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Proposta de resolução1

GRUPO I

Questão 1..................................................................................................................................................................................10 pontos

Comentário
Continuamos a considerar que, na maioria dos casos, deve ser perfeitamente possível responder a este tipo de
questões prescindindo da informação fornecida pelos documentos. Todavia, no que diz respeito a esta, em particular,
pelo menos o título do documento, que informa sobre o conteúdo da gravura, auxilia na seleção da opção correta.
Ora, o referido título informa-nos que a gravura reproduz a destruição de imagens sagradas numa igreja de Nu-
remberga. E, relativamente à recusa pelos Protestantes dos dogmas e rituais católicos, há uma opção que faz referên-
cia ao culto da Virgem e dos santos representados em imagens. Portanto, parece não haver dúvidas de que a opção B
é a correta.
Porém, já houve casos em que a opção que parecia imediatamente óbvia induziu em erro. Alertamos para se des-
confiar sempre quando a esmola é muito grande. Pode haver alguma ratoeira escondida... Não é o caso desta questão,
se prestarmos atenção ao conteúdo das restantes opções. A fé e predestinação divina, referidas na opção A, eram um
dos dogmas do protestantismo; os conteúdos das opções C e D podem ser rejeitados pelos Protestantes, mas é óbvio
que nada disso é conteúdo da imagem.
Portanto, a opção B é mesmo a correta.

Resposta: Opção B

Questão 2..................................................................................................................................................................................10 pontos

Comentário
Para responder a esta questão, já não devia ser necessário recorrer à informação de qualquer dos documentos.
Não consideramos de grande dificuldade saber que o objetivo de qualquer tribunal é sentenciar, condenando ou ab-
solvendo, quem está a ser julgado. Ora, entre todas as opções propostas, o objetivo do Tribunal da Inquisição só pode
ser o de sentenciar a condenação dos culpados de heresia. E, se dúvidas houvesse, a confirmação encontrar-se-ia no
documento 2, que informa sobre a condenação pelo Tribunal da Inquisição de um tal Jorge Manuel por ser «herege
pertinaz e impenitente». Acresce que os conteúdos das restantes opções nada têm que ver com os objetivos de um tri-
bunal, seja ele qual for. Portanto, a opção correta só pode ser a D.

Resposta: Opção D

Questão 3..................................................................................................................................................................................10 pontos

Comentário
Para responder a esta questão, já é imprescindível recorrer ao documento 2, para confirmarmos quem foram os
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principais visados pela ação do Tribunal da Inquisição, em Portugal. Ora, o documento informa-nos que Jorge Manuel
era um cristão-novo que persistiu em práticas religiosas segundo a «Lei de Moisés», ou seja, continuou a judaizar ocul-
tamente. Também porque os comportamentos referidos nas restantes opções não são tidos em conta em nenhuma
linha do documento 2, a opção correta só pode ser a A.

Resposta: Opção A

1
  Relativamente às questões de construção, apresentamos apenas os tópicos de resposta propostos pelo IAVE.
 Relativamente às questões de seleção, o IAVE limita-se a apresentar as respostas corretas.
  Para um esclarecimento mais completo, deve consultar http://www.iave.pt/images/arquivo_de_provas/2019/EFN_623_HistA/2F/
EX-HistA623-F2-2019-CC-VD_net.pdf 1
Propostas de resolução Propostas de resolução

GRUPO II carácter universal e que honras e mercês deixaram de ser características na nova sociedade, a opção correta só pode
ser a B, e isso devia ser considerado sem grande esforço.
Questão 1..................................................................................................................................................................................15 pontos
Resposta: Opção B
Tópicos de resposta:
• existência de uma estrutura social fortemente hierarquizada (OU uma rígida estratificação social), com gru- Questão 3..................................................................................................................................................................................15 pontos

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pos privilegiados, em que prevalecia o «interesse particular de alguns» OU «interesses de alguns»;
Tópicos de resposta:
• estatuto privilegiado da nobreza, cuja posição social era determinada pelo nascimento, sendo os nobres
• construir um regime liberal assente numa monarquia constitucional («Viva El-Rei constitucional!») OU im-
caracterizados por «lisonjeiros», «malvados, ignorantes e egoístas»;
posição ao rei de uma Constituição («um rei [...] sujeito às leis»);
• incompetência da nobreza ligada a cargos superiores na administração do Estado OU na corte, como con-
• elaborar uma Constituição que assegure a separação de poderes OU os direitos e obrigações dos cidadãos:
selheiros do rei: os «cortesãos ignorantes e desmoralizados»;
«Um Código simples, acomodado aos nossos desejos e necessidades, fixará os direitos e obrigações dos ci-
• afirmação do clero como ordem privilegiada e intermediária entre as outras ordens sociais e Deus, e que
dadãos» OU «Tu formarás, pois, a nossa Constituição, que regule os direitos do Rei e da Nação» OU «Viva a
recorria a «tantas superstições [...] inventadas para fascinar os espíritos fracos e enganar o povo sincero»;
Constituição que fizerem as Cortes!»;
• controlo social e das mentalidades exercido pelo clero através do Tribunal da Inquisição, com recurso a
• implementar o princípio da soberania da nação, ao qual o rei se deve submeter: «Tu formarás, pois, a nossa
«fogueiras acendidas e torturas executadas em nome de Jesus Cristo»;
Constituição, que regule os direitos do Rei e da Nação»;
• concentração da propriedade nas ordens sociais privilegiadas OU elevadas exações senhoriais impostas
• implementar o princípio da igualdade jurídica, expressa, por exemplo, na universalidade e proporcionali-
aos camponeses, colocando entraves excessivos à produção agrícola: «O número dos proprietários se mul-
dade dos impostos: «Uma contribuição geral, proporcionada ao rendimento de cada cidadão, cobrada por
tiplicará: o lavrador gozará do fruto do seu trabalho»;
um método simples, distribuída sem fraude, chegará para custear os gastos públicos»;
• sobrecarga de impostos e taxas que recaía sobre o povo (OU Terceiro Estado), impedindo-o de gozar «do
• governar para o progresso e o bem comum, em detrimento das prerrogativas dos grupos privilegiados:
fruto do seu trabalho».
«uma só família que coopere de comum acordo para a felicidade geral» OU «Abençoai os esforços dos ver-
Comentário dadeiros Portugueses que preferem o bem geral da Pátria ao interesse particular de alguns»;
Apesar de apenas ser pedido para apresentar informação, consideramos existir alguma dificuldade em responder • reduzir o poder do clero, nomeadamente através da extinção da Inquisição («Não se verão mais fogueiras
a esta questão. É que a visão crítica do autor sobre a estrutura social do Antigo Regime não é apresentada de forma acendidas e torturas executadas em nome de Jesus Cristo»), mantendo o catolicismo como religião oficial:
explícita. Ele apenas se congratula com a mudança proporcionada, na sociedade portuguesa, pela revolução liberal «A religião de nossos pais será mantida»;
de 1820. Por conseguinte, é a partir das suas considerações sobre as novidades que temos de inferir as características, • implementar a instrução pública, com a instituição da liberdade de ensino: «A educação pública tornará a
por ele censuradas, da sociedade portuguesa pré-1820. mocidade virtuosa»;
Na nossa proposta de resposta, vamos considerar a rigidez da estratificação social e a existência de ordens privile- • produzir legislação que liberte os camponeses dos vínculos e prestações senhoriais, que constituem obstá-
giadas e não privilegiadas, sem esquecer a exigida fundamentação com excertos relevantes do documento. culos ao seu progresso social e económico: «o número dos proprietários se multiplicará: o lavrador gozará
E continuamos a insistir no dever de recorrermos a dois parágrafos para a resposta ficar clara. do fruto do seu trabalho».
Uma proposta de resolução Comentário
Quando o autor se congratula com o facto de as Cortes instituídas com a Revolução de 1820 serem uma «au- Uma vez que esta questão pede para explicitar informação, parece oferecer maior dificuldade na elaboração da
gusta representação nacional» que estreitará «a união recíproca entre a Nação e o seu rei», fazendo de ambos resposta, se comparada com a questão 1, que pede apenas para a apresentar.
«uma só família», está a considerar a sociedade do Antigo Regime desunida, porquanto organizada em estratos Ora, tal não acontece porque, desta vez, os conteúdos solicitados estão claramente referidos no documento que
com estatutos jurídicos próprios e reconhecidos pelo Direito. De um lado, o clero e a nobreza, privilegiados pelo suporta a questão. Basta selecionar aqueles a que vamos fazer referência e explicitá-los em dois parágrafos.
nascimento ou pelo ingresso na função religiosa, do outro, o povo, o grupo dos trabalhadores braçais, uma Aqui, iremos considerar a passagem da monarquia absoluta para a monarquia constitucional e a instituição da
ordem não privilegiada que constituía a base de todo o edifício social. igualdade jurídica de todos os cidadãos, aproveitando alguma da informação que apresentámos na resposta à
Entre os privilégios da nobreza e do clero que o autor critica, constava a isenção de obrigações que, por seu questão 1.
lado, sobrecarregavam os estratos populares. É a essa injustiça que Borges Carneiro faz referência quando
se congratula pela existência de igualdade jurídica, no que concerne às obrigações fiscais, instituída por um Uma proposta de resolução
«Código simples» que fixará a «contribuição geral, proporcionada ao rendimento de cada cidadão, cobrada por Um dos objetivos que presidiram a todas as revoluções liberais que, em cadeia, foram ocorrendo por quase
um método simples, distribuída sem fraude». Considera o autor que as isenções fiscais de que beneficiavam o toda a Europa foi a substituição das monarquias absolutas por monarquias constitucionais. Borges Carneiro con-
clero e a nobreza acabam em Portugal com a revolução liberal de 1820 e dão lugar à obrigatoriedade de todos gratula-se com esse facto, ao considerar que, também em Portugal, as Cortes, enquanto «augusta representação
custearem os gastos públicos. nacional», elaborarão uma Constituição «que regule os direitos do Rei e da Nação». Quer ele dizer que, a partir de
1820, o rei passou a exercer o poder no respeito por leis acordadas com a nação representada em assembleias de
Questão 2..................................................................................................................................................................................10 pontos deputados eleitos, que, em Portugal, se designavam por Cortes.
Um dos princípios instituídos pela Constituição foi a igualdade jurídica de todos os cidadãos perante a lei.
Comentário
Refere-o o autor quando se congratula pelo facto de o «bem geral da Pátria» passar a prevalecer sobre «os inte-
Para responder a esta questão, há necessidade de recorrer à informação do documento apenas para enquadrar a
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resses de alguns». Está claramente a fazer referência ao desafio a que se propuseram os revolucionários liberais
referência ao «Código simples» e inferir de que código se trata. O que é importante é saber que se trata da Constituição
de pôr fim à velha e caduca sociedade de ordens, assente na desigualdade e na hierarquização social associada à
liberal de 1822, que, por acaso, até é referida na linha 7.
condição de nascimento ou de ingresso na vida religiosa, e de instituir o nivelamento social e político, presente,
Em posse deste conhecimento, bem como dos princípios liberais triunfantes com a Revolução de 1820, não pode
por exemplo, na universalidade e proporcionalidade da tributação fiscal, a que o autor também faz referência.
2 haver qualquer dificuldade em excluir a opção A. Considerando que a participação política ainda não assumiu um 3
Propostas de resolução Propostas de resolução

GRUPO III Questão 4..................................................................................................................................................................................15 pontos

Tópicos de resposta:
Questão 1..................................................................................................................................................................................10 pontos • exaltação nacionalista (OU nacionalismo), através da afirmação do orgulho coletivo OU afirmação da nação
Comentário como um todo orgânico, cujos interesses se sobrepõem aos interesses individuais: «utilização dos valores
Esta questão de ordenação cronológica de acontecimentos mantém a alteração introduzida na prova da 1.ª fase: nacionais para o bem comum» OU «política nacional simplesmente» OU «Tudo pela Nação, nada contra a

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a substituição da referência em formato de texto para o formato de imagem e a redução de cinco para quatro. Nação»;
Só que, desta vez, apesar de serem apenas quatro os acontecimentos a ordenar, a resposta de modo algum • antipartidarismo OU defesa de um partido único OU repúdio do liberalismo OU antiparlamentarismo,
pode ser considerada mais fácil. É que os acontecimentos aludidos nas imagens ocorreram num espaço cronoló- sendo os partidos entendidos como elemento desagregador da unidade nacional: «a forma partidária,
gico muito limitado, concretamente, num espaço de onze anos. É, pois, necessário possuir conhecimentos muito ri- faliu» OU «O espírito de partido corrompe ou desvirtua o poder» (OU «sobrepõe-se ao interesse nacional»)
gorosos sobre os factos em causa para não incorrer em qualquer erro, que nos levaria a perder os 10 pontos da co- OU «pretensão de curar o partidarismo doentio que degradava a sociedade portuguesa»;
tação prevista. • autoritarismo OU defesa de um Estado forte e autoritário, obrigando à submissão dos interesses individuais
Consideramos o avanço vitorioso de Costa Gomes sobre Lisboa, em 28 de maio de 1926, o acontecimento mais ao interesse geral: «a associação para a política partidária, as reuniões para a política partidária, a imprensa
fácil para localizar na respetiva data. Também é obrigatório saber que Salazar só chega ao Governo depois deste para a política partidária sofrem limitações» OU «Trata-se em verdade de um “regime de cura” e de legítima
acontecimento (declinou o exercício do cargo ainda em 1926 e aceitou-o em 1928). O problema está entre a chegada defesa, em grau que não pode ser considerado superior às necessidades»;
ao poder de Hitler e de Mussolini, não tanto entre eles, mas mais na relação com o tempo dos políticos portugueses, já • associativismo subordinado ao Estado (OU corporativismo) com o objetivo de reforçar a unidade nacional
que deve ser sabido que Hitler chega ao poder depois de Mussolini. Mas também devemos saber que Hitler é posterior OU ultrapassar os conflitos e os interesses individuais, permitindo «que a vida associativa tenha multipli-
a Costa Gomes. E mais: não devia ser difícil saber que Hitler é figura política dos anos 30 (foi nomeado chanceler em cado e intensificado».
janeiro de 1933). Só já nos falta localizar Mussolini. Antes de 1926? Talvez uma reflexão cuidada sobre o fascismo ita-
Comentário
liano nos leve a concluir que Mussolini apareceu na vida política, na Itália, nos inícios dos conturbados anos 20 (a
Quem conhece a ideologia do Estado Novo não pode sentir qualquer dificuldade na resolução desta questão.
marcha sobre Roma foi em 1922).
Acresce que o documento, a que é obrigatório recorrer para fundamentar a resposta, contém implícitos os princípios
É verdade que já temos a ordenação correta, mas também é verdade que é necessário ter bons conhecimentos
solicitados, não sendo necessário ir além dos três primeiros parágrafos.
para a conseguir. Não é mesmo nada fácil a resolução desta questão!
Na nossa resposta, vamos considerar o carácter nacionalista e antiparlamentar do regime.
Resposta: A ordem correta é: B; D; C; A.
Uma proposta de resolução
Questão 2..................................................................................................................................................................................10 pontos A união de todos os portugueses no engrandecimento da pátria era uma das grandes preocupações políticas
do Estado Novo. Este sentimento está claramente presente no discurso de Salazar, quando afirma aquele que
Comentário seria um dos princípios norteadores do regime: “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”. A Nação era afirmada
Depois do grande trabalho a que tivemos de recorrer para resolver a questão anterior, temos agora uma questão como um bem supremo, qual unidade orgânica que nenhuma expressão de liberdade individual poderia pôr em
em que podemos obter descansadamente os 10 pontos com que é cotada. causa. Por isso, os direitos individuais tinham de ser submetidos ao interesse do Estado. É o que considera Salazar
Os líderes políticos defendiam todos um Estado anticomunista, mas jamais liberal, logo opção A está excluída. quando advoga, no seu discurso, a «utilização dos valores nacionais para o bem comum».
Defendiam um Estado simultaneamente autárcico e protecionista? Sim, logo a opção B é a correta. Também defen- Esta rejeição das liberdades individuais tinha de levar, inevitavelmente, à rejeição do sistema parlamentar e plu-
diam um Estado imperialista, mas nunca socialista, tal como defendiam um Estado corporativo, mas não parla- ripartidário, considerado como manifestação de fraqueza do poder. Para Salazar, «o espírito de partido corrompe ou
mentar. desvirtua o poder, […] sobrepõe-se ao interesse nacional». Por outras palavras, para os ideólogos do Estado Novo, o
Portanto, a opção B é mesmo a correta. pluripartidarismo apenas gerava divisões e discussões inúteis que punham em causa a coesão e a força da Nação.
Resposta: Opção B
Questão 5 .................................................................................................................................................................................15 pontos
Questão 3 .................................................................................................................................................................................10 pontos Tópicos de resposta:
Comentário • [Liberdade política] – enquanto no documento 2 – perspetiva de Salazar – se recusa um modelo governa-
Esta é a habitual questão de resposta muito simples, bastando dizer o nome, como é pedido, sem ter de recorrer a tivo assente no pluripartidarismo e no parlamentarismo («a forma partidária faliu» OU «o partidarismo
qualquer explicação, a que, por acaso, até se presta. Consideramos que são 10 pontos muito fáceis de conseguir, pois doentio» OU «O espírito de partido […] sobrepõe-se ao interesse nacional»), justificado com o superior in-
qualquer aluno deve saber, mesmo dispensando a ajuda do documento, que Oliveira Salazar está a referir-se ao golpe teresse da Nação («vinte anos de política sem partidos, de política nacional simplesmente»), no documento
militar de 28 de maio de 1926, que pôs fim ao parlamentarismo da Primeira República. 3 – perspetiva do MUD – critica-se a ausência de liberdade política, devido ao regime de «partido único
Resposta (União Nacional)», sendo este somente um «instrumento político do Governo» (OU «a atividades política
O acontecimento a que Salazar faz referência é o golpe militar de 28 de maio de 1926. fora do partido governamental é considerada uma ”traição” e um delito»);
• [Liberdade de expressão] – enquanto no documento 2 se defende como imperativa a limitação da liber-
dade de expressão, nomeadamente de imprensa, como forma de conter o carácter nefasto da crítica polí-
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tica («a imprensa para a política partidária [sofre] limitações»), no documento 3 critica-se a ausência de li-
berdade de expressão, já que o Governo assumiu o seu carácter antidemocrático através de mecanismos
de vigilância e repressão (censura OU polícia política), impondo uma «rigorosa censura à Imprensa» e a
«fiscalização das manifestações artísticas e culturais».
4 5
Propostas de resolução Propostas de resolução

• [Liberdade de associação] – enquanto no documento 2 se evidencia a corporativização da vida nacional, GRUPO IV

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através da regulação da liberdade de associação OU com a criação de organismos nos quais trabalhadores
e patrões se harmonizavam, tendo em vista o bem comum OU recusa da livre associação não enquadrada Questão 1 .................................................................................................................................................................................10 pontos
pelo Estado: «Simplesmente a associação para a política partidária, as reuniões para a política partidária, a
imprensa para a política partidária sofrem limitações» OU «Assim se compreende que a vida associativa se Comentário
Na resposta a este tipo de questão, basta dizer o nome, como é pedido, sem ter de recorrer a qualquer explicação.
tenha multiplicado e intensificado», no documento 3 critica-se a «proibição de reuniões» e o «não reconhe-
Consideramos que são mais 10 pontos muito fáceis de conseguir, pois qualquer aluno deve saber que a regulamenta-
cimento do direito de associação», nomeadamente sindical, e a existência de organizações instituídas pelo
ção das relações entre Portugal e as colónias aprovada em 1930 foi feita pela promulgação do Ato Colonial, um dos
regime para enquadrar as massas OU garantir o controlo e a vigilância da sociedade;
fundamentos institucionais do Estado Novo.
• [Liberdade individual] – enquanto no documento 2 se defende um regime que impõe a supremacia do
Estado sobre o indivíduo OU o bem nacional sobre os interesses individuais, argumentando-se com a «ex- Resposta
periência de mais de vinte anos de política sem partidos, de política nacional simplesmente» OU «utilização A lei que, em 1930, instituiu os princípios jurídicos que regulavam as relações entre Portugal e as colónias foi
dos valores nacionais para o bem comum», no documento 3 identificam-se os aparelhos repressivos do designada por Ato Colonial.
Estado, denunciando-se a «bem organizada e sufocante “ordem” policial» (OU «estrangulamento da inicia-
Questão 2..................................................................................................................................................................................15 pontos
tiva livre») OU a existência de organizações instituídas pelo regime para o enquadramento das massas (OU
para garantir o controlo da sociedade), pela vigilância e pela doutrinação: «polícia de “Defesa do Estado”, Tópicos de resposta:
milícia armada (Legião Portuguesa), organização paramilitar da juventude (Mocidade Portuguesa)».
Argumentos invocados pelo MAC que permitem demonstrar esse incumprimento
Comentário • a guerra colonial como expressão da persistência e continuidade do colonialismo português em África:
Esta é uma questão há muito presente nas provas de exame, em que é pedida a comparação (confrontação, dize- «o domínio português impôs-se pela conquista armada» (OU «anexação pela força») OU «os nossos povos
mos nós) de duas perspetivas, agora, sobre o conceito de liberdade durante o Estado Novo. De resto, como é normal, o nunca deram o seu prévio consentimento livre»;
antagonismo dos oradores sobre a matéria é tão evidente que este exercício continua a requerer apenas uma boa lei- • persistência da ideia de integridade do território português, evocada pelo Estado Novo, que considera as
tura, uma interpretação eficaz dos documentos e, claro, uma escorreita composição escrita. Aqui é que os conheci- colónias «como fazendo parte da “Nação” portuguesa»;
mentos adquiridos são inteiramente dispensáveis. Basta mesmo saber ler, interpretar e transcrever com correção, por- • manutenção do colonialismo português num contexto internacional de descolonização: «a política e a cul-
que continua a ser obrigatório integrar na resposta excertos dos documentos que fundamentem a nossa análise, o tura de Portugal são atrasadas»;
que também não é surpresa. • desrespeito pela Carta das Nações Unidas, que estabelece o princípio da autodeterminação dos povos:
Se este tipo de questão for bem exercitado durante o curso, os 15 pontos com que é cotada estão perfeitamente ao «que consagra o direito dos povos a disporem de si mesmos» OU «afirma como desejável a restauração dos
alcance e os alunos só terão de lamentar não valer melhor pontuação. direitos soberanos e do governo próprio para os povos que deles foram privados pela força».
Na nossa resposta, vamos considerar as referências à liberdade de associação política e à liberdade de expressão,
também iremos recorrer a informação já prestada nas respostas a questões anteriores. Argumentos que evidenciam a nova política do Estado Novo para os territórios coloniais
• revogação do Ato Colonial e estabelecimento de uma nova nomenclatura jurídica que assume as colónias
Uma proposta de resolução
como províncias ultramarinas: «os colonialistas portugueses deram às suas colónias o nome de “províncias
Entre os vários pontos de discórdia presentes nos dois documentos, podemos considerar a opinião dos respe-
ultramarinas” e passaram a considerá-las como parte de Portugal»;
tivos autores sobre a liberdade de associação política e sobre a liberdade de expressão.
• defesa do conceito de integridade do território nacional, considerando as províncias ultramarinas «como
Assim, no que diz respeito à liberdade de associação política, no documento 2, Salazar defende um regime de
fazendo parte da “Nação” portuguesa» OU «parte de Portugal» (OU defesa da «unidade nacional»).
partido único, negando aos cidadãos a liberdade de associação e de opção político-partidária, por considerar
que «o espírito de partido corrompe ou desvirtua o poder, […] sobrepõe-se ao interesse nacional» e põe em Comentário
causa a coesão do Estado. Por sua vez, no documento 3, as Comissões Central e Distritais do MUD criticam a au- Estamos perante uma questão cuja resposta, à partida, se poderia considerar trabalhosa, mas que não pode ofere-
sência de liberdade de opção política e condenam a imposição de um regime de partido único em que «toda a cer grande dificuldade. E, vendo bem, nem trabalhosa é, tal é a clareza com que os argumentos solicitados estão ex-
atividade política fora do partido governamental é considerada uma “traição” e um delito» passíveis de severa pressos no documento. Com efeito, pouco mais é necessário do que fazer uma seleção rigorosa da informação rele-
condenação pelas instituições repressivas do regime. vante e uma correta transcrição dos excertos a que recorremos para fundamentar a nossa resposta. De resto, já
No que concerne à liberdade de expressão, no documento 2, Salazar considera como legítima e até impera- sabemos, ela tem de estar explícita no conteúdo do documento em análise. Não pressupõe, por conseguinte, a neces-
tiva a sua limitação. Referindo-se, concretamente, à expressão escrita, considera que urge combater o carácter sidade de recorrer a muitos conhecimentos adquiridos.
nefasto da crítica política como forma de «curar o partidarismo doentio que degradava a sociedade portuguesa». Na nossa resposta, vamos considerar o recurso à luta armada e o artifício jurídico a que o Governo recorreu para
Já os militantes do MUD, no documento 3, criticam o que consideram ser a total ausência de liberdade de expres- justificar a unidade territorial de Portugal.
são patente numa «rigorosa censura à imprensa, fiscalização das manifestações artísticas e culturais», porquanto A resposta deve ser organizada em dois parágrafos, um para cada um dos argumentos solicitados.
está na origem da «manutenção no país dum baixíssimo nível cultural, estrangulamento da livre iniciativa» e
Resposta
consequente «orientação apologética da produção intelectual e artística».
Para o Movimento Anticolonialista (MAC), o Governo português não cumpriu as suas obrigações perante a
ONU e o Direito Internacional, quanto à questão colonial, porque recusou a via diplomática exigida por aquelas
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instituições e optou por se impor «pela luta armada». Considera o MAC que, desta forma, Portugal «procedeu a
uma anexação pela força» e que esta forma de domínio «está proibida pelo Direito Internacional».
Para o MAC, o Estado Novo adotou uma nova política para os territórios coloniais ao revogar o Ato Colonial e
6 ao integrar o estatuto das colónias por ele abrangido na Constituição, aquando da sua revisão, em 1951. 7
Propostas de resolução Propostas de resolução

Entretanto, o Estado Novo, ainda como denuncia o MAC, de forma «unilateral» e «em manifesta oposição ao prin- • Regularidade da assistência a Timor-Leste até 2010, em cerca de 10 a 15% ao ano do total da ajuda pública

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cípio de autodeterminação dos povos, estabelecido na Carta das Nações Unidas» de que era signatário, substi- prestada a diversos países.
tuiu o conceito de colónia pelo conceito de província ultramarina, pretendendo fazer ver à comunidade interna-
Comentário
cional que Portugal era uma unidade territorial que se estendia do Minho a Timor.
Esta questão pode provocar alguma dificuldade na resposta, por exigir que um dos aspetos a referir deva ser sus-
tentado pelo conteúdo do documento 3. Ora, este documento é um gráfico que consideramos de leitura algo difícil e
Questão 3..................................................................................................................................................................................10 pontos ainda mais num momento da prova em que os alunos já devem estar a olhar para o relógio. É altura de dizer que resol-
Comentário ver esta prova, com a necessidade de ler e de interpretar tantos documentos e de apresentar respostas com a quali-
Consideramos que este tipo de questão de associação continua a manter um nível de 9.º ano. Com efeito, para dade necessária para obter uma boa classificação, em 150 minutos, é obra!
alunos do 12.º ano exigia-se algo mais complexo, como, por exemplo a associação de ideias. Um aluno, no final do Também consideramos importante referir que é a primeira vez que, nos exames do 12.º ano, a muito complicada
3.º ciclo do ensino básico, tem obrigação de conhecer as personagens referidas na coluna B, bem como a sua impor- questão da independência de Timor é objeto de avaliação. Já era tempo!
tância na liderança dos movimentos de descolonização. Relativamente à resposta, vamos considerar, no documento 2, o estabelecimento da UNTAET e, no documento 3, o
Ainda assim, consideramos que Eduardo Mondlane poderia oferecer alguma dificuldade na sua identificação. Ele apoio do Governo português à reconstrução do novo país.
foi, de facto, o fundador e primeiro presidente da FRELIMO, mas o seu assassinato, em inícios de 1969, transferiu para Uma proposta de resolução
Samora Machel o protagonismo na liderança deste movimento na luta pela independência de Moçambique. Todavia, Perante a destruição, «em todos os domínios», do território timorense por ação das milícias indonésias, des-
esta dificuldade dissipa-se porque não pode haver qualquer dúvida na identificação dos outros quatro líderes inde- crita por Sérgio Vieira de Melo, no documento 1, na sequência do referendo realizado em 30 de agosto de 1999,
pendentistas referidos. maciçamente favorável à independência, resultou a necessidade de dar início à reconstrução do país «literal-
Assim, é obrigatório saber que Amílcar Cabral está ligado à independência da Guiné e de Cabo Verde como funda- mente do zero». É neste contexto que as Nações Unidas estabelecem a UNTAET (uma instituição para a Adminis-
dor e líder do PAIGC; que Agostinho Neto está associado à independência de Angola como fundador e líder do MPLA; tração Transitória de Timor-Leste), com responsabilidades a todos os níveis, entre os quais destacamos o apoio
que Xanana Gusmão foi o carismático combatente da resistência timorense à ocupação do território pela Indonésia, dado à «criação de capacidades de governo próprio e de condições para o desenvolvimento sustentável».
como líder da FRETILIN; que Jonas Savimbi também está ligado à independência de Angola como líder da UNITA. Por- Já no documento 3, é claramente visível o aumento significativo, entre 2001 e 2002, da assistência portu-
tanto, resta Eduardo Mondlane, que só pode estar associado à independência de Moçambique. guesa a Timor-Leste no âmbito da APAD (Ajuda Pública ao Desenvolvimento). Era, na altura, grande a preocupa-
Diga-se que nem eram necessárias tantas referências biográficas na coluna A para fazer uma associação correta. ção do Governo português em apoiar a reconstrução do país, num tempo em que a administração do território
Resposta começava a ser entregue a autoridades locais, em resultado de eleições democráticas, e se preparava a declara-
A associação correta é: a – 2; b – 4; c – 1. ção de independência, que viria a ocorrer em maio de 2002.

Questão 5 .................................................................................................................................................................................20 pontos


Questão 4..................................................................................................................................................................................15 pontos
Tópicos de resposta:
Tópicos de resposta:
Parâmetro A – Identificação e explicação
[Intervenção da ONU em Timor-Leste – documento 2]
• mediação da ONU no processo de negociações diretas entre Portugal e a Indonésia com vista à resolução 1.º Tópico de orientação
do problema timorense OU à aprovação da realização de um referendo: «voto maciço a favor da indepen- Pressão internacional face à política colonial portuguesa
dência, em 30 de agosto de 1999»; Na resposta, podem ser explorados os elementos seguintes:
• vitória da causa independentista de Timor-Leste no referendo promovido pela ONU (OU UNAMET): «Na se- • reafirmação de Portugal como um país pluricontinental, constituído pela Metrópole e pelas Províncias Ul-
quência da violência avassaladora despoletada pelo voto maciço a favor da independência, em 30 de tramarinas, na sequência da revisão constitucional OU da revogação do Ato Colonial;
agosto de 1999, o povo de Timor-Leste viu a sua pátria completamente arruinada»; • reivindicação do direito à independência por parte dos movimentos de libertação dos povos das colónias
• estabelecimento da UNTAET (OU administração transitória) em Timor-Leste, com responsabilidades ao africanas;
nível governativo para «apoio à formação de capacidades para um governo autónomo» OU com «respon- • condenação da política colonial portuguesa pela ONU, devido ao desrespeito pelos princípios da Carta das
sabilidade pela segurança, lei e ordem, estabelecimento de uma administração eficaz» OU «As Nações Uni- Nações Unidas OU da Resolução 1514, que defendiam o princípio da autodeterminação dos povos;
das responderam estabelecendo a Administração Transitória das Nações Unidas em Timor-Leste (UNTAET), • recurso à luta armada, protagonizada em Angola, em Moçambique e na Guiné por movimentos indepen-
com um mandato de autoridade governamental sem precedentes na sua amplitude»; dentistas;
• reconhecimento da independência de Timor-Leste em 2002, resultante da ação da UNTAET, que «apoiava a • reforço do isolamento internacional de Portugal com o início da guerra colonial, em Angola, em 1961;
criação de capacidades de governo próprio e de condições para o desenvolvimento sustentável»; • pressão diplomática sobre Portugal, protagonizada pelas duas superpotências, EUA e URSS, no contexto da
• crise político-militar em Timor-Leste, em 2006, levando, mais uma vez, ao novo envio de uma missão de paz Guerra Fria;
da ONU, a UNMIT, que se prolongaria até 2012. • apoio da Santa Sé (OU do Papa OU da Igreja) aos movimentos de libertação das colónias portuguesas OU
[Intervenção de Portugal em Timor-Leste – documento 3] receção dos respetivos líderes pelo Papa Paulo VI, no âmbito da manutenção da guerra colonial no período
• Apoio português em paralelo com o processo de luta pela independência de Timor-Leste, visível no gráfico do marcelismo;
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sobretudo a partir de 1999; • agravamento do isolamento internacional de Portugal, com as persistentes condenações da política colo-
• Aumento significativo, entre 2001 e 2002, da assistência portuguesa a Timor-Leste promovida pela APAD, nial portuguesa na Assembleia Geral das Nações Unidas OU reconhecimento pela ONU da independência
no contexto da reconstrução do país após a independência do território; da Guiné-Bissau, proclamada de forma unilateral.
8 9
Propostas de resolução Propostas de resolução

2.º Tópico de orientação


– reafirmação de Portugal como um país pluricontinental, constituído por Metrópole e
Prioridades da política externa portuguesa em democracia Províncias Ultramarinas: «os colonialistas portugueses deram às suas colónias o nome de
”províncias ultramarinas”»;
Na resposta, podem ser explorados os elementos seguintes:
– manutenção do colonialismo português pela força das armas: «Na Guiné, Angola e
• alteração da política colonial com a Revolução de 25 de Abril, através do reconhecimento do direito dos

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Moçambique, o domínio português impôs-se pela conquista armada»;

Documento 1
povos das colónias à autodeterminação; 1.º
– consagração do princípio da autodeterminaçao dos povos pela ONU: «A Carta das
• estabelecimento de um calendário de negociações após o 25 de Abril para a independência das colónias Tópico de
Nações Unidas consagra o direito dos povos se disporem de si mesmos»;
africanas; orientação
– incumprimento, por parte de Portugal, dos princípios da Carta das Nações Unidas:
• opção pela integração na Comunidade Económica Europeia (1986) e participação ativa no processo de «O desrespeito do Governo português pelas normas do Direito Internacional e pelos
aprofundamento da integração económica, social e política da União Europeia; deveres que lhe impõe a Carta das Nações Unidas» OU «Trata-se de um ato unilateral em
• participação em organismos internacionais, com o envolvimento direto de Portugal em missões no âmbito manifesta oposição ao princípio de autodeterminação dos povos, estabelecido pela Carta
das questões transnacionais; das Nações Unidas».
• processo de abertura de negociações com a China para a transferência da soberania de Macau, concreti-
– envolvimento de Portugal nos esforços da UNTAET para a reconstrução de Timor-Leste:
zada em 1999;
«À UNTAET foi dada a responsabilidade pela segurança, lei e ordem, estabelecimento de
• estreitamento de relações diplomáticas entre Portugal e as suas ex-colónias, reforçando-se os laços históri-
uma administração eficaz, desenvolvimento dos serviços sociais, fornecimento de ajuda

Documento 2
cos e culturais OU concretização de uma política de cooperação, com vantagens mútuas, em diferentes
humanitária, apoio à formação de capacidades para um governo autónomo e assistência 2.º
domínios;
na criação de condições para o desenvolvimento sustentável»; Tópico de
• cooperação de Portugal com os PALOP e com Timor-Leste em diferentes áreas, nomeadamente no plano
– colaboração com as estruturas da ONU e com as forças políticas timorenses para a viabili- orientação
económico (OU na saúde OU na construção de infraestruturas OU na formação de recursos humanos); zação de um Estado independente: «estabelecer instituições de governo e de administra-
• criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (OU CPLP) para reforçar a cooperação entre os ção pública ao mesmo tempo que apoiava a criação de capacidades de governo próprio
Estados-membros e reforçar a lusofonia; e de condições para o desenvolvimento sustentável».
• envolvimento de Portugal no processo de independência de Timor-Leste, em articulação com a ONU;
– até 1998, a maioria da ajuda pública ao desenvolvimento era direcionada para os PALOP;
• reforço da diplomacia económica orientada para a captação de investimentos e para a diversificação de
– a partir de 1999, Timor-Leste torna-se o principal destinatário da ajuda bilateral portu-
mercados (exemplo: Golfo Pérsico OU China OU Angola);
guesa;

Documento 3
• afirmação do papel de Portugal como mediador entre a Europa e os espaços da lusofonia OU da Comuni-
– os PALOP e Timor-Leste como espaços de intervenção privilegiada na sequência de um
dade Ibero-Americana. 2.º
passado histórico comum;
Tópico de
– acompanhamento, por parte da APD, do processo gradual de independência de Timor-
Parâmetro B – Articulação temática e organização orientação
-Leste, em 1999 (massacre no Cemitério de Santa Cruz), 2002 (independência) e anos
A resposta evidencia a relação dos elementos apresentados com o tema A influência do contexto internacio- subsequentes;
nal nas opções políticas do Estado português, dos anos 60 do século XX à atualidade, analisando o modo – envolvimento direto de Portugal em missões no âmbito das questões transnacionais:
como a política colonial portuguesa e as prioridades da política externa em democracia foram codicionadas pelo a APD inclui outros países, além dos PALOP e de Timor-Leste.
respetivo contexto internacional.
Para cada tópico de orientação, pode explorar, pelo menos, uma das seguintes linhas de análise, ou outras
Comentário
consideradas relevantes:
Não vamos repetir considerações já publicadas sobre este tipo de questão, que podem ser recuperadas no comen-
Pressão internacional face à política colonial portuguesa
tário à questão correspondente da prova da 1.ª fase e na informação que fornecemos no capítulo Questões-tipo /
• relação entre o isolamento político de Portugal e a condenação internacional face ao incumprimento da
Questões de resposta extensa, constante nesta publicação.
Carta das Nações Unidas e das resoluções da ONU;
Mas há uma informação que ainda não foi prestada e que agora é oportuno considerar. É que, desta vez, por
• relação entre a manutenção da guerra colonial e a intensificação da crítica internacional face ao incumpri-
acaso, a chamada questão de desenvolvimento é a última da prova. Mas pode acontecer que surja noutro momento
mento da Carta das Nações Unidas e das resoluções da ONU. (no Grupo III, por exemplo, como aconteceu na prova da 1.ª fase). Seja proposta em último lugar ou noutro lugar qual-
Prioridades da política externa portuguesa em democracia quer, a sua resolução deve ser sempre deixada para o fim. Ela terá de ser sempre considerada pelo professor classifica-
• relação entre a democratização do regime português e o reforço da participação de Portugal em missões e dor, desde que devidamente identificada (e, se o não for pela correta numeração, será sempre pelo seu conteúdo).
organizações de âmbito transnacional; Como razão, e não temos qualquer acanhamento em o referir, apresentamos o facto de esta questão, por exigir a refe-
• relação entre o desenvolvimento das ex-colónias e o investimento português no quadro de programas de rência a seis aspetos e valer apenas 20 pontos, não justificar o tempo e o esforço despendidos na sua resolução, se este
cooperação bilateral. tempo e esforço fizerem falta para a resolução de outras questões que apenas exigem dois aspetos e valem 15 pontos.
Feitas as contas com clareza, os seis aspetos, que, nesta questão, valem 20 pontos, valem 45 pontos em três questões
Parâmetro C – Integração dos documentos de construção de resposta restrita. Portanto, há que olhar para o relógio e, se o tempo começar a escassear para a re-
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solução integral da prova, é preferível perder esta questão do que outras que valem 15 ou 10 pontos e que dão muito
A resposta evidencia a mobilização da informação dos documentos de 1 a 3 para sustentar as linhas orienta-
menos trabalho e que exigem muito menos tempo para a sua resolução. Claro que não podemos deixar de dizer que o
doras do tema, que constam nos parâmetros A e B. Podem ser exploradas as linhas de leitura apresentadas abaixo
tempo deve ser cuidadosamente controlado para que se consiga a resolução integral da prova. Deixar alguma ques-
(ou outras possíveis).
10 tão por responder é sempre uma má opção. 11
Propostas de resolução

Sobre a proposta de resolução que vamos apresentar, relativamente ao desenvolvimento do tópico 1, podemos

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retirar do documento 1 referências à afirmação de Portugal como país pluricontinental e multirracial, a condenação
do recurso à luta armada e a condenação do desrespeito do Governo português pelas normas do Direito Internacional
e pelos princípios da Carta das Nações Unidas, a que já fizemos referência em respostas a questões anteriores.
Relativamente ao desenvolvimento do tópico 2, vamos fazer referência à inversão da política portuguesa sobre os
territórios ultramarinos, em consequência da Revolução de 25 de Abril, inferir do documento 3 o apoio fornecido por
Portugal ao desenvolvimento das suas ex-colónias enquanto novos Estados independentes e do documento 2 o em-
penhamento de Portugal no processo de independência de Timor-Leste.

Uma proposta de resolução

Apesar de, em 1945, Portugal ter sido signatário da Carta das Nações Unidas, onde era claramente afirmado o
direito à autodeterminação dos povos, o governo de Salazar, ao longo dos anos 60, continuava a defender uma
política de reforço da autoridade portuguesa sobre os espaços ultramarinos e recusava intransigentemente qual-
quer negociação que pusesse em causa essa autoridade. Com efeito, «para fugir às obrigações que lhe [eram]
impostas pela carta das Nações Unidas», como denuncia o Movimento Anticolonial (MAC), no documento1,
Salazar tinha substituído o conceito de colónia pelo conceito de província ultramarina e o conceito de império
português pelo de ultramar português. Portugal passava a ser apresentado à comunidade internacional como
uma unidade territorial pluricontinental e multirracial, do Minho a Timor, e, desta forma ardilosa, Salazar defendia
que não tinha colónias.
Entretanto, a Assembleia Geral da ONU, sob pressão de movimentos anticolonialistas, não só repudiava estes
argumentos como aprovou sucessivas resoluções para pressionar o Governo português a arrancar com um efe-
tivo programa de descolonização. Destas pressões faz eco o MAC, ao denunciar o carácter unilateral da posição
portuguesa «em manifesta oposição ao princípio da autodeterminação dos povos, estabelecido pela Carta das
Nações Unidas», como que legitimando os movimentos independentistas para pegarem em armas.
E, chegados a 1960, Portugal, desprezando a intensificação da hostilidade internacional, continuava a recusar
a diplomacia nas relações com as suas colónias e respondia com a mobilização do exército português, “rapida-
mente e em força”, para uma guerra, que, logo nos inícios de 1961, eclodia em Angola, em 1963, na Guiné e, em
1964, em Moçambique, e que se prolongaria até à queda do regime, em 1974.
Foi exatamente com o triunfo do processo democrático, em 25 de abril de 1974, e em conformidade com o
programa do MFA, que propunha o claro reconhecimento do direito dos povos coloniais à sua autodeterminação
e independência, que o novo Governo deu início ao processo de descolonização.
Mas, conforme o documento 3 evidencia, Portugal não se limitou a reconhecer a independência das posses-
sões ultramarinas sob sua administração. Procurou estabelecer com os novos Estados de língua oficial portu-
guesa (PALOP) plataformas de cooperação em diferentes áreas, nomeadamente no plano económico, que passa-
vam pela concessão de ajudas materiais no âmbito de um programa internacional de Ajuda Pública ao
Desenvolvimento aos novos países em vias de desenvolvimento. E se, até 1998, a grande parcela da ajuda se
destinava a estes novos países africanos, nota-se que, a partir de 1999, e de forma mais significativa em 2001 e
2002, Timor-Leste passou a constituir o principal destinatário da ajuda portuguesa.
É que o processo de descolonização de Timor-Leste passou por uma situação muito complexa. Face à indefi-
nição do processo independentista, que se arrastou até novembro de 1974, e perante a declaração de indepen-
dência pela FRETILIN sem conclusão das negociações entre a várias forças políticas locais e Portugal, a Indonésia
invadiu o território e deu início a um violento processo de integração, no desrespeito dos mais elementares direi-
tos humanos. A ONU não reconheceu a ocupação e, não tendo sido concluído institucionalmente o processo de
independência, Portugal manteve a sua posição de potência administrante, o que lhe conferiu legitimidade e
obrigação para, sob os auspícios daquela instituição, levar a cabo uma intensa atividade diplomática internacio-
nal em prol da denúncia da ilegitimidade da ocupação indonésia e do reconhecimento do povo leste-timorense
à sua plena independência, que viria a ser conseguida em maio de 2002.

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