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DIREITO PENAL MÉDICO E OS criminal-law issues involving euthanasia,

assisted suicide, dysthanasia and


HARD CASES: EUTANÁSIA,
orthothanasia
SUICÍDIO ASSISTIDO,
KEYWORDS: Medical Criminal Law.
DISTANÁSIA E ORTOTANÁSIA
Euthanasia. Assisted suicide. Dysthanasia.
Orthothanasia

Márcia Maria Pazinatto32 e Sebastião


Augusto de Camargo Pujol33 I – O CÓDIGO PENAL DE 1940

A Parte Especial do atual Código

RESUMO: Vida e Morte são dois Penal Brasileiro foi editada pelo Decreto-
acontecimentos inevitáveis na finitude da Lei n.º 2.848 de 07.12.1940, tendo entrado
trajetória humana. São fenômenos que
atravessam os estudos da ciência médica e em vigor em 01.01.1942, época em que a
das ciências jurídicas. Nesse sentido a República Federativa do Brasil era regida
primeira encontra a segunda, e, assim,
Direito e Medicina se unem, do que resulta pela Constituição outorgada de 1937 e o
o denominado Direito Médico. A proposta Presidente da República era Getúlio
do artigo é estabelecer um recorte com
foco no estudo do Direito Penal Médico e Vargas que havia dissolvido o Parlamento
seus casos difíceis (Hard Cases). e fechado o Congresso Nacional.
Delimita-se a reflexão jurídica para as
questões jurídico-penais envolvendo a O Decreto-Lei era espécie
eutanásia, o suicídio assistido, a distanásia normativa prevista na Constituição de
e a ortotanásia.
1937 que não vedava a hipótese de se
Palavras-chave: Direito Penal Médico; legislar através deste. Embora a atual
Eutanásia; Suicídio Assistido; Distanásia
e Ortotanásia. Constituição Federal de 1988 não o admita
mais como espécie legislativa, a doutrina
ABSTRACT: Life and Death are two
inevitable events in the finitude of the e a jurisprudência pacificaram o
human trajectory. These are phenomena entendimento de que o atual Código Penal
that cross the studies of medical science
and the legal sciences. In this sense foi recepcionado pela atual Carta Magna
medical science meets legal science. And como se lei ordinária federal fosse.
so law and medicine unite what results in
the so-called medical law. The purpose of Na década de 1940, o cenário interno da
the article is to establish a focus focusing sociedade brasileira correspondia a uma vida
on the study of medical criminal law and
its hard cases. Legal reflection on predominantemente rural com uma população de

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Aluna do décimo semestre da FADIPA Professor da FADIPA e Doutorando no DPM
pela FADUSP

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41,1 milhões. A urbanização caminhava a passos Antonio José da Costa e Silva,
lentos. E, no cenário internacional, a política Desembargador do Tribunal de Justiça de
externa brasileira havia aderido aos Aliados São Paulo, e Abgar de Castro Araújo
contra o Eixo na II Guerra Mundial. Renault.
O Estado brasileiro seguia o ciclo E assim foi editado o Código Penal
de poder político autoritário e centralista de 1940, sendo certo que em 1984 foi
getulista conhecido como Estado Novo a promulgada a Lei Federal 7.209/1984, a
partir da Constituição de 1937 em que o qual alterou a Parte Geral do Código Penal
Presidente tinha o poder de governar Brasileiro, de modo que hoje se tem na
através de tais decretos-leis. Havia uma legislação repressiva brasileira uma parte
contradição entre a ditadura no âmbito geral de 1984 e uma parte especial de
interno e o apoio externo do Brasil à luta 1940.
pela Democracia dos Aliados no conflito Esse diploma repressivo sofreu
bélico internacional. alterações pontuais, fazendo com que a
No contexto desse dilema entre o sistematicidade, o encadeamento lógico e
autoritarismo interno e o apoio externo às a operatividade do raciocínio jurídico-
democracias, Francisco Campos, novo penal ‒ características típicas do
Ministro da Justiça, designou em 1938 fenômeno da codificação ‒ tornassem-se
José D`Oliveira de Alcântara Machado, mais complexos, de modo a exigir
que era professor de Medicina Legal da trabalho redobrado para a dogmática
Faculdade de Direito de São Paulo, e uma jurídico-penal.
das expressões da oposição ao governo
Vargas, para estudar a mudança da
II - AS TECNOLOGIAS EMERGENTES
legislação penal e elaborar um anteprojeto
de um novo Código Penal Brasileiro.
Após a apresentação do Desde a edição do Código Penal de
anteprojeto do novo Código Penal por 1940, as tecnologias emergentes na área
Alcântara Machado, Getúlio Vargas médica têm trazido aquilo que é
nomeou uma Comissão Revisora denominado como modernidade
composta por Nelson Hungria, Vieira ambivalente, pois ao solucionar um
Braga, Narcélio de Queiroz e Roberto problema paradoxalmente exsurgem
Lyra, com a liderança do primeiro, bem outros. A partir da década de 1950,
assim com as colaborações dos penalistas entraram em cena os respiradores ou

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ventiladores mecânicos, que permitiram a sentenciado interpôs recurso de apelação e
manutenção artificial da respiração de a 5.º Câmara do Tribunal de Alçada
pacientes. E depois disso apareceram as Criminal de São Paulo por votação
modernas técnicas ou manobras de majoritária deu provimento ao apelo para
reanimação cardiorrespiratória, absolver o réu, ao fundamento da
ventilações assistidas, desfibriladores, inexistência de dolo na conduta do médico
máquinas de diálise e desenvolvimento de (Recurso de Apelação n.º 201.999,
aparelhagem moderna de unidades de Rel.designado Denser de Sá, data do
terapia intensiva – UTIs, que ampliaram a acórdão : 06.11.1979, com declaração de
perspectiva terapêutica com ampliação do voto vencido do Des.Octávio Roggiero).
suporte avançado de vida para disfunções Observe-se que o crime de lesão
orgânicas. corporal gravíssima não foi alterado,
Na década de 1970, foi realizada a permanecendo a mesma redação do
primeira cirurgia de redesignação de sexo Código Penal de 1940. O que mudou foi a
no Brasil. Essa manobra cirúrgica também interpretação da incidência ou não
é denominada transexualismo que consiste incidência dessa figura penal para o caso
na “ablação de órgãos genitais masculinos da cirurgia de redesignação de sexo. No
e abertura, no períneo, mediante incisão, caso concreto em tela, um juiz de primeira
de fenda, à imitação de vulva postiça” (RT instância e um desembargador de segunda
545/355 de março de 1981). Esse instância entenderam pela configuração
procedimento médico complexo foi típica. No entanto, dois desembargadores
realizado em 1971 no Hospital Oswaldo com votação vencedora entenderam pela
Cruz em São Paulo. não incidência penal.
O médico cirurgião responsável E hoje tal cirurgia de
pela intervenção cirúrgica foi processado transexualismo é regulamentada pelo
criminalmente pela prática do delito de Conselho Federal de Medicina – que é
lesão corporal dolosa gravíssima uma autarquia federal vinculada à
tipificado no artigo 129, §2.º, inciso III, do Administração Indireta – através da
Código Penal Brasileiro (qualificadora da Resolução CFM 1955/2010, que dispõe
perda ou inutilização do membro, sentido sobre a cirurgia de transgenitalismo,
ou função). O juízo de primeira instância descrita como uma cirurgia de
da Comarca de São Paulo prolatou transformação plástico-reconstrutiva da
sentença penal condenatória. O genitália externa, interna e caracteres

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sexuais secundários, esta não constitui célula-mãe responsável pela formação de
crime de mutilação, previsto no artigo 129 gametas presentes nas glândulas sexuais
do Código Penal Brasileiro, pois tal ato femininas e masculinas e suas
cirúrgico tem escopo terapêutico descendentes diretas em qualquer grau de
específico de adequar a genitália ao sexo ploidia (inciso X).
psíquico. As tecnologias emergentes em
As novas tecnologias já permitem constante mutação abriram os horizontes
a edição genômica mediante o para formação de um novo capítulo nos
acoplamento do Clustered Regularly estudos do direito penal denominado
Interspaced Short Palindromic Repeats - direito penal médico, que vai
CRISPR e do sistema Cas9. O novo paulatinamente abandonando o modelo
Código de Ética Médica aprovado pela paternalista da medicina da intervenção
Resolução CFM n.º 2.217/2018, veda, no médica, passando a prestigiar cada vez
artigo 16, ao médico intervir sobre o mais a autonomia do paciente na relação
genoma humano com vista à sua médico-paciente.
modificação, exceto na terapia gênica,
excluindo-se qualquer ação em células
III – O DIREITO (PENAL) MÉDICO
germinativas que resulte na modificação
genética da descendência.
A Lei 11.105/2005, conhecida O estudo mais vigoroso do direito
como Lei da Biossegurança, tipifica, no penal médico foi realizado pelo penalista
artigo 25 como crime de ação penal alemão Albin Esser. A sua obra seminal
pública incondicionada, a conduta de foi traduzida para o espanhol com o título
praticar engenharia genética em célula de Estudios de Derecho penal médico.
germinal humana, zigoto humano ou Ainda no direito comparado, destaca-se o
embrião humano, com pena de reclusão de penalista português Jorge de Figueiredo
1 (um) a 4 (quatro) anos e multa. A Dias na produção de artigo científico
referida lei foi regulamentada pelo intitulado Na era da tecnologia genética
Decreto n.º 5591/2005 que conceituou, no que caminhos para o direito penal
artigo 3.º, engenharia genética como médico?
atividade de produção e manipulação de Por essa postulação, o direito penal
moléculas de ADN/ARN recombinante médico estaria inserido num contexto não
(inciso VI); célula germinal humana é a setorial, mas sim integrado ao direito da

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medicina. Toda evolução tecnológica na psíquica, embora a finalidade da
medicina constitui polo gerador de intervenção médica seja idealmente
mudanças sociais e de novos problemas terapêutica e curativa objetivando,
que mais cedo ou mais tarde terão que ser notadamente, a obtenção de melhores
enquadrados e regulados pelo Direito. condições de bem estar e saúde dos
O “admirável mundo novo” criado pacientes.
pela biotecnologia produz novos A incriminação da conduta médica
problemas que devem ser solucionados mais frequente diz respeito às condutas
pelo Direito. A tecnologia na área médica negligentes configuradoras das infrações
tem viabilizado novos testes, análises e penais de homicídio culposo (artigo 121, §
diagnósticos genéticos, condensando-se 3.º do CPB) e lesão corporal culposa
na medicina preditiva e preventiva, com (artigo 129, §6.º do CPB), sendo o
diagnósticos pré-conceptivos, pré- primeiro crime de ação penal pública
implantatórios e pré-natais, e o incondicionada e o segundo crime de ação
estabelecimento de protocolos e critérios penal pública condicionada à
com exames clínicos e complementares representação da vítima (artigo 88 da Lei
para estabelecimento do momento da 9.099/1995).
morte e a definição jurídico-penal do E mais ainda, alargando-se o rol de
momento do início da vida. problemas suscitados pela intervenção
O direito penal médico clássico médica, tem-se que o Direito Penal
estava a tutelar os bens jurídicos Médico abrange, também, as seguintes
individuais. Todavia, com o advento da questões de relevância jurídico-penal:
sociedade de risco pós-industrial, o direito
penal médico passou a tutelar bens
jurídicos supraindividuais, como as DIREITO PENAL MÉDICO
“novas medicinas” genéticas, PROBLEMA RELEVÂNCIA
reprodutivas, preditivas e preventivas. JURÍDICO PENAL

A profissão médica é aquela que Problemas do Violação de segredo


regime de profissional – artigo
apresenta o maior potencial de conflito
confidencialidade 154 do CPB; crime de
com o Direito Penal, pois a atividade
e segredo ação penal pública
médica incide sobre os bens jurídicos
condicionada à
mais importantes da condição humana
representação da
que são a vida e a integridade física e

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vítima (§ único do art. Problemas afetos Responsabilidade
154 do CPB) às neurociências: penal/inimputabilidade
Problemas do Aborto (artigos 124- livre arbítrio e (artigo 26 do CPB)
início da vida 128 do CPB) e determinismo
Infanticídio (art. 123 Problemas afetos Lei 11.105/2005,
do CPB) à genética artigo 25; engenharia
Problemas do fim Homicídio doloso genética não
da vida (artigo 121, caput) e autorizada
Homicídio Problemas afetos
privilegiado/Eutanásia à Bioética:
(art. 121, §1.º do CPB paternalismo x
– motivo de relevante autonomia da
valor moral) vontade
Problemas afetos Problemas
à evolução dos vinculados à
sistemas de apoio comercialização
artificial à vida ilícita e direitos
Problemas afetos Homicídio doloso (art. de propriedade
ao auxílio clínico 121, caput, CPB) industrial de
à morte ou ao medicamentos
suicídio assistido Problemas
Problemas Lei 9.434/1997 (Lei de ligados ao
jurídico-penais Transplantes) testamento vital e
dos transplantes ao consentimento
Problemas Cárcere privado informado
ligados à qualificado (artigo
intervenção 148, §1.º, inciso II, do
O limite textual deste artigo impõe
clínica na saúde CPB)
a necessidade de um recorte nesse
mental
Problemas
mapeamento das incriminações de

vinculados à problemas enfrentados pelo Direito Penal


procriação Médico. Assim é que serão abordadas as
medicamente questões penais afetas à eutanásia,
assistida ortotanásia e distanásia e suicídio
assistido.

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IV – O DIREITO PENAL CLÁSSICO subsidiariedade, da intervenção mínima,
E O DIREITO PENAL MODERNO da fragmentariedade e da lesividade.
CONTEMPORÂNEO: DOGMÁTICA Frise-se que por dogmática
E ZETÉTICA JURÍDICA jurídico-penal entende-se “a disciplina
que se ocupa de interpretação,
sistematização, elaboração e
O Direito é a disciplina da desenvolvimento das disposições legais e
convivência humana. Essa é a lição magna da doutrina científica no campo do Direito
do Professor Goffredo Telles Junior. O Penal” (ROXIN, 2006, p.192). A tarefa da
direito é uma disciplina prescritiva voltada dogmática jurídico-penal ‒ inteiramente
para a solução de problemas jurídicos. O focada no direito em vigor‒- é apreender
método dogmático é peculiar ao direito. A conceitualmente o conteúdo e a estrutura
dogmática jurídica é uma forma de pensar dos princípios jurídicos do direito penal,
o Direito ancorado nas formas jurídicas, a reorganizando os conceitos singulares,
partir da inegabilidade do ponto de partida assim adquiridos, em um sistema
das normas jurídicas. científico logicamente irrepreensível
A subsunção é o método (WÜRTENBERGER, 1965, p.1).
privilegiado do pensamento jurídico Malgrado, com o advento da
dogmático, em que o raciocínio silogístico denominada sociedade de risco,
preside a aplicação do direito em que a caracterizada pela complexidade,
premissa maior é o texto legal, a premissa globalidade e dinamismo social, com
menor é representada pelos fatos e a novas demandas de regulação penal de
conclusão é materializada pela decisão atividades capazes de produzir perigos,
judicial constitutiva da norma jurídica novos horizontes entreabriram-se para o
individual. denominado Direito Penal
Por muito tempo, a partir da obra Contemporâneo. As tecnologias
de Beccaria, o Direito Penal Clássico foi emergentes trouxeram para o Direito
regido pela matriz hermenêutica da novos problemas para serem enfrentados
dogmática jurídica como ingrediente pelo Direito da Medicina, como
fundamental para a interpretação e transplante de órgãos, critérios jurídicos
aplicação do Direito Penal, enraizado nos para o estabelecimento do momento do
pressupostos da estrita legalidade, da início e do fim da vida, novos remédios e
proporcionalidade, da causalidade, da prolongamento da vida.

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Essa problematização das questões problematização dos frequentes casos
jurídicas abre perspectivas para a apresentados pela biotecnologia do
denominada zetética jurídica como prolongamento da vida e os consectários
metodologia complementar para a práxis problemas de eutanásia, suicídio assistido,
do Direito em ação que, nas palavras de ortotanásia e distanásia.
Roscoe Pound, migraria do denominado Contudo, como já frisado, o
law in the books para o law in action. E enfoque privilegiado do direito sempre
nesse contexto de problematização será o dogmático, tendo em vista a
exsurge a Tópica Jurídica, fundada pelo decidibilidade das questões jurídicas. A
jurista alemão Theodor Viehweg, como adesão da dogmática jurídica ao direito
uma técnica de pensamento problemático legislado constitui sua função precípua.
em que se encaram os problemas pela Contudo, a dogmática jurídica possui
perspectiva de diferentes pontos de vista outra função aparentemente incoerente
chamados topoi. com aquela, que consiste em reformular o
A dogmática jurídica sempre será a direito legislado, “propondo exatidão para
modalidade de investigação triunfante e seus termos vagos, completando suas
apegada ao direito positivo, posto que, na lacunas, resolvendo suas incoerências e
discussão das questões jurídicas, a todo ajustando suas normas a determinados
momento será colocada a questão da ideais axiológicos” (NINO, 2010, p.384),
decidibilidade jurídica, cuja solução promovendo, destarte, a reconstrução do
resulta na aplicação do direito legislado ou direito.
norma positivada. Essa função de reconstrução do
O problema é que nos casos direito pela dogmática jurídica não se
difíceis, hard cases ‒ entendidos como realiza de forma aberta, mas sim de modo
aqueles “cuja solução não se encontra pré- encoberto, “utilizando um aparato
pronta no ordenamento jurídico, exigindo conceitual retoricamente eficaz que
uma atuação criativa do intérprete” cumpre a função de fazer surgir as
(BARROSO, 2017, p.33) ‒ tem-se que soluções originais por ela propostas, como
não se localiza com facilidade a norma- se derivassem, de alguma maneira, às
regra ou norma-princípio regente do vezes misteriosa, do direito positivo”
problema colocado em debate. Daí a (NINO, 2010, p.384).
emergência da zetética jurídica como
modalidade de investigação inicial para a

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V – A RENOVAÇÃO DO DIREITO: assistido, distanásia e ortotanásia é uma
O HIATO ENTRE A LEGISLAÇÃO das questões mais complexas para o
PENAL E A REALIDADE direito, dado que a morte é um tabu, apesar
de a finitude da vida ser verdade
incontestável e fato inevitável. Afirma
Diante do quadro exposto de Roxin que “os problemas existenciais que
tecnologias emergentes e do “avassalador surgem em decisões sobre a vida e a morte
avanço do conhecimento científico- dificilmente podem ser regulados através
tecnológico em que a natureza deixou de de normas abstratas, pois o direito vive de
ser um dado para ser um construído da situações cotidianas tipificáveis, nem
ação humana” (LAFER, 2018), “o jurista sempre conseguindo, em sua necessária
está no mundo de hoje como deve ter conceituação generalizante, dar um
estado o geógrafo na época das tratamento adequado ao processo
descobertas” (SAN TIAGO DANTAS, individual e irrepetível da morte”.
2001). (ROXIN, 2000, p. 9).
O que se verifica é um hiato entre Outrossim, a discussão e o
a legislação penal e a realidade enfrentamento desse tema, o qual não é
tecnológica da biomedicina. As propostas exclusivo da seara penal, encontra limites
de alteração e atualização da legislação em áreas como a medicina, filosofia,
penal em temáticas da bioética e do teologia e outras, que contribuem para o
biodireito não avançam no Congresso debate ao mesmo tempo que dificultam o
Nacional, devido ao método aberto ao consenso. No entanto, a morte é um
debate que pode durar meses, com fendas processo natural da existência humana e,
a obstruções que podem paralisar os como tal, deve ser respeitado e debatido.
trabalhos legislativos. E o que se vê é o Há, no Brasil, limitações no que
fenômeno da legiferação governamental tange às decisões sobre a doença e a morte.
de assuntos da bioética pelo Conselho A eutanásia e o suicídio assistido são
Federal da Medicina, que é uma autarquia práticas proibidas no ordenamento
federal vinculada à Administração jurídico brasileiro, inclusive, com
Indireta. (FERREIRA FILHO, 2009, implicações penais. No entanto, a
p.261). ortotanásia, prática reconhecida pelo
Especificamente, discutir o fim da Conselho Federal de Medicina, Resolução
vida e legislar sobre eutanásia, suicídio CFM nº 1.805/2006, admite o seguinte:

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[...] na fase terminal de Luís Roberto Barroso afirma que
enfermidades graves e incuráveis é
permitido ao médico limitar ou “antes temiam-se as doenças e a morte.
suspender procedimentos e
tratamentos que prolonguem a vida Hoje, temem-se, também, o
do doente, garantindo-lhe os
cuidados necessários para aliviar os
prolongamento da vida em agonia, a morte
sintomas que levam ao sofrimento, adiada, atrasada, mais sofrida”. Em regra,
na perspectiva de uma assistência
integral, respeitada a vontade do a prática da distanásia consiste em
paciente ou de seu representante
legal. (CFM, Resolução nº tratamentos médicos que têm por objetivo
1.805/2006).
prolongar a vida do doente em fase
terminal. Também conhecida como
Para melhor compreensão das
obstinação terapêutica, essa prática se
implicações jurídicas de cada uma dessas
tornou padrão em pacientes terminais,
práticas, necessária se faz a diferenciação
excluindo a decisão dos pacientes ou dos
entre eutanásia, suicídio assistido,
familiares. (BARROSO, 2018, p.46).
distanásia e ortotanásia. Consoante Roxin,
E a ortotanásia, prática
“por eutanásia entende-se a ajuda que é
regulamentada pelo Conselho Federal de
prestada a uma pessoa gravemente doente,
Medicina na Resolução 1.805/2006, aplica
a seu pedido ou pelo menos em
cuidados paliativos que permitem que a
consideração à sua vontade presumida, no
morte siga seu curso natural, no tempo
intuito de lhe possibilitar uma morte
adequado, sem aplicação de métodos de
compatível com a sua concepção da
prolongamento de vida, como medidas
dignidade humana”. (ROXIN, 2000, p. 9).
invasivas ou respiração artificial, e sem
Consiste no suicídio assistido,
sofrimentos adicionais para aquele que se
também conhecido como suicídio
encontra em fase terminal.
eutanásico ou autoeutanásia, a iniciativa
Deve-se, ainda, observar a
de uma pessoa que, gravemente doente,
distinção entre o direito a uma morte digna
escolhe dar fim à própria vida. Essa
e o direito de decidir sobre a morte. “O
prática conta com auxílio moral ou
direito de morrer dignamente está
material de um terceiro. Aqui, o terceiro
relacionado cao desejo de se ter uma morte
não intervém diretamente no evento
natural, humanizada, sem o
morte, apenas presta assistência por
prolongamento da vida e do sofrimento
motivos humanitários. (SOUZA, 2009,
por meio de tratamento inútil.
p.68).
O debate dessas práticas no Brasil
deve ser posto pelo Direito Penal,

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considerando conjuntamente a O desenvolvimento científico,
Constituição Federal de 1988, seus apesar de haver proporcionado
princípios e observância aos direitos descobertas importantes e prolongado a
fundamentais. À vista disso, a dignidade expectativa de vida da população,
da pessoa humana, qualificada como um contribuiu também para o prolongamento
dos fundamentos de um Estado do processo de morte em situações
Democrático de Direito e instituída no terminais. A obstinação terapêutica, ou
artigo 1º da Constituição Federal do distanásia, que prevê tratamentos
Brasil, em sua dimensão individual ou extraordinários, prorroga o sofrimento e se
dignidade com autonomia, salvaguarda a impõe, muitas vezes, porque não há
liberdade de escolha; e, em sua dimensão legislação federal que proteja o médico e
social ou dignidade como heteronomia, o permita atender a um desejo do paciente
reconhece a atuação do Estado e impõe que solicita apenas os cuidados paliativos
limitações ao direito individual. Havendo necessários em sua fase terminal.
colisão entre essas concepções de Considerando a autonomia e a
dignidade, qual deve prevalecer? dignidade do paciente e o desempenho
ético do médico, o Conselho Federal de
VI – A DIGNIDADE DA PESSOA Medicina editou, em 2006, a Resolução nº
HUMANA E O DIREITO À MORTE 1.805/2006, que regulamentou a prática da
DIGNA ortotanásia, com fundamento no Princípio
da Dignidade da Pessoa Humana, previsto
O século XX proporcionou
na Constituição Federal brasileira de
consistente desenvolvimento à Medicina
1988, em seu artigo 1º, inciso III.
no combate e prevenção de doenças e
A Constituição Federal do Brasil
contribuiu também para a evolução do
de 1988 reconhece que cada ser humano
conceito de saúde, que passou a ser
deve ser respeitado por seu valor
entendida como “um estado de completo
intrínseco e único. A dignidade pode ser
bem-estar físico, mental e social e não
traduzida pelo compromisso que cada
somente a ausência de afecções e
pessoa tem com sua própria vida,
enfermidades”, de acordo com a
respondendo por suas escolhas, não
Organização Mundial de Saúde (OMS).
devendo ser alvo de metas coletivas
(SCLIAR, 2007, p.37).
definidas pelo Estado. Luís Roberto
Barroso afirma que, como regra, “as

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decisões cruciais na vida de uma pessoa que envolve as escolhas do sujeito; e a
não devem ser impostas por uma vontade dimensão social ou dignidade como
externa a ela”. (BARROSO, 2018, p.63). heteronomia, que é reproduzida pela
A dignidade da pessoa humana atuação do Estado, prevendo a proteção
constitui um dos principais direitos do direito individual, ao mesmo tempo em
desenvolvidos após a Segunda Guerra que protege o direito de todos os
Mundial e está presente em Constituições, indivíduos.
legislações diversas e documentos A dignidade humana como
internacionais. Por tratar-se de um autonomia inclui a capacidade de
conceito com muitos significados e autodeterminação do indivíduo e as
dimensões, não sendo possível reduzi-lo a condições para o exercício dessa
um conceito fechado. Barroso pontua que: autodeterminação, expressando o direito
de decisão sobre a própria vida e
personalidade, assumindo
No plano abstrato, a dignidade traz
em si grande força moral e jurídica, responsabilidades pelas escolhas, sendo
capaz de seduzir o espírito e angariar
adesão quase unânime. Tal fato, indispensável o provimento de meios
todavia, não minimiza a
circunstância de que se trata de uma econômicos, educacionais e psicofísicos
ideia polissêmica, que funciona, de
certa maneira, como um espelho: adequados para que a liberdade não seja
cada um projeta nela a sua própria
apenas retórica, e sim real. Inclui, ainda, a
imagem de dignidade. E, muito
embora não seja possível nem universalidade e a inerência, que
desejável reduzi-la a um conceito
fechado e plenamente determinado, exprimem o respeito que deve ser
não se pode escapar da necessidade
de lhe atribuir sentidos mínimos. conferido a qualquer pessoa,
(BARROSO, 2018, p.61).
independentemente de sua origem,
nacionalidade, cultura, opção religiosa ou
“A dignidade humana é o
étnica.
fundamento filosófico e jurídico dos
Na concepção heterônoma de
direitos fundamentais e se expressa
dignidade, os valores de uma comunidade,
juridicamente, em grande medida, por
como bem comum, interesse público,
meio dos direitos fundamentais”
moralidade, prevalecem sobre as escolhas
(COSTA, 2008, p.37). Esta, alicerce dos
individuais. De acordo com Barroso,
demais direitos e garantias fundamentais,
“nessa acepção, a dignidade não é
atende a duas dimensões: a dimensão
compreendida na perspectiva do
individual ou dignidade como autonomia,
indivíduo, mas como uma força externa a

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ele, tendo em conta os padrões A dignidade como heteronomia
civilizatórios vigentes e os ideais sociais defende a proteção de valores sociais,
do que seja uma vida boa”. (BARROSO, limitando a capacidade de
2018, p.68). autodeterminação, enquanto a dignidade
Há decisões judiciais que como autonomia defende a capacidade de
corroboram a ideia de dignidade como autodeterminação, desde que respeitados
heteronomia. Essas decisões, em os direitos de terceiros. Consoante
diferentes partes do mundo, consideram Barroso, a respeito do conceito de
que há um limite do qual a pessoa possa dignidade como autonomia, prevalecem as
dispor da sua própria dignidade, escolhas pessoais, e no conceito de
considerando o conceito de moral de dignidade como heteronomia, o
forma abrangente, impondo certos paternalismo.
comportamentos. A respeito da discussão sobre o
No Brasil, em 2007, o Ministério direito de morrer, a dignidade como
Público ajuizou a ação civil pública autonomia aceita as modalidades de morte
2007.34.00.014809-3, contra a Resolução com intervenção, desde que o indivíduo
nº 1.805/2006 do CFM, que trata da tenha capacidade e manifeste seu
ortotanásia. Nessa ação estava subjacente consentimento livre e sem vícios. Por sua
a dignidade como heteronomia, que vez, a dignidade como heteronomia proíbe
considerou que tanto pacientes terminais qualquer modalidade de intervenção no
como seus familiares não seriam capazes processo de morrer.
de decidir sobre tratamentos médicos que A Constituição Federal brasileira
deveriam ou não ser realizados, de 1988 adere ao conceito de dignidade
entendendo, dessa forma, que as pessoas como autonomia, com alguns aspectos de
são, em regra, destituídas de autonomia, dignidade como heteronomia. Essa
ou seja: Constituição rompeu com o modelo
[...] a dignidade como heteronomia intervencionista anterior e foi o marco
traduz uma ou algumas concepções
de mundo e do ser humano que não inicial da democracia do Brasil. Por isso,
dependem, necessariamente, da
liberdade individual. No mais das enfatiza os direitos individuais, não
vezes, ela atua exatamente como
freio à liberdade individual em nome
deixando de lado, no entanto, o
de valores e concepções de vidas compromisso com a solidariedade social e
compartilhados. (BARROSO, 2018,
p.73). com o bem de todos. (BARROSO, 2018,
p.75).

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Nota-se, em leis e regulações, que O relator, após análise, indeferiu o
há preocupação com o consentimento dos pleito por não ter reunido as condições
sujeitos ou responsáveis, inclusive quando para seu cabimento. Em sua decisão,
se trata da morte, havendo resoluções que referiu que não há omissão legislativa
regulamentam a ortotanásia, os cuidados relativa ao direito à morte digna e que não
paliativos, a internação domiciliar e a houve inviabilidade do gozo de direito,
escolha do local da morte. uma vez que o impetrante não se
Também para a bioética, o respeito encontrava acometido por doença grave,
à dignidade da pessoa humana constitui estado terminal ou estado vegetativo
seu maior fundamento. Constata-se essa irreversível que pudesse significar
preocupação com a dignidade também em terminalidade vital.
outros documentos, como a Declaração Inconformado, o impetrante
Universal dos Direitos Humanos de 1948 impugnou a decisão monocrática por meio
e os tratados de direitos humanos que a de Agravo Regimental, também
sucederam. Assim, há esse ponto comum indeferido, sendo destaque o voto do
entre o ordenamento jurídico e a bioética. ministro Luís Roberto Barroso, que
Alfim, destaca-se o Mandado de afirmou:
Injunção 6.825/DF, em que o impetrante Não há um direito de morrer que se
contrapõe ao direito à vida. Ainda
reclamou como objeto de tal ação que a morte seja uma
inevitabilidade, não se pode aceitar
constitucional, “viabilizar o exercício do que o Estado autorize ou legitime
um direito à retirada da própria vida.
direito fundamental à morte digna”. Em A morte, portanto, não é uma
sua reivindicação, sustentou que a morte escolha que deva ser defendida por
direitos. No entanto, a vida em
digna é um direito fundamental positivado agonia também não pode ser uma
obrigação ou um dever. A dignidade
implicitamente na Constituição Federal transforma o direito à vida em algo
maior que um simples ônus. Nas
brasileira de 1988, conceituando tal direito belas palavras de Ronald Dworkin, é
ela que transforma nossas vidas em
como “o direito subjetivo público, um pequeno diamante em meio às
assegurado a todo e qualquer ser humano areias cósmicas.
No caso da morte com assistência ou
que padece de uma enfermidade grave ou com intervenção, há a prevalência da
ideia de dignidade como autonomia.
incurável, consistente em decidir o Isso por conta tanto do sistema de
ampla proteção da autonomia
momento e a forma de sua morte, desde individual traçado na Constituição
de 1988, como também pelo
que manifestado previamente por seu fundamento filosófico mais elevado
respectivo titular ou, por alguém em se tratando de escolhas
existenciais do indivíduo. Afinal,
legalmente habilitado para tanto”. não é função do Estado estabelecer

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um código moral único em são essenciais para a qualificação jurídico-
detrimento da liberdade e da
independência ética que cada pessoa penal da conduta. (DINIZ, 2017, p.520).
deve ter. A conclusão é que cada
indivíduo deve ter o direito e a No Brasil, o Código Penal não
responsabilidade de realizar suas
escolhas existenciais e não ser
tipifica expressamente a eutanásia, porém
obrigado a sofrer por um período a sua prática, de acordo com entendimento
prolongado de tempo, privado do
domínio normal sobre o seu próprio doutrinário, enquadra-se no crime de
corpo.
homicídio privilegiado com previsão no
artigo 121, parágrafo 1º, do CPB, que
VII – ASPECTOS DA EUTANÁSIA,
dispõe que a pena poderá ser reduzida de
SUICÍDIO ASSISTIDO, DISTANÁSIA
um sexto a um terço se “o agente comete
E ORTOTANÁSIA
o crime impelido por motivo de relevante
valor social ou moral”. O Código de Ética
Médica (CEM), também, em seu artigo 41,
EUTANÁSIA
proíbe que o médico abrevie a vida do
paciente, ainda que a pedido deste ou de
A eutanásia consiste na seu representante legal.
antecipação da morte de um doente A eutanásia pode ser classificada
terminal, a seu pedido, por um terceiro. como ativa ou passiva, direta ou indireta.
Para o doente, nesse caso, não há Eutanásia ativa consiste em uma ação, um
expectativas de cura frente a uma doença fazer do agente que coloca fim à vida do
que lhe causa dores e sofrimentos, sendo a doente terminal. Na ativa direta, a vida do
morte inevitável. Diniz afirma que o termo paciente é abreviada por meio de condutas
“eutanásia (eu: boa; thanos: morte) foi que o ajudem a morrer; e, na eutanásia
empregado pela primeira vez, em 1623, ativa indireta, busca-se o alívio do
por Francis Bacon, na sua obra Historia sofrimento do doente por meio de
vitae et mortis, no sentido de boa morte”. fármacos que, como efeito secundário,
A motivação da prática da podem contribuir para o evento morte.
eutanásia é a compaixão pelo doente que Nessa modalidade, de acordo com Souza,
sofre sem esperanças de que a medicina há um duplo efeito: “aliviar o sofrimento
poderá lhe ajudar. Assim, a motivação da do paciente, abreviando ao mesmo tempo
conduta do agente e a manifestação do sua vida, sendo este, no entanto, um efeito
doente em decidir pelo fim de sua vida, secundário daquele objetivo principal”.
(SOUZA, 2009, p. 77)

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A eutanásia passiva consiste em O Código Penal Holandês, em seu
uma conduta omissiva, quando há a artigo 20, "a", 2, definiu que a eutanásia
interrupção dos cuidados médicos que não seria considerada crime se atendidos
mantêm o paciente vivo. Nesse caso, os requisitos do artigo 2º da Lei sobre a
tratamentos considerados ordinários e Cessação da Vida a Pedido, quais sejam:
proporcionais, que manteriam o paciente “o médico deve ter convicção de que o
vivo e o beneficiariam, são omitidos ou pedido do paciente foi voluntário e bem
suspensos, causando o óbito. Veremos avaliado e de que seu sofrimento era
adiante que na ortotanásia são suspensos intolerável e sem perspectiva de alívio”. A
os tratamentos considerados decisão pela eutanásia deve ser um
extraordinários e desproporcionais, tendo consenso entre médico e paciente, após
em vista que a morte é iminente e analisar alternativas e não haver solução
inevitável. (LOPES et al, 2018, p.71). razoável para o caso. O médico deve,
A eutanásia tem sido reconhecida ainda, consultar outro especialista que
em alguns países, como no Uruguai, que avaliará o paciente e relatará seu parecer
legislou sobre o “homicídio piedoso” em por escrito. (LOPES et al, 2018, p. 90)
seu Código Penal de 1934. O artigo 37 Na Holanda, desde sua
desse código dispõe que o juiz tem a legalização, em 2002, até 2011, foram
faculdade de excluir a pena “de agentes registradas 3.695 solicitações às
que cumpram três requisitos: ter instituições públicas. Com a autorização
antecedentes honráveis, ser realizado por para que instituições privadas também
motivo piedoso; e mediante reiteradas atendessem a essas demandas, o número
súplicas do sujeito passivo da conduta”. de pacientes submetidos à prática foi de
(GOLDIM, 1997). 6.091, em 2016. Dentre os pacientes
Na Holanda, após mais de trinta atendidos, 87% das mortes foram de
anos de debate, a eutanásia e o suicídio pacientes com esclerose amiotrófica
assistido foram regulamentados e (ELA), câncer, doenças do coração,
deixaram de ser crime em 2002. Bélgica problemas de circulação e do sistema
(2002) e Luxemburgo (2009) também nervoso e problemas pulmonares.
regulamentaram a prática da eutanásia (LOPES et al, 2018, p. 92)
ativa, com requisitos específicos para sua Na América Latina, a Colômbia foi
aplicação pelos médicos. (LOPES et al, o único país que regulamentou a eutanásia,
2018, p. 90) em 2015. Em 1997 houve a

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descriminalização por seu Tribunal que o animal constituir ameaça à saúde
Constitucional, sendo reconhecida como pública, quando houver risco à fauna
“homicídio por piedade”. Em 2014, a nativa ou ao meio ambiente. Ainda,
Corte Colombiana “reconheceu que o poderá ser indicada quando “o animal for
direito de morrer com dignidade possuiria objeto de atividades científicas,
status de direito fundamental”. Em 2015, devidamente aprovadas por uma
o Ministério da Saúde e Proteção Social, Comissão de Ética para o Uso de Animais
por meio da Resolução 12.116/2015, – CEUA” e em casos em que “o
estabeleceu critérios para sua prática, tratamento representar custos
como garantia de uma morte digna. incompatíveis com a atividade produtiva a
(CASTRO et al, 2016, p.357) que o animal se destina ou com os recursos
“Afirmou a Corte colombiana que financeiros do proprietário”. (CFMV,
impor a uma pessoa a prolongação de sua 2012).
existência por um curto período de tempo, Em relação à eutanásia em seres
quando não a deseja e sofre aflições humanos, o Projeto de Lei do Senado n°
profundas, não é apenas um tratamento 236, de 2012 (Novo Código Penal), prevê
cruel e desumano, mas a anulação da sua prática no artigo 122, que dispõe:
dignidade e da autonomia individual”. Art. 122. Matar, por piedade ou
(Ag.Reg. MI 6.825 DF) compaixão, paciente em estado terminal,
No Brasil, a eutanásia é permitida imputável e maior, a seu pedido, para
apenas em animais, conforme Resolução abreviar-lhe sofrimento físico
nº 1.000, de 11 de maio de 2012, do insuportável em razão de doença grave.
Conselho Federal de Medicina Veterinária Pena - prisão, de dois a quatro
– CFMV. Essa resolução conceituou anos.
eutanásia como a “indução da cessação da § 1º, O juiz deixará de aplicar a
vida animal, por meio de método pena avaliando as circunstâncias do caso,
tecnicamente aceitável e cientificamente bem como a relação de parentesco ou
comprovado, observando os princípios estreitos laços de afeição do agente com a
éticos aqui definidos e em outros atos do vítima.
CFMV”. (CFMV, 2012). Exclusão da Ilicitude
A eutanásia animal poderá ser §2º Não há crime quando o agente
indicada nas situações em que o bem-estar deixa de fazer uso de meios artificiais para
animal estiver comprometido, em casos manter a vida do paciente em caso de

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doença grave irreversível, e desde que essa crimes e, por isso, impuníveis. (apud
circunstância esteja previamente atestada SOUZA, 2009, p.68).
por dois médicos e haja consentimento do O suicídio diferencia-se da
paciente, ou, na sua impossibilidade, de eutanásia porque naquele a própria pessoa
ascendente, descendente, cônjuge, atua em sua morte, enquanto nesta pessoa
companheiro ou irmão. diversa praticará uma conduta comissiva
Nota-se que o Projeto de Lei do ou omissiva para o falecimento do doente.
Senado n° 236, de 2012 tipifica a Essa diferença é fundamental quando
eutanásia. A pena de prisão é de dois a analisadas as consequências jurídicas das
quatro anos, com a possibilidade de condutas, tendo em vista que a eutanásia
perdão judicial e exclusão da ilicitude, nos será tipificada como homicídio
parágrafos 1º e 2º, respectivamente. Esse privilegiado, artigo 121, parágrafo 1º, do
posicionamento representa um tímido Código Penal brasileiro, enquanto o
avanço para o debate do tema no Brasil e, suicídio será classificado como crime
como observa Débora Diniz, a presente no artigo 122, do mesmo
“ressignificação da eutanásia como uma diploma.
expressão da cultura dos direitos No Brasil, o auxílio ao suicídio
humanos, ou seja, como um tema relativo pode acontecer de três formas:
a princípios éticos como a autonomia ou a induzimento, instigação ou auxílio. O
dignidade é um movimento crescente no induzimento e a instigação se caracterizam
Brasil”. (DINIZ, 2006, p.1742). por uma contribuição moral, como
conselho ou sugestão, enquanto o auxílio
se manifesta quando há uma contribuição
SUICÍDIO ASSISTIDO
material, como a entrega de medicamentos
ou outros meios que possibilitem a prática
Bitencourt afirma que "embora não do suicídio pelo sujeito passivo. (SOUZA,
se reconheça ao ser humano a faculdade 2009, p.69).
de dispor da própria vida, ação de matar- O suicídio assistido, como
se escapa à consideração do Direito conceituado anteriormente, é conhecido
Penal”. O suicídio, como define Hungria, como suicídio eutanásico ou
“é um fim em si mesmo: o suicida mata-se autoeutanásia, sendo o próprio doente a
porque não quer viver”. Assim, o suicídio praticar a conduta que colocará fim à sua
ou sua tentativa não são considerados vida, com o auxílio de um terceiro, que

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prestará assistência por motivos altruístas. dignidade” (Death with Dignity
Act), que permite que adultos
Casabona diferencia o suicídio do suicídio (maiores de 18 anos) competentes
(capazes de expressar
assistido, afirmando que este “seria unico conscientemente sua vontade),
residentes do Oregon, com doenças
medio de abreviar el sufrimiento físico y terminais e expectativa de vida
moral derivado de una enfermedad menor que seis meses, recebam
medicações em doses letais, por
terminal o de una minusvalia meio de autoadministração
voluntária, expressamente prescrita
irreversible”, enquanto aquele “consiste por um médico para essa finalidade.
De acordo com o Ato, a
en quitarse uno mismo violenta y autoadministração desses
medicamentos letais não é
voluntariamente la vida que ya no quiere considerada suicídio, mas morte
ser vivida por cualquier otro motivo y en com dignidade. Vale ressaltar que
muitos hospitais católicos optaram
circunstancias diferentes”. (apud LOPES por não aderir à prática. (CASTRO
et al, 2016, p.358).
et al, 2018, p. 77).
Em 1992, a Associação Médica
Em 2009, Luxemburgo legalizou a
Mundial, na 44ª Assembleia Médica
eutanásia e o suicídio assistido. As
Mundial, reconheceu a ortotanásia como
práticas são reguladas pela Comissão
prática lícita e ética, posicionando-se
Nacional de Controle e Avaliação. O
contrária à legalização da eutanásia e do
procedimento pode ser solicitado por
suicídio assistido, considerando que
adultos capazes, pessoas com doenças
“cuando el médico ayuda intencional y
terminais e incuráveis que padeçam de
deliberadamente a la persona a poner fin
sofrimento psicológico ou físico
a su vida, entonces el medico actúa contra
insuportável e sem possibilidade de alívio.
la ética”. (LOPES et al, 2018, p.101).
O paciente, ao solicitar o procedimento,
Entretanto, há países que o
pode registrar as condições e
consideram lícito, como, por exemplo, os
circunstâncias em que gostaria de se
Estados Unidos, que admitem o suicídio
submeter ao suicídio assistido realizado
assistido em cinco de seus estados:
por seu médico de confiança. (CASTRO et
Oregon, Washington, Montana, Vermont
al, 2016, p.360).
e Califórnia. A eutanásia é proibida em
O Projeto de Lei do Senado n° 236,
todos os cinquenta estados do país.
de 2012 (Novo Código Penal), propõe que
se aplique ao delito de induzimento,
O primeiro estado a legalizar o instigação ou auxílio ao suicídio os
suicídio assistido foi Oregon, em 27
de outubro de 1997, com a parágrafos 1º e 2º do artigo 122
aprovação do “Ato de morte com

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(eutanásia), havendo a possibilidade de do médico. (Exposição de Motivos,
Resolução CFM 1.805/06).
perdão judicial e exclusão da ilicitude.

Diniz assinala que é possível que


DISTANÁSIA uma pessoa seja mantida indefinidamente
viva em aparelhos de sustentação artificial
da vida, ainda que muito doente, devido
“A distanásia trata-se de um
aos avanços tecnológicos na área médica.
neologismo de origem grega: o prefixo dys
Esse prolongamento da vida não é capaz
significa ato defeituoso, afastamento e o
de alterar o quadro terminal que se impõe
sufixo thanatos designa morte. Na sua
e, muitas vezes, causa mais sofrimento e
origem semântica, distanásia significa
dor ao doente.
morte lenta, com muita dor ou
Há pessoas que optam pelo uso de
prolongamento exagerado da agonia, do
todos os recursos disponíveis no
sofrimento e da morte de um paciente, não
tratamento de uma doença, porém, o
respeitando a dignidade do morrente”.
grande desafio para os profissionais de
(SANTANA et al, 2010, p.402).
saúde, que normalmente associam a morte
É certo que toda vida chega ao seu
ao fracasso, é compreender que há
fim. O Conselho Federal de Medicina, ao
pacientes que decidem por estabelecer um
expor os motivos da Resolução 1.805/06,
limite à medicalização de sua vida.
que trata da prática da ortotanásia,
(DINIZ, 2006, p.1742).
destacou que a partir da década de 1960, a
Segundo Reinaldo Ayer e Maria
medicina apresentou impressionante
Luiza Monteiro da Cruz esclarecem, em
avanço tecnológico, com o
fase terminal, muitos pacientes são
desenvolvimento de metodologias e
submetidos à distanásia, adotando
possibilidades de controlar o momento da
tratamentos ineficazes, muitas vezes
morte.
dolorosos, que prolongarão a vida,
limitando sua qualidade. Um dos motivos
Se no início do século XX o tempo para a adoção dessa terapêutica é a
estimado para o desenlace após a
instalação de enfermidade grave era insegurança jurídica a que está sujeito o
de cinco dias, ao seu final era dez
vezes maior. Tamanho é o arsenal médico, uma vez que não existe legislação
tecnológico hoje disponível que não
federal que disponha sobre os direitos do
é descabido dizer que se torna quase
impossível morrer sem a anuência

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paciente em decidir sobre sua morte. Não havia nada o que oferecer ao
bebê e sua família. Nesse contexto
(CRUZ et al, 2013, p.406). dilacerante de absoluta impotência
da Medicina, comparam-se
Débora Diniz, em artigo intitulado variáveis que não se prestam à
equiparação: de um lado,
“Quando a morte é um ato de cuidado: concepções privadas sobre o sentido
obstinação terapêutica em crianças”, relata da vida para os pais e, de outro,
recursos terapêuticos inúteis para o
o caso de um bebê de oito meses, com quadro clínico do bebê. (DINIZ,
2006, p.1746).
diagnóstico de Amiotrofia Espinhal
Progressiva Tipo I, doença incurável e
A decisão da Justiça foi favorável
degenerativa. Seus pais, considerando o
ao pedido dos pais e, uma semana após a
quadro irreversível do filho, recorreram à
sentença, o bebê foi a óbito por parada
Justiça para que o bebê não fosse
cardíaca.
submetido à respiração artificial,
considerada obstinação terapêutica no
caso. De acordo com Diniz, “a morte do ORTOTANÁSIA
bebê não era apenas uma certeza da
condição humana, mas uma sentença. A
passagem de condição para sentença fez O aforismo “curar algumas vezes,
com que os pais entendessem que amor e aliviar muitas vezes, consolar sempre” faz
apego são sentimentos diferentes”. parte do ensinamento clássico da medicina
(DINIZ, 2006, p.1745). e, com a evolução da bioética, o
Recorrer à justiça significava a desenvolvimento pelo respeito à
segurança de garantir ao filho que este não autonomia do paciente e sua interação
fosse submetido a tratamentos invasivos e com o médico, alterou-se o paradigma: da
o pedido referiu-se ao fato de que, em caso assistência médica da cura para a adoção
de parada cardiorrespiratória, o bebê não de cuidados paliativos em doentes
seria submetido à ventilação mecânica e terminais, prática conhecida como
nem seria internado em UTI, medidas que ortotanásia.
prolongariam a vida da criança com Apesar dessa evolução, abrir mão
sofrimento, sem, no entanto, interromper o da própria vida é, ainda, um dos assuntos
avanço da doença fatal. mais debatidos na bioética e, como explica
Barroso, a ortotanásia, diferentemente da

O dilema ético que se instaurou era


distanásia, não aplica métodos
exatamente pela ausência de opção. extraordinários e artificiais para a

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manutenção da vida do doente; em profissionais se preocupam com a
oposição, aplica cuidados paliativos que possibilidade de serem acusados de
permitem que a morte siga seu curso omissão imprópria ou omissão de socorro
natural. na seara penal, e também de negligência
Cuidados paliativos, de acordo na seara civilista, e suas respectivas
com a Organização Mundial da Saúde sanções jurídicas. A respeito da falta de
(OMS), regulamentação da eutanásia e ortotanásia,
afirma Barroso:

[...] consistem em uma abordagem


que visa melhorar a qualidade de
vida dos doentes e de suas famílias, Assim sendo, tanto a eutanásia
que enfrentam problemas quanto a ortotanásia – aí
decorrentes de uma doença compreendida a limitação do
incurável com prognóstico limitado tratamento constituiriam hipóteses
e/ou doença grave (que ameaça a de homicídio. [...] A existência de
vida), através da prevenção e alívio consentimento não produziria o
do sofrimento, com recurso à efeito jurídico de salvaguardar o
identificação precoce, avaliação médico de uma persecução penal.
adequada e tratamento rigoroso dos Em suma: não haveria distinção
problemas não só físico, como a dor, entre o ato de não tratar um enfermo
mas também dos psicossociais e terminal segundo a sua própria
espirituais. (BARROSO, 2018, vontade e o ato de intencionalmente
p.83) abreviar-lhe a vida, também a seu
pedido. [...] Essa postura legislativa
e doutrinária pode produzir
consequências graves, pois, ao
A demanda por tais cuidados é oferecer o mesmo tratamento
jurídico para situações distintas, o
crescente no mundo e no Brasil, em paradigma legal reforça condutas de
obstinação terapêutica e acaba por
virtude do aumento da expectativa de vida
promover a distanásia. Com isso,
e das doenças que se manifestam com o endossa um modelo médico
paternalista, que se funda na
processo de envelhecimento. Esse autoridade do profissional da
medicina sobre o paciente e
processo aumenta a incidência de várias descaracteriza a condição de sujeito
do enfermo. (BARROSO, 2018,
doenças, que trazem complexidades e p.53).
especificidades, inclusive econômicas.
Nesse contexto de evolução, a previsão é Em 1984, quando houve a reforma
que, em 2020, o Brasil será o sexto maior da Parte Geral do Código Penal brasileiro,
país em número de idosos no mundo. havia proposta para alterações na Parte
(LOPES et al, 2018, p.166). Especial, as quais não ocorreram. Uma das
Ademais, há de se registrar que no inclusões seria a prática da ortotanásia,
Brasil, por não haver lei federal sobre os como excludente de ilicitude, no artigo
cuidados paliativos e a ortotanásia, os 121, parágrafo 4º: “não constitui crime

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deixar de manter a vida de alguém, por paliativos disponíveis sem
empreender ações diagnósticas ou
meio artificial, se previamente atestada, terapêuticas inúteis ou obstinadas,
levando sempre em consideração a
por dois médicos, a morte como iminente vontade expressa do paciente ou, na
sua impossibilidade, a de seu
e inevitável, e desde que haja representante legal.
consentimento do doente ou, na sua
Na Resolução CFM 1.805/06, em
impossibilidade, de ascendente,
seu artigo 1º, resolve-se que ao médico é
descendente, cônjuge ou irmão”.
permitido limitar ou suspender
(JUNGES, 2010, p.278).
tratamentos, de acordo com alguns
Em 1999, Mário Covas,
requisitos: o doente deve estar em fase
governador do estado de São Paulo à
terminal, a enfermidade deve ser grave e
época, promulgou a lei 10.241/99, que
incurável, e sempre deve ser respeitada a
versa sobre os direitos dos usuários dos
vontade da pessoa ou de seu representante
serviços e das ações de saúde no Estado.
legal. No parágrafo 2º, define-se que a
O artigo 2º, VII, da referida lei, dispõe que
decisão deve ser fundamentada e
o usuário poderá “consentir ou recusar, de
registrada no prontuário do paciente.
forma livre, voluntária e esclarecida, com
O artigo 2º da Resolução prevê,
adequada informação, procedimentos
ainda, que o doente deve receber os
diagnósticos ou terapêuticos a serem nele
cuidados necessários, cuidados que
realizados”.
aliviarão o sofrimento e proporcionarão
Em 2006, ante a falta de
conforto físico, psíquico, social e
regulamentação federal sobre a
espiritual, assegurando, ainda, o direito de
terminalidade da vida e a práxis médica no
alta hospitalar a pedido do paciente,
cuidado a pacientes terminais, o Conselho
respeitando sua autonomia e decisão.
Federal de Medicina regulamentou a
Essa Resolução foi motivo de
prática da ortotanásia na Resolução CFM
discussão judicial. O Ministério Público,
1.805/2006. Também o Código de Ética
em 2007, considerando que o direito à
Médica a prevê, em seu artigo 41,
vida é absoluto e qualquer hipótese de
parágrafo único:
morte com intervenção deve ser proibida,
ajuizou a ação civil pública
É vedado ao médico:
Art. 41. Abreviar a vida do paciente, 2007.34.00.014809-3, perante a 14ª Vara
ainda que a pedido deste ou de seu
representante legal. Federal do Distrito Federal, alegando que
Parágrafo único. Nos casos de
doença incurável e terminal, deve o
“a ortotanásia não passa de um artifício
médico oferecer todos os cuidados

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homicida; expediente desprovido de bem como a inexistência, de
razões lógicas e violador da Constituição regulamentação sobre diretivas
Federal, mero desejo de dar ao homem, antecipadas de vontade do paciente no
pelo próprio homem, a possibilidade de contexto da ética médica brasileira” e
uma decisão que nunca lhe pertenceu” também o fato de “que os novos recursos
(BARROSO, 2018, p.72). tecnológicos permitem a adoção de
Nessa ação, em que pleiteou a medidas desproporcionais que prolongam
nulidade da resolução e a definição de o sofrimento do paciente em estado
critérios a serem seguidos para a prática da terminal, sem trazer benefícios, e que
ortotanásia, o magistrado, por meio de essas medidas podem ser antecipadamente
decisão cautelar, suspendeu a resolução rejeitadas pelo mesmo”.
com a justificativa de que havia “aparente Na exposição de motivos para a
conflito entre a resolução questionada e o criação de determinada resolução, uma
Código Penal”. das justificativas foi a de que há
Essa decisão, conforme assinala incapacidade de comunicação em 95% dos
Barroso, “marcou o encontro, no Brasil, de casos de pacientes em fase terminal, e que,
dois fenômenos do nosso tempo: a ao desconhecer as vontades desses
medicalização e a judicialização da vida”. pacientes, estas podem ser desrespeitadas.
Acrescenta-se a esses fenômenos a Assim, rege o artigo 1º que as
espetacularização da sociedade, diretivas antecipadas constituem o
promovida por meios de comunicação que conjunto de desejos expresso pelo
transmitem dramas de pacientes em tempo paciente sobre tratamentos e cuidados que
real. (BARROSO, 2018, p.55) quer ou não receber quando não mais
No decorrer desse processo, em conseguir se expressar. O artigo 2º,
sede de alegações finais, o Ministério parágrafo 3º, prevê, ainda, que as diretivas
Público se manifestou contrariamente à “prevalecerão sobre qualquer outro
inicial e, em 2010, o juiz de primeiro grau parecer não médico, inclusive sobre os
considerou válida a Resolução nº desejos dos familiares”. No entanto, é
1.805/2006, do CFM. preciso observar que
Em 2012, o Conselho Federal de
Medicina publicou a Resolução nº
[...] se por um lado, a resolução traz
1.995/2012 – Das Diretivas Antecipadas avanços ao regulamentar no âmbito
da ética médica o testamento vital,
de Vontade, ao considerar “a necessidade, por outro lado, há necessidade

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urgente da regulamentação da um processo contínuo e não apenas um ato
matéria no âmbito jurídico, para que
as normas sejam precisas, claras e isolado. Desse modo, após os
tragam segurança jurídica para a
relação médico/paciente. (CFM, esclarecimentos médicos e indicações de
Resolução nº 1.995/2012).
tratamento, o paciente, confrontando as
informações recebidas com seus valores,
Em 2016, o Conselho Federal de crenças e projetos, poderá aceitar ou
Medicina, diante da necessidade de declinar qualquer terapêutica ou
orientar os médicos na relação médico- procedimento cirúrgico.
paciente, publicou a Recomendação CFM Em 2019, o Conselho Federal de
nº 1/2016, em que dispôs sobre o processo Medicina publicou a Resolução CFM
de obtenção do consentimento livre e 2.232/2019, que “estabelece normas éticas
esclarecido na assistência médica. Ao para a recusa terapêutica por pacientes e
propor essa recomendação, o CFM objeção de consciência na relação médico-
procurou estabelecer consenso com os paciente”.
quatro princípios básicos da Bioética, que Dispõe o artigo 1º que a recusa
são a autonomia, a beneficência, não terapêutica é um direito do paciente, que
maleficência e justiça. deve ser respeitado pelo médico, desde
Essa recomendação, em que esclarecidos os riscos e consequências
consonância com as demais orientações do da decisão. Havendo a recusa, o médico
CFM, tem como objetivo o pode propor outro tratamento quando
desenvolvimento de uma comunicação disponível, sendo a ele permitido alegar
eficiente e eficaz entre o médico e o objeção de consciência diante da recusa do
paciente, cujo intuito constitui paciente.
horizontalizar a relação, aproximando os As Resoluções nº 1.805/06,
sujeitos, para que o paciente possa 1.995/12, 2.232/19 e a Recomendação nº
compreender o diagnóstico e o 1/16 se complementam, primando pela
prognóstico de sua doença e, de maneira autonomia do paciente, tendo em vista que
livre e sem vícios, aceitar ou recusar a este poderá consentir ou recusar, de
terapêutica indicada. maneira livre e sem vícios, lícita e ética,
Estabelece, ainda, que o tratamentos propostos.
consentimento livre e esclarecido é fruto Destarte, é certo que a relação
da evolução da autonomia do paciente e médico-paciente é comumente tensionada
está em constante desenvolvimento, sendo entre a promoção da saúde e da vida pelo

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médico e o respeito à vontade do paciente, O avanço da ciência possibilitou o
que pode optar por outros valores ao não desenvolvimento das novas técnicas
se submeter aos tratamentos propostos. aplicadas na medicina. Essa evolução e
Afirma Siqueira que “é possível que, por suas implicações na sociedade
qualquer razão, o paciente prefira não se contribuíram para os estudos de Direito
submeter ao tratamento e dê Penal Médico que, paulatinamente,
preponderância a algum outro valor, em abandonou o modelo paternalista de
detrimento da própria vida ou saúde”. intervenção médica e prestigiou a
(SIQUEIRA, 2019, p.42). autonomia do paciente.
Além disso, inferindo que a A biotecnologia desenvolveu
ortotanásia, como bem pontua Barroso, novas técnicas ao mesmo tempo que criou
poderia constituir hipótese de homicídio, riscos, antes desconhecidos ou
Martinelli defende que o legislador inexistentes, que devem ser enfrentados
regulamente sua prática, incluindo pelo direito. Assim, o Direito Penal
expressa excludente de ilicitude no artigo Médico Clássico, que antes tutelava
121 do Código Penal. Reflete: apenas bens jurídicos individuais, passou
a se preocupar também com bens jurídicos
Deveria o legislador preocupar-se supraindividuais, as "novas medicinas"
com a regulamentação da
ortotanásia para impedir qualquer genéticas, reprodutivas, preditivas e
tipo de responsabilidade penal do
médico pela suposta prática de crime preventivas.
contra a vida, mesmo que seja com
pena reduzida. Por causa de uma
Nota-se, ainda, um hiato entre a
cultura puramente legalista, que legislação penal e a realidade, o que
ainda exerce grande influência no
direito penal e processual penal, contribui para a legiferação
deve haver clara disposição
permitindo a ortotanásia em governamental praticada pelo Conselho
parágrafo a ser adicionado ao art.
121 para evitar, definitivamente, Federal de Medicina, que emite
qualquer possibilidade de
responsabilização penal quando
recomendações, resoluções, pareceres e
preenchidos os requisitos legais. notas técnicas, como as Resoluções nº
(MARTINELLI).
1.805/06, 1.995/12, 2.232/19 e a
Recomendação nº 1/16, abordadas neste
O DIREITO E A TERMINALIDADE
artigo, prezando pela autonomia do
DA VIDA
paciente, considerado um sujeito de
direitos.

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O Direito Penal Clássico e a como válidos os valores comuns de uma
dogmática jurídica já não se mostram sociedade, prevalecendo, desta maneira, o
suficientes para compreender e interpretar paternalismo. Já em sua dimensão
a atual sociedade de risco em sua autônoma, há a valorização do indivíduo,
complexidade, sendo necessária, para o respeito à sua liberdade e escolhas
atender as novas demandas – os chamados pessoais e consideração aos direitos
hard cases, problemas como transplante fundamentais.
de órgãos, a definição jurídica do Na Constituição Federal de 1988,
momento do início e do fim da vida, novos predomina a dignidade da pessoa em sua
procedimentos, entre outros –, uma dimensão autônoma, embora a perspectiva
metodologia complementar, a zetética heterônoma também se expresse. Desta
jurídica, como investigação inicial para os maneira, ao considerarmos o Princípio da
problemas postos pela medicina, como Dignidade da Pessoa Humana como
nos casos de eutanásia, suicídio assistido, autonomia, em que se reconhece o direito
distanásia e ortotanásia. a uma vida digna, também reconhecerá o
Considerando essas questões, há direito à morte digna, uma vez que apenas
de se argumentar: direito à vida ou dever à o sujeito doente, frente a um momento de
vida? fragilidade, conhecerá seu sofrimento e
A todo o momento somos instados poderá decidir sobre o desfecho de sua
a decidir sobre algo a respeito de nossas existência. Lopes, Lima e Santoro
vidas, de nosso dia a dia. Essa decisão é constatam que
nosso direito. Constitui-se em prática de
nossa liberdade individual, estando [...] a sociedade e o Estado brasileiro
ainda não enfrentaram realmente
presente na Constituição Federal de 1988, essas questões. Muitas são situações
dramáticas, sem respaldo legal e que
em seu artigo 5º, segundo o qual “todos paulatinamente vão chegando ao
Poder Judiciário para que este a
são iguais perante a lei, sem distinção de enfrente. O que parece correto e
qualquer natureza, garantindo-se a claro, todavia, é que, em toda e
qualquer circunstância, o médico
inviolabilidade do direito à vida e à tem sempre o dever de cuidar do
paciente e ampará-lo. (LOPES et al,
liberdade [...]”. 2018, p.103)

O Princípio da Dignidade da
Pessoa Humana, em sua dimensão Assim, a liberdade de optar por
heterônoma, considera que há limitações tratamentos médicos que prolonguem o
às escolhas individuais, reconhecendo processo de morte ou pela interrupção de

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sofrimento deve ser respeitada e
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entendida, no intuito de se compreender [acesso 17 dez 2018]. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/de
que, além da dimensão biológica, há os
creto-lei/del2848compilado.htm>.
princípios morais e religiosos do doente
que devem ser preservados. BRASIL, Projeto de lei do Senado nº
E, ao entendermos que vida não 236/2012. Anteprojeto de Código Penal.
Disponível em:
deve comportar apenas a dimensão https://legis.senado.leg.br/sdleg-
biológica, mas o complexo conjunto de getter/documento?dm=3515262&ts=1572
470009377&disposition=inline. Acesso
emoções, expectativas, alegrias e desejos, 15 out 2019.
que tornam o ser “humano”, aceitar a
autonomia do paciente constitui a CONSELHO FEDERAL DE
aceitação de sua dignidade e liberdade, MEDICINA. Resolução CFM
nº 1.805/2006. Dispõe sobre limitar ou
definindo-o como indivíduo único, suspender procedimentos e tratamentos
autônomo e merecedor de todo o respeito, que prolonguem a vida do doente,
garantindo-lhe os cuidados necessários.
dado que, “quando um ser humano sofre, [Internet]. 21 jan 2016. Disponível:
não se tem um sofrimento no mundo, mas https//sistemas.cfm.org.br/normas/visuali
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