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AS FASES DE DESENVOLVIMENTO DE PIAGET

Segundo Piaget, cada período é caracterizado por aquilo que, de melhor o indivíduo consegue
fazer nessas faixas etárias. Todos os indivíduos passam por todas essas fases ou períodos,
nessa sequência, porém o início e o término de cada uma delas dependem das características
biológicas do indivíduo e de fatores educacionais, sociais. Portanto, a divisão nessas faixas
etárias é uma referência, e não uma norma rígida.

Para Cunha (2002), o desenvolvimento intelectual, segundo Jean Piaget envolve quatro
períodos de desenvolvimento vivenciados de forma sequencial, considerando os
determinantes de natureza biológica. Cada fase do desenvolvimento prepara, ou seja, alicerça
a fase seguinte de maneira que as aquisições ocorridas em uma fase ou período, constituem
pré-condição para a seguinte. Especificamente em relação às fases de desenvolvimento e nelas
a expressão da capacidade de apreensão do conhecimento pelo sujeito epistêmico.

As fases de desenvolvimento da teoria de Piaget:

• período Sensório-motor (0 a 2 anos);

• período Pré-operatório (2 a 7 anos);

• período das Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos);

• período das Operações formais (11 ou 12 anos em diante).

A partir dessa afirmação e considerando as pesquisas de Piaget, passaremos então a discorrer


sobre o que se acha reservado para cada fase do desenvolvimento humano, de acordo com
Bock (1993, p. 84-90), a saber:

a) Período Sensório-Motor: (recém-nascido e o lactente - 0 a 2 anos)

De acordo com Cunha (2002), a característica central do primeiro período de


desenvolvimento, denominado sensório-motor, é a inexistência de representações e ou
imagens mentais dos objetos que entornam a criança. Nesse período o conhecimento se
processa a partir de impressões que chegam ao organismo, via órgãos dos sentidos (por isso a
denominação de Sensório – da sensação e Motora – do movimento motor).

Para em Bock et al (1993), no recém-nascido, a atividade mental acha-se restrita aos reflexos,
de fundo hereditário, como a sucção, por exemplo e tais reflexos vão aprimorando a partir de
sua prática ou treino.

Conforme Cunha (2002), nesse período de desenvolvimento o processo predominante será o


da assimilação, que começa com os reflexos, ou seja, com as estruturas inatas, os quais
possibilitam, ao recém-nascido, o estabelecimento dos primeiros contatos com os objetos que
o cerca favorecendo-o as construções dos primeiros referencias cognitivos que para o autor,
nesse período apresentam-se um tanto pouco desenvolvidos.
Como exemplo, Cunha destaca a passagem do reflexo de preensão para o de agarrar. O que
significa já estar ocorrendo o processo de acomodação além da assimilação.

Para Rappaport (1981), essa fase do desenvolvimento representa na verdade para o bebê, uma
conquista visto o seu aprendizado, por meio da percepção e dos movimentos, considerando o
universo da cotidianidade em que esteja inserido. Ou, melhor dizendo, por meio dos esquemas
sensoriais-motores irá permitir ao bebê a organização inicial dos estímulos ambientais,
permitindo que, ao final do período ele tenha condições de lidar, embora de maneira
rudimentar, com a maioria das situações que lhe são apresentadas. (p. 66).

Para ela, nessa fase o eu do bebê encontra-se no centro da realidade visto que ele não
apresenta capacidade do que chamamos de consciência de si mesmo e, somente quando vai se
constituindo como sujeito concreto, interno e subjetivo, o mundo externo vai ganhando
objetividade.

Cunha (2002) destaca um experimento clássico de Piaget, no qual ele observa a atitude de um
bebê quando um brinquedo cai de suas mãos e rola para baixo de algum móvel,
desaparecendo de seu campo visual. O que acontece nesse experimento é que a criança não
busca encontrar o objeto, mesmo tendo presenciado e visto o objeto rolar para debaixo da
mobília. Conforme destaca Cunha, para a criança o objeto deixa de existir em função de ter
desaparecido de seu campo visual.

Conclui então o autor que, para a criança, o brinquedo deixa de existir quando não é
visualizado. Contudo destaca que deixa de existir, “obviamente do ponto de vista da criança,
para quem a realidade depende das impressões sensoriais que recebe”. (CUNHA, 2002, p.82).

Conforme Bock et al (1993), os avanços intelectuais que vão se organizando na construção de


conhecimentos, alcança a dimensão do afeto uma vez que o bebê passa das emoções primárias
(os primeiros medos, quando, por exemplo,ele se enrijece ao ouvir um barulho muito forte)
para uma escolha afetiva de objetos (no final do período), quando já manifesta preferências
por brinquedos, objetos, pessoas, etc. (BOCK ET AL., 1993, p.84).

b) Período pré-operatório (ou a primeira infância - 2 a 7 anos)

Período da Representação, da Linguagem e da Socialização

Conforme evidencia Cunha (2002), o aspecto mais destacado desta fase do desenvolvimento é
a capacidade de representação – ou a transformação de esquemas de ações em esquemas
representativos. A partir do dito por Cunha, no decorrer deste período, a linguagem vai
deixando de ser representativa para assumir configurações socialmente convencionais.

Em Bock et al (1993), em função do notável relevo da linguagem, o desenvolvimento do


pensamento ganha celeridade sendo por isso que esta é a conhecida fase dos famosos
"porquês".
Segundo Rappaport (1981), neste período do desenvolvimento, o egocentrismo se caracteriza
por uma visão do real que tem por referência o próprio eu, ou seja, a criança nessa fase não
concebe uma situação no mundo sem que não faça parte, desse modo, ela confunde-se com
objetos e pessoas atribuindo-lhes seus próprios pensamentos.

Assim, a criança pode dar explicações animistas, frente a acontecimentos por ela vividos, ou
seja, a criança irá atribuir características humanas para animais, plantas e objetos, por
exemplo, “dizer que a boneca vai dormir porque está com sono ou que a panela está sentada
no fogão.” (RAPPAPORT, 1981, p. 69).

Período Pré-Operatório e os elementos da Afetividade

Conforme indicam Rappaport (1981), Ries (2007), e Bock et al (1993), neste período do
desenvolvimento, os elementos da efetividade destacam-se pelos sentimentos interindividuais,
sobretudo aqueles sentimentos que a criança desenvolve por pessoas as quais julga superiores
a ela.

Bock et al (1993, p. 86) destaca como “por exemplo, em relação aos pais, aos professores. É
um misto de amor e temor. Seus sentimentos morais refletem esta relação com os adultos
significativos – a moral da obediência - em que o critério de bem e mal é a vontade dos
adultos”.

Já com referência à linguagem, Rappaport (1981), assegura que nesta fase do


desenvolvimento, a criança apresenta tanto a linguagem socializada- aquela linguagem
intencionalmente com fins de comunicação – como uma linguagem egocêntrica - aquela que
não necessita de um interlocutor, pois não possui a intenção de comunicação. Para ela, quanto
menor a criança, mais se destaca a linguagem egocêntrica em relação à linguagem socializada.

a) Período das operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)

A partir dos estudos postos em Cunha (2002), nessa fase do desenvolvimento, o processo de
pensar da criança alcança a capacidade de operar mentalmente visto que não possuía em
função de operar por representações. Para Cunha, embora consiga operar mentalmente, essas
operações possuem um caráter concreto, ou seja, precisam realizar parte da tarefa
empiricamente, ou com a presença e apoio de suportes de objetos e materiais concretos.

Para Rappaport (1981), nessa fase do desenvolvimento se identifica um significativo declínio


do egocentrismo intelectual e certa ascensão do pensamento lógico. Para esta autora, o que
marca esta fase do desenvolvimento, seria a organização de esquemas visando à aquisição dos
elementos conceituais, sendo, portanto, sua relação com o mundo muito mais mediada pelos
elementos racionais e muito menos pela assimilação egocêntrica.
No que se refere ao desenvolvimento da linguagem verifica-se um encolhimento da
linguagem egocêntrica até o seu total desaparecimento. Já, quanto ao desenvolvimento social,
este ocorre não só e ao mesmo tempo em que o desenvolvimento intelectual, mas acaba por
configurar como um dos aspectos mais evidentes neste período. Nessa fase do
desenvolvimento, se observa na criança uma interação mais genuína e mais efetiva, isso, tanto
com relação aos outros colegas, como com referência aos adultos de sua convivência.

b) Período das operações formais (+ ou - 12 anos em diante)

Para Piaget, entre os 12 e 16 anos, o sujeito experiencia a fase de desenvolvimento chamada


de operações formais. A característica focal desta fase é a transformação dos esquemas
cognitivos, operados concretamente em esquemas baseados na realidade imaginada.

Para Bock et al (1993, p.89), neste período, o adolescente possui condições intelectuais para
elaborar conceitos éticos como liberdade, justiça e outros. Conforme esta pesquisadora, neste
período “o adolescente domina, progressivamente, a capacidade de abstrair e generalizar, cria
teorias sobre o mundo, principalmente sobre aspectos que gostaria de reformular”.

De acordo com Cunha (2002), nesta fase pode acontecer de o jovem imaginar sociedades
alternativas, sistemas filosóficos perfeitos e busca por profissões inusitadas. Há acordo entre
os pesquisadores de que esta fase abre-se para o indivíduo largos horizontes de possibilidades
de transformações, tanto do próprio jovem como do mundo que o cerca em função de
realidades que ele passa a dominar em virtude dos recursos intelectuais mais avançados e
pertinentes ao seu desenvolvimento.

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