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OPINIÃO OPINION
Hospitals and health professional education:
contemporary challenges
Abstract Both the role of hospitals in health Resumo O lugar do hospital na formação em
professionals education and hospital’s needs in saúde e as demandas dos próprios hospitais em
terms of professionals for health care and hospital relação à formação de profissionais para atenção
management are changing as health systems move e gestão hospitalares estão em processo de redefi-
towards quality, comprehensiveness, efficiency nição, tendo em vista a busca por qualidade, inte-
and costs control. The article intends to analyze gralidade, eficiência e controle de custos nos siste-
dilemmas and challenges in each of these fields, mas de saúde. O artigo procura contextualizar os
acknowledging hospitals’ complexity, their criti- dilemas e tensões em cada um desses campos, re-
cal role on healthcare delivery and their deep in- conhecendo a complexidade da organização hos-
volvement in the hegemonic orientation for pitalar, seu lugar crítico na prestação de serviços e
health education and practice. seu profundo envolvimento no engendramento do
Key words De-hospitalization, Comprehensive modelo médico-hegemônico no âmbito das práti-
healthcare, Work in health, Meaningful learn- cas e da formação em saúde.
ing, Learning scenarios diversification, Complex Palavras-chave Desospitalização, Integralidade
organizations management da atenção, Trabalho em saúde, Aprendizagem sig-
nificativa, Diversificação de cenários de aprendi-
zagem, Linhas de cuidado, Gestão de organiza-
ções complexas
1
Instituto de Saúde da
Comunidade, Departamento
de Planejamento em Saúde,
Universidade Federal
Fluminense. Rua Marquês
do Paraná 303/ 3o. andar,
Prédio Anexo do HUAP,
Centro. 24030-210 Niterói
RJ. laura.macruz@gmail.com
2
Universidade Federal de
São Paulo.
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Feuerwerker, L. C. M. & Cecílio, L. C. O.
mais dinâmicos, em apoio matricial, em constru- nhece como muito mais efetiva a aprendizagem
ção de linhas de cuidado que articulem diferentes a partir de questões relevantes para o estudante
equipamentos de saúde na produção das respos- – porque provocam um “desconforto mobiliza-
tas às necessidades dos usuários, desde que supe- dor”, indispensável para estimular a busca de
rado o marco conceitual hegemônico que orienta novos conhecimentos, e porque possibilitam di-
sua concepção (um mundo à parte, autocentra- alogar com os conhecimentos prévios – adquiri-
do e auto-suficiente no cuidado à saúde). dos pela vivência e experiências anteriores de
aprendizagem) e da aprendizagem ativa (papel
ativo do aprendiz na busca e produção do co-
Os caminhos da mudança na formação nhecimento e de novos sentidos; professor com
de graduação das profissões da saúde papel de facilitador)20.
Incorporou-se, portanto, na reflexão peda-
Na saúde, os processos de desenvolvimento tec- gógica da área da saúde a necessidade de planejar
nológico e de especialização tiveram grande im- e organizar o processo de ensino-aprendizagem
pacto no ensino de graduação, em função da per- levando em conta as necessidades de aprendiza-
da de consenso sobre as competências típicas da gem dos estudantes13.
formação geral e sobre as contribuições das dife- A partir das contribuições da Pedagogia Crí-
rentes áreas de saber nesse âmbito. Houve, as- tica e do conceito de relevância social da universi-
sim, ao longo do tempo, uma multiplicação da dade, também se reconhece que as questões de
oferta de disciplinas, de conteúdos, de procedi- aprendizagem devem ser significativas do ponto
mentos, acarretando fragmentação e desarticu- de vista social (cultural, epidemiológico, social,
lação de conteúdos na formação de graduação, econômico, etc.), porque somente assim são ca-
que implicaram a perda da capacidade dos cur- pazes de propiciar a produção de conhecimento
sos de graduação, particularmente em medicina, e a conformação de um perfil profissional que
de preparar os recém-formados para ingresso dialoguem com a realidade social e com os pro-
imediato no mercado de trabalho13. blemas e as políticas de saúde do país.
Os impasses enfrentados na formação e toda Esse conjunto de reflexões, articuladas à his-
a movimentação pela construção do SUS leva- tória da formação profissional em saúde, levou
ram a que se configurasse, há décadas, um inten- a que os problemas da realidade, as vivências e o
so debate – atualmente em todas as profissões trabalho sejam reconhecidos como centrais na
da saúde, com destaque para medicina e enfer- produção da aprendizagem em saúde, funda-
magem – a respeito da necessidade de transfor- mentais para a aprendizagem significativa e para
mar a formação dos profissionais e as práticas a articulação das várias áreas de saber constituti-
de saúde. Muito antes das diretrizes curriculares vas da saúde. Em conseqüência, as diretrizes cur-
nacionais, portanto, na área da saúde já havia riculares nacionais propõem para todas as gra-
movimentos de mudança na graduação, dentre duações em saúde que a prática contextualizada
os quais merecem destaque a CINAEM (Comis- ocupe lugar central na formação: presente desde
são Interinstitucional Nacional de Avaliação do o início da formação e ocorrendo em cenários
Ensino Médico), a mobilização da Associação diversificados ao longo de todo o curso13.
Brasileira de Enfermagem em torno das diretri- Aqui entram os debates do núcleo saúde na
zes para a graduação e a mobilização pela articu- formação. Busca-se a integralidade na formação
lação entre instituições de ensino, sistema de saúde e trabalha-se com um conceito ampliado de saú-
e organizações populares de que o movimento de. Desse modo, a diversificação dos cenários de
da Rede UNIDA é um exemplo significativo13. aprendizagem é fundamental porque há diferen-
Há dois núcleos centrais na produção da tes tipos de complexidade envolvidos nos pro-
mudança na formação das profissões da saúde. blemas de saúde, que exigem a mobilização de
Um núcleo educacional e outro relativo à saúde. diferentes áreas de saber e de diferentes tecnolo-
Nas reflexões educacionais dos movimentos de gias e todos eles precisam ser endereçados du-
mudança da saúde, têm sido muito considera- rante a formação.
das as contribuições da Escola Nova14, da Peda- Há situações críticas, com risco de vida, que
gogia Crítica15, 16, da Pedagogia Pós-Crítica17, de exigem a mobilização prioritária de tecnologias
Piaget18 e Vigotsky19 para a compreensão da di- duras (equipamentos para diagnóstico e para
nâmica do processo de aprendizagem em saúde. intervenções terapêuticas, medicamentos) e leve-
Nesse campo, atualmente se destacam os con- duras (clínica, epidemiologia) e em que a auto-
ceitos da aprendizagem significativa (que reco- nomia do usuário está muito reduzida (pacien-
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melhores produtos por meio de uma agressiva cantes graus de liberdade para a ação dos atores
política de incorporação tecnológica e um cres- institucionais, de negociação e construção de
cente aperfeiçoamento e controle de seus proces- complexas e fluidas redes de contratualidades,
sos internos. Quem não se atualiza, buscando re- de conflitos, de configuração de coalizões e gru-
engenharias internas, e não moderniza seus pro- pos de interesse e disputa. Por tudo isto, é lugar
cessos de gestão, termina ultrapassado pela onda de possibilidades de caminhar em outros senti-
de modernização, competitividade e eficiência - dos e direções, lugar de conflitos e mudanças9.
marcantes em nossos tempos9. Para dar conta da ebulição instituinte da vida
O paradigma funcionalista dá conta de cer- hospitalar, com seus múltiplos atores batalhan-
tas questões da administração hospitalar já que do e mobilizando recursos para os seus objeti-
o hospital também funciona como um sistema, vos operacionais, seus interesses pessoais, cor-
ou melhor, tem aspectos de funcionamento sis- porativos e de grupos, é preciso agregar a esta
têmico, tem partes mais estruturadas e previsí- discussão um outro referencial. Basta ver como
veis, fluxos de insumos, processos com certa a questão da delicada inserção dos médicos na
materialidade e outputs claramente reconhecidos9. vida hospitalar (não) é tratada nos textos de ad-
Mas há a necessidade de uma reflexão teórica ministração hospitalar, em particular nos orga-
que inclua outros referenciais para dar conta da nogramas, que, de alguma forma, traduzem os
singularidade e dos desafios presentes na gestão mecanismos de (não) coordenação do trabalho
dos hospitais. destes profissionais. Esse referencial é o da análi-
Graça Carapinheiro21, discutindo o tema no se institucional 22, 23.
campo da Sociologia, problematiza o hospital a Se os hospitais, em si, são instituições tão
partir de três vertentes teóricas principais. Numa complexas, num contexto de mudanças como o
primeira aproximação do tema, revela o quanto atual, os desafios que se apresentam para sua
o hospital é e não é uma burocracia no sentido gestão são ainda mais significativos. Daí a neces-
weberiano do termo, para concluir que o hospi- sidade de criar novas oportunidades para um
tal é uma burocracia de tipo especial. Ou melhor, debate qualificado e para a construção de novas
é um tipo de organização que apresenta compo- tecnologias e estratégias de gestão que ampliem
nentes de funcionamento burocrático, uma bu- as possibilidades de oferta de atenção à saúde de
rocracia convivendo tensamente com uma orga- qualidade no âmbito público e privado. Debate
nização que também funciona dentro de uma esse fundamental também para se pensar a for-
lógica adocrática. Tais considerações têm grande mação em gestão hospitalar.
importância para se pensar as dificuldades e con-
tradições na gestão dos hospitais9.
A outra vertente com que Carapinheiro tra- Considerações finais
balha é construída a partir das contribuições de
Foucault, em particular o tema do poder en- No momento atual, dependendo dos interesses e
quanto disciplina e as relações poder/saber, para das concepções de saúde e de cuidado, mudam
uma compreensão mais adequada das comple- as expectativas em relação ao hospital – tanto
xas relações que os médicos estabelecem com a em relação às práticas de saúde e à gestão hospi-
instituição, as outras categorias profissionais e talar, como em relação a seu papel dentro do
os pacientes9. processo de formação dos profissionais para o
Finalmente, há as contribuições a partir de cuidado em saúde. Há intensas disputas, muitos
um marco teórico assentado na fenomenologia e desafios e poucas respostas prontas.
na teoria da ação de base weberiana, segundo a Importante mesmo é abrir esse debate, en-
qual o hospital pode e deve ser visto a partir da frentando todas as suas complexidades, ampli-
perspectiva da ordem negociada. ando referenciais e buscando envolver todos os
Assim, o hospital é sistema, mas também é atores interessados na construção de novos ar-
burocracia, ORDEM, lugar de REPRODUÇÃO e ranjos que possibilitem a superação dos impas-
é, também, lugar de forças instituintes, de mar- ses atuais.
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