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1
CAGED: http://bi.mte.gov.br/eec/pages/consultas/evolucaoEmprego/consultaEvolucaoEmprego.xhtml#relatorioSetor
Acesso em 23/05/2019.
2
Dado publicado em: http://www.insper.edu.br/noticias/incentivo-eleva-peso-do-setor-automotivo-na-industria-do-pais/
Acesso em 15/06/2019
3
A cilindrada à qual o texto da lei faz referência é comumente conhecida pela expressão “carro 2.0”. As alíquotas até 1000
3
cm são aplicadas aos veículos populares, ou 1.0, e as demais àqueles com motor entre 1.0 e 2.0.
4
Dados disponíveis em: Renan Santiago Apolinário, Impacto da redução de tributos na venda de automóveis no
Brasil entre os anos de 2007 e 2015, Centro Universitário Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado. Publicado
2
Quadro I: Alteração das alíquotas do IPI para carros a gasolina
Quadro II: Alteração das alíquotas do IPI para modelos flex e a álcool
no periódico GEPROS. Gestão da Produção, Operações e Sistemas, Bauru, Ano 13, nº 1, jan-mar/2018, p. 19-35.
https://www.researchgate.net/publication/323618569_The_impact_of_the_reduction_of_tax_on_car_sales_in_Brazil_betwe
en_the_years_2007_and_2015 Acesso em 13/01/2019.
5
Todas as porcentagens do PIB têm como base os cálculos atualizados pelo IBGE e divulgados em 17/11/2016, em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/7531a821326941965f1483c85caca11f.xls Acesso em
23/01/2019.
3
Quadro III: Variação do PIB, carros montados, carros montados exportados
licenciamentos de carros novos nacionais - 2007 a 2015.
Os dados relativos à produção de automóveis montados no país, exportados e ao licenciamento de carros novos nacionais
foram extraídos do anuário da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) de 2017 em:
http://www.virapagina.com.br/anfavea2017/files/assets/common/downloads/publication.pdf Acesso em 23/05/2019
4
Entre as ações do governo federal que visam frear a recessão, destacamos o corte
da taxa de juros SELIC de 13,75% ao ano, em dezembro de 2008, para 8,75% no mesmo
mês de 2009;6 a redução do IOF sobre operações de crédito para pessoa física; a
diminuição em 99 bilhões e 800 milhões de reais das reservas dos depósitos compulsórios
das instituições financeiras junto ao Banco Central para elevar o montante de dinheiro que
pode ser emprestado. Desta forma, os juros dos financiamentos caem e o crédito passa de
40,48% do PIB, em 2008, para 43,66% do PIB, em 2009, alimentando o consumo. 7
Em dezembro de 2008, o governo cria também duas novas alíquotas do imposto de
renda para pessoa física. Graças a elas os contribuintes pagam cerca de 4 bilhões e 900
milhões de reais a menos em relação à tabela anterior.8 Além disso, amplia em um bilhão
de reais o montante do Programa Bolsa Família e antecipa de maio para janeiro o aumento
do salário mínimo, adiantando em cinco meses a injeção de 8 bilhões e 700 milhões de
reais na economia do país.
Em 2009, a redução do IPI é estendida às motocicletas, aos eletrodomésticos da
linha branca, a alguns itens da construção civil e aos bens de capital. No mesmo ano, o
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) libera 37 bilhões e 100
milhões de reais em créditos para a exportação, investimentos em inovação e compra de
bens de capital. Os gastos públicos em infra-estrutura ganham um acréscimo de 15 bilhões
e 300 milhões de reais e o lançamento do programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida”
injeta na economia mais 6 bilhões e 600 milhões de reais.9
O resultado desta somatória de ações aparece já no final do primeiro semestre de
2009, quando o CAGED registra um saldo positivo de 299.506 novos empregos formais e a
renda média começa a crescer.
Com estas reflexões não negamos o papel positivo da redução do IPI na compra dos
automóveis. Queremos apenas frisar que seus efeitos reais seriam modestos sem as ações
governamentais destinadas a colocar dinheiro no bolso das pessoas e das empresas a fim
de estimular o consumo e a demanda geral da economia.
Além disso, há um elemento que raramente é levado em consideração quando se
fala em diminuir os preços: a margem de lucro das empresas. Para termos uma idéia do que
ela representa, vamos a um exemplo concreto. No primeiro semestre de 2011, nas
concessionárias mexicanas, um Honda City, modelo LX com motor de 1.500 cm3, fabricado
6
Os dados apresentados e os que serão citados em seguida foram extraídos do histórico das taxas de juros fixadas pelo
COPOM e publicado pelo Banco Central em:
https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/legado?url=https:%2F%2Fwww.bcb.gov.br%2FPec%2FCopom%2FPort%2Ftaxa
Selic.asp Acesso em 26/01/2019.
7
Dados publicados no texto de Mônica Mora, Evolução do crédito no Brasil entre 2003 e 2010, IPEA texto de discussão
Nº 2022, em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3537/1/td2022.pdf Acesso em 21/01/2019.
8
Pela sistemática anterior, as pessoas que, em 2009, receberiam R$ 1.434,59 mensais estariam isentas do tributo; de R$
1.434,60 até R$ 2.866,70 teriam uma alíquota de 15%; e, acima de R$ 2.866,70, de 27,5%. Com as mudanças
introduzidas no final de 2008, quem ganha até R$ 1.434 segue isento. Deste patamar a R$ 2.150 contribui com 7,5%.
Entre R$ 2.150 e R$ 2.866, a alíquota é de 15%. De R$ 2.866 a R$ 3.582, 22.5%. Acima de R$ 3.582, o imposto de renda
pessoa física segue em 27,5%. Em: http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL919678-9356,00-
GOVERNO+ANUNCIA+MUDANCAS+NO+IR+PARA+BENEFICIAR+CLASSE+MEDIA.html Acesso em 03/02/2019.
9
Os dados sobre as políticas do Banco Central e do Governo Federal constam do estudo de Fábio Henrique Machado de
Almeida e Manuel Antonio Munguia Payés, A política econômica adotada pelo Brasil pós-crise de 2008. Acesso ao
texto completo em: https://drive.google.com/file/d/1txmXG0xEoyZT_t97vbWNJJU9dh6eR_PJ/view?usp=drivesdk
5
no Brasil, é vendido pelo equivalente a R$ 25.800,00. Desse total, R$ 3.500,00
correspondem ao custo do frete e cerca de R$ 2.000 ao lucro da revendedora, o que
possibilita concluir que cada unidade sai da fábrica por R$ 20.300,00, valor no qual está
incluído o lucro da montadora.
No mesmo período, este modelo é comercializado no Brasil a R$ 56.210,00. Sabendo
que a carga tributária para os carros desta cilindrada corresponde a 29,2% do preço ao
consumidor, temos um total de R$ 16.413,22 em impostos. A margem de lucro das
concessionárias é de 10%, ou seja, R$ 3.979,66. Quando somamos os R$ 20.300,00 do
valor inicial do carro, que como dissemos anteriormente já inclui o lucro da montadora, aos
tributos e ao lucro da concessionária no Brasil, temos um total de R$ 40.692,00. A diferença
desse valor em relação ao preço de venda é de R$ 15.518,00, que, possivelmente, é quanto
a Honda lucra a mais em cada unidade comercializada no país. 10
Desconsiderada a margem presente nos R$ 20.300,00 do preço pelo qual o Honda
City LX é vendido à concessionária do México, temos que o lucro auferido no Brasil
corresponde a 94,5% da carga tributária local e a 76,4% do preço de venda para o México.
Trata-se de uma fatia considerável e que oferece uma ampla margem de manobra nas
condições de venda ao consumidor final e, sobretudo, sem que isso figure entre os
elementos que encarecem o veículo.
É interessante notar que, ao falar das diferenças de preços entre os mesmos carros
vendidos no Brasil e em outros países, as montadoras costumam se referir à alta carga
tributária, à baixa escala de produção e aos custos da força de trabalho. Os impostos e os
lucros das concessionárias podem explicar a diferença entre os R$ 20.300,00 obtidos na
exportação para o México e o dobro desta quantia, mas não os R$ 56.210,00 do preço
cobrado no país. Em relação à quantidade produzida é difícil acreditar que os mais de dois
milhões e meio de carros anualmente produzidos no Brasil entre 2008 e 2014 não ofereçam
possibilidades de obter uma economia de escala capaz de reduzir os preços.
Quanto aos custos com salários e benefícios, trata-se de uma justificativa que não se
sustenta à medida que os trabalhadores encarregados de montar o produto destinado à
exportação são os mesmos que produzem o modelo vendido no mercado interno. E isso
sem contar que o modelo exportado para o México sai de fábrica equipado com freios a
disco nas quatro rodas com ABS e EBD, airbag duplo, ar-condicionado, vidros, travas e
retrovisores elétricos, itens que não são de série no carro vendido aqui. Ou seja, é absurdo
acreditar que os custos com salários e benefícios que encarecem os veículos comprados no
Brasil não pesam quando os mesmos trabalhadores montam carros melhor equipados que
se destinam ao mercado externo.11
10
Os números do exemplo citado constam da matéria de Luis Nassif, A discussão sobre o lucro das montadoras,
disponível em: https://jornalggn.com.br/economia/a-discussao-sobre-o-lucro-das-montadoras/ Acesso em 25/05/2019.
11
ABS (Antilock Braking Sistem) e EDB (Eletronic Brake force Distribution) são sistemas eletrônicos de frenagem que
atuam conjuntamente. O primeiro evita o travamento das rodas. O segundo atua no sentido de dosar a potência de
frenagem entre os eixos, aumentando a eficiência do sistema.
As informações relativas à quantidade de automóveis produzidos constam do anuário da ANFAVEA de 2017, citado
anteriormente. As especificidades do modelo vendido ao México estão na matéria cujo link está na nota anterior.
6
Por que razão, então, verificamos uma diferença tão grande nas margens de lucro?
A resposta parece estar em outra pergunta: por que baixar o preço se o consumidor
paga o que lhe é pedido? De acordo com o dirigente de uma montadora, “quando um carro
não tem um concorrente direto, a montadora joga o preço lá pra cima. É usual, até, a fábrica
lançar o carro a um preço acima do pretendido, para tentar posicionar o produto num
patamar mais alto. Se colar colou. Caso contrário, passa a dar bônus às concessionárias
até reposicionar o modelo num preço que o consumidor está disposto a pagar”. 12
À medida que o senso comum é seguidamente bombardeado por explicações que
apontam impostos, economia de escala e custos da força de trabalho como elementos que
encarecem os veículos vendidos no mercado interno, ninguém questiona o papel das
margens de lucro na definição dos preços ao consumidor.
Apesar de não dispormos de dados consolidados sobre os lucros auferidos em cada
período, vamos esboçar a sua possível influência no caso da compra do Gol City (zero
quilômetros, 1000 cm3, 8 Válvulas, 4 portas) da Volkswagen. Para este fim, analisaremos a
relação entre os preços deste carro popular, o valor médio da prestação destinada à
compra, as alíquotas do IPI e o rendimento médio real do trabalhador brasileiro entre junho
de 2007 e o mesmo mês de 2015:13
Fonte: Apolinário (2018, pg. 27) a partir de dados da FIPE (para automóvel) e IBGE (para renda).
12
Em Luis Nassif, A discussão sobre o lucro das montadoras, disponível em: https://jornalggn.com.br/economia/a-
discussao-sobre-o-lucro-das-montadoras/ Acesso em 25/05/2019.
13
O gráfico encontra-se em Renan Santiago Apolinário, Impacto da redução de tributos na venda de automóveis no
Brasil entre os anos de 2007 e 2015. Texto citado.
7
de financiamento. Ao interagirem, estes elementos revelam o que passaria desapercebido
se centrássemos as atenções apenas na redução do tributo.
Notamos de imediato que, a partir do início de 2008, o preço deste modelo supera o
valor da prestação média que o trabalhador pode pagar com a sua renda. Este movimento
não pode ser atribuído ao aumento da carga tributária, à medida que ela não apresenta
alterações. A nosso ver, dois fatores estão na base desta elevação: a redução dos recursos
destinados ao crédito para a compra de veículos automotores a partir de janeiro de 2008 e o
forte crescimento do PIB em 2007 e no primeiro semestre de 2008. O primeiro encarece os
juros e o segundo cria um cenário no qual a redução do desemprego e o esperado aumento
da renda permitem apostar em preços que embutem lucros mais polpudos.
À medida que os salários não confirmam a evolução esperada e a crise dificulta os
financiamentos, o valor do carro faz com que a prestação fique acima do que as pessoas
podem pagar. Fora do alcance do grupo social que costuma adquirir veículos populares, a
queda nas vendas força a Volkswagen a reduzir o seu preço e, portanto, a abrir mão de
parte dos lucros almejados. É interessante reparar que isso ocorre antes da redução da
alíquota do IPI e na contramão do aumento da taxa de juros SELIC que atinge o ponto mais
alto dos dois últimos anos em dezembro de 2008, com 13,75%.
Como vimos anteriormente, entre as medidas para evitar um forte encolhimento do
PIB, o Banco Central diminui a taxa de juros (que encerra 2009 em 8,75%) e os depósitos
compulsórios das instituições financeiras, ao mesmo tempo em que aumenta o prazo de
financiamento dos carros acima do limite de 24 meses do período anterior. A melhora das
condições de crédito, o IPI em 0% e os estoques elevados reduzem o preço e o valor médio
das prestações.
A coincidência entre o tamanho das parcelas e a possibilidade de endividamento,
porém, se dá apenas em maio de 2009. A melhora das perspectivas de venda e de lucro
para o segundo semestre faz com que, a partir de junho daquele ano, o valor da prestação
ensaie uma pequena elevação.
O volume de negócios de 2009 e o PIB em alta de 7,5% em 2010 contribuem para
aumentar o valor médio da prestação do carro até junho de 2010. Poderíamos atribuir este
comportamento à progressiva recomposição da alíquota do IPI entre outubro de 2009 e abril
de 2010, mas o seu impacto sobre o preço final, além de pequeno, seria anulado pelo
elevado número de prestações que, em alguns casos, chegam a 80 meses.
Seguindo o caminhar do tempo e da economia, nos deparamos com uma queda nos
preços entre julho e dezembro de 2010 que não pode ser atribuída à redução da alíquota do
IPI e sim aos veículos que começam a se avolumar nas montadoras e nas concessionárias.
Com a taxa de juros SELIC chegando em 10,75% em julho de 2010, os financiamentos
tendem a encarecer e o aumento das vendas passa a depender, essencialmente, da
redução das margens de lucro.
Paralelamente a isso, o esforço para desovar os estoques através das facilidades do
crédito leva ao aumento da inadimplência. Em dezembro de 2010, 2,5% das pessoas que
adquiriram um carro graças a financiamentos contraídos nos dois anos anteriores estão com
8
atrasos superiores a 90 dias no pagamento das parcelas devidas. Este número não pára de
crescer à medida que a taxa de juros SELIC atinge 12,5% ao ano em julho de 2011 e a
euforia das compras eleva a parcela da renda familiar comprometida pelas dívidas.
No final de 2010, o Banco Central muda as regras dos financiamentos para conter a
inadimplência. As vendas com prazos entre 24 e 36 meses devem contar com uma entrada
correspondente a 20% do preço do veículo; nas de 36 a 48, o valor à vista deve ser de 30%;
e de 40% quando a compra é efetuada num prazo entre 48 e 60 meses, diminuindo assim o
valor das prestações. Mas o equilibro entre oferta e demanda conseguido na passagem de
2010 para 2011, os juros maiores e as perspectivas de crescimento da economia fazem o
valor das parcelas subir ao longo do primeiro semestre de 2011.
Entre julho de 2011 e dezembro do ano seguinte, o movimento se inverte. Em maio
de 2011, a inadimplência revela o grau de deterioração do orçamento familiar ao alcançar
3,6% dos consumidores que adquiriram um carro a partir de dezembro de 2008 e chega a
7% em agosto de 2012.14 Oito meses antes da volta do IPI reduzido, os preços iniciam uma
trajetória de queda impulsionada pela redução da taxa de juros (que atinge os 7,25% em
outubro de 2012), pelas incertezas que começam a pairar na economia (cujo ritmo de
crescimento do PIB cai de 4% em 2011 para 1,9% no ano seguinte) e pelo aumento dos
estoques. Pressionada por estes fatores, entre outubro de 2012 e fevereiro de 2013, a
Volkswagen reduz o preço médio do Gol ao menor patamar da série temporal analisada.
Em 2013, o PIB retoma fôlego, a inflação ameaça crescer acima do teto pré-
estabelecido e a taxa SELIC sobe a partir de abril. O pequeno aumento da renda média real
em relação ao ano anterior é acompanhado pela elevação do valor médio da prestação,
enquanto a alíquota do IPI passa de 0% a 2%.
O cenário proporcionado pela melhora dos indicadores econômicos contribui para
justificar parcelas mais caras, inclusive a possibilidade de fazer com que a retomada das
vendas recupere parte dos lucros não realizados no período anterior. A melhora da renda e
o nível médio das prestações criam um novo ponto de equilíbrio que perdura até o final do
primeiro semestre de 2014. Prova disso é que o índice de inadimplência nos financiamentos
de automóveis recua a 5,8% em agosto de 2013 e a 4,6% um ano depois.15
Em 2014, a deterioração do ambiente econômico faz com que o primeiro trimestre se
encerre com um estoque de carros correspondente a 48 dias de vendas, 12 a mais em
relação a dezembro de 2008.16 Neste cenário, uma ulterior diminuição da procura leva os
preços médios do Gol a uma redução que caminha em sentido oposto ao que seria
14
As informações relativas ao financiamento e à inadimplência que acabamos de utilizar constam do estudo de Mario
Jorge Mendonça, Tito Belchior S. Moreira e Adolfo Sachsida, Uma avaliação da demanda creditícia para automóveis no
Brasil no período de 2000 a 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ecos/v26n2/1982-3533-ecos-26-02-
00427.pdf&ved=2ahUKEwiMvaeLzcDiAhWuHbkGHfSRDdA4KBAWMAl6BAgGEAE&usg=AOvVaw2hEPjM7o96Bo0GSg01i
DeA Acesso em 29/05/2019
15
Em: http://www.assessocred.com.br/noticia1.php?id=49 Acesso em 29/05/2019.
16
Dado publicado em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/estoque-de-carros-atinge-maior-nivel-desde-2008-
8n0t13az8bnvj3uf575rfzc5q/ Acesso em 26/05/2019.
Os números de dezembro de 2008 estão disponíveis em: http://g1.globo.com/Noticias/Carros/0,,MUL947714-9658,00-
PRODUCAO+DE+VEICULOS+DESPENCA+EM+DEZEMBRO.html. Acesso em 29/05/2019.
9
esperado com o aumento da alíquota para 3% em janeiro de 2014 e a nova alta progressiva
da taxa de juros SELIC que chega a 11,75% em dezembro do mesmo ano.
Em 2015, o IPI volta a ser cobrado integralmente, a taxa de juros alcança os 14,25%
e o PIB encolhe 3,8%. Apesar do IPI e dos financiamentos serem mais caros, a demora em
equilibrar oferta e demanda faz o preço do carro e o valor médio da prestação caírem,
contrariando o que seria esperado se tivéssemos como base apenas o raciocínio pelo qual
o aumento dos impostos força uma elevação dos preços.
A análise da realidade mostra que as fórmulas econômicas frequentemente
divulgadas pela mídia não levam necessariamente aos resultados prometidos, sobretudo
quando o cenário macroeconômico é adverso e a margem de lucro muito elevada. Nestas
condições, nem sempre a redução dos impostos produz um aumento das vendas e nem a
recomposição das alíquotas se traduz imediatamente em elevação dos preços. As
quantidades vendidas e a diminuição dos valores cobrados dependem de um conjunto
complexo de fatores que dialogam com os interesses empresariais e com os resultados por
eles almejados.
Nesta altura, duas perguntas nascem espontaneamente: Qual é a margem de lucro
da Volkswagen em junho de 2008, quando o preço do carro e o valor médio das prestações
estão acima do que as pessoas podem pagar? Em que nível ela se encontra no final de
2012, momento em que os dois fatores estão no patamar mais baixo do intervalo entre
junho de 2007 e o mesmo mês de 2015?
Infelizmente, esses dados são parte de um segredo guardado a sete chaves.
Todavia, como evidenciam os dados do gráfico 1, a renúncia fiscal tem um papel bem
menos importante do que costuma ser alardeado e, em alguns momentos, o comportamento
dos preços está na contramão da flutuação das alíquotas.
Se não podemos descartar o papel do crédito, da taxa de juros e da renúncia fiscal,
também não conseguimos explicar a variação dos preços do Gol e das parcelas
correspondentes desconsiderando o lucro do fabricante como um elemento do equilíbrio
entre o valor das prestações, a renda dos trabalhadores e as dificuldades de desovar os
estoques. Mas, em relação aos ganhos da montadora, empresários, mídia, governos e
economistas costumam guardar um silêncio absoluto.
Agora, vamos verificar até que ponto se confirma a expectativa pela qual o aumento
das unidades vendidas compensa as perdas produzidas pelas alíquotas menores. O quadro
IV ilustra a distância entre esta crença e a realidade:17
17
A arrecadação do IPI dos carros consta do estudo de Laís Sienna Alves e Marcelo Driemeyer Wilbert, Redução do
Imposto sobre Produtos Industrializados e a venda de automóveis, apresentado ao XI Congresso de Iniciação
Científica em Contabilidade da USP, São Paulo, 21 a 23 de julho de 2014, disponível em:
https://congressousp.fipecafi.org/anais/artigos142014/265.pdf Acesso em 24/01/2019.
O IPI de 2013 está disponível em: http://receita.economia.gov.br/dados/receitadata/arrecadacao/relatorios-do-resultado-da-
arrecadacao/arrecadacao-2013/dezembro2013/analise-mensal-dez13.pdf Acesso em 28/02/2019.
O IPI de 2014 está disponível em: http://receita.economia.gov.br/dados/receitadata/arrecadacao/relatorios-do-resultado-da-
arrecadacao/2014/dezembro2014/analise-mensal-dez-2014.pdf Acesso em 28/02/2019.
Os números que se referem aos carros licenciados em cada ano foram extraídos do Anuário da ANFAVEA de 2017.
Os valores referentes à arrecadação foram atualizados pela inflação acumulada até 2014.
10
Quadro IV: Carros novos licenciados no Brasil, carros licenciados até 1000 cm³,
participação dos carros até 1000 cm³, arrecadação do IPI.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da ANFAVEA, da Receita Federal e de Laís Sienna Alves e Marcelo
Driemeyer Wilbert (2014, pg. 7).
18
Os números relativos às exportações e às importações de carros constam do Anuário da ANFAVEA de 2017.
12
Quadro V – Relação entre carros novos licenciados no Brasil e participação dos
automóveis zero quilômetro importados em números absolutos
19
Em nossas reflexões, excluímos o que o mercado automobilístico brasileiro chamou de Super IPI. Inicialmente
introduzida através do Decreto nº 7.567/11, de 15/09/2011, a alíquota que aumentava em 30 pontos percentuais o IPI
sobre os carros importados não procedentes do México e do MERCOSUL, acabou não sendo aplicada a nenhuma
montadora. Em função da forte pressão do setor, foram excluídas do pagamento deste adicional as empresas que: 1.
Realizassem gastos em pesquisa e desenvolvimento de, no mínimo, 0,13% da receita bruta em 2013 e de 0,50% entre
2015 e 2017; 2. Fizessem investimentos em engenharia correspondentes a, pelo menos, 0,5% sobre a receita bruta total
de venda de bens e serviços em 2013, e de 1% em 2015, 2016 e 2017; 3. Participassem do Programa de Etiquetagem
Veicular definido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e estabelecido pelo Instituto Nacional
de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), com percentuais mínimos de produtos relacionados a serem
etiquetados (o decreto previa 36% para 2013, 49% para 2014, 64% para 2015, 81% para 2016 e 100% em 2017). Em
função das diferentes manobras das montadoras, na prática, nenhum veículo importado pelo Brasil pagou a alíquota
prevista pelo decreto.
20
Dados disponíveis em: Em: http://www.farmnews.com.br/mercado/dolar-frente-ao-real-2/ Acesso em 03/02/2019.
21
Os dados foram publicados inicialmente na versão impressa do jornal O Estado de São Paulo em 17/04/2016.
22
O quadro foi montado a partir dos dados do Anuário sobre o Desempenho do Setor de Autopeças em 2018, disponível
em: http://www.virapagina.com.br/sindipecas2018/1/#zoom=z Acesso em 04/02/2019.
14
Quadro VII – Situação das fábricas de autopeças no Brasil – 2007-2014
De imediato, dois elementos saltam aos olhos. O primeiro é que a porcentagem das
vendas às montadoras atinge o patamar mais elevado em 2011. O segundo é que a balança
comercial do setor é sempre negativa, sinalizando que a importação de componentes tem
um papel estrutural no fornecimento de insumos ao mercado interno, mesmo quando a
ociosidade das instalações permite uma ampliação da produção local. Em 2013, as linhas
de montagem desovam o maior número de automóveis do período e a demanda das
montadoras representa 70,4% das autopeças vendidas. Apesar do cenário extremamente
favorável, o uso da capacidade instalada está mais de 14 pontos percentuais abaixo do
patamar de 2007 e o déficit comercial é o maior do intervalo considerado ao somar quase
10 bilhões de dólares.
Em defesa das fábricas de autopeças, alguém poderia alegar que a importação
respondia a uma necessidade conjuntural, fruto do aumento inesperado da demanda. Mas
esta hipótese não se sustenta ao vermos que a utilização da capacidade instalada cai de
2007 em diante, ao passo que os saldos negativos aumentam de um ano para outro.
Se isso não bastasse, em 2013 e 2014, as importações se tornam mais caras em
função da desvalorização do real e, teoricamente, deveriam encolher os volumes
importados, mas nesses anos ocorre justamente o contrário. Isso leva a crer que a redução
da produção de automóveis no exterior contribuiu também para baratear os preços das
autopeças produzidas em outros países, fazendo com que compensasse mais importar do
que manufaturar esses componentes no Brasil. No lugar de estimular os investimentos
locais para reduzir as compras no mercado internacional, a resposta empresarial ao
crescimento da demanda faz com que as medidas econômicas para reativar a economia,
produzam bem menos empregos, renda e desenvolvimento do que a renúncia fiscal tornava
plausível esperar.
Mas há um outro elemento que não podemos esquecer. As medidas governamentais
para sustentar o crescimento econômico pressupunham que os recursos não arrecadados
através da redução das alíquotas fossem colocados a serviço do país pelas empresas que
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se beneficiavam deles. Em relação às montadoras de veículos, queremos saber quanto
dinheiro enviaram para fora do Brasil e quanto trouxeram do exterior para investir aqui.
Não encontrando dados que se referem somente aos carros de passeio, tanto as
remessas de lucro como os investimentos realizados têm como base o conjunto da
produção automotiva que inclui comerciais leves, ônibus, caminhões, máquinas agrícolas e
rodoviárias. Desde já, queremos deixar claro que os montantes assinalados não incluem o
pagamento de empréstimos intercompanhias cujo valor costuma ser elevado e sobre os
quais pesam suspeitas de que se trate de um mecanismo para enviar ao exterior bem mais
do que é permitido pelas regras que normatizam as remessas de lucro. 23
Sendo assim, vamos aos números relativos à taxa de câmbio, às remessas de lucros,
aos investimentos no exterior efetuados pelas montadoras instaladas no Brasil e aos que
foram recebidos por elas de filiais e matrizes sediadas em outros países: 24
23
Para termos uma idéia dos valores, em 2011, esse tipo de empréstimos somou nada menos do que 18 bilhões e 760
milhões de dólares. Dado publicado em: https://oglobo.globo.com/economia/remessas-de-multinacionais-estao-no-foco-do-
governo-5147422 Acesso em 06/02/2019.
24
O valor do câmbio médio anual foi calculado pelo autor a partir dos valores mensais disponíveis em:
http://www.farmnews.com.br/mercado/dolar-frente-ao-real-2/ Acesso em 31/05/2019. Os demais dados encontram-se em:
http://www.bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais Acesso em 01/06/2019.
16
que o fluxo de investimentos estrangeiro destinado às fábricas de veículos sediadas no país
é o mais baixo do período com apenas 533 milhões de dólares. No extremo oposto, em
2016, o dinheiro remetido ao exterior não passa de 203 milhões de dólares enquanto a
entrada de recursos chega ao ponto mais alto com 6 bilhões e 571 milhões de dólares.
Verificamos assim que, além das necessidades da produção ou do êxito das vendas,
o fluxo de capitais é determinado também pelo câmbio. Sempre que a moeda nacional se
valoriza, são necessários menos reais para comprar a mesma quantidade de dólares, ou
seja, é possível enviar ao exterior um volume maior de recursos em moeda forte. O
contrário ocorre quando a nossa moeda se desvaloriza. Neste caso, cada dólar recebido do
exterior é trocado por uma quantidade maior de reais.
Nos dez anos considerados, a riqueza produzida no Brasil e enviada ao exterior na
forma de lucros e investimentos soma 33 bilhões e 614 milhões de dólares. Sabendo que,
no mesmo período, entraram 23 bilhões e 42 milhões de dólares, temos que o saldo líquido
mandado para fora do país é de 10 bilhões e 572 milhões de dólares.
Agora, vamos comparar este dado com a renúncia fiscal relativa às várias formas de
redução do Imposto sobre Produtos Industrializados da qual as montadoras se beneficiaram
entre 2007 e 2016 e que vão além da redução das alíquotas sobre os carros de passeio: 25
25
As estimativas foram extraídas dos Demonstrativos dos Gastos Tributários da Receita Federal do Brasil. O total de cada
ano não inclui as isenções do IPI sobre carros que se destinam ao transporte coletivo (táxi) e a deficientes físicos. Todo o
material está disponível em: http://receita.economia.gov.br/dados/receitadata/renunciafiscal/previsoes-ploa/arquivos-e-
imagens/demonstrativos-dos-gastos-trbutarios-dgt Acesso em 21/05/2019.
17
Curiosamente, entre 2007 e 2016, o saldo entre entradas e saídas de recursos das
montadoras supera a renúncia fiscal em 548 milhões de dólares. Ou seja, as empresas
enviaram para fora mais riqueza do que aquela que o Estado deixou de arrecadar para
atender as necessidades coletivas. Caso considerássemos apenas o período entre 2009 e
2014, teríamos que as remessas líquidas somam 13 bilhões e 903 milhões de dólares, ante
uma renúncia fiscal de 7 bilhões e 262 milhões de dólares.
Mas isso não é tudo. Entre 2008 e 2014, as fábricas de veículos aqui instaladas
obtiveram empréstimos de 37 bilhões e 800 milhões de reais junto ao Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cerca de 19 bilhões e 260 milhões de
dólares.26
No mesmo período, já descontados os investimentos recebidos de outras filiais, as
montadoras locais remeteram ao exterior praticamente o mesmo valor (19 bilhões e 63
milhões de dólares) na forma de lucros e investimentos. Ou seja, longe de correrem riscos
com o dinheiro próprio, as empresas lançaram mão de recursos públicos para adequar as
linhas de produção às perspectivas de lucro futuro.
O tapa na cara do povo brasileiro é ainda mais dolorido quando lembramos que o
dinheiro do BNDES é obtido junto ao mercado financeiro pela taxa de juros SELIC e era
emprestado às montadoras pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).
Para termos uma idéia dos prejuízos adicionais assumidos pelo Estado, basta pensar
que a taxa SELIC flutuou entre 13,75% e 7,5% no período que vai de outubro de 2008 ao
mesmo mês de 2012 e encerrou dezembro de 2014 na marca dos 11,75%. Neste espaço de
tempo, a TJLP ficou em 6,5% entre outubro de 2008 e junho de 2009, caiu a 6% de julho de
2009 a junho de 2011; desceu a 5,5% ao ano no período de julho de 2011 a dezembro de
2012 e permaneceu em 5% nos dois anos seguintes.27
Sabe quem pagou o montante de dinheiro relativo à diferença entre as duas taxas de
juros? Ora...você que está lendo esse texto...eu...e todos os cidadãos através dos impostos.
Ou seja, enquanto as montadoras aprimoravam as condições de produção que elevariam os
lucros e as remessas ao exterior, cada brasileiro arcava com uma cota dos prejuízos
amargados pelo Estado através desta forma de concessão de crédito.
Trata-se de um cenário que eleva o endividamento do Estado e, com ele, o montante
dos juros pagos para financiar esta dívida que cresce sem parar e drena cada vez mais
recursos antes destinados aos programas sociais. Em defesa das desonerações, alguém
poderia alegar que, apesar dos recursos públicos terem propiciado lucros extraordinários às
empresas, o aumento das vendas levou a um crescimento da produção e à geração de
muitos empregos. Vamos então verificar quantos postos foram criados nas montadoras e
nas fabricas de autopeças e quanto cada um deles custou aos cofres do Estado: 28
26
Dado disponível em: https://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/12039.pdf Acesso em 07/01/2019.
27
Os dados da SELIC estão em: https://br.advfn.com/indicadores/taxa-selic/valores-historicos Acesso em 10/02/2019. As
taxas da TJLP em: https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/guia/custos-financeiros/taxa-juros-longo-
prazo-tjlp Acesso em 12/02/2019.
28
Os números de empregados nas montadoras e nas fábricas de autopeças encontram-se, respectivamente, no anuário
da ANFAVEA de 2017 e do Desempenho do Setor de Autopeças em 2018, ambos citados anteriormente.
18
Quadro X: emprego nas montadoras e empresas de autopeças e renúncia fiscal.
29
Sempre de acordo com o Anuário da ANFAVEA de 2017, entre 2008 e 2009, o número total de veículos montados e
desmontados (CKD) caiu de 370.854 a 369.609 para os de comerciais leves; de 167.406 a 123.633 para os ônibus; e de
44.111 para 34.536 para os caminhões, o que explica a redução do número de empregados.
30
Os dados preliminares do estudo estão disponíveis em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc28089802.htm Acesso
em 04/02/2019. O valor total em dólares foi obtido somando os custos iniciais, U$ 7,6 bi, com os montantes dos títulos da
dívida agrária a serem pagos até 2012, e que perfazem o total de U$ 9,012 bi.
19
bilhões, 27 milhões e 752 mil reais (cerca de 28 bilhões, 206 milhões e 251 mil dólares, pelo
câmbio da época) na construção de um milhão e 4 mil 257 unidades habitacionais, 56,89%
das quais para famílias entre 1 e 3 salários mínimos. Graças a este investimento, foram
gerados 804.249 empregos diretos e indiretos. Cada vaga custou aos cofres públicos o
equivalente a 35.071 dólares. Ou seja, com a mesma quantidade de dinheiro usada para
criar um único posto de trabalho nas montadoras ou nas fábricas de autopeças, o Programa
Minha Casa, Minha Vida, criou quase nove vagas no âmbito da construção civil. 31
O exemplo da relação entre investimento e geração de empregos relativa ao
Programa Minha Casa, Minha Vida mostra resultados bem mais consistentes para o
conjunto da população do que a redução do IPI dos automóveis. Mas, para isso, é preciso
que o Estado tenha dinheiro.
Seguindo as pegadas de Michel Temer, o governo do presidente Jair Bolsonaro
promove um ajuste fiscal baseado no corte dos gastos e dos investimentos, deixando
praticamente intacto o volume de desonerações sobre o qual o Estado não tem o menor
controle e cujos benefícios sociais são bastante duvidosos.
Os dois presidentes não podem alegar que desconhecem esta realidade. O relatório
do Tribunal de Contas da União aprovou com ressalvas as contas de 2017, afirmando que
os 354 bilhões e 700 milhões de reais em renúncia fiscal nelas encontrados representavam
30% da receita líquida do governo e superavam em 31,9% os 268 bilhões e 800 milhões de
reais referentes à soma dos déficits da Previdência Social e das aposentadorias dos
servidores federais. Naquele ano, 84% das renúncias fiscais não tinham prazo para
terminar, o que representa uma perda crônica de arrecadação por parte do Estado. Se isso
não bastasse, o TCU afirmava que 44% dos benefícios tributários vigentes não eram
fiscalizados por nenhum órgão governamental, o que deixava os beneficiários totalmente
livres para fazer o que bem entendessem com o dinheiro que o Estado deixava de
arrecadar.32
Depois dos fatos apresentados, ainda é possível sustentar a idéia pela qual a
redução dos impostos, por si só, gera benefícios para todos? Quem saiu ganhando muito
dinheiro? O povo? As empresas? O país?
Bom, você mesmo pode tirar suas próprias conclusões...
No próximo capítulo, seguiremos com novas reflexões e com novas surpresas.
31
Os dados referentes às unidades habitacionais construídas e aos valores investidos em reais foram publicados em:
Carlos Alberto Gonçalves Junior, Ricardo de Lemos Dutra, Ricardo Luis Lopes e Rossana Lott Rodrigues, O impacto do
Programa Minha Casa, Minha Vida na economia brasileira: uma análise de insumo-produto. Em: Ambiente Construído,
Porto Alegre, Vol. 14, n. 1, jan./mar. 2014, pg. 177-189. Texto completo em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-
86212014000100014&script=sci_abstract&tlng=pt Acesso em 7/08/2019.
O número de empregos criados no período consta da página eletrônica: http://www.pac.gov.br/noticia/d911a99e Acesso
em 7/08/2019.
A conversão para o dólar foi feita utilizando o valor médio da moeda dos dois anos considerados.
32
Dados publicados em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2018-06/brasil-deixou-de-arrecadar-r-3547-bi-
com-renuncias-fiscais-em-2017 Acesso em 06/08/2019.