Você está na página 1de 10

WESLEY DA SILVA MARINHO

TÉCNICAS CONSTRUTIVAS E O BIOCLIMATISMO

Trabalho Integrado do Estúdio Arquitetura Bioclimática


do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de São João del Rei.

Profª Laura

São João del-Rei


2019/01
SUMÁRIO

Introdução
...................................................................................................................01

Capítulo 1 – “Os materiais construtivos e a sustentabilidade”


.......................................................................................................02
1.2 – “Materiais construtivos na construção civil
contemporânea”..........................................................................................................03

Capítulo 2 – “Técnicas construtivas tradicionais da região de São João del-


Rei”...............................................................................................................................04
Capítulo 2.1 – “Construção de terra:
adobe”..........................................................................................................................04

Considerações Finais.................................................................................................06

Bibliografia ..................................................................................................................07
INTRODUÇÃO

O conceito de desenvolvimento sustentável ganhou cada vez mais notoriedade na


política internacional nos últimos anos (SOBRINHO, 2008) e com isso a preocupação
com a questão ambiental está em voga. Sendo o espaço construído parte desse
ambiente, tratar das técnicas construtivas – e suas esferas - da construção civil e sua
relação com o desenvolvimento sustentável se mostram de grande valia. Disso, devido
os processos produtivos e o massivo uso de certos materiais, parte-se da hipótese da
problemática dos materiais hegemônicos da construção civil contemporânea no
ambiente tendo por objetivo encontrar resoluções construtivas sustentáveis e sua
aplicação no projeto do Estúdio Arquitetura Bioclimática.
Para tal, após reflexão dos impactos ambientais dos materiais hegemônicos,
embasando-se no conceito de bioclimatismo fez-se uma pesquisa teórica para
identificar alternativas construtivas na região de São João del-Rei e suas
características, elecando as mais adequadas para aplicação em projeto.
Capítulo 1. Os materiais construtivos e a sustentabilidade

Por meio de debates ocorridos durante a década de 1960, nas décadas


seguintes a questão ambiental começou a ganhar força na política internacional. Tais
discussões culminaram na reunião da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (UNCED – órgão das Nações Unidas) em 1987 no qual os produtos
estão no Relatório de Brundtland que cunhou o termo sustentabilidade (ou
desenvolvimento sustentável) (SOBRINHO, 2008, p. 86, 87 e 88). Segundo o Relatório
o desenvolvimento sustentável “encontra as necessidades atuais sem comprometer a
habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades” (COMISSÃO
MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1988, p. 46). O
Relatório ainda coloca como papel dos Estados:
[...] c) preservação da biodiversidade e dos
ecossistemas; d) diminuição do consumo de energia e
desenvolvimento de tecnologias que admitem o uso de
fontes energéticas renováveis; e) aumento da produção
industrial nos países-não industrializados à base de
tecnologias ecologicamente adaptadas; f) controle da
urbanização selvagem e integração entre campo e cidades
menores; g) as necessidades básicas devem ser satisfeitas
(BRUSEKE,1998, p. 33 apud SOBRINHO, 2008, p. 89).
A partir das colocações, no qual se baseam nas causas dos problemas socio-
econômicos e ecológicos (SOBRINHO, 2008) é possível perceber a relação da
sustentabilidade com o meio ambiente no qual a preocupação extrapola seu âmbito
natural. Em tal esfera ambiental encontra-se o âmbito físico da materialização humana
e as esferas que as envolvem, no qual a relação assentamento-ambiente é
inseparável (ROMERO, 2001, p. 33). Nesse nexo há também o âmbito construtivo que
depende da relação desses materiais com o ambiente circundante - principalmente
respondendo às exigências de cada ambiente – sendo esse ponto crucial para o
conceito de bioclimatismo no qual possue uma preocupação com o desenvolvimento
sustentável a medida que busca “[...] respostas adequadas do homem às exigências
do meio ambiente.” (idem,ibidem, p. 17 e 25).
Para Romero (idem, p. 25) os elementos bioclimáticos que devem estar
obrigatoriamente no desenvolvimento do espaço construído são a otimização do
desenho, a recuperação da influência do lugar e a “resposta local necessariamente
regional”. Todos os pontos têm uma certa relação com os materiais construtivos, mas
o destaque fica a domínio da influência do lugar, pois neste há “o esforço para
compreender um lugar com seus condicionantes físicos e climáticos, mas também
seus aspectos históricos culturais e estéticos, pré-requisito para desenvolver a ação
arquitetônica”. Com isso reconhece-se também o papel da arquitetura vernácula, pois
percebe-se que “A exemplaridade das arquiteturas do passado [assim como a
arquitetura vernácula] fica centrada na quase perfeita adaptação ao meio ambiente,
com recursos materiais e técnicas construtivas consideradas como condicionantes, e
não determinantes, da forma arquitetônica.” (idem, ibidem, p. 27. Trechos em
colchetes são meus). Partindo de tal ideia da arquitetura vernácula, percebe-se o
papel que as técnicas construtivas - nesse caso ditas tradicionais que segundo Curtis
(2003) apud Feiber (2012, p. 33) são transmitidades de geração a geração por via oral,
costumes e hábitos - têm nesse tipo de construção e no ambiente circundante,
principalmente num viés sustentável. Sobre isso explica Feiber (2012, p. 32 e 33) no
qual explicita a lógica de adaptação do meio e, consequentemente, o baixo dispendio
de energia “em relação a eficácia de seus sistemas nas obras arquitetônicas”.
Segundo Romero (2001, p. 19) o movimento bioclimático,com a preocupação com o
ambiente e o retorno às construção tradicionais, ganhou força na arquitetura por volta
da década de 1970 como uma resposta à Arquitetura Moderna e sua inadequação
ambiental. Ainda segundo a autora, tal inadequação ainda se encontra presente pois
“a prática da arquitetura e do desenho urbano concretizam-se sem considerar os
impactos que provocam no ambiente” (idem, ibidem, p. 15), no qual pode-se levar em
consideração os materiais usados contemporâneamente onde o concreto ganha
destaque como será visto a seguir.

1.2. Materiais construtivos na construção civil contemporânea

Dentre os materiais construtivos contemporâneos, o maior destaque vai para o


concreto pois segundo Pedroso (2009, p. 14)
“Estima-se que anualmente são consumidas 11 bilhões de
toneladas de concreto, o que dá, segundo a Federación
Iberoamericana de Hormigón Premesclado (FIHP),
aproximadamente, um consumo médio de 1,9 tonelada de
concreto por habitante por ano, valor inferior apenas ao
consumo de água.”
A partir disso compreende-se a valia de se refletir sobre seu uso, processo de
fabricação e os impactos ambientais que a confecção do concreto pode trazer ao meio
ambiente. Sabe-se que o concreto é um material composito no qual leva cimento e
outros materiais. O cimento, entretanto, conforme estudos feitos por Andrew (2017) e
Bahelal et al. (2013) possuem malefícios intrísecos ao seu processo de confecção e
emissões de dióxido de carbono, sendo esse processo uma das maiores fontes de
emissão desse gás na atmosfera (ANDREW, 2017, p. 195). Indo além do processo
produtivo do cimento, sua aplicação em larga escala pode levar à uma massiva
inaquedação ambiental da construção civil por não levar em consideração, dentre
outros fatores, o fator ambiental e cultural do lugar, como já dito anteriormente.
A partir disso, apreende-se a relevância do esforço bioclimático no desenvolvimento
sustentável, sendo uma solução ao contexto contemporâneo apresentado brevemente
acima.

2.Técnicas construtivas tradicionais da região de São João del-Rei


São João del-Rei localiza-se na região do campo das vertentes em Minas Gerais e é
uma cidade com considerável acervo patrimonial a exemplo dos bens tombados pelo
IPHAN na cidade (TAVARES, 2014). Esses bens patrimoniais intimamente ligados à
tradição (LEITE, 2007, p. 40), levam consigo, como já dito anteriormente,
conhecimentos técnicos também passados de geração a geração, apesar de seu
quase total abandono nas últimas décadas (Bruno, 2008; Bruno, 2010; Faria, 2010;
Faria, 2006; Faria, 2007 apud Cartaxo et al., 2011, p. 1). Sabendo disso e do objetivo
principal do estudo que é aplicação de técnicas construtivas tradicionais da região no
projeto do Estúdio, foi feito uma pesquisa identificando quais técnicas tradicionais
estão presentes na região. O estudo encontrado sobre tal tema foi feito pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e reconhece as técnicas
tradicionais e os mestres artífices ainda ativos no Estado de Minas Gerais. Em tal
estudo reconheceu-se que, no âmbito construtivo, na região do Campo das Vertentes
há a predominância das atividades de adobaria e carpintaria com mestre ativo em
Prados e Ouro Preto, respectivamente (CAMPELO et al., 2012 ,p. 111 e 124).
Entretanto, para análise da técnica visando sua aplicação no projeto de Estúdio,
priorizou-se a técnica mais ampla construtivamente; nisso escolheu-se focar na
técnica de adobe, pois a atividade de carpintaria praticada na região é mais voltada à
estrutura de coberturas.

2.1. Construção de terra: adobe

A adobe é uma técnica de produção de blocos de terra com adição de fibras (capim ou
outros materiais fibrosos) no qual é amassado e tratado para adiquirir a forma
geométrica desejada (idem, ibidem, p. 110), além de não serem queimados como os
tijolos convencionais e o processo de feitura ser artensanal (VIEGAS e RESENDE.
2017, p. 5 e 6). No distrito de Bichinho, segundo levantamento feito por Vale apud
Correa (citar em apud direito) “[...] verificou que nas 429 construções registradas,
20,51% foram com adobe aparente e 4,42% em adobe com argamassa de
revestimento”, o que mostra certa valorização da técnica na região.
Pilha de tijolos de adobe. Fonte: IPHAN

As propriedades físicas e mecânicas do adobe, portanto, estão intrisicamente ligadas


ao solo da região. Segundo Vale (2013) apud Viegas e Rezende (2017, p. 5) na região
no Bichinho “foi obtido como resultado, que a melhor terra é a que possui mais
porcentagem de argila, tendo como característica uma maior resistência e
plasticidade”. Entretanto, não foram achados estudos aprofundados sobre as
propriedades do solo na região Bichinho em relação à produção de adobe, sendo
usado, em vez disso, um estudo mais amplo das propriedades de técnicas de terra na
construção.
Segundo Rodrigues (2005, p. 150) “Genericamente, a construção em terra apresenta
uma resistência mecânica limitada, o que impossibilita a construção em grande altura,
e a necessidade de cuidados particulares face ao acesso da água., com isso requer
cuidados quanto a
“um bom corte de capilaridade nas fundações e uma boa
protecção do soco das paredes exteriores, um revestimento
das paredes que efectivamente as proteja e uma boa cobertura
(se possível inclinada, com prolongamento em beiral, afastando
da superfície da parede os planos de queda da água da chuva,
e do soco, os respectivos salpicos de água que bate no solo).”
(idem, ibidem, p. 152).

Ainda segundo a autora (idem, ibidem, p. 150 e 151), tais questão podem ser
contornadas por processos de estabilização do solo tais como técnicas de
compactação e extrusão, adição de de estabilizantes inertes na terra – como fibras – e
adição de componentes químicos que ajudem na questão da capilaridade. Entretanto,
os pontos positivos de técnicas de terra crua residem nas propriedades térmicas e
acústicos (associados a sua inércia térmica e sua massa, respectivamente).
Considerações finais
A partir da preocupação com o desenvolvimento futuro e sua relação ambiental,
percebeu-se a importância de se desenvolver uma sensibilidade para o espaço
construído, questinando seu status quo. Disso notou-se que as relações objetivas do
cimento com o ambiente – principalmente quanto a sua confecção – e eventuais - no
caso a inadequação ambiental – se tornam empecilhos para o objetivo da
sustentabilidade. O conceito do bioclimatismo pode ser uma ferramenta nesse quesito,
ao recuperar questões perdidas na construção civil nos últimos tempos, valorizando
ainda a memória de grupos com técnicas há algum tempo esquecidas pela massiva
homogeneização das técnicas convencionais.
Biblografia
 
ANDREW, Robbie M.. Global CO2 emissions from cement production. Earth System
Science Data, [s.l.], v. 10, n. 1, p.195-217, 2018. Copernicus GmbH

BENHELAL, Emad et al. Global strategies and potentials to curb CO2 emissions in
cement industry. Journal Of Cleaner Production, [s.l.], v. 51, p.142-161. 2013.
Elsevier BV.

CAMPELO, Douglas Ferreira Gadelha et al. Mestres Artífices de Minas Gerais,


Cadernos de Memória. Brasília: [s.n.]. 2012.

CARTAXO, Fernando et al. Produção local de materiais para a sustentabilidade


da construção. In: 6º Congresso Luso-Moçambicano de Engenharia. 2011. [s.n.]

FEIBER, Silmara Dias. Técnicas Construtivas Tradicionais: os primórdios da


sustentabilidade. In: Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, n. 1, 2012. [S.l.: s.n.]

LEITE, Rogério Proença. Contra-usos da Cidade: lugares e espaços púbicos na


experiência urbana contemporânea. Campinas: Editora Unicamp; Aracaju: Editora
UFS, 2007.

PEDROSO, Fabio Luís. Concreto: as origens e a evolução do material construtivo


mais usado pelo homem. In: Revista Concreto e Construções n. 53, 2009. [S.I.:s.n.]

TAVARES, Denis Pereira. O Tombamento do Conjunto Urbano de São João del-Rei:


Negociação e Conflito na Construção do Patrimônio Cultural. In: Revista Memória em
Rede, Pelotas, v.4, n.10. 2014. [S.I.:s.n.]

RODRIGUES, Paulina Faria. Construções em terra crua. Tecnologias, potencialidades


e patologias. In: Musa v. 2. 2005. [S.I.:s.n.]

ROMERO, Marta Adriana Bustos. Arquitetura bioclimática do espaço público.


Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.

VIEGAS, Anne Elize Resende; REZENDE, Marco Antônio Penido. Arquitetura


Vernacular: um estudo comparativo entre técnicas vernaculares na cidade
histórica de Vitoriano Veloso- MG. In: V Seminário Ibero Americano de Arquitetura e
Documentação. Belo Horizonte: [s.n.]. 2017.

Você também pode gostar