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Publicado

Atualizadoem
em18.10.2019
26.08.2020

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O Magazine Luiza é uma empresa listada no Novo Mercado sob o código
MGLU3, com atuação no comércio varejista por meio de lojas físicas, lojas
virtuais e e-commerce. A companhia também oferece produtos e serviços
financeiros complementares ao seu segmento, como crédito ao
consumidor, seguros e consórcios.

Atualmente, possui mais de 1.100 lojas físicas em 18 estados brasileiros,


um site de comercialização de produtos e 17 centros de distribuição. A
história da empresa tem início em 1957, na cidade de Franca, interior de
São Paulo, quando Luiza Trajano Donato e seu marido Pelegrino José
Donato vendiam os primeiros aparelhos televisores em cor pela região.

Em 1991, Luiza Helena Trajano, sobrinha da fundadora, assume a liderança


da organização e, partir de então, a empresa ajudou a levar produtos,
como máquinas de lavar roupas, a milhares de lares brasileiros. Com a nova
gestão, a companhia iniciou um forte ciclo de expansão geográfica, além de
ter criado as primeiras lojas virtuais, em 1992. Essa estratégia demonstra o
forte impulso inovador que guiou a empresa ao longo de décadas.

Anos depois, já sendo uma das empresas varejistas com maior


representação no mercado brasileiro no setor de móveis e
eletrodomésticos, em 2011, o Magazine Luiza, decide fazer o seu IPO
(Initial Public Offering – Oferta Inicial de Ações).

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A partir de então, a empresa inicia um novo ciclo de expansão, com a
aquisição de nove centros de distribuição, que passam a oferecer entregas
mais rápidas e com menor custo de frete. Dessa forma, a partir de 2015, o
Magazine Luiza passou a adotar uma estratégia de transformação que, de
acordo com a empresa, duraria cerca de 5 anos.

A estratégia está fundamentada no foco em e-commerce, além da


transformação das lojas físicas, de maneira que as operações ganhem
velocidade, eficiência e melhoria na experiência de compra dos clientes.

O Magazine Luiza é uma companhia que possui um grupo controlador bem


definido. Essa configuração não atrapalha necessariamente o desempenho
de uma empresa. Apenas no Brasil, temos vários casos de empresas
familiares de sucesso. Na realidade, a gestão do Magazine Luiza tem
demonstrado ser capaz de dirigi-la com uma eficiência extraordinária.

Fonte: ri.magazineluiza.com.br / Suno Research

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A companhia possui 1.624.731.712 ações, das quais 58,5% estão nas mãos
dos controladores e 41,5% em livre circulação.

Quando Frederico Trajano, filho de Luiza Trajano, assumiu o cargo de CEO,


em 2016, o varejo de eletrodomésticos era um dos setores mais afetados
pela recessão do país. A estratégia proposta pelo novo executivo foi de
transformar uma empresa tradicional com área digital em uma plataforma
digital com pontos físicos, movimento semelhante ao caminho traçado por
grandes varejistas americanas. O foco dele está definido em 5 pilares:

▪ Inclusão digital
▪ Multicanalidade
▪ Transformação da loja física
▪ Marketplace
▪ Cultura digital

Diferentemente do que se pensava há alguns anos, a loja física possui um


papel fundamental para o sucesso de um e-commerce. Entretanto, na visão
de Trajano, é preciso digitalizar as lojas visando transformá-las em pontos
de experiência e distribuição. Além disso, o grande diferencial da empresa,
até o momento, é a capacidade de o cliente adquirir um produto no site e
retirá-lo em uma loja em apenas dois dias.

Desse modo, acreditamos no direcionamento traçado pela companhia,


principalmente pelo fato da estratégia ter sido utilizada com êxito em
diversos países por outros varejistas.

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O modelo de negócios da empresa está fundamentado na multicanalidade,
ou seja, o Magazine Luiza oferece aos seus clientes uma plataforma de
vendas baseada em seis formatos: lojas física, lojas virtuais, televendas,
plataforma e-commerce, Magazine Você e vendas corporativas.

Ao contrário de muitos concorrentes, a companhia utiliza esse leque


variado de canais para alavancar suas vendas de maneira a entregar o que
Jeff Bezos, CEO da Amazon, costuma chamar de “Os três pilares do varejo:
preço de venda baixo, rapidez de entrega e variabilidade de produtos”.

Grande parte do sucesso da empresa é fruto de sua estratégia vencedora


no e-commerce. Em 2019, por exemplo, cerca de 48% do total de suas
vendas foram provenientes desse meio. Por outro lado, em razão do
fechamento quase total das lojas físicas no segundo trimestre de 2020, a
participação do e-commerce sobre o total vendido aumentou para 78,5%.

No entanto, trata-se de um semestre atípico, motivo pelo qual, quando as


lojas físicas reabrirem, esse valor tende a se normalizar. Não se sabe ainda
qual será a participação do e-commerce sobre o total do volume vendido
futuro, mas a tendência é de que ele cresça significativamente, pois muitos
clientes tinham receio de realizar compras online antes da pandemia.

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Assim, à medida que tenham boas experiências realizando compras
online, eles tendem a manter esse perfil de consumo. Nesse contexto, o
e-commerce ainda tem uma longa via de consolidação no Brasil. Como
prova disso, basta olhar seus índices acelerados de crescimento, mesmo
em uma economia estagnada.

Parte do crescimento tem sido puxado pela estratégia vencedora do


Magazine Luiza.

Há poucos anos, seu principal concorrente (a Via Varejo) criou um modelo


de negócios conflitante, no qual a precificação e operação do modelo de
negócios online, através da Ponto Frio, canibalizava (e não alavancava) as
vendas nos negócios de lojas físicas, por meio das Casas Bahia.

No movimento contrário, o Magazine Luiza acelerou, nos últimos anos, a


integração dos seus canais e se tornou pioneiro no conceito omnichannel,
modelo que integra as lojas físicas e os canais online do e-commerce. Hoje,
a empresa goza de um rápido crescimento de market share. Observe a
seguir o crescimento das vendas nos mais variados canais.

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Fonte: ri.magazineluiza.com.br

Destaca-se que o primeiro semestre de 2020 foi atípico, havendo uma


queda significativa do volume de vendas nas lojas físicas, visto que essas
estavam fechadas por causa da Covid-19. Por outro lado, acelerou a
expansão do marketplace da companhia, além de aumentar
significativamente o volume de vendas no canal digital.

A empresa também vem trabalhando para que seus sellers do marketplace


utilizem os serviços de seus centros de distribuição, os quais poderão ser
comercializados pelos vendedores do próprio Magazine Luiza.

A estratégia dos sellers funciona como se o Magazine Luiza fosse um


intermediador, vendendo produtos de terceiros, o que é interessante
porque a empresa não aplica tanto capital e reduz o próprio estoque.

De acordo com a companhia, essa estratégia une a praticidade de uma


venda online com o bom atendimento e calor humano oferecidos por um
vendedor de loja física.

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Além disso, as próprias lojas físicas da companhia estão se transformando
em centrais de distribuição, o que garante maior velocidade no prazo de
entrega dos produtos.

“Por ironia do destino, as lojas físicas, cuja viabilidade foi


duramente questionada num passado recente, estão sendo o
fiel da balança para as operações digitais na função de aliar
crescimento e rentabilidade”, justificou-se a estratégia no
relatório anual da empresa em 2017.

Acreditamos que a empresa está correta em sua avaliação, já que essa tem
sido uma tendência das grandes varejistas de e-commerce no mundo todo.
Todas essas iniciativas geraram, nos últimos 3 anos, uma expressiva
diluição das despesas operacionais, um forte crescimento do EBITDA e do
Lucro Líquido, além de expressiva geração de caixa operacional.

Embora atue em um setor extremamente competitivo e sem diferenciação,


o Magazine Luiza vem se destacando dos demais competidores por ser
uma varejista focada em tecnologia e canais de vendas digitais.

Seu modelo de atuação é fortemente focado em seu canal e-commerce e o


Magazine Luiza tem conseguido alavancar suas vendas por meio de uma
crescente (e exponencial) oferta de produtos em seu marketplace.

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Fonte: ri.magazineluiza.com.br / Suno Research

Por sair na frente dos competidores, o Magazine Luiza conseguiu construir


uma plataforma digital relevante, considerada uma das maiores do
mercado. Essa capacidade de unir uma grande variabilidade de produtos,
rápida entrega (35% das entregas totais passaram a ser realizadas em até
24 horas, com forte tendência de evolução) e um omnichannel funcional,
faz com que a empresa ganhe uma fatia cada vez maior do mercado.

Em relação ao omnichannel, o Magazine Luiza tem aproveitado sua vasta


rede de lojas físicas de forma inteligente e eficiente. As lojas da companhia
não são simplesmente pontos de vendas. Elas funcionam como centros de
distribuição que se integram aos canais digitais. Com isso, permite-se
acelerar ainda mais a capacidade de entrega em todo território nacional,
otimizando a experiência do consumidor e o processo logístico.

Assim como a Amazon, o Magazine Luiza pretende estender o seu portfólio


de produtos para além dos bens duráveis, entregando categorias como

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roupas, calçados, produtos de higiene, comida, vinhos, material de
construção e uma infinidade de outros segmentos.

Isso só é possível graças ao ganho de escala do seu marketplace. Quanto


maior o número de visitas, maior o poder de atração perante novos
parceiros de negócios, o que se torna um círculo virtuoso de crescimento.
A seguir, podemos ver o ganho de market share da companhia desde 2016.
Embora o crescimento tenha sido forte nos últimos anos, há muito espaço.

Fonte: ri.magazineluiza.com.br

Em geral, para se ter sucesso no setor de varejo, é necessário estar muitos


passos à frente da concorrência de modo que se consiga entregar um
serviço mais inovador, barato e de qualidade aos clientes. Em síntese,
dizemos que esse é um setor intensivo em gestão.

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São inúmeros passos a serem observados por um varejista de sucesso.
Alguns deles são fáceis de identificar, como trabalhar na fidelização dos
clientes, montar uma estrutura logística rápida e eficaz, oferecer preços
competitivos e manter uma boa rotatividade de volumes de vendas.

Nesse sentido, o Magazine Luiza conseguiu, com sucesso, reunir todos


esses fatores de maneira muito rápida. Um desses aceleradores foi a
implantação do CPRF (Planejamento Colaborativo, Previsão e
Reabastecimento), ferramenta semelhante à utilizada pelas lojas Renner.

Esse método é utilizado por grandes corporações e busca promover a


integração com o fornecedor para que as previsões de demanda sejam
mais adequadas à realidade. Assim, evitam-se estoques excedentes e,
consequentemente, um maior consumo de capital de giro.

Vale lembrar que o capital de giro é o capital de trabalho, ou seja, é o recurso


financeiro necessário para dar continuidade ao pleno funcionamento de
uma empresa. Desse modo, em 2014, antes de a companhia implantar toda
a sua reestruturação estratégica, o lucro líquido foi de R$ 128,6 milhões.

Por outro lado, em 2015, com maiores despesas financeiras e uma forte crise
que atingiu todo o setor, a empresa registrou prejuízo de R$ 65,6 milhões.

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Além disso, o EBITDA (indicador que representa o lucro da empresa antes de
juros, impostos, depreciação e amortização) atingiu R$ 464 milhões, uma
queda de 23% em relação a 2014, mas que demonstrava que a empresa
vinha gerando lucro operacional.

Curiosamente, nessa época, a empresa foi negociada a menos de 3 vezes o


EBITDA, sendo um período atrativo para adquirir suas ações. Inclusive,
quem adquiriu as ações naquele momento, apostando no sucesso da
reestruturação que viria a ser adotada pela gestão, fez uma excelente
escolha. Desde então, os papeis se multiplicaram por mais de 100 vezes.

Preço da Ação

Fonte: Economatica / Suno Research

Apesar das dificuldades operacionais observadas até 2015, a partir de 2016


a companhia começou a reagir. O resultado líquido, já em 2017, foi de R$
389 milhões. Na imagem a seguir, observamos o histórico do Lucro Líquido.

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Lucro Líquido

Fonte: Economatica / Suno Research

A partir de 2016, o ROE da empresa também acompanhou o bom resultado


do seu lucro líquido. Esse indicador mede a rentabilidade da empresa, ou
seja, a relação entre o lucro líquido e o patrimônio líquido da companhia.

ROE

Fonte: Economatica / Suno Research

Podemos destacar também a relação P/VP (Preço/Valor Patrimonial), que


acompanhou a tendência de crescimento verificada a partir de 2016. Essa
relação é muito importante dentro da análise fundamentalista de
investimentos, pois representa (em síntese) o quanto o mercado está
disposto a pagar, naquele momento, pelo patrimônio líquido da empresa.

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P/VP

Fonte: Economatica / Suno Research

Outro ponto que merece destaque é a solidez de balanço. Como pode-se


analisar na imagem a seguir, a empresa apresentou uma posição de caixa
líquido ajustado de R$ 5,8 bilhões no fim do 2T19, um acréscimo de R$ 5
bilhões em relação a junho de 2019.

Fonte: ri.magazineluiza.com.br

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Na teleconferência de resultados do 2T20, a gestão foi questionada se a
companhia teria planos de utilizar o excedente de caixa em eventuais
aquisições ou investimentos orgânicos mais relevantes. A resposta dada
por Frederico Trajano, CEO da empresa, foi a seguinte:

“É muito amplo o espectro [de alvos de aquisição] quando se tem


visão tão abrangente quanto a nossa. Não é qualquer peça que se
encaixa no quebra-cabeça, mas podemos comprar todo tipo de
empresa. Não se surpreendam. (...) Em toda a crise tem uma seleção
natural. É oportunidade para quem tem operação redonda.”

Analisando o histórico da gestão, vemos que ela dispunha de uma vasta


expertise sobre fusões e aquisições, tendo realizado operações de sucesso,
como Netshoes, Estante Virtual e CanalTech. Nesse contexto, a empresa
não só está preparada para atravessar a crise, mas também para ampliar
seu market share e expandir seu leque de aquisições.

No primeiro semestre de 2020, o Magazine Luiza reduziu seus


investimentos totais – se comparados com o 1S19 – em função da
diminuição dos gastos com reformas e logística.

Por outro lado, os investimentos com tecnologia aumentaram


significativamente, totalizando R$ 78,5 milhões. Eles foram destinados
principalmente à expansão do e-commerce.

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Fonte: ri.magazineluiza.com.br / Suno Research

É importante destacar também a aquisição da Netshoes, maior player


online de roupas, calçados e artigos esportivos do país em 2019. Após
meses de disputa com a Centauro pela compra, o Magazine fez a aquisição
pelo preço de US$ 3,70 por ação, totalizando cerca de US$ 115 milhões.

Embora o grupo SBF tenha feito uma proposta mais elevada, o Conselho de
Administração da Netshoes julgou que seria arriscado aceitar a proposta
devido à demora para o fechamento da aquisição e possíveis restrições
feita por parte do CADE.

Para o Magazine, a aquisição está em linha com a sua estratégia de


crescimento acelerado, tendo em vista a adição de novas categorias,
aumento da base de clientes e aumento da frequência de compra.

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Além disso, acreditamos que a companhia tem muito mais capacidade e
experiência para aproveitar toda a base de clientes da Netshoes do que a
própria Centauro, que tem foco maior em lojas físicas e está em um estágio
menos avançado do desenvolvimento de seu omnichannel.

Ademais, a companhia entrou no mercado de publicidade digital com a


aquisição dos sites Canaltech e Inloco Media, focando em aumentar a
audiência e a eficácia da sua ferramenta de anúncios online – como fez a
Amazon. Por meio do Magalu Ads, os parceiros da empresa poderão expor
suas mercadorias no site e aplicativo do Magazine Luiza, Zattini e Netshoes.

Na teleconferência de resultados do 2T20, a administração da companhia


afirmou que vê uma excelente oportunidade não explorada no Magalu Ads.
Isso porque, segundo a companhia, com cerca de 80 milhões de visitantes
únicos nas plataformas da empresa, certamente grandes marcas desejarão
anunciar seus produtos ali.

A administração ainda mencionou que quase toda a receita do Alibaba na


China já advém de propaganda. Igualmente, a previsão é de que US$ 13
bilhões da receita da Amazon sejam oriundos de propaganda.

Segundo a consultoria e-Marketer, em 2020, dois terços do investimento


mundial em publicidade programática serão destinados a anúncios para
celular. De acordo com um estudo da Adyoulike, agência americana de
publicidade, o mercado global de publicidade nativa deve crescer 372%
entre 2020 e 2025 – passando de US$ 85,8 bilhões para US$ 402 bilhões.

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Como se vê, os anúncios online são uma nova avenida na qual a companhia
pretende entrar, diversificando, assim, suas fontes de receitas.

A seguir, listamos alguns dos principais fatores de risco relacionados à


empresa e à sua atividade.

▪ Risco referente à competição do setor: o segmento de varejo é bastante


competitivo. Geralmente, as empresas do setor apresentam margens
comprimidas e, frequentemente, precisam praticar grandes descontos para não
perder share. Tais fatores colocam essas empresas em situações de fragilidade,
sobretudo em períodos de desaceleração econômica, uma vez que não há muito
espaço para perda de margens. Além disso, dentro do segmento de e-commerce,
a concorrência vem crescendo em ritmo acelerado. Gigantes como a Amazon, que
já atua no Brasil através de uma plataforma de marketplace e é detentora de
importantes vantagens competitivas, podem acabar prejudicando o crescimento
do Magazine Luiza no longo prazo, implementando estratégias de crescimento.

▪ Riscos macroeconômicos: devido à ciclicidade do setor de varejo, seu


desempenho está ligado ao da economia e da atividade produtiva. Períodos de
recessão, aumento de desemprego, taxas de juros elevadas e inflação alta podem
prejudicar de forma severa este segmento, uma vez que reduzem o poder de
consumo. O Magazine Luiza pode acabar sendo prejudicado de forma relevante
em cenários recessivos. Como a empresa apresenta margens baixas, o que é
inerente sobretudo às companhias que atuam no varejo de eletrônicos e móveis,
o Magazine pode ser duramente afetado em cenários de adversidade econômica,
justamente por suas margens serem baixas. Em 2019, a margem Ebitda foi de
8,9% enquanto a margem líquida foi de 2,8%, demonstrando a fragilidade da
operação.

▪ Risco referente à dinâmica do setor varejista: a companhia compete, de forma


indireta, dentro do segmento, com inúmeras outras companhias varejistas em
relação a promoções, preços, experiência do consumidor, qualidade no
atendimento e produtos, plataformas digitais, disposição das lojas e inovações.

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As preferências dos consumidores e tendências do segmento de consumo
apresentam grande volatilidade e costumam ser modificadas aceleradamente
com o surgimento de novos produtos, tendências, serviços e demandas. A
manutenção da trajetória de sucesso da empresa depende, naturalmente, da sua
habilidade em conseguir antecipar e responder de forma eficiente às mudanças e
tendências de consumo, inclusive sendo possível a necessidade de mudança de
modelo de negócios e estratégias gerenciais e operacionais. Apesar de, ao longo
do tempo, o Magazine Luiza ter demonstrado assertividade e eficiência na
execução e planejamento de estratégias, nada garante que a empresa continuará
apresentando este bom desempenho, podendo falhar futuramente em
reconhecer mudanças estruturais no setor.

▪ Risco relacionado ao coronavírus: a pandemia ocasionou a necessidade de


distanciamento social como medida de combate à disseminação do vírus. Nesse
contexto, grande parte das lojas ficou fechada por bastante tempo – apenas
aquelas ligadas a produtos essenciais, como farmácias e supermercados,
permaneceram abertas. Mesmo quando foram reabertas, o fluxo de dinheiro
circulando caiu significativamente, resultado da diminuição da renda geral,
parcialmente compensada pelas medidas governamentais. Além disso, não se
sabe ao certo quando será o fim da pandemia, a qual já se estendeu por meses
sem apresentar uma redução clara. Assim, apesar de a companhia estar bem
capitalizada, com um caixa robusto, e de ter um e-commerce forte, ela está no
setor mais afetado pela crise, afinal corresponde a consumo discricionário e
dispõe de margens baixas.

A companhia reportou recentemente os resultados do primeiro semestre


de 2020, superando as expectativas do mercado. Mesmo com a pandemia
afetando em cheio seu negócio – seja pelo fechamento das lojas físicas,
seja pela diminuição do consumo de bens discricionários –, o Magazine
Luiza conseguiu entregar resultados robustos.

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As vendas totais (incluindo o marketplace) totalizam R$ 8,5 bilhões no
2T20, uma alta de 49,1% em comparação com o 2T19. Cerca de 78% das
vendas foram realizadas no varejo online – um aumento expressivo,
considerando que, no 2T19, a participação do e-commerce sobre o total de
vendas era de cerca de 41,5%.

A verdade é que o Magazine Luiza foi uma das varejistas que estavam mais
preparadas para a crise: há anos, seu e-commerce vem se destacando no
setor. Assim, o isolamento social afastou o público das lojas físicas, fazendo
com que ele buscasse seus produtos nos sites. O gráfico a seguir evidencia
o crescimento das vendas no e-commerce da companhia:

Fonte: ri.magazineluiza.com.br

Durante a pandemia, o aplicativo Magalu atingiu a marca de 30 milhões de


usuários ativos mensais, destacando-se dos demais concorrentes.

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No entanto, mesmo com o crescimento do volume de vendas, a companhia
registrou um prejuízo líquido de R$ 64 milhões no 2T20, impactada
principalmente pelos custos fixos elevados das lojas físicas que
permaneceram fechadas durante a pandemia.

De qualquer forma, o aumento expressivo do volume de vendas da


companhia não foi conquistado via queima de caixa. Ao contrário, somente
no segundo trimestre do ano, a companhia conseguiu gerar um caixa
operacional de R$ 2,2 bilhões.

Isso evidencia a qualidade da empresa, que, mesmo em um cenário


adverso – em que a maioria das suas lojas estava fechada –, conseguiu
manter a forte geração de caixa operacional. Mas, devemos acompanhar
os próximos trimestres, pois a pandemia continua assolando o país e
diminuindo a renda de grande parte da população.

Além disso, o Governo Federal não terá como manter os estímulos fiscais
que concederam auxílio a grande parte da população por muito tempo.
Nesse contexto, o impacto do fechamento das lojas físicas foi parcialmente
suportado pelo aumento de liquidez do mercado via estímulos fiscais, mas
não sabemos ainda qual será o resultado com o fim desses estímulos.

Por fim, a companhia esclareceu que está observando futuras aquisições e


olhando um espectro amplo – “desde novas categorias, superapps, entrega
mais rápida, crescimento exponencial do marketplace e dos serviços
ofertados aos sellers”, afirmou o CEO da empresa.

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Quando observamos os múltiplos atuais do Magazine Luiza, fica nítido que
a companhia vive um momento de euforia, em que o mercado precifica um
cenário bastante otimista e um crescimento muito acelerado para os
resultados operacionais da empresa.

Ao analisarmos a relação do P/VP (preço da ação dividido pelo valor


patrimonial), vemos que o Magazine Luiza negocia a 19,5 vezes, ao passo
que as Lojas Renner negociam a 6,75 vezes; a Via Varejo, a 6,1 vezes.

Fonte: Status Invest / Suno Research

Outro indicador importante para ser olhado nesse caso é a relação


EV/EBITDA. O EV (Valor da Firma) corresponde à soma do valor de mercado
da companhia com sua dívida líquida. Por outro lado, o EBITDA é um
indicador útil para estimar a geração de caixa de uma companhia.

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Nesse sentido, a vantagem de olharmos esse indicador se dá porque
conseguimos comparar empresas – nacionais ou internacionais – com
diferentes estruturas de capital e tributação.

Assim, considerando que a pandemia provocou um efeito negativo não


recorrente nos balanços, em que empresas buscaram emitir dívidas para
permanecerem líquidas, é fundamental analisarmos esse indicador.
Desse modo, a relação EV/EBITDA do Magazine Luiza é a maior dentre seus
pares nacionais comparados; também é maior do que a da Amazon.

Fonte: Suno Research

No mesmo sentido, quando observamos a relação Preço/Lucro da


companhia, vemos que ela está em 393,69 vezes o P/L, o que a coloca
como a varejista com o maior múltiplo do mercado brasileiro – e até
mesmo muito acima do múltiplo de 126 vezes a que a Amazon, uma player
global com expertise e vantagens competitivas incomparáveis, é negociada.

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Contudo, é importante mencionar que o indicador analisado considera o
lucro da companhia nos últimos 12 meses, de modo que impactos no lucro
– como os ocorridos na pandemia – também impactarão o indicador P/L.

Fonte: Suno Research

Basicamente, pelo sucesso de seu turnaround e o ganho de expertise da


gestão no segmento de vendas online, além da gestão de plataformas e-
commerce, junto do sucesso de inúmeras medidas de reestruturação e
otimização da parte operacional e administrativa da empresa, que
trouxeram como resultado uma multiplicação muito relevante dos lucros, o
mercado decidiu pagar um prêmio muito elevado por MGLU3, que não nos
deixa confortáveis para recomendar a empresa.

Inúmeros são os exemplos de empresas que eram negociadas a múltiplos


muito elevados, com o mercado precificando um cenário extremamente
otimista e de forte crescimento e, quando este cenário não se confirmou,
as quedas das ações foram enormes.

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Alguns exemplos de empresas que passaram por um cenário parecido:
Hering, Natura, Cielo, Marisa, Le Lis Blanc e Lojas Americanas. É evidente
que a maioria dessas empresas não deixou de ser boa. Porém, como a
precificação e o valuation eram muito otimistas, assim que os resultados
não confirmaram as expectativas, as quedas foram expressivas.

Por conta desses fatores, preferimos não expor nossos clientes e leitores a
tamanho risco. Preferimos ser conservadores, ainda que o papel continue a
subir e os números da empresa sigam fortes.

É inegável que o desempenho do Magazine Luiza tem sido extremamente


forte nos últimos anos. Poucas são as empresas que conseguem executar
com tanto sucesso um processo de turnaround e reajustes operacionais,
permitindo à empresa multiplicar seus lucros em quase sete vezes nos
últimos seis anos.

Temos convicção de que o time de gestão do Magazine Luiza seguirá


atuando com qualidade, ganhando cada vez mais espaço no mercado e
entregando resultados crescentes aos acionistas.

Nesse sentido, a companhia vem se destacando com seu e-commerce,


apresentando crescimento exponencial. Ademais, ela consegue financiar
sua expansão com o próprio caixa gerado nas operações.

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No entanto, em nossa avaliação, o seu valuation está caro, com uma
relação P/L de 393 vezes e uma relação Preço/Valor Patrimonial de 19,56
para um ROE de 4,96%.

Além disso, existem riscos relevantes envolvidos, uma vez que esses
múltiplos precificam um cenário de extremo otimismo, no qual tudo ocorra
perfeitamente, algo que não podemos afirmar se, de fato, ocorrerá.

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