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Atualizado em 13/05/2019 18:35

TRADUÇÃO e INTERPRETAÇÃO
=SEQUÊNCIA DIDÁTICA=

Prof. Rogério G. Santos (2018)


“Proposta metodológica de Tradução e Interpretação de gêneros discursivos em Libras”
TRÊS FASES DA TRADUÇÃO
FRASE ORIGINAL

REDUÇÃO = GRAMÁTICA AINDA EM PORTUGUÊS


• Analisar o gênero – Literário ou não literário? (fidelidade ou liberdade?).
• O principal é “remover” o que não condiz com a gramática da Libras:
• Artigos, preposições e pronomes (atenção), verbos de ligação, preposições
subordinativas, complementos nominais, locuções adjetivas ou adverbiais.

FRASE REDUZIDA
ADAPTAÇÃO = ATENÇÃO ÀS FIGURAS DE LINGUAGEM
• Aqui já destaca-se o “Tópico comentário” (relevância ou foco).
• Dependendo do gênero deve-se ser fiel ou utilizar apenas o sentido/significado.
• Verbos no finitivo, impessoal é uso de Classificadores.
• Flexão de número: singular; para plurais, intensificadores ou classificadores.

FRASE ADAPTADA
TRADUÇÃO = SINTAXE + GRAMÁTICA JÁ É EM LIBRAS
• Verbos com flexão como VER, AVISAR, RESPONDER, PERGUNTAR, AJUDAR
também poderão estar na forma SVC implícita porém com direcionalidade e outras
ENM’s.
EXEMPLO
“Domingo, meus amigos virão para o churrasco de confraternização”
1º REDUÇÃO: (S-V-C) = Artigos, preposições e pronomes, remover com atenção.
“Domingo, meus amigos virão para o churrasco de confraternização”

2º ADAPTAÇÃO: (S-V-C) = Literário ou não Literário? (Sinônim os !)


(À partir de agora devemos usar a convenção de escrita em Libras)
“DOMINGO MEUS AMIGOS VIRÃO PARA O CHURRASCO DE FESTA^CONTATO”

3º TRADUÇÃO: (TÓPICO COMENTÁRIO / FOCO) =


“CHURRASCO DOMINGO FESTA^CONTATO AMIGO (CL + VARIOS) + (CL VIR)”

4º INTERPRETAÇÃO: (TÓPICO COMENTÁRIO) + (CLs) + (ENMS)


RESULTADO FINAL = A sinalização em Libras
ARTIGOS E PREPOSIÇÕES
ARTIGOS QUE DEVEM SER REMOVIDOS: o, a, os, as

PREPOSIÇÕES e CONTRAÇÕES QUE PODEM SER REMOVIDAS:

com, de, da, em, para, por, sob, que, na, da, do, neste, numa, duma

Na Língua Portuguesa a preposição é a palavra que estabelece uma relação entre


dois ou mais termos da oração e é do tipo subordinativa, ou seja, entre os
elementos ligados pela preposição não há sentido dissociado, separado,
individualizado; ao contrário, na Libras o sentido da expressão não é dependente da
união de todos os elementos que a preposição vincula.

As preposições podem introduzir os complementos verbais e nominais na LP que, da


mesma forma, na Libras também não são utilizadas:
VERBOS DE LIGAÇÃO

Os verbos de ligação, também chamados de copulativos, têm a função de


ligar o sujeito e suas características (predicativo do sujeito).

SER = O carro é novo.

ESTAR = João está feliz.

PARECER = Joice parece cansada.

PERMANECER = A moça permanece aflita.

FICAR = Nicole ficou triste.

CONTINUAR = Diana continua feliz.

ANDAR = Cláudia anda nervosa.


OS GÊNEROS TEXTUAIS
Textos literários e textos não literários apresentam diversas diferenças: na forma,
na linguagem, na significação. Principalmente, diferenciam-se na sua finalidade
comunicativa. O texto literário visa entreter o leitor e o texto não literário visa
informar o leitor.

Características dos textos literários:

Função estética, tendo como principal objetivo o entretenimento do leitor.


Função poética e emotiva da linguagem, visando criar expressividade e despertar
sentimentos e emoções no leitor.
Linguagem conotativa e polissêmica, gerando uma multiplicidade de
interpretações. Leva a uma recriação pessoal e subjetiva da realidade.
Utiliza figuras de linguagem e outros recursos estilísticos, apresentado simbologia,
beleza, musicalidade e harmonia.
Exemplos de textos literários:

Poemas; romances; contos; novelas; lendas; fábulas; crônicas; peças de teatro; letras
de músicas; etc.
O GÊNERO LITERÁRIO

Textos não literários:

Possuem função utilitária e referencial, tendo como principal objetivo fornecer


uma informação. Utiliza uma linguagem denotativa e clara, criando objetividade na
transmissão da informação.

Relata fatos reais de forma impessoal e imparcial, não havendo opiniões e juízos
de valor sobre o conteúdo do texto. Não utiliza figuras de linguagem e
outros recursos estilísticos que possam prejudicar a compreensão do
conteúdo do texto.

Exemplos:

Notícias; as reportagens; as entrevistas; as cartas comerciais; os artigos científicos;


os livros didáticos; os manuais de instrução; os dicionários; as enciclopédias; as
receitas de culinárias; as guias de beleza; as bulas de remédios...
ANÁLISE SINTÁTICA

MEUS: Os pronomes possessivos em Libras em geral quando o sujeito da oração está


implícito na sinalização ou ainda, pode ser substituído por uma expressão não manual
(ENM), não devem ser utilizados. Porém, quando sua função tem importância de
especificidade de propriedade ou seja, faz-se necessária a indicação de quem ou para
que é especificamente o foco da oração, ele deverá ser usado.

VIRÃO: A observação para o pronome é também válida no caso dos verbos, sempre
tomando cuidado ao observar a relação contextual; não é uma regra impositiva.

PARA O: O artigo (“O”), como sabemos será simplesmente removido. A preposição


“PARA” normalmente está implícita na sinalização.

DE: Essa preposição, como estabelece apenas uma relação de subordinação entre os
sinais (ou palavras), também não é utilizada em Libras.
CLASSIFICADORES

Os “classificadores” são formas que, substituindo o nome que as precedem, podem vir
junto ao verbo para “classificar” o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do
verbo. Portanto os classificadores na Libras são marcadores de concordância de
gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA.

São também chamados de “verbos em ação” e por isso, comumente confundidos com
“mímica”, porém essa define-se basicamente como um “conjunto de gestos que
acompanham a fala oral; gesticulação”.

Dessa forma a mímica não é um componente gramatical da Língua, é apenas um


recurso da expressão artística, como no caso da dança e se apresenta de várias
formas e estilos, sendo mais conhecido a Pantomima, onde os artistas usam “cara
branca” e se inspiram na figura do Pierrot.

Ao contrário disso, os Classificadores (CL’s) são componentes fundamentais na


comunicação sinalizada pois dão sentido visual às expressões não manuais da Libras
construindo a base gramatical e sintática das línguas de sinais.
TÓPICO COMENTÁRIO

Diferentemente da língua portuguesa, a Libras utiliza frequentemente a chamada


"topicalização“, "tópico comentário“ ou o “foco”, por isso foge ao padrão básico:
S-V-C, passando na maior parte dos contextos para as configurações C-S-V, S-C-V ou
V-C-S, utilizando-se de referências anafóricas (normalmente usadas como
intensificadores) por meio de pontos estabelecidos no espaço de articulação do
enunciado visual.

Esse conceito é também explicado pela teoria da “relevância”:

A Teoria da Relevância pode ser vista como uma tentativa de resolver em detalhe
uma das afirmações centrais de Grice: a de que uma característica essencial da maior
parte da comunicação humana, verbal e não verbal, é a expressão e o
reconhecimento de intenções (GRICE, 1989).

A afirmação central da Teoria da Relevância é a de que expectativas de relevância


geradas por um enunciado são precisas e previsíveis o suficiente para guiar o
ouvinte na direção do significado do falante.
SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

Esse sistema recebe esse nome porque as palavras da nossa língua auditiva-oral são
utilizadas para descrever o mais realisticamente possível a produção da comunicação
em língua de sinais, que é tridimensional e espaço visual.

Vejamos então como se dá a representação dos sinais manuais e não manuais em


Libras, no formato escrito:

1. Toda palavra (léxico) da Língua Portuguesa que possui um sinal equivalente em


Libras será escrita em letras maiúsculas. Exemplos:

Convenção de escrita em Libras


CASA / MORAR PERGUNTAR RESPONSAVEL
Significado em Língua Portuguesa
Casa ou Morar Perguntar Responsabilidade
SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

3. Quando há a execução de dois ou mais sinais em Libras, feitos separadamente,


mas empregados para compor um único significado, as palavras que o compõe são
escritas separadas pelo símbolo “^”.

Convenção de escrita em Libras


CAVALO^LISTRA MEDICO^CRIANÇA CASA^CRUZ
Significado em Língua Portuguesa
Zebra Pediatra Igreja
SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

4. Quando uma palavra não possui ou não há um sinal específico em Libras, ou ainda
quando se deseja denotar nomes próprios (nomes de pessoas, lugares, objetos etc.),
usa-se a “datilologia” e, com isso, cada letra será escrita separada por hifens “-“.

Convenção de escrita em Libras


R-O-B-E-R-T-O U-R-Â-N-I-O M-E-T-E-O-R-O
Significado em Língua Portuguesa
Roberto Urânio Meteoro
SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

5. Quando uma soletração ou datilologia de uma palavra passa a ter função de um


sinal, este é adicionado ao léxico da Libras. Esse processo é chamado de “empréstimo
linguístico”, e a convenção dessa escrita deve ser impressa em itálico.

Convenção de escrita em Libras


N-U-N-C-A A-Z-U-L V-O-V-O
Significado em Língua Portuguesa
Nunca Azul Vovô
SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

6. Em Libras não há desinência para gêneros (masculino ou feminino) ou número


(plurais). Para a composição desses contextos, usam-se sinais com a adição do sinal
de “HOMEM” para “masculino” ou o sinal de “MULHER” para “feminino”, além dos
“classificadores” ou “intensificadores”. Assim, essas desinências de gênero são
substituídas pela escrita do símbolo “@”.

Convenção de escrita em Libras


AMIG@ EL@ ME@
Significado em Língua Portuguesa
Amigo(s), amiga(s) Ele(s), ela(s) Meu(s), Minha(s)
SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

7. Quando um sinal em Libras é acompanhado de uma ENM (Expressão Não Manual)


simultaneamente, estas serão mostradas ao lado do sinal para denotar ideias como:
frases interrogativas (?), negativas (-), exclamativas (!), advérbios de modos, (<)
menor ou (>) maior, ou (+) para um intensificador. (Os símbolos: ? ! + - < > escritas
em “subscrito”, sugestões nossas).

Convenção de escrita em Libras


NOME? ADMIRAR! LONGE+
Significado em Língua Portuguesa
Nome? Admirável! Longe demais.
SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

8. Em verbos que possuem concordância de gênero (pessoa, coisa, animal), usam-se


os “classificadores”. Esses classificadores (sigla que nomearemos CL daqui em
diante) serão impressos em subscrito, especificando o tipo de “classificador” quando
necessário.

Convenção de escrita em Libras


CL pessoa MOVER CL carro MOVER local DOR
Significado em Língua Portuguesa
Uma pessoa moveu... Um carro se moveu... Dor de...
SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

9. Os verbos que apresentam característica locativa ou número-pessoal, mediante


movimentos direcionados, são representados pela palavra correspondente com uma
letra em subscrito, indicando:
a) Variável de lugar: i = ponto próximo à 1º pessoa (p1 grifo nosso)
j = ponto próximo à 2º pessoa (p2 grifo nosso)
k e k’ = próximos à 3º pessoa (p3 grifo nosso)
b) Pessoas gramaticais: 1s, 2s, 3s = (1º, 2º, 3º pessoas do singular)
1d, 2d, 3d = (1º, 2º, 3º pessoas do dual )
1p, 2p, 3p = (1º, 2º, 3º pessoas do plural)
D e E = Direita e Esquerda (grifo nosso)
Convenção de escrita em Libras

1sDAR2s 2sPERGUNTAR3p p3DANDARp3E


Significado em Língua Portuguesa
Eu dou para Você pergunta Andar da direita
você... para eles para a esquerda
SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS

10. Quando um sinal requerer o uso de uma mão específica ou o uso concomitante
das duas, indica-se (md) para “mão direita” e (me) para “mão esquerda”.

Convenção de escrita em Libras


CL pessoa-andar (md) CL pessoa-longe (md) VIR CL pessoa-E ME
IGUAL (md) (me)

Significado em Língua Portuguesa


A pessoa anda muito Veio de lá para outro lado
Coisas iguais
COMENTÁRIOS FINAIS

Lembrem-se!

O ato tradutório ou interpretativo, as escolhas lexicais, o uso ou não de


classificadores ou das expressões facio corporais, são questões de escolhas. Estas,
são pessoais e próprias do sujeito intérprete e dependentes de conceitos linguísticos
existentes nas duas modalidades de língua que são influenciados pela cultura e
vivência deste sujeito.
Além disso, o conhecimento de sua língua materna, neste caso a língua portuguesa,
é quesito fundamental para que o resultado final possa atingir adequadamente seus
objetivos.
Não se aprende ou se ensina uma segunda língua se não conhecemos a nossa
própria língua materna.

Prof. Rogério G. Santos

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