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RESUMO
Este artigo trata de fazer uma breve revisão teórica e crítica com enfoque histórico das Artes
Visuais no Ensino Fundamental. Além de rever abordagens históricas, aponta mudanças nas
finalidades e nas tendências pedagógicas no ensino das Artes Visuais neste nível educacional.
Esta reflexão é feita à luz da dinâmica histórica, relacionando o ensino de Arte às mudanças
de paradigmas nas ciências humanas, nas artes e na educação em geral.
ABSTRACT
This article aims to briefly carry out a theoretical and a critical revision, as well as a historical
account of visual arts into fundamental education. Besides of reviewing historical approaches,
it points to changes of pedagogical objectives and trends of the visual arts teaching at school
education. This reflection is done at the light of a history dynamics relating the arts teaching
to paradigms changes at human sciences, at arts and at education in general.
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Docente do Departamento de Ciências Humanas, do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC), Florianópolis, Santa Catarina. E-mail: terefranz@udesc.br
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Acadêmica do Curso de Educação Artística - Habilitação em Artes Plásticas. Bolsista de Iniciação Científica,
da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) entre agosto de 2005 e julho de 2006. E-mail:
lila_kugler@yahoo.com.br
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Introdução
Nos meios de ensino brasileiros, a obra de arte (ou a imagem dela) começa a
ganhar evidência com a “Proposta Triangular", que compreende o ensino da arte articulando
três vertentes do conhecimento artístico: “o fazer artístico, a leitura da imagem e a História da
Arte” (BARBOSA, 1991).
com relação à Educação Artística que foi incluída no currículo escolar pela Lei
5692/71, houve uma tentativa de melhoria do ensino de Arte na educação escolar, ao
incorporar atividades artísticas com ênfase no processo expressivo e criativo dos
alunos. Com essas características, passou a compor um currículo que propunha
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A palavra “fruição” no Michaelis: Moderno dicionário de língua portuguesa, que dizer: gozo, posse, desfrute.
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O ensino considerado Tradicional não é apenas coisa do passado. Em alguns aspectos ele perdura até hoje. Por
exemplo, quando na sala de aula, o conhecimento é centrado no professor, e quando o estudante consolida esta
posição autoritária acreditando que o seu papel na produção de conhecimentos na sala de aula é passiva e
receptiva. Nas tendências contemporâneas do ensino de Arte o professor é um mediador e o estudante participa
ativamente na construção do conhecimento.
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O mesmo se deu em nosso país, com raízes que remontam às influências liberais e
positivistas do século XX, chegando ao tecnicismo, até a década de 70, como resquícios
também da influência direta da guerra fria, entre outros fatores sociais (Proposta Curricular de
Santa Catarina, 1998, p.192). Fazendo uma revisão histórica nos Estados Unidos, o autor
antes citado concluiu que este passado recente sublinha a necessidade de os pedagogos de
hoje desenvolverem compreensões críticas acerca dos modos que o educando se conecta aos
contextos culturais e sociais contemporâneos e as suas implicações para o ensino de artes
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O que pode ser relacionado com o contexto do ensino de Arte brasileiro, sempre tão dependente das políticas
norte-americanas. Ana Mae Barbosa (1991, p.9) lembra que no Brasil, o ensino da arte passa a ser oficializado
mediante acordo oficial entre o MEC-USAID, que reformulou a educação brasileira, estabelecendo em 1971 os
objetivos e o currículo configurado pela LDB nº 5.692/71.
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Inspirados nos ideais de Paulo Freire, aos poucos, alguns arte-educadores passam
a rever suas práticas, apostando no papel da escola e da educação com agentes de
transformação sociocultural. O professor dentro desta perspectiva começa a rever seu papel de
mero transmissor ou facilitador para o de mediador. O ensino da arte passa ser concebido
como área de conhecimento. Onde segundo Ana Mae Barbosa (1991, p.17) começamos a
entender “o conceito de arte-educação como epistemologia da arte e/ou arte-educação como
intermediário entre arte e público.” De onde nasce também a Proposta Triangular
(BARBOSA, 1991) no ensino da arte, valorizando o fazer artístico consciente e informado, o
estudo da obra de arte de adultos, e a ampla contextualização dela. No bojo desta
revolucionária proposta nasce a idéia de que o ensino da arte bem orientado pode preparar os
estudantes para desenvolver a sensibilidade e a criatividade através da compreensão das obras
de arte.
nem para os artistas contemporâneos estas questões interessam mais. A arte/educação baseada
numa concepção pós-modernista é necessariamente conectada a amplitude da vida, sem
limites entre ela e seu contexto sociocultural.
podem ser de diversos campos, tais como da História Cultural, da Antropologia, da Estética e
da Pedagogia. A partir de abordagens socioculturais e contextualistas, e com base nas teorias
críticas da arte e da cultura, através de uma pedagogia problematizadora e dialógica (FREIRE,
1987) nas abordagens pós-modernas de ensino de Arte, valorizamos também a relação que os
indivíduos estabelecem entre a arte e sua vida pessoal e social. Em Franz (2003) foram
ordenados também os âmbitos biográficos e crítico social na relação entre a compreensão das
artes visuais e a educação. Desta maneira a aprendizagem faz sentido para os estudantes,
“especialmente quando a conectam com os próprios interesses, experiências de mundo e vida”
(Parsons, 2006, p.296). Este autor também defende a idéia de que para obter significado e
compreensão da arte são necessários conhecimentos de outras disciplinas. Ele diz que um
currículo integrado é mais adequado para ensinar e aprender determinados tipos de idéias com
as quais nenhuma disciplina é capaz de lidar sozinha. Para resolver o problema da
complexidade da compreensão da arte, Fernando Hernández (2000) apresenta a proposta de
ensino por projetos de trabalho, abordagem interdisciplinar e transdisciplinar da arte e da
educação, que hoje se coloca entre as principais tendências pedagógicas no ensino.
A principal meta do ensino de Arte hoje é ajudar os estudantes que passam pela
escola a entender criticamente a sociedade e a cultura. Arte/educadores contemporâneos
defendem também a idéia de que o ensino da Arte é um poderoso instrumento para resgatar a
auto-estima, fortalece a identidade, ao mesmo tempo em que pode contribuir e propiciar a
inclusão social e a educação para a cidadania e a democracia.
Porém, estas ambicionadas metas não aparecem explícitas nas normas que regem
o ensino da Arte. No que diz respeito a LDB nº 9.394/96, a finalidade geral da educação
básica, teve pequena alteração em relação à legislação anterior. Fala-se no pleno
desenvolvimento do educando, no preparo para o exercício da cidadania e na tão desejada
qualificação para o trabalho. Quanto à finalidade específica do ensino de Arte, no art. 26 § 2º,
fica claro que se espera “promover o desenvolvimento cultural dos alunos.” O que é pouco.
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Hernández (2000) comenta que a educação para a compreensão crítica da Arte pode
ajudar-nos a entender como a Arte contribui para fixar visões sobre a realidade e a identidade
dos alunos. Visões que têm a ver com noções como “verdade”, “reconhecimento do outro”,
“identidade nacional”, “versões da história”. Estas perspectivas consideram “as obras
artísticas mediadoras de significados sobre o tempo e o espaço dos quais emergem.” Segundo,
por exemplo, os princípios de Jerome Bruner, herdeiro da visão de Dewey, onde as “regras da
linguagem deslocam-se para a interpretação do discurso” (HERNÁNDEZ apud FRANZ,
2003, p.129) ou dos vários discursos possíveis.
Segundo Richard Cary (1998), para enfatizar e valorizar uma Pedagogia Crítica da
Arte é necessário reconhecer o valor de relacionar as práticas de Arte no cotidiano das escolas
com o mundo da arte contemporânea. Buscar ao mesmo tempo o engajamento com a arte do
passado e a do presente. Mas este engajamento implica compreender a arte em seus contextos
de origem, dentro do paradigma sociocultural. O autor citado nos convida a redefinir os
termos da racionalidade, da lógica e do senso comum formado e construído sob os termos do
paradigma positivista moderno. Isto acontece, uma vez que os paradigmas culturais que nos
antecederam, como o Romantismo e o Modernismo, falharam ao não reconhecer a relação
entre conhecimento e poder, pois segundo Cary (1998, p.338): “(1) o conhecimento é
construído socialmente e intrinsecamente subjetivo; (2) o conhecimento é impregnado de
valores e formado por interesses de poder.” Esses princípios, segundo este autor, são mais do
que aplicáveis à Arte e ao seu ensino, eles são o fundamento da Pedagogia Crítica da Arte.
Considerações finais
barreiras que separam a arte erudita da cultura popular e das imagens do cotidiano. Kincheloe
(1997) denuncia os antagonismos entre a cultura popular do aluno - que pode representar uma
fonte de prazer pela convivência com elementos pertencentes ao seu imaginário social.
Para além de uma visão superficial das culturas regionais e dos discursos locais,
Chalmers, (2003) afirma que uma investigação multicultural exigirá contemplar as obras
artísticas no contexto cultural de cada uma delas. Há também a necessidade de uma maior
relevância a grupos tradicionalmente marginalizados e desvalorizados, segundo Cary (1998),
a educação multicultural pode servir para fortalecer grupos sociais oprimidos econômica e
politicamente. Por esta razão, o multiculturalismo constitui uma questão eminentemente pós-
moderna.
Segundo Carr (1996), a ciência crítica da educação propõe aos professores que
construam suas práticas sociais voltadas à reflexão e a racionalidade, tendo uma posição
articulada, pois a prática educativa é uma forma de poder, onde os professores podem exercer
mudanças e por isso devem estar atentos às novas posturas contemporâneas da Teoria Social
Crítica, que aponta os erros que foram cometidos ao longo da história da educação e fornece
soluções possíveis para os problemas na educação em Arte.
No sentido que ensina Giroux (1992) os estudantes devem ser ensinados a pensar
criticamente. Nesta perspectiva, a Pedagogia Crítica pode ser um caminho possível para se
engajar na luta por uma sociedade melhor. Esta abordagem pedagógica pode levar o estudante
a uma visão mais crítica e mais holística da realidade, “deixando de perder-se nos esquemas
estreitos das visões parciais da realidade, das visões focalistas da realidade e se fixe na
compreensão da totalidade” (FREIRE, 1987, p.100). Vemos em Mclaren (2000, p.7) que uma
articulação pós-modernista de resistência pode não apenas teorizar de onde os grupos
marginalizados falam, mas também “pode fornecer aos grupos um lugar a partir do qual eles
possam mover-se para além de uma identidade étnica estreita e essencializada.”
uma compreensão crítica sobre o mundo e sobre o modo como atuamos nele.
Desta forma, pesquisas comprovam que estes atributos pessoais são cada vez
adquiridos pelo processo de aprendizagem e vivência com as linguagens artísticas.
Reconhecem as Associações de Arte/Educação citadas que é necessária ação e vontade
política para integrar as Artes em uma educação efetiva para todos, como instrumentos vitais
para aprendizagem dos direitos humanos da cidadania responsável e da democracia inclusiva.
Por último, parece não haver dúvidas de que qualquer agenda para pensar as Artes
Visuais no ensino fundamental (e outro contextos) para o século XXI há de ser baseada
também em pedagogias que visem uma transformação pessoal e social.
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