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Os Objectivos da Análise Financeira numa organização

Por definição, análise financeira é a capacidade de avaliar a rentabilidade empresarial


tendo em vista, em função das condições actuais e futuras, verificar se os capitais
investidos são remunerados e reembolsados de modo a que as receitas geradas superem
as despesas de investimento e de funcionamento realizadas num dado período de tempo.

A análise financeira de determinada empresa recorre a todas as informações financeiras


históricas produzidas pela mesma em determinada faixa temporal, efectuando uma
avaliação ou estudo da viabilidade, estabilidade e lucratividade de um negócio ou
projecto.

As técnicas utilizadas baseiam-se, fundamentalmente, no mesmo conjunto de


informações económico-financeiras:

 balanço;

 demonstração de resultados líquidos;

 demonstração dos fluxos de caixa.

A técnica mais utilizada pela análise financeira é a que recorre aos rácios, um
instrumento de apoio para sintetizar uma enorme quantidade de informação, e comparar
o desempenho económico-financeiro das empresas ao longo do tempo. Constituem
assim uma base da análise financeira, mas não dão respostas.

O principal objectivo (com base nos documentos produzidos), disponibilizar uma


compreensão mais eficaz e detalhada das informações e dados recolhidos ou
disponíveis, para melhor compreensão de todos os intervenientes.
Em análise financeira nunca podemos de forma convicta defender determinadas
verdades, correndo o risco de nunca serem verdadeiramente absolutas. Determinado
indicador num sector pode indicar um valor positivo, porém em outro sector diferente o
mesmo indicador pode indicar um valor negativo e de tendência oposta. Temos que ter
sempre em consideração que qualquer informação financeira, carece sempre da
verificação dos referenciais contabilísticos e pressupostos comparativos.

Duas metodologias fundamentais no âmbito da análise financeira:

 Verificação de alguns agregados de demonstrações financeiras;

 Cálculo e análise de indicadores económicos e financeiros

Na primeira metodologia é importante destacar a extracção da estrutura de custos e o


peso de cada componente dos custos nas demonstrações financeiras. 

A análise das demonstrações de períodos sucessivos, disponibiliza de forma credível


várias informações sobre tendências na evolução de certos agregados financeiros ou
económicos, possibilitando assim a obtenção de uma visão evolutiva e nunca estática de
exercícios. 

Ao analisarmos segundo a primeira metodologia determinadas peças financeiras, apenas


ficaremos com uma análise baseada em conceitos empíricos e rudimentares, ficando
sempre a necessidade de obtermos uma visão mais aprofundada e ampla da situação
económica e financeira de uma determinada empresa.
Os rácios económico-financeiros são um instrumento prático para resumir um grande
número de dados económicos e financeiros e para comparar o desempenho das
empresas, ajudando-as a fazer as perguntas certas, embora nem sempre tenham a
capacidade para facultar todas as respostas.

Estes  rácios subdividem-se em quatro grandes grupos:

 Rácios de endividamento: importantes para as análises de concessão de


empréstimos junto de entidades financeiras de crédito;

 Rácios de liquidez: utilizados como complemento dos rácios anteriores, para


conhecimento da capacidade da empresa em dispor do dinheiro para o
reembolsar;

 Rácios de rentabilidade: servem para avaliar a eficiência com que as empresas


utilizam os seus activos;

 Rácios de valor de mercado: servem para analisar dados que não constam da
contabilidade da empresa combinando, dessa forma, os dados contabilísticos
com os dados do mercado de capitais.

A correlação entre diferentes rácios podem determinar se a informação fornecida é a


mesma, evitando que se calculem e analisem rácios de forma duplicada. Por outro lado,
quando não há correlação entre rácios, pode obter-se informação adicional se forem
analisados ambos os indicadores. Habitualmente, os valores de balanço são utilizados
nos rácios financeiros e os de demonstração de resultados nos rácios económicos.

Não existe nenhum padrão internacional para os rácios económico-financeiros, pelo que
vale muito mais um pouco de reflexão e de bom senso do que a aplicação cega das
fórmulas. Tem de haver selectividade na escolha dos rácios pois, frequentemente, rácios
diferentes proporcionam a mesma informação, sendo necessária uma base de referência
para permitir a avaliação da situação financeira de uma empresa.

Naturalmente, a Análise Financeira por si só não é suficiente para gerir uma empresa.
No entanto, quando interligada com algumas das tecnologias de informação actuais
(ERP's – Enterprise Resources Planning, que permitem a integração das diversas
actividades empresariais; CRM – Customer Relationship Management, sistema
destinado ao apoio à gestão de relacionamento com clientes; BI – Business Intelligence,
programas integrados para gerar a inteligência empresarial) é possível determinar se os
principais factores de sucesso estão relacionados com o modo como uma empresa está
organizada, como ela selecciona os responsáveis pela tecnologia ou como ela trata os
seus recursos humanos.

Balanço

Num Balanço, o Activo é igual à soma do Capital alheio com a Situação líquida, ou
seja, o Capital Alheio (Passivo) e a Situação líquida (Capitais próprios) financiam o
Activo, logo:

                          Activo = Capital alheio + Situação líquida

Devido às empresas se financiarem com Capitais Próprios e Alheios, o Activo,


normalmente, é maior que o Capital Alheio. Caso não se verifique, ou seja, sempre que
o Activo for inferior ao Passivo (valor do Capital Próprio vai ser negativo), existe
falência ou insolvência técnica da empresa.

Numa óptica financeira, o activo corresponde às aplicações de fundos ou investimento.


Estes bens e direitos da empresa são financiados quer por capitais próprios, quer por
capitais alheios. Por isso, também se designa o 2º membro do balanço como origens de
fundos ou financiamento.
O total das aplicações de fundos iguala, a todo o momento, o total das origens de
fundos, podendo enunciar-se a equação fundamental da contabilidade da seguinte
forma:

 Activo = Passivo + Situação Liquida

 Activo = Capitais Alheios + Capitais Próprios

 Aplicações de Fundos = Origens de Fundos.

Demonstração do Resultado Líquido

Evidencia a formação de resultados num certo período (entre dois balanços), avalia a
situação económica da empresa.

Esta formação de resultados evidencia-se pela síntese dos custos e proveitos em grupos
homogéneos, sendo que:

Resultados = Proveitos – Custos

Proveitos (maior) Custos = Resultado Positivo (Lucro)

Proveitos (menor) Custos = Resultado Negativo (Prejuízo)

De acordo com o POC existem duas formas de elaboração da demonstração de


resultados:

 demonstração de resultados por natureza;

 demonstração de resultados por funções.

Demonstração de Resultados por Natureza


Agrega os proveitos e os custos em grupos homogéneos, consoante a sua natureza.

Resultados Operacionais = Proveitos Operacionais - Custos Operacionais

Resultados Financeiros = Proveitos Financeiros - Custos Financeiros

É de salientar que existe uma distinção nítida entre resultados operacionais e resultados
financeiros. Nos resultados operacionais integram-se os proveitos e custos respeitantes à
exploração, enquanto que nos resultados financeiros consideram-seos proveitos de
aplicações de capital e os custos dos financiamentos, assim como ganhos ou perdas
resultantes de aplicações financeiras.

Resultados Correntes = Resultados Operacionais + Resultados Financeiros

Resultados Extraordinários = Proveitos e Ganhos Extraordinários - Custos e


Perdas Extraordinários

Resultado antes de Impostos = Resultados Correntes + Resultados Extraordinários

Por fim, temos então o Resultado Líquido do exercício:

Resultado Líquido do exercício = Resultado antes dos Impostos - Imposto sobre o


Rendimento Extraordinário

Demonstração dos Fluxos de Caixa (Cash-Flows)


A demonstração de fluxos de caixa deve relatar os movimentos de caixa durante o
período, classificados por actividades operacionais, de investimento e de financiamento,
de forma a proporcionar informação que permita aos utentes das demonstrações
financeiras determinar o impacto dessas actividades na posição financeira da empresa e
nas quantias de caixa e seus equivalentes.

Pode-se dizer que cada um destes itens dá-nos a respectiva comparação:

 Balanço → Posição Financeira

 Demonstração de Resultados → Desempenho

 Demonstração de Fluxos de Caixa→ Alterações na Posição Financeira

Devido ao carácter sintético dos documentos contabilísticos referidos, estes não


respondem por inteiro às exigências da análise financeira. Resumindo, temos como
principais limitações dos documentos contabilísticos, os seguintes aspectos:

 não reflectem valores actuais;

 existem contas para as quais é preciso fazer algumas estimativas;

 enquanto a depreciação do imobilizado é uma prática corrente, a sua


revalorização é normalmente ignorada;

 existem muitas rubricas com valor financeiro que estão omitidas do balanço;

 os diferentes critérios valorimétricos utilizados podem provocar diferenciações


nas várias empresas;

 as normas contabilísticas são muitas vezes ditadas por imperativos fiscais que
reduzem o significado económico-financeiro da informação contabilística.

Fundo de Maneio
O conceito de fundo de maneio pode referir-se a diversos indicadores, pelo que é usual
recorrer-se ao conceito de fundo de maneio líquido ou permanente. Sendo o fundo de
maneio bruto igual ao activo circulante (existências + créditos + disponibilidades), o
fundo de maneio líquido é dado pela diferença entre o activo circulante e os débitos de
curto prazo.

O fundo de maneio líquido pode ser interpretado de duas formas:

 Como a proporção dos capitais permanentes que podem ser alocados para o
financiamento do activo circulante;

 Como a parte do activo circulante que pode ser transformada em meios líquidos
em menos de um ano.

Um fundo de maneio líquido negativo ou nulo é indicador de problemas de


solvabilidade.

Podemos ainda definir o fundo de maneio próprio como os capitais próprios deduzidos
do activo imobilizado líquido. Outra forma de calcular o fundo de maneio próprio é
como a diferença entre o fundo de maneio líquido e os débitos de médio e longo prazo.

A existencia de fundo da maneio (fundo de maneio positivo) pode, exprimir uma


margem de segurança (liquidez aparentemente excessiva) pois, uma determinada
parcela dos capitais permanentes, caracterizada por um grau de exigibilidade de médio e
longo prazo, financia um certo montante do capital circulante total, cujo grau de
liquidez é de curto prazo.

O conceito de fundo de maneio aparece, então, associado ao grau de liquidez das


aplicações de fundos e ao grau de exigibilidade das origerns de fundos.
Regra de Ouro: " O activo imobilizado deve ser igual aos capitais permanentes ou que o
activo circulante deve ser igual aos débitos de curto prazo."

Relação fundamental de tesouraria

A relação fundamental de tesouraria diz-nos que:

Tesouraria = Aplicações de tesouraria – Origens de tesouraria = Fundo de maneio


líquido – Necessidades em fundo de maneio = Tesouraria Activa - Tesouraria Passiva

Sendo as Necessidades em fundo de maneio calculadas pela diferença entre as


necessidades cíclicas (existências, mercadorias e matérias, clientes c/c) e os recursos
cíclicos (dívidas a terceiros a curto prazo relacionadas com exploração).

No que diz respeito ao equilíbrio financeiro, é desejável que a Tesouraria apresente sinal
positivo, ou seja, que o fundo de maneio líquido é mais que suficiente para financiar o
ciclo de exploração.

Uma Tesouraria cujo valor é bastante positivo, poderá ser sinónimo de existência de
demasiado capital ocioso, ou seja, recursos financeiros disponíveis e não aplicados de
forma eficiente, perdendo-se, assim, oportunidades de capitalização que poderão ser
significativas.

Por oposição, uma Tesouraria cujo valor apresenta sinal negativo, é sinónimo de
preocupação, pois a empresa poderá correr risco de crédito.

Definição de Alguns Rácios


Rácios de Rendibilidade: Chama-se rácio de rendibilidade ao indicador (expresso
em %) da relação entre o resultado (lucro ou prejuízo) e as vendas ou uma grandeza de
capital. Podem ter - se assim vários indicadores de rendibilidade. Numa empresa, a
rendibilidade toma três dimensões distintas segundo os objectivos da análise:
rendibilidade comercial, rendibilidade económica e rendibilidade financeira.

Rendibilidade comercial: Está estreitamente relacionada com a política de preços da


empresa e a margem bruta que esta reserva sobre o preço de custo das mercadorias
vendidas.É o Rácio que analisa a relação entre os resultados e as vendas. Consoante o
tipo de numerador, assim se tem uma diferente noção de rendibilidade das vendas.

A Rendibilidade operacional das vendas: É independente da política financeira


adoptada pela empresa (antes de encargos financeiros) e a incidência fiscal resultante da
sua política de investimento (dotações às amortizações), dependendo evidentemente, do
sector de actividade em causa e do grau de integração vertical do ciclo de produção.

Rendibilidade líquida das vendas: Obtém-se a partir da margem líquida obtida pela
empresa após a dedução de todos os encargos.

Rendibilidade financeira: A rendibilidade dos capitais próprios analisa a remuneração


que eles geram. Este rácio pode considerar-se o mais importante em finanças
empresariais. Mede a rentabilidade absoluta entregue aos accionistas. Um bom número
traz êxito ao negócio, tornando fácil atrair novos fundos que permitirão à empresa
crescer, havendo condições favoráveis de mercado, e isso, por sua vez, conduz a
maiores proveitos.É a medida de eficiência privilegiada dos accionistas e investidores.
Rendibilidade Económica: Caso se queira analisar a rendibilidade, separadamente das
decisões financeiras, tem de se recorrer ao rácio Rendibilidade do Activo, que é um
rácio de avaliação do desempenho dos capitais totais investidos na empresa,
independentemente da sua origem (próprios ou alheios): A rendibilidade do
investimento total permite avaliar a eficácia da aplicação de capital na operação. Este é
o melhor indicador para comparações entre empresas. Pode ainda ser comparado com o
custo do capital alheio, podendo concluir-se se o endividamento pesa favorável ou
desfavoravelmente na rendibilidade dos capitais próprios. É um rácio que de avaliação
do desempenho dos capitais totais investidos na empresa.

Rácios de Funcionamento: Os rácios de funcionamento servem para analisar a


eficiência das decisões na gestão dos recursos aplicados. Os rácios de funcionamento
apuram - se em termos. Devem utilizar - se valores médios de balanço de forma a não
serem afectados pelos valores acidentais em determinadas datam do balanço. Estes
rácios só têm sentido se comparados dentro do mesmo sector e entre empresas com
características tecnológicas e de mercado semelhante.

Rácios Rotação do Activo: É o rácio que indica o grau de utilização dos activos. Um
rácio muito elevado pode significar que a empresa está a trabalhar perto do limite de
capacidade. O inverso pode significar subutilização de recurso.

Rotação das Existências: Evidencia os efeitos da gestão ao nível dos armazéns.

Prazo médio de Recebimentos: É o rácio que mede a celeridade com os seus clientes
com que os clientes costumam pagar suas dívidas

Prazo médio de Pagamentos: É o rácio que mede a celeridade com que a empresa
costuma pagar as suas dívidas aos fornecedores.
Rácios Baseados no Mercado: É muito útil ao director de marketing e ao director de
produção, a fim de definirem as suas estratégias e linhas de actuação, conhecerem
respectivamente, os preços e o custo unitário dos produtos concorrentes. O mesmo
acontece com o director financeiro relativamente aos indicadores de mercado. São
rácios fundamentais para todos os investimentos e credores da empresa.

Necessidades de Fundo de Maneio

A noção de Necessidades em Fundo de Maneio está ligada à necessidade de


financiamento do ciclo de exploração.

As Necessidades de Fundo de Maneio (NFM) subdividem-se em:

 necessidades estruturais de fundo de maneio, resultantes da actividade normal da


empresa;

 necessidades temporárias de fundo de maneio, resultantes de factores sazonais


ou conjunturais.

As NFM representam, quando o seu valor é positivo, as necessidades de financiamento


do ciclo de exploração. Quando o seu valor é negativo, representam excedentes
financeiros do ciclo de exploração.

As NFM são um meio de avaliação financeira dos esforços da gestão operacional e


resultam da diferença entre as Necessidades Cíclicas e os Recursos Cíclicos.

NFM = Necessidades Cíclicas - Recursos Cíclicos

Existem 4 Metodologias de Avaliação:


 

 Óptica do Rendimento – Perspectiva de Continuidade e ás vezes perpetuidade


– assenta em pressupostos e é utilizada na generalidade dos negócios e
avaliações;

 Óptica Matrimonial – Perspectiva histórica (estática) avalia os negócios numa


perspectiva de: “como é que isto está e o que é que nós vamos fazer”. P.e.
divórcios; heranças; fusões de empresas;

 Óptica dos Múltiplos de Mercado – Se a acção está boa para comprar ou se


está boa para vender; Serve para empresas cotadas ou para empresas que se
querem quotar.

 Óptica de Lucro Supra Normal – E.V.A / M.V.A utilizados para calcular o


goodwill de uma empresa. Lucro Supra-normal – utilizados para avaliação de
gestão.

PER & PBV

O PER (price-to-earnings ratio ou rácio preço/lucro) é um rácio financeiro, que


relaciona os lucros líquidos da empresa com a sua capitalização bolsista, ou os
resultados por acção com a sua cotação.

Ou seja, o PER é quantas vezes o investidor paga pelos lucros da empresa. Se estes
fossem totalmente distribuídos e não existisse crescimento, seria o número de anos que
o investidor demoraria a recuperar o seu investimento na empresa à cotação presente. É
portanto uma medida de valorização da empresa, especialmente útil para estabelecer a
valorização relativa entre empresas, mas também como medida absoluta da valorização
das empresas, embora nesse caso seja influenciada pelo nível das taxas de juro.

Vantagens do PER
A vantagem mais óbvia é que o PER providencia uma medida de valorização de cada
empresa, mas podemos ainda falar:

 Em situações limite, perante capitalizações bolsistas muito elevadas ou


resultados muito elevados, um PER elevado estará correlacionado com retornos
futuros baixos, pela manifesta incapacidade de crescer fortemente os resultados
e portanto de fazer diminuir substancialmente o PER nessa situação.

 Também PERs muito baixos em situações de pânico de mercado, nas quais não
exista realmente perspectiva de a actividade subjacente diminuir fortemente (por
exemplo, em utilities) tenderão a levar a retornos elevados no futuro.

O PER tem alguns defeitos óbvios:

 Não leva em conta a estrutura de financiamento da empresa, excepto


marginalmente via efeito dos custos financeiros nos resultados líquidos. Quer
isso dizer que uma empresa muito endividada não vê esse facto reflectido muito
negativamente no PER apresentado, sendo que outras medidas baseadas no
enterprise value (EV) reflectirão melhor essa realidade;

 Não leva em conta o crescimento da empresa, que faz com que um PER
aparentemente elevado no presente possa ser um PER baixo no futuro próximo.
Isto é particularmente grave se os resultados que estão a ser utilizados para
calcular o PER forem baixos em termos absolutos, pois nesse caso terão
facilidade em crescer a taxas percentuais muito elevadas;

 Não leva em conta a capacidade da empresa reinvestir os fundos que gera a taxas
elevadas, o que permite crescimento futuro também (ou seja, não leva em conta
o ROE);

 O PER é extremamente enganador na análise de empresas cíclicas, pois estas


tendem a possuir PERs baixos no topo do ciclo (pois começam a descontar o fim
inevitável deste), e PERs elevados (ou mesmo inexistentes devido aos prejuízos)
no fundo do ciclo;

 Se estivermos perante uma empresa em fase de lançamento, com extremo


potencial futuro de geração de resultados mas sem resultados positivos no
presente, ou com resultados baixos, o PER será enganador.

PER do mercado

Podemos também apurar um PER para a totalidade do mercado, que curiosamente


eliminará uma boa parte dos problemas do PER individual, pois torna menos importante
a estrutura de capital de cada empresa (já que falamos da totalidade do mercado) a
menos que estejamos perante um uso abusivo ou demasiado baixo de dívida na
economia em geral. Elimina também uma parte do problema do crescimento, visto que a
prazo a economia e os resultados das empresas têm forçosamente que crescer a uma
média similar (na casa dos 5% nominais).

PBV

O Price-to-book value, PBV ou Price/Book value é um rácio financeiro utilizado para


comparar o capital próprio de uma empresa à sua capitalização bolsista.

Ou seja, este rácio diz quantas vezes um investidor que compre acções da empresa no
mercado paga pelo valor dos capitais próprios da empresa. É uma medida de
valorização tanto absoluta (PBVs elevados podem significar que uma empresa está cara)
como relativa, servindo para comparar empresas no mesmo sector.

Quanto maior o ROE de uma empresa, maior tenderá a ser o seu PBV, visto que um
ROE elevado significa que a empresa consegue remunerar mais fortemente os seus
capitais próprios. Existem no entanto óbvias excepções em empresas cíclicas ou
situações não recorrentes.
Em alguns estudos académicos este rácio aparece invertido, sendo chamado de book-to-
market. Nesses casos temos que levar em conta que rácios baixos equivalem a PBVs
elevados e vice-versa.

Existem estudos académicos que relacionam rácios PBV baixos a retornos superiores no
futuro, porém também existem estudos a indicar uma maior variabilidade dos retornos,
o que se explica porque é entre as empresas com rácios PBV baixos que tendem a existir
situações problemáticas. Não raras vezes empresas vão à falência ainda com book value
positivo (logo imediatamente antes de falir possuirão um PBV muito baixo).

Pode ser necessário corrigir o PBV pela existência de activos intangíveis (que podem ter
que ser descontados). Igualmente, existem situações de PBVs elevados que não levam a
existência de activos que não estão presentes no balanço, como marcas, relações com
clientes, patentes, etc.

Vantagens do PBV

A vantagem mais óbvia é que o PBV providencia uma medida de valorização de cada
empresa, mas podemos ainda falar:

 Estudos apontam para que PBVs baixos são seguidos de retornos acima do
mercado;

 Um PBV muito baixo em situação de pânico de mercado onde os resultados se


mantenham positivos tenderá a ser uma oportunidade.

 O Book Value (Capital próprio) por ser cumulativo, normalmente é positivo


mesmo quando a firma apresenta prejuízos.
 É bastante mais estável que o PER.

 É bastante usado para valorizar firmas com bastantes activos líquidos,


nomeadamente financeiras, bancos e seguradoras.

 É usado para valorizar firmas que pretendem saír do negócio;

 Existem estudos que apontam para uma melhor performance bolsista de acções
com PBV baixo, ainda que com algum risco acrescido, visto que muitas
empresas que caem na falência, primeiro cotam com PBV extremamente baixo
(também porque o valor contabilístico muitas vezes se mantém positivo mesmo
à beira da falência).

O PBV tem alguns defeitos óbvios:

 Não leva em conta a estrutura de financiamento da empresa. Isto significa que


situações de risco elevado com muita dívida podem apresentar PBVs
deceptivamente baixos. Outras medidas baseadas no enterprise value (EV)
reflectirão melhor esta realidade;

 Não leva em conta o crescimento da empresa, que faz com que um PBV
aparentemente elevado represente na realidade uma empresa barata;

 Não leva em conta a capacidade da empresa reinvestir os fundos que gera a taxas
elevadas, o que permite crescimento futuro também (ou seja, não leva em conta
o ROE);

 Não leva em conta os activos não físicos como o capital humano;

 Diferentes convenções contabilísticas reduzem a comparabilidade;

 Inflação e mudanças tecnológicas reduzem a comparabilidade;

 Numa sociedade de serviços e informação, os activos físicos detidos pela


empresa perderam relevância, portanto o PBV também a poderá ter perdido.

 
Bibliografia

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White, J. e D. Fried (2000), The Analysis and Use of Financial Statements,
John Wiley.

História da análise financeira

Hoje, apesar de muitas pessoas estarem desinformadas e não usarem os


métodos para fazer a análise financeira, temos uma gama de estudos e técnicas
que encontramos facilmente em livros, revistas e internet. Mas você sabe
como a análise financeira surgiu? E como ela foi importante no passado?
Iremos falar um pouco sobre isso e sobre como ela evoluiu até os dias atuais.
Pois só assim podemos ter uma noção aprofundada deste método.

Segundo o historiador Marion (2002), a história da evolução da análise


financeira iniciou-se, mais ou menos, por volta de 4000 a.C. Em sua forma
primitiva encontram-se os primeiros inventários de rebanhos e a preocupação
com sua eventual perda. Nesta época as pessoas não tinham uma noção de
cálculo tão avançada como a que temos hoje, nem mesmo moeda para avaliar
suas mercadorias. Existia a troca e os negócios eram feitos através da
avaliação dos próprios negociantes.

Sendo assim esta seria um tipo de análise horizontal, pouco semelhante a que
hoje chamamos de balanço, onde acompanhamos a variação de período a
período de um item. Sendo assim, eram apenas valores relativos, uma vez que
as quantidades não representavam grandezas equivalentes.

Evolução para os dias atuais

Mas no final do século XIX, surgiu o termo análise de balanço, onde os


banqueiros solicitavam as demonstrações às empresas que desejam pedir
empréstimos.

Com o tempo, começaram a existir outras demonstrações para análise e


concessão de crédito, com a demonstração do resultado do exercício,
desenvolvendo-se nos Estados Unidos em 1915, se tornando obrigatória
dentro dos sistemas bancários.

Depois de certo tempo as empresas fizeram uma abertura de capital,


possibilitando a participação de pequenos e grandes investidores como
acionistas, havendo assim a necessidade dos gestores fazerem a avaliação da
eficiência administrativa e o desempenho de seus concorrentes. Desta forma,
foi possível entender assim a situação financeira das empresas, consolidando a
necessidade da análise das demonstrações contábeis.

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