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Planaltina – DF
Dezembro de 2006
ii
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu pai, Luiz Antonio Ribeiral, que através dos
ensinamentos transmitidos pelos seus professores Médicos Veterinários Otávio
Dupont e Paulo Dacorso Filho, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
pôde realizar o primeiro diagnóstico de Anemia Infecciosa Eqüina no Distrito
Federal em 1970.
iii
AGRADECIMENTOS
Gerlan, Ló, Maria, Eleutéria, Hilda, Sônia, Névio, Mateus, Erothildes, Willian,
Sérgio Orsi, Luciano e Cânsio.
A UPIS, instituição que proporcionou a realização de um grande sonho. Ao
corpo docente que sempre me desprenderam tratamento de amizade e respeito,
buscando sempre um ensino de qualidade. Em especial a Prof. Roselene Ecco,
Prof. Marília, Prof. Andréa Lázari, Prof. Alexander, Prof. Adriana, Prof. Luisa
Helena, Prof. Hélio, Prof. Rafael, Prof. Júlio, Prof. Ricardo, Prof. Marcos, Prof.
Helvécio, Prof. Fabiana, Prof. Cleber, Heitor, Tuca, Tonhão e Augusto.
A todos os funcionários de todas as instituições por onde passei fazendo
estágio, pois sua ajuda e experiência foram de fundamental importância não só
para o andamento de atividades diárias, mas também no aprendizado e
aprimoramento profissional.
Aos antigos e novos amigos que conquistei durante o curso: Nalhow, Elber,
Paulo Ivo, Rachel, Érica, Andrei, Marquinhos, Alexandre e em especial a minha
amada amiga Deise Lúcide.
E a todas aquelas pessoas que direta ou indiretamente passaram pela
minha vida, que acreditaram em mim, que contribuíram de alguma forma para
esta conquista, que não estão supracitadas, mas que serão sermpre lembradas e
estão guardadas no coração.
MUITO OBRIGADA!
v
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
Figura 2 - Possíveis reações ao teste IDGA. a)R: soro positivo padrão. A: soro
positivo fraco B: soro positivo C: soro negativo. b) A: soro positivo
padrão B: soro negativo C: soro positivo............................................. 29
Figura 3 – Casos de Anemia Infecciosa Eqüina por UF, 1995 a 2005 ................. 43
Figura 5 – Distribuição dos casos de AIE por regiões de 1995 a 2005. ............... 44
2 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Atendimentos N° %
TOTAL 94 100
13
Fetotomia 1 0,92
3.1 – Introdução
O Brasil ocupa a terceira posição mundial em relação ao número de
eqüídeos após o México e a China (GANADERIA, 2002). Segundo o IBGE (2004),
o rebanho eqüídeo brasileiro é de 5.787.250 animais, sendo que 1.126.815
encontra-se na região Centro-Oeste e 6000 no território do Distrito Federal.
O mercado para o eqüídeo nacional e, principalmente, o da região Centro-
Oeste está em visível crescimento, constituindo uma importante cadeia do
agronegócio, com estreita relação com os setores ligados à indústria
medicamentosa, alimentícia, lazer, cultura, turismo entre outros.
As atividades que envolvem o cavalo ganham importância social e
econômica, pois é traduzida por uma movimentação econômica na ordem de R$
7,3 bilhões por ano e a ocupação direta de cerca de 640 mil pessoas, cifra que
poderia atingir a casa de 3,2 milhões se forem incluídos empregos considerados
indiretos (CNA, 2004).
Também conhecida como Febre dos Pântanos ou “Swamp Fever”, Malária
Eqüina, AIDS do cavalo, Mal do Cochilo ou Cochilão, a Anemia Infecciosa Eqüina
(AIE) é considerada uma das principais doenças infecto-contagiosas da
equideocultura brasileira, para a qual não há vacina eficaz e tratamento (AIELLO
et al., 2001). Causada por um vírus do gênero Lentivírus da família Retroviridae,
que acomete cavalos, asininos e muares. A transmissão ocorre principalmente
por insetos hematófagos do gênero Tabanidae (ISSEL e COGGINS, 1979;
CLABOUGH, 1990; COOK et al., 2001).
Os estudos iniciais desta doença foram realizados na França, no século
XIX, e, atualmente apresenta distribuição mundial. A AIE é uma infecção
persistente, resultando em episódios periódicos de febre, anemia, hemorragias,
17
3.2 - Etiologia
O agente etiológico da AIE é o Vírus da Anemia Infecciosa Eqüina,
oficialmente classificado na subfamília Lentivirinae, da família Retroviridae,
baseado em sua estrutura, organização genética, atividade de transcriptase
reversa e reatividade sorológica cruzada (FENNER et al., 1993; TRAUB-
DARGATZ, 1993). Relaciona-se intimamente com outros lentivírus, incluindo o
vírus da Arterite Encefalite Caprina, o vírus Maedi/Visna dos ovinos e o vírus da
Imunodeficiência Felina e Humana.
O vírus da AIE é um vírus do tipo RNA, envelopado, contendo um núcleo
de forma cônica e densa. O envelope lipídico do vírus é derivado da membrana
18
Fonte: Valleé
Figura 1 – Esquemas das proteínas do vírus da AIE.
3.2 - Epidemiologia
O vírus da AIE tem distribuição mundial especialmente em regiões úmidas
e montanhosas de clima tropical e subtropical, onde existe grande quantidade de
vetores.
Todas as raças e faixas etárias de eqüídeos são susceptíveis. Os cavalos
crioulos da Argentina e os pantaneiros do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são
relatados como mais resistentes à infecção, sendo acometidos apenas de forma
moderada pela doença (SILVA et al., 2004).
O vírus está presente em todas as secreções e excreções (incluindo
colostro, leite, saliva, urina e sêmen) do animal infectado. A transmissão do vírus
requer a transferência de células sanguíneas de um animal infectado para um
20
animal não-infectado e pode ocorrer também de outras maneiras que não através
de um vetor. A infecção transplacentária pode ocorrer e é mais provável de
ocorrer se a égua estiver apresentando sinais clínicos da doença durante a
gestação (TIMONEY et al., 1988; FENNER et al., 1993; MURPHY et al., 1999).
Se não infectado no útero, o potro poderá adquirir a infecção através da
ingestão de colostro ou leite contendo leucócitos infectados com o vírus, embora
o trato gastrointestinal não seja a porta principal de entrada do vírus.
A transmissão iatrogênica é comum. O vírus da AIE pode permanecer
infectivo em agulhas contaminadas por até 4 dias. Pode ser transmitido também
por equipamento cirúrgico, sondas e todos os instrumentos utilizados na lida com
os animais e que possa carrear o sangue infectado, como por exemplo,
transfusões sanguíneas. A transmissão pela monta pode acontecer, apesar de ser
rara.
O principal meio de transmissão do vírus é através de insetos
hematófagos. Muitas espécies parecem estar envolvidas, incluindo os tabanídeos
(Tabanus spp e Hybomitra spp, Chrysops flavidus), mosca de estábulo (Stomoxys
calcitrans), borrachudos (Simulinium vittatum), mosquitos (Psorophora columbiae,
Aedes vexans e Anopheles spp.) e possivelmente Culicoides spp. A transmissão
por estes artrópodes ocorre de forma mecânica e não biológica (não ocorre
replicação do vírus no artrópode). O grau de disseminação do vírus depende de
vários fatores:
1) O título do vírus no sangue do hospedeiro.
Uma vez o hospedeiro infectado, está infectado para toda a vida. Muitas
vezes, após a infecção inicial, haverá episódios de febre em que se verifica o pico
da viremia e a transmissão ocorre com maior probabilidade neste período.
2) Características de estrutura e comportamento do vetor.
Quanto maior a quantidade de sangue transferida maior a probabilidade de
ocorrer a infecção. Por esta razão os tabanídeos são os vetores mais importantes,
eles são os artrópodes com maior capacidade de ingestão de sangue. Outras
variáveis a considerar são a dor causada pelo vetor, o local da picada e a
persistência do vetor. Para que a transmissão ocorra, o vetor deve iniciar a
ingestão em um animal infectado, interromper e continuar a se alimentar em um
21
3.4 - Patogenia
Imediatamente após a infecção, o vírus da AIE replica, primariamente em
macrófagos maduros do tecido hepático, baço, nódulos linfáticos, pulmões, rins e
22
éguas sem sinais clínicos de AIE durante a gestação, foram vírus e anticorpo
positivos (TRAUB-DARGATZ, 1993).
Segundo Traub-Dargatz (1993), a avaliação do sêmen de dois garanhões
cronicamente infectados com o vírus da AIE, revelou diminuição da motilidade,
diminuição da contagem espermática e quadro morfológico normal dos
espermatozóides.
3.7 - Diagnóstico
Durante muitos anos a ausência de animais de laboratório susceptíveis e
de linhagens celulares que possibilitassem o crescimento e conseqüente estudo
do vírus da AIE, foram um grande entrave para o desenvolvimento de técnicas de
diagnóstico. Até o final da década de 60 e início de década de 70, o diagnóstico
da AIE era feito com base na sintomatologia clínica, ainda que difícil, tanto no
estágio agudo como no crônico da doença, na presença de sideroleucócitos
provenientes da medula óssea em esfregaços sanguíneos e na histologia por
hemossiderose linfonodal, hepática e hiperplasia do retículo-endotélio (CORRÊA
e CORRÊA, 1992) além da inoculação de animais sadios com sangue de animais
doentes. A identificação da doença transmitida, dependia apenas dos achados
clínicos (como sinais de febre recorrente, edema ventral e perda de peso), clínico
patológicos (trombocitopenia, anemia, icterícia) e da necropsia (esplenomegalia e
glomerulonefrite principalmente). Depois que Kobayashi e Kono (1967),
conseguiram multiplicar o vírus da AIE em cultura de leucócitos e posteriormente
adaptá-lo a linhagens celulares contínuas, vários testes sorológicos foram
desenvolvidos.
Os primeiros testes sorológicos desenvolvidos, fixação de complemento
direto e indireto, imunofluorescência, inibição da hemaglutinação, hemaglutinação
indireta e soroneutralização, passaram a ser utilizados apenas com o objetivo de
pesquisa. A fixação de complemento (FC) mostrou-se sensível e específica, mas
os anticorpos fixadores de complemento, eram detectáveis apenas em um curto
espaço de tempo (cerca de dois meses após a infecção); no teste de inibição da
hemaglutinação e de soroneutralização são envolvidos os antígenos de superfície
28
a b
Fonte: a) Valleé. b) Timoney et al. (1988).
Figura 2 - Possíveis reações ao teste IDGA. a)R: soro positivo padrão. A: soro
positivo fraco B: soro positivo C: soro negativo. b) A: soro positivo
padrão B: soro negativo C: soro positivo.
Patologia Clínica
Uma característica da doença é a queda acentuada dos eritrócitos, porém
não é vista no estágio inicial. A anemia varia com a gravidade da cepa viral e dos
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Diagnóstico Diferencial
Enfermidades como a Arterite Viral Eqüina e a Babesiose constituem
importante diagnóstico diferencial de AIE (TIMONEY et al., 1988).
A Arterite Viral Eqüina é uma enfermidade na qual o agente causador é um
RNA-vírus classificado no gênero Arterivírus, em uma família recém proposta: a
Arteriviridae (AIELLO et al., 2001). Animais com arterite eqüina (olho rosado)
desenvolvem febre (até 42 ºC), rigidez ao deambular, edema dos membros e
emaciação em torno dos olhos. Também são observados dificuldade respiratória,
secreção nasal excessiva e lacrimejamento. Há leucopenia envolvendo
principalmente linfócitos. Aborto ocorre em 50 a 70% de éguas gestantes
infectadas. Alta percentagem de eqüinos infectados com o vírus da arterite
eqüina, desenvolvem doença branda ou inaparente, embora potros possam
desenvolver enfermidade relativamente grave. Eqüinos podem desenvolver
infecções persistentes, e no caso de garanhões o vírus pode ser eliminado no
sêmen (HIRSH e ZEE, 2003). O vírus é transmitido através da inalação de
secreções aerossolizadas de um cavalo infectado, e não por vetores (SMITH,
1993). A profilaxia desta enfermidade baseia-se no uso de vacina com vírus
atenuado. O diagnóstico pode ser realizado por observação histopatológica das
33
propriedades (SILVA et al., 2004). Algumas regras como separação dos positivos
(distância mínima de 200 metros) entre si e entre as áreas de trânsito de animais
estranhos à fazenda são utilizadas. Embora animais de ambos os grupos
(positivos e negativos) possam ser utilizados normalmente nos trabalhos da
propriedade, animais positivos e negativos não podem ser usados em atividades
conjuntas. Os utensílios devem ser individuais, cada grupo deve ter os seus
arreios, esporas, freios, etc. e estes devem ser usados de forma independente.
Marcação permanente dos positivos seguindo os mesmos critérios preconizados
pelo MAPA e impedindo estes de transitar livremente.
No Programa de Controle e Prevenção do Mato Grosso do Sul é possível a
obtenção de potros negativos nascidos de éguas positivas, visto que os potros
raramente apresentam-se infectados ao nascimento. Mas como prevenção, os
potros devem ser testados após o desmame (aos 6 meses) e separados de
acordo com o grupo dos animais positivos ou negativos. Porém só podem
realmente serem incorporados ao grupo negativo quando apresentarem
resultados negativos por dois testes consecutivos.
O programa CAIEPAN, visa o controle e até a erradicação da doença de
uma forma específica para a região levando em consideração a atividade da
pecuária extensiva e condições climáticas e geográficas do local.
Dentre as instruções para controle e prevenção da AIE pelo MAPA
constitui-se propriedades controladas, quando não apresentarem reagentes
positivos em duas provas sucessivas de IDGA à AIE, com intervalo de 30 e 60
dias e todo o seu rebanho eqüídeo deve ser submetido ao teste uma vez a cada 6
meses. Esse título pode ser renovado anualmente e será conferido certificado
(ANEXO 3), mas essa deve encaminhar ao Serviço de Sanidade Animal (SSA) da
respectiva UF um relatório mensal. O título de propriedade controlada é na
realidade difícil, pois com a saída dos animais para as exposições, vaquejadas,
folias, eventos diversos, estes animais estarão expostos à infecção, podendo
permanecer alguns dias na propriedade “supostamente controlada” e sendo fonte
de infecção aos outros animais que permaneceram no haras.
O trânsito interestadual no Brasil, somente será permitido mediante a
apresentação do Guia de Trânsito Animal (GTA) e do resultado negativo no
exame laboratorial para diagnóstico de AIE.
38
9000
8000
7000
6000
Casos
5000
4000
3000
2000
1000
0
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO
UF
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
95
96
97
98
99
00
01
02
03
04
05
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
20
DF GO MS MT AC PA AM AP RO RR TO SE RN BA CE AL PB PE PI MA
MG ES SP RJ PR RS SC
Fonte: MAPA
Figura 5 – Distribuição dos casos de AIE por regiões de 1995 a 2005.
200
150
100 DF
50
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Número de casos de AIE
5 - HABRONEMOSE
5.1- Etiologia
São três as espécies que parasitam o estômago dos eqüídeos: Habronema
muscae, Habronema microstoma (sinonímia: H. majus) e Draschia megastoma
(sinonímias: Habronema megastoma, Spiroptera megastoma) (FORTES, 1997).
Os adultos das duas primeiras espécies são maiores, 1 a 2,5 cm de comprimento,
os de D.megastoma raramente excedem 1,25 cm de comprimento (BLOOD e
RADOSTITS, 2002).
As espécies Habronema muscae e Habronema microstoma são membros
do mesmo gênero, Habronema, no qual habros significa delicado e nema: fio
(FORTES, 1997). São vermes brancos e delgados. Os ovos são alongados,
46
larvados e têm parede bastante fina. No macho, a cauda tem uma torção espiral
chamada de acúleo caudal (FORTES, 1997). Devido as lesões características é
improvável que a Draschia seja confundida com outros nematóides no estômago
(URQUHART et al., 1998).
As espécies H. muscae, H. microstoma e D. megastoma são pertencentes
a subfamília Habronematinae. A principal diferença entre estas espécies está na
maneira como se localizam no sítio de desenvolvimento e na patogenicidade. H.
muscae e H. microstoma desenvolvem-se próximo ou dentro da mucosa, sem a
formação de nódulos (BERNE, 2001). Raramente podem ser encontrados no ceco
e cólon (FORTES, 1997). Normalmente causam pouca reação tecidual. A
exceção é a D. megastoma, que produz nódulos gástricos de dimensões variáveis
na região glandular principalmente, junto à “margo plicatus”, portanto considerada
bem mais patogênica. As fêmeas das três espécies são vivíparas, e as larvas são
eliminadas junto com as fezes (SMITH, 1993).
Além de afetar o estômago, a infecção por larvas das três espécies de
nematóides em ferimentos na pele, produz ampla formação de tecido de
granulação, causando então habronemose cutânea e a invasão destas na
conjuntiva pode levar ao desenvolvimento de conjuntivite granular e em
infestações severas pode acometer os pulmões (MAIOR e ALVES, 2001).
5.2 - Epidemiologia
Habronema e Draschia distribuem-se amplamente pelo mundo e sua
prevalência está relacionada com a abundância de hospedeiros intermediários.
São importantes principalmente em climas mais quentes, onde são encontrados
com facilidade, especialmente em áreas mais úmidas onde o ambiente é propício
para a evolução de seus hospedeiros intermediários. Eqüinos de todas as idades
são susceptíveis, porém a doença é mais comum nos adultos (BLOOD e
RADOSTITS, 2002).
No Brasil, a prevalência das espécies de Habronema foi estudada por
Lanfredi (1993) na baixada fluminense, Rio de Janeiro, o qual observou que a H.
muscae foi a única espécie encontrada, parasitando 40% dos animais
examinados. Na região metropolitana do mesmo estado, Leite et al. (1997)
47
Fonte: au.merial.com/horse_owners/disease/en_life.html
Figura – 7: Ciclo evolutivo da habronemose.
Após a deglutição das larvas ou das moscas com as larvas em seu interior,
estas atingem a maturidade sexual no estômago, dando continuidade ao ciclo
evolutivo. As larvas somente atingem o estágio adulto no estômago, quando a
infecção for por via oral (BERNE, 2001; BLOOD e RADOSTITS, 2002).
As formas erráticas ou aberrantes desta infecção ocorrem quando as L3
são depositadas na pele, nos olhos, ou ainda quando migram para os órgãos
como pulmão e baço (REBHUN et al., 1981; MAYHEW et al.,1982).
Nestas localizações erráticas, as larvas são incapazes de maturar até a
fase adulta, e acredita-se que as lesões proliferativas resultantes representem um
tipo de reação de hipersensibilidade aos antígenos liberados pelas larvas mortas
ou moribundas (KNOTTENBELT e PASCOE, 1998; TIMOTHY, 2000).
Habronemose Gástrica
As larvas de Draschia megastoma podem formar granulomas submucosos
eosinofílicos na parede do estômago, principalmente no “margo plicatus” na
região glandular. Estes granulomas podem coalescer e formar lesões nodulares
fibrosas sólidas com até 5 a 7 cm de diâmetro (KNOTTENBELT e PASCOE,
1998). A maioria destas lesões, são nódulos singulares com aproximadamente 5
cm de diâmetro, que contêm parasitas adultos que ficam cobertos por material
caseoso e necrótico, estes nódulos apresentam um orifício central por onde os
ovos e as larvas passam para a luz do estômago (BLOOD e RADOSTITS, 2002;
Thomassian, 2005). Geralmente pode haver presença de bactérias como
Streptococcus sp, Corynebacterium sp, Pseudomonas aeruginosa e Escherichia
coli como agentes de infecção secundária (MACRUZ et al.,1981). Contudo, na
maioria dos casos, as lesões causam uma gastrite hipertrófica crônica discreta
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Habronemose Pulmonar
As larvas erráticas ou aberrantes podem atingir os pulmões, caracterizando
habronemose pulmonar. Segundo Timothy (2000), as larvas depositadas no nariz
migram para os pulmões. Formação de granulomas parasitários próximos aos
bronquíolos, induzindo uma peribronquite nodular (BERNE, 2001). Em raras
ocasiões, durante a migração das larvas pode-se detectar leves sinais de
bronquite. A parede dos nódulos é fibrosa e sua espessura aumenta com o tempo
em razão da calcificação (FORTES, 1997). Os nódulos podem ficar cobertos por
material caseoso. Em potros, pequenos abscessos associados ao Rhodoccocus
51
Habronemose Cutânea
A habronemose cutânea causa granulomas ulcerativos crônicos, que são
variadamente conhecidos como “chagas de verão”, “ferida de verão”, “bursaitee”,
“bursatti”, “chagas palustres”, ”drasquiose”, “kunkers”, “esponja”, “espúndia” e
“dermatite granular” (KNOTTENBELT e PASCOE, 1998). Esta manifestação
ocorre devido à presença das larvas de Habronema spp. e D. megastoma, que
são depositadas pelas moscas transmissoras, em feridas ou escoriações na pele
dos eqüídeos (MAIOR e ALVES, 2001), produzindo tanto uma reação inflamatória
local como uma reação alérgica localizada (TIMOTHY, 2000). Acredita-se que a
hipersensibilidade de alguns cavalos às larvas causa o surgimento da afecção
clínica (KNOTTENBELT e PASCOE, 1998). Embora os cavalos possam estar
congregados, indivíduos isolados podem ser afetados. Segundo Knottenbelt e
Pascoe (1998) freqüentemente o mesmo cavalo é reinfectado nos verões
subseqüentes, indicando haver pouca ou nenhuma resistência imunológica
humoral e celular.
Comumente as lesões ocorrem em regiões do corpo onde ferimentos e
escoriações são mais prováveis de ocorrer e onde o animal não possa espantar
as moscas vetoras. As partes do corpo mais afetadas são: canto medial dos olhos
(possivelmente relacionado à maceração decorrente do corrimento ocular),
comissura labial, cernelha, processo uretral, prepúcio, pênis, regiões distais dos
membros, porção ventral do abdômen (MAIOR e ALVES, 2001).
Inicialmente, as lesões apresentam-se como pequenas pápulas com os
centros erodidos e recobertos por crostas (BLOOD e RADOSTITS, 2002). Estas
pápulas crescem e ulceram rapidamente e lesões individuais podem aumentar até
30 cm de diâmetro (KNOTTENBELT e PASCOE, 1998; BLOOD e RADOSTITS,
2002). Durante as fases iniciais, há intensa coceira da ferida infectada, muitas
vezes, ocorrendo a auto-mutilação (MAIOR e ALVES, 2001). Estas lesões
consistem de massas ulcerativas, nodulares e tumorais com múltiplos focos
52
Habronemose Conjuntival
A habronemose conjuntival ou ocular tem ocorrência bastante comum
(BLOOD e RADOSTITS, 2002). Ocorre quando larvas de H. muscae, H.
microstoma ou D. megastoma são depositadas em tecido ocular. As moscas que
servem como hospedeiros intermediários para Habronema são atraídas pela
alimentação em áreas úmidas do corpo, inclusive a conjuntiva. Os corrimentos
oculares e as feridas perioculares proporcionam maior atração. Durante a
alimentação destes insetos, as larvas de Habronema são depositadas sobre a
superfície dos tecidos oculares, íntegros ou lesionados, migram para os tecidos e
produzem reação inflamatória granulomatosa local (SMITH, 1993). Há a formação
de conjuntivite granulosa também conhecida como blefaroconjuntivite
habronemótica ou conjuntivite parasitária (REBHUN et al., 1981). A conjuntivite
manifesta-se por massas necróticas amareladas e pequenas, de cerca de 1 mm
de diâmetro, sob a conjuntiva (BLOOD e RADOSTITS, 2002).
53
5.5 - Diagnóstico
A infecção gástrica não é facilmente diagnosticada, pois os ovos e as
larvas de Habronema não são facilmente demonstráveis nas fezes por técnicas
coproparasitológicas convencionais (REBHUN et al., 1981). Não há detecção por
técnicas de flutuação porque além das pequenas dimensões dos ovos, têm a
parede bastante delgada e colapsam (DRUDGE e LYONS, 1986).
Técnicas como a de Baermann, que procuram as larvas de Habronema sp.
e Draschia sp. são as mais adequadas para o diagnóstico da Habronemose
Gástrica (PAIVA, 1988). Segundo Silva e Fernandes (2005), outro método de
diagnóstico é a gastroscopia, concluíram que endoscopicamente, a habronemose
gástrica é caracterizada pela presença de gastrite catarral, e presença dos
parasitas, embora as infecções com baixa carga parasitária possam não ser
identificadas, a gastroscopia revela-se uma forma eficiente de diagnóstico da
habronemose gástrica em eqüinos.
A habronemose gástrica pode ser ainda diagnosticada através do
xenodiagnóstico, que consiste na pesquisa de L3 de habronematídeos em
moscas criadas em fezes de animais suspeitos (MAIOR e ALVES, 2001). Faz-se
a anestesia com éter e disseca-se no microscópio estas moscas, ao encontrar a
L3 fecha-se o diagnóstico.
Alguns outros métodos de diagnóstico seriam a lavagem gástrica com
solução salina e o exame do lavado na tentativa de se encontrar vermes adultos
ou larvas nesta solução, mas apresentam pouca eficiência. Também pode ser
diagnosticada na necropsia pela presença de parasitas adultos, larvas e ovos.
54
5.6 - Tratamento
Uma característica da habronemose cutânea é a falta de resposta aos
tratamentos comuns de feridas (THOMASSIAN, 2005). O tratamento da
habronemose cutânea visa quatro objetivos: redução das dimensões das lesões,
55
FÓRMULA
Organofosforados (triclorfon) ............................................................ 9 g
Nitrofurazona base solúvel em água ................................................ 224g
Dexametasona solução .................................................................... 40mg
DMSO 90% ....................................................................................... 56g
Fonte: THOMASSIAN, 2005.
Figura 8 – Componentes para formulação da pasta de Habronemose.
FÓRMULA MANIPULADA
Sulfato de Cobre ............................................................................... 1%
Carvão ativado.................................................................................. 10%
DMSO ............................................................................................... 10%
Uréia ................................................................................................. 10%
Pomada ............................................................................................ 250g
Adicionar: organofosforado(Neguvon) .............................................. 50g
Ivermectina ....................................................................................... 6ml
Figura 9 – Fórmula utilizada no tratamento do primeiro caso clínico relatado.
a b
a b
c d
Figura 15 – a e b) Contenção do MPE. c) Ferida habronemótica com exsudato
purulento que exalava odor fétido (22/08/06). d) Antissepsia da
ferida com resíduos da pasta para habronemose.
66
a c
6 – CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AIELLO, B.S.S.E., D.V.M., E.L.S. Manual Merck de Veterinária. 8 ed. São Paulo:
Editora Roca LTDA. 2001. 1861 p.
ALCAÍNO, H., et al. Estúdio epizootiologico del parasitismo estomacal del eqüino
de la zona Centro Sur de Chile. Archivos de Medicina Veterinária, v.12, p.10-
29,1980.
BICOUT D.J., et al. Distribution of equine infectious anemia in horses in the north
of Minas Gerais State, Brazil. J. Vet. Diagn. Invest. 18(5):479-82. 2006.
COOK, S.J., et al. Differencial responses of Equus caballus and Equus asinus to
infection with two pathogenic strains of equine infectious anemia virus. Vet
Microbiol., v.79, p.93-109, 2001.
FENNER, F.J., et al. Veterinary Virology. 2ª ed. Academic Press, Inc. San Diego,
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