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Manuel Matos

S. Freud, Mal Estar na Civilização: Cultura da Culpa

Lisboa

7 de Janeiro de 2006

Ciclo de Conferências em Psicanálise e

Psicoterapia Psicanalítica
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Palavras chave: Culpabilidade, cultura.

Resumo: O autor segue a par e passo um trabalho polémico de Freud,


no qual se salienta o necessário controlo dos instintos e a
interiorização da agressividade como contributos indispensáveis ao
processo civilizacional. Por um lado, a cultura da culpa aparece como
um obstáculo à desintegração colectiva; por outro, e na medida em
que o homem abdica da felicidade individual em prol da segurança,
desenvolve sentimentos de culpabilidade que conduzem à depressão.
Questiona a cultura da culpa, na medida em que esta promove, por sua
vez, o insucesso e a inferioridade. A interiorização das boas
experiências relacionais na transformação da vida instintiva e nos
processos de identificação constituiriam uma alternativa à cultura que
se baseia no controlo dos instintos.

Ao Professor Coimbra de Matos

Em Mal Estar na Cultura, 1930, Freud coloca-nos o problema da felicidade /

infelicidade, da sua relação com a cultura e com a condição humana.

Freud tinha, então, 74 anos e estava doente; a acreditar numa carta que escreve nesse

mesmo ano ao Dr. Alphonse Paquet, por ocasião da atribuição do Prémio Goethe,

escusando-se a deslocar-se a Frankfurt. Nessa mesma carta dá a entender que se sente

ainda sem esperança de melhoras.

A idade avançada e a doença servem de argumento para inserir este trabalho no âmbito

de um Mal Estar do próprio autor; contudo o texto é atravessado por uma enorme

lucidez e, três quartos de século depois é ainda um desafio ao pensamento, à

compreensão da vida psíquica a partir das vicissitudes do instinto libidinal e agressivo,

do instinto de auto-conservação e / ou auto-destruição.


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Nesse trabalho, Freud esclarece o problema da formação do Super-Eu tanto como

derivado da cultura como promotor dela. E coloca aí também a questão do hipotético

instinto de morte.

Evocam-se os diferentes meios através dos quais o Homem tem procurado a felicidade,

sem ser capaz de ir além do Mal Estar na Cultura que criou.

Para fugir ao Mal Estar, podemos evocar algumas tentativas, nomeadamente a procura

do “sentimento oceânico” definido como o de “uma comunhão indissociável, de

pertença inseparável com a totalidade do mundo, comparável à sensação de termos a

mesma idade que o nosso próprio Eu”, p. 3018.

O sentimento oceânico seria semelhante à sensação de eternidade, apenas conseguida

pela via religiosa, associado a uma negação da realidade comparável ao enamoramento,

no qual o sujeito sente e procede como se ele e o outro fossem apenas um. Alguns

estados de paixão dos adolescentes e a procura de sensações fusionais com substâncias

psicoactivas ou a adesão a seitas religiosas passam, do meu ponto de vista, por estas

linhas de demarcação psíquica (ou falta delas) concomitantes a sensações de

imortalidade e consequente negação da realidade, que pode ir até ao delírio.

Muitas destas experiências correspondem a dissociações do Eu, nas quais uma parte se

desprende ou desliga do mundo interior, entra em “comunhão íntima entre o Eu e o

mundo circundante”, p. 3019, através de processos regressivos profundos.

“Tudo se conserva e pode voltar a aparecer doutra forma em circunstâncias favoráveis”,

p. 3021.
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Freud compara o sentimento oceânico à religião, “Ser-um-com-o-todo”, e esta ao

amparo paterno: “Nenhuma necessidade infantil é mais poderosa do que a necessidade

de amparo paterno”, p.3022.

Interrogando-se sobre a finalidade da nossa existência, Freud levanta uma questão

maior, à qual ele mesmo responde: o que esperam os homens da vida?

“Querem chegar à felicidade, não querem deixar de ser felizes, querem evitar a dor e o

desprazer”, p. 3024.

Colocada a questão sobre a felicidade, faz uma afirmação incómoda: “o plano da

criação não inclui o propósito do Homem ser feliz”, p. 3025. Acrescenta ainda “o

sofrimento ameaça o Homem por três lados: pelo corpo, condenado à decadência; pela

angústia perante as forças destruidoras e implacáveis da natureza; por fim, através das

relações dos seres humanos entre si”. Salienta que o sofrimento vindo desta última fonte

é seguramente o mais doloroso de todos.

Já que pouco ou nada há a fazer contra a caducidade do corpo através dos anos, é

necessário transformar a Natureza, vista como uma espécie de mãe idealizada, em

negação da realidade e da destrutividade que ela [a Natureza] possui. Já então, Freud

referia alguns modos de controlar a dureza da realidade, entre eles a intoxicação

medicamentosa, os estados patológicos de mania, aos quais podíamos associar, hoje,

outras formas de toxicidade, como por exemplo a dos meios de comunicação rápida e

imediata, sobretudo televisiva, que nos fazem tomar uma parte pelo todo numa

bebedeira sem prazer.

É certo que hoje o controlo instintivo não se impõe como na altura. A civilização actual

contempla a dimensão do prazer. Os interditos e os tempos de espera são menores, a

tolerância à diferença é maior e as satisfações instintivas acontecem no apressar da


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História, i.e. sem aparato psíquico para vivenciar certas experiências. O parco recurso

ao recalcamento psíquico e a outros mecanismos de defesa dele derivados constituem

um Mal Estar quotidiano no qual os mais jovens e menos experientes são, muito

frequentemente, os actores principais: sexualidade agida, sexualidade promíscua, HIV

são apenas alguns exemplos.

Como meio de evitamento ao Mal Estar, temos também a acção, como o mais radical

dos procedimentos. Ora, como sabemos, o ataque à realidade, ao vínculo amoroso

constitui a prova da incapacidade de transformar, própria da perversidade, que é a mãe

da perversão – mas também o discurso derrotista ou o ataque maligno à auto-estima do

outro. Isto é, acção não é só acto, às vezes é também palavra.

Outro meio de iludir o sofrimento é a paranóia. O mundo não presta; inventa-se outro. A

esta transformação delirante da realidade, Freud chamou-lhe “criação desiderativa”, p.

3028.

Surge assim a necessidade de submeter a vida instintiva ao controlo das instâncias

psíquicas superiores, uma vez que “o instinto dominado provoca menos sofrimento que

os instintos inibidos”, p. 3027.

De entre as técnicas mais evoluídas para evitar o sofrimento, Freud evoca a

sublimação. O tema da sublimação é actual e foi amplamente discutido no último

Congresso de Psicanalistas de Língua Francesa, em dois rapports: o de E. Séchaud, que

refere a importância da elaboração da perda nos processos de sublimação, e o de J. L.

Baldacci, que se debruça mais sobre o instinto epistemofílico, que se manifesta desde o

início da vida.
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Lembramos que a sublimação é um processo; e enquanto tal é um trabalho psíquico

relacionado com a criação, investigação, solução de problemas, descoberta da verdade,

apenas possível a algumas pessoas e não a todas, pelo que não lhe atribui uma

aplicação geral.

O amor aparece como protótipo das experiências de felicidade mas logo se apresenta,

também, como o protótipo do sofrimento, quando se perde o objecto amado e o seu

amor. Estão aqui dois conceitos distintos: o medo da perda do objecto versus patologia

borderline, A. Coimbra de Matos, 2002, e o medo da perda do amor do objecto versus

depressão, A. Coimbra de Matos, 2001. Mas esconde-se por detrás de qualquer deles o

medo da perda da representação desse objecto, que pode corresponder à perda da

representação de si mesmo (M. Matos, 2004).

A produção artística, científica e estética aparece, então, como produto da cultura, mais

fiável ou duradoira que o amor. E ainda que ele entenda, também aí, que a “primitiva

beleza e encanto sejam atributos do objecto sexual”, resume que o desejo de ser feliz,

imposto pelo princípio do prazer, é irrealizável, pp. 3028 – 3029, e não é alcançável

isoladamente, o que leva Freud a atribuir à cultura e à educação um valor maior para

sair do Mal Estar.

Na trama da civilização, distingue o homem erótico, que privilegia os vínculos afectivos

que o ligam a outras pessoas; do homem narcísico, que se basta a si mesmo e se

contempla na satisfação íntima mas só; e do homem de acção, aquele que está sempre a

medir forças com a natureza.

A maior garantia para escapar ao Mal Estar consiste no desenvolvimento do aparelho

psíquico através das “profundas transformações e reestruturações das suas componentes

libidinais, imprescindíveis para todo o processo futuro”, p. 3030.


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Nas malhas destas transformações espreitam os compromissos neuróticos. A fuga na via

da neurose é, aliás, apontada como aquela que oferece satisfações substitutivas, e

referindo-se de novo à religião diz tratar-se de uma “técnica que consiste em reduzir o

valor da vida e em deformar delirantemente a imagem do mundo real sem alcançar mais

nada” (ibidem).

Poderíamos imaginar o elogio das culturas primitivas mas isso não seria senão uma

utopia, se bem que coloque questões semelhantes àquelas que os adolescentes

apresentam frequentemente, sobretudo quando estão deprimidos ou desanimados, como

por exemplo “de que nos serve reduzir a mortalidade infantil se isto nos obriga a

adoptar a máxima prudência na procriação”. Ou ainda: “de que nos serve por fim uma

vida longa se é tão parca, tão pobre em alegrias e rica em sofrimentos que só podemos

saudar a morte como feliz libertação?”, p.3032.

Sobre a Cultura escreve: “o termo cultura designa a soma das produções e instituições

que distanciam a nossa vida da dos nossos antecessores animais, com duas finalidades:

proteger o Homem contra a Natureza e regular as relações dos homens entre si”, p.

3033.

Mas logo afirma que os eventos científicos constituem um Ideal de sabedoria, na

esperança de uma aproximação a Deus. Mas o Homem não seria senão um deus com

próteses, que faria descobertas inconcebíveis mas nem por isso seria mais feliz na sua

semelhança com ele.

O Homem, que deve a sua existência à cultura, como antítese da barbárie, mostra-nos a

sua natureza: “tendência natural ao descuido, à irregularidade e informalidade sendo


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necessários árduos esforços para conseguir encaminhá-lo na imitação daqueles modelos

celestes”, p.3035.

Nesse Mal Estar psíquico e cultural, nada mais necessário e nada mais difícil que a

regulação das relações dos homens entre si, ou seja “nas relações sociais que dizem

respeito ao indivíduo enquanto vizinho, colaborador ou objecto sexual do outro,

enquanto membro de uma família ou de um Estado”, p. 3036.

Só a acção das forças psíquicas, por oposição à força propriamente dita, tornará possível

a vida em sociedade: “a vida humana em comum só é possível quando se reúne uma

maioria mais poderosa do que cada um dos indivíduos e que se mantenha unida frente a

cada um deles”.

É neste passo decisivo que Freud designa o Direito enquanto “primeiro requisito

cultural para a justiça” (ibidem) e como indispensável à segurança do indivíduo, ao

desenvolvimento da ética e à defesa da liberdade individual. Portanto, o

desenvolvimento cultural impõe restrições e sacrifícios à vida instintiva, na esperança

de que a liberdade individual submetida à cultura seja, então, maior do que a liberdade

primitiva.

Nos tempos modernos, o período da adolescência é talvez o melhor revelador do estado

da cultura, na medida em que os mais jovens são uma caixa de ressonância do grupo de

pares e da sociedade em que se inserem ou não.

Muitos dos jovens “emigrantes de segunda geração” encontram-se nesta encruzilhada:

os pais abdicaram dos seus modelos de identificação, sem assumirem totalmente os do

país de acolhimento, e os jovens pairam no vazio de identificações ou na sua


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contradição. É bom lembrar que o adolescente capta o essencial nos interstícios do

nosso dizer e da nossa maneira de estar e procura aí a consistência das nossas

identificações à sociedade em que vivemos. Enquanto escrevia estas linhas, decorria nos

arredores de Paris os tumultos que fizeram notícia e voltei à afirmação de Freud,

segundo a qual “o amor e a necessidade convertem-se nos pais da cultura humana,

facilitando a vida em comum a um maior número de indivíduos”, p. 3039.

Ainda que o amor seja o protótipo da felicidade, Freud adverte que quem ama expõe-se.

A depreciação do objecto de amor ou a sua perda estão, como sabemos, no cerne da

patologia depressiva, contudo, é o “impulso amoroso que institui a família e assegura a

função de unir entre si um número crescente de indivíduos”, p. 3040.

O amor institui a família e esta tem uma função de ligação indispensável à cultura,

contudo, um certo “divórcio entre amor e cultura parece inevitável” para a expansão

cultural.

Um dos problemas da cultura reside no seguinte facto: por um lado a cultura não é

compatível com laços libidinais na matriz familiar mas por outro é necessário ligar os

indivíduos entre si por afinidades que não deixam de ser de natureza libidinal para

conseguir identificações por semelhança e por complementaridade entre os seus

membros.

É aí que Freud insere o provérbio “amarás o outro como a ti mesmo” – provérbio mais

antigo do que o cristianismo – mas a verdade é que as pessoas que nos são estranhas

suscitam mais a nossa hostilidade que o nosso amor, o que implicaria um outro

inconcebível mandamento, “amarás o teu inimigo”. E remata com uma evidência: “o

homem que não é uma criatura terna precisa de amor”, p.3045.


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Referindo-se, entre outros acontecimentos históricos, à tomada de Jerusalém pelos

Cruzados afirma que “em condições favoráveis e quando desaparecem forças psíquicas

antagónicas... o homem comporta-se como uma besta selvagem que não tem o menor

respeito pelos seres da sua espécie”, p.3046.

Ora, esta hostilidade coloca a sociedade sempre à beira da desintegração; daí a

necessidade da cultura como barreira contra a tendência agressiva do homem, tanto

mais que “a lei não consegue contrapor-se às manifestações mais subtis da

agressividade humana” (ibidem).

Então é possível promulgar leis sobre os maus-tratos na criança ou condená-los mas já

não é possível identificar claramente os efeitos destrutivos dos objectos supostamente

cuidadores, como por exemplo nos casos de autismo psicogéneo ou nalgumas tentativas

de suicídio do adolescente.

Só o laço libidinal protege o sujeito; contudo a cultura impõe normas ao instinto

libidinal e agressivo. Abriríamos aqui um parênteses quanto à clássica proibição do

incesto e do parricídio, como elemento determinante na génese da vida psíquica, e que

se resume a isto: temos de investigar de que lado vem a mensagem incestuosa – se “da

criança perversa e polimorfa” ou da perversidade do adulto - e condenar com

veemência a pedofilia e o infanticídio, mas também questionar a depressão e o

abandono familiar que expõem as crianças à perversão. Não é possível ser homem de

cultura e estar fora dela num alheamento cúmplice ou em negação da realidade.

Haverá a considerar um aspecto relativo ao medo. O homem é capaz das maiores

atrocidades quando tem medo. Mais facilmente controla os instintos libidinais do que a

agressividade que lhe advém do medo: medo da morte, da perda objectal, da perda do

amor do objecto, da perda do objecto de segurança. Por isso o homem estaria disposto a

abdicar da felicidade que lhe advém da satisfação em prole da segurança.


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Isto prende-se com os mecanismos psíquicos implicados no recalcamento, que podem

ser facilitados socialmente, se o sujeito tem o sentimento de ganho com a inibição

instintiva ou, pelo contrário, dificultados quando se defende o princípio do prazer

imediato. É bom lembrar que, nos nossos dias, o imediato é uma mais valia e que isso

nos pode levar a uma dissociação entre cultura e vida em sociedade.

Freud entende que o Eu paga o preço da adaptação através do compromisso neurótico e

distingue dois tipos de instintos, em oposição uns com os outros – os que se exercem no

sentido da auto-conservação (instintos do Eu como a fome, por exemplo) – e os que se

exercem no sentido da conservação da espécie (também designados de instintos

objectais e libidinais).

E é neste trabalho, também, que ele levanta a hipótese do instinto de morte, afirmando:

“partindo de certas especulações sobre a origem da vida … deduzo que além do instinto

que tende a conservar a substância viva e a condensá-la em unidades cada vez maiores

devia existir outro antagónico a este que tendesse a dissolver estas unidades e a

reencaminhá-las a um estado mais primitivo e inorgânico”. Ou seja, além de Eros

haveria o seu antagonista instinto da morte e os “fenómenos vitais poderiam ser

explicados pela interacção e antagonismo de ambos… mas não é nada fácil demonstrar

este hipotético instinto da morte” (p. 3050).

É a sua apreensão perante a capacidade de destruição do humano que o leva a intuir

sobre o hipotético instinto da morte; confessa que ele próprio ofereceu resistência a esta

ideia, ao constatar que sadismo e masoquismo emparceiram e são manifestações da

destruição, uma dirigida para fora, outra para dentro e, às vezes, numa amálgama de

erotismo. E se é visível a agressividade no sadismo, já é mais subtil a agressividade no


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masoquismo, uma vez que esse impulso destrutivo é dirigido para dentro e – em

aparência, pelo menos – é acompanhado de erotismo.

Apesar das nossas resistências em encarar o direccionamento da agressividade em

função do instinto, pois há que considerar a perspectiva das relações de objecto

interiorizadas, é, de facto, inquietante que seja precisamente na adolescência – tempo de

crescimento e de mudança – que a actividade libidinal e lúdica esteja tão próxima da

actividade destrutiva, validando, de certa forma, a hipótese de Freud, segundo a qual os

fenómenos vitais se poderiam explicar pela interacção e antagonismo de instintos

opostos.

O instinto da morte actuaria silenciosamente e no sentido da desintegração do sujeito, a

menos que uma parte da agressividade componente do instinto da morte se dirija para o

exterior e se coloque ao serviço de Eros ou que o vínculo libidinal atenue a

predisposição agressiva.

Desfeito o laço libidinal, apareceria toda a agressividade por detrás de Eros, que se

desobjectalizou e se transformou no prazer narcísico de fazer mal. Ligam-se aí

narcisismo maligno e perversão, a destrutividade egossintónica desprovida de

identificação ao outro ou de empatia e o niilismo que consiste em afirmar internamente

“que o mal seja o meu bem”, como afirma D. Meltzer em Os estados sexuais da mente.

Alguns de nós, às vezes, concentramo-nos nas relações objectais perdendo de vista a

questão do mundo interno e da sua relação com o inconsciente, da disposição inata às

manifestações agressivas – e não só reactivas – que se opõem à cultura.

A massa humana terá de estar vinculada libidinalmente e limitada pela cultura.


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“… a evolução cultural pode ser definida brevemente como a luta da espécie humana

pela vida” (p. 3053). E acrescenta, numa nota de rodapé, que este é um facto cardinal

cuja origem desconhecemos.

Colocada a predisposição à agressividade no humano, procura saber como é que o

desejo agressivo se tornou inócuo na espécie humana. Em sua opinião, “a agressividade

é introjectada, internalizada, regressando na realidade ao lugar de onde procedeu: é

dirigida contra o próprio Eu, incorporando-se numa parte deste que, na qualidade de

Super-Eu, se opõe à parte restante assumindo a função de consciência moral” (p. 3053).

Se bem compreendemos, Freud consegue com esta brilhante dedução demonstrar a

validade da sua segunda tópica (Id, Eu, Super Eu), enquanto modelo meta-psicológico

do funcionamento psíquico. Articula-a com a 1ª tópica (inconsciente, pré-consciente,

consciente), e entra no modelo fenomenológico e relacional que podemos encontrar em

muitos dos autores actuais.

Estão aqui os alicerces, por exemplo, da teoria kleiniana, dos pós-kleinianos, dos

teóricos da depressão que se baseiam nos malefícios da introjecção nuclear da

agressividade, a começar por K. Abraham (1912) até aos trabalhos de A. Coimbra de

Matos nas duas últimas décadas (1979-2001).

Para que a cultura prevaleça a par da consciência moral ou quase confundido com ela,

seria necessário o sentimento de identificação com o outro. Mas nenhum de nós é capaz

de se identificar com todos os outros. Temos então de recorrer a um outro sentimento

que “salve a cultura: o sentimento de culpabilidade”. Dele, Freud dirá que se trata de

uma “tensão criada entre um Super-Eu severo que subordina o Eu e que se manifesta

sob a forma de necessidade de castigo” (p. 3053).


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Mas não se sente culpado só quem fez mal… sente-se também culpado quem teve

intenção de fazer mal, ao que Freud mais uma vez coloca uma questão pertinente ao seu

próprio raciocínio: “ porque é que se equipara aqui o propósito com a realização?” (p.

3054).

Freud evoca a dependência do outro, o risco de desamparo e o “medo de perder o amor

do objecto” (ipsis verbis) com o consequente perigo de ficar exposto ao risco de que

“esse outro mais poderoso possa demonstrar a sua superioridade sob a forma de

castigo”.

Então, a ameaça de perda do amor representa um perigo real, e pouco importa que

tenhamos feito mal ou que tenhamos apenas a intenção de o fazer.

Mas até aqui está em causa o sujeito e o seu objecto externo. A mudança radical

acontece quando a autoridade é internalizada ao estabelecer-se o Super-Eu porque aqui

já não há diferença entre praticar o mal ou ter apenas a intenção de o praticar, pois nada

pode ocultar-se perante o Super-Eu, nem sequer os pensamentos (p.3054).

Esta espécie de divindade maligna interna compara-se ao que nos ensinaram no

catecismo: “Deus está no céu e na terra e em toda a parte… e os meninos pecaram por

pensamentos, palavras e actos”…

Esta instância é parte do sujeito que se tortura a si mesmo inevitavelmente. A esta

realidade intra-psíquica nem os santos escapariam, e muito menos estes porque têm uma

consciência moral mais severa e vigilante, e se os santos se acusam de ser pecadores

não o fazem sem razão; porque as tentações de satisfazer os instintos aumentam com a

privação e, então, fecha-se o ciclo.


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Teríamos, então, uma instância interna sem a qual não haveria consciência moral, nem

ética, nem empatia, nem identificação com o outro, mas que ao mesmo tempo pode

levar o sujeito a destruir-se a si mesmo, directa ou indirectamente, a ter mais fracassos

que vitórias, a sentir-se culpado pelo mal que não fez, muitas vezes até pelo mal que lhe

fizeram, e a penitenciar-se de nada.

Para não perder de vista a questão que nos ocupa – o Mal Estar na cultura – lembramos

que esta organização do Super-Eu ocorre muito precocemente; seria mesmo anterior à

vivência edipiana, na perspectiva kleiniana – que postula a existência de um Super-Eu

precocíssimo; e Freud lembrava já então (1930), tal como hoje, que muitos povos se

conduzem como perdedores, sob o efeito de uma consciência moral infantil, a partir do

“momento em que introjectou a autoridade paterna no Super-Eu … considerado como

um substituto da instância parental” (p. 3055).

As análises destas pessoas mostram que a representação da autoridade paterna é ainda

mais rigorosa que a própria autoridade e que se algum de nós se afoita a aliviar o

analisando antes que ele seja capaz de transformar essa representação, o sujeito resiste,

abandona o processo analítico, passa ao acto ou supostamente desenvolve uma Reacção

Terapêutica Negativa, i.e. aquela que ocorre porque o sujeito se sente a melhorar.

Há uma passagem interessante neste trabalho de Freud, ao comparar o Homem

primitivo com o Homem de cultura. Quando acontecia uma desgraça ao primitivo, este

achava que o responsável era o feitiço porque não tinha cumprido o prometido,

enquanto o Homem de cultura acha que a culpa é sua.


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“Recapitulando” a origem da culpabilidade: primeiro, o medo da autoridade; depois, o

medo do Super-Eu.

O primeiro obriga a renunciar à satisfação dos instintos; o segundo obriga ao castigo

porque não é possível ocultar ao Super-Eu a persistência dos desejos proibidos, ou seja,

o rigor da consciência moral. Citação: “A renúncia à satisfação instintiva já não absolve,

a virtuosa abstinência já não é compensada com a segurança de conservar o amor, e o

indivíduo trocou uma catástrofe exterior ameaçante por uma desgraça interior

permanente: a tensão do sentimento de culpabilidade” (ibidem).

Este seria o preço da civilização. Civilização de culpa, claro está, porque a dos nossos

dias é uma civilização mais centrada no sucesso ou insucesso e, portanto, mais

narcísica.

Nesta perspectiva, cada vez que renunciamos ao exercício da agressividade, esta seria

incorporada ao nível do Super-Eu que, por sua vez, exerce pressão sobre o Eu. Daqui

resulta submissão, já não perante o objecto externo mas do próprio sujeito em relação a

si mesmo. A autoridade interna reprime agora mais do que a externa e, para cúmulo,

não se vê.

Levado ao extremo, este sistema não reverte a favor da cultura, uma vez que a inibição

excessiva e imposta pelo sujeito a si mesmo submete os processos criativos e o

pensamento a inquiridores e inquisitores sempre prestes a retaliarem perante qualquer

iniciativa, seja ela de ordem sexual, agressiva ou da ordem da diferença.

Em momento algum neste trabalho Freud fala do objecto materno na formação do

Super-Eu.
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Estamos perante um sistema de identificação com o objecto agressor por incorporação

deste. Esta incorporação ocorreria da seguinte forma: primeiro, a criança acomodar-se-

ia “tant bien que mal” e sempre na mira de captar ou não perder a protecção da

autoridade paterna – aquela que limita – e, por identificação ao agressor, faria o

seguinte raciocínio: “se eu fosse o pai e tu o menino tratar-te-ia mal a ti” (p.3057). É um

raciocínio em espelho e, muito provavelmente, aquele que preside à internalização da

agressividade do objecto, na perspectiva desenvolvimentista. Só que Freud entende que

a severidade primitiva do Super-Eu não é aquela que o objecto nos fez sentir mas sim a

nossa própria agressividade contra o objecto.

Actualmente, a teoria das relações objectais interiorizadas refuta a hipótese de Freud e

entende que a severidade do Super-Eu depende da severidade do objecto externo. Só

que o sujeito, ainda e sempre na mira da protecção do objecto, que em boa verdade

nunca protege, organiza um processo depressivo porque idealiza um objecto de má

qualidade e inflecte a agressividade sobre o Self (A. Coimbra de Matos, 2001).

Júlia Kristeva (2005), numa entrevista ao jornal Le Monde des livres, sobre o seu

recente livro La haine et le pardon questiona ainda mais o ponto de vista de Freud

quando afirma: “l’épreuve peut nous offrir l’occasion de «faire nos preuves»… soit on

se déprime, soit on met en question valeurs et certitudes”.

Contudo, qualquer que seja a perspectiva em que nos situemos, de facto a consciência

moral estrutura-se nos primeiros tempos de vida e pela via da introjecção e contenção

da agressividade, ao contrário dos sujeitos que passam ao acto agressivo sem terem

construído uma instância egóica capaz de lidar com o conflito e de estabelecer

compromissos com a realidade.


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Mas, de facto, o rigor da educação em relação à criança não explicaria a severidade da

instância super-egóica porquanto a educação branda pode dar, muitas vezes, origem a

uma consciência rigorosíssima. O que nos leva a afirmar que é melhor o sujeito

identificar e atribuir a agressividade ao objecto externo do que ver-se confrontado a uma

agressividade não contrariada que leva o sujeito a castigar-se a si mesmo para diminuir

o sentimento de culpa. Isto é, quando o objecto externo não se oferece como modelo na

limitação das dimensões instintivas, o rigor da consciência moral pode ser ainda maior.

Haveria, segundo Freud, uma predisposição a sentir-se culpado e daí a origem do

sentimento de remorso. O remorso aparece como o resultado da ambivalência face ao

pai, simultaneamente amado e odiado. Com base nesta ambivalência afirma então:

“creio que compreendem claramente duas coisas: a participação do amor na génese da

consciência e o carácter fatalmente inevitável do sentimento de culpabilidade” (p.

3059).

O Mal Estar surge como um facto incontornável na cultura, uma vez que ela está ligada

à exaltação do sentimento de culpa. Acrescente-se também um facto de observação na

clínica: é necessária a expansão da agressividade para que o sujeito se sinta mais capaz

de amar; mas logo de seguida cresce o remorso e a culpabilidade por ter agredido ou

odiado o objecto amado. Isto torna, como é evidente, o Mal Estar inerente ao remorso e

ao sentimento de culpa como necessário à edificação da cultura, que por sua vez

aumenta a ambivalência.

Seria, portanto, a cultura da culpa, donde só nos parece poder sair se o sujeito evoluir da

ambivalência à pós-ambivalência sem medo de crescer e de vencer o rival; mas logo se


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passa à cultura narcísica, na qual o sujeito se coloca a si mesmo como objecto a

ultrapassar.

Passaríamos, assim, do sentimento de culpabilidade ao sentimento de inferioridade e da

depressão de culpa à depressão de inferioridade e iríamos de mal a pior. Talvez por isso

Freud afirme, a dado momento: “o preço a pagar pelo progresso da cultura é a perda da

felicidade” (p. 3060).

Nesta óptica, o Homem, escravo da sua necessidade de cultura, vai passando de uma

infelicidade a outra.

Mas escrevendo isto, não deixo de referir que está aqui subjacente a ideia segundo a

qual a normalidade resulta da elaboração da psicopatologia, quando o que se observa na

clínica, normalmente, é o contrário, i.e. a patologia resulta de más relações

interiorizadas.

Esta realidade não terá escapado a Freud, uma vez que coloca as relações humanas

como o maior dos problemas da humanidade. Mas o que ele salienta neste trabalho é

também a dimensão inconsciente da culpabilidade: “o sentimento de culpabilidade

permaneceu inteiramente inconsciente, sem que os seus efeitos sejam por isso menos

intensos e os pacientes só concluiriam isto quando os esclarecemos acerca da sua (deles)

necessidade inconsciente de castigo” (p. 3061).

A certo momento, Freud vai colocar a hipótese segundo a qual a culpabilidade não seria

mais do que uma variante da angústia perante o Super-Eu, isto é, confere a uma

instância um estatuto de pessoa, com o perigo de reeificação de um conceito.

Isto é, confere a uma instância o estatuto de pessoa.


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Esta visão, alicerçada na sua segunda tópica, dá uma dinâmica ao aparelho mental que

está longe de se esgotar. No entanto, coloca o processo cultural na dependência de um

recalcamento maciço da agressividade, pela via de um Super-Eu exigente, rigoroso,

retaliador. Qual seria, então, a fonte desta energia agressiva do sujeito contra si mesmo?

Primeiro, põe a tónica na vida pulsional do sujeito e na sua ambivalência derivada da

agressividade inconsciente dirigida ao objecto mas, em seguida, acrescenta que a

agressividade do Super-Eu advém da “energia primitiva da autoridade exterior”.

A esta aparente contradição quanto à origem dessa agressividade (numa em que se

inocenta o objecto, noutra em que se inocenta o sujeito) salienta que há qualquer coisa

que é comum às duas situações: “a agressividade desloca-se para dentro” (p.3062). Isto

é, a trajectória do deslocamento da agressividade de si para si mesmo, da qual dá conta

sobretudo a consciência moral, o remorso e a culpabilidade inconsciente, tem também

uma origem externa, relacional. E nela ocorre o processo de internalização da

agressividade e concomitante organização do sentimento de culpa, que o sujeito

assimila com maior ou menor acomodação.

Num extremo da acomodação e acatamento, o sujeito torna-se passivo, indiferente –

numa aculturação forçada –; no outro extremo, o sujeito opor-se-ia a formas de

internalização por enquistamento sobre si próprio (por exemplo no autismo), ou por

externalização – que pode ir da projecção ao acting.

É fácil de ver que a cultura não resulta de nenhum destes movimentos psíquicos. É

difícil não concluir pela necessária imbricação entre civilização e cultura da culpa,

cultura e neurose. Mas atenção naquilo que a neurose contém de compromisso psíquico

como forma de lidar com a realidade interna e externa, diríamos nós.

Quando se pretende construir o edifício teórico do funcionamento psíquico com base –

quase exclusiva – nas relações objectais internalizadas, minimiza-se o mecanismo


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psíquico do recalcamento, sem o qual não há nem vida psíquica nem cultura. Então o

que diz Freud sobre o recalcamento na sua relação com a cultura? “Quando um impulso

instintivo é reprimido, os seus elementos libidinais convertem-se em sintomas, e os seus

comportamentos agressivos em sentimentos de culpabilidade” (p. 3063).

Isto é, para diminuir a culpa aumenta o castigo e entra num círculo de mortificação.

Cultura da culpa e auto-destruição e esta ao serviço da vida?

Veja-se, por exemplo, o ensaio de J. Saramago sobre as Intermitências da Morte, no

qual o autor imagina que de um momento para o outro tudo continua a acontecer com

uma excepção: não há morte, ficando a vida irremediavelmente suspensa.

Incontornável portanto, O Mal Estar na Civilização: cultura de culpa de S. Freud (ainda

que nos queiramos afastar da perspectiva instintiva que atravessa todo o texto original),

no qual o autor considera a evolução do indivíduo e a evolução cultural como processos

inseparáveis, ambos pertencentes aos “mecanismos vitais de tal forma que devem fazer

parte do carácter mais geral da vida” (p. 3063).

O processo cultural é uma modificação do processo vital; sob a influência de Eros, que

consiste em unir indivíduos separados para formar uma comunidade libidinalmente

vinculada. E enquanto a evolução do indivíduo decorre segundo o princípio do prazer e

na procura da felicidade tem de conseguir também adaptar-se e incluir-se na

comunidade humana.

Sem processo cultural, o indivíduo não alcança a felicidade mas o processo cultural

exige restrições à própria felicidade. É aqui que surge a diferença entre a dimensão

egoísta e altruísta na cultura, opondo “a felicidade individual à da união humana” (p.

3064). Ambas as tendências disputarão terreno em “ambos os processos evolutivos: o

do indivíduo e o da cultura” (ibidem).


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É neste ponto do seu trabalho que postula a existência de um Super-Eu cultural, ainda

que baseado numa oscilação entre libido para o Eu e libido para o objecto, para

sustentar a analogia entre processo cultural e evolução do indivíduo. “O Super-Eu de

uma época cultural determinada tem uma origem análoga à do Super-Eu individual” (p.

3065). Afirma, de seguida, que muitas vezes é nos processos psíquicos colectivos que

devemos encontrar a semelhança com os processos psíquicos individuais.

Este Super-Eu cultural criou normas para as relações dos humanos entre si. De entre

elas, a mais importante é a Ética, que Freud compara a uma “tentativa terapêutica (ipsis

verbis) imperativa para alcançar a cultura. Citamos: “já sabemos que neste sentido o

problema consiste em eliminar o maior obstáculo com o qual se depara a cultura: a

tendência constitucional dos humanos a agredirem-se mutuamente” (p. 3066).

A cultura impõe restrições, gera a culpa e resulta dela. Será que o Homem não consegue

ver-se livre do barbilho da culpabilidade como garante da sua própria existência?

Volvidos três quartos de século sobre o escrito de Freud e à luz dos acontecimentos das

últimas décadas, podemos resumir – a cultura da culpa, fundada sobre a construção de

um Super-Eu individual e colectivo é limitativa do sujeito, auto-punitiva, e chega

mesmo a ser auto-destrutiva –; contudo, a ausência de limitação externa, tanto do ponto

de vista libidinal como agressivo perfura o tecido social e levaria os homens à

destruição recíproca.

Quando a cultura da culpa dá lugar à cultura narcísica, a situação agrava-se. Num

extremo, a culpa dá lugar à vergonha, ao medo de existir e de se afirmar – é a


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inferioridade narcísica manifesta –; no outro extremo, será a personalidade narcísica

afirmada (no pior sentido), com ausência de qualquer empatia, de identificação com o

outro, seu semelhante.

Este tipo de personalidade [narcísica] orienta-se por objectivos susceptíveis de conferir

imagem e visibilidade. Para ela, a única regra, ainda que às vezes camuflada, é a

ausência de regra.

É bem de ver que a cultura do sucesso, ou narcísica, é ela mesma ainda mais

mortificante do sujeito, que se obriga a si mesmo e, muitas vezes, se não conseguir os

seus objectivos, destrói-se; outras vezes, não olha a meios para atingir os fins, destrói o

Outro. Nesse sentido, a nossa cultura de sucesso não deixa de ser também uma forma de

recuo a um primitivismo donde o Homem sentiu necessidade de sair.

A alternativa poderá, então, ser: ligar os indivíduos entre si por laços de identificação, a

partir da internalização das relações de objecto predominantemente boas; de modo a

tornar possível a evolução do sujeito tendo o seu semelhante como garantia da sua

própria existência, segurança e bem-estar.

Keywords: Culpability, culture.


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Abstract: The author analyzes carefully a polemical work of Freud,


where is underlined the necessity of instincts’ control and the
internalization of aggressiveness as indispensable contributions to the
civilization’s process. On one hand, guilt culture appears as the best
obstacle to the collective disintegration. On the other hand, renouncing
to individual happiness in favour of security will lead man to the
development of guilt feelings and subsequently to depression. Freud
calls in question the guilt culture, since it promotes the failure and the
inferiority. The internalization of good relational experiences, in the
transformation of instinctive life and in the identification processes,
would be an alternative to civilization based upon instincts’ control.

REFERÊNCIAS
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BALDACCI, J.L. Dès le début … la sublimation ? (Rapport au 65 ème Congrès de


Psychanalystes de Langue Française) Bulletin nº 74 de la Société Psychanalytique de
Paris.

COIMBRA de MATOS, A.(2001), A Depressão, Lisboa, Climepsi Editores.

COIMBRA de MATOS, A.(2002), O Desespero, Lisboa, Climepsi Editores.

FREUD, S. (1929), Obras completas, vol. III, Madrid, Biblioteca Nueva, “El Malestar
en la Cultura”, pp.3017-3067.

KRISTEVA, J. (2005). “Je vis avec ce désir de sortir de moi », Le monde des livres,
Vendredi, 18 Novembre 2005.

MATOS, M. Adolescência representação e psicanálise, Lisboa, Climepsi Editores, 2005


(A emergência das representações na contratransferência como factor de transformação
no processo analítico, 205-257).

SECHAUD, E, “Perdre, sublimer” (Rapport au 65 ème Congrès de Psychanalystes de


Langue Française) Bulletin nº 74 de la Société Psychanalytique de Paris.

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