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Aplicações de Econometria Elias Soukiazis Ano letivo 2020/21

TÓPICO 6

ABORDAGEM DE HENDRY E O MODELO DE CORRECÇÃO DOS ERROS


(MCE)

6.1. A Construção dos Modelos

(i) a metodologia tradicional: do caso particular para o geral

A metodologia tradicional de estimar modelos econométricos sugere o


seguinte:

-Especificar um modelo simples tendo com base a teoria económica,

-Estimando este modelo, se R2 for baixo, incluir mais variáveis explicativas,


ou melhorar a especificação do modelo

-Através do teste de significância individual teste-t retirar as variáveis


explicativas cujo coeficiente não apresenta significância estatística

-Se o teste de DW (ou teste LM) indica autocorrelação dos erros, aplicar a
transformação de Cochrane-Orcutt ou Hildreth-Lu,

-Se os testes indicam heteroscedasticidade, aplicar transformações adequadas


para obter um modelo homoscedástico: usar erros padrão robustos ou aplicar
GLS

-Através dos testes diagnóstico encontrar o modelo geral mais adequado.

As desvantagens da metodologia tradicional:

-O investigador raramente abandona a ideia inicial e as hipóteses assumidas


(o modelo à priori está correto),

-É possível que dois investigadores tratando o mesma tema e utilizando os


mesmos dados chegarem a conclusões diferentes,

-A metodologia tradicional não é capaz indicar qual é a forma dinâmica mais


adequada da equação estimada (nos modelos de séries temporais).

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(ii) a metodologia de Hendry: do caso geral para o particular

Modelo Autoregressivo com Desfasamentos Distribuídos ADL(1,1)

Yt = 0 + 1Xt + 2Xt-1 + ß1Wt + ß2Wt-1 + Yt-1 + ut

onde 1,2 e ß1,ß2 são os efeitos parciais de curto prazo,

=(1-) com (0<<1) o coeficiente do ajustamento parcial,

(Yt-Yt-1)=(Yt*-Yt-1) é o mecanismo do ajustamento parcial,

(1+2)/(1-) e (ß1+ß2)/(1-) são os efeitos de longo prazo.

Através da especificação geral ADL(1,1) e impondo restrições sobre os


coeficientes os seguintes modelos específicos podem surgir:

1. O modelo Estático

Yt=0 + 1Xt + ß1Wt + ut se 2=0, ß2=0, =0

2. O modelo Autoregressivo Univariado

Yt=0 + Yt-1 + ut se 1=0, 2=0, ß1=0, ß2=0

3. O modelo sem Contemporaneidade

Yt=0 + 2Xt-1 + ß2Wt-1 + ut se 1=0, ß1=0, =0

4. O modelo com Desfasamentos Distribuídos

Yt=0 + 1Xt + 2Xt-1 + ß1Wt + ß2Wt-1 + ut se =0

5. O modelo de Ajustamento Parcial, ADL(0,1)

Yt=0 + 1Xt + ß1Wt + Yt-1 + ut se 2=0, ß2=0

6. O modelo com Informação Desfasada

Yt=0 + 2Xt-1 + ß2Wt-1 + Yt-1 se 1=0, ß1=0

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7. O modelo com Taxas de Crescimento (variáveis expressas em logaritmos)

Yt=0 + 1(Xt-Xt-1) + ß1(Wt-Wt-1) + Yt-1 + ut

se 2=-1, ß2=-ß1 e =1

8. O Modelo de Correção dos Erros (MCE)

Yt=0 + 1Xt + ß1Wt -(1-)[Yt-1 -kXt-1 -rWt-1]

onde  representa a primeira diferença, i.e. Yt=Yt-Yt-1 ,

k=(1+2)/(1-) e r=(ß1+ß2)/(1-) são os efeitos de longo prazo.

Um caso especial é quando k=r=1 indicando um efeito unitário de longo


prazo.

6.2. O Modelo de Correção dos Erros (MCE) simples.

Admite-se que no longo prazo existe uma relação de equilíbrio entre duas
variáveis Y e X e expressa-se como:

Yt = kXtß

onde k=constante e ß=coeficiente (elasticidade)

Aplicando logaritmos:

yt =  + ßxt

com y=logY, x=logX e =logk

Observamos uma situação de equilíbrio entre Y e X, quando

yt -  - ßxt = 0

Observamos uma situação de desequilíbrio entre Y e X, quando

yt -  -ßxt  0

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Na realidade, X e Y raramente se encontram em equilíbrio e aquilo que


observamos são relações de desequilíbrio no curto prazo.

No curto prazo a relação de desequilíbrio é expressa duma forma geral, tipo


ADL(1,1) com variáveis em níveis:

yt= 0 + 1xt + 2xt-1 + yt-1 + ut onde 0<<1.

Subtraindo yt-1 em ambos os lados podemos expressar a variável dependente


em primeiras diferenças:

yt = 0 + 1xt + 2xt-1 - (1-)yt-1 + ut com yt=yt-yt-1

Adicionando e subtraindo 1xt-1 no segundo lado da equação podemos


expressar a variável explicativa em primeiras diferenças também:

yt = 0 + 1xt + (1+2)xt-1 - (1-)yt-1 + ut

Alternativamente

yt = 0 + 1xt - (1-)[yt-1-ßxt-1] + ut

com ß=(1+2)/(1-)

ou

yt = 1xt -(1-)[yt-1-  -ßxt-1] + ut

com =0/(1-) e 0≤(1-)≤ 1

Esta última equação é o Modelo de Correção dos Erros (da 1ª ordem), uma
forma alternativa da equação ADL(1,1) onde a variação de Y é explicada
pela variação de X e corrigida pelo erro de desequilíbrio do período anterior.

O coeficiente (1-) indica a rapidez do ajustamento (em percentagem) com


que a variável dependente Y se ajuste ao seu valor de equilíbrio perante
variações da variável explicativa X.

ß é a elasticidade de longo prazo e 1 a elasticidade de curto prazo.

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6.3. Estimação do Modelo de Correção dos Erros

Método de Engle e Granger que envolve dois passos:

1º passo: estimar o modelo de equilíbrio yt    xt pelo OLS e obter os

resíduos uˆt  yt  ˆ  ˆ xt

2ºpasso: substituir os resíduos no modelo de correção dos erros e estimar


novamente a seguinte equação:

yt  1xt  (1   )uˆt 1

Este método apresenta duas desvantagens:

-Não podemos estimar diretamente os efeitos de longo prazo,

-Tem sido demonstrado que os coeficientes estimados são enviesados em


amostras pequenas.

6.4. As vantagens da metodologia Hendry

-Os erros duma especificação incorreta são reduzidos,

-Permite uma escolha segura entre modelos alternativos compatíveis com a


teoria económica,

-Define a estrutura dinâmica dos modelos e distingue os efeitos de curto e


longo prazo,

-Evita correlações falsas (MCE) que podem surgir quando as variáveis são
não estacionárias (com média, variância e covariâncias não constantes ao
longo do tempo).

-As variáveis em primeiras diferenças na maioria dos casos são estacionárias,


e esta é a vantagem da estimação do MCE.

-Reduz-se o risco de multicolinearidade entre as variáveis explicativas uma


vez que estas são expressas em diferenças,

-O MCE normalmente contêm erros não autocorrelacionados

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REFERÊNCIAS

Gujarati Damodar (2003). Basic Econometrics, 4th edition, p.824-826.

Dougherty Christopher (2007). Introduction to Econometrics, 3rd Edition, John Smith &
Son, Oxford, p. 403-406.

Wooldridge Jeffrey (2003). Introductory Econometrics, 2nd Edition, Thomson, p.620-622.

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Exercícios

Exercício 1: Considere o modelo das importações para Portugal

1.1. Tendo em consideração o modelo ADL(1,1), verifique se o modelo com taxas de


crescimento é uma solução alternativa (sugestão: testar restrições lineares
adequadas).
1.2. Demonstre que o Modelo de Correção dos Erros (MCE) é uma especificação
alternativa do modelo ADL(1,1), recorrendo a uma reparametrização. Enumere as
vantagens do MCE.
1.3. Estime o modelo MCE pelo método de Engle-Granger e interprete devidamente os
coeficientes estimados.
1.4. Com base em testes diagnósticos adequados explique se o MCE é satisfatório.
1.5. Teste a estabilidade do modelo MCE (teste de Chow)
1.6. Com base no modelo MCE, faça uma predição para os quatro últimos anos

Exercício 2. Emissão de CO2 em Portugal

Pretende-se analisar os fatores que explicam a poluição ambiental em Portugal. Com


esse objetivo, recolheram-se dados para o período de 1960-2006 para as seguintes
variáveis:

CO2pc - emissões de dióxido de carbono per capita em toneladas,


PIBpc - Produto Interno Bruto per capita em milhares de euros
DensPop – Densidade populacional, nº de pessoas por km2 em milhares.

Os dados se encontram no ficheiro CO2_Portugal.gdt

2.1. Estime a função em baixo e verifique se a curva de Kuznets é válida (a partir de um


determinado nível de desenvolvimento os países começam a tomar medidas com vista a
reduzir a poluição do ambiente).
CO 2 pc t  b0  b1 PIBpc t  b2 PIBpc t2  b3 DensPop t  b4 DensPop t2  u t

2.2. Analise os resultados do modelo estimado anterior. Considera a estimação satisfatória?

2.3. Estime o modelo de correção dos erros

 ln CO 2 pc t  b0  b1  ln PIBpc t  b2  ln DensPop t  b3uˆ t 1

2.4. Analise os resultados obtidos justificando se a estimação é satisfatória

2.5. Interprete devidamente os valores dos coeficientes estimados.

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