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Foto de Eduardo Clark, Navilouca BRASIL DIARREIA Hilo Oiticiea © QUE IMPORTA: r.criagto de uma linguagem: 0 destino de modernidade do Brasil, pede a criaglo desta linguagem: as relagtes, deglutigdes, toda a fenomenologia desse pro- ccesso (com inclusive, as outras linguagens internacionais), pede e exige (sob pena de se consumir num academismo conservador, ndo 0 faga) essa linguagem: o conceitual deve- ria submeter-se ao fenémeno vivo: 0 devoche ao “sério': ‘quem ousaré enfrentar o surrealismo brasileiro? Quem sou eu pra determinar qual ou como ser essa lin- ‘guagem? ou seré um nada (conservacio-diluigdo)? Sei la. A diluigdo esté ai — a convi-conivéncia (doenga tipica brasi- leita) parece consumir a maior parte das idéias — idéias? frageis © pereciveis, aspiragbes ou idéias? Assumir uma posigto eritica: a aspirina ou a cura? ‘Ou a curra: ao paternalismo, a inibigdo, & culpa. Estado de coisas atualmente: porque se precisa ¢ se procura algo que “guarde e guie” a cultura brasileira? e nfo véem que essa “cultura” éjé um conceito morto. Hoje cultiva-se 0 policiamento instituigto-cultural, no Bra- sil. Cultivam-se as tradigbes e os hibitos (fala-se em perigos “+ perigos, mas a maioria corre o perigo maior: o da estag- nagto desse processo que parece sofrer retrocessos ou borra- es no seu erescimento — estamos na fase méxima das orracdes: o empastelamento retro-formal — por exemplo: pintura, desenho, gravura, escultura: que importa que se as facam ou no: com isso ou com 0 andncio de que “nfo rmorreram” ou a pergunta ‘morreu ou ndo?”, etc., procura- -se desviar 0 problema, que é o de uma posicao altamente critica, para um lado absoluto que no procede neste caso; tudo € feito propositadamente como defesa das instituigdes {que se abrigam no conceito de “artes plasticas” ¢ de suas promogtes paternalistas:salbes, bienais: principalmente a de S. Paulo). Sou contra qualquer insinuacto de um “proceso linear"; ‘a meu ver, os processos sio globais — uma coisa € certa: hd ‘um ‘abaixamento’ no nivel critico, que indica essa indeciso- estagnagdo — as potencialidades criativas silo enormes, ‘mas 0s esforgos parecem mingalar, justamente quando so propostas posigdes radicais; posigbes radicais ndo signifi- ‘cam posigbes estéticas, mas posigdes globais vida-mundo — linguagem — comportamento. Dizer-se que algo chegou “ao fim”, assim como a pintura, p. ex. (ou como o proprio processo linear que determina essa idéia) € importante, 0 que no quer dizer que no haja quem nio a faca; dizer que cela acabou é assumir uma posicdo critica diante de um fa'o, 6 propor uma mudanga; propor uma mudanca € mudar ‘mesmo, ndo conviver com o banho de piscina paterno- -burgués ou com o mingau da “critica d'arte” brasileira. AA pressa em criar (dar uma posiglo) num contexto universal ‘esta linguagem-Brasil, 6& vontade de situar um problema ‘que se alienaria, fosse ele “local” (problemas locais nao significa nada se se fragmentam quando expostos a uma problemética universal; sto irrelevantes se situados somente ‘em relagdo a interesses locais, 0 que no quer dizer que os exclua, pelo contrétio) — a urgéncia dessa “colocagio de valores" num contexto universal, € 0 que deve preocupar realmente aqueles que procuram uma “‘saida” para 0 pro- blema brasileiro, E um modo de formular e reformular os préprios problemas locais, desaliens-los ¢ levi-los a conse- ‘qUéncias eficazes. Por acaso fugir ao consumo é ter uma posicdo objetiva? Claro que nao. alienar-se, ou methor, rocurar uma soluglo ideal, extra — mais certo ¢ sem <6vida, consumir 0 consumo como parte dessa linguagem. Derrubar as defesas que nos impedem de ver “como € o Brasil no mundo, ou como ele é realmente” — dizem: “estamos sendo ‘invadidos’ por uma ‘cultura estrangeira’ (cultura, ou por ‘habitos estranhos, mésica estranha, ete. como se isso fosse um pecado ou uma culpa —o fendmeno & borrado por um julgamento ridiculo, moralista-culposo: “no devemos abrir as pernas A e6pula mundial — somos puros” — esse pensamento, de todo inécuo, é o mais pater- nalista e reaciondrio atualmente aqui. Uma desculpa para parar, para defender-se — olha-se demais pra trés — tem- vse “saudosismos” &s pampas — todos agem um pouco como viivas portuguesas: sempre de luto, earpindo.. 43 CHEGA DE LUTO, NO BRASIL! © Brasil e a “cultura brasileira” parecem aspirar a uma forma imperialista “paterno-cultural”. Quando o que realmente conduziria a uma ascendéncia universal deveria ser (o que no significa que o ser4) algo baseado numa experimentalidade comum nos paises novos, © que implicaria ainda mais em posigbes definidas globais. Mas parece que essas posigbes se desvaneceram quase que Por completo(salvo, é claro, em alguns individuos, minoria absoluta, que persistem num nivel experimental criador): a falta total de carter floresce hoje no Brasil — nao me refiro somente a “‘cultura” e “‘contexto cultural”; 0 conceito li- mita e amesquinha tudo; quero me referir a uma coisa global, que envolve um contexto maior de agdo (incluindo || 0s lados ético-politice-social), de onde nascem as necessi- || aces criativas: mais particularmente aos “bites” ine rentes a sociedade brasileira: cinismo, hipocrisia, ignorin- cia, concentram-se nisso a que chamo de convi-conivéncia |) todos “'se punem”, aspiram a uma “pureza abstrata” — ‘esto culpados e esperam o castigo — desejam-no. Que se danem. E preciso entender que uma posiedo critica implica em | inevitéveis ambivaléncias; estar apto a julgar, julgar-se, optar, criar, 6 estar aberto as ambivaléncias, & que valores ‘bsolutos tendem a castrar quaisquer dessas liberdades; | direi mesmo: pensar em termos absolutes € cair em erro | constantemente; — envelhecer fatalmente; conduzir-se a uma posigdo conservadora (conformismos; paternalismos; etc,); 0 que no significa que nfo se deva optar com fir- | meza: a dificuldade de uma opeto forte & sempre a de | assumir as ambivaléncias e destrinchar pedago por pedago cada problema. Assumir ambivaléncias nfo significa acei- tar conformisticamente todo esse estado de coisas; a0 con- trério, aspira-se entBo a colocé-lo em questio. Eis « ques- to. E a questo brasileira é ter caréter, isto €, entender ¢ ‘assumir todo esse fendmeno, que nada deva excluir dessa “posta em questao”: a multivaléncia dos elementos “cul- | turais"* imediatos, desde os mais superficiais aos mais pro- | fundos (ambos essenciais); reconhecer que para se superar uma condig&o provinciana estagnat6ria, esses termos devem ser colocados universalmente, isto é, devem propor questbes, ‘essenciais ao fendmeno construtivo do Brasil como um todo, no mundo, em tudo 0 que isso possa significar e envolver. Nossos movimentos positivos parecem definir-se como, para que se construam, uma cultura de exportacdo: anular a condigto colonialista € assumir e deglutir os valores posi- tivos dados por essa condigio, e nfo evité-los como se fossem uma miragem (o que aumentaria a condiglo provin- cciana para sua permanéncia); assumir e deglutir a superfi- € a mobilidade dessa “cultura”, 6 dar um paso — construir; ao contrério de uma posigdo con- e baseie sempre em valores gerais absolutos, surge de uma ambivaléncia critica, | moralismo quatrocentdo (de origem bran- Maior inimigo: m sietista- portuguesa) — brasil paternal — 0 cultivo oe ‘ons habitos” — a super autoconsciéncia — a prisdo de ventre “nacional” {A formagdo brasileira, reconheca-se, € de uma falta de cardter incrivel: diarréica; quem quiser construir (ninguém mais do que eu, “ama o Brasil”! tem que ver isso ¢ dissecar as tripas dessa diarréia — mergulhar na merda. Experiéncia pessoal: a minha formagdo, fim de tudo 0 que tentei e tento, levou-me a uma diregao: a condi¢ao brasi- , mais do que simplesmente marginal dentro do mun- do, é subterranea, isto é, tende e deve erguer-se como algo especifico ainda em formagao; a cultura (detesto o termo) realmente efetiva, revoluciondria, construtiva, seria essa que se ergueria como uma SUBTERRANEA (escrevi um texto com esse nome, em setembro 69, em Londre: toda a condigao subdesenvolvimento (sub-sub), mas n&o ‘como uma ‘‘conservagio desse subdesenvolvimento”, e sim como uma... “consciéncia para vencer a super parandia, repressio, impoténcia...” brasileiras; 0 que mais dilui hoje ro contexto brasileiro 6 justamente essa falta de coeréncia critica que gera a tal convi-conivéncia; a reagao cultural, que tende a estagnar e se tornar “oficial” (mais do que burocrética, essa coisa oficial existe como reagao efetiva), & jue predomina nesse estado atual: p. ex., a critica que as idéias de ‘“Tropicélia” geraram ao culto do “bom gosto” ((sto é, a descoberta de elementos criativos nas coisas consi- deradas cafonas, © que a idéia de “‘bom gosto” seria conser- vadora) foi transformada em algo reaciondrio pelos dilui- dores da mesma: instituiu-se a "cafonice” estagnat6ria, j& ‘que instituir a idéia de cafona conduz & glorificagao perma- nente de coisas passadas (olha-se pra tras): hoje ha uma febre reacionéria de “'saudosismos” e “‘redescoberta de va- lores”, velhaguardismo; a critica da “tropicdlia a0 “bom gosto” da bossa nova, era e é ambivalente e especifica — a generalizagao diluidora dela, é reacionarissima. Isso é um Pequeno exemplo. Que dizer das coisas maiores, mais ge- rais? A idéia de vanguarda, viva ¢ efetiva em alguns, torna- -se mera “compilagio” na maioria da chamada critica de arte, Por isso digo: a omissdo consciente, ou melhor, pular fora, pode ser mais importante para a “cultura brasileira” revolucionéria, do que participar no contexto imediato “po- liciado” — exemplo maximo: os mais importantes miisicos populares do Brasil, Gil e Caetano, para sobreviverem ¢ le- varem avante as transformagdes comegadas, tiveram que pular fora — o que criam, em inglés e em Londres, queiram ou nio, € a continuacdo dessa revolugdo na misica brasi- leira: 0 caso deles extremo e é nele mesmo a dentincia desse policiamento moralista-paternal-reaciondrio vigente hoje no Brasil (hé uma espécie de mentalidade geral a la “Flavio Cavalcanti", a mais nociva) — nfo se trata de um “acidente” nesse contexto: é um estado geral de coisas € vyem ao encontro da mentalidade diarréica do pais. Mas algo importante e efetivo nasce disso: essa “‘cultura defen- siva” que no quer “pecar” copulando com o mundo, obrigada a engolir o fendmeno da universalizagto de seus fandes criadores (seus tia medida em que pertencam a um (mesmo contento} quem: poderd ignorar esse fendmeno sigantesco da bossa noya nos Estados Unidos: Tom Jobim virou Manet doique“'sucesso novexterior”, o fend- meno revetsivel ¢ age efetiva ¢ diretamente nesse contexto: ree nee Sau ‘eOtistrui algo que se erga como uma face-Brasil woimimdo; um-‘criador, como Jorge Ben, que estaya esquécids, vé-se' hoje que era precursor ¢ & conti- nuador dessa revolug&o, € que contribui na criacko dessa face-Brasil: cont a:Tropichlia foi retomado ¢ sua impor- ‘ancia’ Srecentemente estourou na promocto internacional‘da MIDEMssum:poesia-misica roca a idéia _deMexperimentaltsi="¢ portanto, um fator construtivo e © revoluciondrio na ditiig&6.geral: Nao ocorrera a Tropicélia, pergunto ety feria isso acontecido? Mais do que acidente, esse, cathter’experimental ergue-se ‘como algo positivo caracteristicamente reyolucionsrio nesse contexto (outros exemplos;-tiuitos poderiam ser aqui invocados). Nao existe “arte experimental”, mias 0 experimental, que ndo s6 as: sume a idéia de’modernidade e vanguarda, mas também a transformaclo radieal’no campo dos conceitos-valores vi- gentesi:€ algo que propte. transformactes no comporta. Mento-contexto; que deglute e dissolve a convi-conivéncia. No Brasil, portanito,'uma posicdo critica universal perma: nente eo experimental sho elementos construtivos. ‘Tudo o mais é diluigko na diarréia. sentenca de morte para a pintura comegou quando o processo de assumir 0 experimental comegou durante década comecando de $9 minha obra passou a assumir 0 experimental conceites de pintura escultura obra (de arte) acabada display contemplagto linearidade desintegraram-se simultaneamente existe em 72 algum pintor importante q haja assumido 0 experimental tno canvas-moldura na aspiragto mural ambiental espacial no conheco no brasil pafs sem mem6ria mataborrio das diluigBes muito se passou depois da fenomenal década $0 na 60: nada foi absorvido crises dos problemas extremos da pintura nos avassalaram problemas-limite de s6lida importincia nll quero fazer historia {quero falar de como bilaterais deram em nicleos penetraveis b6lides PARANGOLE meu programinha sem tempo descoberta do corpo proposigto coletiva tudoem meio A indiferenca dos artistas do dia foi enjeitado rejeitado em 72 PARANGOLE me di. alegria parece to claro novo como parece claros thovos CONCRETOS de sto paulo NAO OBJETO rio coisas-gente daqui dali ‘esquecidos nos vai-vens das “artes” artes q sto mortos equivoces cineastas artistas poetas q envelheceram rimelhor quem ri por tiltimo: competicio de “eriadores de obras’ pintura escultura arte (obra &tc.) ho de continuar na frea competitiva fate bolsa de arte j& temos) mas q tém a ver com assumiro experimental talento potencial individuais sto logo dilutdos no dia-a-dia competitivo qestancao experimental Drasil-babel q hi de novo sob o novo quem é inventor sente-se novo é novo metavanguarda ri do sério da série no th na linha o bonde j& passou no me interessam talentos estou farto de querer achar 0 novo no vestido de novo talentos q pintam desenham gravam CONSERVAM q nfo querem adiam evitam o experimental co exereicio experimental da liberdade evocado pot MARIO PEDROSA niio consiste na “criaclo de obras” mas na iniciativa de assumir o experimental pintura passou a ser pet da burguesia conservadora cachorro bombom e pintura tapete cortina ir ao museu A madison vernissages © potencial-experimental gerado no brasil €0 nico anticolonial no-culturalista nos escombros hibrides da “arte brasileira to CONCRETO quanto a sua exportabilidade voltario sempre argumentos obscuros diividas de autenticidade assuntos remordidos ignorancia dos verdadeiros problemas (quais se o coma se estabeleceu n0 q est A margem do experimental) GERTRUDE STEIN: Se um som produzido num crescendo de intensidade ento pra quantas vezes poderd ser repetido. | © experimental nao tem fronteiras pra si mesmo é a metacritica da “produgdo de obras” dos artistas de produgdio o experimental assume o consumo sem ser consumido indiferente & competicdo do eu-melhor-q-voc8 das “artes” no brasil aspirago superficial do artista do dia q aspira galerias expor expor expor curriculo estar em dia com o ecletismo mundano DECIO PIGNATARI: A visto de estrucuras conduz a antiarte c a vida; 1 visto de eventos (obras) conduz & arte e ao distanciamento da vida. produgio experimental tem espocado esparsamente no geral da brasileira ‘em pougufssimos casos é programa artista brasileiro raramente tem programa so fracos talentos vulnerdveis, sem opiniao nem entendem porque OSWALD DE ANDRADE diz: i Serafim vai d janela e qual Narciso vé, no espelho das dguas, o forte ‘de Copacabana. znem porque prefiro a caixa de cable staples as chatfssimas atividades artisticas simpbsios exposigbes bes des coisas inventadas pra dar lugar aos fracos talentos nao-inventivos YOKO ONO: Quanto a minha arte tenho a dizer: artistas nao sto creativos. ‘Que mais se desejaria criar? Tudo jd esté aqui. Detesto artistas que dizem que sua arte € creativa. Chamo este tipo de arte de “peido” Esses artistas q constréem um pedago de escultura e o chamam de arte nfo passam. de narcisistas... Criar nto é a tarefa do artista. Sua tarefa é a de mudar o valor das coisas. todo mundo sabe q sol é sol mas o problema nao é s6 da pintura escultura arte produgdo de obras mas da representagao de todos os re ‘no confundir reviver com retomar st NEW YORK HELIO OITICICA 24 agosto 74 BABYLONESTS pra WALY UALI SAILORMOON RE: from page 5: edited cut on 22 junho 75 NYK HENDRIXSTS HO/WALY € sei q 0 q DESCUBRO ninguém descobre porque sento nao seria EXPERIENCE e dai nao seria DESCOBERTA: seria ABSORCAO DILUITIVA: e receio q seja isso 0 qa maioria de pessoas in BRAZIL tenha feito em relagto a HENDRIX: sem let down ou quaisquer intengdes quanto a dizer q porisso essas pessoas estejam ‘na frente’ ou ‘atrés’ etc.: pensam apenas q conhecem o q nio conhecem: isto é no tém em mente q possuem como todos nbs possuimos a condiglo de ignorncia como algo permanente ¢ inaliend- vel: € ter essa consciéncia da NOSSA IGNORANCIA nao tem nada a ver com ‘modéstia’: pelo contrério: faz-nos aptos a Q NOS TENTEMOS TORNAR EXPERIENCE! tudo o mais é imaturo e infantil e muito brasileiro e nfo interessa nem entrar nelas: “fulano é mais malandro q...": tio sabendo né?: ¢ tudo isto me faz pensar em como se torna desintegrante a linguagem escrita e também a falada ‘quando conceitos ¢ tudo o mais ¢ repetido repetitivamente sem q SE DUVIDE DO RESULTADO OU DO Q NOS E DADO COMO LINGUAGEM: isso & bem brasileiro © uuma condig’o de EVITAR O EXPERIMENTAL COMO TAL: o proprio vocabulério e o scope lingifstico brasileiro mostram isso claramente: repetiglo e uma espécie de escle- rosamento da linguagem me vém a baila quando daqui ‘observo © me pergunto o q é q me irrita: nos periédicos brasileiros p. ex.: em jornais principalmente: MEDIAvivos: nao sfo obras q possam ter sido geradas por pessoas de talento ou qualidades especiais: esto mais préximos de ‘uma condigdo geral (mesmo q de um ponto de vista esta- tistico) do linguajar da geral do BRASIL: hé como q uma ‘quiescéncia esclerosante q ndo exige esforgo para ser con- servada porque nem a divida de q possa ser possivel outra condigio q ndo esta existe: uma espécie de infantilismo da linguagem: um estado de ‘deitado eternamente em bergo espléndido’ e uma conseqieente incapacidade para 0 joke: tudo isso lado a lado a uma potencialidade experimental fantistica e dom natural para giriar: etc.: como aquela de q ‘oboi nao sabe a forga q tem’: uma espécie de laissez faire q em tais épocas empobrece ¢ desintegra o q € fundamental hhum contexto € cujo scope no sei qual possa ser: mesmo ‘com uma lingua forte — o PORTUGUES — como o sto em sgeral as linguas latinas (e q € a meu ver 0 q amarra tudo): € dai?: quero q vocé 6 UALI comente ¢ me diga 0 q acha disso: veio-me algo q vejo urgente e inadidvel e q deveria ser sobretudo fungio de quem escreve: in BRASIL: isto ¢: ABRIR LINGUAGEM PARA Q SEJA QUEBRADA A QUIESCENCIA ESCLEROSANTE: e nao sei se me fago claro ou q esteja errado oucolocando mal a coisa: ¢ algo q ‘quero soltar como questdo aberta (¢ ndo ‘motivo de polé- mica’: gerar argumentagdo nada tem com ‘polemizar’): por- que isso me vai e vem e revém como algo vivo € q me irrita profundamente: nao sei ao certo quais seriam as raz®es: analfabetismo?: desligamento geral?: mas sei q mesmo q Seja a linguagem escrita uma coisa e a falada outra as duas se manifestam simultaneamente ¢ podem-se empobrecer mutuamente: seria inconcebivel dividir as duas coisas como se fossem dominios separados ¢ q se comunicassem por pontes: etc.: SAO SIMULTANEOS E SOFREM O MES- MO ESCLEROSAR: loucura ou idéia fixa esse ABRIR LINGUAGEM me parece ser questdo inadiavel: no quero especular sobre como isso se possa dar ou q conseqdéncias ‘se possam gerar em caso contrario: 6 sei q se toda essa no tiver motivo primeiro e fundamental para os q se dedicam & escrever: in BRASIL: no sei 0 q mais possa ser: € sei ‘ABRIR LINGUAGEM € 0 q em geral fazem 0s 4 escrevendo: mas nao basta: é uma questo de urgén processo de crescimento assim como o de alguém q chega & puberdade: diga-me 6 UALI se tou certo ou se ¢ s6 birra minha! outra q tema ver com tudo isso: 6UALI: &q uma das possibilidades do ABRIR LINGUAGEM seja a de repensar e levar a cabo 0 q 0s CONCRETOS PAULIS- TAS chamam de EXPORTAR e q a BOSSA NOVA fez etc.: e q a meu ver ndo sei porque nao é visto como meta principal de misicos e do montio de gente q surgiu ‘vem surgindo nesse tipo de ligagdo: e a primeira mancada é pensar q EXPORTAR seja “tentar sucesso no exterior” € alguém me disse q isso "jé era” e tou de acordo mas s6 q colocar o problema desse jeito & q esta errado e mostra q quem dé dessa é q age assim porque a propria colocagdo nesse pé a nada se refere: EXPORTAR £ ENRIQUECER: EXPERIMENTAR: EVITAR ADAPTACAO A UM CON- ‘TEXTO (PRINCIPALMENTE AQUELE NO Q SEGERA- RAM): assim como quanto ao brasileiro q se interesse em :nsar outras linguas (por pouco q seja ou apenas de modo direto para 0 q quer) seja enriquecedor: nio porque va adquirir sapiéncia ou cultura (fuck them!) mas porque abre mais possibilidades para se tornar EXPERIENCED: nao porque seja o PORTUGUES pobre em tradugio de obras de linguas outras mas porque no caso do BRASIL exista isolado numa imensidio acompanhado da tal quiescéncia de “td tudo bem” (em casa e no passa da sala) mas 6 q (apesar do media e TV € toda a coisa q ja se sabe © q prescinde da linguagem escrita) esta sala & pobre de razdes EXPERIMENTAIS: sala q esclerosa como q dinheiro pa- rado em tempo de inflagio: JOAO GILBERTO sabe disso: «todos nés sabemos q 0 importante no foi “a BOSSA NOVA ter feito sucesso nos ESTADOS UNIDOS” ou “in- fluenciar 0JAZZ” etc. etc.: 0 importante foi q nesse transar hhouve enriquecimento e nunca limitagdo suicida ao “q € nosso” etc.: & claro q nem tudo o q se faz teria essa mesma possibilidade: mas é também impossivel prever em abstrato quais sejam essas possibilidades em relagdo a cada caso q do mesmo modo q seria sem nexo limitar por razdes 6bvias aquilo q se vem formando e surgindo: € claro q BOSSA NOVA jé se dera com imediato reconhecimento de 33 ‘q era algo q no contexto-BRASIL possuia grande impor- tincia e com relativa facilidade como q embebeu a musi Jocal ete.: sua incidéncia no contexto americano foi algo 4 ‘se pode hoje faciimente explicar mas q nfo poderia ser prevista ou tida como infalivel mesmo q 0 fosse: ok: mas 0 q {quero q seja 0 ponto central desse falatério todo & essa dea quilo. estabelecé transa mesmo q numa escala no muito grande se enriquece e cresce: IN-CORPORA: nko interes- sam casos individuais per se tais como o de q se determ nado artista sobreviva ou no ao estancamento como a tista: nflo se trata de ‘salvar’ situagdo alguma: trata-se de ‘uma urgéncia em um contexto q para crescer fem q transar seni esclerosa: $6 isso: ¢ porque ¢ caracteristico desse con- texto a tendéncia a tomar 0 q se d& como EXPERIMEN: TAL como se fora EXOTISMO: 0 q por certo pode explicar © paradoxo (q tanto nos horroriza ¢ intriga ¢ lembro q com HAROLDO DE CAMPOS comentamos e assuntamos dos porqués dele) de GUIMARAES ROSA inovador q é ter um tenfarto a0 tomar posse na ACADEMIA DE LETRAS: isto € quando qual filho prédigo voltava como q dizendo “fiz travessuras mas tou de volta’ A mle terra; como explicar sua obra seja em tudo oposto a isso?: se no porque tenha sido ela erigida como um EXOTISMO em relagto ao q ele era: e q portanto nao cresceu com ela (obra): serviu-a como ‘uma espécie de criado mudo cheio de sabedoria mas q sabe 6 criado ¢ tem q um dia voltar & terra-terra ou “ao seu ugar” como q peniténeia por ter usufruido daquilo q julga no Ihe tenha sido obrigatoriamente destinado: € isso se repete numas e noutras q uns ¢ outros transam pelos hustles daqui ¢ dali etc. hahahal: mas € q se neles tudo isso haja impedido q 0 foi feito tenha sido feito hoje j4 nto daria pé: hd a ameaga de q se torne crOnico: ¢ se me deu essa de tocar nisso tudo € porque se essas e outras me vem a ceabeca porque no falar?: dar as costas e dar tudo como “indo bem''?: desperdigar 0 q pode ser EXPERIMEN- TADO a troco de nada?: diluiglo!: quero ao menos me assustar falando com voce: 6 UALI: parece-me too easy jogar tudo de lado como sendo burrice ou como limitagdo brasileira irremedidveletc.: fica tudo mal colocado como sempre: um pouco de AR jé bastaria: principalmente no campo da misica: dar apenas uma voltinha e respirar ‘como pinote de adolescente q pula fora de ‘debaixo da sa) da mfe’: TAKE A WALK ON THE WILD SIDE!: quem sabe se IA pelas quebradas nao surja 0 q esta faltando?: EXPERIENCE: perguntem a SOUSANDRADE se nto & assim: ele sabe: ou a alguém mais ao nosso aleance: LYGLA, CLARK: e isso pelo q de especial venha ela a ser: além das iwalidades notaveis com q a identificamos: e se a cito aqui e igora era porque nisso é q queria chegar porque vejo no q cla se fez/erigiu algo q vejo também em HENDRIX: MAIS AINDA PELO FATO DE Q TENHA ORIGINADO DES: SE CONTEXTO BRASILEIRO EM QUESTAO: EXPE RIENCED: ¢ isso se confirma-floresce com vigor no q diz~ -faz-manifesta (quem mais do q ela?): e também (clareza- -milagre to seul) acrescido ao dom de com precisio deli- near tudo isso como fenOmeno: o g mais?

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