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Módulo:

A Quarta Revolução
Industrial e a Sociedade
da Informação
ADVOCACIA EM DIREITO DIGITAL
E PROTEÇÃO DE DADOS
Patrono Regente
Renato Opice Blum
Supervisor Acadêmico
Mauricio Tamer

A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


E A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

Tema 01
Evolução Histórica dos Meios Digitais
Tema 02
A Sociedade do Risco
Tema 03
A Quarta Revolução Industrial
Tema 04
Funcionamento da Internet e Principais Aspectos Históricos e Técnicos
Tema 05
A Economia dos Dados Pessoais, Big Data e Internet das Coisas e Smart Cities
Tema 06
Inteligência Artificial, Algoritmos e Machine Learning
Tema 07
Jurimetria
Tema 08
Economia Compartilhada
Tema 09
Blockchain
Tema 10
Educação Digital

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Tema 01:
Evolução Histórica dos Meios Digitais

Aula 01 - Mudamos e para onde iremos?


A sociedade atual é considerada como sociedade da informação. Estamos diante
de um novo momento histórico no qual a base das relações sociais, da política e do Direito
se estabelece por meio da informação. A nova sociedade é considerada sem fronteiras e
tem uma tecnologia que se expande de forma exponencial.
Neste cenário, ao analisar a evolução do ser humano ao longo dos anos, nota-se a
transformação vertiginosa alcançada pelo desenvolvimento tecnológico. No contexto de
modernização, destacam-se mudanças profundas que ocorrem na sociedade em um curto
espaço de tempo, de forma bem mais rápida que antigamente. Sendo assim, a percepção
do ser humano sobre a sua condição e relação com o próximo, perde a sensibilidade, uma
vez que as mudanças ocorrem antes mesmo que possam ser entendidas. Neste cenário,
destaca-se a importância da educação digital a qual evita diversas situações negativas
advindas dos avanços tecnológicos como, por exemplo, o cyberbullying.
Tendo em vista a percepção reduzida sobre as novas questões sociais que surgem
na sociedade da informação, o Direito acaba por ter a finalidade de apresentar normas de
conduta:
“(...) é preciso introduzir meios de regulamentação ética na rede, até mes-
mo porque já se passou o período romântico e idealista no qual a internet
era concebida apenas como um imenso repositório de informação e cultu-
ra, templo de intelectuais e acadêmicos de vanguarda, para um outro em
que ela, a cada dia, se transforma em mais um instrumento da sociedade
de consumo1”.

Nota-se, portanto, a importância do direito para induzir comportamentos frente ao


avanço veloz das mudanças de condutas.
No entanto, neste contexto de mudança extremamente veloz imposta pelo avanço
tecnológico, torna-se difícil prever o que pode acontecer e como determinada novidade
deve ser regulamentada. Ou seja, é um desafio atual implementar legislações que alcan-
cem, minimamente, os avanços tecnológicos e as consequências sobre o comportamento
humano.
É possível prever, por exemplo, a evolução da tecnologia de forma tão acentuada
que será possível integrar dispositivos high-tech ao corpo humano, porém, não há como
prever quando isso acontecerá nem, tampouco, suas consequências. Outro exemplo é a
substituição do homem pela máquina. Há grande apreensão acerca de previsões sobre
1
GOIS JUNIOR, José Caldas. O direito na era das redes: a liberdade e o delito no ciberespaço.
Bauru: EDIPRO, 2001. p. 30.

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quais profissões serão atingidas por tal substituição ou qual será a consequência de fato
para a construção da sociedade.
Dessa forma, visando melhorar o cenário, um dos caminhos é pensar no papel do
Direito nesta nova sociedade. Será que é necessário existirem leis específicas para deter-
minadas situações? Embora existam diretrizes gerais, ainda há determinadas situações
que poderão exigir lei específica para sua regulamentação no âmbito da evolução tecnoló-
gica, principalmente no que concerne à esfera penal.
Ainda, considerando a velocidade das mudanças, cumpre destacar o processo le-
gislativo que precisa acompanhar o ritmo para que, apesar de questões políticas, culturais
e técnicas, seja possível publicar normas que não sejam obsoletas antes mesmo de serem
convertidas em lei. Neste cenário, uma possibilidade é ter um grupo especializado no ramo
de tecnologia no Congresso Nacional para buscar atualizar normas, de preferência que
não sejam leis ordinárias, acompanhando o avanço tecnológico.
Outra questão a ser enfrentada é a velocidade de disseminação de informação
falsa e as consequências que afetam a vida de outras pessoas. A título de exemplo, cumpre
destacar o atual golpe do deep fake, em que se utiliza de inteligência artificial para trocar o
rosto de pessoas em vídeo, sincronizando os movimentos labiais. Dessa forma, é possível
que se grave qualquer pessoa dizendo qualquer coisa. Neste cenário, aquele que tem a
vida afetada por um vídeo falso dizendo coisas que não são verdadeiras, precisaria de uma
resposta rápida de autoridades para a retirada de tal conteúdo das redes, bem como de-
veria ser possível dar uma resposta sobre a informação falsa em um ambiente tão capilar
como aquele pelo qual a informação foi propagada.
Sendo assim, nota-se que o Direito precisa se atualizar e providenciar respostas
rápidas para cada novidade que o avanço tecnológico trouxer, respaldando condutas e
protegendo garantias e direitos.

Leitura Complementar

“A utilização ampla da Internet ao extrapolar a fronteira dos países trou-


xe perplexidades ao mundo jurídico anteriormente não imaginadas. Nesta
nova era, a informação passa a ser o ativo mais importante. Ou seja: conhe-
cimento e informação passam a ser mercadoria, tornam-se estratégicos. A
própria ideia da materialização da propriedade passa a ser discutida, para
dar lugar ao conceito de ‘bundle of rights’, um novelo de relações (...)”.

PARA LEITURA DO TEXTO


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A Quarta Revolução Industrial e a Sociedade da Informação


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“Essa inserção do Direito na era digital, todavia, surgiu até mais por neces-
sidade do que por iniciativa de inovação. Avanços e discussões sobre a
regulamentação dos sistemas informáticos, atuação negocial e econômi-
ca por meios eletrônicos, crescimento do comércio via internet, acesso à
publicações acadêmicas e literárias – facilmente disponíveis e em grande
circulação na internet – o que desponta debates sobre direitos autorais,
entre outros, são exemplos de como o direito, como mecanismo de controle
social, teve (e cada vez mais terá) que se adaptar e ampliar seus estudos
para as relações virtuais (...)”.

Jurisprudência

“A Internet permite a qualquer pessoa acessar informações disponíveis em qual-


quer ponto do planeta, fato que é, ao mesmo tempo, saudável e perigoso, conforme seja a
rede utilizada para o intercâmbio de informações entre os povos ou sirva de instrumento
para a prática de ilegalidades em âmbito global.
Como observa José de Oliveira Ascensão, ‘a sociedade da informação acarreta
consigo uma vertente inevitável de internacionalização. Particularmente, a interconexão
das redes tornará aberta a penetração em espaços estrangeiros. Mas isto traz grandes
problemas jurídicos, dada a diversidade das leis. Cada espaço aplica sua própria lei. Nem
as convenções internacionais alteram este panorama, pois se baseiam na outorga do tra-
tamento nacional: a lei nacional estende-se aos beneficiários daqueles tratados’.”
(TJSP. Ag. In. Nº 2019127-26.2019.8.26.0000. Rel. Piva Rodrigues. Data de Julga-
mento: 28.08.2019) (grifos nossos).

“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL (CPC/73). AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.


DANOS MORAIS. MATÉRIA JORNALÍSTICA. REVALORAÇÃO DE PROVAS. POSSIBILI-
DADE. NÃO INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N.º 7/STJ. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL
NO ACÓRDÃO RECORRIDO. AUSENTE. NÃO INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N.º 126/STJ.
DIREITO À INFORMAÇÃO E À LIVRE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO. CARÁTER ABSO-
LUTO. INEXISTÊNCIA. DEVER DE CUIDADO. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA. DIREITO
AO ESQUECIMENTO. TUTELA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. RESPONSABI-
LIDADE DAS EMPRESAS JORNALÍSTICAS. INEXIGÊNCIA DA PROVA INEQUÍVOCA DA
MÁ-FÉ. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO. POSSIBILIDADE. OBEDIÊNCIA AOS PRIN-
CÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE.
1. Ação de indenização por danos morais decorrentes de veiculação de matéria

Tema 01 - Aula 01 7
jornalística que supostamente imputou prática de ilícito a terceiro.
2. A revaloração da prova constitui em atribuir o devido valor jurídico a fato
incontroverso, sobejamente reconhecido nas instâncias ordinárias, prática admitida em
sede de recurso especial, razão pela qual não incide o óbice previsto no Enunciado n.º 7/
STJ.
3. Não há qualquer fundamento constitucional autônomo que merecesse a inter-
posição de recurso extraordinário, por isso inaplicável, ao caso, o Enunciado n.º 126/STJ.
4. Os direitos à informação e à livre manifestação do pensamento não possuem
caráter absoluto, encontrando limites em outros direitos e garantias constitucionais que
visam à concretização da dignidade da pessoa humana.
5. No desempenho da função jornalística, as empresas de comunicação não
podem descurar de seu compromisso com a veracidade dos fatos ou assumir uma postura
displicente ao divulgar fatos que possam macular a integridade moral de terceiros.
6. O Enunciado n.º 531, da VI Jornada de Direito Civil do Superior Tribunal de
Justiça assevera: “A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação
inclui o direito ao esquecimento”.
7. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem-se manifestado pela
responsabilidade das empresas jornalísticas pelas matérias ofensivas por elas divulga-
das, sem exigir a prova inequívoca da má-fé da publicação.
8. O valor arbitrado a título de reparação por danos morais, merece ser reduzido,
em atenção aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade e à jurispru-
dência do STJ.
9. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO”.
(STJ. REsp 1.369.571/PE. Rel. Ministro Ricardo Villas Boas Cueva. Terceira Turma.
DJe 28.10.2016) (grifos nossos).

BARRETTO, Maria Sylvia Ribeiro Pereira. Direito e Sociedade da Informação:


Breves Anotações. Disponível em: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/
upload/6%20DIREITO%20E%20SOCIEDADE%20DA%20INFORMACAO.pdf>. Acesso em:
21/10/2019.

COMENALE, Felipe Becari. O direito na sociedade da informação. Jus, 2018. Dis-


ponível em: < https://jus.com.br/artigos/65068/o-direito-na-sociedade-da-informacao>.
Acesso em: 21/10/2019.

8 A Quarta Revolução Industrial e a Sociedade da Informação


MACHADO, Ronny Max. FUJITA, Jorge Shiguemitsu. Os impactos da sociedade da
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Tema 01 - Aula 01 9

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