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Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Letras e Ciências Sociais


Departamento de Ciência Política e Administração Pública
Licenciatura em Ciência Política

A Democraticidade do Poder Descentralizado: uma análise da Institucionalização


democrática do Governo Local na Autarquia da Matola.

Licenciando: Eliseu Alberto Agostinho

Maputo, Setembro de 2020


UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

Departamento de Ciência Política e Administração Pública

Projecto preliminar para a produção de


trabalho de pesquisa por ser apresentado
a Faculdade de Letras e Ciências Sociais
da Universidade Eduardo Mondlane,
como um dos requisitos parciais para a
obtenção do grau de Licenciatura em
Ciência Política.

Maputo, Setembro de 2020

Índice
Introdução-----------------------------------------------------------------4

Problemática---------------------------------------------------------------5

Pergunta de partida--------------------------------------------------------7

Hipótese---------------------------------------------------------------------7

Justificativa-----------------------------------------------------------------7

Objectivos--------------------------------------------------------------------8

Objectivo geral--------------------------------------------------------------8

Objectivos específicos------------------------------------------------------8

Definição conceptual e revisão da literatura-----------------------------8

Quadro teórico----------------------------------------------------------------10

Metodologia-------------------------------------------------------------------12

Bibliografia

Cronograma

Orçamento
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1. Introdução

O Estado democrático é fundado pelos princípios que lhe são naturalmente peculiares, visto
que, nele, existe um manancial de instituições que permitem o seu pleno funcionamento. No
entanto, os sistemas democráticos funcionam devidamente mediante certas exigências, que
são imprescindíveis, para que haja um real desempenho democrático.
São algumas dessas exigências: A existência de um quadro jurídico-político que permite aos
cidadãos serem eleitos e, ou elegerem seus representantes, a garantia na activa e permanente
participação dos actores políticos e os de mais interessados nas principais decisões entre
outros.
Linz e Stepan (1999) defendem que, para que um sistema seja considerado uma democracia
consolidada, existem 5 características, nomeadamente: uma sociedade livre e activa;
Sociedade política autónoma; Estado de direito para assegurar garantias quanto à liberdade
dos cidadãos; Um aparelho burocrático estatal e uma sociedade económica como mediadora
entre o Estado e mercado, actuando para normalizar e regulamentar o campo económico.
Dada a multiplicidade da definição do conceito de democracia, a ideia central de democracia
a se conceber aqui é aquela segundo a qual, a democracia é “um conjunto de regras de
procedimentos para a formação de decisões coletivas, em que está prevista e facilitada a
participação mais ampla possível dos interessados.” (BOBIO, 1984). Esta definição é
naturalmente formal por enfatizar o aspecto de regras que regem o funcionamento dos
sistemas democráticos, mas ajudará na especificidade da discussão que se pretende fazer
neste trabalho.
Uma das características, não menos importantes nas democracias representativas, é a
realização regular das eleições. Apesar disto não ser consensual, relativamente à sua
importância, pois, “para os democratas participativos, a representação e votação
competitiva em eleições formais são vistas, no melhor dos casos, como males necessários
que eles pretendem substituir, quando possível, por tomada de decisão pela discussão
moldada pelo consenso” (CUNNINGHAM, 2000).
Deste ponto de vista, compreende-se que haverá um real desempenho democrático,
quando os indivíduos participam diretamente nas decisões relativas aos seus interesses.
Porém, pela realidade das sociedades modernas ser deveras complexa, torna-se difícil a
materialização duma democracia onde haja uma directa e total participação de todos
interessados. Entretanto, para fazer face ao problema da efectivação de uma democracia
directa, tem-se como alternativa a democracia representativa, definida de forma genérica
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como aquela em que, “as deliberações coletivas, isto é, as deliberações que dizem respeito à
coletividade inteira, são tomadas não diretamente por aqueles que dela fazem parte mas por
pessoas eleitas para esta finalidade.” (BOBBIO, 1984).
No presente trabalho, pretende-se analisar o nível de democraticidade do poder
descentralizado, o caso da Autarquia da Matola, com enfoque em compreender precisamente
a componente da institucionalização democrática do poder dos órgãos localmente eleitos. O
conceito de institucionalização democrática, é definida aqui como o processo pelo qual as
instituições, normas e procedimentos, criados no âmbito da “transição democrática” se
transformam em atitudes, hábitos e práticas que estruturam o agir dos actores do jogo político
no seu dia-dia (SCHADLER,1997; Schmitter, 1995).Todavia, a análise cingir-se-á no actual
governo eleito em 2018, e para ampliar o horizonte de compreensão, será necessário englobar
o governo anterior (2014-2018).
Dado que, o actual governo ter sido eleito numas eleições marcadas por muitas controversas
nos resultados, pretender-se-á entender: se há uma real habituação nas práticas e normas
democráticas, por parte do governo local; qual tem sido o nível de aceitação dos munícipes,
em relação às acções do governo eleito; Como é estabelecido o vínculo entre os órgãos do
poder local e os cidadãos; e até que ponto os munícipes vêem as suas demandas estarem na
ordem das decisões do governo local? Estas e outras questões serão exploradas durante a
presente pesquisa.
A estrutura deste projecto de pesquisa compreende, para além desta introdução; a parte da
problemática (esboço sucinto do escopo do trabalho), e a respectiva pergunta de partida; a
hipótese (resposta prévia da pergunta de partida); a justificativa (razões ou motivações para a
escolha do tema); a definição dos objectivos, quer o de âmbito geral, quer os de âmbito
específico; o quadro conceptual e a revisão da literatura (definição dos principais conceitos e
a exploração da literatura inerente); o quadro teórico (exposição da teoria de base que
orientará a pesquisa); a metodologia (técnicas e métodos a serem usados); e por fim,
apresenta-se a bibliografia usada neste projecto, bem como a que será usada no trabalho
propriamente dito.

1.1 Problemática

O processo de democratização registado em Moçambique, com a promulgação da primeira


Constituição Multipartidária (1990) e com a assinatura do A.G.P. (1992), que visava pôr
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termo ao conflito armado que assolava o país, permitiu certamente para uma nova edificação
da estrutura política e administrativa do Estado Moçambicano.
O Estado Moçambicano passa a proceder com diversas reformas das instituições com vista a
instituir um estado democrático. Neste contexto, foi produzido um conjunto de legislações,
que serviriam de sustentáculos para instauração de uma democracia multipartidária. Decerto,
de entre várias leis destaca-se a lei eleitoral (13\94), que culmina com a realização das
primeiras eleições multipartidárias (1994).
Por este facto, e devido ao período em que se estabelece em Moçambique a
democracia, fez com que o país estivesse no grupo de Estados pertencentes ao que Hantinton
(1994), designou por terceira onda de democratização. Pois, no período em alusão, muitos
Estados Autoritários viram-se na contingência de transitar para a democracia, verificando-se,
deste modo, a “inquestionável consagração da democracia” (MACUANE, 2000).
Após a instauração da democracia, prevaleceram as reformas, como forma de
aprofundá-la. E é deste modo, que se parte para o processo de descentralização com a criação
da lei (2|97) que estabelecia mecanismos mediante os quais deviam se criar as autarquias
locais.
Desta feita, foram criadas as autarquias locais, obedecendo a uma lógica gradualista.
Todavia, na primeira fase da autarcização em Moçambique, foram criadas 33 autarquias que
correspondiam a todas capitais provinciais e algumas vilas distritais.
Porém, o “processo de descentralização, tal como acabaria por ser conduzido,
reservou um papel exclusivo ao poder central na criação das autarquias, o que é contraditório
com o que deveria ser a sua essência, pois faz com que estas apareçam mais como uma
emanação do governo central do que como uma verdadeira expressão de poder local
descentralizado, ou seja, como espaços autónomos de vida política” (Brito, 2013).
A exclusividade do poder central em criar as autarquias revela-se como um privilégio
do partido no poder de aumentar a sua “omnipotência” no panorama político nacional.
Paradoxalmente, estas estratégias do poder central de pôr tudo ao seu controlo dificultam na
democraticidade do poder descentralizado, e de forma significativa, a premissa do ideal da
descentralização, que é o de consolidar a democracia, é posta em causa. Pois, como sublinha
Brito (2013) que o capítulo da descentralização em Moçambique, “reflecte um processo de
democratização, a partir “de cima”, que se desenvolve de acordo com uma lógica
dominantemente paternalista e clientelista e que é executado num contexto de fraca
cidadania”. (Idem.)
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E é neste contexto, de fraca cidadania que urge a necessidade de se compreender,


como os citadinos da Autarquia da Matola têm participado nas questões ligadas à governação
local. Também, identificar as condições que contribuem para o desenvolvimento ou
consolidação da democracia.
Por fim, será imprescindível analisar qual é o grau de legitimação dos órgãos do
poder local, assim como se as suas práticas preenchem aos critérios da institucionalização
democrática, perante todos estes obstáculos impostos pelo governo central? E é a partir desta
constatação, que se formula a pergunta de partida que norteará a presente pesquisa, que é a
seguinte:
Pergunta de partida
Em que medida o poder descentralizado pode ser configurado como
democraticamente institucionalizado?

1.2. Hipótese
O poder local é efetivamente institucionalizado, mediante a abertura do governo local
e a manifesta cultura participativa dos actores políticos e dos cidadãos, na canalização
eficiente das suas demandas.
1.3. Justificativa
Nos últimos anos vários estudos têm sido desenvolvidos sobre os Estados democráticos, e a
instauração dos órgãos do poder local. Mas, maior parte destes estudos explora os aspectos
das relações entre o poder central e os governos localmente eleitos. Assim, a escolha do tema
deveu-se ao facto de haver necessidade de estudos que explorem a perspectiva da
estruturação dos hábitos e práticas nas normas e procedimentos democráticos nas
democracias locais, ou seja, a apropriação das normas democráticas a nível dos governos
locais.
Deste modo, também será importante observar a questão da legitimidade do poder
descentralizado, ou por outra, qual tem sido o nível, quer seja de percepção, quer seja do
consenso, por parte dos munícipes em relação às autoridades eleitas localmente, assim como
das decisões por elas tomadas.
Entretanto, com a descentralização, presume-se que haja uma horizontalidade na
maneira de aquisição e no exercício do poder, isto é, quaisquer indivíduos ou grupos que
estiverem interessados em ascender ao poder, poderão fazê-lo, desde que cumpram com as
normas democraticamente estabelecidas. Contudo, a maneira como é dirigido o processo de
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descentralização, como são organizados os pleitos eleitorais e os resultados que daí são
obtidos, é problematizada esta concepção.
Para a Autarquia da Matola, por sinal uma das que se beneficiou do processo de
descentralização logo na primeira fase, existem alguns aspetos que merecem uma atenção. O
primeiro, por experimentar unicamente a governação de um partido apenas, aspecto este, que
é comum em maior parte das autarquias; Segundo, por verificar-se uma radical mudança nos
resultados eleitorais, pois a margem de diferença dos votos nas últimas eleições entre o
Partido Frelimo, que venceu as eleições oficialmente e os da Renamo (o maior partido da
oposição) foram muito ínfimos. O uso da expressão oficial deve-se ao facto do Conselho
Constitucional ter validado os resultados das eleições, mas em contra partida, houve uma
controvérsia nos próprios resultados eleitorais, porque de vários editais apresentados havia
resultados contraditórios. Até mesmo havia onde a Renamo aparecia como vencedora.
Por conseguinte, devido a essas caraterísticas, há uma relevante necessidade de analisar
como são estabelecidas as relações entre os citadinos e os órgãos de governação local, como
um contributo para o debate sobre a institucionalização da democracia, naturalmente no
prisma da descentralização.
1.4. Objetivos:
1.4.1. Objectivo geral
 Analisar o grau de institucionalização democrática dos órgãos do poder local
no Município da Matola.
1.4.2. Objetivos específicos
 Identificar os indicadores das práticas de autonomia política dos munícipes da
Matola que sirvam de elementos legitimadores do respetivo governo.
 Descrever qual tem sido as condições de interação entre diferentes actores
políticos para a canalização das suas demandas a nível local.
 Explicar quais os fatores que influem dentro do sistema político para que haja
um eficiente desempenho institucional, que por conseguinte, consolida a democracia.

2. Definição conceptual e Revisão da Literatura

Para que haja uma compreensão mais precisa da temática, será necessária a definição de
alguns conceitos, especificamente: Democracia, Descentralização, Legitimidade e por fim
Cultura Política.
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A democracia é denotada como uma forma de organização do poder em que as decisões


inerentes aos interesses da coletividade emanam do povo, este que por sua vez escolhe os
seus representantes para a efetivação das tais decisões.
As eleições constituem, de modo geral, um método mediante o qual, os representantes
ascendem ao poder. Porém, este processo resulta de certos arranjos institucionais, daí que,
para SCHUMPETER, a democracia “é o arranjo institucional para se chegar a certas decisões
políticas que realizam o bem comum, cabendo ao próprio povo decidir, através de eleição de
indivíduos que se reúnem para cumprir-lhe a vontade.” (SCHUMPETER, 1961). Esta
concepção enquadra-se no o autor chamou de “método democrático”, visto que o povo não
toma realmente as suas decisões, pois a sua função é apenas de formar e dissolver governos.
Robert Dahl (2012) apresenta uma perspectiva mais pluralista, defendendo que uma
democracia deve ampliar os níveis de inclusão e contextação. Desta forma, deve ser estendida
a capacidade da participação popular (principalmente com a expansão do sufrágio para os
adultos) e a institucionalização de um espaço onde a oposição pode se organizar e competir
pelo poder. Portanto, o autor afirma que é difícil que se encontre um regime rigorosamente
democrático. Daí que ele adopta o conceito de poliarquia, que em geral caracteriza os regimes
considerados democráticos. Por conseguinte, Dahl apresenta alguns critérios que devem
caracterizar uma poliarquia que são: funcionários eleitos em eleições livres, justas e
frequentes; liberdade de expressão; fontes alternativas de informação; autonomia para
associação e uma cidadania inclusiva (Dahl, 2012).
Em suma, a democracia é um conceito que não une consensos, dependendo desta feita, do
horizonte de interpretação. Nesta secção foram expostas apenas as perspectivas
procedimentalista e a pluralista.
A descentralização é entendida como o processo institucionalizado em que se procede com a
devolução do poder pelo centro à preferia, permitindo assim que haja autonomia política e
administrativa nos locais descentralizados.
O procedimento consiste na transferência de funções e competências pelos órgãos centrais do
Estado para aos órgãos locais na gestão do bem comum. No entanto, ao contrário da
descentralização, existe a centralização em que, “a quantidade de poderes das entidades locais
e dos órgãos periféricos é reduzida ao mínimo indispensável, a fim de que possam ser
considerados como entidades subjacentes a administração.” (ROVERSI-MONACO, 1998).
Esta perspectiva é inerente ao que o autor considera o critério do mínimo indispensável.
Realçando, nesta óptica, que, para a descentralização, os órgãos centrais, relativamente ao
poder que eles têm tido para com os órgãos locais, reduzem-se ao mínimo indispensável.
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Assim, a descentralização é concebida “quando os órgãos centrais do Estado possuem o


mínimo de poder indispensável para desenvolver as próprias actividades.” (Idem, 1998, p.
330). As entidades locais devem possuir, certamente, maior autonomia no exercício das suas
competências, na optimização das suas actividades e no âmbito governativo.
Em torno da ideia de legitimidade, existem diferentes percepções. Também, é tida como um
dos factores preponderante no exercício do poder. Max Weber identifica três tipos puros de
poderes legítimos:
O tipo legal-burocrático, legitimado pelas regras estatutárias e de natureza formal; o tipo
tradicional, legitimado pela prática enraizadas na tradição; E por fim, o tipo carismático que é
legitimado pela crença de existir no líder capacidades excecionais.
Quanto à administração do Estado, este “será mais ou menos legítimo na medida em que se
torna real o valor do consenso, livremente, manifestado por parte de uma comunidade de
homens autónomos e conscientes, isto é, na medida em que consegue se aproximar à ideia-
limite da eliminação do poder e da ideologia nas relações sociais.” (LEVI, 1998).
Cultura Política, os estudos sobre o conceito de cultura política, tem suscitado muito debate
entre os académicos de diferentes campos das ciências sociais. Uma das referências é o
estudo feito por G. Almond e S. Verba, estes que argumentam convictamente que, as
condições ambientais e psicológicas modelariam as crenças, os valores e as opiniões
políticas, eles indicam o comportamento e as crenças dos indivíduos e dos grupos sociais
como seu objecto de análise, com vista a explicar como funciona o sistema político e a
relação deste com o o processo de socialização. (DULTRA 2012 )

O trabalho de Almond e Verba, permitiu para a distinção de um tipo específico de cultura


política, designada por cultura cívica, mas com fortes influências da psicologia biavorista.
Porque delimitam-se tendências na orientação no comportamento dos indivíduos em relação à
política.
As tais tendências são: a cognitiva, que é inerente ao conhecimento e crenças
relativos ao sistema político; afetiva, que está ligada aos sentimentos alimentados em direção
ao sistema político e a valorativa que compreende as opiniões e juízos em relação ao sistema
político.
Assim, a cultura política é definida como um “conjunto de tendências psicológicas
dos membros duma sociedade em relação a política”. (GIACOMO SANI, 1998) Nesta
aceção, os estudiosos distinguem três tipos de culturas políticas: a paroquial caraterizada pela
incompreensão dos indivíduos na sua inserção no sistema político, e é típica dos regimes
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tradicionais; a de sujeição, notável nos regimes autoritários; e por fim a cultura cívica,
relativos aos regimes do tipo liberal-democrático, caraterizados pela postura participativa e
activa dos indivíduos e dos grupos no sistema político.
Portanto, os sistemas em si, não são necessariamente determinante na construção da
cultura política, pois, o que é realmente fulcral neste contexto, é “o conjunto de atitudes,
normas, crenças, mais ou menos largamente partilhadas pelos membros duma determinada
unidade social e tendo como objeto os fenómenos políticos.” (Idem,).

3. Quadro Teórico
Como é de praxe, na produção de trabalhos de natureza científica, a existência de normas e
procedimentos para a sua efectivação, como por exemplo o uso de teorias como suportes para
a análise dos objectos de estudos, é praticamente um imperativo.
Para o presente trabalho em particular, adoptar-se-á a teoria Neo-institucionalista,
apresentada por Hall e Taylor (2003). Para estes autores, a preocupação fundamental do Neo-
Institucionalismo é a “elucidar o papel das instituições na determinação dos resultados sociais
e políticos.”
Neste sentido, existem duas preocupações centrais: por um lado, como as instituições afectam
o comportamento dos indivíduos, e, por outro lado, que tipo de resultado surge desta relação.
Por isso, Hall e Taylor esforçam-se em esclarecer as dinâmicas que advêm da interacção
entre os indivíduos e as instituições. Tentando compreender deste modo, “ (1) como construir
a relação entre instituição e comportamento; (2) como explicar o processo pelo qual as
instituições surgem ou se modificam.”
Contudo, importa referir que a Escola Neo-institucionalista está subdividida em três versões:
Neo-Institucionalismo Histórico, Sociológico e de escolha Racional. Mas, o que distingue
umas das outras são os métodos de análise, adoptados por cada uma das versões na
explicação dos fenômenos.

O 3.1. Neo-Instituciomalismo
A versão do Neo-institucionalismo que se irá usar aqui, para a análise do escopo do presente
trabalho, será o Neo-institucionalismo histórico, este que define instituição como “os
procedimentos, protocolos, normas e convenções oficiais e oficiosas inerentes a estrutura
organizacional da comunidade política ou economia política.” (HALL e TAYLOR, 2003).
Deste modo, entende-se que as instituições moldam a estrutura organizacional e político-
económica do Estado, as escolhas feitas pelos indivíduos aquando da tomada das suas
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decisões, e estas estão categoricamente dependentes das normas, convenções, e regras


estabelecidas formalmente, ou que são derivadas das práticas informais, que já estão
enraizadas.
Para o Neo-institucionalismo Histórico, o comportamento dos indivíduos e as relações por
eles estabelecidas são movidos pelos seus interesses, pois “os indivíduos buscam maximizar
seu rendimento com referência a um conjunto de objectivos definidos por uma função de
preferência dada que, ao fazê-lo eles adoptam um comportamento estratégico, (…) eles
examina todas as escolhas possíveis para selecionar aquelas que oferecem um benefício
máximo. Em geral, os objectivos ou preferências são definidos com relação à análise
institucional” (Hall e Taylor, 2003).
Ao adoptarem uma interacção estratégica, os indivíduos são certamente movidos por uma
atitude calculista e utilitarista. Pois, a maximização dos ganhos e a minimização dos custos
visam a obtenção de maiores proveitos possíveis.
O outro postulado defendido pelos teóricos do Neo-institucionalismo Histórico é o percurso
histórico (path dependency), argumentando que a trajetória histórica tem uma quota-parte na
influência das decisões posteriores.
No dossiê da descentralização em Moçambique, com uma evidente dificuldade de se
proceder com uma verdadeira descentralização e o retrocesso verificado em relação às
primeiras medidas de criação de um poder local eleito, não escapa à tendência centralista e
autoritária que caracteriza o Estado africano pós- colonial desde as independências. É
sublinhada por Diouf que a centralização institucional e financeira e o controlo burocrático
“eliminam progressivamente o conjunto dos mecanismos que asseguravam a autonomia do
espaço político local, em favor de um centro que se apropria de todas as funções e recursos”
num processo em que a política local “se torna tributária das lutas políticas nacionais” (Diouf,
1999).
No concernente aos entraves que dificultam para que se avance com uma verdadeira
descentralização em Moçambique, compreendem-se alguns aspectos inerentes á trajetória
histórica, dado que a estrutura centralizadora foi o que essencialmente configurara o Estado
Moçambicano durante a sua formação, logo após a independência.
Por conseguinte, a análise do desempenho das instituições democráticas na esfera do
poder local, e a legitimidade do tal poder, no caso da Autarquia da Matola, será feita
mediante a teoria já aludida, porque existem nele certos elementos que podem ser analisados
sob ponto de vista neo-institucionalista.
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4. Metodologia
Para a materialização do presente trabalho, pautar-se-á a prior por uma leitura bibliográfica,
tendo como primazia textos inerentes ao arcabouço teórico, tal como, os que versam sobre o
escopo escolhido.
A abordagem será a de índole qualitativa, pois, essa modalidade de abordagem busca
estabelecer uma relação entre o sujeito e o objecto que não pode ser traduzida em números,
ou seja, o problema não pode ser quantificável.
Assim, a preocupação central neste tipo de abordagem é a descrever e interpretar os
fenómenos que não são percetíveis a prior na superfície. Quanto ao problema do presente
trabalho, pretender-se-á certamente compreender o nível da qualidade da democracia na
autarquia da Matola, e a relação entre as instituições democráticas e o comportamento dos
indivíduos com relação as mesmas.
Contudo, devido a natureza do problema da pesquisa, será necessário privilegiar a
componente empírica, na qual far-se-á a coleta de dados através de entrevistas semi-
estruturadas.
Decerto, o desempenho institucional afecta directamente na qualidade da democracia, e para
o entendimento desta dinâmica, as entrevistas serão praticamente imprescindíveis.
As entrevistas, deste modo, serão dirigidas às fontes privilegiadas, (os que tem um
conhecimento mais apurado sobre a temática, como académicos), também aos que directa ou
indirectamente actuam no campo político da autarquia (os membros dos órgãos do poder
local, partidos políticos e uma parcela dos munícipes da Matola.).
Para a prossecução das entrevistas, usar-se-á a técnica de amostragem aleatória, como
mecanismo de condensação do tamanho da população. A Amostragem aleatória permitirá que
qualquer um dos citadinos da Matola, tenha mesma probabilidade de ser entrevistado.
Portanto, no concernente ao método propriamente dito, adoptar-se-á o método hipotético-
dedutivo, que consiste na formulação de uma hipótese, que será testada durante a pesquisa, e
posteriormente a obtenção de ilações, que podem ser corroborada ou falseada.
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Bibliografia

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I.1. Cronograma

MES
ACTIVIDADES
Levantamento Bibliográfico DEZ  FEV  MAR            
Entrega do primeiro projecto  MAR                
Producao de guião de Perguntas
para as Entrevistas  MAR                
Coleta de Dados  ABR  MAI              
Entrega do Primeiro Draft  JUN                
Entrega do Segundo Draft  JUL                
Entrega do trabalho Final  JUL                
Defesa                  

I.2. Orçamento

  Materiais Valor em Mt Quntidade Total (MT)


  Gravador 10 000.00 1 10 000.00
Skanner 15 000.00 15 000.00
Internet 3 000.00 3 000.00
18

Transporte(Chapa) 1000.00 1000.00


  Impressão 7000.00 700.00
 
 
Grande total       29 700.00

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