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Faculdade de Gestão de Turismo e Informática

Departamento do curso de Direito

Direito dos Registos e Notariado – 4º Ano 2020

FORMA DOS ACTOS DO REGISTO E DO NOTARIADO

A actividade notarial enquanto função é especialmente destinada a dar forma legal aos actos,
conferindo-lhes, fé pública.

Acto notarial é a formalização pelo notário de um acto jurídico estipulado pelas partes. O acto
jurídico, é um instituto jurídico expresso no artigo 295º do Código Civil.
Todo acto jurídico tem um conteúdo e uma forma, sendo, pois, substancial e formal. A
substância do acto jurídico é o seu corpo, a vestimenta do acto jurídico é a sua forma.
O acto notarial, nos casos que a lei exige ou as partes estipulam sua formalização por escritura
pública, nada mais é do que a vestimenta do acto jurídico.

Formalismo dos Actos Notariais

Os actos notariais são escritos em língua oficial, devendo ser redigidos com a necessária
correcção, em termos claros e precisos. A sua terminologia será aquela que, em linguagem
jurídica, melhor traduza a vontade das partes, expressa nas suas instruções, devendo, porém,
evitar-se a inserção nos documentos de tudo o que seja supérfluo. 1

O documento escrito em língua estrangeira deve ser acompanhado da tradução correspondente, a


qual pode ser feita por notário moçambicano, pelo consulado moçambicano no país onde o
documento foi passado, pelo consulado desse país em Moçambique, ou ainda por tradutor idóneo
que, sob juramento ou compromisso de honra, afirme, perante o notário, ser fiel a tradução.

1
Art. 48o CN
Os documentos passados no estrangeiro, em conformidade com a lei local, são admitidos para
instruir actos notariais, independentemente de prévia legalização. Se, porém, houver fundadas
dúvidas acerca da autencidade do documento apresentado, pode ser exigida a sua legalização,
nos termos da lei processual.2

Dentre várias formalidades comuns, o instrumento notarial deve conter:

a) A designação do dia, mês, ano e lugar em que for lavrado ou assinado;

b) O nome completo do funcionário que o lavrou, a menção da respectiva qualidade e a


designação da repartição a que pertence;

c) O nome completo, estado, naturalidade e residência habitual dos outorgantes, bem como das
pessoas singulares por estes representados, as denominações das pessoas colectivas e as
denominações ou firmas das sociedades que os outorgantes representem, com a indicação das
suas sedes;

d) O nome completo, estado e residência habitual das pessoas que devam intervir como
abonadores, intérpretes, peritos-médicos, testemunha e leitores.

No que tange aos requisitos gerais (art. 52º CN), se no acto intervier um substituto legal, no
impedimento ou falta do notário, indicar-se-á o motivo da substituição. O outorgante que não
saiba ou não possa assinar, deve apor a sua impressão digital.3

Relativamente aos outorgantes que não saibam ou não possam assinar, devem apor à margem do
instrumento, segundo a ordem por que nele foram mencionados, a impressão digital do indicador
da mão direita. E os que não puderem apor a impressão do indicador da mão direita, por motivo
de doença ou de defeito físico, aporão a do dedo que o notário determinar; junto à impressão
digital far-se-á menção do dedo a que corresponde.

Quando algum outorgante não puder apor nenhuma impressão digital, referir-se-á no instrumento
à existência e à causa da impossibilidade.

2
Art. 50o CN
3
Art. 52o no 5 CN
E, quando algum outorgante não compreenda a língua oficial, intervirá com ele um intérprete da
sua escolha, o qual transmitirá, verbalmente, a tradução do instrumento ao outorgante e a
declaração de vontade deste ao notário.

Se houver mais de um outorgante, e não for possível encontrar uma língua que todos
compreendam, intervirão os intérpretes que forem necessários. De frisar que a intervenção não é
necessária, se o notário dominar a língua dos outorgantes a ponto de lhes fazer a tradução verbal
do instrumento. 4

O outorgante que, por motivo de surdez, não poder ouvir a leitura do instrumento deve lê-lo em
voz alta; se não souber ou não puder ler, tem a faculdade de designar uma pessoa que, na
presença de todos os intervenientes, proceda à segunda leitura e lhe explique o seu conteúdo.

O mudo que souber e puder ler e escrever deve declarar por escrito, no próprio instrumento,
antes das assinaturas, que o leu e reconhecer conforme a sua vontade; se não souber ou não puder
escrever, deve manifestar a sua vontade por sinais que o notário e os demais intervenientes
compreendam; se nem isso for possível, intervirá no acto um intérprete. Para o mesmo, também é
aplicável no caso do outorgante ser surdo-mudo. Já pra o caso de outorgante cego, pode designar
uma pessoa que proceda à segunda leitura. 5

No entanto, não podem ser abonadores, interpretes, peritos, tradutores, leitores ou testemunhas:

a) Os que não estiverem em seu perfeito juízo;

b) Os que não entenderem a língua oficial;

c) Os menores não plenamente emancipados, os surdos, os mudos e os cegos;

d) Os funcionários e demais pessoal em serviço na repartição notarial;

e) O cônjuge, os parentes e afins, na linha recta ou em 2º grau na linha colateral, tanto do notário
que intervier no instrumento como de qualquer dos outorgantes, representantes ou representados;

f) O marido e a mulher, conjuntamente;

4
Art. 70o CN
5
Art. 71o CN
g) Os que por efeito do acto adquiram qualquer vantagem patrimonial.

Porém, não é permitida a intervenção de qualquer interveniente acidental em mais de uma


qualidade, salvo o disposto no número 5 do artigo 54º. Compete ao notário verificar a idoneidade
dos intervenientes.

O notário pode recusar a intervenção do abonador, interprete, períto, tradutor, leitor ou


testemunha que não considere digno de crédito, ainda que ele não esteja abrangido pelas
proibições acima.

Valor dos documentos6

O registo elaborado de acordo com as disposições dos Códigos tem valor pleno e constitui prova
suficiente da existência dos factos, o qual só pode ser contrariado por sentença transitada em
julgado, proferida em acções de estado ou de registo.

Os registos constituem ainda presunção da existência dos factos que deles constam
obrigactoriamente nos termos das disposições que regulam os requisitos gerais e os privativos de
cada espécie, presunção que pode ser contrariada pelos meios probatórios gerais, em qualquer
processo judicial em que tais factos sejam relevantes.

A sentença que em relação a um facto dos referidos acima julgue em contrario à menção que
consta no registo só tem valor de decisão definitiva para a situação a que respeita, devendo,
porém, ser enviada uma copia à repartição do registo civil competente, acompanhado de certidão
das provas tomadas em conta, a fim de o conservador do registo civil tomar as providencias
permitidas pelo código para rectificação oficiosa do registo, se for caso disso.

Os factos registados não podem ser impugnados em juízo, sem que seja pedido o cancelamento
ou a rectificação dos registos correspondentes.

A prova resultante do registo civil quanto aos factos que a ele estão obrigactoriamente sujeitos e
ao estado civil correspondente não pode ser ilidida por qualquer outra, a não ser nas acções de
Estado e nas acções de registo.

6
Art. 4o do Código de Registo Civil;
O instrumento público notarial é todo aquele elaborado pelo notário, investido na função de
acordo com a lei, preenchidos todos os requisitos legais, cujo objecto seja lícito, os agentes
capazes e a forma esteja prescrita em lei.

O documento notarial actual tem características de autenticidade, correição e exactidão,


oferecendo inclusive valor constitutivo em determinados actos e contractos, servindo como valor
de moeda que movimenta o tráfico jurídico e seu acesso aos registos públicos, outorgando-lhe
valor processual, seja por força executiva, seja por seu valor probatório. O documento público
possui todas essas garantias, graças à participação do notário, titular de uma fé pública,
reconhecida e preservada de acordo com o ordenamento jurídico existente.

Para a segurança de um documento público, faz-se necessária a intervenção notarial, produzindo-


lhe uma força probatória, fundada no cumprimento de determinadas formalidades documentais.
Na elaboração de um documento público, o notário age como órgão da administração pública
dos interesses privados, e esse é o critério fundamental para classificarmos um documento, ou
seja, o seu autor, não a pessoa que materialmente o escreve, mas sim o sujeito a quem poderemos
imputar a responsabilidade pelo documento, ou seja, o autor é que o caracteriza como
instrumento público.

Os fins fundamentais e essenciais do instrumento público são criar e dar forma aos negócios
jurídicos (quando a forma é necessária para a existência do acto); provar que ocorreu um facto ou
que haja nascido um negócio jurídico e, dar eficácia ao negócio jurídico ou ao facto que reflecte
o instrumento.

Desses fins principais do instrumento público, surgem outros, quais sejam: tornar executiva a
obrigação, substituir a tradição real e garantir contra terceiros interessados. A intervenção
notarial no instrumento público forma prova pré-constituída, para prevenir e estar em postura
favorável em caso de discussão futura.

A força probatoria dos documentos é a eficácia que o direito material ou processual atribui aos
documentos para que sejam probatórios de actos jurídicos, estrito senso, actos-factos jurídicos e
negócios jurídicos, ou de actos processuais. Importante se faz ressaltar que documento público é
conceito que abrange o de instrumento público e o de documento público, stricto sensu.
O instrumento público é a composição redigida em linguagem escrita, por oficial público, no
exercício e de acordo com as atribuições próprias é todo aquele elaborado pelo notário, investido
na função de acordo com a lei, preenchidos todos os requisitos legais, cujo objecto seja lícito, os
agentes capazes e a forma esteja prescrita em lei, com o fito de preservar e provar facto, acto ou
negócio jurídico em virtude de cuja existência foi confeccionado e em virtude de cuja validade é
necessária sua confecção; já, documentos públicos são escritos elaborados por oficial público
sem o fito de servir de prova, mas podendo, eventualmente, assim ser utilizados.

O instrumento público porta pôr fé tudo aquilo que nele se encontre narrado, tanto as declarações
dos notários como aquelas que provêm das partes, posto que o instrumento é uma relação fiel e
exacta de um facto, ou melhor, de uma sucessão de factos acontecidos perante o notário, em um
só acto.

O carácter da prova pré-constituída, que reveste o documento público, tem sido destacado
tradicionalmente e considerado pela doutrina como fundamental para caracterizar a prova.

Se o que prova o instrumento público é um negócio jurídico, é preciso admitir-se que sua
eficácia probatória não se limita aos factos tangíveis, acontecidos perante o notário, mas sim que
alcança um facto jurídico abstracto ou intangível, qual seja, a constituição, modificação ou
extinção de uma relação jurídica e, consequentemente, as declarações das partes enquanto
elemento essencial de tal negócio.

Fé Pública

Um dos princípios que rege a actividade notarial e registral é a fé pública. A fé pública é


atribuída constitucionalmente ao notário e conservador , que atuam como representantes do
Estado na sua actividade profissional. Atribuída por lei, a fé pública é uma forma de declarar que
um acto ou documento está conforme os padrões legais, permitindo que as partes tenham
segurança quanto a sua validade, até prova em contrário.

A fé pública afirma a certeza e a verdade dos assentamentos que o notário e oficial de registo
pratiquem e das certidões que expeçam nessa condição, (publicidade, autenticidade, segurança e
eficácia dos actos jurídicos). Ela constitui um dos princípios basilares do direito notarial. Para
JOÃO TEODORO DA SILVA in Serventias Judiciais e Extrajudiciais, Belo Horizonte, Serjus,
1999, p.17, a fé pública "afirma a certeza e a verdade dos assentamentos que o notário e oficial
de registo pratiquem e das certidões que expeçam nessa condição, com as qualidades referidas. O
princípio da fé pública não só garante a legalidade de uma relação jurídica como também dá
validade e segurança a esta relação prevenindo o conflito e a litigiosidade.

Todo documento produzido com ou sob a chancela do notário e ou conservador detém a


presunção legal de veracidade e mesmo que não tendo sido confeccionado para o fim de servir de
prova processual, na hipótese de ser assim utilizado ele servirá como importante instrumento no
processo judicial, tanto assim, a legislação civil e processual não se furtou em mencionar sobre
tal facto, já que a força e a eficácia probatória dos documentos probatórios de actos jurídicos,
estrito senso, actos-factos jurídicos e negócios jurídicos ou de actos processuais é matéria de
competência do direito material ou processual.

Se a prova documental é tida por relevante, dado o seu grau de convencimento e porque muitas
vezes vai de encontro à realidade, maior destaque ela terá se tiver sido produzida com o “plus”
da fé pública. Entretanto, importa ressaltar, a presunção atribuída aos documentos
confeccionados com ou sob a chancela do notário e ou conservador possui presunção júris
tantum, admitindo-se prova em contrário, fazendo, portanto, prova plena, bastante e suficiente
enquanto não reconhecidos falsos por decisão judicial transitada em julgado.

Emolumentos7

Pelos actos praticados nos serviços de registo predial são cobrados os emolumentos e taxas
constantes da respectiva tabela, salvo os casos de gratuidade ou isenção previstos na lei.

O assento declarado dentro dos 120 dias imediatos é gratuito.

7
Consultar o Diploma Ministerial no 2/2016 de 6 de Janeiro

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