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Parnaíba-PI
Resumo
A presente pesquisa teve como propósito investigar as experiências labo-
rais dos trabalhadores do setor do Turismo que atuam na região do Delta
do Parnaíba em sua extensão piauiense, em especial na cidade de Ilha
Grande do Piauí, Para tanto, nos apropriamos da perspectiva do materia-
lismo histórico dialético. O fio condutor de nossa analise se processa me-
todologicamente no entrelaçamento de fontes escritas e orais. Para isso
utilizamos uma abordagem qualitativa composta com pesquisas biblio-
gráficas e de campo onde identificamos e inserimos nossos sujeitos de
pesquisa através da História Oral. A partir das entrevistas realizadas foi
possível perceber que os trabalhadores da região tem uma relação estra-
nhada com o produto de seu trabalho e devido essa constatação não se
70 percebem enquanto protagonistas do processo de desenvolvimento da
atividade no local.
Palavras-chave: Turismo, Trabalho, Estranhamento, Delta do Parnaíba.
Resumo
The present research aimed to investigate the work experiences of the
Tourism sector workers that operate in the region of Delta of Parnaíba in
its piauiense extension, especially in the city of Grande do Piauí Island
Therefore, we use the Materialist Dialectics Historical perspective. Meth-
odologically, we use the intertwining of written and oral sources, combin-
ing bibliographic and field research where we identify ours study subjects
through Oral History. From the interviews it was revealed that the work-
ers in the region have a relationship estranged with the product of his
work and because this finding does not perceive themselves as protago-
nists of the activity development process on site.
Keywords: Tourism, Labour, Strangeness, Delta of Parnaíba.
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Mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará, Bacharel em Turismo pela Univer-
sidade Federal do Piauí, Licenciada em História pela Universidade Estadual do Piauí.
amssphb@hotmail.com
ISSN 2447-7354
Amanda Maria dos Santos Silva
ISSN 2447-7354
Revista Piauiense de História Social e do Trabalho. Ano I, n° 01. Julho-Dezembro de 2015. Parnaíba-PI
gação tem de apoderar-se da matéria, em (2010, p.3), pois [...] buscamos fontes
seus pormenores, de analisar suas dife- orais porque queremos que vozes, – que,
rentes formas de desenvolvimento, e de sim, existem, porém ninguém as escuta,
perquirir a conexão íntima que há entre ou poucos as escutam”. Dessa forma,
elas”. foram entrevistados três condutores de
Em termos práticos, todo e qual- Ecoturismo que fazem parte da única
quer objeto de estudo é real e efetiva- entidade organizada no segmento, a As-
mente aparece como objeto humano, sociação dos Condutores de Ecoturismo
social e histórico. Portanto, o processo de de Ilha Grande do Piauí-ILHAECOTUR.
conhecimento do objeto não ocorre de
modo direto, imediato ou espontâneo, RESULTADOS E DISCUSSÃO
mas articulado num todo, que só existe Como ponto fundamental neces-
como produto de uma atividade específi- sário para compreender essa investigação
ca e teórica. é necessário destacar o entendimento
Essa análise se torna possível por- Marxiano da categoria Trabalho. Esta
que o método dialético (ANDRADE, 2010, pode ser apresentada enquanto uma re-
p.121) “é contrário a todo conhecimento lação estabelecida entre homem e natu-
rígido: tudo é visto em constante mudan- reza. Seu processo se torna possível à
ça, pois sempre há algo que nasce e se medida que o homem interage, se apro-
desenvolve e algo que se desagrega e se pria e transforma o meio que está inseri-
transforma”. Compreendo ser este o me- do. Nessas circunstâncias dialeticamente
lhor caminho para analisar as contradi- transforma também a si mesmo, como
ções presentes nas propostas de qualifi- nos mostra Marx (2013) “trabalho é um
72 cação aos trabalhadores do setor do Tu-
rismo.
processo de que participam o homem e a
natureza, processo em que o ser humano
A pesquisa que se desenvolve é de com a sua própria ação, impulsiona, re-
cunho bibliográfico, uma vez que, “se gula e controla seu intercambio material
realiza a partir do registro disponível, com a natureza”.
decorrente das pesquisas anteriores, em A partir desse movimento de
documentos impressos, como livros, arti- transformação da natureza, o homem se
gos, teses, etc. Utiliza-se de dados ou de “constrói”, atuando sobre a natureza
categorias teóricas já trabalhados por externa a ele, modificando-a, enquanto
outros”. (SEVERINO, 2007, p. 202). simultaneamente tem sua própria natu-
Foram realizadas ainda pesquisas reza modificada (Marx, 2013). Logo, se
de campo, definidas como realizei pes- entende que o trabalho é o elemento que
quisas de campo que (MINAYO, 2006, p. possibilita a construção de uma identi-
62) “o recorte que diz respeito à abran- dade humana uma vez que esse processo
gência, em termos empíricos do recorte permite a constituição de um “ser social”
teórico como correspondente ao objeto e é, por conseguinte um artifício funda-
da investigação”. mental de sua organização coletiva, pois,
Para compreender essas experiên- esse movimento possibilita sua organiza-
cias trilhei os caminhos da História Oral, ção em sociedade.
suas definições, técnicas e ferramentas. É Torna-se necessário, contudo, ca-
importante ressaltar que não se trata racterizar o trabalho em sua natureza
(ALBERTI, 2005) simplesmente de sair dúplice, se por um lado ele possibilita a
com um gravador em punho, algumas constituição do homem enquanto ser
perguntas na cabeça, e entrevistar aque- social pertencente/transformador de uma
les que cruzam nosso caminho. Minha sociabilidade ele também tem como ca-
compreensão é a de mesma de Portelli racterística a alienação/estranhamento
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[...] para viver, é preciso antes de Alguns roteiros nós criamos. A Trilha
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tudo comer, beber, ter habitação, da caída do morro , o morro geme-
vestir-se e algumas coisas mais. O
primeiro ato histórico, é portanto, a
dor e o tour pela cidade nós que cri-
amos. Inclusive tem outros passeios
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produção dos meios que permitam a criados pela gente que as outras
satisfação destas necessidades, a agências comercializam como o safa-
produção da própria vida material, e ri noturno no Delta. As trilhas são
de fato esse é um ato histórico, uma feitas só pela gente. Vamos antes ao
condição fundamental de toda a his- local, fazemos um estudo, vemos a
tória, que ainda hoje, mesmo a mi- viabilidade e depois disso organiza-
lhares de anos, deve ser cumprida mos e que comercializamos o roteiro.
todas as horas, para manter os ho-
mens vivos. (MARX e ENGELS, 2001, Partindo dessa colocação, fica ex-
p.39) plícito o papel dos condutores de ecotu-
rismo enquanto mercadoria a ser dispo-
Dessa forma, o homem em seu nibilizada aos compradores: sejam eles
contato com a natureza, se utiliza de suas turistas ou agências de turismo. Essa
forças vitais: pernas, braços, cabeça e situação se materializa à medida que
mãos transformando a matéria prima novos roteiros são criados e guiados por
contida na natureza para canalizar os eles. Existe a partir desse ponto a modifi-
recursos disponíveis com o objetivo de cação do espaço, que passa ser utilizado
subsidiar sua vida social. Assim, o ho- para o turismo e a modificação dos ho-
mem imprime na natureza a sua forma mens que cotidianamente através de seu
útil a vida humana. A partir desse movi- envolvimento/participação em um setor
mento, o homem transforma a natureza e que anteriormente não fazia parte de seu
forja sua condição humana.
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O descritivo desse roteiro, hoje denominado de
Trilha das Dunas está disponível nos anexos.
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las uma expressão particular dos elemen- produtos de seu trabalho, ou seja, pelas
tos fundamentais que as constitui. mercadorias.
Para compreender as relações es- A mercadoria carrega consigo uma
tabelecidas entre meus sujeitos de pes- unidade entre valor de uso e de troca,
quisa e sua atividade profissional uma possibilitada pela divisão social do traba-
categoria merece destaque nesta análise: lho e pela propriedade privada que são
a reificação. Essa elucidação pode ser historicamente desenvolvidos. Com a
encontrada nas páginas de O Capital propriedade privada, o produtor possui a
(2013) onde ele expõe que “a riqueza das possibilidade de escolher como, o que e
sociedades em que domina o modo de quanto deve produzir, contudo, dialeti-
produção capitalista aparece como uma camente em um movimento combinado
‘imensa coleção de mercadorias’, e a sua inserção na divisão social do trabalho
mercadoria individual como sua forma do deixa dependente de outros produto-
elementar” (MARX, 2013, p. 57). Assim, a res. Assim, cada produtor produz para o
mercadoria é elencada como forma ele- outro e não exclusivamente para si, o que
mentar do modo de produção capitalista faz da mercadoria uma mediadora de
carregando consigo a chave para o en- infinitas relações sociais.
tendimento dos fundamentos que regem
esse modo de produção. A coisa adquire as propriedades de
valor, dinheiro, capital, etc., não por
O misterioso da forma mercadoria suas propriedades naturais, mas por
consiste, portanto, simplesmente no causa das relações sociais de produ-
fato que ela reflete aos homens as ção às quais está vinculada na eco-
características sociais do seu próprio
trabalho como características objeti-
nomia mercantil. Assim as relações
sociais de produção não são apenas
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vas dos próprios produtos de traba- “simbolizadas” por coisas, mas reali-
lho, como propriedades sociais des- zam-se através de coisas. (RUBIN,
sas coisas e, por isso, também reflete 1980, p.26)
a relação social dos produtores com
o trabalho total como uma relação Assim, na sociedade mercantil, em
social existente fora deles, entre ob- seu caráter reificado, atribuímos às coisas
jetos. [...] Não é mais nada que de- características e aspectos pertencentes
terminada relação social entre os das quais são expressão se tornam meio
próprios homens que para eles aqui de realização. Em meu lócus percebi esse
assume a forma fantasmagórica de caráter reificado ao notar a forma como
uma relação entre coisas. (MARX, os sujeitos são vistos pelos consumidores
2013, p. 94) (turistas e proprietários de agencias) co-
mo um apêndice, uma ferramenta que
O fetichismo da mercadoria, que viabiliza a produção/comercialização do
nos apresenta as relações de trabalho produto Delta do Parnaíba. Essa situação
reificadas, não é um produto de nossa fica clara na fala de José (2014) ao relatar
consciência. Antes de mais nada, a reifi- que muitas vezes não existe um contato
cação é a base onde as relações sociais entre eles e os turistas que em diversas
mercantis se manifestam. Marx (2013) situações os tratam apenas como objeto
nos mostra que essa relação assume uma para conhecer a localidade.
forma “fantasmagórica de relação entre Essa relação reificada, ganha pro-
coisas”, pois, em nossa sociedade as rela- porções ainda mais serias e perigosas na
ções entre as pessoas são mediadas pelos sociabilidade capitalista, onde a produ-
ção tem como finalidade principal a
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Amanda Maria dos Santos Silva
ENTREVISTAS
Francisco José da Silva. Entrevista conce-
dida a pesquisadora Amanda Maria dos
Santos Silva no dia 30/05/2014. 48 minu-
tos.
José Ribamar da Silva. Entrevista conce-
dida a pesquisadora Amanda Maria dos
Santos Silva no dia 22/05/2014. 58 minu-
tos.b
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