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Texto Dramático e Teatro

Escrito em prosa ou verso.


Texto principal corresponde às falas das personagens em discurso directo, sob a forma de diálogo, monólogo
ou apartes.
Texto secundário constituído por didascálias ou indicações cénicas que dizem respeito a informações sobre o
cenário, luz, guarda-roupa, gestos, atitudes e tom de voz das personagens.
As didascálias surgem no entre parênteses ou no inicio de cada acto, em letra diferenciada.
É concebido para ser representado assumindo estatuto de teatro.

Drama Romântico

Desenvolveu-se no séc. XIX com os escritores românticos.


Apresenta o conflito motivado pelos valores da sociedade que regem os indivíduos que nela se inserem,
ligando-se ao quotidiano das personagens.
Personagens de várias classes sociais e um número mais alargado destas.
Linguagem fluente e coloquial, sendo variável devido à variedade de classes sociais das personagens.
Vários espaços e tempo alargado.
Escrito em prosa.
Dividido em três actos.
Não há coro.

Tragédia Clássica

Género dramático que remonta à Grécia antiga.


Escrita em verso.
Número reduzido de personagens.
Personagens de elevada classe social que desafiam, através das suas acções, uma entidade superior, pelo
que estas serão aniquiladas pelo destino.
As consequências funestas dos seus actos suscitam terror e piedade nos espectadores a fim de purificar as
suas tendências imorais (cathársis/purificação).
Há coro que faz comentários ao que se passa em cena.
Linguagem elevada.
Respeita a lei das três unidades:
o Unidade de acção – todos os acontecimentos são essenciais para o desenlace (centra-se num único
problema).
o Unidade de tempo – a acção desenrola-se em 24 horas.
o Unidade de espaço – acção decorre apenas num local.
Constituída por 5 actos [Prólogo (Acto I), Episódios (Acto II, III e IV) e Éxodo( Acto V)]
A acção expõe um conflito humano, motivado pela força das paixões.

Elementos da tragédia clássica Em Frei Luís de Sousa


D. Madalena apaixona-se por D. Manuel ainda em
vida do marido. Segundo casamento desta.
Manuel de Sousa Coutinho desafia a autoridade
Hybris/desafio – insubmissão de uma ou mais personagens
ao incendiar o próprio palácio. Revolta de Maria
cujos actos desafiadores se reflectem nas restantes.
contra os pais e a justiça divina. Telmo desafia
todos ao acreditar que D. João está vivo. D. João
desafia a crença da família na sua morte.
A culpa sentida por D. Madalena por se ter
apaixonado por D. Manuel ainda casada com D.
Ágon/conflito – dilemas interiores vividos pelas
João. Dilema de Telmo que se sente dividido entre
personagens.
o amor de Maria e a fidelidade a D. João de
Portugal.
O facto dos governadores espanhóis terem
Ananké/destino – força implacável do destino que domina escolhido o palácio de D. Manuel. A mudança para
e pune o Homem. o palácio de D. João. A ausência, durante 21 anos,
de D. João e o seu regresso. (Vários indícios)
Os sentimentos de culpa e incerteza de Madalena.
A instabilidade emocional de Maria, sofrimento
físico (doença e morte) e psicológico (incertezas
de ilegitimidade) desta. Dor, aflição de Manuel de
Sousa Coutinho ao tomar consciência da
Pathos/sofrimento – padecimento cada vez mais intenso ilegitimidade da filha, sofrimento causado pela
das personagens, originando medos, aparentemente separação da mulher e morte da filha. Angústia de
infundados. Telmo causada pela dúvida acerca da morte de D.
João e pelo dilema entre o amor de Maria e de D.
João. D. João sofre devido às modificações do
presente em relação ao passado, nomeadamente,
o seu esquecimento, o 2º casamento de D.
Madalena e a sua impotência perante o Destino.
Anagnórise/reconhecimento – identificação de pessoas ou Identificação do Romeiro como sendo D. João de
coisas. Portugal (Acto II, Cena XIV-XV)
Reconhecimento do Romeiro (Acto II, Cena XIV-
Clímax/auge – momento de maior intensidade dramática.
XV)
Regresso inesperado de D. João provoca uma
mudança súbita no seio familiar: anulação do 2º
Peripéteia/peripécia – mudança repentina e inesperada do casamento de Madalena e consequente
rumo da acção (intimamente relacionada com a ilegitimidade da filha. Romeiro tenta salvar a
anagnórise). situação, pedindo a Telmo que omita a sua
identidade, mas o destino frustra a hipótese dum
final feliz.
Separação forçada de Madalena e de Manuel de
Sousa Coutinho, ingressam na vida religiosa,
morrendo um para o outro (morte psicológica).
Katastrophé/catástrofe – desenlace calamitoso, com a
Morte de Maria. Consciencialização de D. João de
morte do(s) herói(s), provocada pelo destino implacável.
que efectivamente não é “Ninguém”, uma vez que
a vida anterior (mulher, casa) não lhe pertence
mais.
Categorias do Texto Dramático

Acção

Desenrolar dos acontecimentos


Constituída por estrutura externa e interna.

Estrutura Externa

Organiza-se em actos subdivididos em cenas.


Mudança de espaço – mudança de acto.
Entrada/saída de personagens – mudança de cena.
Frei Luís de Sousa é dividido em 3 actos:
o Acto I – 12 cenas.
o Acto II – 15 cenas.
o Acto III – 12 cenas.
A peça possuí um organização tripartida regular e harmoniosa.

Estrutura Interna

Tem a ver com o desenrolar da acção e divide-se em:


o Exposição – apresentação das personagens e dos antecendentes da acção.
o Conflito – sucessão gradual dos acontecimentos que fazem avançar a acção através de momentos de
tensão, expectativa até ao clímax (ponto culminante da acção).
o Desenlace – desfecho, que corresponde à morte das personagens (física, social ou afectiva).
Em Frei Luís de Sousa:
o Exposição (Acto I, Cenas I-IV) – Apresentação dos antecendentes da acção, das personagens e das
relações existentes entre elas.
o Conflito (Acto I, Cenas V-XII; Acto II; Acto III, Cenas I-IX) – Desenrolar gradual dos acontecimentos,
com momentos de tensão e expectativa – desde o conhecimento de que os governadores espanhóis
escolheram o palácio de Manuel de Sousa Coutinho para se instalarem até ao reconhecimento do
Romeiro (clímax) – e que despoletaram uma série de peripécias.
o Desenlace (Acto III, Cenas X-XII) – Desfecho motivado pelos acontecimentos anteriores –
consumação da tragédia familiar em que Maria morre e seus pais vêem-se obrigados a separar-se,
morrendo um para o outro bem como para a vida mundana.

Personagem

A personagem, agente da acção, é uma entidade ficcional dotada de um retrato físico e psicológico.
Personagem Principal – Madalena, Maria e Manuel de Sousa Coutinho (família).
Personagem Secundária – Telmo, Frei Jorge e o Romeiro.
Figurante – Doroteia, Miranda, Prior de Benfica, Arcebispo, irmão converso, coro de frades dominicanos.
Madalena revela uma profunda densidade psicológica, sendo extremamente instável nas suas emoções.
Manuel de Sousa Coutinho é bastante sensato e racional, liberal e patriótico, revela-se emotivo quando ateia
fogo ao seu palácio e quando se apercebe da ilegitimidade da filha.
Maria tanto está alegre e entusiasmada como triste e preocupada, é uma personagem claramente
romântica, que tal como a sua mãe, possui uma profunda densidade psicológica.
Telmo Pais é dominado pela fidelidade a D. João de Portugal e pelo amor a Maria, que no final prevalece.
Comporta-se como o coro a tragédia clássica.
Romeiro é inicialmente frio e inflexível, contudo, ao aperceber-se do sofrimento que causa, procura
remediar e travar a tragédia.
Frei Jorge é sereno e equilibrado, desempenha o papel de confidente e de consolo à luz da fé cristã.

Espaço

Não se resume ao lugar onde os eventos se realizam, tem também uma dimensão social e psicológica.
Espaço físico – real, geográfico, interior ou exterior. É caracterizado pelas didascálias:
o Acto I – sala elegante e luxuosa do palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada, onde existe
um retrato deste, entre duas grandes janelas sobre o Tejo – felicidade aparente.
o Acto II – Salão antigo do palácio de D. João de Portugal, em Almada, onde existem vários retratos (D.
Sebastião, Camões e do próprio D. João). Atrás dos reposteiros existe a Capela da Senhora da
Piedade. Espaço fechado, melancólico, pesado, escuro – peso da fatalidade, desgraça.
o Acto III – Parte baixa do palácio de D. João que comunica com a capela, sem ornato, apenas com
objectos do foro religioso. Espaço fechado, que simboliza o abandono dos bens deste mundo, sendo
a cruz símbolo da morte e da esperança.
Espaço Social – ambiente social vivido pelas personagens:
o Opressão exercida pelo domínio filipino, que conduziu D. Manuel a incendiar o seu palácio.
o Culto sebastianista - D. João provoca a destruição de toda a família.
o Questão da ilegitimidade de Maria (condenação da família).
o Domínio da crença religiosa cristã patente no espaço/comportamento das personagens, surgindo
como consolo e refúgio para o seu sofrimento.
Psicológico – Vivências íntimas, pensamentos, sonhos, estados de espírito, memórias, reflexões das
personagens:
o Monólogos de Madalena, Manuel de Sousa Coutinho, Telmo, Frei Jorge e os sonhos de Maria. A
consciência de Madalena é o espaço priveligiado.

Tempo

Relativamente curto, tendência para a concentração.


Diegese – tempo durante o qual a acção se desenrola, segundo uma ordenação cronológica. (ver Ficha)
Histórico – época ou período da História em que a acção se desenrola:
o Batalha de Alcácer Quibir
o Existência de peste em Lisboa
o Mito Sebastianista
o Opressão e desavenças em Portugal, devido à perda de Independência
o Bernardim Ribeiro e Camões

Contextualização literária do autor – Romantismo

Expressão literária e plástica do progresso da burguesia.


Associado às revoltas liberais do séc. XIX.
Primeiros românticos portugueses foram exilados políticos – Almeida Garrett e Alexandre Herculano.
Início do Romantismo em Portugal – 1836.
Passos Manuel promoveu a reforma do teatro português, encarregando Almeira Garrett desta tarefa.
Fase áurea do Romantismo Português situa-se entre 1840 e 1850.
Publicaram-se importantes obras nesse período (Frei Luís de Sousa, Um Auto de Gil Vicente).
Jornalismo imbuído de cariz político em franca ascensão.
Cultura estendeu-se a outras classes sociais.
Progresso da tipografia, surgimento de bibliotecas ambulantes e gabinetes de leitura facilitaram o
desenvolvimento cultural português.
Criação de círculos de leitura oral de obras literárias, a um público de analfabetos, que ignorava os valores
clássicos, pelo que preferia uma linguagem mais simples, espontânea e coloquial, com descrições objectivas
e pitorescas. Deleitava-se com o sentimentalismo.
Valorizavam-se as tradições nacionais e medievais.
Supervalorização do eu.
Emoções surgem espontânea e acerbadamente.
Herói romântico insociável e amoral espelha o desagrado perante o estado de coisas da sociedade da época,
desejando ultrapassar as suas limitações, cujo eventual fracasso atribui ao Destino.
Temas como a morte, o amor insatisfeito e contraditório, a mulher-anjo e a mulher-demónio, cansaço,
melancolia, angústia de existir, solidão dolorosa, natureza tenebrosa nocturna, cemiterial.
O romântico refugia-se no sonho e no desvaneio.
Idealiza um passado histórico.

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