos. Deus instrui as pessoas no caminho que
devem seguir. Deus faz com que vejam muitas coisas e, todos eles, como
ovelhas, são capazes de ouvir a voz do seu Pastor. Depois de haverem
se convertido, Cristo torna-se seu Deus e a Bíblia a sua direção. Deus
transforma as pessoas, também, do lado de fora e de tal maneira que se
tornam a Sua imagem. Tornam-se como Cristo em sua maneira de
viver.
Uma certa senhora Zulu entregou a sua vida a Jesus. O seu marido era
um homem completamente entregue ao vício de beber. Era conhecido
como um dos maiores alcoólicos da região. A senhora e os filhos deles
tinham, muitas vezes, de esconder-se no meio das plantações de milho e
até dormiam lá porque o homem espancava-os muito. Gastava todo o
seu dinheiro e salário em bebida e a senhora tinha de sustentar a
família sozinha, através de esforços próprios. É fácil perceber que não
havia qualquer paz naquele lar, principalmente porque a mulher não
se calava diante do marido. As trocas de palavras e de argumentos
terminava sempre na maior das discussões e em briga. Mas, chegou o
dia em que ela se converteu. Pouco tempo depois disso, o marido ficou
perplexo, olhando a grande transformação que ocorreu em sua esposa.
Sem saber qual a razão de tão grande mudança, perguntou-lhe:
“Mulher, diz-me o que aconteceu contigo?”
“Por que razão perguntas, meu esposo?”
“Mudaste tanto! Não discutes mais comigo, não respondes
mais a provocações. Tu eras daquelas pessoas que tinha de
ser sempre a última a falar e a última palavra tinha de ser
sempre a tua. Era como se fosses tu quem mandava aqui e
não eu. Mas, agora tens-me um respeito muito grande, tão
grande que eu não consigo entender. Agora, parece que sou
um rei aqui em casa e não teu marido! Que se passa contigo?”
As coisas aconteciam assim: quando o homem chegava bêbado da
fazenda onde era empregado, ela já não perguntava onde ele havia
estado e com quem. Também não perguntava por que razão ficara
tanto tempo fora depois do trabalho. Em vez disso, ele chegava a casa e
ela tinha comida quentinha preparada e servia-o. Ela estava tranquila
e simpática com ele e conversava de maneira educada. Assim que se
apercebeu disso, começou a abanar a sua cabeça em assombro.
“Diz-me uma coisa: tu tornastes-te Cristã? Foste lá aceitar o
Deus dos brancos?”
A senhora não respondeu nada ao marido porque temia ser morta por
ele por causa desse ‘crime’. Mas, o homem insistiu com ela até que ela
teve de reconhecer que havia entregue a sua vida a Jesus e que havia
estado com os brancos em Mapumulo para entregar-se ao seu Deus. O
homem respondeu:
“Se esse Deus dos brancos conseguiu fazer contigo aquilo que
eu nunca consegui usando um pau, isso quer dizer alguma
coisa! Quero ir lá contigo para ver o que se passa!”
No dia seguinte, o homem apareceu numa pregação. Converteu-se. Um
domador de leões Sul-Africano disse, uma vez, que ele era capaz de
domar qualquer leão por muito agressivo que fosse e por muito mau
que se mostrasse. Mas, dizia ele, nunca conseguiu domar a sua esposa.
Por isso, não nos podemos admirar que, para alguns homens, a
conversão genuína das suas esposas seja um autêntico milagre
inexplicável! Para muitos, a mudança das suas esposas quando é Deus
quem a opera, é um verdadeiro feito. Quando vêem a mudança das
suas esposas, a mudança fala por elas. Queridas senhoras e esposas,
nunca se esqueçam duma coisa: os maridos têm uma característica
muito própria, a qual recusa sempre ouvir uma esposa quando ela quer
mudá-lo e mandar nele. O coração do homem é assim mesmo. Mesmo
quando ele se apercebe que a mulher tem razão, se a mulher começar a
pregar para ele, ele simplesmente recusa dar ouvidos por ser a voz da
esposa. E porque o Senhor Jesus sabe disso, Ele prometeu que vos
ajudará em tudo sempre que, como esposas, se sujeitem total e
incondicionalmente aos vossos maridos. É através da vossa vida e do
caminhar que qualquer esposa consegue trazer o marido a Jesus.
Os filhos que se converteram em nosso meio voltavam para casa e não
contavam nada do que se havia passado com eles. Mas, as suas vidas, a
sua obediência e caminhar mudaram tanto que intrigavam os seus pais.
Uns dias depois das suas conversões, os pais acabavam por perguntar-
lhes o que havia acontecido com eles. Os pais precisavam insistir duas
ou mesmo três vezes com a pergunta para que respondessem.
Perguntavam por que razão já não era preciso mandá-los fazer os
trabalhos de casa e da escola e que fossem ajudar a mãe com a lida da
casa; etc. Os filhos respondiam muito contra as mães sempre que as
mães pediam para fazerem alguma coisa. “Mãe, por que tenho de ser
sempre eu a fazer isto e aquilo? Por que não mandas outro fazer e
mandas sempre a mim? Por que tenho de ser sempre eu a lavar as
panelas e os pratos?” Mas, depois de se haverem convertido e ainda
antes de seus pais dizerem qualquer coisa, eles já se levantavam para
cumprir com os menores deveres e obrigações. Quando a mãe e o pai
chegavam a casa vindos do trabalho, a casa já estava arrumadinha e
limpa e os trabalhos da escola estavam terminados e bem-feitos. Os
pais ficavam admirados e sem entender o que se estava passando. Já
não precisavam perguntar onde os filhos haviam estado ou o que
haviam feito. E muitos casais converteram-se por causa da brusca e
permanente mudança nas vidas dos filhos. O fogo de Deus espalhava-se
rapidamente porque as vidas dos filhos estava em fogo para Jesus. As
suas vidas eram as suas pregações e as suas mensagens vivas. Nem se
davam conta do quanto falavam e de como elas falavam alto. As
crianças convertidas chegavam à escola e convertiam os colegas e os
professores. E isso ajudou muito a espalhar o avivamento rapidamente
entre o povo pagão. Escolas inteiras vinham a Deus, incluindo
professores e diretores.
Pouco tempo depois do avivamento ter começado, vieram uns pais ter
comigo dizendo que queriam tirar os seus filhos da escola. Fiquei muito
admirado e não conseguia entender o porquê de tal decisão. Perguntei-
lhes qual a razão que tinham para os seus filhos não poderem mais ir
para a escola. Eles responderam:
“Se ficarem na escola já não podemos pregar o evangelho!”
Fiquei pior do que inicialmente. Perguntei mais ainda, querendo saber
mais razões, tentando, assim, ganhar tempo para pensar e entender.
Disseram:
“A Bíblia ensina-nos que se alguém não consegue governar
bem a sua própria casa, não pode pregar o evangelho e se não
governa bem a sua própria casa não pode ter funções na
congregação. Nós sabemos que os nossos filhos não são
obedientes na escola, não fazem bem os seus trabalhos de
casa, não são obedientes aos professores, não respeitam os
seus colegas. Agora precisamos tomar uma decisão séria. Se
os nossos filhos não se converterem, não temos qualquer
hipótese de pregar o Evangelho!”
Pensei para mim: “O que irá acontecer agora?” Enquanto pensava,
vieram mais explicações:
“Estivemos orando sobre este assunto intensamente e
decidimos que não podemos mandar os nossos filhos para a
escola. É melhor que fiquem analfabetos do que tornarem-se
filhos do diabo!”
Quanto escutei aquilo, bati com uma mão na outra, estupefato. Mas, os
pais estavam irremediavelmente determinados em sua decisão de não
mais enviarem seus filhos para a escola. Depois de haverem tomado
essa decisão, chegaram ao pé dos filhos e disseram:
“Filhos, nós pregamos o Evangelho e contamos às pessoas
tudo que Jesus fez. A Bíblia ensina-nos que, se não formos
capazes de educar os nossos próprios filhos, não podemos
ensinar alguém, não podemos ser obreiros numa congregação
e nem pregar o Evangelho de Jesus. Vocês são desobedientes
e não são uma luz de Deus na escola onde andam. Não se
tornaram sal por lá. Agindo desse modo, vocês amarraram as
nossas mãos e amordaçaram a nossa boca. Não podemos
abrir as nossas bocas por causa das vossas ações e das vossas
vidas. Por isso, não estão permitidos a ir para a escola
estudar enquanto estiverem servindo o diabo!”
Aqueles pais Cristãos cumpriram a sua palavra tirando os filhos da
escola. Passou-se uma semana, depois outra semana e depois disso
trouxeram os seus filhos para a nossa missão. Imploravam ao Senhor
que os ajudasse, pois, desejavam muito pregar o Evangelho de Jesus.
Oravam intensamente. Com o decorrer do tempo, os filhos
converteram-se um após o outro! Alguns deles não tinham mais de sete
anos de idade sequer e outros rondavam os doze ou treze. Deus operou
uma profunda convicção de pecado nas crianças e deu-lhes um coração
quebrantado. As crianças vieram conversar comigo e confessaram os
seus pecados comigo e orando comigo. Foram conversar com os seus
pais pedindo perdão por cada pecado e desobediência. Depois, pediram
aos pais para irem à escola para poderem ir pedir perdão aos seus
coleguinhas e aos professores. Os pais permitiram, mas, quiseram antes
comprovar e ver os frutos da conversão em suas vidas práticas. As
crianças prometeram aos pais que, a partir daquele momento, iriam
viver para Jesus na escola. Os pais vieram ter comigo para pedir um
carro emprestado para poderem ir falar com o Diretor da escola.
Também desejavam pedir-me conselhos sobre aquilo que deveriam
conversar com o Sr. Diretor para explicar tudo que havia acontecido e
por que razão haviam tomado tal decisão de tirar os filhos da escola,
pois, haviam tirado as crianças da escola sem dar qualquer explicação
ao Sr. Diretor. Desejavam esclarecer as coisas com ele. Eu disse-lhes:
”Esse problema é vosso. Eu não disse para tirarem as
crianças da escola! Disse? A decisão foi vossa e eu não dei a
minha opinião. Vocês haviam-me garantido que havia sido
Deus quem vos colocou no coração que deviam tomar essa
decisão. Perante isso, eu não podia dizer nada. Se foi
realmente Deus quem colocou isso em vossos corações, Ele
mesmo vos ajudará a resolver isso com o Sr. Diretor! Se foi
Deus, saberão o que fazer e o que dizer-lhe no momento que
falarem com ele”.
Os pais levaram o meu carro e partiram em direção ao Diretor da
escola, muito preocupados e angustiados. Temiam muito porque o
Diretor não queria nada com o Evangelho. Ele havia mesmo proibido a
pregação e a divulgação do Evangelho em toda a escola. Quando
chegaram à escola, oraram ainda dentro do carro e pediram a direção
de Jesus. Suplicaram que Deus fosse na sua frente e que preparasse
todo o seu caminho. Assim que abriram os seus olhos e quando
terminaram de orar, apanharam um enorme susto! O Diretor estava
ao lado deles, do lado de fora na janela do carro! Ficaram mudos e
estavam muito perplexos. O Diretor dirigiu-se a eles e falava com voz
trêmula:
“Amigos, preciso pedir-lhes desculpa, pois, sinto-me muito
culpado em relação a vocês. Podem perdoar-me, por favor?”
Aquele casal Cristão estava sem palavras. Ficaram atônitos e sem
reação. Não sabiam o que responder ao Sr. Diretor. O homem estava
completamente mudado e diferente daquilo que esperavam encontrar,
pois, eles haviam cometido um grande erro tirando as crianças da
escola sem dar-lhe qualquer explicação. Eles é que haviam vindo até ele
para pedir perdão e o Diretor é quem lhes veio pedir perdão antes que
pudessem dizer qualquer coisa. Foram para o escritório dele e o
Diretor sentou-se em sua cadeira e dirigiu-se a eles novamente:
“Eu sinto que sou culpado diante de vocês”
“Não”, responderam, “nós é que viemos aqui pedir desculpa
ao senhor! Fomos nós quem tirou as crianças da escola sem
dar explicação ao senhor! É isso que viemos fazer aqui. Nós
pregamos a Palavra do Senhor Jesus e somos servos d’Ele. E
como servos d’Ele, não podemos estar ativos na pregação do
Evangelho se não temos filhos obedientes e se não
conseguimos governar bem a nossa própria casa. Ouvimos
dizer que os nossos filhos eram muito desleixados e
desobedientes, que não faziam bem os seus trabalhos
escolares e alguns deles ainda brigavam com os seus colegas.
Por essa razão, vimos que as coisas não podiam continuar
assim. Se os nossos filhos não se convertessem, não podíamos
continuar a pregar o Evangelho. Não tínhamos outra opção e
não achamos nenhuma outra alternativa senão tirá-los da
escola e resolver primeiro esse problema. Por isso, quisemos
manter os nossos filhos em casa até se converterem. É
preferível que não aprendam nada e sejam analfabetos toda a
vida do que se tornarem pequenos demônios que trabalham
para a causa do diabo!”
“Amigos”, disse o Diretor, “vocês dão-me permissão para
reunir todos os pais dos alunos para vocês dizerem todas estas
coisas que acabaram de dizer-me? O meu pedido é que digam
isso da mesma maneira que disseram a mim, sem alterar
nada. Isso que fizeram e disseram trará enormes benefícios
para toda a escola e para todo o nosso sistema escolar. Só
desejo que todos os pais ouçam isto e ganhem os mesmos
princípios em casa que vocês têm. E quero prometer a vocês
que as portas da minha escola, a partir de agora, estão
escancaradas para a vossa pregação do Evangelho. Podem vir
aqui pregar sempre que desejarem. Qualquer hora do dia e
sempre que desejem, as portas estarão sempre abertas para
os senhores trazerem a mensagem de Jesus. Basta virem.
Quando chegarem, as aulas param todas e reuniremos todas
as crianças e professores para ouvirem. Vocês podem
movimentar-se aqui na escola da maneira que quiserem e à
hora que quiserem!”
Os pais perguntaram, ainda, se podiam trazer as crianças de volta
para a escola. O Diretor alegrou-se muito com isso e concordou logo,
cheio de entusiasmo. Assim que aquelas crianças recém-convertidas
chegaram à escola, cada um deles foi individualmente pedir perdão ao
Sr. Diretor pelo seu comportamento anterior. Desde o menor até ao
maior tiveram a iniciativa de pedir perdão por tudo que fizeram,
nomeando os pecados pelo nome. De seguida, pediram autorização
para falarem com todos os colegas. O Diretor reuniu as centenas de
crianças na sala principal da escola. Os filhos dos Cristãos falaram
pedindo perdão por tudo de mal que haviam feito, por seu
comportamento diabólico e por todos pecados que se lembraram.
Pediram perdão por haverem vivido uma vida muito má, por serem
infiéis a Jesus e maus de coração. Enquanto aquelas crianças se abriam
com seus coleguinhas, pedindo-lhes perdão, um dos professores
começou a chorar e a soluçar alto. Depois, outro professor e mais outro
chorava. Depois, as crianças também começaram a chorar. O Espírito
de Deus moveu-se entre os alunos e professores e centenas deles
entregaram as suas vidas a Jesus naquele dia. Em apenas três semanas,
o fogo de Deus espalhou-se por todas as escolas de Kwazulu e chegou
mesmo à Universidade. Milhares de jovens e de estudantes
converteram-se naqueles dias, uns após os outros. O Espírito de Deus
tocou em muita gente. Jesus alcançou a Sua vitória sobre o mal e era
doce a Sua vingança sobre o mal. Muitas vezes, Deus chegava no
momento que não esperávamos para fazer aquilo que não esperávamos
ver. Ele opera de maneira que não conseguimos imaginar ou planificar
antecipadamente.

O SENHOR VELA SOBRE A SUA OBRA

Quando alguém pede um avivamento genuíno e recebe, nunca deve


subavaliar os problemas que irão surgir. Problemas e perseguições irão
acontecer sem qualquer sombra de dúvida porque o diabo tem um ódio
mortal a qualquer obra que é verdadeiramente operada pelo Espírito
Santo. Um avivamento pode ser descrito como uma obra do próprio
Espírito Santo através das vidas de pessoas de servos abnegados e
inteiramente fiéis ao Senhor e somente a Ele de forma exclusiva e clara,
os quais estejam revestidos do o Seu poder e santidade com o
intuito exclusivo de trabalhar arduamente para o Reino de Deus aqui
na terra. Sempre que tais homens penetram em território inimigo para
livrar as almas presas nas trevas, podemos esperar que o diabo não irá
ficar a olhar de braços cruzados e passivo. Ele irá mover ou mobilizar
toda a sua força, astúcia e sabedoria para ou impedir o avivamento de
acontecer ou de se manter; ou, então, para causar grandes estragos
dentro do movimento de avivamento ou mesmo alcançar o povo com
mentiras acerca do movimento antes que o evangelho e a verdade
cheguem lá. Irá espalhar muitas mentiras acerca do avivamento antes
que seja vista a verdade e antes que seja amada. Para esse efeito, usa os
seus servos e todos aqueles que andam sem Deus (e no mundo existem
muitos). Mas, o pior é que ele usa mais facilmente todos aqueles que se
chamam filhos de Deus, os quais de filhos de Deus não têm nada.
Para ilustrar o que acabei de dizer, quero contar algumas coisas que
aconteceram pouco antes do avivamento começar e, também, depois de
haver começado. Durante aquela época em que nos reuníamos para
implorar a Deus que descesse até nós e durante o período que tivemos
para regularizarmos as nossas vidas para estarem de acordo com Deus,
fui chamado pelo Governador do Distrito e, quando cheguei lá, estava
um Juiz com ele. Ambos me cumprimentaram e perguntaram onde
estávamos congregando e em que lugar estávamos tendo as nossas
reuniões. Expliquei que estávamos usando um estábulo de vacas que
havíamos limpado. Perguntaram onde se situava esse estábulo mais
precisamente. O Sr. Governador explicou melhor qual a razão de me
haverem convocado para uma reunião. Disse-me que havia pessoas na
vizinhança que apresentaram uma queixa em Pietermaritizburg contra
as reuniões. As pessoas não desejavam que eu estivesse pregando o
evangelho naquela área e pediam que me fosse vedado o acesso a ela.
Então, mencionaram vários outros lugares onde eu não podia pregar e
nem levar o evangelho. O Governador do Distrito e o Juiz apontaram
os locais no mapa da região e pediram-me para estudá-la. Haviam
determinado qual a minha ‘fronteira’ e que linhas eu não podia
atravessar. Então, mostraram-me pelo mapa que o estábulo onde nos
reuníamos era cortado pela linha que não podia trespassar. Era local
proibido, tal como o território a norte dele. Por isso, parecia que parte
do estábulo estava em território proibido e a outra parte não estava. O
Sr. Governador perguntou-me onde, dentro do estábulo, é que eu
ficava quando pregava. Respondi que ficava em pé “à esquerda da
mesa que se encontrava na esquina esquerda do estábulo”. O Juiz
olhou atentamente para o mapa e verificou que eu ficava precisamente
na fronteira que eles haviam traçado. Eu pregava do lado de fora do
território proibido, mas, a congregação sentava-se dentro de território
proibido. No final, a reunião terminou com uma permissão da parte
das autoridades para podermos continuar as nossas reuniões daquela
maneira. Mas, não estava autorizado a pregar nos territórios
proibidos. Deus operou em seus corações de maneira maravilhosa,
resolvendo aquele problema de forma muito peculiar e engraçada.
Pouco tempo depois disso, o avivamento começou. O diabo tentou de
tudo para impedir o seu progresso. Contudo, se nos submetermos
completamente a Deus e se andarmos somente para glorificá-Lo, o
Senhor baralha todos os pensamentos de Satanás e dá a volta por cima
porque, para Deus, nada é impossível.
Dois ou três dias depois de o avivamento haver começado, veio uma
nova proibição de alguém muito influente e muito poderoso a nível do
governo que não queria nada com o Cristianismo. Ele alegou que o
território onde nos encontrávamos era terreno industrial e não nos
podíamos congregar naquela área. Eu pensei que seria o fim do nosso
avivamento. Mas, Deus não pode ser preso e acorrentado. O Seu
Espírito não pode ser limitado e impedido de operar. É verdade que
não podíamos pregar mais naquela zona, mas, o fogo que Deus acendeu
pegava fundo nas vidas das pessoas e os corações são o Seu território.
Deus saiu a pregar em vez de nós. Trazia almas, umas atrás das outras
e ainda removia todos os impedimentos em nosso caminho.
Quando o diabo viu que não obteve sucesso ao tentar impedir o
progresso do avivamento pelo lado de fora, tentou pelo lado de dentro.
O diabo procurava pessoas para serem usadas pelo lado de dentro do
avivamento. Mesmo que sempre tivéssemos a noção e a consciência de
que Deus sempre esteve conosco, eu tive (pessoalmente) uma enorme
dificuldade em aceitar todas as limitações exteriores que eram
impostas contra a obra de Deus. Por essa razão, eu orei a Deus de
forma audaz e emotiva. Um certo dia, caminhava e atravessei a
‘fronteira’ do território proibido e veio-me a promessa de Deus: “O
povo e a terra te darei como herança”. Fiquei muito feliz ao ouvir
aquela promessa! Clamei de regozijo: “Senhor, mas, é impossível!
Proibiram-me de pregar neste território e não posso pisar nele”. Mas, a
palavra que Deus me falou cumpriu-se escrupulosamente.
Como era de esperar, continuamos orando e reunindo como
congregação, ainda que às escondidas. Um certo dia, veio uma senhora
que trabalhava na Câmara (Prefeitura) pedindo-me que orasse por ela,
pois, dizia que estava possessa de demônios. O pensamento veio a mim
que ela, provavelmente, estava sendo sincera, mas, resolvi falar de
outra maneira. Então, disse-lhe que não podia orar por ela porque
havia sido proibido pelo governo local e que a Bíblia ensina-nos a
sermos obedientes aos nossos governos. Expliquei todos os detalhes à
senhora e mandei-a de volta sem atender o seu pedido. Ela foi ter com
o Sr. Governador para contra-lhe. Uns dias depois, o Sr. Governador
convocou-me para outra reunião. Queria saber por que razão me
recusara a orar pela senhora que trabalhava para ele. Expliquei-lhe
que não podia orar por ela porque havia sido proibido pelas
autoridades de fazê-lo.
“Ninguém pode impedir o senhor de orar por alguém!” Disse-
me.
“Mas”, respondi, “eu só oro (por casos destes) juntamente
com minha congregação e com meus cooperadores. Não oro
sozinho”.
O Sr. Governador ficou calado por uns momentos e ficou pensando. No
final disse:
“Pode ir, o senhor pode orar e fazer o seu trabalho!”
Como nos alegramos! Aquela ordem foi como uma rachadura numa
muralha forte que acabou por quebrar-se em pedaços mais tarde. Já
nos podíamos reunir novamente! Já podíamos orar por pessoas.
Daquela senhora que trabalhava na Câmara, saíram legiões de
demônios. Eram dos tais que recusavam sair se não derramassem
sangue. E isso aconteceu. Durante aquelas horas que se passaram, ela
cuspia sangue da sua boca.
Pouco tempo depois disso, estávamos reunidos em meu quarto e
orávamos. Naquele tempo, eu ficava na casa de meu irmão, em
Mapumulo. Era uma casa enorme. Tinha muitos quartos e ninguém
tinha como saber, pelo lado de fora, em que quarto estávamos.
Enquanto orávamos, bateram fortemente na janela. Levantei-me dos
meus joelhos e abri a janela. Estavam dois homens desconhecidos do
lado de fora. Diziam que tinham vindo chamar-me. A uns dez
quilômetros dali havia falecido um homem que eu nunca conheci e o
seu último desejo era que fosse eu a fazer o seu funeral. O último
desejo de um Zulu é, para eles, algo sagrado. Sem pensar e sem
perguntar ao Senhor o que devia fazer, dei-lhes a primeira resposta
que me veio à cabeça. Disse que não podia atender o seu pedido.
Amigos, a verdade é que as nossas próprias línguas podem servir de
instrumentos para as forças do inferno. Quantas vezes falamos demais
ou depressa demais? A língua chega a agir mais depressa que o
cérebro, pois, conseguimos falar antes de pensar! Dei-me conta de ter
agido mal. Voltei atrás e perguntei-lhes se podiam esperar enquanto eu
ia colocar a questão diante de Deus. Imaginei que com oração as coisas
fossem ficar mais claras e ficasse sabendo o que deveria fazer.
Convidamos os dois homens a passar aquela noite conosco. No dia
seguinte pedimos para irem falar com o Governador do Distrito e
contarem-lhe tudo sobre o último desejo do morto. Sendo feito dessa
maneira, já não seria um problema, pois, seria um desejo da própria
comunidade que desejava respeitar o último desejo da pessoa que havia
falecido. O Sr. Governador tinha consciência que qualquer Zulu faz
qualquer coisa para cumprir o último desejo de um morto. Eles temem
os problemas que os mortos lhes podem trazer se não cumprirem os
seus últimos desejos. Chegados ao edifício do Governo Distrital, foram
enviados para os deputados que lidam com aquele tipo de assuntos. O
que iriam dizer aquelas pessoas que não me queriam ouvir e nem me
ver em seu bairro ou distrito? Resolveram que não podiam proibir o
último desejo de um morto, ainda que fosse pagão. Os pagãos negros
acreditam que se o último desejo de alguém não for cumprido, o seu
espírito irá persegui-los e perturbá-los por muito tempo. Os que
tinham poder para decidir não tiveram outra opção senão autorizarem
que o funeral fosse conduzido por mim em zona proibida. Deram-me
permissão para ir para o território proibido em um certo horário
específico. Deram-me até duas horas para cumprir o meu dever.
Depois das duas horas, deveria sair sem demoras do território e não
podia permanecer lá nem mais um minuto. Deram-me uma
autorização por escrito e ficamos tão alegres com aquela decisão que
quase pulamos no ar de alegria. Fomos para o lugar do funeral na hora
e dia marcados. Quando lá chegámos, já havia centenas de pessoas
esperando. Que oportunidade maravilhosa para pregarmos o
Evangelho! Mais parecia uma festa de casamento que um funeral! Não
havia lamentos nem choros porque Deus abençoou tudo e sentíamos
que estávamos em terreno conquistado pessoalmente por Jesus.
Uns dias depois, outra pessoa faleceu no mesmo Distrito. O último
desejo era o mesmo: que eu fosse fazer o funeral. Mandamos os
homens ao Sr. Governador novamente. Ele tornou a enviá-los e toda a
história repetiu-se. A consequência foi que tivemos novamente outra
oportunidade para trazer o Evangelho ao Distrito. Não passaram
muitos dias e outra pessoa faleceu cujo último desejo era que eu fizesse
o seu funeral também. Sabem, nós servimos a Pessoa que tem em Suas
mãos as próprias chaves da morte e da Vida. Nada é impossível para
Ele. Deus já uma vez usou Faraó para glorificar o Seu nome. Ainda
hoje Deus usa-se de pessoas duras e que não ouvem, cujos corações não
sentem as coisas do Céu. Ainda se glorifica dessa maneira.
Em poucas semanas já haviam falecido cerca de dez pessoas com o
ultimo desejo de serem enterradas por mim. Todos os falecidos
pertenciam ao Distrito que me foi vedado e no qual não podia entrar
ou visitar. Por fim, O Sr. Governador ficou muito irado com toda a
história e disse aos seus funcionários:
“Eu não vos entendo! Por um lado, vocês proíbem este
homem de pregar naquele distrito. Mas, por outro lado, dão-
lhe permissão para fazer os funerais e entrar nos territórios
proibidos! Não vos entendo!”
Durante aqueles funerais, Deus transformou milhares de pessoas na
zona em questão. Assim, através da morte de umas poucas pessoas,
Deus salvou milhares de almas. Muitas pessoas chegaram àquela nova
vida que só encontramos em Cristo.
Deus foi abrindo as portas para penetrarmos cada vez mais fundo em
território que não podíamos visitar e fomos espalhando o Evangelho.
Hoje, as portas que se abriram naquela época ainda se encontram
abertas para nós. Nunca mais se fecharam. Até os líderes que nos
proibiam de entrar no distrito acabaram por tornar-se nossos amigos.
Convidam-nos muitas vezes para visitarmos a sua área. Depois
daqueles funerais, as pessoas todas, incluindo aquelas que
apresentaram queixa, começaram a dizer o seguinte:
“Esse é o tipo de Evangelho que queremos ouvir! Deixem
esses pregadores entrar em nossos territórios para nos
trazerem o Evangelho!”
Mas, aquilo que aconteceu não foi caso isolado. Sempre que Deus opera
de verdade, o diabo surge com formas de resistência e entra em ação de
uma ou de outra maneira. Um avivamento onde só aparecem coisas
positivas não pode, de maneira nenhuma, estar sendo operado pelo
Espírito Santo. Pode estar sendo operado por outro espírito, mas, não
pelo de Deus. Talvez pergunte por que razão digo isto. A razão
principal é que o inimigo não descansa. Ele não pára quieto. Se o
inimigo ficar quieto, é porque o seu reino não está sendo ameaçado.
Sempre que o diabo se ergue contra um avivamento, esse é um dos
sinais que o avivamento é genuíno e que o seu reino está sofrendo um
rude golpe. Sendo assim, o diabo reúne os seus poderes e tudo que tem
para fazer frente à perda do seu território, reino ou influência. E o
diabo encontra esses canais em todo lado e, muito especialmente, entre
aqueles que são crentes fingidos ou enganados.
No tempo de Jesus não era diferente de hoje. Todos os Fariseus eram
os mais crentes e os mais fingidos também. Hoje usamos a palavra
“Fariseu” como um palavra insultuosa e feia. Mas, naquele tempo era
sinônimo de prestígio e era muito prestigiante ser-se chamado Fariseu.
Um Fariseu jejuava duas vezes por semana, dava os seus dízimos,
orava muito e muitas vezes e fazia muitas coisas que os outros não
faziam. Eram pessoas que oravam intensamente pela vinda do Messias.
No fim, as suas orações foram atendidas e o Messias foi enviado à terra
– à sua terra. Contudo, quando o Messias chegou, odiaram-no e
crucificaram-no. Os Fariseus amaldiçoaram o Senhor Jesus porque Ele
não veio até eles no formato que eles haviam imaginado ou pré-
concebido. Isso acabou por acontecer dessa maneira porque eles,
durante os anos e séculos anteriores enquanto oravam pela vinda do
Messias, paralelamente faziam as suas próprias coisas e criavam as
suas próprias doutrinas e imaginações sobre como o Messias devia ser.
Eles criaram imaginações próprias sobre o tipo de Messias que
preferiam. Esqueceram que o Jesus já existia e não podia ser outra
pessoa para além daquilo que já era e sempre foi. Imaginaram um tipo
de rei que lhes agradasse e fizesse aquilo que desejavam conseguir.
Talvez pensassem que seria um Rei a erguer o Seu trono no Monte das
Oliveiras. Eles eram os que tinham as promessas da Bíblia – ou assim
pensavam – e acreditavam que essas promessas substanciavam a sua
ideia de Messias. Mas, como Jesus chegou até eles de uma outra
maneira que não imaginavam, não o aceitaram. “Pode alguma coisa
boa vir de Nazaré?” Diziam. “Nós sabemos de onde este vem!” A
Palavra de Deus diz que quando o Messias chegar, não saberemos de
onde Ele vem, porque aparecerá de repente como um raio inesperado.
“E diziam: Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós
conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?” (João 6:42). “Não é
este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria e seus
irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E não estão entre nós todas as suas
irmãs? De onde lhe veio, pois, tudo isto?” (Mat.13:55,56). E eram esses
os argumentos fingidos dos Fariseus que pensavam que sabiam tudo.
Eu desejo realçar aqui que é uma coisa muitíssimo perigosa ter a
verdade pela metade, experimentá-la em parte e conhecer uma coisa
em parte. É assim que as pessoas mais espirituais e mais religiosas se
tornam os piores e mais mortais inimigos de Jesus e da Sua causa. E foi
assim com os Fariseus: eles foram os que se opuseram ao Enviado de
Deus que pretendia salvá-los a todos sem exceção. Ainda que eram eles
mesmos quem orava pela vinda do Messias, rejeitaram-no e cuspiram
n’Ele. As suas imaginações e os seus pensamentos e doutrinas
impediram não apenas que experimentassem um verdadeiro
avivamento vindo do Céu, mas, com o tempo, fez com que se tornassem
verdadeiros inimigos dele e de Jesus.
Muitos séculos se passaram desde então, mas, mesmo assim isso deve
servir de lição para qualquer um de nós que se considera crente e ora
por avivamento. Tal como acontecia no tempo que Jesus andou sobre a
terra, hoje acontece o mesma coisa da mesma forma e pelas mesmas
razões. Devemos ter cuidados especiais precisamente com todos aqueles
que oram por um avivamento genuíno. Quando começa, pode não
chegar no formato que desejam. Jesus não disse apenas por dizer que
quando o novo vinho chegasse não fosse colocado em odres velhos. Bem
avisou para nunca tentarmos colocar vinho novo em odres velhos, pois,
podemos tornar-nos inimigos de um avivamento verdadeiro dessa
forma. Os odres velhos rebentam e derramam o vinho novo e estará
irremediavelmente perdido e desperdiçado. Se Jesus conseguir que o
Seu vinho novo flua através de nós em direcção ao mundo, então temos
de levar em conta que os nossos odres, que muito estimamos por nós,
terão de tornar-se novos também, tal e qual o vinho. Noutras palavras,
se realmente desejarmos que Jesus renove os nossos espíritos e
corações e o seu formato de forma clara e permanente, devemos estar
igualmente preparados para negar os nossos próprios caminhos e
meios que tanto prezamos e amamos. Devemos estar dispostos a
abandonar para sempre os nossos próprios argumentos, ideias e
imaginações ou idealizações de como Deus opera ou deve operar.
Fazendo isso, devemos, depois, poder aceitar os caminhos e os modos
de Jesus atuar. Não poderá haver um avivamento genuíno até ao dia
que estivermos dispostos a abandonar tudo que somos e pensamos e
imaginamos acerca de Deus e de nós mesmos e se não nos humilharmos
ao ponto de deixarmos de existir para sermos outros e estarmos
conforme o Céu. Nunca haverá um avivamento genuíno até que as
pessoas tomem o rumo de Deus, para que Ele faça a Sua vontade e não
a deles. Por Ele ser Deus, tem todos os direitos exclusivos sobre as
nossas vidas e maneiras de ser e de pensar. E se não estivermos na
disposição de Deus e não formos um povo afim, certamente que nos
tornaremos os maiores opositores do avivamento de Deus assim que ele
começar. Conheço pessoalmente um certo homem que dizia assim:
“Quando orarmos por um avivamento, devemos vigiar e guardar
(segurar) firmes os nossos corações para não nos tornarmos inimigos
do avivamento pelo qual oramos a Deus”. Apesar das suas palavras de
sabedoria, esse homem tornou-se um inimigo da obra genuína de Deus.
Assim que o avivamento chegou, ele foi um dos principais opositores
dessa obra. A razão por que ele se tornou um opositor desse
avivamento, foi Deus ter começado a usar pessoas que ele não esperava
que usasse. Também dizia que o avivamento começou em um lugar
onde não devia ter começado, entre as pessoas que ele não imaginava.
Muitos anos atrás, um certo homem trabalhava na Província do Cabo
Ocidental com Andrew Murray. Era um pastor holandês da Igreja
Reformada. No distrito onde trabalhava, Deus havia concedido um
avivamento. Tudo começou durante uma reunião de oração onde se
pedia um avivamento genuíno. Entre o povo ali presente, estava uma
moça de cor, a qual sentava-se sempre nas ultimas filas. Ela orou e
implorou a Deus que descesse sobre eles. No momento que ela terminou
de orar, Deus atendeu o seu pedido. O Espírito Santo desceu e operou
poderosamente. Muitos começaram a chorar como crianças que
haviam apanhado uma enorme surra e outros oravam para se
converterem logo ali. Assim que Andrew Murray viu aquilo, tentou
estancar o movimento de imediato. Ele não concordava com aquilo.
Tentou resistir ao Espírito Santo e impedi-Lo de operar porque ele
imaginava uma outra forma de avivamento que decorresse de uma
outra maneira pré-concebida. Mesmo sendo ele o pastor daquela
congregação e tendo ele sido o principal pedinte de um avivamento, foi
ele quem se manifestou, em primeiro lugar, contra Deus assim que
tudo começou. Ele não esperava que Deus chegasse daquela maneira.
Estava convencido que Deus não faria as coisas daquela maneira. Mas,
pela graça de Deus, Jesus confrontou-o logo ali e mandou que não
fizesse nenhuma tentativa de impedir a obra do Espírito Santo. Assim
que Andrew Murray se apercebeu da gravidade da sua atuação e da
sua infértil maneira de pensar, pediu a Jesus para ser perdoado e para
transformá-lo num instrumento que estivesse totalmente e
exclusivamente de acordo com a vontade de Deus. Assim, podemos ver
que aqueles que oram a Deus pedindo um avivamento genuíno podem
tornar-se os principais opositores de uma verdadeira obra do Espírito
Santo de Deus. Quando as coisas acontecem de forma que não
esperamos, podemos colocar-nos numa situação contrária à de Deus.
Também experimentamos algo semelhante entre nós. No final de 1966,
na fase inicial do avivamento, nós regozijávamo-nos de todo o coração
e dizíamos:
“Que vitória! Agora toda a igreja irá ficar feliz e todo o
mundo Evangélico triunfará juntamente conosco e se
alegrará com a obra de Deus! Ficarão felizes por, finalmente,
as sombras e as trevas irem perder o seu poder e o seu
domínio nas igrejas!”
Quão grande foi o nosso desapontamento em relação às igrejas! Os
Cristãos tornaram-se facilmente em opositores principais da
verdadeira obra do Espírito Santo. Durante cerca de dez anos
nenhuma porta de nenhuma Igreja se abriu. Estavam todas encerradas
e seladas. Nenhuma congregação de nenhuma denominação viu com
bons olhos ou apreciou a obra poderosa de Jesus em nosso meio. As
suas portas permaneceram seladas para impedirem a entrada de Jesus
em seu meio. Isso durou até as igrejas tradicionais ficarem plenamente
convencidas que aquilo era, realmente, uma obra de Jesus. Depois de
verificarem os frutos que permaneciam e as vidas das pessoas
realmente transformadas, começaram a aceitar a obra de Deus.
Nos tempos de John Wesley foram os Anglicanos os principais
opositores do avivamento que se deu na altura. Foram eles que
armaram os exércitos Cristãos contra Deus. Wesley foi impedido de
pregar em qualquer igreja. Por essa razão, foi um dia ao cemitério e
colocou-se diante do tumulo de seu falecido pai e dizia
metaforicamente: “Agora, ninguém pode impedir-me de pregar a
verdade. Aqui está meu pai falecido e só aqui posso pregar
livremente!” Pois é, amigos, é muito custoso sermos verdadeiros filhos
de Deus inteiramente de acordo com a Bíblia. Se formos honestos
seguindo Jesus, seremos perseguidos de qualquer jeito. Sempre que
existirem falatórios, mentiras, más-línguas, perseguições e muitas
tentativas de lançar terra sobre plantinhas já nascidas da semente ou
em cima de fruto verdadeiro vindo de boa semente, é quase sempre um
bom sinal. Alguém pode mostrar-me onde existe um verdadeiro
homem de Deus ou profeta que fale a verdade sem hesitar sem que seja
perseguido? Podem mostrar-me um homem desses que nunca seja
molestado e perseguido com boatos e falsos relatórios de heresia ou de
outras mentiras? Raramente se falará bem de tais pessoas em círculos
Cristãos. Foi dito do nosso Senhor Jesus que Ele fazia o que fazia
através do poder de Satanás e que expulsava demônios pelo poder de
Belzebu. E foram os crentes que oravam pela vinda do Messias quem
afirmou isso convictamente. Por essa razão, Jesus avisou todos os seus
verdadeiros discípulos de antemão: “Basta ao discípulo ser como seu
mestre e ao servo como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de
família, quanto mais aos seus domésticos?” (Mat.10:25 e 5:12).

DEUS É UM FOGO CONSUMIDOR

Quando falamos de avivamento, podemos compará-lo com o sol.


Quando o sol nasce ou se põe no horizonte, parece uma bola vermelha
para a qual podemos olhar e ficar maravilhados. Muitos mal
conseguem distinguir entre o sol e a lua em certas circunstâncias, pois,
o sol fica sem força e sem brilho. Contudo, tudo muda quando o sol
brilha em toda a sua força no calor do meio-dia. Tudo fica claro.
Nessas alturas, ninguém precisa estar a convencer-se que está ao sol,
pois, o sol é real demais e a sua luz também. Todos são capazes de
sentir o seu calor até mesmo dentro de casa. Mas, quando o sol se põe
no horizonte, todos podem olhar para ele novamente porque perde a
sua força e perde aquela intensidade capaz de cegar pessoas. Assim é a
vida Cristã normal. Sempre que Deus se retira da vida Cristã, a Sua
luz fica fraca e até podemos olhar diretamente para o sol. Contudo, o
auge de um avivamento pode ser comparado ao sol na sua máxima
força. Então, Deus opera em Sua glória, poder, majestade, grandeza,
esplendor manifestando toda a Sua santidade. Nessas ocasiões, somos
capazes de experimentar coisas que estão muito além do nosso
entendimento ou imaginação.
No tempo da Igreja Primitiva também era assim. Pouco tempo depois
de Pentecostes, Ananias morria por haver mentido. Poucas horas
depois, a sua esposa também morreu pelo mesmo motivo. Contudo,
hoje podem mesmo haver divórcios dentro das igrejas e congregações e
nada acontece! As pessoas formam grupos onde a hipocrisia é
praticada e ninguém sente a dor do castigo sobre tal pecado horrendo!
Todos continuam com suas vidas como se nada estivesse acontecendo e
vivem na mais completa normalidade! Mas, sabemos que quando Jesus
voltar em todo o Seu poder e na virtude que o ressuscitou dos mortos
ou quando descer e manifestar-se com o mesmo poder às pessoas
dentro de um avivamento, então acontecem coisas que nos fazem
pasmar por causa dessa aparente tranquilidade.
Desejo, agora, dar a conhecer algumas das muitas coisas que
aconteceram em nosso meio para poderem ter uma ideia do que,
normalmente, acontece num avivamento. Em primeiro lugar, desejo
contar-vos o que aconteceu em Mapumulo. O nosso pequeno grupo de
Cristãos reunia-se ali implorando a Deus por um avivamento.
“Senhor, disseste na Tua palavra: ‘Vim lançar fogo na terra;
e que mais quero, se já está aceso?’ Senhor, eis-nos aqui.
Pedimos de todo coração que lances esse fogo em nosso meio.
Faz aquilo que tanto desejas. Cumpre aquilo para que
desceste à terra”.
Falando humanamente, fizemos o Senhor lembrar as Suas próprias
palavras, conforme a promessa em Luc.3:16: “Esse vos batizará com o
Espírito Santo e com fogo!” Foi precisamente isso que nos levou a orar:
“Senhor, imploramos-Te que venhas lançar esse fogo sobre
nós”.
Então, aconteceu algo a que não estávamos habituados. Uma pessoa na
qual tínhamos a máxima confiança, clamou em alta voz, dizendo:
“Ai de mim! Os meus olhos queimam como se estivessem no
fogo! Estou sendo consumido! Tenho olhos impuros em mim!
Ó Senhor, imploro-Te que me perdoes!”
“Ai de mim, pois minha língua é impura… meus lábios
também” dizia outro.
Aquilo levou-nos a pensar no que aconteceu ao profeta Isaías. Ele viu o
Senhor sentado em Seu alto e sublime trono. O Seu séquito enchia o
templo e os anjos clamavam: “Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos
Exércitos”. Isaías clamou em agonia e disse: “Ai de mim! Pois estou
perdido; porque sou um homem de lábios impuros e habito no meio de
um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos
Exércitos”, Is.6:5. E nós experimentamos o mesmo e, pela primeira vez,
vimos o que significam as palavras em Heb.12.29, as quais dizem que
Deus é um fogo consumidor!
Durante outro culto, uma outra pessoa começou a gritar durante a
reunião de oração: “Os meus pés estão ardendo em chamas!” Na maior
angustia, aquele homem tirou os sapatos dos seus pés, lançando-os
contra a parede em frente. Começou a pular no chão como que
desejando apagar um fogo invisível. Nenhum de nós via qualquer
chama. Era, provavelmente, uma experiencia espiritual. Não sabemos
explicar aquilo. Aquele pobre homem sentia tantas dores que chegamos
a temer que fosse morrer. Deus havia começado a estar em nosso meio
e falava a cada um sobre os seus pecados, especificando-os. Falava com
cada um aquilo que cada um tinha. Deus tocava naqueles pontos onde
cada um ainda se encontrava impuro. Poderia tentar explicar aqui
quais as razões por que essas pessoas experimentavam todas essas
coisas, mas, podem imaginar. Pode fazer uma pequena ideia do que
significa alguém ter olhos impuros: via as coisas do mundo como
novelas; lábios e língua impura, pés impuros que andavam em
caminhos que não eram os melhores.
No nosso meio havia um pregador que havia sido uma grande bênção
para muitos. Muitas almas haviam-se convertido e libertado através
dos seus esforços. Esse mesmo pregador, começou a clamar:
“Senhor, tem misericórdia de mim, um pecador! Estou
perdido! Estou perecendo!”
Aquele pregador contou-nos, depois, que durante a reunião de oração
sentia-se como se tivesse rebentado em vários pedaços e tivesse sido
cortado ao meio, por dentro. Ele usou as mesmas palavras que Jesus
usou naquela parábola do servo infiel: “Mas se aquele mau servo disser
no seu coração: O meu senhor tarde virá; E começar a espancar os
seus conservos e a comer e a beber com os ébrios, virá o senhor daquele
servo num dia em que o não espera, e à hora em que ele não sabe,
e separá-lo-á (cortá-lo-á ao meio) e destinará a sua parte com os
hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes”.
Aquele irmão estava numa enorme agonia por causa do que lhe estava
acontecendo e pediu-nos para orarmos por ele. Formamos um círculo à
sua volta e começamos a orar. Durante a oração, ele levantou-se
repentinamente de seus joelhos, correu para o meio da sala e começou
a rastejar pelo chão, em agonia. Clamou bem alto:
“Estou aqui nas mais densas trevas! Ó que escuridão terrível!
Não consigo enxergar a minha mão sequer!”
Aquilo aconteceu enquanto estava um sol radiante. Quando ele foi para
o meio da sala, paramos de orar. Foi a primeira vez que
experimentamos uma coisa tão horrível. Não sabíamos o que fazer, ou
como agir. Ele continuou gritando:
“Fui lançado nas mais densas trevas exteriores! Aqui há
pranto e ranger de dentes!”
Amigos, aquelas palavras citadas das Escrituras fez-nos entender o que
se passava com aquele pregador Zulu. Insistimos na nossa oração e
dissemos:
“Senhor, perdoa o teu servo, tem misericórdia”.
Quando tornou a voltar a ele, explicou o que lhe aconteceu da seguinte
maneira:
“Não tenho palavras para descrever o que me aconteceu! As
trevas onde me achei eram tão densas, tão palpáveis que eu
não acho que possa haver coisa pior em toda a criação!”
Pedimos encarecidamente ao homem para confessar o seu pecado logo
ali, de imediato e para humilhar-se diante de Deus trazendo os seus
pecados para a luz. Não o fez. Uns dias depois, morreu e a sua morte
foi horrível, tal como a de Judas Iscariotes. O que aconteceu com ele,
não desejo a ninguém. As pessoas que o enterraram contaram-nos,
mais tarde, como ele estava. Depois da sua morte veio à luz o seu
pecado. Ficamos a saber quais os pecados que mantinha secretos. As
coisas que se realçaram foi: o ter-se envolvido com as meninas da
igreja; as críticas que fazia aos servos de Deus e a sua má-língua
amargurada. Ele falava dos outros por trás e fazia fofocas sobre os
outros filhos de Deus. O Juízo de Deus havia caído sobre ele. Foi
daquela maneira que experimentamos uma das vertentes do
verdadeiro batismo de fogo.
Em uma outra região, havia muitas pessoas que haviam-se reunido em
nome do Senhor. Oravam com intensidade de maneira muito séria. De
repente, ouvimos um som de vento, o qual podemos comparar com
aquele som que um jato faz quando passa sobre nós à baixa altitude.
Deus desceu sobre aquele lugar como no tempo dos discípulos e o lugar
tremeu. As janelas, o teto e o lugar tremeram como se fosse um tremor
de terra. Entre o povo ali reunido, estava um certo homem que era
temido por toda a tribo. Quando ele queria matar alguém, fazia-o com
o maior prazer malévolo e com um sangue frio de arrepiar. Muitas
vezes, ia, com uma aparência calma, chegava perto da vítima e
transpassava-o com a sua lança sem pestanejar. Era, deveras, um
pagão endurecido e sanguinário. Não temia ninguém e não deixava
qualquer vítima escapar das suas mãos. Ninguém sabe como aconteceu
e como aquele homem foi parar no meio do povo que se reunia para
orar a Jesus. Mas, estava lá. Claro que foi levado por Deus e só através
da providência de Deus aquele assassino pôde ver o poder de Deus
manifestar-se. Quando viu o som forte daquele vento e o teto tremendo
juntamente com as paredes, caiu sobre os seus joelhos, cheio de temor e
tremendo. Uma convicção de pecado profunda apoderou-se dele. Antes
de abandonar o local de culto, havia-se entregue a Jesus
completamente e havia limpo toda a sua vida de pecado, confessando
cada pecado que cometeu. Desde então, tornou-se uma pessoa
completamente nova e ainda hoje é uma testemunha viva para Jesus.
É, ainda, um grande exemplo para todos os pagãos da região.
Mais ou menos a uns 150 km de Mapumulo, também houve Cristãos
que se reuniram para oração. Imploravam a Deus que viesse incendiar
a sua região cheia de pecado e crime. O local onde se dava aquela
reunião de oração era pequeno demais. Por isso, todos os móveis
haviam sido removidos para que coubesse mais gente. Alguns
sentavam-se em cadeiras e outros no chão. Entre eles, estava uma
mulher que era conhecida como uma Cristã fiel. Sob aquelas orações,
ela ergueu-se de repente e, andando de um lado para o outro,
exclamou:
“Ai de mim! Sou indigna! Não tenho dignidade de estar aqui
neste lugar! Como me atrevi a vir para aqui e comparecer
diante da face do Senhor com todos os meus pecados? Não
devia ter vindo para cá!”
Ela pulava no chão como se o chão estivesse em chamas ou muito
quente. Suava muito e clamava fortemente.
“Ó, estou-me queimando! Ai de mim! Quão grandes são as
minhas culpas!”
Logo de seguida, pediu licença a todos respeitosamente e saiu do local
de culto. Ela não saiu andando, mas, correndo muito rapidamente. Sem
descanso, correu a encosta toda até chegar a casa. Assim que chegou lá,
pediu perdão ao marido.
“Jesus criou-me, inicialmente, para ser uma ajuda para ti,
meu esposo. Contudo, eu não tenho cumprido essa missão.
Não tenho seguido os caminhos do Senhor em relação a ti.
Nunca fui o melhor exemplo. Nunca fui uma verdadeira
esposa de acordo com as Escriturasi! Por favor, meu marido,
podes perdoa-me já?”
Saiu dali a correr e foi procurar os filhos.
“Meus filhos, perdoem-me. Eu nunca fui uma boa mãe para
vocês. Quantas vezes gritei convosco e irei-me muito! Disse-
vos coisas que nunca deveria ter dito! Disse outras da
maneira errada. Por favor, perdoem-me!”
Depois, procurou todos os vizinhos. Humilhou-se diante deles e fez
paz com aqueles com quem tinha más relações. Pedia-lhes perdão
por haver sido antipática e gritado com muitos deles. Implorou-
lhes o seu perdão e dizia que era uma grande pecadora.
Depois, foi falar com o patrão para quem trabalhava, um homem
branco. E, assim, produziu frutos dignos de arrependimento. Voltou
para o local de culto e os Cristãos ainda se encontravam lá. Ajoelhou-se
na frente de todos e orou:
“Senhor, estou muito agradecida por ainda me teres dado
esta oportunidade de me arranjar e de colocar minha vida em
ordem. Obrigado por esta última oportunidade que me deste.
Agradeço a Tua misericórdia. Agora, recebe a minha vida em
tuas mãos. Agradeço-Te por me ainda teres dado esta
derradeira oportunidade de ser perdoada de todos os meus
pecados e de haver pedido perdão a todos aqueles contra
quem pequei e a quem fiz mal, tanto através de ações como de
palavras!”
Muitos anos já se passaram desde então. Mas, ainda hoje esta mulher é
uma testemunha viva de Jesus. Sua vida é um exemplo vindo do Céu.
Ela experimentou pessoalmente e ao vivo que Deus não se deixa
escarnecer. Experimentou a real presença do Espírito Santo e sabe do
que fala quando fala da Sua santidade. Aquela convicção profunda de
pecado não ficou sem fruto. O esposo dela, que era um alcoólico e vivia
uma vida de escravidão ao álcool, converteu-se logo de seguida,
também, através do exemplo da sua vida. Ele próprio tornou-se um
grande exemplo para todos os pagãos ao redor. Todos os seus filhos
converteram-se também e todos servem ao Senhor de todo coração.
Três deles tornaram-se missionários e são cooperadores na nossa
missão.
Em Malaquias 3:3, lemos sobre Jesus: “E assentar-se-á como fundidor
e purificador de prata; e purificará os filhos de Levi e os refinará como
ouro e como prata; então, ao Senhor trarão oferta em justiça”.
Eu não sei se já viu ouro a ser refinado, se já assistiu o processo ao
vivo. Eu já tive o privilégio de assistir atentamente e com interesse à
purificação do ouro. E todas as vezes que assisti, veio-me à ideia a
maneira que Jesus nos purifica, tal e qual o fundidor purifica o ouro e
a prata. O fundidor não tem pressa. Senta-se quietinho em seu lugar,
olhando e esperando que o ouro passe pelo fogo. Abençoados são todos
aqueles que durante esta vida conseguem passar por esse processo de
purificação total. Bem-aventurados são todos aqueles que são
purificados pelo Senhor pessoalmente. Pois, é melhor que aconteça
agora que passarmos pelo Seu fogo no final. E todos terão,
necessariamente, de passar por esse fogo, seja agora ou depois. Ai de
todos aqueles que nunca passaram pelo fogo de Deus enquanto viveram
nesta terra, porque, no final, passarão por esse fogo para serem
julgados!
Ainda tenho outro caso que gostaria de relatar. Em 1967, uma jovem
moça converteu-se. O seu nome era Lilimo. Ela passou por uma
conversão muito profunda e, depois da conversão, o seu coração estava
em chama para Jesus. Ia incansavelmente de cidade em cidade, de vila
em vila pregando a verdade de Jesus. Clamava às pessoas para se
converterem. E quando chegavam, ela dizia: “Não se venham
converter se não estão completamente decididos a servir ao Senhor de
todo o vosso coração porque Deus não permite que escarneçam d’Ele!”
Muitas e muitas pessoas convertiam-se através dos seus apelos.
Abandonavam as suas vidas antigas para seguir Jesus em uma nova
vida. Infelizmente, o seu primeiro amor começou a esfriar por alguma
razão. Durou pouco. Pouco tempo depois, a sua vida espiritual
começou a deteriorar-se e a enfraquecer de dia para dia. Já não
frequentava as reuniões de oração com a mesma assiduidade e
pontualidade; e já não frequentava os cultos com a mesma
regularidade. Dizia, muitas vezes, que se sentia muito cansada e
resolvia ficar em casa. O fogo de sua vida foi diminuindo até que já não
restava nada de seu amor inicial por Jesus. Começou a levar uma vida
muito má. Andava conquistando rapazes e tornou-se uma
conquistadora da carne. Também andava com homens casados e a sua
vida tornou-se desgostosamente suja pela prostituição. No final,
esperava um filho de um homem que já tinha três mulheres. Tornou-se
a quarta esposa dele.
Nove anos mais tarde, em 1976, chegou à nossa missão de surpresa,
para assistir ao culto de Domingo. Eu e outros missionários estávamos
de saída para trabalharmos noutros campos missionários naquela
manhã. Mas, antes de sair, vi-a e perguntei-lhe como estava e que
podíamos fazer por ela. Ela não escondeu a sua vergonha e, olhando
para o chão, disse que tinha um enorme desejo de voltar a estar
conosco. Queria voltar.
“Eu não tenho tempo, agora, para conversarmos porque
estou de saída para outros cultos”, respondi. “Mas, hoje
haverá um culto aqui que será liderado por outros
missionários e cooperadores. Podes assistir a esse culto”.
Mais tarde, vim a saber que estiveram aproximadamente mil pessoas
naquele culto. Sentavam-se, como sempre, à direita e à esquerda do
corredor principal que havia entre o povo. Lilimo sentou-se quase na
frente, em uma das filas mais perto do púlpito. Era um dia lindo, sem
uma nuvem à vista. Não havia sinais de nuvens sequer. Mas, assim que
o culto começou, apareceu uma nuvem do nada, a qual escurecia muito
rapidamente como acontece com as nuvens carregadas de chuva.
Aquela formação de nuvens aglomerou-se mesmo por cima do local de
culto. À volta da nuvem, o céu continuava azul e lindo. Parecia uma
formação de nuvens negras isoladas que pairavam sozinhas mesmo por
cima do local onde se dava o culto. Um dos cooperadores levou a minha
filha (a qual tinha apenas alguns meses de idade) para o culto também.
Colocou a criança no corredor muito perto do local onde Lilimo estava
sentada. Enquanto decorria o culto, um raio saiu daquela nuvem negra
e atingiu Lilimo. As pessoas que estavam à volta dela não sofreram
nada e somente ela foi atingida. A força daquele raio era tal que ela foi
projetada pelo ar e caiu no corredor entre as pessoas. Ficou imóvel e
desmaiada no chão de cimento. Veio a si somente horas depois e só
conseguia sussurrar. Um dos lados do seu corpo estava paralisado e
não mexia.
“Quero falar com o pastor”, pedia sussurrando. “Por favor,
chamem-no”.
O pastor veio e ela abriu o seu coração, confessando os seus pecados.
Começou a confessar cada pecado que cometeu desde 1967 e levou
horas para terminar. O pastor em questão era uma pessoa
experimentada e já havia vivido e presenciado coisas maravilhosas em
muitas confissões detalhadas de pecados. Já havia ouvido muito tipo de
confissões de pessoas profundamente convictas. Mas, ele reconheceu
que nunca, em toda a sua vida, havia ouvido uma confissão de pecados
igual àquela. O coração do pastor derreteu-se todo e ele mesmo
chorava ouvindo Lilimo. A moça começou a falar e a contar tudo,
começando em 1967, relatando dia a dia, pecado a pecado, ano por ano
colocando tudo que fez e pensou na luz. Parecia que lia de um livro
bem escrito. A sua vida tornou-se um livro aberto do qual ela lia
página a página. Trazia as suas culpas desde muito fundo de seu
coração, colocando tudo na luz, coisa a coisa. Depois disso, levaram-na
para uma sala que temos na missão, que é para acomodar pessoas
doentes e a qual chamamos de hospital. Nós chegamos à missão já pela
noite a dentro e achamos estranho encontrarem-se tantas pessoas ainda
ali, todas diante do ‘hospital’. E ninguém arredava pé dali.
“Que aconteceu aqui?” Perguntei. “Faleceu alguém?”
“Não”, responderam. “Deus visitou-nos hoje e Ele esteve em
nosso meio”.
“Sim, mas, por que razão ainda estão aqui a esta hora? Que
se passou?” Queria saber.
“Lilimo está ali deitada no hospital. O senhor não pode ir lá
vê-la agora, por favor?” Hesitei um pouco, mas, naquele
momento vieram uns quantos cooperadores ter comigo, os
quais diziam-me: “Vá rapidamente falar com ela ali no seu
quarto, por favor!”
Assim que entrei no quarto dela, reparei que Lilimo não se mexia na
cama. Começou a falar muito baixinho assim que se apercebeu que eu
estava ali.
“O senhor viu a maneira como me converti antigamente e
lembra-se, certamente, como eu estava em fogo para Jesus e
como O amava muito. Depois, entrei em declínio e a minha
vida desceu muito baixo. Agora, ainda tenho aqui uns
pecados que preciso confessar para o senhor. Pode ouvir-
me?”
Tornou a abrir o seu coração e confessou o resto dos pecados que tanto
desejava confessar ao meu lado. Depois disso, os crentes ali reuniram-
se à volta dela, oramos por ela e Jesus atendeu os nossos pedidos. Ela
ficou completamente restabelecida. Levantou-se da cama e clamou:
“Necessito ir falar com minha mãe o mais urgente possível.
Preciso pedir perdão a ela logo. Quantas vezes me avisou!
Quantas vezes ela tentou trazer-me de volta para o caminho
certo! Desejo muito falar com ela para pedir-lhe que me
perdoe! Alguém pode levar-me lá?”
Um dos missionários ofereceu-se para levá-la de carro até sua mãe.
Quando chegaram, ela correu, procurando a mãe e, quando a achou,
disse:
“Ó mãe, perdoe-me! Hoje dei de cara com Deus através de
uma grande luz, tal como aconteceu com o Apóstolo Paulo a
caminho de Damasco. Ele caiu no caminho depois que um
raio o atingiu”.
“Filha”, respondeu, “já chega de tantas mentiras. Já me
mentiste demais e só dizes coisas bestas. És tão mentirosa que
é quase impossível encontrar alguém pior. De que tipo de raio
estás falando? Hoje foi um dia de sol e nem houve nuvens!”
“Mãe, não estou mentindo! Fui realmente atingida por um
raio!”
Contou à mãe tudo que lhe havia acontecido e pediu-lhe o seu perdão.
Depois disso, voltou para Kwasizabantu, a nossa missão. Disse-nos:
“Vão ficar sem ver-me durante algumas semanas. Preciso ir a
muitas vilas e cidades, em todas onde me envolvi com homens
ou onde pequei de uma ou de outra maneira. Quero
regularizar todos os meus pecados. Por favor, orem por mim
enquanto estiver longe. Preciso produzir frutos dignos do
meu arrependimento!”
E, assim, saiu para fazer aquilo que prometera fazer.
E como estão as coisas conosco aqui? Que se passa em sua vida?
Também deseja ser atingido pela ira de Deus para decidir arranjar-se?
Está esperando pelo fogo do Céu? Bem-aventurados são todos aqueles
que não viram isto que contei e acreditam. Porque esperamos pela ira
de Deus para nos arranjarmos? Porquê esperar ainda mais? Já não
basta que Deus fale conosco através deste exemplo? Quem escapará,
mais cedo ou mais tarde, de se apresentar diante do Deus vivo? Será
que é necessário que algo semelhante aconteça conosco antes de
decidirmos regularizar tudo, sem exceção, em nossas vidas? Será que a
Palavra de Deus já não nos deu bastantes exemplos? Não basta o que lá
vem escrito? Ou será que ainda vamos continuar a ter Deus como
mentiroso? “Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos
corações, como na provocação”, Heb.3:15. Ainda nos encontramos no
tempo da misericórdia. Ainda é tempo de acharmos perdão. Agora é a
hora de nos purificarmos e de nos submetermos a Jesus. Tudo aquilo
que, seguramente, não agrada a Deus, deve ser abandonado e odiado.
Tudo aquilo que não passar como puro no Seu fogo, tudo quanto não
for provado pelo Seu fogo não permanecerá na Sua presença santa.
Tudo que é sujo devemos abandonar e confessar. Vamos fazer isso
agora, pois, não sabemos em que dia será o Dia do Juízo. Não sabemos
em que dia responderemos pelos nossos pecados e em que dia a Sua ira
irá chegar!

APRENDENDO ALGUMAS LIÇÕES DE GRANDE VALOR

Pouco tempo depois de haver começado o avivamento, senti um


enorme peso em meu coração e uma grande necessidade de
descarregar aquele peso em oração juntamente com alguém diante do
Senhor. Decidi pedir a um irmão para dirigir o próximo culto e, assim,
eu poderia ir para as montanhas orar. Diante dos meus olhos interiores
visualizei uma família dedicada a Jesus para irem orar comigo. Peguei
em meu carro e dirigi-me para a família em questão. Uns quilómetros
depois, foi necessário fazer o resto do percurso a pé até chegar ao
lugar. Cheguei à sua casa. Estavam muito felizes por me verem. O meu
semblante estava sério e fechado, porque eu ainda tinha a ideia de que,
quando oramos e jejuamos, podemos ser, de certa maneira, antipáticos.
Cria que não era necessário rirmos. Pensava que o nosso rosto e
atitude deveria ou poderia ser fechada. A família estava tão feliz e as
crianças tão alegres que o seu rosto brilhava.
“Que surpresa!” Disseram. “Por favor, diga-nos qual a razão
para vir visitar-nos!”
“Sabem”, respondi, “quero dedicar este dia à oração e
jejum”.
“Certo!” Disseram. “Mas, antes disso vamos fazer qualquer
coisa para o senhor comer. Dê-nos só um momento”
Os Zulus são pessoas muito hospitaleiras. Sempre que os visitamos é
impensável deixar a casa deles sem havermos comido. Um café, chá ou
algo semelhante não é coisa que se ofereça a uma visita, dizem eles.
Antes da despedida, é necessário uma refeição forte para o caminho.
Até os mais pobres entre o povo têm esse costume. Ainda que só
tenham uma galinha no quintal, apanham-na para oferecer à visita
depois de preparada e cozinhada. Mas, quando os meus amigos
falaram de comida (a mim que desejava jejuar) recusei determinado.
Tentei explicar que naquele dia não seria necessário darem-me de
comer porque eu desejava jejuar e orar. Eles riram de mim e disseram:
“Está falando sério? Quer que mais tarde o Senhor Jesus nos
venha-nos dizer: ‘Eu estava com sede e não me deste de
beber, estava com fome e não me deste de comer’? As coisas
estão bem claras para nós! Pelo menos hoje não iremos dar
ouvidos às suas palavras! Entre, entre! Seja bem-vindo à
nossa casa”.
Não tinha escolha. Entrei. Eles desapareceram para apanharem uma
galinha. Não podemos simplesmente colocar a galinha na panela. Ela
precisa ser morta, depenada e limpa. Fiquei ali, sentado e esperando,
esperando… parecia uma que estava esperando uma eternidade e não
apenas algumas horas.
Por uma ou outra razão, nós, os brancos, estamos sempre com pressa.
Queremos sempre fazer alguma coisa ou chegar a algum lugar. Nunca
temos tempo e tudo tem de acontecer o mais rapidamente possível.
Contudo, todos sabemos que esse é o caminho mais curto para um
hospital de loucos ou para um esgotamento nervoso. Os Zulus, por seu
lado, nunca estão com pressa. Têm todo tempo do mundo! Enquanto
estava ali sentado esperando pela refeição, eu orava e dizia: “Ó Senhor,
como estou desperdiçando este dia! Eu desejei tanto que fosse um dia
dedicado a Ti! Que erro ter vindo aqui! Teria sido melhor ficar longe
daqui. Poderia estar orando com outras pessoas!” E ali permanecia eu,
sentado, esperando e esperando. Estava cheio de mágoa contra mim
mesmo por haver cometido um erro daqueles. Olhava incessantemente
para o meu relógio. Já havia passado do meio-dia e a tarde estava
avançando e a refeição ainda não estava pronta. As horas passaram
calma e impiedosamente. Depois de um longo tempo, alguém chegou
para oferecer-me um suco. Após um tempo, trouxeram-me mais um
chá. Depois de uma longa espera, a mesa foi preparada e estava cheia
de boa comida. Estava tão cheia que não cabia mais nada em cima
dela. Havia de tudo sobre a mesa. Havia galinha, outros tipos de carne,
diversos tipos de salada, frutas, arroz, batata cozida. Parecia ser uma
refeição servida para um rei, um banquete. E eu tinha de sentar-me à
mesa para comer, precisamente no dia que determinara orar e jejuar.
De acordo com a tradição Zulu, precisamos deixar sozinha uma visita
que desejamos honrar para ela estar à vontade para comer tudo que
deseja. Os donos da casa abandonam a sala para que a visita se sinta
mais à-vontade. Mas, antes de abandonarem a sala, aquela família
hospitaleira orou pedindo a bênção de Deus sobre toda a comida.
Saíram para eu comer. Embora o meu prato fosse grande, era pequeno
demais para colocar todo tipo de comida. Não tinha como colocar um
pouco de tudo. Os meus amigos colocaram tanta comida à minha
disposição que, mais tarde, tive de dizer-lhes que não apenas comi,
mas, exagerei. Terminei a refeição. Mas, logo veio algo mais para
beber! Depois, trouxeram-me mais coisas frescas para beber.
“Queridos amigos”, supliquei, “não consigo comer mais nada,
por favor! Sabem que é pecado comer muito e beber tanto
assim?”
“Está bem”, responderam. “Nós vamos só limpar a mesa e
voltaremos para orar”.
“Ó não!” Respondi. “Como poderei orar com uma barriga
tão cheia?”
Como vêem, naquele tempo as minhas orações ainda dependiam da
minha barriga e não do meu coração! Depois de havermos arrumado e
limpo tudo, ajoelhamo-nos para orarmos. Mal nos ajoelhamos, o lugar
onde nos encontrávamos, tremeu. Eu não entendia! Não sei como
aquilo aconteceu! Bati na minha testa com a minha mão e clamei
chorando:
“Senhor, na verdade eu ainda não Te conheço! Como é
possível? Meu amado Senhor, quem és Tu afinal?”
E foi assim que aprendi a entender e a conhecer o Senhor de uma outra
maneira à qual não estava habituado. Eu nunca o havia encontrado
daquela maneira. Na verdade, eu vivia de uma imagem de Deus. Fazia
uma ideia d’Ele. Infelizmente, não era só eu quem fazia isso. Muitas e
muitas pessoas cometeram esse erro durante centenas e centenas de
anos. Criaram um Deus da sua própria cabeça e ainda ensinam a todos
quantos os ouvem a vê-Lo dessa maneira. Quantas pessoas escreveram
sobre a imagem que têm de Deus? Podemos facilmente afirmar que
Deus é assim e assado e, depois, tudo tem de decorrer com a ideia
formada. Então, as coisas precisam decorrer de acordo com o que
estamos habituados. Se nós nos aproximamos de Deus, tem de ser da
maneira a que estamos habituados e, se não for, ficamos confusos e
baralhados. É assim que muitos de nós vivemos em pecado sem nos
darmos conta. Dizemos que não podemos ter outros deuses e que não
devemos fazer nenhuma imagem daquilo que está no céu. Afirmamos
que não podemos servir essas imagens. É tão fácil pregarmos para os
pagãos e ensinar-lhes essas coisas! Como é fácil dizer-lhes que devem
abandonar os seus deuses e as suas imagens! Contudo, andamos aqui a
servir as imagens que fazemos de Deus em nossa cabeça. Imaginamos
Deus e servimos essa imaginação. O deus da nossa cabeça é aquele que
nos cai bem e a esse desejamos servir. Esse deus faz tudo que
desejamos e da maneira que desejamos e, contudo, não deixa de ser um
ídolo formado por nossa própria imaginação. É uma escultura da qual
somos os artistas. Esse deus da nossa cabeça precisa, então, dar-nos
tudo aquilo que desejamos e queremos. Na verdade, esse não é o
verdadeiro Deus vivo! O meu coração quebrantou-se. Percebi que não
conhecia o Deus que servia.
E foi daquela maneira simples que Deus revelou aquela verdade
através daqueles irmãos negros. Ele manifestou-se daquela maneira a
mim. Era um Deus totalmente diferente daquele que sempre imaginei e
concebi em minha mente. Durante as semanas seguintes e os meses
seguintes, eu somente dizia: “Senhor, eu não te conheço, não te
conheço! Como és diferente daquilo que imagino!” Naquele dia,
quando passarmos pelo fogo de Deus no Dia do Juízo para sermos
analisados e julgados, naquele momento quando as nossas obras forem
provadas pelo fogo, então muitas coisas, imaginações e ideias em nós
serão queimadas. Ali iremos ver que a maioria das coisas em que
acreditamos e das quais dependemos não passam de coisas de pessoas,
de ajuntamentos humanos e de ideias de homens – tudo fruto da
imaginação de quem, realmente, não conhece Jesus como Ele é!
Isso foi o que aconteceu comigo naquele dia. Eu precisei colocar de
lado tudo que aprendi e renovar a minha mente. Tinha de começar do
zero e negar tudo que havia aprendido e tudo aquilo em que confiava.
Todas as minhas doutrinas, confianças, todas as minhas ideias e
pensamentos, todas as minhas imaginações sobre Deus precisavam ser
abandonadas. Precisava começar de novo, como uma criancinha
pequenina. Precisava voltar aos tempos do alfabeto espiritual, ali onde
tudo começa. Precisava aprender tudo de novo, desde o inicio. Nunca
mais fui capaz de fazer qualquer coisa através da minha força ou fazê-
la da maneira que entendia que devia ser feito. Deveras, não podia
confiar mais em meu próprio entendimento. Por essa razão, entreguei-
me totalmente a Deus e confiei-lhe toda a minha vida para guiar-me e
seguir conforme Ele ia revelando. Para mim, foi uma coisa
completamente nova, algo que nunca antes havia experimentado. Por
isso, afirmo hoje para todos vós que uma vida levada no Espírito é uma
forma de vida totalmente diferente. Se não conhecermos essa vida e
não nos aprofundarmos nela e se não caminharmos de acordo com ela,
ou se não estivermos dispostos que Deus nos guie em todos os aspectos,
então, todas as nossas orações por avivamento não significarão
absolutamente nada. Toda a nossa sabedoria, toda a vida velha,
precisam ser totalmente renovadas. Se isso não acontecer e se Jesus não
nos preencher totalmente com Seu Espírito e se não bebermos do Seu
novo vinho de forma renovada, o avivamento não durará muito tempo.
Tudo será em vão. As Escrituras dizem que o Senhor tem pensamentos
que não são os nossos e os Seus caminhos também não são nada iguais
aos nossos. Por isso, fica claro que não existe vida com Deus se não
negarmos as nossas próprias ideias, pensamentos e caminhos e se não
estivermos inteiramente dispostos a afirmar de todo o coração: “Não a
minha vontade, Senhor, mas, a Tua seja feita!”
Estou deveras agradecido a Deus por tudo aquilo que aprendi entre os
Zulus, um povo completamente diferente daquilo que sou. Na medida
que eu ia vendo as suas vidas, a sua confiança de criança em Jesus, a
sua obediência simples, o seu caminhar simplificado com Cristo, só
podia olhar de forma crítica para a minha própria vida e forma de
viver o evangelho. Tal como já afirmei antes, uma das características
do homem branco é a pressa que tem para fazer tudo. Nesse aspecto,
eles não são nada semelhantes a nós, pois, eles não têm a capacidade de
serem apressados e impacientes. Parece que nenhum de nós conseguiu,
ainda, entrar no descanso do Senhor e que não sabemos o que isso
significa. Lembra-se daqueles momentos quando Jesus dormia no
barco e seguia com os Seus discípulos? Enquanto eles temiam a
tormenta e as ondas altas, Jesus estava deitado dormindo
sossegadamente. Sim, dormia porque não era dono de nenhuma parte
de Seu ser e Ele vivia daquele descanso que o mundo não consegue dar.
Por essa razão podia dormir descansado sob aquela tempestade.
Mais um exemplo da Bíblia pode esclarecer melhor este descanso. Não
é um exemplo de Jesus, mas, da vida de uma pessoa, de um humano. O
primeiro homem que existiu, Adão, não pensava em mulher como
muitos fazem hoje. O povo de hoje já começa a pensar no sexo oposto
desde tenra idade, alguns mesmo antes dos doze, treze anos de idade.
Por vezes, isso tira-lhes o sono de tal maneira que passam noites sem
dormir! Outras vezes, ficam depressivos e outros ainda suicidam-se
porque as coisas não acontecem da maneira que desejam.
Deus colocou Adão num sono profundo e dele criou a mulher. Como
vê, Adão não passou nenhuma tormenta por causa de mulher e não
ficou noites sem dormir por causa disso. Não pensou na necessidade de
uma ajuda e de alguém que se encaixasse nele. Não se preocupava
minimamente com o seu futuro, mas, deixou tudo nas mãos de Deus.
Somente o Senhor deveria saber do que ele tinha necessidade. Podemos
facilmente ver e comprovar que existe vida no descanso em Deus e que
Ele opera durante o nosso descanso. Deus não diz somente por dizer
que ao homem nada aproveita preocupar-se e aborrecer-se com as
coisas deste mundo. Se o homem preocupar-se, não resolve nada. A sua
preocupação não o leva a lado nenhum. Não temos como acrescentar
no comprimento do nosso cabelo ou mudar a sua cor com
preocupações. A verdade é que, todos quantos se preocupam muito,
pecam muito. Por essa razão, as Escrituras mostram claramente que
existe uma vida descansando em Deus de todo coração. Existe uma vida
sem preocupações e sem pressas. Tal tipo de vida existe tanto para
jovens quanto para velhos.
Na Bíblia, lemos muitíssimas vezes as palavras “esperar no Senhor” e
“aqueles que esperam do Senhor”. Será que a Bíblia diz em vão que
aqueles que são capazes de esperar no Senhor e que mantêm acesa a
expectativa n’Ele renovam as suas forças? As Escrituras também
dizem que, “aquele que crê, nunca se apresse”. Assim é a pessoa que
sabe esperar no Senhor e assim sabe viver. Os Zulus sabem muito bem
o que isso significa. Sabem que a pessoa que espera em Deus
tranquilamente experimenta uma alegria e uma paz enorme em seu
coração. Por isso, vemos que eles são realmente pacientes quando se
trata de esperar no Senhor. Todo o tempo que passarmos esperando no
Senhor, nunca será tempo perdido – nunca será em vão.
Quando algum Zulu visita o seu rei, levantam-se muito cedo, logo pela
madrugada. Antes do sol nascer, já se encontram na porta
do Kraal (Palácio feito de cubatas). Não batem à porta como nós.
Antes, esperam no caminho fora do portão e chamam a atenção do seu
rei com cânticos e louvores. Assim, esperam ser notados. Naqueles
cânticos, dizem que não existe ninguém como o seu rei e que ele é o
chefe de todas as coisas que a tribo possui e que ele é rei dos leões e dos
animais selvagens. É através desses cânticos e do estalar das suas
línguas que batem à porta do rei Zulu. Permanecessem lá fora, em pé,
até que o rei resolva enviar um dos seus servos para chamá-los. E nem
ainda assim atrevem-se a entrar. Depois de chamados, chegam somente
até à porta até ouvirem o próprio rei a incentivá-los a entrar. Eu já vi,
pessoalmente, como os Zulus são capazes de permanecer horas e horas
em pé esperando até serem chamados pelo seu rei. Um dia, perguntei a
um deles se tinha a certeza que o rei sabia que ele estava ali e se podia
esperar daquela maneira sem ir perguntar. O homem respondeu
calmamente que o seu rei sabia que ele estava ali!
“E que te disse ele?” Perguntei.
“Ele não me disse nada”, veio a resposta.
“Como assim?” Eu não conseguia entender! “Onde está o rei
agora? Está com sua família?”
“Não, ele saiu de carro”.
Pareceu-me que o rei havia saído logo pela manhã, deixando o homem
ali espetado, em pé, esperando. Aquele homem esperava pacientemente
até que o rei voltasse. Depois, muito mais tarde, o rei chegou e entrou
em sua casa. Comeu descansado e tornou a entrar no seu carro e saiu.
Passou mesmo ao lado da sua visita sem dizer-lhe uma única palavra.
“Quando vai chegar o teu rei?” Eu quis saber.
“Não sei, senhor”, respondeu-me o homem levantando os seus
ombros.
“Mas, por que razão ficas aqui ainda?”
“Vou esperar por ele!”
“Quanto tempo ainda vais esperar?”
“Vou esperar até que chegue”.
Foi então que clamei:
“O que o rei queria alcançar com tudo aquilo? Por que razão
saiu de carro novamente sem atender aquele homem? Se
fosse comigo, eu já teria ido embora faz tempo!”
“O que está por ai dizendo, homem branco?” Interrompeu-
me aquele Zulu bruscamente. “Como pode o senhor falar
dessa maneira? Se eu saísse agora daqui, seria uma ofensa
para o rei e seria como se lhe estivesse cuspindo no rosto e
agredindo. Ai de mim se eu não estiver aqui quando o rei
chegar! Ele já me viu e, por isso, não me resta mais nenhuma
opção senão esperar por ele até que chegue. E faço isso com
alegria. Ele é o meu rei e o meu senhor, eu sou o súbito. Por
essa razão, ele não pode fazer as coisas para agradar-me e da
maneira que eu quero que sejam feitas. É assim que
demonstro que ele é meu rei e senhor. Se ele dançasse com a
minha música e se ele fizesse aquilo que eu desejo, já não
podia ser meu rei e seria meu igual. Mas, como é ele o rei, sou
eu quem lhe deve respeito e obediência incondicional. Sou eu
quem deve obediência e respeito pelas suas decisões”.
É dessa forma que um Zulu espera pelo seu rei. Não se impacienta. Não
se irrita esperando e não se comporta de maneira indecente. Espera
pacientemente até que seja chamado pelo rei. Então, quando pregamos
para este povo e dizemos que Jesus é o nosso Rei e que devemos
esperar n’Ele, as coisas ficam muito claras para eles. Para eles, é uma
coisa lógica. “Naturalmente, pois, Jesus é o nosso Rei!” Dizem. A
Palavra de Deus diz assim: “Mas os que esperam no Senhor renovarão
as forças, subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão;
caminharão e não se fatigarão”, Is.40:31.
Quando iniciei a minha obra entre os Zulus, houve um rei que foi rei
durante toda a sua vida. Ele sempre foi o líder do seu povo. Era ele
quem governava e geria tudo. Conduzia todos os assuntos da maneira
que desejava e entendia. Detinha poder absoluto sobre tudo. Somente
ele tinha a capacidade de resolver problemas. Era o único que tinha
voto e todos os outros tinham de dobrar diante do seu querer. No nosso
tempo, fala-se muito de eleições, direitos humanos e o direito de fazer
isto ou aquilo da maneira que entendemos melhor. Para a população
negra da África do Sul, esse conceito foi uma coisa completamente
estranha e difícil de entender. Nós dizemos que todos têm o direito ao
voto. Contudo, eles afirmam que só existe uma pessoa que tem esse
direito: o seu rei e senhor. Eles também ficaram pasmados sem
entender muito bem como era possível o governo governar numa
assembleia onde a oposição também tinha voto. Não entendiam como é
que os brancos podiam viver dessa maneira. Para os negros, só havia
uma maneira de lidar com a oposição governamental: transpassar o
opositor com uma lança! Para eles, não havia alternativa. Não havia
outra solução para um problema desses. O inimigo só podia ser
destruído, custasse o que custasse.
Esta visão ‘política’ de tempos antigos podemos seguir com alegria em
nossa vida espiritual. O Senhor Jesus precisa governar todo o nosso
coração e toda a nossa existência como Rei e Soberano. Somente Ele
dever ser Senhor e Rei em nosso coração. Ele é o primeiro e o último, o
começo e o fim de tudo. Sem ser Ele, nada pode tomar o menor lugar
em nosso coração e vida. Na vida de um Cristão consagrado, não pode
existir qualquer forma de oposição. Só o Senhor Jesus deve governar.
Somente Ele tem todos os direitos sobre toda a nossa existência. Foi
uma das razões que se tornou uma alegria, para mim, poder pregar o
Evangelho no meio deste povo. Quando dizemos que Jesus é Rei, Deus
e Senhor, entendem de imediato que significa que devem submeter-se a
Ele em todos os aspectos de sua vida. Sabem logo o que fazer.
Entendem desde o primeiro momento que não pode existir outro e que
ninguém e nada mais pode orientar as suas vidas. Sabem que nada
mais pode alinhar em suas vidas e sabem comprometer-se com a
vontade de Jesus em todos os seus aspectos. Sabem que a oposição não
pode falar em seus corações. Nada mais pode sobreviver em seus
corações. Quase não é necessário explicar-lhes que não podem servir
dois senhores. Eles entendem essa linguagem muito bem.
“Deus é nosso Rei e Senhor! Somente Ele governa.
Devemos permanecer-Lhe fiéis até à morte!”
Por estas razões e outras mais é que os negros não sentem qualquer
dificuldade em esperar em Deus. Eles sabem exercitar-se na esperança
e na expectativa que têm no Senhor. Sabem esperar d’Ele. Eles pensam
assim:
“Agora entregamos todos os nossos pesos e todas as nossas
preocupações ao Senhor. Podemos entregar-nos a Ele
confiadamente. Devemos, contudo, olhar para Ele e segui-Lo
fielmente”.
Já contei aqui como estes negros simples entendem estas verdades e de
que maneira correspondem a estas questões. Mas, como acontecem as
coisas conosco? Como vai isso aqui entre nós? Quantas vezes
recusamos esperar? Será que nos impacientamos facilmente quando as
coisas não decorrem de acordo com as nossas pretensões? Podemos
esperar dessa maneira em Jesus? Quantas vezes as coisas tornam-se
difíceis demais para esperarmos pacientemente? Nós não conseguimos
continuar a esperar em Jesus e não suportamos quem espera. Por que
não? Muitos chegam a crer que quem reage está no auge da sua
capacidade espiritual e isso prova que é espiritual. Mas, a verdade é
que isso revela precisamente o oposto. Tal visão demonstra o quanto
ainda somos carnais. Sabemos que todos aqueles que andam cheios de
febre ansiosa para fazer coisas e de empreender, conseguem muito
pouca obra e as suas obras não permanecem. Ficam com a impressão
de estarem a fazer muito e, na realidade, não fazem nada e não
alcançam nada. Mas, quando temos a capacidade de esperar somente
no Senhor, vemos as coisas acontecerem. Para o Senhor, mil anos é
como um dia. E Ele consegue fazer em um dia mais que mil anos de
trabalho duro. É isso que venho experimentando em minha vida
pessoal. Antes do avivamento ter começado, eu estava sempre ocupado
e apressado. As minhas campanhas evangelisticas chegavam a durar
doze meses ou mais. Muitas vezes, fazia dois cultos por dia durante esse
tempo! Eu era como Pedro que pescou toda a noite sem apanhar nada.
Trabalhava com todas as minhas forças e não alcançava nenhum fruto
digno desse nome. Cansava-se e ficava exausto. E porque eu havia
chegado ao fim das minhas forças e por não poder continuar daquela
maneira, decidi parar com tudo. Depois daqueles doze anos de trabalho
sem fruto, Jesus apareceu e disse: “Faze-te ao mar alto e lança as tuas
redes para pescar”, Luc.5:4. Aquelas palavras Jesus havia dirigido a
Pedro, também. E ele respondeu: “Mestre, havendo trabalhado toda a
noite, nada apanhamos; mas, sobre a tua palavra, lançarei a rede”.
Porque Pedro obedeceu, ao lançar as redes, apanharam tantos peixes
que as redes se rompiam e corriam o risco de afundar o barco.
Se nos cansarmos de uma maneira carnal, podemos trabalhar até
chegar a morte para nos levar daqui e, ainda assim, verificaremos que
não alcançamos nada. Mas, todos aqueles que trabalham através do
Espírito de Deus, parecem pessoas que não fazem nada e, no entanto,
alcançam muito! Depois do avivamento haver começado, eu dizia no
fim de cada dia: “hoje alcançamos mais para Jesus que em doze anos
de trabalho”. E era verdade. O trabalho árduo de doze anos alcançava
menos que um dia de trabalho depois do aviamento e a qualidade desse
trabalho nem era de ser comparado. Para isso acontecer, foi necessário
aprender a confiar no Senhor, obedecê-Lo e sujeitar-me integralmente
a Ele. Só preciso fazer aquilo que Ele me disser para fazer. No resto,
fico quieto. Só depois disso tornou-se possível ir para outras cidades e
trazer multidões para Jesus sem sentir-me cansado em nenhum
aspecto. Devo somente permanecer em intimidade absoluta com Jesus e
nunca entristecer o Seu Espírito ou extingui-Lo. A coisa mais
importante é e será sempre permanecer aos pés de Jesus para ouvi-Lo
calmamente. A Bíblia ensina-nos a orar sem cessar. Isso não significa,
de maneira nenhuma, que devemos ficar sempre de olhos fechados
sobre os nossos joelhos sem sairmos dali. As Escrituras ensinam que
devemos ter uma cumplicidade e uma comunhão permanente com
Jesus. Ó, como é importante que as nossas vidas sejam totalmente
sujeitas a Jesus de forma permanente e duradoura. Só assim
poderemos testemunhar de como Deus opera e que Ele é realmente Rei
e Senhor. Somente assim receberemos todo o Seu poder e bênção sobre
tudo aquilo que fazemos dessa maneira.
Da mesma maneira que um Zulu espera até que o seu rei chegue, assim
deve ser a nossa atitude em oração diante do Senhor. Também é de
extrema importância que saibamos esperar e receber de Deus durante
o dia inteiro e não fugirmos dessa comunhão meio dia depois de
começarmos a esperar, ou meia semana depois. Quantas vezes
aconteceu de saírmos e abandonamos o nosso posto mal se começamos
a esperar? E quantas vezes abandonamos o nosso posto momentos
antes do Senhor chegar com a Sua bênção? Foi assim que Saul perdeu
a sua bênção e o reino foi tirado dele. Não conseguiu mais esperar no
último momento, esperar até que Samuel chegasse. Como as pessoas se
tornam tolas e se apressam inutilmente! Nem se apercebem do prejuízo
que causam às suas próprias vidas e às daqueles que os rodeiam. Já
aconteceu isso comigo. “Vamos, depressa! Apressem-se! Andem logo!
Precisamos chegar ao culto. Preciso dirigir o culto! Não posso chegar
tarde!” E, sempre que chegava ao local de culto, as pessoas ainda não
estavam lá e tínhamos de esperar! Ficava ali, esperando e resmungava
comigo mesmo. “Erlo, olha só o que acontece quando não te deixas
guiar por Deus! Não seguiste o Espírito de Jesus”.
É verdade que também podemos atrasar-nos por não ouvirmos Deus.
Já ouvi falar de um certo pastor que chegou ao local onde haveria de
pregar e o povo já havia ido para casa! No culto seguinte, tornou a
chegar atrasado. O pastor estava preocupado com a situação e
perguntou a um irmão se não queria orar com ele pelo povo. O irmão
repreendeu-o e disse. “Ainda não entendeu o que deve fazer, pois não?
Basta levantar-se mais cedo da cama!” Também sabemos como os
anjos tiveram de apressar Ló e a sua esposa para saírem de Sodoma e
Gomorra. Ló estava lento demais e demorava a resolver-se sair dali.
Repito: a coisa mais importante é mantermos um relacionamento
contínuo com o Senhor Jesus e que as nossas vidas estejam em ordem e
que sejamos obedientes em tudo e em todos os aspectos quando Ele
dirige. Então, Deus nos guiará fielmente, pois, Ele sabe melhor que nós
quando devemos apressar-nos e quando devemos esperar. Se você, por
acaso, é pessoa impaciente e nervosa, saiba que esse tipo de fruto não
vem do Senhor e que você não se encontra agindo dentro da paz de
Deus e dentro daquele tipo de descanso que somente Ele dá. Através da
impaciência e da pressa só nos arruinamos a nós mesmos e trazemos
grandes prejuízos a toda a obra de Deus. Muitos missionários acabam
por cometer grandes erros por não saberem esperar do Senhor. Os
negros são, por natureza, calmos e lentos a fazer as coisas. Por
exemplo, se um culto estiver marcado para as 11 horas da manhã, eles
chegam mais tarde do que a hora marcada. Existem várias razões para
isso acontecer. Muitos deles não têm relógios e outros necessitam
caminhar muito para chegar aos locais de culto. Muitos missionários
chegam aos locais marcados e à hora marcada e o povo ainda não
chegou lá. Ficam nervosos e impacientes e pecam agindo dessa
maneira. Um pecado leva ao outro e uma atitude errada chama a outra
e lá se vai a bênção de Deus! Seria melhor perguntarem a verdadeira
razão de estarem ali em vez de se irritarem contra o povo. Os
missionários servem para pregar o Evangelho e não para se irritarem.
Por isso, não é importante como ou quando fazê-lo, seja às 11 horas ou
seja ao meio-dia! As nossas prioridades devem permanecer
continuamente diante dos nossos olhos. Se permanecermos em paz total
e permitirmos que Deus tome conta de tudo por nós. Ele mesmo nos
guardará de qualquer coisa que nos possa acontecer. E somente assim
Ele nos guardará para não cairmos em qualquer tipo de tentação. É
suposto sabermos esperar no Senhor.
Muitas vezes, descobrimos ter uma enorme dificuldade para esperar.
Perdemos a paciência quando alguém não chega a horas e, se tivermos
que esperar uns cinco minutos a mais, ficamos irados ou frustrados.
Por vezes, isso parece-nos uma coisa difícil e complicadíssima de
suportar. Se você, por acaso, pecar ficando nervoso ou impaciente, não
é pior? Vale a pena perder a vida ou a comunhão com Cristo por causa
duma coisa dessas? Ou será que ainda é daqueles que acredita que não
tem nada de mal explodir e dizer: “Não aguento mais esta situação! O
que me vale esperar assim?”
Quando os pagãos aceitam o Evangelho e submetem-se a ele, eles
mudam mesmo. Para eles, as coisas são claras e tudo se torna novo.
Mas, a mesma coisa deve acontecer com todos aqueles que crêem ser
Cristãos. Também precisamos mudar e ser transformados quando o
Evangelho entra em nossas vidas. As suas vidas nas trevas densas do
paganismo não é muito diferente do paganismo mais ‘light’ que hoje
chamamos Cristianismo ou Evangélico. O paganismo continua sendo
paganismo, seja ele muito escuro ou menos claro. É precisamente do
paganismo cristão que devemos libertar-nos totalmente e
energeticamente para nos entregarmos aos pés do Senhor Jesus. Ali
devemos colocar toda a nossa existência em ordem e à disposição
incondicional do Espírito Santo de Jesus. Existem tantas coisas que
parecem ser santas ou espirituais que vêm das profundezas do inferno!
Se permitirmos que o Espírito Santo opere profundamente em nossas
vidas, Ele pode transformar-nos completamente.

INVESTIGA-TE A TI MESMO
No inicio do avivamento, havia entre nós um Cristão muito sóbrio e
cheio de boa vontade. O seu coração estava em fogo para Deus. Nunca
o vimos fora de si e estava sempre calmo e na maior paz de espírito.
Uns dois ou três dias depois de nos havermos começado a reunir no
estábulo, o irmão perguntou-me:
“Erlo, onde, na Bíblia, vêm aquelas palavras que estavam
ontem ali na parede?”
Olhei admirado para ele. Disse-lhe que não havia nada escrito na
parede e nunca houve. Mas, ele insistiu dizendo que estava algo escrito
na parede no dia anterior. Dizia que na primeira linha a frase tinha
escrita a palavra “test” em inglês e na linha de baixo estava a palavra
correspondente para “provai” em Zulu. Tentei convencê-lo que não
havia nada escrito na parede no dia anterior. Contudo, ele abanou a
cabeça e assegurou-me que vira aquelas palavras escritas na parede,
acima da porta e eram muito claras. Explicava com muita precisão o
que havia visto. Eu fui olhar para o lugar onde ele apontou, cheio de
dúvidas e não conseguia ver nada. Não via nenhum vestígio de cola ou
algo ali que houvesse segurado as letras que ele afirmava ter visto. Não
havia nenhum buraco de prego e nenhum vestígio de qualquer pedaço
de papel que pudesse ter estado colado ali com letras.
Quando cheguei em casa, peguei na minha Bíblia inglesa e pedi ao
Senhor para me falar através da Sua Palavra. Abri-a e os meus olhos
caíram sobre 2 Cor.13:5: “Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis
na fé; provai-vos a vós mesmos”. Eram as palavras que o irmão havia
visto. Eram as palavras “Examinai” e “provai”. Fiquei de boca aberta,
olhando aquelas palavras. Fiquei admirado de nunca me ter
apercebido daquele mandamento colocado daquela maneira. E, a
partir de então, aquelas palavras foram de extrema importância para
nós. Foram uma enorme bênção. Tornaram-se como que a nossa
bandeira, o nosso estandarte. E desejamos muito ser obedientes a esta
palavra até ao fim. Devemos investigar tudo e, depois, colocar à prova.
Mas, acima de colocarmos algo ou alguém à prova, devemos, em
primeira mão analisarmos a nós próprios e colocar-nos a nós mesmos à
prova. Podemos, por exemplo, perguntar a nós mesmos as seguintes
perguntas: como está a minha vida neste momento? Ainda caminho
conforme a verdade? Ou será que já me desviei? Sobre essas
perguntas, a Palavra de Deus dá-nos respostas concretas e com ela nos
devemos comparar ou julgar. Infelizmente, as coisas acontecem entre
os Cristãos de maneira muito diferente. Eles antes comparam-se uns
com os outros e medem-se pelas pessoas. Depois dizem como crianças:
“Eles fazem isto ou aquilo! Por que razão não podemos nós fazer o
mesmo? Por que razão não posso estar satisfeito com a minha vida
Cristã se as pessoas não apontam erro em mim e se me sinto como
sendo melhor que a maioria dos Cristãos da minha congregação?”
Quantos pensam assim e agem em conformidade! A bíblia, contudo,
ensina-nos a colocar-nos à prova sob a luz da Palavra de Deus e não
sob a luz dos demais, comparando-nos uns com os outros. Devemos
olhar e julgar as nossas vidas e corações somente à luz das Escrituras,
pois, é através dessa luz que temos de viver cada dia de toda a nossa
existência. Se nós próprios nos colocássemos sempre à prova para ver
se a nossa fé ainda está de acordo com aquilo que as Escrituras dizem e
afirmam, vendo se cremos conforme a Bíblia, seguramente que os rios
de água viva que a Bíblia promete nunca deixariam de fluir. Seríamos
rios enormes repletos de água viva pura. Contudo, se não nos
julgarmos, o Senhor irá fazê-lo e irá medir-nos à luz das Escrituras
muito em breve. Ele mesmo o fará, mais tarde ou mais cedo.
Provavelmente irá acontecer numa altura que menos esperamos que
aconteça.
Aprendemos isso, também, através de algo que aconteceu na Bíblia.
Belsazar, filho de Nabucodonosor, rei da Babilônia, sabia muito bem
tudo que havia acontecido com seu pai e que ele perdera a inteligência
de pessoa e ficou comendo erva como animal durante sete anos. Mesmo
tendo pleno conhecimento e consciência disso, Belsazar não se
humilhou diante de Deus para que pudesse continuar numa vida que
agradava à carne. Um belo dia, fez uma grande festa para alegrar-se e
folgar. Comia e bebia vinho juntamente com as muitas mulheres que lá
se encontravam. Muito animado, mandou buscar os utensílios que
haviam sido tirados do templo de Deus em Jerusalém e que haviam
sido trazidos para a Babilônia. Trouxeram e eles, juntamente com os
seus convidados, bebiam vinho usando esses utensílios consagrados a
Deus. Mas, de repente, viu uma mão a escrever na parede: “MENE,
MENE, TEQUEL, UFARSIM”. Um enorme temor apoderou-se dele
logo ali, ainda que era um rei muito poderoso e destemido. Gritou e
perguntou a todos ali presentes se havia alguém capaz de interpretar
aquelas palavras. Ninguém apareceu capaz de fazê-lo nem mesmo
havendo prometido um galardão grandioso a quem conseguisse fazê-lo.
A rainha, contudo, sabia de alguém que poderia facilmente interpretar
aquelas palavras porque servia o Deus vivo. Era Daniel. Ele já havia
feito interpretações corretas e maravilhosas no reinado do seu sogro.
Daniel foi convocado para comparecer diante do rei da Babilônia.
Quando compareceu, lembrou-se de tudo aquilo que acontecera com
Nabucodonosor e disse: “E tu, Belsazar, que és seu filho, não
humilhaste o teu coração, ainda que soubesses tudo isto. E te levantaste
contra o Senhor do céu (…) em cuja mão está a tua vida”, Dan.5:22,23.
Deus pesou a Belsazar no momento que ele menos esperava, mais
precisamente no momento que estava bêbado. Deus pesou-o e achou-o
em falta. A verdade é que Deus sempre usou a mesma medida, seja
para quem for e em que ocasião for. Quando coloca o peso da Palavra
do outro lado da balança, a pessoa não pode estar mais leve, seja ela
quem for. Qualquer pessoa precisa equilibrar a balança e não ser mais
leve que o peso da Palavra de Deus. Ele não esperava ser pesado pela
balança de Deus naquele momento. Então, nós devemos pesar-nos
nessa balança diariamente para ver se ainda permanecemos na fé.
Alguém pode perguntar como se faz isso. Basta abrir a Palavra de
Deus! Ela mesma nos julgará. Por exemplo, o Velho Testamento diz:
“Não matarás”; mas, o Novo Testamento chama alguém de assassino
quando se zanga com seu irmão e grita com ele. É somente um exemplo
dessa medida pela qual todos nós seremos medidos. Lemos, por
exemplo, em Mat.5:23-24 o seguinte: “Portanto, se trouxeres a tua
oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa
contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta e vai reconciliar-te
primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta”.
Vejam bem como a Palavra de Deus coloca esta questão e não tirem e
nem acrescentem nada dela. Ali, não diz apenas que devemos fazer isso
quando temos algo contra o nosso irmão, mas, quando nosso irmão tem
alguma coisa contra nós. Não deve pedir que seja o irmão a vir falar
consigo, mas, você é quem deves ir falar com ele. Só depois disso é que
qualquer tipo de oferta será aceitável para Deus. É essa a medida da
balança de Deus. Se você pesar-se a si mesmo dessa maneira enquanto
há tempo, da maneira que a Bíblia diz para fazê-lo, não verá se está
abaixo do peso que Deus coloca no outro lado da Sua balança ou se
você equilibra o Seu peso? Nabucodonosor e seu filho foram colocados
na balança e foram achados mais leves que o peso de Deus. A balança
tombou. Como estamos nós? A nossa balança está equilibrada ou
tomba para o lado do peso de Deus? A Palavra é mais pesada que as
nossas vidas?
Toda a Palavra de Deus é um espelho no qual nos devemos olhar.
Devemos colocar-nos perante a luz da eternidade. Você sabe que o
espelho somente reflete aquilo que é colocado diante dele. O espelho
nunca mente acerca do que revela. E se não for colocado, não reflete
nada. Devemos colocar-nos a nós mesmos diante desse espelho
diariamente para vermos se está tudo em ordem. Se, realmente,
desejamos pesar a nossa espiritualidade, devemos colocar-nos à luz da
Palavra de Deus. Devemos ser colocados perante ela. Só através dela
devem ser medidas e pesadas todas as nossas obras, palavras e
pensamentos. Quando digo isto, não significa que devemos tirar os
nossos olhos de Jesus e antes precisamente o contrário. É precisamente
por Jesus (que também é a própria Palavra) que nos devemos pesar,
colocando-nos diante do espelho. Se colocarmos os nossos olhos
somente n’Ele, na Sua Palavra, no Seu amor, na Sua santidade e
misericórdia para transformar, a Sua vida deixará as Suas marcas em
nós. É isso o avivamento. O avivamento que recebemos de Deus não é
nada mais que isso. É algo nascido da própria Palavra de Deus. Este
avivamento entre nós aconteceu precisamente porque alguns poucos
Cristãos reuniram-se diante da Palavra de Deus e pesaram-se através
dela. A Palavra teve a oportunidade e a capacidade de falar com eles e
de os colocar na balança de Deus. Quando, em 1966, decidiram
investigar a Palavra de Deus minuciosamente e espelharem-se nela, o
avivamento começou.
Os crentes ali diziam que, se houve alguma era na história deste mundo
onde os Cristãos mais precisaram da Palavra de Deus, essa era é
aquela em que vivemos. Os apóstolos só tinham parte das Escrituras
completas, mas, nós que temos toda a Escritura, não temos como nos
desculpar! Quando Jesus caminhava com Seus pés nesta terra, Ele
mesmo disse que não estava ali para julgar o mundo, mas, que a Sua
Palavra o faria. Seria a Palavra a julgar. É por essa razão que devemos
prestar a maior atenção à Palavra de Deus. A Palavra de Deus deve ser
a nossa medida, a nossa orientação. É por ela que nos devemos testar e
provar diariamente. Se não o fizermos, iremos seguir com a corrente e
iremos parar no inferno, como a maioria dos crentes. Não podemos
seguir o caminho da maioria e nem os caminhos das pessoas e dos
pregadores, mas, das palavras de Jesus. É por ela que nos devemos
medir. Não podemos seguir atrás dos costumes e das lendas tal e qual a
maioria dos Cristãos faz hoje em dia. Não nos podemos habituar,
também, às coisas que a maioria dos Cristãos se apegou com o decorrer
dos séculos e que as igrejas defendem. Não são esses costumes que nos
irão julgar um dia.
Sabia que se lançarmos uma rã na água quente ela morre logo e que, se
a colocarmos na água fria e começarmos a aquecer a água
gradualmente ela aguenta-se muito mais tempo com vida? A rã
aguenta-se com vida até temperaturas muito altas se formos aquecendo
a água gradualmente porque o seu organismo começa a adaptar-se à
temperatura conforme ela vai subindo. Da mesma maneira, as pessoas
podem acostumar-se a muitas coisas se forem colocadas nelas
gradualmente. As coisas do mundo que estão em direta oposição e
inimizade à Palavra de Deus começam a entrar em nossas casas
gradualmente e acabam em nossos corações sem que nos façam sentir
mal. Essas coisas foram entrando na igreja sutilmente e foram
moldando e adaptando o corpo e o organismo para não se sentirem mal
com as coisas do mundo. Hoje, o mundo reina em paz dentro das
igrejas de todo mundo e, quem se opuser a isso, é prontamente
excluído! Os corações e as almas dos Cristãos estão sendo governados
pelas coisas do mundo e assim desejam permanecer. Essas coisas
acontecem de forma tão gradual e tão sutil que poucos se dão conta
desse esquema sábio do diabo. Devemos levar isso em conta. Se não o
fizermos, podemos habituar-nos ao mundo e ao mundanismo de tal
maneira que acabamos por ser arrastados e arrastar muitos conosco
para o abismo.
No Oceano Índico existem correntes fortes abaixo da superfície da
água. Em cima, a água está parada, mas, na parte de baixo existem
muitas correntes poderosas capazes de arrastar muita gente para as
profundezas. Também existem correntes na superfície, as quais não
arrastam para as profundezas, mas são capazes de arrastar para
dentro do mar sem que alguém se dê conta. E, de repente, a pessoa é
lançada contra rochas por haver-se afastado da praia. E porque
acontece isso? Porque as pessoas desatentas são levadas por não
prestarem atenção e pagam essa falha com a sua vida. Espiritualmente
falando, aprendemos uma grande lição com este Oceano. Devemos
prestar a maior atenção às Escrituras e colocar-nos constantemente à
prova perante elas. Ainda sou um Cristão na verdadeira essência da
Palavra? Ainda me baseio e me firmo somente na Palavra de Deus?
Permaneço igual à Palavra e ao que ela diz? Faço somente e
integralmente aquilo que vem na Palavra tal e qual ela diz? Faço tudo
quanto Deus me manda e tudo aquilo que Ele espera que eu faça logo e
da maneira que Ele exige? Estou ao nível espiritual que devia estar?
Ou será que me deixei levar pelas correntezas sutis do mundo sem
aperceber-me disso?
Pouco tempo atrás aconteceu uma coisa entre nós, em Kwasizabantu,
que foi uma grande lição para todos. Um homem de origem alemã,
cujos pais vieram há muitos anos para a África do Sul, ocupava um
excelente cargo em seu emprego. Era um especialista em sua área e
todos os Cristãos da sua congregação consideravam-no um excelente
exemplo. De repente, adoeceu. Foi a médico e, depois de consulta
minuciosa, ficou a saber que os médicos nada mais podiam fazer por
ele. Estava com câncer em um estado muito avançado. Não havia
qualquer esperança para ele. Podemos somente imaginar o grande
choque que a notícia causou nele. Foi um grande impacto. Um dos
nossos cooperadores foi visitá-lo e ele contou-lhe:
“Desde que tomei consciência da minha doença, começou a
acontecer uma coisa muito estranha comigo. Dia e noite toda
a minha vida passa diante de mim, desde os tempos de
criança. Lembrei-me de uma coisa que prometi a alguém, a
qual nunca cheguei a cumprir. Liguei, de seguida, ao meu
filho pedindo-lhe para levar-me à pessoa em questão. Quando
cheguei lá, expliquei que já não me restava muito tempo de
vida e que Jesus estava colocando todo o meu passado diante
dos meus olhos. Fez-me lembrar das minhas culpas
misericordiosamente e mostrou a minha falta de fidelidade.
Fiquei convencido que sou um grande mentiroso. Para
compensar o incumprimento da minha promessa, passei um
cheque com uma quantia enorme.
Olhou para os olhos do missionário que o visitava e disse ainda:
“Meu querido irmão, preciso preparar-me para entrar na
eternidade! O passado está encerrado e tudo acaba aqui. Não
quero mais saber de política, não tenho mais tempo para esse
tipo de coisas. Não me interessa saber de nada do que se
passa neste mundo. Anteriormente, era algo importante em
minha vida. Mas, agora, nada disso conta mais e nada disso
me interessa. Os meus pensamentos não conseguem digerir
nada que pertença a este mundo. Todas as minhas obras,
palavras e ações são nitidamente colocadas diante de mim.
Peço perdão por ter vivido assim, interessando-me por muitas
coisas deste mundo e ter vivido da maneira dele por longo
tempo”.
Foi assim que aquele irmão partiu para a eternidade. Encontrou o seu
fim inesperadamente. Ainda bem que, para ele, ainda houve um
tempinho para achar misericórdia.
Nos Estados Unidos vivia uma moça muito linda. Era a menina do olho
dos seus pais orgulhosos. Ela destacava-se muito das outras moças e
sabia-o. Já na escola, todas as pessoas seleccionaram-na como a mais
bela. Quando estava na Universidade, foi escolhida como a mais bela
de todas. Quando olhavam para ela, não conseguiam parar olhar. Os
seus pais orgulhavam-se muito disso e sentiam-se vaidosos por
haverem sido eles a trazerem tanta beleza para este mundo. Foi eleita
como a rainha da beleza e uma grande festa foi programada para a
ocasião. Os próprios pais recolocaram a coroa dela sobre a sua cabeça.
Estavam muito felizes e muito orgulhosos de sua filha. Quando
terminou a festa, os pais despediram-se da filha e foram para casa.
Assim que chegaram a casa, o telefone tocou. A mãe atendeu e ouviu a
voz de um médico muito preocupado:
“Venham imediatamente para o hospital. Houve um acidente
e a vossa filha encontra-se em estado muito grave. Encontra-
se na unidade de cuidados intensivos”.
Quando os pais chegaram ao hospital e entraram na unidade de
cuidados intensivos, não conseguiam reconhecer a filha. Tinha o rosto
completamente inchado e destorcido. Estava deitada numa cama
especial porque tinha o pescoço quebrado e os seus pés estavam
desfeitos. Estava toda entubada e havia muitos aparelhos à volta da
cama. A mãe ficou calada, em estado de choque e sem expressão.
Sentou-se ao lado da filha. A moça estava consciente de tudo e
apercebeu-se da proximidade da sua mãe. Abriu os olhos e sussurrou:
“Mãezinha, chegou a minha hora. Estou às portas da morte.
A senhora ensinou-se sempre como uma menina deve
arranjar-se e maquiar-se, como devia acender um cigarro e
como devia segurar um copo de vinho e beber com etiqueta.
Mas, a senhora não me ensinou como devo morrer. Estou
falecendo e entrando na eternidade sem preparo. Mãe, o que
devo fazer agora? Tem alguma coisa para ensinar-me?”
A mãe ficou sem palavras, não sabia explicar para a filha o que devia
fazer para entrar na eternidade em paz. Começou a chorar.
“Mãezinha, por favor, apresse-se a explicar-me o que devo
fazer! O meu tempo está esgotado! Estou morrendo! Que
devo fazer?
Mas, não veio resposta nenhuma da boca da mãe. E foi assim que a
vida da moça acabou. Faleceu logo de seguida. Acham que ela colocou-
se na balança enquanto vivia? Estava na luz? Diga-me, se você
morresse agora, em que situação se encontraria? Estaria pronto para
morrer? Estaria alegre no leito da sua própria morte? Ou estaria leve
demais se o peso de Deus fosse colocado no outro lado da balança? Já
entendeu a verdadeira mensagem do Evangelho? Vive de acordo com
ela? Pode ser julgado de acordo com tudo que vem nas Escrituras? O
Senhor Jesus poderá dizer para si: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o
pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor”,
Mat.25:21. Estamos todos prontos para morrer? Você está pronto?
Pense bem nisso e responda! Olhe para si mesmo e coloque-se à luz das
Escrituras e da eternidade. Como estaremos diante daquela luz que
ninguém consegue abafar ou atenuar? Devemos arranjar as nossas
vidas imediatamente sem mais perdas de tempo e sem mais desculpas e
evasivas. As nossas vidas devem ser um espelho fiel das Escrituras se
quisermos passar o teste da luz de Deus. Qual é o verdadeiro estado da
sua vida? Em que estado se encontra precisamente neste momento?
Dentro de um avivamento genuíno, a Palavra de Deus é viva e muito
afiada. É mais afiada que uma espada de dois gumes, a qual corta pelos
dois lados. No Dia do Juízo será tudo igual, pois, ali, a Palavra de Deus
será o único fator determinante. Seremos julgados por essa Palavra e
as decisões do Juiz serão tomadas à luz daquilo que as Escrituras
dizem. Não podemos ser o nosso próprio espelho e não poderemos
contornar este fato. Não teremos como fugir da Palavra de Deus
naquele dia. A Palavra irá alcançar-nos sempre, seja hoje ou mais
tarde. A Bíblia será a medida que Deus usará nesse Tribunal. Agora,
entendem por que razão digo às pessoas para pensarem muito bem
antes de pedirem um avivamento? Já tomaram consciência do que
significa sermos julgados pela Palavra de Deus quando menos
esperamos? Já se perguntaram se conseguem aguentar uma situação
onde a Palavra de Deus começa a ser viva e começa a operar? Seremos
capazes de seguir em frente quando a Palavra começa a apontar tudo
de forma clara e a comparar-nos com ela, quando a Palavra é o sim e o
amém? Quando um avivamento chega, não podemos viver mais da
nossa maneira e as coisas nunca mais vão correr do jeito que
queremos. Ninguém mais poderá esconder pecado e ninguém
conseguirá abrigar um segredo em seu coração. Todos precisam passar
por uma transformação genuína e a conversão já não pode ser leviana.
Toda a nossa existência precisa ser colocada em ordem. Devemos saber
andar naquela luz onde tudo é claro e nada fica escondido. E é nessa
luz, substanciada pela própria Palavra de Deus, que devemos andar
continuamente. É precisamente nessa luz que devemos poder andar
sem hesitações ou impedimentos antes de sermos julgados.
Vamos colocar as nossas vidas à prova enquanto o futuro ainda nos
parece longe, diante de nós. Ninguém sabe quanto tempo de vida lhe
resta ainda. Será que Moisés afirmou em vão, “Ensina-nos a contar os
nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios”?
Sal.90:12. Um dia, muito em breve, estaremos diante de Deus, quer
tenhamos a certeza de estarmos salvos ou não. Tanto os que têm a
certeza da vida eterna e os que não têm, todos deverão comparecer
diante do Juízo Final. Devemos estar sempre alerta e andar no temor
do Senhor e da Sua vinda porque, lá, as certezas não contarão para
nada. Ele pode voltar a qualquer momento e virá no momento que
menos esperamos. Seremos todos colocados na sua balança e
precisamos equilibrar o nosso peso com a Sua Palavra. Ai de nós se
formos achados mais leves e a balança desequilibrar-se contra nós!
Saibamos que seremos todos pesados, sem exceção. É mais provável
que Deus nos vá chamar precisamente quando não estamos orando ou
de joelhos. Irá chamar-nos no momento menos oportuno. Seremos
chamados no momento em que estamos pecando e não no que estamos
orando. Deus também nos pode julgar naqueles momentos de
impaciência, mágoa ou irritabilidade. Virá quando estamos com maus
pensamentos e más conversas, quando estamos orgulhosos e pensando
sermos mais que os outros. A verdade é que não sabemos em que
circunstancias Deus virá e em que momento nos apanhará.
Já aconteceu muitas vezes comigo os Europeus dizerem-me: “Erlo, em
África podes falar dessa maneira, porque lá vivem de outra maneira.
As circunstâncias são diferentes. Lá vivem uma vida inocente e simples.
Mas, aqui na Europa é diferente. Temos lojas de objetos sexuais, a
televisão é imoral e cheia de coisas perversas. Aqui lidamos com
pornografia e idolatria de todo tipo e temos muitas imagens de moças
nuas e moços nus espalhadas por todo lado e em todas as ruas.
Diariamente ouvimos todo tipo de música mundana. Não temos opção
senão sermos envenenados por estes males. Então, não podes esperar
que vivamos nesta Europa moderna da maneira que explicas em teus
sermões. Podes pedir essas coisas a povos primitivos e inocentes, mas,
não a nós”. Que esperam que lhes responda? Tal como o fermento
incha a massa, assim faz o pecado com as vidas dos que se chamam
Cristãos por este mundo a fora. Mas, devemos saber já que somente
aquele espírito que é capaz de atestar na vida pessoal que Cristo
realmente veio na carne para vencer e derrotar todo tipo de pecado é
que, realmente, pertence a Deus. Examine-se a si próprio e coloque-se à
prova para ver se ainda está no caminho de Deus e na fé. Pergunte-se a
si mesmo que tipo de espírito está em si, se de Deus ou do mundo. Jesus
também deseja ter uma igreja pura, imaculada e resistente ao pecado
dentro do mundo moderno e industrializado. Sempre que os Cristãos
obtiverem vidas purificadas e santas, um avivamento começará em seu
meio que será operado pelo Espírito Santo de Jesus. Para que o
Espírito Santo possa operar em sua vida, precisa ter espaço livre em
todo o seu coração e vida. Ele chama-se Espírito Santo precisamente
porque não tolera qualquer tipo de sujidade ou de impureza no lugar
onde habita. Se o Espírito Santo conseguir uma oportunidade de
operar através de nós, toda a glória de Deus manifestar-se-á. E o
deserto será transformado num jardim de beleza incomparável. Então,
todos olharão para aquilo que antes era deserto para o verem florir de
beleza, cheio de vida. O mundo verá claramente, então, que Deus
realmente existe e que ainda é o mesmo Deus neste nosso século vinte.

PURIFICA-TE E LIMPA A TUA PRÓPRIA VIDA


Se Deus opera, é porque faz aquilo que quer. As coisas acontecem da
maneira que Deus deseja. Usa pessoas somente como instrumentos. Por
essa razão, pode surgir a seguinte pergunta: como posso tornar-me um
instrumento de honra em suas mãos? Em todo lado fazem-me essa
pergunta. Os Cristãos desejam saber: “Que devemos fazer e como
devemos proceder para termos, também, um avivamento genuíno em
nosso meio? Como posso tornar-me instrumental e ser usado por Deus
para uma obra dessas? Que devo fazer para ser usado?”
Nas Escrituras vem escrito o seguinte. “Ora, numa grande casa não
somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns
para honra, outros, porém, para desonra”. Vemos que existem
instrumentos numa casa que são descartáveis e para uso comum e
outros são mais importantes. Mas, a parte mais importante da
conclusão desta verdade, é o versículo que se segue: “De sorte que, se
alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e
idôneo para uso do Senhor e preparado para toda a boa obra”,
2Tim.2:21. Foi precisamente isso que aconteceu conosco no inicio do
avivamento. É essa a chave de todas as perguntas sobre o avivamento e
a falta dele. De acordo com estas palavras do Apóstolo Paulo, devemos
purificar-nos de toda a imundície e de impureza da carne e do espírito.
Não existe outra maneira de nos tornarmos instrumentos que possam
ser usados por Deus. Algumas pessoas dizem: “Não posso fazer nada
porque nasci assim. Eu tenho este caráter já desde nascença, pois, meus
pais também o têm e passaram-no para mim. É a minha herança
genética. Não posso mudar. Serei sempre um instrumento de desonra
para Deus, o qual Ele nunca irá usar. Infelizmente, não existe nada a
fazer”. Agradeça a Deus que isso não é bem assim! Isso não é verdade.
Ninguém é obrigado a permanecer da maneira que sempre foi, nem
mesmo quando é um vaso para destruição e para todo tipo de desonra.
Não é preciso permanecermos com essa ideia fixa que iremos ser uma
vergonha para nosso Deus! Tudo ainda pode tornar-se novo!
Com o decorrer dos anos, pudemos confirmar, em muitas ocasiões, que
Deus não tem preferência de umas pessoas sobre as outras. Homem ou
mulher, jovem ou velho, qualquer um pode facilmente tornar-se um
vaso para bom uso e de grande honra, desde que se limpe e se
purifique. Qualquer pessoa limpa vê Deus e torna-se um instrumento
em Sua obra. Não é necessário que uma pessoa seja formada e não
importa que seja analfabeta. A coisa que mais conta é a purificação do
homem desde os fundamentos do seu coração. Se a pessoa for santa de
coração, poderá alojar o Espírito Santo. Onde existe uma pessoa pura,
existe trabalho para o Espírito Santo fazer através dela. Quando
existem pecados em nossa vida, o Espírito Santo entristece-se e Ele
simplesmente pára de operar até que os pecados em questão sejam
determinantemente exterminados. As Escrituras dizem: “Todavia o
fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que
são seus e, qualquer que profere o nome de Cristo, aparte-se da
iniquidade”, 2Tim.2:19. Consegue ver o que conta aos olhos de Deus e
qual é a única base onde Deus pode construir? Deus não construirá
sobre nenhum outro alicerce. Esse fundamento, esse alicerce,
é: qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Se
construirmos sobre outro tipo de base, sobre outro tipo de fundamento
ou alicerce, estamos construindo sobre areia. Quando se trata da
purificação que Deus exige de cada um de nós, não podemos depender
do juízo que os humanos fazem sobre o assunto, não podemos confiar
naquilo que entendemos ou aceitamos e nem podemos basear-nos em
qualquer doutrina ou ensinamento. As coisas precisam ser preto no
branco sem acrescentar e sem tirar da Palavra de Deus. Só podemos
construir em cima do fundamento de Deus, o qual é: “Qualquer que
profere o nome de Cristo, aparte-se da iniquidade”. Deus nunca suporta
uma mentira. E sabemos que quando Deus fala sobre a mentira, não se
refere às mentiras de outras pessoas, mas, às nossas. Os meus são os
únicos pecados capazes de entristecer o Espírito Santo.
Com o intuito de dar ênfase a isto, irei usar um exemplo de uma filha
de Jesus. Ela vivia numa certa área de um distrito juntamente com
umas pessoas que tornavam a sua vida impossível. Logo na primeira
semana, assim que casou, já havia levado com um pau na cabeça. O
marido dela era um homem muito bruto e explodia de ira facilmente.
Era alcoólico, dizia muitos palavrões e fazia muitas coisas erradas.
Havia pouca gente como ele. Mesmo trabalhando, não se preocupava
com o bem-estar da esposa e dos filhos. Como consequência, três dos
seus filhos morreram à fome. Não apenas gastava todo o seu salário em
bebida, mas, quando chegava a casa diariamente, pegava no chicote ou
num pau e batia em todos. Ainda hoje aquela pobre mulher tem
cicatrizes originadas na pancadaria que o marido aplicava nela. Todos
os filhos têm ou tinham grandes marcas de maus tratos por parte do
pai. Muitas noites, tanto a esposa como os filhos precisavam dormir na
rua ou no campo escondidos dele. A sua vida era muito difícil,
chegando ao ponto de tornar-se insuportável.
É interessante verificar que Deus começa sempre a operar lá onde as
circunstâncias são mais difíceis e insuportáveis. É isso que explica
aquele hino que diz que “quanto mais escura a noite, mais brilham as
estrelas”. E isso é verdade. Quanto mais escuras forem as
circunstâncias onde nos encontrarmos, mais brilhante e clara se torna
a nossa luz – se realmente formos luz. Entre os Zulus, as famílias vivem
em comunidade. As sogras vivem com as noras e netos. E neste caso
que estou descrevendo, a vida em comunidade era um verdadeiro
inferno. A juntar a todos os problemas, a sogra da senhora era uma
pessoa muito má também. Não era de admirar que todos os dias
houvesse brigas e pancadaria. Os filhos chegaram ao ponto de desejar
a morte do pai e chegaram a prometer que o matariam assim que
tivessem crescido. As coisas continuaram daquela maneira até que a
mulher se converteu em 1963. Nunca poderei esquecer a sua conversão.
Lembro-me perfeitamente como ela chegou a um culto e depois veio
conversar comigo cheia de queixas.
“Ó, o senhor não imagina como sofro debaixo das mãos do
meu esposo! Ele é muito duro comigo e bebe muitíssimo.
Anda com outras mulheres, usa muita linguagem rude e feia e
faz muitas coisas horríveis”.
Depois disso, foi a vez de falar sobre a sogra. Quando terminou de se
queixar, perguntei-lhe:
“Diga-me, como estão as coisas consigo? Como está a sua vida
pessoalmente?”
Ela era a líder dos jovens e uma crente nominal. Cheia de mágoa e
ferida com a minha pergunta direta, respondeu:
“Por que me pergunta uma coisa dessas? O problema está em meu
marido e não em mim. Não sou a culpada e antes ele! A culpa de
haver tantas brigas em casa é somente dele”.
“Vamos ver o que diz a Bíblia a esse respeito”, respondi. De
acordo com a Bíblia, a sua casa é o seu campo missionário. É um
enorme privilégio podermos viver num lugar tão escuro. É
precisamente nessas circunstâncias que a luz da senhora deve
brilhar mais”.
“Ó, mas, como é difícil!” Interrompeu-me de imediato.
Contudo, o Espírito Santo, ainda assim, começou a Sua obra na vida da
senhora. Acabou reconhecendo que também havia pecado contra o
marido e não apenas o marido contra ela. Ela reconheceu ter muitas
culpas a que responder também. Não era apenas a sogra que vivia com
o coração cheio de veneno, mas, ela fermentava muita amargura, a
qual impedia-lhe de perdoar. No momento que ela visualizou as
próprias culpas com os seus olhos espirituais, ela clamou e disse:
“Por favor, agora diga-me o que devo fazer!”
“Limpe toda a sua vida e regularize todas as coisas das quais
é culpada. A Bíblia diz para vencermos o mal com o bem”,
respondi.
O Espírito Santo continuou operando na vida dela e acabou por
tornar-se um instrumento nas mãos de Deus.
O primeiro passo que deu, foi ir ter com o marido dizendo-lhe: “Meu
esposo, perdoa-me, por favor”. Não mencionou ao marido o fato de ele
ter um relacionamento extra-conjugal com outra mulher. Somente
disse:
“Eu não fui uma mulher conforme a Bíblia. Não sou uma
esposa sujeita ao marido que tenho e nunca te tratei com
amor. Muitas vezes, irritei-te e disse coisas que não deveria
ter dito. Nunca suportei ouvir-te falar asneiras e palavrões e
ver-te beber. Sempre fui uma pessoa impaciente”.
Depois disso, foi ter com a sogra para regularizar o relacionamento
entre ambas. No dia seguinte, quando chegou a casa pela noite,
comprou um pão para a sogra com o último dinheiro que tinha. E foi
amontoando brasas de fogo e de juízo sobre as cabeças daquelas
pessoas que a tratavam mal.
Não muito tempo depois disso, Deus começou a usar aquela mulher
com grande poder. Primeiro, foi o filho mais velho que se converteu e
depois o segundo filho. Depois disso, a sogra também se humilhou.
Logo de seguida, foi a cunhada e uma vizinha que foram conquistadas
pelo seu amor e terminaram em conversão. Foi como uma reação em
cadeia que se espalhou pela área toda. Muitas pessoas começaram a
converter-se e a entregarem-se a Jesus de coração. Convertia-se uma
pessoa após a outra e isso não através de qualquer pregação, mas,
através de um exemplo de vida. Sempre que a vida de alguém está de
acordo com as Escrituras, as suas palavras carregam poder e glória.
Então, todos notam que as suas palavras não são palavras vazias, as
quais ninguém deseja ouvir.
Quero sublinhar que somos testemunhas oculares de muitos casos
destes. Vemos como o Espírito Santo opera e espalha a verdade sempre
que encontra um coração purificado e limpo. Isso somente confirma
que a pessoa está no caminho certo. Muito rapidamente tornam-se
instrumentos nas mãos do Deus vivo. Mas, assim que as coisas
começam a correr bem e permitem que um pecado entre em suas vidas,
tornam-se imediatamente inúteis e passam a ser vasos de desonra
novamente. O Espírito Santo deixa de trabalhar através deles logo de
imediato. Todos nós temos o privilégio exclusivo de nos podermos
tornar instrumentos para honra nas mãos de Deus. Mas, para isso
acontecer, será necessário limparmos tudo nas nossas vidas até aos
mínimos detalhes. No idioma Zulu, dizemos: “Deus só dá avivamento
assim que encontra uma vida capaz de viver da maneira que Deus
espera que essa vida seja vivida”. É muitíssimo importante que as
nossas vidas se encontrem numa tal intimidade com Jesus que não seja
uma coisa que dê certo apenas em alguns momentos. A nossa vida deve
ser uma corrente constante de água viva que não cessa de estar limpa e
nem de fluir. Somente nessas condições Deus concede a bênção da
salvação a quem nos rodeia. Foi o que aconteceu com a mulher que
veio conversar comigo. Assim que quis cumprir a Palavra de Deus,
chegou a bênção dela. E agora, depois do avivamento, Deus ainda a usa
poderosamente como um instrumento muito valioso em Suas mãos.
Usa-a, agora, como nunca antes. Devo mencionar aqui um pequeno
detalhe que ela precisou aprender com o decorrer dos anos: enquanto
ela permanecia fiel, o marido permitia-lhe frequentar os cultos. Mas,
sempre que reagisse de forma carnal, se zangasse, gritasse ou estivesse
em rebeldia, então, parecia que o diabo dominava e o marido começava
a proibi-la de ir aos cultos. E sempre que isso acontecia, ela vinha a nós
queixando-se da sua necessidade:
“Eu já não posso vir mais aos cultos. O meu marido proibiu-
me de vir”.
“O que aconteceu?” Perguntava.
“Não aguentei mais. As coisas tornaram-se demasiado
pesadas para mim. Então, eu também disse umas coisas ao
meu marido”.
“Como assim? Foi a senhora que disse na carne ou foi pelo
Espírito de Jesus?”
“Devo reconhecer que não foi feito em amor. Também não
era da vontade de Deus que eu falasse daquela maneira. O
meu coração encheu-se de soberba. Não fui humilde quando
falei”.
“Então, a senhora precisa voltar lá e regularizar a sua vida
novamente”.
“Mas, isso é muito complicado! Não posso voltar lá e pedir
perdão pela mesma coisa cem vezes seguidas!”
Contudo, Deus não dava nenhuma outra saída para aquela mulher. Ela
só tinha como opção ir humilhar-se diante do marido e pedir perdão.
“Meu esposo, perdoa-me, porque Deus não me permite agir dessa
maneira.
Logo que tivesse feito aquilo, o Senhor tornava a abrir-lhe as portas e
ela já podia frequentar o próximo culto. O que nós aprendíamos
através do exemplo dela, era que nunca devemos agir de forma carnal.
Quem deve falar é o Espírito. Zangas, brigas, mágoas e sentir-se
magoada por pequenas coisas não passava de obras da carne. E é
dessas obras que nos devemos limpar. Devemos humilhar-nos para que
nenhuma das obras do diabo sejam vistas em nenhum de nós e para
que o Espírito Santo não seja entristecido. Não demorou muito até que
o esposo daquela senhora zulu viesse buscar a sua conversão também.
Desde então, também ele tem levado muitas almas a Jesus.
A verdade é esta: o esposo dela só mudou quando ela chegou e disse:
“Senhor Jesus, estou disposta a humilhar-me e seguir o Teu
caminho. Estou disposta a fazê-lo e a fazer a Tua vontade
mesmo que necessite ficar com um marido destes até ao fim
da minha vida. Dá-me, por favor, graça e misericórdia para
conseguir permanecer fiel até ao fim”.
Foi só através dessa atitude que Deus pôde agir e converter o marido
dela. Ele pôde ver a grande transformação na vida dela. Ele chegou
diante da esposa e disse:
“Ouve, mulher. Eu conheço-te muito bem! Sei como és
obstinada e como é difícil para ti tornares-te humilde. O que
aconteceu contigo? Pareces uma pessoa diferente! Já não te
conheço”.
Foi assim que aquela mulher simples se tornou uma luz
suficientemente convincente para levar outras pessoas a Jesus Cristo.
Na vida dela era verdade que as palavras de Jesus funcionavam.
“Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do
seu ventre”, João 7:38. O tempo é curto para contar tudo o que Deus
fez através dessa mulher simples. Podia, ainda, contar como os filhos
dela foram convertidos, o pai e a mãe dela também. Foram todos
ganhos para Jesus depois que se humilhou. Esta mulher tornou-se um
instrumento precioso porque estava disposta a limpar-se e a colocar
toda a sua vida em ordem e ao dispor de Jesus.
Espero que o seu exemplo simples também vos encoraje a seguir os
passos dela. É preciso coragem para arriscar e o resto vem a seguir. É
preciso fazê-lo, ainda que no inicio as coisas ainda não fiquem logo
claras. Mas, Deus pode, de seguida, operar de uma maneira que nem
podemos imaginar. Quem sabe se a salvação da sua própria família não
depende da sua vida. Quem sabe se a salvação deles depende do fato de
você necessitar urgentemente de seguir os passos que aquela mulher
deu. Contudo, os planos de salvação que Deus tem não terminam nas
pessoas que mais amamos. Diante de nós está o mundo inteiro. Jesus
deu-nos a ordem dizendo: “Portanto, ide, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”,
Mat.28:19. Isto quer dizer, levar o Evangelho a milhões de pessoas que
nunca conhecemos. Nunca em toda a história deste mundo houve
tantos pagãos como hoje. O que acontecerá se Deus nos chamar à
atenção pedindo-nos responsabilidades pelas almas que se estão
perdendo? É por essa razão que cada Cristão deve abrir as portas do
seu coração totalmente, para que haja espaço e oportunidade para
Jesus fazer aquilo que há muito deseja fazer. Se as nossas vidas e
corações estiverem deveras abertos e dispostos a serem limpos,
certamente que nos tornaremos instrumentos valiosos e exclusivos nas
mãos do Senhor Jesus. Ele conseguirá, então, operar através de nós
como nunca antes.
Certamente lembram que falei sobre aquele dia quando tinha um
grande peso em meu coração e busquei alguém para orar comigo.
Lembra-se de como eu desejava passar aquele dia em oração e de como
aqueles filhos de Deus me receberam e eu aprendi a conhecer Jesus de
uma maneira totalmente nova. Em seu meio, sempre senti a presença
de Deus de forma muito clara. A verdade é que esse casal que busquei
era precisamente essa senhora, o esposo e os filhos deles. Sempre que
aquela família se ajoelhava para orar, bastavam dois ou três minutos
para os céus abrirem-se e a terra tremer.
Qual é o seu segredo? Como é possível Deus ouvir as suas orações de
maneira tão rápida? O segredo reside precisamente no fato daquelas
vidas estarem limpas e sujeitas a Jesus incondicionalmente. Eles
possuem corações limpos. É desse coração puro que saem todas as suas
orações. É esse o segredo deles. Vêem como é muito importante termos
as nossas vidas bem limpas e colocadas em ordem? Vamos manter as
novas vidas intocáveis e limpas de tudo aquilo que as possam sujar.
Vamos clamar ao Senhor e pedir-Lhe que nos revele esta verdade de
forma clara e que nos mostre tudo aquilo que não Lhe agrada. A obra
principal do Espírito Santo é revelar-nos os nossos pecados. Só
precisamos dar tempo e espaço total a Deus para que possa manobrar
dentro de nós para fazer aquilo que Ele quer. Se Ele fizer a Sua obra
em nós e revelar-nos tudo aquilo que O entristece, não teremos
corações pesados sendo devorados por lástima. Não devemos sentir-nos
tristes revendo todos os nossos pecados. Pelo contrário, deve tornar-se
uma alegria para qualquer um de nós. Vamos usar a Palavra de Deus
como um espelho porque é muito importante que tudo aquilo que seja
conseguido em nós esteja totalmente de acordo com as Escrituras.
Vamos, depois, esforçar-nos com tudo que somos e temos para que as
palavras de Deus não sejam vistas apenas no papel, mas, lidas em
nossas vidas. A Sua palavra deve ser aquilo que pensamos e somos.
Vamos ser a Bíblia sempre que olhamos para o nosso próximo ou o
nosso próximo para nós. Que as pessoas possam ler a Palavra olhando
para nós. Só assim seremos instrumentos de Deus para bom uso e o
Espírito Santo poderá usar-nos da maneira que quiser.
Como estou feliz porque o Senhor não faz acepção de pessoas, seja a
pessoa qual for! Que Ele tenha misericórdia de nós e que ache no nosso
meio, agora, corações dispostos a serem feitos instrumentos fiéis e
valiosos do Espírito Santo. O Senhor Jesus deseja muito poder usar a si
que me ouve hoje aqui. E deseja usá-lo precisamente no lugar onde se
encontra. Viva para Jesus ai onde se encontra – é precisamente ai onde
deve começar a obra de Deus e onde necessita tornar-se instrumental.
Se não conseguir ser um instrumento onde está, nas circunstâncias
onde se encontra, nunca será qualquer tipo de instrumento de bênção
em nenhum outro lugar. Jesus mandou os discípulos esperarem em
Jerusalém por alguma razão. Eles tinham de permanecer em
Jerusalém e não sair de lá. Só depois de haverem espalhado o
Evangelho em Jerusalém, no lugar mais difícil de todos e onde Jesus foi
crucificado e onde eles eram procurados para serem mortos, poderiam
partir para outros lugares com o Evangelho, distribuindo-o
gratuitamente. Todo aquele que se limpa de tudo, torna-se facilmente
um canal para bom uso nas mãos santas do Senhor. Esse instrumento
limpo será usado sob quaisquer circunstâncias para glória do Senhor.
Não demorará muito até que o Senhor comece a usar um instrumento
totalmente purificado de tudo aquilo que contamina ou pode sujar.
Que Deus conceda que se encontrem pessoas as quais Ele pode usar
poderosa e livremente. Que haja pessoas dispostas a serem usadas em
qualquer lugar e de qualquer maneira pelo Senhor e que estejam
dispostas a sujeitarem-lhe todo o seu coração e de aceitarem a verdade
com todo ele também.
Um dia, chegou à missão um homem cego. Um dos missionários disse-
me:
“Erlo, aquele senhor deseja falar contigo”.
“Agora estou muito ocupado. Você pode falar com ele em
meu lugar?” Respondi. Mas, o missionário voltou e disse:
“Tenho muita pena, mas ele disse que só quer falar com o
senhor e não comigo”.
“Diga-lhe, por favor, que neste momento não poderei vê-lo
porque tenho muitas coisas para fazer. Que deseja ele? Diga-
lhe que pode confiar plenamente em ti e fale você com ele!
Não pode ser você a ajudá-lo?”
Aquele senhor cego não quis nada com a solução encontrada. Existem
pessoas que simplesmente não ouvem! Tudo que dissermos, será em
vão. É muito difícil abrirem mão do que querem. Preferem quebrar
que dobrar. É assim que as pessoas gostam de ser, cheios de teimosia.
Depois, pensei: “Bem, que seja eu a ceder! Não me fará mal nenhum
ceder”. Deixei tudo que tinha para fazer e fui ter com o homem para
saber o que desejava de mim. Ele disse:
“O senhor está vendo que sou cego? Por favor, ore por mim
para os meus olhos abrirem”.
“Deve estar brincando comigo!” Disse, admirado com aquele
pedido. “Isso eu não posso fazer!”
O senhor ficou muito zangado e falou irado:
“O senhor é Erlo Stegen?”
“Sim, eu mesmo”.
“Bem, lá no lugar de onde venho moram três pessoas que
eram cegas e deixaram de ser cegas quando o senhor orou
por elas. Por que razão o senhor recusa orar por mim?”
“Isso não posso fazer, de maneira nenhuma. Ainda que deseje
muito fazê-lo, a sua atitude amarra as minhas ações, mãos e
pés”.
“Como assim, senhor?”
Passei a explicar-lhe. “Tudo começa no espiritual. Na Bíblia,
num livro chamado Tiago, diz: confessai os vossos pecados
uns aos outros e orai uns pelos outros para serdes curados”.
Expliquei os detalhes do que significava tudo aquilo e
continuei: “Diga-me, o senhor já viu Deus?”
“Não! Como posso? Ninguém vê Deus!” Respondeu.
“O senhor ainda não viu o Senhor Jesus crucificado na Cruz?
Já se apercebeu como os seus pecados foram responsáveis
pela morte d’Ele na Cruz?”
O homem Zulu riu: “Não, não! A culpa da morte de Jesus
não foi dos homens negros! Foram os brancos que o
crucificaram e não nós!”
“Já alguma vez se apercebeu da santidade de Deus? Já
alguma vez experimentou que Deus é um Deus santo?”
“Não, ainda não”.
“Já alguma vez pensou na realidade de que Jesus também
morreu por causa dos pecados que o senhor cometeu?
Também contribuiu para crucificar Jesus! Foram os seus
pecados que pregaram Jesus naquela Cruz”.
O pobre homem escutava atentamente as minhas palavras. De repente,
os seus olhos espirituais abriram-se e ele entendeu a verdade.
Exclamou logo de seguida:
“Agora, eu acho que estou entendendo! Já comecei a entender
aquilo que o senhor quer me explicar”. E mesmo antes de eu
poder dizer mais alguma coisa, o homem abriu o seu coração
como uma janela e começou a orar e a confessar todos os seus
pecados diante de mim. Começou a confessar desde os seus
tempos de menino. Não parou de confessá-los, um por um.
Trouxe cada pecado para a luz de Cristo. Depois, disse: “Ó,
como sou um pecador grande! Sou horrível!”
Sabem o que aconteceu de seguida? Assim que terminou e tirou todos
os seus pecados do caminho, pulou e começou a gritar:
“Os meus olhos abriram! Consigo ver! Consigo ver!”
Foi assim que, logo de seguida, acabou por ver a luz de forma física
também. Nem sequer fizemos uma oração para que o milagre
acontecesse. Ninguém lhe impôs as mãos e ninguém havia feito
qualquer tipo de oração a respeito do seu estado físico. O Senhor Jesus
tomou toda a iniciativa em Suas próprias mãos e fez aquilo que
entendeu fazer da maneira que quis. Jesus mesmo se deu a conhecer ao
homem.
Em Tuguela Ferry, uma zona das redondezas, era tudo muito seco. A
área experimentava uma grande agonia com falta de chuva. Todo o
distrito estava sequíssimo e a terra não podia ser plantada ou semeada.
É muito raro haver chuva naquelas bandas. Espiritualmente, as coisas
ainda eram piores. Muitos missionários já haviam tentado converter o
distrito nos cem anos anteriores. Contudo, nunca tiveram qualquer
sucesso. As pessoas não queriam saber nada do Evangelho. E toda
aquela zona estava completamente deserta no tocante à verdade até
que Deus resolveu intervir. Mandou um poderoso avivamento para
toda a região. Milhares de pessoas começaram a converter-se e a
confessar os seus pecados. Assim que as poderosas águas espirituais
começaram a abundar e a abrir caminho naquele território, vieram,
também, as águas das nuvens. Nunca choveu tanto como então. Todo o
povo exclamava com alegria afirmando que as chuvas começaram a
chegar desde o momento que a região se entregou a Deus para serem
purificados de todos os seus pecados. Juntamente com a enorme
bênção espiritual, chegou a chuva. Assim é o Deus que conhecemos e
que nunca negamos! Não existe fim para as Suas misericórdias todas. E
quando curou a sua terra, todo o território, Deus também começou a
curar o povo das suas doenças e males. As pessoas fisicamente doentes
eram curadas assim que viam o Messias e limpavam todas as suas vidas
sem deixar pecado por limpar. A sua vez de serem curados havia
chegado. Os cegos podiam ver, paralíticos podiam andar e os mudos
começaram a falar. Todos exuberavam vivendo com a alegria o fato de
terem sido visitados por Deus. Aquilo que o profeta profetizou com
grande expectativa, aconteceu, também, em nosso meio.
De repente, havia uma enorme fome pela Palavra de Deus em todo
aquele território. O povo aglomerava-se só para ouvir o Evangelho.
Depois dos cultos, muitos ficavam para trás para purificarem as suas
vidas, confessando pecado a pecado. Corriam para onde ouvissem que
estávamos pregando o Evangelho. Nem era necessário fazer qualquer
tipo de apelo. Não era necessário chamarmos o povo para se apresentar
na frente do púlpito. Não me era necessário dizer-lhes que precisavam
converter-se e entregar-se a Cristo. A própria Palavra de Deus tornou-
se viva e eficaz - sozinha. Tomou as rédeas em suas próprias mãos.
Todas as pessoas sabiam perfeitamente tudo o que deviam fazer e como
deveriam fazer. Nem era necessário dizer-lhes que deviam confessar
todos os seus pecados, pois, faziam-no sem ninguém dizer-lhes nada. O
Espírito Santo explicava-lhes tudo pessoalmente. Tudo quanto deviam
confessar já se encontrava em seus lábios e confessavam sem demoras.
Chegavam a nós e suplicavam: “Por favor, senhor, dê-nos uma
oportunidade de confessar os nossos pecados juntamente com os
senhores e orem por nós!” Quando pregávamos naquelas zonas, as
pessoas diziam que não podiam voltar para casa sem estarem sanados e
limpos de todos os pecados. Diziam que não se atreviam a sair dali sem
antes haverem colocado todas as suas vidas em ordem. Todas as suas
impurezas e iniquidades eram trazidas para a luz e mencionavam
pecado por pecado na nossa frente. Quando chegavam aos locais onde
íamos pregar, estavam sob enormes cargas e de rastos debaixo da
convicção de pecado. Mas, quando saiam dali, parecia que haviam
entrado no céu. Os seus rostos mudavam e as suas feições brilhavam.
Era uma alegria pura, de criança, a qual víamos nos seus rostos
aliviados depois de receberem perdão. Os olhares pareciam cheios de
vida, alegres e expressivos. Foi assim, dessa maneira, que Deus operou
em nosso meio. Cada dia juntava muitas pessoas aos que já haviam
sido purificados.
Uma vez, decidimos ter cultos ali durante três dias seguidos.
Normalmente, pregávamos ao ar livre, no mato e nas vilas. Mas,
naqueles dias decidimos estender uma tenda enorme. A verdade é que
a tenda tornou-se pequena demais para tantas pessoas com fome da
Palavra. Na sexta-feira à noite, num desses cultos, reparei numa moça
mesmo à frente do púlpito, completamente paralisada, estendida numa
maca ou esteira. O lugar estava lotado e ainda havia muito povo do
lado de fora. A moça estava ali, na frente, completamente inerte. Não
se mexia.
No Sábado, pela noite, eu estava, pessoalmente, muito cansado. Devido
à exaustão, pedi que me chamassem se necessário, pois, ia deitar-me
um pouco para descansar. Precisava descansar primeiro e só depois de
descansar teria condições para continuar. Pedi aos cooperadores para
resolverem as questões, reunirem o povo da melhor maneira e explicar-
lhes a Palavra e fazerem os aconselhamentos. Normalmente, era
ajudado por cerca de 50 cooperadores. Eles faziam aconselhamento.
Mesmo com tantos cooperadores, era impossível atender a todas as
pessoas, mesmo ficando noites seguidas sem dormir e passar horas e
horas seguidas aconselhando, orando por pessoas e explicando a
Palavra. Muitos dos cooperadores ficavam com os olhos inchados e
vermelhos de cansaço. Houve casos de pessoas que precisaram esperar
cinco dias seguidos até poderem ser atendidas. Só queriam confessar os
seus pecados juntamente com alguém. Não arredavam pé dali. Muitas
vezes, dizíamos que fossem para os empregos e voltassem depois. Eles
simplesmente recusavam. “Não podemos sair daqui sem antes
colocarmos toda a nossa vida em ordem com Deus. Temos de alcançar
paz com Deus primeiro, custe o que custar!”
Saí para descansar, Sábado à noite. Umas poucas horas depois, os
cooperadores vieram chamar-me. Contaram-me que centenas e
centenas de pessoas haviam-se purificado de todos os seus pecados,
colocando tudo na luz. Mas, ainda havia cerca de 200 pessoas
esperando na tenda. Todos eles sofriam de algum tipo de enfermidade e
recusavam sair dali antes orarmos por eles. Queriam ser curados.
Quando acontece isso, quando muitas pessoas doentes se reúnem
daquela maneira, oramos por eles em grupos e impomos as mãos sobre
somente uns 5% do total. Pelos outros, oramos em grupos de dez ou
mais pessoas. Por vezes, eram grupos de centenas de pessoas pelos
quais orávamos. Suplicávamos ao Senhor que tocasse em cada um
deles, já que nos era impossível orar por todos individualmente.
Contudo, havia muitas pessoas que eram tocadas ainda durante a
pregação da Palavra. Eram tocadas tanto espiritualmente quanto
fisicamente. Isso acontecia mesmo quando eram irmãos a pregar que
não possuíam o dom de cura, pois, era Jesus quem tocava neles
pessoalmente. Jesus tomava a iniciativa e Ele mesmo fazia a Sua obra.
“…Eu sou o Deus que te cura”, Ex.15:26. Estas palavras ainda hoje são
confirmadas entre nós.
Naquela noite especifica, contaram-me que havia cerca de dez pessoas
cegas que pediram especificamente que orássemos por elas através da
imposição de mãos. Depois disso, oraria pelos demais em grupos. Sabe
o que aconteceu? O poder de Deus naquele dia era tão evidente e tão
presente que curou os dez cegos ainda antes de entrarmos no local onde
nos esperavam. Os seus olhos abriram-se - simplesmente. Eles podiam
ver. Naturalmente que aquilo só poderia acontecer porque já haviam
confessado todos os seus pecados e mencionado todos eles pelo nome. A
sua vida estava em ordem e os seus olhos também foram colocados em
ordem.
Mas, a cura dos dez cegos não foram as únicas. Ainda havia uma outra
senhora cega que foi curada que não estava ali. Naquele dia, um dos
cooperadores trazia muito povo num camião pequeno. Vinham para os
cultos de todo lado. Os zulus não têm noção de que um carro pode
estar cheio demais. Desde que ainda haja um buraquinho, alguém sobe.
Quando o cooperador vinha a caminho, trazendo o povo, uma senhora
cega mandou-o parar. Estava ao lado da estrada com uma menina
segurando a sua mão para guiá-la e ajudá-la. O cooperador parou
amigavelmente e foi falar com a senhora, perguntando em que podia
ajudá-la. Estava a mais ou menos uns 40 km do local onde os cultos
estavam sendo feitos. A senhora disse:
“Ouvi dizer que estavam indo para os cultos. Posso ir junto?”
E a menina também dizia. “E eu também posso ir junto? Têm
lugar para mim?”
“Infelizmente, não é possível! O nosso carro já está cheio
demais. Não cabe nem mais uma agulha nele”, respondeu o
cooperador.
A senhora começou a chorar copiosamente. O homem teve dó e
dirigiu-se a ela novamente:
“Desejo muito levá-la. Espere, eu vou perguntar se alguém
quer sair para a senhora caber no camião. É a única maneira.
Se alguém descer, a senhora sobe”
Ninguém quis descer e dar lugar à senhora. Todos estavam com muita
fome da Palavra. E a maioria havia vindo de longe e não teria como
voltar para casa, pois, não conheciam o lugar. Também ninguém
conhecia gente por ali onde pudessem passar a noite. Não havia nada a
fazer pela senhora. Ela ficou para trás, lavada em lágrimas e chorando
muito. Isso havia acontecido, creio, na sexta à tarde. No Sábado à noite,
cerca da meia-noite, foi quando Deus visitou aqueles 10 cegos. No
domingo à tarde, o cooperador que trouxe o povo, levava-os de volta
para as suas aldeias e territórios respectivos. Fizeram o mesmo
percurso de volta. E ali estava a mesma senhora, esperando que
voltassem. Ela estava muito alegre e pulava de alegria.
“Eu consigo ver! Consigo ver! Agora sou uma discípula de
Jesus!” Dizia.
“Como aconteceu isso, senhora?”
“No Sábado à noite, já muito tarde, os meus olhos abriram e
eu conseguia ver!”
Fizeram mais algumas perguntas e concluíram que ela havia sido
curada à mesma hora que Deus foi misericordioso para aqueles dez
cegos. Foi no mesmo instante que os curou que ela, também, foi curada
e restaurada. Assim é o nosso Deus. A sua misericórdia não tem
fronteiras e não tem lugar onde não possa alcançar alguém. Não existe
ninguém como Ele.
No Sábado à noite, tal como na noite anterior, estava aquela moça ali
na frente do púlpito, completamente imóvel no chão. Depois de
havermos feito uma oração geral para o restante do povo enfermo, os
cooperadores que me assistiam e ajudavam o povo, chegaram-se e
disseram:
“Agora, só falta aquela moça. Ela está completamente
paralisada, dos pés à cabeça. Ela já está na sua cabana, mas,
precisamos ir lá para orarmos, também, por ela”.
“Que estão dizendo? A moça não consegue falar! Ela não
consegue confessar os seus pecados sequer”.
A moça já estava acamada há mais de 18 meses. Já não conseguia abrir
os olhos e apenas mexia as pálpebras ligeiramente. Conseguia
movimentar um dedinho da sua mão direita também. Na verdade, era
um cadáver vivo. Os pais já haviam feito tudo que lhes era
humanamente possível. Já a haviam levado a vários médicos em
diferentes lugares e nenhum conseguia ajudá-la minimamente. E como
os médicos não resolveram, foram aos feiticeiros tentar a sua sorte. Um
desses feiticeiros cozinhou um sapo para fazer feitiçaria e tirou o sapo
da água a ferver, colocando-o assim, quente, sobre a testa da moça.
Como consequência, a pele da testa ficou queimada. Por fim, a sua
irmã, a qual era uma professora, trouxe-a aos cultos e colocou-a
mesmo na frente de todos.
“Vocês dizem para eu orar por ela. Mas, ela arranjou a vida
dela com Deus?” Perguntei.
“Sim ela arranjou a vida dela com Jesus”, respondeu um dos
cooperadores, sossegado.
“Isso não é possível. Como conseguiram isso? Ela nem é
capaz de dizer uma única palavra! Como é que ela confessou
os seus pecados?” Quis saber.
“Nós sentamos do lado dela e perguntávamos: ‘Alguma vez
foste desobediente aos teus pais?’ A Bíblia diz para
honrarmos os nossos pais para que os nossos dias se
prologuem aqui na terra. Se não honras os teus pais, então,
pecas. ‘Houve alguma ocasião que não deste ouvidos aos teus
pais? Será que alguma vez te disseram uma coisa a qual
nunca cumpriste?’” Como resposta, a moça pestanejava com
as pálpebras para dizer que sim. ‘Alguma vez foste
desobediente aos teus professores na escola? Já disseste
alguma mentira?’ Uma vez mais, as suas pálpebras diziam
que sim. ‘Já te envolveste com os meninos?’
Os cooperadores diziam daquela moça de 18 anos de idade o seguinte:
“Ela confessou os seus pecados! E Jesus prometeu que, se
confessássemos os nossos pecados Ele é justo e fiel para nos perdoar de
todas as nossas iniquidades e nos purificar de todas elas!” Ela estava ali
deitada na nossa frente. Assim que os crentes ali começaram a orar por
ela, o poder de Deus manifestou-se de tal maneira que o corpo dela
começou a tremelicar e a movimentar-se como quando um vento passa
por uma árvore. Ela foi colocada em pé como que por umas mãos
invisíveis. Começou a caminhar, mas, já não sabia o que era ter
equilíbrio. O seu cérebro já não assimilava a sua posição em pé e não
mantinha o seu equilíbrio. Caia e levantava-se, ia de um lado para o
outro como uma cana no vento. Primeiro foi para a esquerda e depois
para a direita. Uma das pessoas segurou nela para não cair no chão.
Pouco depois, já se equilibrava e já assimilava a sua postura em pé.
Começou a andar em círculos naquele lugar pequeno e louvava o
Senhor cheia de alegria. Isso aconteceu cerca da meia-noite, também.
Mas, de repente, estávamos rodeados de muitas pessoas. Vieram parar
ali como se tivessem sido chamados. Como ficaram sabendo e de onde
veio todo aquele povo, não sei dizer. Mas, em situações de avivamentos,
algumas coisas inexplicáveis acontecem sempre. Assim acontecem as
coisas nos lugares onde a presença de Deus enche tudo e todos.
Entre aquele povo, havia uns homens incrédulos que trabalhavam para
a Câmara Municipal. Chegaram perto e perguntaram:
“Onde está a moça que foi curada?”
Respondemos apontando para ela: “Ela está ali”.
Disseram: “Nós desejamos estar com ela a sós, por favor. Não
queremos nenhum pregador aqui e nenhum crente.
Queremos interrogá-la a sós!”
Os quatro homens ficaram com ela a sós no quarto. Depois de um
longo período de tempo, saíram e exclamaram em alta voz diante da
multidão que estava ali a ouvi-los:
“Anagreta, o Deus que te curou hoje tem poder até para
ressuscitar mortos! Permanece fiel a Ele até ao fim da tua
vida!”
No dia seguinte, pela manhã, alguns cooperadores levaram Anagreta
para ir ver o pai. Ele trabalhava numa outra cidade como guarda
prisional. Saíram dali com ela, que não era apenas uma moça
completamente curada, mas, era uma menina muito alegre e
totalmente liberta dos seus pecados. Quando chegaram ao portão da
prisão onde trabalhava o pai, tocaram a campainha e foi o próprio pai
quem veio atender. Assim que olhou e reconheceu a filha ali em pé,
clamou em alta voz:
“Anagreta, és realmente tu ou é o teu espírito?”
“Sou eu papai”.
Ele abraçou-a e esqueceu-se completamente de fechar o portão atrás de
si. Os cooperadores precisaram avisá-lo que o portão ainda se
encontrava aberto e que os presos podiam fugir.
“Como foi possível acontecer isto?” Queria saber o pai
admiradíssimo! “Como é possível?” Perguntava uma vez
atrás da outra.
“O Senhor Jesus perdoou os meus pecados, pai. Salvou a
minha alma e, depois, curou o meu corpo”, explicou a moça.
Mal escutou aquelas palavras, dobrou-se e disse:
“Ele é realmente o Deus vivo! Não existe outro como Ele!”
E, assim, o nome de Jesus foi glorificado. Ainda hoje é glorificado
através destas pessoas. Mais tarde, Anagreta casou-se e teve dois filhos.
Como é verdade que “muitos primeiros serão derradeiros e muitos
derradeiros serão primeiros”! (Marc.10:31). São coisas que não
conseguimos definir e explicar através da nossa mente humana.
Contudo, não podemos pensar que são apenas os cegos espirituais que
não enxergam estas coisas. São os surdos espirituais e os paralíticos
espirituais também. Por essa razão, lemos em Isaías 35 uma palavra
que se encaixa de forma perfeita no tocante ao corpo das pessoas: “E
ali haverá bom caminho, caminho que se chamará o Caminho Santo; o
imundo não passará por ele, pois será somente para o seu povo; quem
quer que por ele caminhe não errará, nem mesmo o louco”. Todas as
almas que trilham este Caminho Santo, experimentam uma conversão
e uma transformação total. Alcançaram uma vida simplesmente
profunda e completamente nova. Entraram numa experiencia de vida
desconhecida à qual precisavam ser obedientes. Mas, ai de todos
aqueles que tornem a cair no erro e no pecado de uma vida errante
depois de haverem experimentado a verdade!
Em Tugela Ferry havia um certo feiticeiro que se converteu. Era cego,
mas, quando se converteu, os seus olhos abriram-se. Uns meses depois
da sua conversão e do milagre, a sua vida antiga prendeu-o de novo.
Começou a praticar coisas do diabo novamente e, um dia, subiu às
montanhas para procurar raízes e plantas para usar em feitiçaria.
Quando encontrou as raízes que procurava, começou a cavá-las. Assim
que começou a cavar, perdeu a visão e tornou-se novamente cego. Não
tinha condições para descer da montanha, sozinho e começou a gritar,
pedindo ajuda. Algumas pessoas ouviram os seus gritos e levaram-no
de volta para casa. Ainda hoje é cego. Nunca mais foi curado. Não foi
sem uma boa razão que Jesus, uma vez, disse a um homem: “Olha que
já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior”,
João 5:14.
Um outro zulu de cerca de 90 anos de idade era parcialmente paralítico
e arrastava o seu corpo com alguma dificuldade. Aquele pagão
endurecido ouviu o Evangelho. Chegou à fé. Deus também curou o seu
corpo de maneira maravilhosa. A maravilha permitiu que o homem
começasse a andar normalmente. Permaneceu uns três dias em nosso
meio e voltou para sua casa. Os seus filhos ficaram completamente
pasmados ao verem a transformação na vida do pai. Gritaram:
“Pai, que aconteceu com o senhor?”
“Jesus curou-me”, respondeu o homem já com o cabelo
branco.
“O Senhor Jesus? Tudo bem, mas, precisamos, também,
agradecer aos espíritos dos nossos antepassados”, disseram-
lhe.
Degolaram um boi para sacrificarem aos antepassados. Infelizmente, o
velho pai não fez nada para impedi-los. No momento que começou a
fluir o sangue do animal para a terra, o velhinho caiu paralítico mesmo
à frente dos filhos. Pouco tempo depois, faleceu e entrou, assim, na
eternidade. É verdade, amigos, o profeta disse uma grande verdade.
Neste caminho só andarão aqueles que são santos. Por isso se
chama Caminho Santo.
A Bíblia diz: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se
humilhar, orar e me buscar e se converter dos seus maus caminhos,
então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua
terra”, 2Cron.7:14. Talvez você já conheça este versículo de cor. Mas,
diga-me, já se deu ao trabalho de pensar nesta verdade a sério para ver
se isto não é precisamente o que precisa fazer. Provavelmente, este
versículo fala para si. Será que já levou estas palavras a sério e já as
aplicou a si próprio? Já pesquisou todos aqueles versículos que Deus
liga diretamente à Sua boa vontade em perdoar para ver se o caso não
se aplica a si? Deus fala bem claro aqui, dizendo que “se o Meu povo se
humilhar”! “Se o Meu povo buscar o Meu rosto, se eles se converterem,
Eu ouvirei desde os Céus”. Podem ter esta certeza: nenhum
avivamento começa com os de fora. O Juízo começa sempre na casa de
Deus. Todo avivamento começa conosco, com a purificação e
transformação da congregação de Deus. Por isso, é de extrema
importância que sejamos nós a abrir o Caminho através do qual o
Espírito Santo vai operar. Nenhum impuro poderá caminhar nessa via
que se chama Caminho Santo. Para cada cristão, deve ser
verdadeiramente um caminho acessível e prático. Deus deseja
intensamente que este caminho seja usado e que esta via se encontre
cheia de gente. Como seria maravilhoso se toda a Igreja de Jesus, todos
que se chamam crentes ou Cristãos, conhecessem e experimentassem
este caminho de glória e de santidade exclusiva a Jesus e que pudessem
ver e provar as virtudes genuínas do nosso Redentor!

NADA É PEQUENO DEMAIS

Ainda antes de haver começado o avivamento, já Deus havia começado


a operar em minha vida sobre aquelas coisas ou pessoas que, aos meus
olhos, eram pequenas ou insignificantes. Anteriormente, organizava
pregações e campanhas e fazia tudo ao meu alcance para encher os
cultos de pessoas. Espalhava centenas de convites e panfletos, os quais
mandava imprimir. Quando as pessoas vinham aos cultos, fazia de
tudo para que se entregassem a Jesus. Usava de todos os meios
possíveis para convencê-los a aceitarem a fé em Jesus e a confiarem-
Lhe as suas vidas para sempre. Mas, quando o Espírito de Deus
começou a operar, começou a mostrar logo os meus próprios pecados -
pecados esses que eu, até então, considerava insignificantes e aos quais
eu não desejava prestar a atenção devida. Esses pecados eram, segundo
as Escrituras, as pequenas raposas que destruíam a vinha. Deus havia-
me dito:
“Erlo, o que adianta pregares para os outros quando a tua
própria vida está imunda? O teu relacionamento com os
menores e insignificantes que crêem em Mim não é aquilo que
espero de ti!”
Aquelas palavras foram como uma bofetada no meu rosto. Antes, eu
até pensaria mais ou menos do seguinte modo: “Que tenho que ver com
as pessoas mais pequeninas aos olhos de todos? Aqueles que governam,
os que são importantes, esses sim são bem vistos por mim. Mas, por
que me devo preocupar com aquelas pessoas mais simples que nada
significam para este mundo ou para o regalo dos meus olhos?”
Contudo, ficou muito claro, na altura, que Deus vê as coisas de outra
maneira. Jesus esperava de mim que vivesse a verdade do Evangelho
precisamente para com todos aqueles que eu considerava desprezados
ou simples.
A Palavra também diz que, caso um homem não consiga governar bem
a sua própria casa, não pode de maneira nenhuma ter cargo de
liderança na Igreja. Se a minha vida não está em ordem perante os
meus filhos, de que vale pregar para os filhos dos outros? Como
podemos ser líderes dos outros se não conseguimos sê-lo em nossa
própria casa? A maneira que vivemos e convivemos com a nossa
própria família, em casa, costuma ser algo a que não prestamos muita
atenção e não pensamos que seja uma coisa tão importante assim. Não
relacionamos isso à nossa prestação espiritual dentro do Corpo de
Cristo. Essa é uma das tais coisas que, a nossos olhos, é considerada
pequenina demais para ser tratada e para nos ocuparmos dela. Talvez
consigamos preparar os melhores sermões e expressar a verdade da
melhor maneira. E, por essa razão, não nos apercebemos, sequer, que
não produzem aquele efeito que Jesus esperaria. E a verdade é que é
através dessas coisas pequenas que se esvai a bênção que Deus nos
prometeu sempre que executamos a Sua vontade.
Quando o Senhor Jesus ensinava ao povo sobre isto, Ele mesmo
afirmava: “Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos
confiará as verdadeiras?” Luc.16:11. Noutras palavras, se não somos
totalmente fiéis nas questões financeiras, também o Pai do Céu não nos
poderá confiar as coisas espirituais. Se não somos fiéis em todos os
aspectos da vida desta terra, nunca podemos aspirar a poder trabalhar
na verdadeira Vinha do Senhor. Podemos até trabalhar noutra vinha
supostamente espiritual, mas, não na do Senhor. Talvez você
argumente: “Mas, que relação existe entre a minha vida diária e a
minha espiritualidade ou o meu serviço na congregação? Saio-me
muito bem no serviço à congregação! Prego, canto, testemunho e sou
convincente e não tenho qualquer dúvida de que sou uma pessoa salva.
Será que conta assim tanto eu não ser totalmente fiel lá onde trabalho,
em meu emprego? Que diferença faz se as minhas finanças não estão
bem cuidadas e se a minha contabilidade não está em ordem? Tudo
isso são questões menores! Será que são coisas tão importantes assim?
Deus dá crédito a esse tipo de coisas?” Podemos argumentar para nos
justificarmos da melhor maneira, mas, também devemos levar em
conta que o Deus do Céu só tem uma resposta a todos esses argumentos
bem elaborados: “Não sendo fiel nas coisas mínimas, não serás
abençoado por Mim!”
Um bom exemplo de um pequeno começo é o de um certo pai que disse
para os seus filhos: “Se um dia, qualquer um de vós tornar-se Cristão,
a minha própria mão pegará em uma lança e eu mesmo transpassarei o
vosso coração de um lado ao outro!” (Normalmente, quando um Zulu
diz uma coisa, ele executa-a e não importa o quanto lhe custa. Para
eles, é uma grande desonra faltar à palavra). E um dos seus filhos
converteu-se. Naturalmente que não contou nada ao pai. Mas, tentou
fazer uma aproximação diferente. Disse ao pai o seguinte: “”Pai,
pequei contra o senhor em muitos aspectos. Como filho, deveria honrar
o senhor e ser-lhe obediente”. Quando o pai viu como estava a ser
valorizado pelo filho que lhe pedia perdão pelas coisas do passado,
ficou muito emocionado e foi sacrificar aos deuses e espíritos para
agradecer-lhes a mudança do seu filho. O trabalho do pai na tribo era
ditar e compor hinos aos espíritos para ensinar a todos. Ele, contudo,
não sabia que tipo de espírito havia transformado o seu filho daquela
maneira. Não sabia a qual deles agradecer.
O filho tornou-se um exemplo para toda a família e seu rosto brilhava
de alegria e humildade. Consequentemente, todos os outros filhos
acabaram por se converter também. Antes, toda a casa estava cheia de
objetos dedicados ao espiritismo e aos rituais de feitiçaria. Todos os
objetos tinham um significado na vida do seu pai. Através da feitiçaria
e adivinhação, conseguia prever o futuro das pessoas. Depois da sua
conversão, o pai trouxe todos os objetos que foi guardando durante os
anos de sua vida. Todos os filhos tornaram-se, com o tempo,
evangelistas ou pregadores do Evangelho. Foram os primeiros da sua
região, a qual estava em densas trevas, a converterem-se pela luz. As
suas vidas, a partir de então, tornaram-se verdadeiras luzes brilhantes
que atraiam todo o tipo de pessoas para Jesus.
Também não devemos começar por cima e antes por baixo. Que diria
de algum jovem que entra para um banco para trabalhar e logo na
primeira semana deseja ser promovido a diretor ou a gerente?
Qualquer um diria que algo está louco e que precisa marcar uma
consulta psiquiátrica. É uma loucura que alguém pense tornar-se
gerente de uma instituição uma semana depois de começar a trabalhar
nela. Qualquer pessoa mentalmente sã sabe que deve começar de baixo
e não de cima. Contudo, não é precisamente isso que acontece com os
Cristãos? As pessoas esquecem que a única coisa que é começada de
cima para baixo é a cova somos enterrados! Do mesmo modo, se não
formos fiéis aos mais insignificantes a nossos olhos, nunca
conseguiremos entrar para a esfera das coisas grandiosas do Céu.
Deus, que conhece bem os corações, sabe que iremos ser infiéis no
grande e no muito se não formos fiéis no pouco e aos menores.
Provavelmente, existem muitos entre nós desejosos de terem um
encontro especial com Deus por desejarmos a bênção que vem com Ele.
Mas, que ideia temos de tal encontro especial? Vamos analisar e ver o
que as Escrituras têm a dizer sobre isso. Quando o profeta Elias estava
dentro de uma gruta, Deus falou-lhe e disse: “Sai para fora, e põe-te
neste monte perante o SENHOR”, 1Reis 19:11. Quando Elias
obedeceu, Deus apresentou-se diante dele. Primeiro demonstrou o seu
poder através de um forte vento, o qual soprava pelas montanhas como
se as fosse cortar ao meio e como se despedaçasse as rochas. Deveria ter
sido uma grande manifestação e um grande sinal. Se isso acontecesse
nos dias de hoje, provavelmente todo o mundo teria imagens do
acontecimento em poucos minutos! Todos os Cristãos, provavelmente,
diriam que era uma grande manifestação de Deus! Contudo, as
Escrituras dizem outra coisa. Dizem que Deus não estava no vento.
Depois disso, houve um tremor de terra. Mas, nem ali estava o Senhor.
De seguida, um grande fogo vindo do Céu, mas, nem ali se encontrava
Deus. Mesmo que fossem chamas enormes e devoradoras, Deus não
seria achado nelas. Não representavam Deus. Depois de o fogo apagar-
se, houve uma brisa leve e uma voz suave. Foi quando Elias escondeu o
seu rosto.
Consegue ver a lição que este incidente contém para nós? Nós
procuramos sempre coisas grandiosas e excelentes e desprezamos,
entretanto, as coisas suaves e gentis. E sendo verdade que Deus se
manifesta dessa forma humilde e simples, Ele acaba por passar por nós
sem nos darmos conta disso.
Como somos apressados para testemunhar do Espírito de Deus quando
não existe nada do Seu fruto em nossas próprias vidas! Como estamos
acostumados a exigir de Deus coisas grandiosas! Mas, se quisermos
experimentar as coisas grandiosas de um avivamento genuíno,
precisamos armar-nos com o pensamento que todas as grandes coisas
começam sempre pequeninas.
Quero contar-lhes a história de um certo homem que orava
intensamente juntamente com sua esposa por um avivamento em seu
distrito. Oraram durante muito tempo.
“Senhor, dá-nos um avivamento, quebranta os corações das
pessoas e traz o povo a Ti! Concede uma fome nas almas das
pessoas por Tua Palavra!”
Apesar da sinceridade das suas orações, tudo permanecia na mesma e a
dureza das pessoas permanecia intacta. Não foi fácil para eles, mas,
apesar dos desapontamentos, continuaram pedindo, confiando que
Deus, em breve e em Seu tempo, atenderia os seus pedidos. No final, a
luz raiou e Deus começou a operar em seu meio. Começou a trabalhar
da maneira que o faz sempre: não com os criminosos e os pagãos de
fora, mas, com quem ora! Começou a revelar-lhes as tais coisas
insignificantes a que não davam muita atenção. Primeiro, foi
necessário colocar ordem na casa de Deus e arranjar as vidas daqueles
que pediam avivamento.
Como ficaram felizes quando a primeira pessoa veio para converter-se!
A esposa preparou uma refeição digna de rei! Alegraram-se e
agradeceram a Deus pela primeira alma convertida! E assim
continuou, dia após dia. Deus ia juntando almas de muitas pessoas que
se iam salvando a cada dia. Mas, três meses depois, as coisas tornaram-
se demais para a esposa. Um dia, o marido chegou com dez pessoas em
casa. Todos queriam conhecer Jesus. Ela olhou pela janela para ver
quantos convidados tinha à porta.
“Por que razão o meu marido traz tantas pessoas para casa
de uma só vez?” Murmurava. “Não posso continuar assim!
Estou demasiadamente cansada para receber tanta gente de
uma só vez. Agora, preciso cuidar da comida, servir as
pessoas e, depois, ainda preciso limpar tudo! Não aguento
mais!”
Quando o esposo entrou e viu a expressão no rosto dela, chamou-a e
disse:
“Vamos conversar um pouquinho no quarto?”
Ajoelharam-se e oraram:
“Jesus, perdoa-nos por havermos orado por um avivamento.
Por favor, pára com a Tua obra. As coisas estão a começar a
ser demais para a minha esposa!”
Quando a esposa ouviu aquela oração, arregalou os olhos com
estupefação e converteu-se logo ali do seu pecado!
Tocou no ombro do marido e disse:
“Meu querido esposo, não ores mais assim! Pára!” Ele calou-
se e ela orou. “Jesus, perdoa-me! Peço do fundo do meu
coração que me perdoes!”
Humilhou-se e implorou o perdão de Deus de todo o seu coração. E,
assim, o Senhor pôde prosseguir com a Sua obra. O casal tornou-se
instrumento na salvação de muitas pessoas.
Eu visitei, pessoalmente, aquele casal uns tempos mais tarde. Posso dar
testemunho de como recebem as pessoas e de como a senhora se tornou
uma fonte de paz e de calma vinda do Céu. Mais parecia um
anjo do que pessoa. Era dedicada à tarefa que lhe cabia sempre que
recebia pessoas. Era uma fonte de simpatia e de amabilidade. É bem
possível que Deus não ouça as nossas orações sobre avivamento porque
Ele vê que não passam de palavras vazias, por muito emotivas que
sejam. Ele bem sabe que as coisas se tornarão insuportáveis para nós
assim que chegue o avivamento. Ele não deseja murmuradores
queixosos em Sua obra. Sempre que Deus começa a operar, nunca nos
devemos esquecer que tudo tem um preço. É verdade que um
avivamento custará muito a quem trabalha nele. É melhor que faça as
contas primeiro e contabilize tudo que vai perder ou deixar de fazer.
Será que você irá ser fiel até ao fim numa situação de avivamento real?
Não podemos ignorar o fato que Deus nos sonda e julga desde o lugar
mais fundo do nosso coração. Deus nunca foi e nunca será tolo dando
uma bênção à qual não iremos ser fiéis. Se formos desistir logo nos
passos iniciais, Deus saberá e recusará a bênção. Jesus bem sabe quais
são aqueles que são capazes de dar continuidade à Sua obra e de levá-
la até ao fim. Ele bem sabe de quem pode esperar certas coisas e de
quem não pode esperar. O mais importante é tornarmo-nos pessoas
fiéis em tudo que fazemos ou pensamos. Deus não nos levará por
caminhos fáceis quando pedimos um avivamento. Ele deseja, somente,
que possamos permanecer fiéis onde quer que nos encontremos.
Deus deseja ardentemente trabalhar através de qualquer um de nós.
Para sermos usados por Ele poderosamente, não necessitamos ser
pastores ou pessoas bem formadas. Talvez você se encontre na mesma
situação que um menino se encontrava, do qual ouvimos falar quando
Jesus multiplicou os seus peixes e o pouco pão que tinha. Não guardou
os peixes e o pão para si. Pode ser que seja você a pessoa através de
quem Deus deseja trazer o Seu fogo para consumir o pecado da sua
cidade ou bairro. Imagine Jesus diante de si dizendo algo assim: “Com
o pouco que tens, os teus pequenos pães e peixinhos, Eu poderia
alimentar uma multidão inteira e trazer abundância espiritual a
muitos famintos e perdidos. Através de ti poderia ter chegado o tal
avivamento se apenas te tivesses mostrado fiel no pouco que tinhas.
Mas, não foste fiel no pouco e mostraste que não estavas disposto a
tornar-te fiel no muito. Não estavas disposto a dar aos outros do pouco
que tinhas! As pessoas à tua volta passam fome porque não
multipliquei nada”.
Não devemos pedir coisas grandiosas, mas, por misericórdia para nos
tornarmos fiéis nas coisas menores e insignificantes. Só assim Deus
poderá conceder-nos coisas maiores e de maior significado - até mesmo
sem pedirmos por elas. Tudo que é grande começou sempre pequeno.
Seja totalmente fiel a tudo aquilo que Deus lhe deu e a tudo que já
possui. Não importa o quão pequena a tarefa é - ela trará uma bênção
muito grande. Os Zulus dizem: “A bênção de Deus não provém do fato
de podermos estar diante de multidões e de pregarmos a verdade, mas,
no fato de podermos ser fiéis no emprego e em tudo aquilo que Deus
entregou em nossa mão, seja grande ou pequeno”.
Lembro-me, ainda, quando viajei para a Europa em 1974. Foi mais de
cem anos depois dos meus antepassados terem vindo para a África do
Sul. No primeiro culto, havia somente duas pessoas. Preguei para
aquelas duas pessoas que vieram. No culto seguinte, já estavam mais
três pessoas: dois adultos e uma criança. Eram cinco no total. Quando
vi que o número havia aumentado para cinco, fiquei muito feliz e pude
ver que Deus estava fazendo a Sua obra. Agradeci a Deus por aquelas
vidas. Orei por aquelas pessoas com um coração grato. Deus sempre
me ensinou a estar agradecido pelas coisas menores e de menor valor
aos nossos olhos. Se conseguirmos ser assim, veremos grandes coisas
sendo feitas por Jesus ao nosso redor. Logo veremos como Jesus
abençoa a menor coisa e a multiplica a cada dia sempre que a
fidelidade é multiplicada.
É isso que experimentamos, muitas vezes, no tocante às coisas
materiais e às provisões de comida na nossa missão. Uma certa vez,
tivemos cerca de três mil visitantes. Contudo, tínhamos pouca comida.
Tínhamos apenas algumas poucas panelas com provisões. As mulheres
que estavam servindo na cozinha reuniram-se à volta das poucas
panelas e oraram:
“Senhor, agradecemos-Te pela comida que temos. Damos
graças que ainda temos esta pouca comida. Pedimos que sejas
Tu mesmo a distribui-la e a servi-la. Podes abençoar estes
alimentos que temos? Amem!”
Depois disso, começaram a servir. Parecia que a comida não diminuía
nas panelas. Todos ficaram satisfeitos. O que sobrou ainda chegou para
o dia seguinte. Como podem ver, aquelas pessoas simples estavam
agradecidas a Deus pelo pouco que tinham ao seu dispor.
Nós, na missão, desejamos muito poder continuar desta maneira.
Queremos andar nos caminhos do Senhor até ao fim. É o caminho mais
maravilhoso que existe, aquele onde o menor é supra fiel à coisa mais
insignificante. É esse o caminho do poder de Deus.

ALGUNS PENSAMENTOS SOBRE AVIVAMENTO

Sempre que falo sobre avivamento, faço-o com um desejo intenso em


oração para que não apenas me expresse corretamente e seja ouvido,
mas que, ao mesmo tempo, esse avivamento comece em seu coração de
imediato. Um avivamento não é algo que se possa agendar como se faz
com campanhas de evangelização. Tal como o nascer de novo é um
dom do alto, também qualquer avivamento que seja genuíno é um dom
de Deus. A verdade é que durante as campanhas de evangelização, o
homem pode ser o foco central das atenções. Mas, num avivamento
real Jesus é o centro de todas as atenções. Ninguém tem como evitar
isso. Todas as pessoas ficam fora da relevância, nos bastidores. Num
verdadeiro avivamento onde o Espírito Santo opera sem restrições, as
pessoas raramente dão atenção ao que acontece à sua volta, aos
milagres e outras coisas que vão ocorrendo espontaneamente, mas
ficam totalmente focalizadas na pessoa de Jesus. Ainda que aconteçam
muitos milagres e sinais, é isso que acontece sempre. Tudo é feito por
causa de Jesus e através d’Ele. Ele é o ponto central. Todo o resto é
secundário, ainda que aconteçam muitas coisas secundárias. Podemos
afirmar com toda a certeza que só existe obra verdadeira através de
qualquer pessoa chamada para a Sua vinha quando essa pessoa se
encontra cheia do Espírito Santo e do Seu poder e quando o seu
coração esteja todo ao serviço de Jesus. Outra característica de um
avivamento verdadeiro é que as pessoas lidam de forma fulminante
contra tudo que é pecado em suas vidas e que elas começam a estar de
acordo com as Escrituras. Isto significa que as vidas tornam-se
celestiais e agradáveis a Deus.
Não desejo repetir as coisas que experimentamos durante este
avivamento na África do Sul. Mas, existe um fato relevante que desejo
frisar: o nosso avivamento começou num estábulo de vacas. O estábulo
estava sujo e cheio estrume de vaca e até as paredes se encontravam
sujas. Para tornar o lugar limpo, precisei ir buscar alguns prisioneiros,
na prisão local, para o limparem, os quais faziam trabalho
comunitário. Enquanto acontecia isso, Deus tomou aquilo como lição e
figura para as nossas próprias vidas. Na altura, eu ainda não entendia
a lição. Mas, com o decorrer do tempo, a lição ficou clara. Quando
desejamos um avivamento, devemos limpar os nossos estábulos em
primeira mão. Todo o estrume que o pecado deixou e até seu cheiro
deve ser retirado de dentro das nossas próprias vidas antes que possa
haver um avivamento. Os nossos corações, motivos e vidas devem ser
totalmente e inquestionavelmente limpos. Deus não viverá numa
pocilga, num coração de gente suja. Num estábulo também existem
serpentes, ratos e outros bichos repugnantes e nojentos. Devem ser
todos removidos também. Nós limpamos as paredes todas e pintamos
as paredes de branco novamente. Isso serve de imagem para todos
aqueles que desejam ter um avivamento. A limpeza é a coisa que
precede qualquer avivamento. Se não estivermos integralmente
dispostos a passar por uma purificação total e pessoal para podermos
construir a nossa casa espiritual, podemos orar por avivamento até à
nossa velhice que ele não acontecerá.
Um avivamento genuíno começa sempre através da operação do
Espírito Santo no poder da ressurreição de Jesus. Vivemos numa era
onde se fala muito da terceira pessoa da Trindade, nomeadamente, no
Espírito Santo. Não sei se alguma vez se falou tanto no Espírito Santo
quanto agora, nesta era. As pessoas perguntam mais e mais e estão
cada vez mais interessadas no tema. Contudo, é a minha convicção
pessoal que nunca em toda a história houve tanta ignorância e tantos
mal-entendidos sobre a obra e a pessoa do Espírito Santo quanto
agora. É uma situação triste e deplorável a que vivemos nos dias de
hoje. É algo admirável e incrível de ver como as pessoas vão de norte a
sul atrás deste e daquele, todas tateando em trevas densas e afirmando
que a Bíblia é a sua luz. Não dá para entender como é que se tornou
possível haver tantos Cristãos com a Bíblia à frente dos olhos e não
terem olhos para ver. Nunca existiu tanta infertilidade e tanta falta de
conhecimento verdadeiro quanto hoje sobre a verdadeira obra do
Espírito Santo. Ainda não entendemos bem o significado daquilo que
Jesus disse em João 16:8, sobre o que aconteceria quando o Espírito
Santo, o Consolador, viesse até nós de forma clara. É claro pelas
Escrituras que primeiro irá convencer do pecado e depois da justiça e
do Juízo de Deus. Se a Palavra de Deus é realmente o fundamento de
tudo que pregamos e somos e se vivermos completamente de acordo
com ela, saberemos facilmente distinguir entre todos os espíritos que
andam reinando e operando nas igrejas atuais. Sempre que se ouvir
falar de algum avivamento, poderemos facilmente verificar se vem de
cima ou de baixo – se vem de Jesus ou do diabo!
Deus revelou há muito tempo atrás ao Seu profeta Joel que derramaria
o Seu Espírito sobre toda a carne. E sabemos que quando Deus decide
uma coisa, Ele a executa. Contudo, sabemos que o diabo não ficará
quieto a esse respeito, olhando descansadamente quando Deus opera.
Podemos ter a certeza que fará alguma coisa contra qualquer
avivamento que seja genuíno. Em primeiro lugar, irá tentar opor-se a
ele. Tentará de tudo para destruir ou impedir a obra de Jesus. Se não
conseguir, muda de tática e começa a imitar a operação do Espírito
Santo. Ele juntar-se-á à verdade para miná-la de alguma forma. Ele é
sobejamente conhecido como o anjo da luz. Devemos levar isso em
conta sempre que existe um aviamento, para não falarmos mal daquilo
que Deus faz porque o diabo a imita de outra forma. Devemos estar
atentos, tanto os que trabalham no avivamento quanto os que olham de
fora para ele.
Se o Espírito Santo estiver verdadeiramente no terreno, operando, a
primeira coisa que ficará clara é o fato de as pessoas começarem a
abrir os olhos para os seus próprios pecados. Jesus revela-lhes toda a
Sua santidade e toda a Sua justiça e, todos aqueles cujos olhos são
abertos, ficam convincentemente avisados sobre o Juízo de Deus.
Vemos claramente que toda a operação de Deus não tem como
finalidade as curas dos cegos e não agrega qualquer valor aos milagres
e outros acontecimentos simultâneos ao avivamento. O diabo tem como
fazer qualquer um dos milagres que Jesus executa. A bíblia alerta-nos
claramente para a vinda do Anticristo e de como ele fará muitos
prodígios e sinais. Irá, com certeza, induzir multidões ao erro e irá
prendê-las no engano. Lemos mesmo que a Palavra de Deus avisa
claramente que “muitos Me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não
profetizamos nós em Teu nome? E em Teu nome não expulsamos
demônios? E em Teu nome não fizemos muitas maravilhas?” Então
virá a resposta que desapontará a muitos: “Nunca vos conheci;
apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade”, Mat.7:22,23. Na
primeira parte destes versículos vemos que Jesus fala dos milagres
noutra perspectiva. Jesus vê-os com outros olhos. Não vê os milagres
da mesma maneira que vemos. Todos os que pecam terão como
herança as trevas eternas, mesmo tendo sido profetas, milagreiros ou
pregadores da Palavra aqui na terra durante todo o seu tempo de vida.
A Palavra de Deus não encobre qualquer desculpa para o pecado. Hoje
vivemos uma época onde se busca muito o milagre. É verdade que
acontecem muitos milagres quando Deus está realmente presente entre
nós. Mas, a maior verdade e o sinal mais evidente e mais marcante é e
será sempre a transformação nas vidas das pessoas que escutam e
recebem a verdade. Sempre que é Deus quem opera realmente, as
coisas decorrem na maior ordem que possamos imaginar. Não existe
maior ordem que aquela onde Deus opera verdadeiramente. E, nessa
ordem, a parte espiritual está sempre em primeiro lugar. Deus não tem
culpa que as pessoas incrédulas e duras admirem-se com milagres e
sinais. Sempre que Jesus opera verdadeiramente, Ele abre os olhos
espirituais das pessoas e Jesus considera esse o maior e, talvez, o único
verdadeiro milagre digno desse nome. A maior maravilha é a cura do
espírito morto do homem. É a isso que se referem as Escrituras quando
dizem que seremos sarados pelas Suas pisaduras. A ressurreição
espiritual é o cumprimento dessa parte das Escrituras. Somos curados
dos nossos pecados e todos os nossos males espirituais, por grandes que
sejam. Esses males são piores que os males físicos. São os males
espirituais que levam as pessoas a uma condenação eterna.
Quando eu falo de avivamento, o único significado que dou a essa
palavra é que Jesus realmente reina na alma e no coração da pessoa
sem qualquer sombra de dúvida. Quando isso acontece de forma clara
e evidente, podemos dizer que estamos perante uma vida cheia do
Espírito Santo. Com isso não quero afirmar que é necessário que se
manifeste qualquer tipo de dom como prova que a pessoa foi cheia do
Espírito. Não sou dessa opinião e vimos isso no terreno. Todo aquele
que se encontra realmente cheio do Espírito Santo, revela claramente a
própria vida de Jesus, por dentro e por fora. Quando olhamos para
isso sob essa perspectiva, podemos afirmar que as línguas estranhas
que afirmam ser sinal de alguém estar cheio do Espírito não constitui
prova e nem pode constituir. Se o Espírito nos preenche de verdade,
não apenas toca as nossas línguas e a nossa maneira da falar, mas, vai
mais fundo até a nossa essência e coração. Toca na nossa maneira de
pensar e de ver tudo à nossa volta, os nossos olhos e toda a nossa
existência. Os nossos corpos e espíritos tornam-se verdadeiros templos
de Deus, tal e qual a Palavra nos ensina. Toda a nossa existência é
renovada e começa a espelhar toda a vida de Jesus de forma fiel e
exata. Todo aquele que estiver verdadeiramente cheio do Espírito
manifestará uma enorme semelhança a Jesus em todos os aspectos da
sua vida e todos verão nele a vida de Jesus estampada tal e qual ela
realmente é. Tais pessoas experimentam a realidade da vida de Deus
vinda dos céus.
Talvez você se pergunte como é que tal coisa é possível e o que é
experimentar essa realidade na vida prática. A Bíblia diz que
poderemos distinguir o bom do mau pelos frutos que brotam. Tal como
qualquer árvore se pode conhecer e distinguir pelos frutos que dá, a
vida Cristã só pode ser provada e garantida pelos frutos de santidade
que brota na vida diária.
O que é o fruto do Espírito? A primeira coisa que é mencionada em
Gal.5:22 é o amor. Será que conhecemos este amor que Deus é e dá de
forma real, prática e clara? O amor não se ensoberbece, não se sente
orgulhoso, não trata com leviandade, não fere as outras pessoas por
meio de palavras ou ações de amargura e não guarda uma lista de
mágoas contra ninguém. O amor é reconhecido, principalmente, por
nunca buscar os seus próprios interesses, mas, os dos outros. Amor não
fala grosso com ninguém e não deseja o mal de ninguém. O amor não
se cansa e nem desiste. Mesmo que todo o resto passe e termine, o amor
permanece. Será que você possui esse tipo de amor?
De seguida, a alegria também é mencionada como fruto do Espírito e é
por esses tipos de frutos que o mundo conhecerá que pertencemos ao
Céu e a Jesus e não à terra. Você possui esta alegria sem fingimento? A
Palavra de Deus diz: “Regozijai-vos sempre”, 1Tes.5:16. Se a alegria de
Deus é realmente vista em nós, segue a paz de Deus que não é igual à
que o mundo dá. Logo, segue-se a paciência, bondade, mansidão,
temperança, humildade, simpatia, autocontrole. Estes são os frutos que
são experimentados apenas por aqueles que são realmente e
veridicamente cheios do Espírito Santo de Deus. Se estes frutos não
forem vistos em nossa vida, como poderemos, ainda, imaginar que
somos cheios do Espírito?
Cristão que me ouve, escute: a Palavra de Deus tornou-se
completamente nova desde que o avivamento começou entre nós. A
Bíblia tornou-se um livro muito importante para toda a minha
existência. Dentro de qualquer avivamento, a Bíblia torna-se muito
querida e muito amada. Os crentes podem ficar a lê-la dia e noite e a
identificarem-se com ela. Quando isso acontece, os jornais, as revistas e
outro tipo de literatura não podem, de maneira nenhuma, tomar um
lugar paralelo no coração do Cristão. Nenhum tipo de literatura tem a
capacidade de tornar-se como a Bíblia dentro de qualquer avivamento
genuíno. Por essa razão, não é de estranhar que Jesus (que também é a
Palavra) tome o lugar principal no coração de quem crê. Nada mais e
mais ninguém tem como tomar esse lugar em qualquer coração que
esteja realmente cheio do Espírito Santo. Nem pai e nem mãe, nem
esposa e nem filho se torna importante e tem lugar de relevo no
coração que transborda da plenitude de Deus. Não são tão queridos
como Jesus em tais corações. Ele é o princípio e o fim, o primeiro e o
último - até em nossos corações. E isso não acontece apenas na teoria,
mas, na totalidade de toda a vida prática de cada homem nascido de
novo em total sinceridade e fidelidade. Em Filipenses, Paulo afirma que
“para mim, a vida é Cristo!” Ali não diz que Cristo é dono apenas do
Domingo ou da manhã quando estamos em nossa meditação diária.
Não, Ele torna-se, realmente, toda a nossa vida e não apenas um Deus
do nosso sentimento ou entendimento. Ele é o ponto central de toda a
nossa existência, o mais que tudo do nosso ser e qualquer outra coisa só
pode tomar um lugar secundário ou menos importante. Todo o resto
torna-se uma questão menor, um detalhe sem relevo e sem importância
de maior.
Na nossa opinião, é importante um cristão permanecer no lugar onde
se encontra. É precisamente lá que deve tornar-se uma Luz. Toda a
pessoa deve ser guiada pelo Espírito e ser colocada onde Deus mostra.
Não gostamos de ver Cristãos que parecem borboletas, os quais andam
de flor em flor. No tocante a nós, não apreciamos muito que andem de
igreja em igreja, de um lugar para outro como se o lugar fosse
importante para se viver a vida de Deus. Cremos que cada pessoa tem
um chamado especifico para cumprir, o qual deve ser-lhe delegado por
Deus. Mas, antes disso, a pessoa deve provar-se fiel naquilo que tem em
mãos para executar fielmente. Contudo, mesmo que uma pessoa afirme
que se encontra fazendo as coisas que Deus lhe entregou para fazer,
ainda assim, ‘espiamos’ a sua vida para ver se mostra todos os frutos
do Espírito. Só dessa maneira podemos verificar e comprovar se a
pessoa é realmente cheia do Espírito de Jesus e se a sua vida está
completa ou é uma mera imitação. Só assim saberemos com certeza se
foi Deus quem realmente guiou a pessoa daquela maneira que afirma
ser a vontade de Deus. Já aconteceu, entre nós, qualquer pessoa dar
frutos bons dentro da sua própria congregação sempre que vive bem
com Deus. Só assim nos regozijamos com a obra alcançada. Alegramo-
nos porque podemos comprovar o fato de ter havido uma
transformação genuína sempre que retornam às suas congregações de
origem. Os problemas entre branco e negro desaparecem e não deixam
rasto. Alemães e ingleses tornam-se irmãos inseparáveis. Negros de
raças diferentes (os quais antes odiavam-se) reúnem-se em total
harmonia, com o amor de Cristo a ser claramente visto e
experimentado entre eles. As paredes do apartheid e da separação
racial não resistem a nenhum avivamento genuíno. As cores da pele e
dos olhos deixam de ser vistas. O mais bonito de ver é quando até entre
igrejas deixa de haver separações de raça ou separações doutrinárias
para se apegarem à verdade de forma clara e transparente. As
separações entre igrejas são as piores formas de segregação que
existem. As diferenças entre igrejas já chegaram a dividir nações.
Havia um certo homem de Deus na América. Era um advogado, o qual
antes ria-se de Deus e pensava mal de quem cria n’Ele. Não queria
nada com o evangelho. Um dia visitou uma igreja onde as pessoas
suplicavam por um avivamento. Na semana seguinte, tornou a haver
uma reunião de oração na qual se tornava a pedir por avivamento. O
homem em questão tornou a assistir à reunião. Depois de uma terceira
vez onde as mesmas pessoas oravam pelo mesmo avivamento, o pastor
perguntou se não podiam orar por ele. Ele respondeu: “Não creio,
pastor”. Todos ali presentes certamente pensaram: “Somente um
ímpio muito orgulhoso poderia rejeitar uma proposta destas!
Imaginem! Nem deixa alguém orar por ele!” Mas, o advogado
continuou: “Não desejo que orem por mim pela razão seguinte: eu já
vim a estas reuniões três vezes e todas as vezes pedem a mesma coisa. E
sempre que chego aqui verifico que nenhuma das vossas orações foi
atendida. Eu sou realmente um grande pecador e nenhum grande
pecador deveria rejeitar tal oferta, mas, não vejo que as vossas orações
estejam sendo atendidas. Qual seria o proveito de algum de vós orar
por mim?”
Uns tempos depois, o mesmo advogado converteu-se. Começou por
limpar a sua própria vida em primeiro lugar e a trazer tudo para a luz.
Depois, Deus deu-lhe um coração quebrantado. Nos anos seguintes,
percorreu todo o país e dava ênfase ao fato de todas as pessoas
necessitarem urgentemente de se reconciliarem com Deus tirando todos
os pecados de suas vidas e cidades. Milhares de pessoas chegaram a
conhecer Deus por causa da sua conversão genuína.
Um dia, cada um de nós terá de comparecer diante de Deus para
sermos julgados. Pensem só se Ele nos disser algo assim: “Meus filhos,
Eu bem quis fazer essa obra através de vocês, mas, as vossas
iniquidades e os vossos pecados impediram-Me de fazê-lo. Por causa
disso o Meu Espírito não pôde operar”. A Bíblia diz para nunca
entristecermos o Espírito. Porque a Bíblia diz isso, fica bastante óbvio
que o perigo de isso acontecer é real. Se, realmente, desejamos um
avivamento genuíno e se desejamos que Deus, realmente, opere pelo
poder do Espírito através de nós, então precisamos purificar as nossas
vidas para que fiquem sem mácula e sem mancha. Quando foi a última
vez que você limpou os seus pecados? Imagine-se a viver dentro de uma
casa que nunca foi limpa e arrumada. Logo, veja se será possível que o
Espírito de Deus, que é Santo, poderá viver num templo desordenado e
sujo! Existem pessoas que demoram anos a limpar as suas vidas!
Algumas levam anos até se decidirem! Entretanto, reina a amargura,
as mágoas, as inimizades, a falta de reconciliação, a preferência de
pessoas, a duplicidade de coração e outras coisas mais. E isso tudo num
coração no qual é suposto Deus estar vivendo e sentindo-se à-vontade
para poder trabalhar e operar tranquilamente! Podemos ter a certeza
que não será o pecado do meu irmão ou de qualquer outra pessoa que
entristecerá o Espírito em minha vida! Só os meus próprios pecados
têm esse poder de incapacitar-me espiritualmente. Somente os meus
pecados podem impedir o Espírito de operar. Já contei aqui tudo que
se passou comigo pessoalmente. Eu orava intensamente por um
avivamento enquanto a minha vida estava suja e impura. A minha vida
pessoal negava a Deus e entristecia profundamente o Espírito Santo.
Quando me apercebi disso, ainda fui a tempo de humilhar-me diante
de Jesus para limpar todo tipo de sujeira que existia em mim. Depois
disso, Deus abriu os céus e derramou o Seu Espírito Santo sobre nós.
Foi o inicio do avivamento que ainda hoje perdura.
O evangelista americano, D L Moody, um dia disse: “Para Deus,
nenhum tipo de terreno é duro demais ou difícil demais se as nossas
vidas forem achadas puras e limpas de tudo que é pecado”.
Desde que experimentamos este avivamento em nosso meio, creio de
todo o meu coração que o mesmo Deus que nos enviou o Seu Espírito
pode fazê-lo em qualquer parte do mundo sob quaisquer
circunstâncias. Se Deus pode operar entre um povo profundamente
preso e enraizado nas teias da feitiçaria e do espiritismo, um povo que
ama e adora outros deuses e outros espíritos, cheios de incredulidade e
de sentimentos de guerra, ódio e rancor, então, não duvido
minimamente que Deus possa fazer o mesmo entre vocês que me
escutam. No primeiro dia que o Espírito Santo foi derramado entre
nós, eu disse para mim mesmo: “Agora, eu creio que um grande
avivamento é possível mesmo na Rússia onde os crentes são duramente
perseguidos pelo comunismo. Não existe nada impossível para o
Espírito de Deus. Não existem barreiras e nem muros que possam
impedir Deus de operar!”
Eu não sei se algum dia nos iremos encontrar novamente. Mas, de uma
coisa estou certo: todos nós iremos comparecer diante do Juízo de
Deus. Ali será revelada a maneira que vivemos aqui na terra e será
visto tudo aquilo que fizemos ou deixamos de fazer. Naquele dia, serão
abertos os livros e toda a nossa vida será manifestada diante dos céus e
da terra. Não haverá nada que ficará encoberto, pois, os livros serão
todos abertos. Será que nos envergonharemos naquele dia? Ou aquele
dia será grande motivo de alegria e de júbilo? Em Luc.12:2,3 está
escrito: “Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem
oculto, que não haja de ser sabido. Porquanto tudo o que em trevas
dissestes, à luz será ouvido; e o que falastes ao ouvido no gabinete, sobre
os telhados será apregoado”. Que Deus possa estender a Sua mão de
misericórdia até si quando você buscar a Sua face. E quando estiver em
frente de Deus, que seja Ele a dizer: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre
o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu
Senhor”, Mat.25:21. Amem.

EPÍLOGO
Este livro, O VERDADEIRO AVIVAMENTO COMEÇA POR TI, é
uma compilação de relatos feitos por Erlo Stegen ao vivo e, também, de
alguns sermões de há muito tempo. Desde então, a obra cresceu
fenomenalmente e ainda cresce sem parar.
Erlo é co-ajudado por mais de 200 outros missionários e por muitos
outros que se juntaram à obra voluntariamente. Recebem muitos
convites para pregar em todos os cantos do mundo e de congregações
na África do Sul. Existem várias missões na África do Sul,
Moçambique. Alemanha, Suiça, França, Holanda, Roménia, Rússia,
Bélgica e Austrália. Todas essas missões desenvolveram-se através de
uma estreita cooperação com a missão principal na África do Sul,
Kwasizabantu *(cuja tradução é: lugar onde se ajuda pessoas). A sua
missão principal é a pregação do Evangelho.
Nasceu uma escola dentro da missão, também, a qual tem os melhores
resultados de todo o continente africano. Em 1994, nasceu a faculdade
Cedar College of Education, a qual é credenciada e acreditada pela
Universidade do Noroeste da África do Sul. Nasceram e
desenvolveram-se, entretanto, outros estabelecimentos de ensino e de
apoio locais como a Escola Thabita para adultos e, também, escolinhas
e creches para criancinhas. Existem orfanatos para órfãos da Sida
(Aids), um hospital para pessoas em fase terminal, principalmente para
pessoas afetadas com Sida (Aids). Existem mais de vinte outros
projetos, os quais desenvolveram-se para providenciar tudo aquilo que
a missão precisa no seu dia-a-dia, como fábrica de iogurtes, reprodução
de trutas e exportação de água mineral (A’quelle).
A Obra de Deus cresce diariamente e multiplica-se de tal forma que
não é possível contabilizar os acontecimentos. Para mais informações,
pode contactar a missão em:
KWASIZABANTU MISSION
P.O.BOX 252
KRANSKOP
3268
South Africa
Tel.0027-324815700
Fax:0027-324815510
Email: mail@ksb.org.za
Ou pode visitar o sítio na
internet: http://www.kwasizabantu.org.za/

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