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GRUPO I
Comentário
Continuamos a considerar que, na maioria dos casos, deve ser perfeitamente possível responder a este tipo de
questões prescindindo da informação fornecida pelos documentos. Todavia, no que diz respeito a esta, em particular,
pelo menos o título do documento, que informa sobre o conteúdo da gravura, auxilia na seleção da opção correta.
Ora, o referido título informa-nos que a gravura reproduz a destruição de imagens sagradas numa igreja de Nu-
remberga. E, relativamente à recusa pelos Protestantes dos dogmas e rituais católicos, há uma opção que faz referên-
cia ao culto da Virgem e dos santos representados em imagens. Portanto, parece não haver dúvidas de que a opção B
é a correta.
Porém, já houve casos em que a opção que parecia imediatamente óbvia induziu em erro. Alertamos para se des-
confiar sempre quando a esmola é muito grande. Pode haver alguma ratoeira escondida... Não é o caso desta questão,
se prestarmos atenção ao conteúdo das restantes opções. A fé e predestinação divina, referidas na opção A, eram um
dos dogmas do protestantismo; os conteúdos das opções C e D podem ser rejeitados pelos Protestantes, mas é óbvio
que nada disso é conteúdo da imagem.
Portanto, a opção B é mesmo a correta.
Resposta: Opção B
Comentário
Para responder a esta questão, já não devia ser necessário recorrer à informação de qualquer dos documentos.
Não consideramos de grande dificuldade saber que o objetivo de qualquer tribunal é sentenciar, condenando ou ab-
solvendo, quem está a ser julgado. Ora, entre todas as opções propostas, o objetivo do Tribunal da Inquisição só pode
ser o de sentenciar a condenação dos culpados de heresia. E, se dúvidas houvesse, a confirmação encontrar-se-ia no
documento 2, que informa sobre a condenação pelo Tribunal da Inquisição de um tal Jorge Manuel por ser «herege
pertinaz e impenitente». Acresce que os conteúdos das restantes opções nada têm que ver com os objetivos de um tri-
bunal, seja ele qual for. Portanto, a opção correta só pode ser a D.
Resposta: Opção D
Comentário
Para responder a esta questão, já é imprescindível recorrer ao documento 2, para confirmarmos quem foram os
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principais visados pela ação do Tribunal da Inquisição, em Portugal. Ora, o documento informa-nos que Jorge Manuel
era um cristão-novo que persistiu em práticas religiosas segundo a «Lei de Moisés», ou seja, continuou a judaizar ocul-
tamente. Também porque os comportamentos referidos nas restantes opções não são tidos em conta em nenhuma
linha do documento 2, a opção correta só pode ser a A.
Resposta: Opção A
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Relativamente às questões de construção, apresentamos apenas os tópicos de resposta propostos pelo IAVE.
Relativamente às questões de seleção, o IAVE limita-se a apresentar as respostas corretas.
Para um esclarecimento mais completo, deve consultar http://www.iave.pt/images/arquivo_de_provas/2019/EFN_623_HistA/2F/
EX-HistA623-F2-2019-CC-VD_net.pdf 1
Propostas de resolução Propostas de resolução
GRUPO II carácter universal e que honras e mercês deixaram de ser características na nova sociedade, a opção correta só pode
ser a B, e isso devia ser considerado sem grande esforço.
Questão 1..................................................................................................................................................................................15 pontos
Resposta: Opção B
Tópicos de resposta:
• existência de uma estrutura social fortemente hierarquizada (OU uma rígida estratificação social), com gru- Questão 3..................................................................................................................................................................................15 pontos
resses de alguns». Está claramente a fazer referência ao desafio a que se propuseram os revolucionários liberais
referência ao «Código simples» e inferir de que código se trata. O que é importante é saber que se trata da Constituição
de pôr fim à velha e caduca sociedade de ordens, assente na desigualdade e na hierarquização social associada à
liberal de 1822, que, por acaso, até é referida na linha 7.
condição de nascimento ou de ingresso na vida religiosa, e de instituir o nivelamento social e político, presente,
Em posse deste conhecimento, bem como dos princípios liberais triunfantes com a Revolução de 1820, não pode
por exemplo, na universalidade e proporcionalidade da tributação fiscal, a que o autor também faz referência.
2 haver qualquer dificuldade em excluir a opção A. Considerando que a participação política ainda não assumiu um 3
Propostas de resolução Propostas de resolução
Tópicos de resposta:
Questão 1..................................................................................................................................................................................10 pontos • exaltação nacionalista (OU nacionalismo), através da afirmação do orgulho coletivo OU afirmação da nação
Comentário como um todo orgânico, cujos interesses se sobrepõem aos interesses individuais: «utilização dos valores
Esta questão de ordenação cronológica de acontecimentos mantém a alteração introduzida na prova da 1.ª fase: nacionais para o bem comum» OU «política nacional simplesmente» OU «Tudo pela Nação, nada contra a
tica («a imprensa para a política partidária [sofre] limitações»), no documento 3 critica-se a ausência de li-
berdade de expressão, já que o Governo assumiu o seu carácter antidemocrático através de mecanismos
de vigilância e repressão (censura OU polícia política), impondo uma «rigorosa censura à Imprensa» e a
«fiscalização das manifestações artísticas e culturais».
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Propostas de resolução Propostas de resolução
instituições e optou por se impor «pela luta armada». Considera o MAC que, desta forma, Portugal «procedeu a
uma anexação pela força» e que esta forma de domínio «está proibida pelo Direito Internacional».
Para o MAC, o Estado Novo adotou uma nova política para os territórios coloniais ao revogar o Ato Colonial e
6 ao integrar o estatuto das colónias por ele abrangido na Constituição, aquando da sua revisão, em 1951. 7
Propostas de resolução Propostas de resolução
Entretanto, o Estado Novo, ainda como denuncia o MAC, de forma «unilateral» e «em manifesta oposição ao prin- • Regularidade da assistência a Timor-Leste até 2010, em cerca de 10 a 15% ao ano do total da ajuda pública
sobretudo a partir de 1999; • agravamento do isolamento internacional de Portugal, com as persistentes condenações da política colo-
• Aumento significativo, entre 2001 e 2002, da assistência portuguesa a Timor-Leste promovida pela APAD, nial portuguesa na Assembleia Geral das Nações Unidas OU reconhecimento pela ONU da independência
no contexto da reconstrução do país após a independência do território; da Guiné-Bissau, proclamada de forma unilateral.
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Propostas de resolução Propostas de resolução
Documento 1
povos das colónias à autodeterminação; 1.º
– consagração do princípio da autodeterminaçao dos povos pela ONU: «A Carta das
• estabelecimento de um calendário de negociações após o 25 de Abril para a independência das colónias Tópico de
Nações Unidas consagra o direito dos povos se disporem de si mesmos»;
africanas; orientação
– incumprimento, por parte de Portugal, dos princípios da Carta das Nações Unidas:
• opção pela integração na Comunidade Económica Europeia (1986) e participação ativa no processo de «O desrespeito do Governo português pelas normas do Direito Internacional e pelos
aprofundamento da integração económica, social e política da União Europeia; deveres que lhe impõe a Carta das Nações Unidas» OU «Trata-se de um ato unilateral em
• participação em organismos internacionais, com o envolvimento direto de Portugal em missões no âmbito manifesta oposição ao princípio de autodeterminação dos povos, estabelecido pela Carta
das questões transnacionais; das Nações Unidas».
• processo de abertura de negociações com a China para a transferência da soberania de Macau, concreti-
– envolvimento de Portugal nos esforços da UNTAET para a reconstrução de Timor-Leste:
zada em 1999;
«À UNTAET foi dada a responsabilidade pela segurança, lei e ordem, estabelecimento de
• estreitamento de relações diplomáticas entre Portugal e as suas ex-colónias, reforçando-se os laços históri-
uma administração eficaz, desenvolvimento dos serviços sociais, fornecimento de ajuda
Documento 2
cos e culturais OU concretização de uma política de cooperação, com vantagens mútuas, em diferentes
humanitária, apoio à formação de capacidades para um governo autónomo e assistência 2.º
domínios;
na criação de condições para o desenvolvimento sustentável»; Tópico de
• cooperação de Portugal com os PALOP e com Timor-Leste em diferentes áreas, nomeadamente no plano
– colaboração com as estruturas da ONU e com as forças políticas timorenses para a viabili- orientação
económico (OU na saúde OU na construção de infraestruturas OU na formação de recursos humanos); zação de um Estado independente: «estabelecer instituições de governo e de administra-
• criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (OU CPLP) para reforçar a cooperação entre os ção pública ao mesmo tempo que apoiava a criação de capacidades de governo próprio
Estados-membros e reforçar a lusofonia; e de condições para o desenvolvimento sustentável».
• envolvimento de Portugal no processo de independência de Timor-Leste, em articulação com a ONU;
– até 1998, a maioria da ajuda pública ao desenvolvimento era direcionada para os PALOP;
• reforço da diplomacia económica orientada para a captação de investimentos e para a diversificação de
– a partir de 1999, Timor-Leste torna-se o principal destinatário da ajuda bilateral portu-
mercados (exemplo: Golfo Pérsico OU China OU Angola);
guesa;
Documento 3
• afirmação do papel de Portugal como mediador entre a Europa e os espaços da lusofonia OU da Comuni-
– os PALOP e Timor-Leste como espaços de intervenção privilegiada na sequência de um
dade Ibero-Americana. 2.º
passado histórico comum;
Tópico de
– acompanhamento, por parte da APD, do processo gradual de independência de Timor-
Parâmetro B – Articulação temática e organização orientação
-Leste, em 1999 (massacre no Cemitério de Santa Cruz), 2002 (independência) e anos
A resposta evidencia a relação dos elementos apresentados com o tema A influência do contexto internacio- subsequentes;
nal nas opções políticas do Estado português, dos anos 60 do século XX à atualidade, analisando o modo – envolvimento direto de Portugal em missões no âmbito das questões transnacionais:
como a política colonial portuguesa e as prioridades da política externa em democracia foram codicionadas pelo a APD inclui outros países, além dos PALOP e de Timor-Leste.
respetivo contexto internacional.
Para cada tópico de orientação, pode explorar, pelo menos, uma das seguintes linhas de análise, ou outras
Comentário
consideradas relevantes:
Não vamos repetir considerações já publicadas sobre este tipo de questão, que podem ser recuperadas no comen-
Pressão internacional face à política colonial portuguesa
tário à questão correspondente da prova da 1.ª fase e na informação que fornecemos no capítulo Questões-tipo /
• relação entre o isolamento político de Portugal e a condenação internacional face ao incumprimento da
Questões de resposta extensa, constante nesta publicação.
Carta das Nações Unidas e das resoluções da ONU;
Mas há uma informação que ainda não foi prestada e que agora é oportuno considerar. É que, desta vez, por
• relação entre a manutenção da guerra colonial e a intensificação da crítica internacional face ao incumpri-
acaso, a chamada questão de desenvolvimento é a última da prova. Mas pode acontecer que surja noutro momento
mento da Carta das Nações Unidas e das resoluções da ONU. (no Grupo III, por exemplo, como aconteceu na prova da 1.ª fase). Seja proposta em último lugar ou noutro lugar qual-
Prioridades da política externa portuguesa em democracia quer, a sua resolução deve ser sempre deixada para o fim. Ela terá de ser sempre considerada pelo professor classifica-
• relação entre a democratização do regime português e o reforço da participação de Portugal em missões e dor, desde que devidamente identificada (e, se o não for pela correta numeração, será sempre pelo seu conteúdo).
organizações de âmbito transnacional; Como razão, e não temos qualquer acanhamento em o referir, apresentamos o facto de esta questão, por exigir a refe-
• relação entre o desenvolvimento das ex-colónias e o investimento português no quadro de programas de rência a seis aspetos e valer apenas 20 pontos, não justificar o tempo e o esforço despendidos na sua resolução, se este
cooperação bilateral. tempo e esforço fizerem falta para a resolução de outras questões que apenas exigem dois aspetos e valem 15 pontos.
Feitas as contas com clareza, os seis aspetos, que, nesta questão, valem 20 pontos, valem 45 pontos em três questões
Parâmetro C – Integração dos documentos de construção de resposta restrita. Portanto, há que olhar para o relógio e, se o tempo começar a escassear para a re-
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solução integral da prova, é preferível perder esta questão do que outras que valem 15 ou 10 pontos e que dão muito
A resposta evidencia a mobilização da informação dos documentos de 1 a 3 para sustentar as linhas orienta-
menos trabalho e que exigem muito menos tempo para a sua resolução. Claro que não podemos deixar de dizer que o
doras do tema, que constam nos parâmetros A e B. Podem ser exploradas as linhas de leitura apresentadas abaixo
tempo deve ser cuidadosamente controlado para que se consiga a resolução integral da prova. Deixar alguma ques-
(ou outras possíveis).
10 tão por responder é sempre uma má opção. 11
Propostas de resolução
Sobre a proposta de resolução que vamos apresentar, relativamente ao desenvolvimento do tópico 1, podemos
Apesar de, em 1945, Portugal ter sido signatário da Carta das Nações Unidas, onde era claramente afirmado o
direito à autodeterminação dos povos, o governo de Salazar, ao longo dos anos 60, continuava a defender uma
política de reforço da autoridade portuguesa sobre os espaços ultramarinos e recusava intransigentemente qual-
quer negociação que pusesse em causa essa autoridade. Com efeito, «para fugir às obrigações que lhe [eram]
impostas pela carta das Nações Unidas», como denuncia o Movimento Anticolonial (MAC), no documento1,
Salazar tinha substituído o conceito de colónia pelo conceito de província ultramarina e o conceito de império
português pelo de ultramar português. Portugal passava a ser apresentado à comunidade internacional como
uma unidade territorial pluricontinental e multirracial, do Minho a Timor, e, desta forma ardilosa, Salazar defendia
que não tinha colónias.
Entretanto, a Assembleia Geral da ONU, sob pressão de movimentos anticolonialistas, não só repudiava estes
argumentos como aprovou sucessivas resoluções para pressionar o Governo português a arrancar com um efe-
tivo programa de descolonização. Destas pressões faz eco o MAC, ao denunciar o carácter unilateral da posição
portuguesa «em manifesta oposição ao princípio da autodeterminação dos povos, estabelecido pela Carta das
Nações Unidas», como que legitimando os movimentos independentistas para pegarem em armas.
E, chegados a 1960, Portugal, desprezando a intensificação da hostilidade internacional, continuava a recusar
a diplomacia nas relações com as suas colónias e respondia com a mobilização do exército português, “rapida-
mente e em força”, para uma guerra, que, logo nos inícios de 1961, eclodia em Angola, em 1963, na Guiné e, em
1964, em Moçambique, e que se prolongaria até à queda do regime, em 1974.
Foi exatamente com o triunfo do processo democrático, em 25 de abril de 1974, e em conformidade com o
programa do MFA, que propunha o claro reconhecimento do direito dos povos coloniais à sua autodeterminação
e independência, que o novo Governo deu início ao processo de descolonização.
Mas, conforme o documento 3 evidencia, Portugal não se limitou a reconhecer a independência das posses-
sões ultramarinas sob sua administração. Procurou estabelecer com os novos Estados de língua oficial portu-
guesa (PALOP) plataformas de cooperação em diferentes áreas, nomeadamente no plano económico, que passa-
vam pela concessão de ajudas materiais no âmbito de um programa internacional de Ajuda Pública ao
Desenvolvimento aos novos países em vias de desenvolvimento. E se, até 1998, a grande parcela da ajuda se
destinava a estes novos países africanos, nota-se que, a partir de 1999, e de forma mais significativa em 2001 e
2002, Timor-Leste passou a constituir o principal destinatário da ajuda portuguesa.
É que o processo de descolonização de Timor-Leste passou por uma situação muito complexa. Face à indefi-
nição do processo independentista, que se arrastou até novembro de 1974, e perante a declaração de indepen-
dência pela FRETILIN sem conclusão das negociações entre a várias forças políticas locais e Portugal, a Indonésia
invadiu o território e deu início a um violento processo de integração, no desrespeito dos mais elementares direi-
tos humanos. A ONU não reconheceu a ocupação e, não tendo sido concluído institucionalmente o processo de
independência, Portugal manteve a sua posição de potência administrante, o que lhe conferiu legitimidade e
obrigação para, sob os auspícios daquela instituição, levar a cabo uma intensa atividade diplomática internacio-
nal em prol da denúncia da ilegitimidade da ocupação indonésia e do reconhecimento do povo leste-timorense
à sua plena independência, que viria a ser conseguida em maio de 2002.
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