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ERNAMBUCO

Foto:Maneco
MORTAL
Novaes ~~~~~=D~etalhed~epaine~lde Fran~CiSCO
B~rennand

Nativos e colonizadores ,

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ERNAMBUCO
MORTAL
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I Resgate à pernambucanidade I
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ão seria exagerado
dizer que poucos
por ela se interessem,
resgatando fatos e
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~ pernambucanos conhecem personalidades que ajudaram ~
~ ~I P . c ~
~ com mais profundidade a a escreve- a. ara ISSO, terem ~
~
~ H·istone
,. d e Pernam b uco. buscar o talento e os inegáveis ~
~
~ Uma história rica de heróis conhecimentos do professor ~
~
~ e heroínas, marcada por um Manuel Correia de Andrade, ~
~
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~ intenso sentimento d e um dos intelectuais mais '>l
~
~
~ nativismo, identificada com lúcidos e mais respeitados ~
~
~ a própria formação do Brasil do país, responsável pela ~
I enquanto país soberano. pesquisa histórica e pela ~
~ Nessa história há páginas redação final dos textos que, ~
~ escritas com o sangue de a partir de hoje, durante 12 ~
I mártires; há exemplos de semanas estarão sendo I
~ coragem que dignificam; há entregues aos leitores, em ~
~~ uma consciência co I etiva forma de fascículos. ~
~
~ em defesa da liberdade e Com isso, esperam ~
~ da independência - há, despertar, especialmente nos ~
~ ... ~
~ enfim, tudo aquilo que Jovens, um Interesse meior ~
~ tempera um povo e ior]« pelo nosso passado histórico, ~
~
~ uma raça. um justo respeito pe Ios ~
~
~
~ O Jornal do Commercio nossos antepassa dos, uma ~
~
~ ~
~ e o Coverno do Estado, consciência de que em ~
~ unem-se numa parceria cujo Pernam b uco aIguns sim'bl o os ~
~ obietivo maior é tornar são emblemáticos e se ~
~ ~
~ acessível a História de confundem com a própria ~
~ ~
~ Pernambuco a todos quantos história da Nação. ~
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o "paraíso" tropical e selvagem
s primeiros europeus, também a apreciar. Nas embocadu- ve até na descrição do corpo das ín-
ao chegar ao Brasil, ras dos rios, em trechos cobertos pe- dias, salientando que elas entre ou-
constataram, surpre- la maré alta, e nas áreas arenosas vi- tras coisas se apresentaram com os
sos, que do outro la- zinhas, havia uma riqueza imensa sexos "suas vergonhas" raspadas,
do do Atlântico ha- em crustáceos - caranguejos, guaia- ou de Américo Vespuccio que teve
via terras bem diver- muns, siris, aratus, camarões e molus- ainda maior entusiasmo, informan-
sas daquelas do seu cos e em peixes que forneciam alimen- do aos seus senhores de Florença
continente, não só quanto ao clima, tação aos indígenas. que "as mulheres andam sempre
aos rios, à flora, à fauna, mas sobre- Mas foram os indígenas a gran- nuas e são libidinosas, não têm na-
tudo; quanto aos habitantes. de descoberta destes primeiros nave- da defeituosos em seus corpos, for-
O Brasil, por encontrar-se, em gadores; eles se apresentaram às ve- mosos e limpos, nem tão grosseiras,
sua maior porção, ao sul do Equa- zes hostis, como na Baía da Traição, como se poderiam supor, porque,
dor terrestre, tem as estações do ano às vezes acomodados e pacíficos, ainda que carnosas, falta ao par de-
contrapostas às européias; na costa em outros pontos da costa, fazendo las a fealdade, a qual na maior par-
nordestina, a primeira a te está dissimulada pela
ser percorrida pelos euro- boa estatura. Uma coisa
peus, o clima se apresen- nos há parecido milagro-
tava quente durante to- sa, que entre elas nenhu-
do o ano. Que surpresa ma tinha os peitos caídos;
deve ter tido os náufra- e as que haviam parido,
gos e degredados que fica- pela forma do ventre e a
ram no Brasil, por anos estreitura, não se diferen-
a fio, vendo transcorrer ciavam em nada' das vir-
o tempo sem a sucessão gens e nas outras partes
das estações, típica da do corpo pareciam o mes-
Europa. mo, os quais por honesti-
Além disto, a costa ti- dade não as menciono"
nha quase sempre uma li- (Vespuccio, A. 1951). Não
nha paralela de recifes, menos entusiasmado com
de arenito e de coral que a beleza das índias ficou
permitia às embarcações, Pero Lopes de Souza, com-
ao se aproximarem do lito- parando-as às mulheres
ral, procurar as barras e européias (Castro. 1943).
barretas existentes e anco- Estas manifestações eram
rarem em portos onde es- compreensíveis, sabendo-
tavam seguros das tempes- se que os navegadores che-
tades, dos ventos e dos gavam ao Brasil após vá-
inimigos. Esta segurança rias semanas da travessia
tinha tal importância do Atlântico, sem a possi-
que, ao "descobrir" o Bra- bilidade de contatos se-
sil, Cabral denominou xuais. Ao chegarem à no-
de Porto Seguro ao anco- va terra, se entusiasmavam
radouro onde se abrigou. No litoral contatos com os europeus, trocan- com as índias e desenvolviam com
os viajantes viam o suceder de restin- do produtos da terra por utensílios as mesmas os contatos de que se sen-
gas arenosas, nas nossas praias e de por eles oferecidos e até concordan- tiam carentes. Gilberto Freyre, em
áreas mais baixas, de solos argilosos, do que as suas mulheres se entregas- livro clássico (1946), baseado nas crô-
escuros e muito úmidos, onde se de- sem aos visitantes. Mulheres que nicas coloniais, explica bem estas rela-
senvolvia a vegetação de mangue; eram consideradas atraentes, face à ções que teriam sido fruto tanto da
nas restingas, onde ainda não havia limpeza do corpo -, tomavam vá- falta de mulheres brancas, como do
coqueiros, que foram trazidos da rios banhos por dia -, e formosas. desejo que tinham as índias de parir
Oceania, havia formações vegetais Numerosos foram os cronistas que filhos que se colocassem em uma con-
ricas em cajueiros e guajirus e, um as observaram com o maior cuida- dição social superior, por serem fi-
pouco mais para o interior pitanguei- do e as descreveram em cartas envia- lhos de pais brancos, e de ficarem li-
ras, batiputás e mangabeiras que pro- das ao Reino, como fez Pero Vaz gados aos mais poderosos que inicia-
duziam frutos apreciados pelos ín- de Caminha (1943) na carta oficial vam, no Novo Mundo, a formação
dios e que os europeus logo passaram do descobrimento, onde ele se de te- de uma nova classe dominante.

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Os primeiros visitantes e colonos f

os fins do século terminado - Gonçalo Coelho, D. tões, que faziam contatos e alianças
XVI, era voz corren- Nuno Manuel ou André Gonçalves com os índios, chegando a instalarem
te na Europa, entre - (Viana, Hélio, 1961; 61), da qual feitorias, como a de ltamaracá (A-
navegadores, nobre- participou o florentino Américo Ves- breu, C. 1930; 40). Oliveira Lima,
za e burguesia, a pos- puccio que já estivera, em 1499, no um dos nossos maiores historiadores,
sibilidade de existên- Caribe, e que, por escrever cartas chega a admitir que ao lado de feito-
cia de terras ao oes- aos seus patrões de Florença sobre rias fixas, os franceses e portugueses
te do oceano Atlântico; por isto, o Novo Continente, ficou famoso e fundaram pequenas feitorias tempo-
apesar de terem orientado a sua ex- terminou dando nome ao mesmo. rárias, em pontos da costa favorá-
pansão, navegação em naus e carave- Em 1503, ele voltaria em uma outra veis à coleta de produtos de exporta-
Ias acompanhando a costa d' África expedição com seis embarcações, co- ção (1924), isto porque os comercian-
em demanda das Índias, os portugue- mandada por Gonçalo Coelho, alcan- tes necessitavam de um ponto para
ses não descuraram de coletar infor- çando a ilha de São João, depois a armazenagem dos produtos à espe-
mações sobre as terras que poderiam chamada de Fernando de Noronha, ra das embarcações. O principal pro-
descobrir no próprio Atlântico. Ha- onde naufragou. Vespuccio, com duto de exportação era, inegavelmen-
via a crença generalizada e aceita três embarcações, viajou para a cos- te, o pau-brasil, mas ao lado deste
pelo próprio Colombo, de também eram transportados,
que o diâmetro da terra era
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para a Europa, toros de madei-
bem menor e que as Índias ......
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ra, algodão, papagaios, plumas,
se encontravam bem mais couros e peles, que obtinham
próximas da Europa do que boa cotação naquele mercado.
supunham. Daí, o grande ge- À proporção que o comér-
novês ter denominado de ín- cio com a Índia foi perdendo
dios aos habitantes da terra importância, o rei de Portugal
que descobrira. Só posterior- passou a ter maior preocupa-
mente, em pleno século XVI, ção com o Brasil; em 1516, en-
é que Balboa, atravessando viou técnicos e materiais para
o istmo de Panamá, desco- implantação de um engenho
briu o Pacífico, que seria ex- de açúcar em Itamaracá (Var-
plorado a partir da viagem nhagen, 1854) e, dez anos de-
de Fernão de Magalhães. pois, este açúcar jáera remeti-
Admite-se que Vicente Pin- do para Lisboa. Convém salien-
zon visitou a costa pernambu- tar que havia, então, uma cer-
cana no início do ano de ta confusão com o nome de
1500, antes da chegada de Pernambuco, de vez que o mes-
Cabra I a Porto Seguro, e que mo, em língua indígena, signifi-
teria estado no Cabo de San- ca "buraco do mar", sendo es-
to Agostinho, que ele deno- te nome dado, inicialmente, à
minou de Cabo de Santa foz do rio Santa Cruz, que se-
Maria de Ia Consolacion, partindo ta brasileira percorrendo-a do cabo para a ilha de ltamaracá do conti-
depois para o Norte, à procura do de São Roque ao cabo Frio, conver- nente, e, posteriormente, ao porto
Caribe, onde sabia que encontraria sando com os indígenas, procuran- do Recife. Tanto que, para distinguí-
terras pertencentes à Espanha, em do informar-se sobre os produtos los chamavam ao primeiro de Per-
conseqüência do Tratado de Torde- da terra e avaliar como poderia ex- nambuco o velho, naturalmente por
silhas (Costa, Pereira da, 1951 e plorá-Ios; baseado nessas notas, es- ter sido o explorado primeiro, e ao
Abreu, Capistrano, 1929). creveria suas cartas, de grande valor do Recife, de Pernambuco o novo.
Com a descoberta de Cabral, in- para a história, a geografia e a antro- Admite-se que seja de 1516 a fun-
tensificaram-se as viagens ao litoral pologia do Brasil. dação de uma feito ria, de caráter per-
brasíleiro, de vez que por Pernambu- esse período, além dos portugue- manente, ao sul da ilha de Itamara-
co devia ter passado Gaspar de Le- ses que e consideravam senhores cá, onde foram deixados colonos por-
mos que levava a carta de Caminha da terra e dos espanhóis que deman- tugueses, sobretudo degredados, pa-
e outros documentos ao rei. No ano davam a foz do rio da Prata, que ra aprenderem a língua e os costu-
seguinte, 1501, teria vindo ao Brasil consideravam de sua propriedade, mes dos índios e estabelecerem conta-
uma expedição exploradora cujo co- também passaram por nossas costas tos comerciais com os mesmos. Seria,
mandante não foi até hoje bem de- marinheiros franceses, sobretudo bre- assim, um pólo inicial de povoamento. '

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A luta entre portugueses e franceses
as, se na primeira dé- e conhecessem a sua língua e seus cos- nambuco alguns homens que logo se-
cada do século XVI tumes. riam atacados pelo francês Jean Dupe-
. a costa de Pemambu- Portugal, porém, compreendeu que ret, que conquistou a feitoria de lta-
• co já teria sido visita- o combate aos franceses não podia maracá, fortificou-a, deixou-a guarne-
da por portugueses e se desenvolver da fsrma como vinha cida com 70 homens, fez um grande
~ • franceses, nas déca- sendo feita até então, ele necessitava carregamento de produtos da terra e
das seguintes foram ser feito diretamente pelo Estado, uti- retomou à Europa (C-astro, E. 1940;
grandes as lutas entre os armadores lizando os recursos de que dispunha. 387). Nessa viagem, a nau La Pereli-
bretões e as embarcações portuguesas, Daí, a organização, em 1526, de uma ne com grande carregamento de pro-
reais ou particulares. Isto porque, nem expedição de sete embarcações dutos da terra, foi aprisionada pelos
todas as expedições portuguesas eram - uma nau e seis caravelas - cujo portugueses, nas proximidades de Gi-
oficiais, ocorrendo que os comercian- comando foi entregue a Cristóvão Jac- braltar, dando margem a uma gran-
tes estabelecidos em Lisboa armavam ques, homem afeito às lutas do mar de demanda entre os seus proprietá-
embarcações e as enviavam ao Brasil e ao combate aos corsários. Suas atitu- rios e o governo português.
à procura de mercadorias tropicais, des violentas eram conhecidas e faziam Pero Lopes, em seu retorno do
como ocorreu à nau Bretoa, em 1511. temer aos que o teriam de enfrentar, sul, aportou em ltamaracá para des-
Um dos armadores, que se tornou fa- destruindo embarcações, confiscando canso e abastecimento, quando foi to-
moso, foi Femão de Noronha que te- mercadorias e aprisionando franceses mado de surpresa com a ocupação
ria sido o primeiro donatário de capi- que eram conduzidos para a feitoria da feito ria, e a atacou. Apesar da po-
tania no Brasil e arrendara o comér- sição estratégica, o seu comandante,
cio do mesmo ao rei. Senhor de Ia Motte, teve dificuldades
Franceses e portugueses quando de oferecer resistência, rendendo-se
se encontravam no mar ou nos anco- com a garantia de vida e de breve re-
radouros do litoral, entravam em lu- gresso à Europa. Admite-se, porém,
ta, cometendo grandes atrocidades, que tenha havido, na ocasião, uma
matando os vencidos, incendiando conspiração e um atentado a Pero
ou confiscando embarcações e merca- Lopes e este resolveu enforcar os pri-
dorias nelas contidas e amedrontan- sioneiros franceses, até que os que
do os indígenas que comerciavam com praticaram o atentado se apresentaram,
uns e outros. Mas a penetração era sendo também enforcados. Entre os
tão forte e as alianças com os nativos que haviam sido enforcados encontra-
tão consolidadas que havia nações in- va-se o comandante francês, Senhor
dígenas, como os potiguares, que eram de Ia Motte. Pero Lopes, depois de
aliadas dos franceses, enquanto ou- restaurar a feitoria e entregá-Ia à dire-
tras, como os tabajaras, eram aliadas ção de Francisco Braga, retomou à
dos portugueses. Europa (Castro, E. 1940; 376/393).
Os portugueses consideravam o co- Da Europa, a serviço do rei e em
mércio dos franceses como de contra- busca de riquezas e aventuras, ele par-
bando, mas o rei de França, que não tiria para a India, passando a operar
reconhecera a Bula Inter Coetera nem no oceano Indico onde desapareceu
o Tratado de Tordesilhas, apoiava de ltamaracá, e, em seguida, transferi- em um naufrágio. Teve morte trági-
os seus corsários, fato que levou o rei dos para Portugal. ca um homem que desde a juventude
de Portugal a entrar em negociações A política de povoamento seria in- levava uma vida de guerras e aventu-
diretas com os piratas João Ango e tensificada com a ascensão ao trono ras, agindo sempre com grande bravu-
João Afonso, sem obter, porém, resul- de D. João lI, que enviou ao Brasil ra, embora com muito autoritarismo
tados satisfatórios. Em 1526, também a expedição comandada por Martim e crueldade.
visitaram a feitoria de Itamaracá os Afonso de Souza, trazendo como cro- Pouco antes de sua morte, em 1534,
espanhóis Diego Garcia e Sebastião nista e comandante de um dos navios ao dividir o Brasil em capitanias here-
Caboto, que se dirigiam para o Pra- o seu irmão Pero Lopes de Souza. ditárias, o rei D. João Ill deu ao seu
ta, e, com autorização do comandan- Alcançando a costa pemambucana valoroso capitão, em doação, três lo-
te da feitoria, Manuel Braga, levaram em 31 de janeiro de 1531, logo entrou tes de terra, o de ltamaracá, o de San-
com eles o colono Jorge Gomes (Cos- em luta com os franceses, na altura to Amaro e o de Santana. Estes lotes,
ta, Pereira, 1951). da ilha de Santo Aleixo, derrotando- entregues a prepostos, terminaram sen-
Os espanhóis necessitavam de aju- os (Varnhagen, 1854; Iv. 122). do absorvidos por capitanias vizinhas
da de pessoas que tivessem contatos Após a vitória, Martim Afonso na- e desaparecendo como unidades polí-
mais prolongados com os indígenas vegou para o sul, deixando em Per- ticas autônomas.

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A divisão do Brasil em capitanias


ão se pode estudar e a maior porção do Pernambuca- sa. 1929). Até hoje Pernambuco rei-
a história da capita- no. No rio São Francisco, Pernambu- vindica a devolução do território
nia de Pernambuco co tinha jurisdição sobre as águas e que perdeu por ser republicano e,


ignorando a capita- as ilhas, indo, assim, até a margem mais de um século após a Proclama-
nia de Itamaracá, es- baiana. Fugia à regra de que quan- ção da República, não teve de volta.
tas capitanias foram do um rio separa dois territórios, o A porção meridional da capitania
doadas em 1534 e ti- limite passa pelo seu talvegue. Para que formava a Comarca das Alago-
veram a sua história irmanada até o interior ambas as capitanias se es- as foi desmembrada de Pernambu-
1763, quando a de Itamaracá foi ab- tendiam até a imaginária linha do co para formar uma outra província,
sorvida, juridicamente, pela de Per- Tratado de Tordesilhas. em 1818, também como castigo por
nambuco, já se encontrando desde Com o correr do tempo, observou- Pernambuco haver liderado a Revo-
alguns anos atrás sob a administra- se que o São Francisco não corria lução Republicana de 1817.
ção da mesma. Durante todo o tem- em linha reta do oeste para o leste, ltamaracá também sofreu desmem-
po em que conviveram como capita- o seu curso fazia um desenho capri- bramentos, de vez que, em 1585, com
nias hereditárias, foram envolvidas choso, ora se estendendo para o nor- a conquista da Paraíba, o governo
nos mesmos conflitos, enfrentando te ora para o sul. Ficou estabeleci- português criou uma capitania da
os mesmos problemas e dependen- do, então, que seria ele a linha divi- Coroa, na porção norte, retirando
do de soluções iguais ou semelhantes. sória entre Pernambuco e Bahia e dois terços do território de ltamara-
Inicialmente, Itamaracá compreen- não o meridiano que passava em sua cá, reduzindo-a a uma faixa de dez
dia uma faixa litorânea que ia des- foz. Pernambuco conservou o domí- léguas de costa, onde se situava a
de a Baía da Traição, onde se limita- nio de extenso território até o ano ilha do mesmo nome e onde desem-
va com a capitania do Rio Grande, de 1824, quando D. Pedro I, casti- bocava o rio Goiana. Daí em dian-
até o canal de Santa Cruz que a se- gando-o por haver tentado formar te, com o surgimento da Vila de
parava de Pernambuco. Esta capita- a Confederação do Equador, des- Goiana, ela passou a viver um perío-
nia, bem mais extensa, se iniciava membrou toda a sua porção ociden- do de disputa de hegemonia entre a
no canal de Santa Cruz e se estendia tal - a cornarca de São Francisco velha capital, Vila da Conceição, ho-
até o rio São Francisco, que a sepa- - e anexou-a inicialmente a Minas je Vila Velha, e a de Goiana, até
rava da Bahia. Assim, ela compreen- Gerais, transferindo-a, em 1827, pa- que, em 1763, foi anexada à capita-
dia todo o território hoje alagoano ra a Bahia (Lima Sobrinho, Barbo- nia de Pernambuco.

Duarte Coelho e a colonização


entre os donatários ra contatos, na Europa, com possí-
aquinhoados por D. veis financiadores para o desenvolvi-
João m, Duarte Co- mento da agroindústria açucareira
elho foi, inegavelmen- na Nova Luzitânia.
te, o melhor dotado O sítio dos Marcos, porém, não
~ para a missão que lhe era lugar conveniente para o estabele-
foi confiada. Homem cimento definitivo de sua colônia, tan-
experimentado na luta colonial, na to por ser muito próximo à capitania
India e na costa africana, já com vizinha como por se encontrar em
mais de 40 anos de idade, ele conven- meio a uma várzea que ficava em gran-
ceu-se de que deveria vir para o lote de parte abaixo do nível da maré al-
que lhe fora dado, ao qual denomi- ta, sendo inundada diariamente e ocu-
noude T ova Luzitânia, com a inten- pada por manguezais. Apenas algu-
ção de ficar e de plantar uma colônia mas coroas de areia se prestavam pa-
de povoamento que tivesse condições ra o estabelecimento de residências e
de prosperar. Para isto, cercou-se de gião e experimentados no trato com armazéns. O manguezal, com uma vi-
amigos, de familiares e de dependen- o gentio, dirigiu-se ao extremo norte da animal muito rica: em peixes, crus-
tes e partiu com a esposa. d. Brites de sua capitania e se estabeleceu no táceos, moluscos e aves, fornecia o
de Albuquerque para a sua capitania. sítio dos Marcos, onde Cristóvão Jac- alimento necessário, fazendo com que
Sabendo que ltamaracá já tinha um ques havia implantado os marcos da os colonos se sentissem desestimula-
certo ritmo de povoamento e que lá posse portuguesa. Pretendia fundar dos para o trabalho permanente na
viviam portugueses aclimatados à re- uma colônia de agricultores e já fize- agricultura.

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~ Duarte Coelho, então, subiu o rio ses de Viana, como André Gonçal- do, Jerônirno de Albuquerque, ca-
Igarassu até onde as colinas terciá- ves, que foi governador de Igarassu sou-se com a índia, Maria do Espíri-
rias e argilosas se debruçam sobre e faleceu em 1548 em conseqüência to Santo, filha do cacique Arcover-
o rio e os manguezais e aí se estabe- de uma flechada desferida por ín- de que, aliado dos portugueses, aju-
leceu, fundando a vila dos Santos dios revoltados que cercaram a vila. dou-os na luta contra os caetés. Ele
Cosme e Damião, que ainda hoje Nesta luta tomou parte o artilheiro explorou a capitania em direção ao
possui a igreja mais antiga do Nor- alemão Hans Staden que escreveu sul, até o rio São Francisco, deixan-
deste do Brasil. Após lutar com os interessante livro sobre o Brasil, os do uns poucos povoadores em al-
indígenas, ele apossou-se de terras costumes indígenas e a luta em Iga- guns pontos da costa.
nos arredores e as distribuiu entre rassu. Mas não eram apenas os indíge-
os colonos; estes, no contato com Era natural que os gentios se re- nas que causavam problemas a Duar-
os portugueses que viviam na feito- voltassem contra os portugueses por- te Coelho; ele tinha que enfrentar
ria de Itamaracá, já haviam se acos- que eles chegavam à sua terra, apos- também os problemas causados pe-
tumado com o uso de alimentos co- savam-se das porções mais férteis e los exploradores de pau-brasil, que
mo a farinha de mandioca, ou "fari- ainda os escravizavam, tentando sub- era monopólio da coroa, e pelos de-
nha de pau" como chamava então, metê-los a um sistema de trabalho gredados que entravam em contato
do milho e de frutos da terra, saben- a que não estavam acostumados. com os indígenas, não cumpriam
do também o que caçar e pescar. A Como viajavam com um pequeno os compromissos assumidos e, quan-
sua primeira missão seria a de produ- percentual de mulheres e as índias do se sentiam fortes, os puniam.
zir mantimentos, só depois é que facilmente se deixavam fascinar pe- Em cartas ao rei o donatário se quei-
partiria para os produtos xava da ação dos mesmos,
de exportação. pedindo providências e até
Dois anos depois da im- sugerindo que se suspen-
plantação de Igarassu, pri- desse a remessa de degreda-
meira vila em território dos para a sua capitania
pernambucano, Duarte (MeIo, J.A.G. de 1935).
Coelho rumou para o sul Ainda tinha sérios proble-
e, à beira-mar, em colina mas com os habitantes da
próxima à praia, na con- capitania de Itamaracá,
fluência dos rios Capibari- que ficara entregue a pre-
be e Beberibe, conquistou postos do donatário Pero
terras aos caetés e fundou Lopes de Souza, e dos
a vila de Olinda que seria seus sucessores; como eles
capital de Pernambuco não tinham autoridade su-
por três séculos. Olinda ficiente, tornaram a capita-
era uma cidade em acrópo- nia um ponto de refúgio
le, a fim de melhor ser de criminosos e fugitivos
defendida dos ataques in- de Pernambuco. O caso
dígenas, e ficava à beira se agravou de tal forma
mar, mas afastada do por- que em uma certa ocasião
to - Recife - para me- Duarte Coelho agrediu o
lhor se defender das sorti- capitão-mor de Itamaracá,
das dos piratas, então numa rua de Olinda, levan-
abundantes no Atlântico. do-o, desmoralizado, a
O Recife, como porto de abandonar o Brasil.
Olinda, surgiria em uma Em quinze anos de ad-
restinga na foz do Capibaribe, sen- los brancos, apossavam-se de suas ministração, o velho comandante,
do, inicialmente, apenas uma povo- mulheres e filhas, vivendo uma vi- em carta ao rei, dizia que estava po-
ação com armazéns de açúcar, ta ver- da desregrada (Freyre, G. 1946), bre e endividado e solicitava autori-
nas e prostíbulos (Jurema, A. 1952). além de castigá-los com violência, zação para importar escravos negros,
Em 1595, a povoação do Recife esta- batendo, torturando e até assassinan- de Guiné, a fim de utilizá-Ias na agri-
va com tanta mercadoria armazena- do-os pelos menores problemas. cultura. Os indígenas não eram sufi-
da que foi objeto de um ataque do Durante mais de dez anos Duar- cientes e facilmente migravam para
pirata João de Lancaster, que a ocu- te Coelho controlou pequenas áre- o interior, para lugares onde era di-
pou um mês e a saqueou, mas não as em torno de Igarassu e Olinda, ficil aprisioná-los. Esta situação afli-
pode conquistar Olinda (Lima, Oli- onde fundou roças de mantimento tiva, levou Rocha Pita (1950) a afir-
veira. 1975:31). e os primeiros. engenhos. O seu su- mar que Duarte Coelho havia con-
Entre os companheiros de Duar- cesso só foi conseguido, entre ou- quistado a palmos as terras que rece-
te Coelho, encontravam-se portugue- tros motivos, porque o seu cunha- bera em léguas.

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Só depois de 1554, após a morte teriormente, no lombo de burros. 10, teve onze filhos e mais cinco fi-
de Duarte Coelho, quando Jerôni- Os engenhos eram movidos a tração lhos de mulheres esparsas, mas men-
mo de Albuquerque, à frente do go- animal - as almanjarras - primei- cionadas em seu testamento. Isto,
verno da capitania fez a guerra aos ramente bois e depois éguas, e, às dos filhos reconhecidos, de vez que,
índios da várzea do Capibaribe ex- vezes, quando havia água em abun- certamente, teve outros que não o
pulsando-os para o sul dos montes dância, eram movidos à água. Estes foram. Uma prole tão numerosa,
Guararapes, é que a capitania come- últimos eram mais importantes, por de uma pessoa que era a segunda
çou a prosperar em função da cultu- isto eram chamados de engenhos re- na governança, tendo dirigido a ca-
ra da' cana-de-açúcar. Na ocasião, ais, enquanto os outros eram chama- pitania em nome da irmã nas ausên-
os índios estavam agitados, temero- dos de "engenhocas". cias do cunhado, e tendo muitas fi-
sos de novos avanços dos portugue- O surto canavieiro iria permitir lhas, era natural que numerosos mi-
ses e começaram a atacar os viajan- a expansão da capitania pela porção grantes procurassem casar com elas,
tes que iam de Olinda a Igarassu, fa- meridional e o enriquecimento do como, entre outros, o fidalgo alemão
zendo temer que ocorresse uma no- grupo dominante, geralmente liga- Cristovam Linz, o florentino Felipe
va guerra como a de 1548, com o do à família do donatário; o fastígio Cavalcanti e o flamengo Arnau de
cerco de Igarassu. Por isto, Jerôni- de Olinda era tanto que nos anos Holanda.
mo de Albuquerque convidou os ín- 80 do século XVI, ela era a vila Ao falecer, Duarte Coelho legou
dios das várias tribos e nações vizi- mais importante do Brasil, com uma ao seu filho mais velho, Duarte de
nhas a Olinda para uma festa em população de mais de 20.000 habitan- Albuquerque Coelho, uma capitania
que distribuiu muito vinho. Os ín- tes, intensificando o tráfico de escra- próspera que fazia sombra à da Ba-
dios se excederam na be- hia, sede do governa-
bida e, embriagados, fo- dor geral do Brasil. Co-
ram provocados pelos mo, ao ser implantado
portugueses para saber o governo geral, em
porque estavam atacan- 1549, no Regimento
do os colonos. Começa- de T omé de Souza, o
ram, então, a acusar uns rei mantivera as prerro-
aos outros, informando gativas dos "Albuquer-
o governador. Este fez que de Pernambuco",
a guerra e os derrotou, se pode ver que a auto-
conquistando a várzea ridade do donatário era
do Capibaribe, mas não muito grande, de vez
conseguiu batê-los ao que ele exercia a totali-
sul dos Guararapes. • dade dos poderes, po-
De qualquer forma, dendo distribuir terras
abriu-se um grande espa- em sesmarias, reservar
ço à implantação de ca- +!&. terras para sesmarias,
naviais e engenhos, de reservar terras para si,
vez que a várzea, consti- fundar vilas, explorar
tuída por solos aluviais as passagens dos rios
e úmidos, se prestava navegáveis, nomear ta-
bem à cultura da cana; beliães e julgar crimes
os engenhos situados até a última instância,
na margem dos rios cons- das pessoas de menor
truíram pequenos trapi- categoria social, e com
ches onde embarcavam a possibilidade de recur-
o açúcar até os armazéns do porto. vos africanos e a migração de euro- sos para o rei, quando condenados
Para implantar esses engenhos, po- peus para aqui se estabelecerem. Da- por crime de morte, para os fidal-
rém, necessitavam de dinheiro para ta deste período o surgimento da gos. Na ocasião, os crimes mais gra-
adquirir máquinas, escravos, erguer chamada fidalguia pernambucana, ves eram os de traição, de heresia,
construções e contratar especialistas aparentada à família do donatário. de sodomia e de produção de moe-
na produção de açúcar, na confec- Duarte Coelho só teve dois filhos, da falsa. Mas, com tantos poderes
ção de caixas para acondicionar o mas seus cunhado teve, segundo seu e rendas tão ponderáveis, os descen-
produto a ser exportado, no traba- testamento, 24 descendentes, de vá- dentes de Duarte Coelho preferiam
lho de embranquecimento do açúcar rias mulheres: da primeira, filha do a vida na corte à vida em Olinda,
e no próprio transporte, inicialmen- cacique Arcoverde, teve oito filhos, embora algumas vezes, por determi-
te feito em barcaças, uma vez que dentre os quais o conquistador do nação real, tivessem que viver a vi-
os engenhos se situavam próximos Rio Grande do Norte e do Mara- da da capitania, sobretudo à pro-
aos pequenos portos fluviais, e, pos- nhão; da segunda, d. Felipa de Me- porção que o tio envelhecia.

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Os sucessores de Duarte Coelho
s dois filhos de Duar- arremeteram pelos vales meridionais, fazendo com que índios caçassem
te Coelho, Duarte ocupando o do Sirinhaém, o do rio outros índios e os entregassem para
(o segundo donatá- Formoso, o do Una, o do Mangua- o cativeiro. Mas os preadores de ín-
rio) e Jorge, que fi- ba, o das lagoas de Mundaú e Man- dios, movidos por grande ambição
cou famoso por ter guaba e o baixo São Francisco, on- (Lima, B. 1929), passaram a prear
sido o herói do poe- de Duarte Coelho teria fundado os próprios aliados e a promover
ma épico de Bento uma povoação (Costa, F.A.P. 1918) alianças entre grupos até então hos-
Teixeira Pinto, voltaram para Per- Penedo, a trinta quilômetros da foz. tis, provocando levantes que puseram
nambuco após a morte do pai e Para impedir os ataques indíge- em risco o avanço da conquista.
resolveram expandir a área canaviei- nas e obter mão de obra forçada pa- Este avanço para o sul permitiu
ra, conquistando as terras situadas ra a agricultura, os portugueses orga- o surgimento de várias povoações
ao sul do Recife e que depois pas-
escravizando os indí- saram a vilas,
genas, avançando, como a do Ca-
com ajuda de gente bo, a de Sirinha-
de Itamaracá, para êm, a de Porto
os vales do Pirapa- Calvo, a das Ala-
ma e do Ipojuca, fa- goas e a de Pene-
zendo guerra ao gen- do, nos fins do
tio com a maior in- século XVI e iní-
tensidade e violência, cio do século
matando indígenas, XVII, embora
destruindo lavouras as sedes dessas
e habitações, forçan- vilas fossem po-
do-os a se retirarem voações de pou-
para o interior. As ca expressão po-
lavouras de manti- pulacional. De
mentos que não fo- qualquer forma,
ram destruídas foram a vila ou povoa-
utilizadas na alimen- ção era um pon-
tação dos próprios to de partida pa-
invasores que cons- ra a ocupação
truíram engenhos das terras vizi-
de açúcar nas terras nhas onde eram
conquistadas e em instaladas lavou-
sesmarias concedidas ras de manti-
pelos donatários. mentos e campos
Nesta arremetida, de criação, ao
um dos mais destaca- lado de alguns
dos foi João Paes engenhos. Esta
Barreto que chegou produção para
a possuir oito enge- o mercado inter-
nhos, tendo instituí- no concorria pa-
do o Morgadio do Cabo que petdu- nizaram expedições ao sertão visan- ra o abastecimento de Olinda cuja
rou até a extinção da instituição, do prear índios. Como o maciço da população crescia rapidamente e on-
no início do século XIX. O último Borborema fosse uma barreira à pe- de dominava, de forma absoluta, a
morgado foi Francisco Paes Barre- netração para o interior, eles subiram cultura da cana-de-açúcar. Os peque-
to que se destacou como revolucio- o São Francisco até a cachoeira de nos portos distribuídos pelo litoral
nário em 1817 e, ao contrário, co- Paulo Afonso e daí infIetiram para serviam apenas à navegação de cabo-
mo partidário do Imperador, em o norte, em busca de escravos. Pa- tagem de onde partiam as barcaças
1824, recebendo deste o título de ra se fortalecer, estimulavam a rivali- transportando mercadorias que, no
Marquês do Recife. dade existente entre as várias tribos, Recife, eram passadas para embarca-
Conquistado o vale do Ipojuca, lançando umas contra as outras e ções de maior tonelagem.

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A conquista do norte também foi pitania do Rio Grande. ça Antártica.
feita com muita luta e violência; o A arremetida para o norte não A França Equinocial foi funda-
povoamento pernambucano extrava- se deteria na Paraíba, de vez que da em 1595~ pelo Senhor Ia Ravar-
sou os limites da capitania para o os portugueses procuravam alcançar diere, no Maranhão, onde construí-
território de Itamaracá - os povoa- a imaginária linha de Tordesilhas, ram uma cidade a que denominaram
dores viviam em Olinda mas as doa- ao oeste, linha que passa no meridia- de São Luís, em homenagem ao rei
ções de terra eram feitas em Concei- no de Belém do Pará. No norte ha- de França. A cidade se situava em
ção - onde foram fundados enge- via também o perigo francês, onde uma ilha do golfão maranhense en-
nhos na várzea do rio Goiana, for- marinheiros franceses mantinham tre as baías de São José e de São
mado pelos Capibaribe Mirim e o relações comerciais com os indíge- Marcos, pensando, naturalmente,
Tracunhaém. Goiana surgiria como nas e dispunham de abrigos seguros em partir para a exploração dos vales
vila nas últimas décadas do século para as embarcações utilizadas no dos rios que desaguam no golfão, o
XVI; nas suas proximidades Diogo tráfico de produtos da terra, sobretu- Itapicuru, o Mearim e o Munin, as-
Dias fundou um engenho. Com mui- do pau-brasil, algodão, couros e plu- sim como os afluentes como o Gra-
tas terras e muitos trabalhadores, ele mas de animais. Daí a arremetida jaú e o Pindaré.
se julgou onipotente e manteve sob sobre o Rio Grande, não ocupado Alexandre de Moura, governador
sua guarda, como prisioneira, uma até a última década do século XVI, de Pernambuco, organizou uma ex-
filha do chefe indígena Iniguassu e a conquista de vales de pequenos pedição contra a colônia francesa,
- Rede Grande - líder dos poti- rios que chegam ao litoral, como o em implantação, e Jerônimo de AI-
guares e de grupos indígenas ligados Cunhaú, o Traíri e o Ceará-Mirim, buquerque que, por ser guerreiro
aos franceses que comerciavam nas até a conquista da foz do Potengi experimentado e filho de índia, ins-
costas da Paraíba e do Rio Grande onde Jerônimo de Albuquerque II pirava mais confiança aos indíge-
do Norte. O problema provocou construiu o forte dos Reis Magos. nas, além de ser Albuquerque pelo
alianças entre indígenas rivais, co- Conquistado o Rio Grande, em sua lado português, participava da fidal-
mo Iniguassu e Braço de Peixe, dan- porção oriental, infletiram os con- guia pernambucana, comandou as
do a estes a força para ocupar e des- quistadores para o oeste, atravessan- tropas atacantes. Estabeleceu-se no
truir o engenho de Diogo Dias. Apa- do áreas de clima semi-árido (o cli- litoral, em frente à ilha, e, após
vorado com a possibilidade dos indí- ma seco no Rio Grande do Norte e um ano de escaramuças, São Luís
genas descerem até Itamaracá e Olin- no Ceará chega até a costa) e solos foi entregue aos portugueses. Jerô-
da, o governo de Pernambuco orga- de salinas naturais, para atingir o nimo de Albuquerque, que tivera
nizou expedições sucessivas, com o Ceará e conquistar mais uma capita- sob seu comando dois filhos, acres-
apoio do Governo Geral, ao vale nia. Nesta conquista se destacaria centou ao seu nome o de Maranhão,
do Paraíba, só conseguindo dominar Martim Soares Moreno, personagem, dando origem à família Albuquer-
os indígenas a partir de 1584, quan- dois séculos depois, de romance de que Maranhão, um dos ramos mais
do fundaram a cidade de Filipéia José de Alencar - o guerreiro bran- atuantes da família Albuquerque
de Nossa Senhora das Neves, em co de Iracema. no Brasil.
homenagem ao rei de Espanha, e À proporção que foram sendo ex- Os pernambucanos contribuíram
construíram um forte em Cabedelo. pulsos para o norte e para o oeste, ainda para a conquista da foz do
Tendo a coroa feito grandes despe- os franceses passaram a se preocu- Amazonas, disputada entre espa-
sas com a conquista e ocupação da par com a possibilidade de perder nhóis, holandeses, franceses e ingle-
Paraíba, achou que as terras situa- totalmente os seus territórios no Bra- ses, e para a fundação de Belém do
das no vale deste rio deviam ficar sil, levando-os à fundação de uma Pará, em 1616. Em menos de um sé-
sob seu domínio e não no dos dona- colônia permanente no norte do Bra- culo (1535/1616), os seguidores de
tários de Itamaracá, desmernbran- sil - a França Equinocial. Alguns Duarte Coelho expandiram o territó-
do a antiga capitania, anexando à anos antes haviam fracassado ao ten- rio brasileiro da foz do São Francis-
nova as terras setentrionais da mes- tar fundar uma colônia no sudeste co à foz do Amazonas, dando ao
ma e uma porção meridional da ca- do Brasil, no Rio de Janeiro, a Fran- Brasil uma extensão continental.

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Expediente
Textos: Manuel Correia de Andrade
Edição: Ivanildo Sampaio
Projeto Gráfico: Paula Aguiar
Capitulares: Petrônio Cunha
Ilustração: Humberto Araújo
Digitadoras: Lucia Mandu e Sheila Carneiro
Pa~nação Eletrônica: Severino 1. da paz (Sever)
Reiser: Reginaldo Bazilio
Montagem: Edilson Celestino Santos

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