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net/publication/338802792
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Pita Sitoe
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All content following this page was uploaded by Pita Sitoe on 24 January 2020.
Abstract
Most of Maputo City and surrounding neighborhoods are, for wastewater management,
Keywords directly or indirectly served by the Maputo WWTP. However, currently, due to lack of
maintenance is not operating accordingly. Wastewater from the Maputo WWTP and other
Contaminated activities is discharged into the Mulauze River and the waters are used to irrigate vegetables
water in the Infulene Valley. The continuous emission of these effluents to the river and then to
Solar radiation Maputo bay may be contributing to its pollution and threatening biodiversity. In addition, the
use of waters mixed with these effluents for vegetable irrigation constitutes a risk to the health
Water Disinfection of consumers and workers directly in contact with these waters. In order to improve its
performance, it is essential to rehabilitate the WWTP and adopt other decentralized
technologies, namely the use of Fito-WWTP's, to reduce the demand on this infrastructure.
© 2019 Munyo Scientific Publishing, LC. All rights reserved.
1. Introdução
poluição dos corpos de água receptores. Nos países em
O assentamento e desenvolvimento das comunidades
vias de desenvolvimento apenas uma pequena parte de
humanas em determinadas áreas estão associados à
águas residuais do sistema de esgoto é tratada (MARA
criação de grandes aglomerados populacionais, com a
2003). Por exemplo, de acordo com Hinrichsen (1998)
consequente acumulação dos resíduos que resultam das
grande parte dos efluentes municipais e industriais que
suas variadas actividades. De entre esses resíduos, os
desaguam no oceano Índico, não são tratados. Na cidade
efluentes domésticos tais como águas residuais
de Maputo, segundo a UN-HABITAT (2014) apenas 8%
provenientes de instalações sanitárias, cozinhas e lavagem
da população em 2003 tinha o acesso a serviço de sistema
de roupa (SAEED; SUN 2012), caracterizam-se por
de esgoto. Entretanto, grande parte das águas residuais
conter, entre outras substâncias, quantidades elevadas de
não chega a Estação de Tratamento de Águas Residuais
matéria orgânica (FUNASA 2004). Estas águas quando
(ETAR) pelo facto de as estações elevatórias estarem
não são adequadamente tratadas constituem fonte de
inoperacionais e, por conseguinte, as águas residuais
.
Para a concretização desta pesquisa foram feitas, no mês
transbordam para o sistema de drenagem e fluem até a
de Março de 2017, visitas à ETAR e a região à jusante
baia (MUTEVÚIE JR., 2015). Com o passar de tempo
para onde fluem os efluentes da ETAR. Estas visitas
esta situação tende a piorar uma vez que não estão sendo
permitiram recolher dados primários sobre a área de
feitas manutenções e construção de novas infra-estruturas
estudo nomeadamente, características e as condições de
de saneamento.
operação e estado de manutenção do sistema. Para além
O objectivo final da engenharia de águas residuais é a disso, permitiram observar actividades realizadas na
protecção da saúde pública de uma forma compatível região adjacente às infra-estruturas da ETAR. A partir de
com as preocupações ambientais, económicas e sociais, estudos locais (de CASTRO MIGUEL, 2011;
uma vez que o tratamento de águas residuais que ela MUTEVÚIE JR., 2015) e de publicações científicas da
proporciona reduz a transmissão de doenças relacionadas área de saneamento foram adquiridos dados secundário
com os dejectos humanos e também contribui para a sobre as condições ideias para operação de infra-
redução da poluição por estes e, consequentemente, da estruturas daquele género. A revisão da literatura
degradação do meio e da vida aquática (MARA, 2003). igualmente permitiu aferir dados sobre aspectos
demográficos da cidade de Maputo e Matola o que
O rio Mulauze recebe efluentes de várias origens de entre
permitiu avaliar o desempenho da ETAR.
elas se destaca a ETAR do Estádio Nacional de Zimpeto,
indústria de Cervejas De Moçambique (CDM), de
actividades agrícolas e da ETAR de Maputo também
conhecida por ETAR de Infulene. Estes efluentes, à
jusante do ponto de emissão no rio Mulauze, apresentam
um aspecto turvo e cheiro desagradável o que sugere a
potencial contaminação por diversos factores físicos,
químicos e biológicos, directamente relacionados com a
ETAR e de outras actividades que se realizam ao longo
do Vale do Infulene. Wu, et al. (2015), afirma que os
efluentes resultantes de estações convencionais de
tratamento de esgotos, ao exemplo da ETAR de Maputo,
muitas vezes contêm contaminantes com concentrações
acima dos níveis permitidos por lei, neste caso o Decreto
nº 18/2004 de 2 de Junho, actualizado e rectificado pelo
Decreto nº 67/2010 de 31 de Dezembro, que preceitua os
padrões de qualidade ambiental e emissão de efluentes.
Com este trabalho/artigo pretende-se aferir as causas da
qualidade dos efluentes da ETAR de Maputo e levantar
os possíveis impactos ambientais que podem advir da
qualidade dos mesmos para o meio ambiental e social.
Figura 1: Localização da área de estudo ETAR de Maputo
Figura 2: Câmara de entrada das águas residuais: a) visualizando as grades de barras grossas e médias da ETAR Foto: de CASTRO
MIGUEL (2011); b) visualizando apenas grade grossa, Foto. José Samo
.
Contudo, o tratamento secundário, apesar de ser efectivo Entretanto, existência de substâncias químicas, traço e
na remoção de matérias orgânicas, não é efectivo na derivados de fármacos, hormonas sintéticas e naturais,
remoção de sais inorgânicos que podem causar a produtos de higiene e metais constituem um desafio para
eutrofização dos corpos de água receptores tratamentos avançados dos efluentes (MANAHAN,
(KUPCHELLA & HYLAND, 1992). 2013).
De facto, de Castro & Miguel (2011), avaliando os Nas lagoas da ETAR de Maputo (anaeróbicas e
parâmetros físicos-químicos dos efluentes da ETAR de facultativas), devido à falta de acções de manutenção,
Maputo nomeadamente turvação, concentrações de ocorrem diversos tipos de macrófitas (figura 4), com a
amónio e nitrato e, BOD, constatou que os valores predominância de jacinto-de-água (Eichhornia
obtidos estavam acima dos limites máximos admissíveis crassipes). Este facto aumenta sombreamento nas lagoas
pelo regulamento nacional para emissão de efluentes. limitando a penetração de luz (UV) que é uma das
condições essenciais para a remoção de agentes
Os sistemas de tratamento mais recentes podem
patogénicos contidos nas águas residuais (MARA, 2003,
comportar um tratamento terciário, que pode incluir a
2003a). Contudo, a presença destas plantas nas lagoas
filtração granular média ou de micro-membranas. Nesta
facultativas pode estar a contribuir significativamente
fase também pode-se proceder à desinfecção de forma a
para a remoção de nutrientes das águas residuais. Vários
reduzir ainda mais a carga de bactérias e vírus do efluente
estudos atribuem a estas macrófitas a eficiente remoção
do tratamento secundário (FEIGIN, RAVINA &
de nutrientes, por absorção de nitrogénio e fósforo (FOX,
SHALHEVET, 1991; METCALF & EDDY, 1991;
et al.; 2008; REZANIA, et al., 2016).
MARA, 2003). Entretanto, este não é o caso da ETAR de
Maputo onde os efluentes parcialmente tratados passam Segundo Mutevúie Jr. (2015) na ETAR de Maputo,
directamente para o rio sem tratamento terciário. Este actualmente está operacional apenas uma linha, isto é,
facto é muito preocupante, pois estas águas contaminam uma lagoa anaeróbia e uma facultativa. A lagoa
o corpo receptor e além disso são reutilizadas para a rega anaeróbia operacional está cheia de lamas, grande parte
de hortícolas ao longo do Vale de Infulene, perigando de das quais provenientes dos despejos diários dos camiões
certo modo a saúde pública. limpa-fossas (das fossas sépticas e latrinas) figura 4,
oriundos das cidades de Maputo e Matola, bem como dos
Um tratamento terciário compreende uma variedade de
bairros arredores. Em média, diariamente, 120 camiões
processos realizados no efluente de um tratamento
limpa-fossas fazem descarga de lamas resultantes de
secundário, usando basicamente métodos químicos para
esvaziamento de fossas sépticas e de latrinas numa das
remover algumas substâncias químicas ainda contidas no
lagoas anaeróbia (MUTEVUIE JR., 2015). Portanto, esta
efluente, nomeadamente materiais inorgânicos
prática, despejos diários dos camiões limpa-fossas, tem
dissolvidos e compostos orgânicos dissolvidos
contribuído muito para a redução da profundidade das
(KUPCHELLA & HYLAND, 1992; MANAHAN, 2013).
lagoas anaeróbicas e, por conseguinte, na redução da
A remoção de compostos de fósforo e de nitrogénio não é eficiência funcional das mesmas.
necessária se água do efluente for reutilizada para
Moçambique, ainda não existe regulamento específico
irrigação agrícola. Para precipitar o fósforo (cerca de
para efeito. As águas da ETAR parcialmente tratadas
90%) dissolvido e removê-lo nas lamas, são usados
passam por uma série de canais que levam este efluente
processos químicos que envolvem a utilização de sais de
até o rio Mulauze cujas águas se misturam com efluentes
alumínio ou de ferro (KADLEC & WALLACE, 2008).
das empresas sedeadas ao longo do rio e com os sistemas
Entretanto, o tratamento terciário também pode ser
de drenagem de águas pluviais não tratadas indo desaguar
essencial para uma adicional redução de SS, DBO e
directamente, numa extensão de cerca de 3km da Baía de
nutrientes remanescentes do tratamento secundário
Maputo.
(FEIGIN, RAVINA e SHALHEVET, 1991).
Figura 4: Lagoa anaeróbia cheia de lama recebendo efluentes de camiões tanque Foto: P. Sitoe, 2017
.
Relativamente às acções de manutenção das lagoas, Mara subterrâneos utilizados para o abastecimento de água
(2003) aponta que uma lagoa anaeróbica deve ser limpa (JENKINS 2000; KADLEC & WALLACE, 2008). De
quando estiver um terço cheia de lamas e a eliminação facto Kadlec & Wallace (2008) justificam afirmando que
destas deve ser realizada de acordo com as normas locais as fossas sépticas caracteristicamente não controlam o
que regem a sua eliminação. No entanto, actualmente, em nitrogénio lançando nitrogénio oxidado para o subsolo.
O processo de tratamento de esgotos gera lamas (sólidas, Durante a digestão anaeróbica a matéria orgânica
semi-sólidas ou liquidas) heterogéneas maioritariamente presente nas lamas do esgoto é biologicamente
consistindo de água (> 90%) e sólidos (<10%) (AMUDA, convertida em biogás, caracteristicamente contendo
et al. 2008). As lamas são produto da primeira metano (CH4), dióxido de carbono (CO2) e outros gases
sedimentação do esgoto bruto, e subproduto do (LESTER, 1996). Nas condições da ETAR de Maputo,
tratamento aeróbio secundário do esgoto (LESTER, este processo ocorre ao ar livre e consequentemente este
1996; AMUDA, et al. 2008). Entretanto, actualmente a gás escapa directamente para o meio ambiente. Sabe-se,
preocupação dos cientistas e engenheiros sanitários, em porém, que o metano, o dióxido de carbono e o óxido de
relação às lamas de esgoto, é ter estes resíduos tratados nitrogénio (N20) estão entre os gases que mais
antes de serem descartados e torná-los adequados para contribuem para o efeito estufa, conforme lista do
fins benéficos (AMUDA, et al. 2008). Na ETAR de Protocolo de Kyoto (IPCC 2001). Maucieri, et al. (2017)
Maputo, devido a falta de manutenção regular estas referem que os leitos de superfície de água livre, como é
lamas não são removidas e, por conseguinte, actualmente o caso do sistema de lagoas da ETAR de Maputo, devido
não existe o tratamento das mesmas. à predominância de condições anóxicas (com O2
limitado) que reduzem a oxidação, contribuem para o
3.2. Problemas ambientais e de saúde pública
aumento da produção de metano, comparativamente com
relacionados com o sistema de saneamento e gestão de
outro tipo de leitos.
águas residuais da ETAR de Maputo
Além disso, nas lagoas anaeróbias, fundamentalmente
Tal como foi descrito no ponto anterior, o sistema de
nas zonas de estabilização, são também produzidos
tratamento de água residuais, nas condições de
compostos odoríferos, como por exemplo, sulfeto de
funcionamento actuais está sendo uma fonte pontual de
hidrogénio ou gás sulfrídico (H2S) e mercaptanos que
poluição do rio Mulauze e consequentemente da Baia de
escapam das lagoas (SHAMMAS, WANG & WU, 2009).
Maputo também.
A intensidade de odores que afecta a área evidencia a
Grande parte do sistema de transporte dos esgotos da deficiente operação da ETAR. Neste caso concreto,
cidade de Maputo é mais antigo do que o próprio sistema devido à falta de uma camada superior arejada
de tratamento. Considerando o tipo de material e (oxigenada) que normalmente serve como um escudo
tecnologias usadas, aliados a idade das infra-estruturas e protector, os produtos finais odoríferos, da decomposição
à falta de manutenção apropriada, a fuga das águas de anaeróbica escapam da lagoa para atmosfera. Na zona
esgotos é um facto muito comum na Cidade de Maputo. aeróbia das lagoas, os compostos são quimicamente ou
Metcalf & Eddy (1991), apontam que a fuga dos esgotos bioquimicamente oxidados e tornados inócuos antes que
em forma exfiltração leva à contaminação das águas eles atinjam a superfície atmosférica (SHAMMAS,
subterrâneas e/ou até das águas superficiais mais WANG e WU 2009). Segundo Mara (2003) a emissão de
próximas. Além disso, as fossas sépticas constituem uma odor é sinal de que as cargas recomendadas para o
fonte de milhares de litros de águas residuais lançadas projecto estão sendo excedidas e/ou elevadas
directamente para águas subterrâneas (KUPCHELLA & concentrações de sulfato na água residual. Entretanto,
HYLAND, 1992). Esta situação torna-se ainda mais aponta ainda que pequenas quantidades de sulfureto são
grave se considerarmos que cerca de 80% da população benéficas, uma vez que reagem com os metais pesados
da cidade de Maputo usa tanques sépticos ou latrinas para para formar sulfuretos metálicos insolúveis que
gestão dos esgotos domésticos (UN-HABITAT, 2008). precipitam, mas as concentrações de 50-150 mg/L pode
Por exemplo, um estudo sobre indicadores de inibir a metanogénese.
contaminação das águas subterrâneas evidencia a
UN-HABITAT (2008) aponta que estudos feitos na Baía
ocorrência de microrganismos de origem fecal
de Maputo revelaram a detecção, em água marinha e em
(Coliformes totais, C. fecais, Estreptococos fecais e
tecidos de marisco, de agentes patogénicos de origem
Escherichia coli) nas águas subterrâneas e na maioria dos
gastrointestinal tais como coliformes fecais,
poços (cerca de 60%) do Distrito urbano 4, do Município
Estreptococos fecais e Escherichia coli. Os níveis de
de Maputo (MUCHIMBANE, 2010). Para além disso, o
contaminação em tecidos de mariscos analisados, foram
amplo uso de latrinas e fossas sépticas levou a uma
consistentemente elevados. Isto deve-se, por um lado,
acumulação de nitratos no solo e, por conseguinte, à
pelo facto de parte do sistema de esgoto da cidade de
contaminação de poços rasos, bem como aquíferos
Maputo, não conectado a ETAR, continuar a lançar
.
directamente os efluentes à Baia (MUHATE & de tomate que são consumidos in nature. Os resultados das
ANDRADE MORAIS, 2017) e por outro lado, pelo facto análises microbiológicas dos efluentes da ETAR mostram
de os sistemas de tratamento de águas residuais que 75% das amostras colectadas os resultados
convencionais, como a ETAR de Maputo, serem excederam 103 NMP/100ml e 25 % excederam 102
projectados para a remoção de DBO (MARA 2003) e não NMP/100ml (MUTEVUIE JR., 2015). Esta situação
estarem especificamente projectados para reduzir o definitivamente constitui um atentado à saúde pública
número de agentes patogénicos excretados (CURTIS pois, por um lado, a manipulação e contactos destas
2003, ORAGUI 2003). De facto, Kupchella & Hyland águas, per si, pode causar doenças e infecções aos
(1993) asseguram qu trabalhadores expostos directamente à água residual e,
de conterem uma grande variedade de substâncias por outro, o efluente aplicado directamente sobre as
químicas também contêm um variado conjunto de culturas, que são geralmente consumidas cruas, pode
organismos patogénicos nomeadamente as bactérias, levar a infecções gastrointestinais.
vírus, protozoários e, cistos ou ovos de vermes
Segundo a UN-HABITAT (2008), na ETAR de Maputo,
(helmintos). Estas informações evidenciam que os
os efluentes não são submetidos ao processo de
efluentes da ETAR de Maputo contribuem para a
desinfecção e não passam por monitoramento da sua
contaminação das águas da Baía e, consequente, dos
qualidade. Esta situação se agrava ainda mais pelo facto
organismos filtradores que acumulam esses patógenos
de a mesma estar a operar em condições deficientes e
gastrointestinais. Alguns dos mariscos colectado na Baía
acima das capacidades para as quais foi dimensionada
são consumidos com pouca fervura, como é caso das
(MUHATE & DE ANDRADE MORAIS, 2017).
amêijoas, o que constitui um risco para a saúde humana.
Portanto, o monitoramento da qualidade, sobretudo
Ademais, o aproveitamento dos efluentes da ETAR para
microbiológica das águas usadas para irrigação mostra-se
uso agrícola é uma prática comum, que também constitui
de capital importância para garantir a saúde dos
uma ameaça à saúde pública. De facto, a área baixa do
trabalhadores, e uma utilização segura ou apropriada para
Vale do Infulene,
a rega de hortícolas, principalmente daquelas consumidas
em ambas margens do rio Mulauze, e nas áreas
cruas.
adjacentes à ETAR é usada para actividade agrícola,
especificamente para horticultura (figura 5).
Em áreas de cerca de 300m2, muitos horticultores Manahan (2013), aponta que os efluentes de tratamento
produzem vários legumes, nomeadamente couve, alface, secundário, além de conter contaminantes químicos,
repolho, tomate, cebola, beringela, feijão-verde, muitas vezes contêm uma gama de microrganismos
beterraba, entre outros (FAO 2013). Ainda segundo a patogénicos, requerendo-se assim a desinfecção nos
FAO, estas zonas verdes constituem um dos principais casos em que os humanos podem vir a entrar em contacto
fornecedores de alimentos frescos dos mercados das com essas águas. Em Israel, o efluente resultante do
cidades de Maputo e Matola sendo uma importante fonte tratamento secundário é tratado com 20mg/l de cloro
de emprego para as famílias pobres, particularmente as durante cerca de 60 minutos o que eventualmente elimina
chefiadas por mulheres. bactérias e vírus e, por conseguinte, tornar o efluente apto
para a utilização segura para irrigação de culturas para
Na verdade, muitos trabalhadores agrícolas (figura 6) consumo humano. Para o mesmo efeito, principalmente
usam regadores manuais para reutilizar os efluentes à na Europa, é usado o ozono (O3) que tem a vantagem de
jusante da ETAR para irrigar os campos,
fundamentalmente de hortícolas, tais como, alface e
.
não produzir poluentes perigosos (FEIGIN, RAVINA e suas infra-estruturas. Além disso, considerando a
SHALHEVET, 1991). capacidade do sistema, é conveniente procurar
alternativas tecnológicas descentralizadas,
Um dos pri é minimizar a
nomeadamente o recurso a Fito- to
emissão de nutrientes (nitrogénio e fósforo) e matéria
de águas residuais domésticas de pequenas comunidades
orgânica normalmente contidos nos efluentes. Estes
tais como condomínios habitacionais, novos bairros,
contaminantes quando descarregados nos corpos de água
escolas, etc., que possam contribuir para a redução de
são respectivamente responsáveis pela eutrofização e
efluentes a integrar uma rede de saneamento alargada.
pelo aumento demanda de oxigénio dissolvido (SAEED e
SUN 2012). Nesse sentido, considerando as actuais
condições de funcionamento da ETAR de Maputo, esta
está contribuindo para a elevada demanda de oxigénio Agradecimentos
das águas de Mulauze afectando desse modo a fauna Quero muito agradecer pela assistência na elaboração
naquele meio. deste artigo as seguintes personalidades: Profa. Doutora
Silva de Fátima Langa (UEM), Dra. Alana Sengulane,
Dr. José Samos (UP) e o Eng. Raul Mutewie (MOPH).
4. Conclusões
Um dos principais propósitos da construção de sistemas
de tratamento de águas residuais é reduzir a carga Referências
orgânica dos influentes de modo a que o efluente Curtis, T. "Bacterial pathogen remoral in wastewater
resultante não afecte negativamente as massas de água treatment plants." In The handbook of water and
receptoras. A ETAR de Maputo está longe de atingir os wastewater microbiology, by D MARA and N HORAN,
propósitos para os quais foi construída, considerando, 1) 477-490. 2003.
a dimensão da população da cidade de Maputo (mais de 1
milhão de habitantes), 2) o tipo de sistema ou tecnologia FAO. Primeiro relatório sobre a horticultura urbana e
adoptada (que termina com o tratamento secundário), 3) a periurbana - Cidade mais verdes de Africa. Roma, 7 10,
capacidade do sistema instalado (90mil h.e) e, 4) a falta 2013.
de manutenção das instalações. Na actual situação a FUNASA. Manual de Saneamento - Orientações
ETAR de Maputo apenas contribui para uma redução técnicas. Brasília: Fundação Nacional de Saude, 2004.
parcial de sólidos suspensos (SS) e da matéria orgânica
dos efluentes. Sem tratamento secundário adequado que IPCC. "Atmospheric chemistry and greenhouse gases,
permita a remoção de patógenos para limites aceitáveis, chapter 4." In Climate change: the scientific basis, by
estas águas não são apropriadas para aproveitamento HOUGHTON, J.T and et all., 239-287. Cambridge:
agrícola, fundamentalmente para a rega de hortícolas Cambridge University Press, 2001.
consumidas cruas, como se tem vindo a constatar. É
Jenkins, P. "City profile Maputo 1." Cities 17, no. 3
portanto, recomendável que se faça periodicamente a
(2000): 207-218.
monitoração da qualidade dos efluentes para avaliar a
eficiência do sistema. O reuso directo dos efluentes Lester, F.N. "Sewage and sewage sludge treament ." In
constitui risco à saúde dos trabalhadores assim como dos POLLUTION: causes, effetcts and control, by ROY M.
potenciais consumidores das culturas produzidas. Assim, HARRISON, 93-122. London : The Royal Society of
os trabalhadores precisam estar conscientes dos riscos Chemistry, 1996.
para a saúde associados à esta prática. Em particular, eles
Mara, D. Domestic wastewater treatment in developing
devem usar equipamento de protecção individual (EPI),
countries. London: Earthscan , 2003.
como p.ex, as botas de borracha para protegerem-se da
infecção por ancilostomíase, e devem ter disponíveis Metcalf & Eddy. Wastewater engineering. New York:
facilidades de lavagem das mãos depois da jornada. Os McGraw-Hill, inc, 1991.
consumidores podem se proteger usando práticas
Oragui, J. "Virus in faeces." In The handbook of water
higiénicas de preparação de alimentos: cozinhando
and wastewater microbiology, by D. MARA and N.
vegetais irrigados com águas residuais provenientes de
HORAN, 473-476. 2003.
rincipalmente, lavando rigorosamente
culturas consumidas cruas irrigadas com efluentes de Saeed, T.; Sun, G. A review on nitrogen and organics
ET Um dos actuais grandes desafios da ETAR de removal mechanisms in subsurface flow constructed
Maputo é a manutenção (especificamente a limpeza das wetlands: dependency on environmental parameters,
lagoas), reabilitação (reposição de equipamentos e operating conditions and supporting media. Journal of
estruturas danificadas) e, melhoramento e ampliação das
.
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