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VIII - CONCEITOS DE ANTROPOLOGIA BÍBLICA E

MECANISMOS DE AUTOPROTEÇÃO

A antropologia bíblica ressalta o papel do ser humano como coroa da criação. A visão de Deus a
nosso respeito é especial, visto que fomos criados à sua imagem e semelhança. Deus nos vê como
pessoas únicas e insubstituíveis (Sl 8.3-8). Somos únicos e especiais para Deus, somos amados por
Ele.

Pensando no ministério de aconselhamento podemos então concluir:

O ser humano é completo e complexo. Esta complexidade é um desafio para os


conselheiros;

Não haja de modo simplista com os problemas dos seus aconselhandos;

Reconheça a fragilidade do seu aconselhando diante das crises da vida;

O pecado traz implicações espirituais e sociológicas ao indivíduo e à sociedade... Não


despreze esta questão!;

Trate o seu aconselhando como uma pessoa única e especial. Dê uma “atenção
individualizada” ao seu aconselhando.

1 – Mecanismos de Defesa

De acordo com Paul Hoff (1996, p.38), mecanismo de defesa é o processo postulado por Freud
para explicar a estratégia da mente para proteger-se, lançando no inconsciente experiências
desagradáveis, impulsos, conflitos e ideias ameaçadoras, acomodando-as lá.

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O mesmo autor coloca que os principais mecanismos de defesa são:

Racionalização:

•são desculpas dadas para justificar um determinado ato ou ação equivocada,


pecaminosa. Normalmente ludibriamos assim a nossa culpa e isentamos a nossa
responsabilidade pessoal.

Compensação:

•tentamos compensar nossas deficiências em várias áreas ressaltando os aspectos


positivos da nossa personalidade. Ex: Pai que compensa sua ausência comprando
presentes para os filhos.

Projeção:

•quando atribuímos o que somos e sentimos a outras pessoas. Às vezes não gostamos de
alguém porque nos enxergamos nessa pessoa...

Repressão:

•desejamos reprimir lembranças amargas, situações dolorosas. Para isto evitamos


lugares e pessoas que nos farão lembrar estes problemas.

Fantasia, vivência no imaginário:

•fuga de uma realidade limitada ou frustrante imaginando que somos pessoas famosas,
ricas e poderosas.

Formação reativa:

•em função de um sentimento negativo intensificamos outros. Ex: o sentimento de culpa


por um pecado não confessado pode gerar um comportamento onde a indiferença e
cinismo prevalecem.

Regressão:

•quando a pessoa regressa a atitudes infantis que a ajudaram no passado. Ex: Ficam
emburrados, "de bico", murmuram como crianças mimadas.

Substituição:

•quando a pessoa não tem coragem ou oportunidade de descarregar sua ira, seus
desejos, suas vontades diretamente. Ela então transfere a emoção para outra pessoa
que é vítima de toda a sua ira e raiva. Ex: Ira-se com o chefe e desconta sua raiva no seu
filho quando chega em casa.

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IX - TEORIA NOUTÉTICA DE ACONSELHAMENTO

1 – Definição de Noutética

O termo “noutética” deriva da palavra grega “nouthetéo”, que significa admoestar, advertir. As
palavras nouthesia e nouthetéo são formas nominal e verbal neotestamentárias das quais se origina
o termo “noutética” (ADAMS, 1997, p. 55).

A expressão “nouthetéo” só aparece nos escritos de Paulo e a intenção é sempre


pedagógica, de acordo com as referências bíblicas de Atos 20.31, Romanos 15.14, 1 Coríntios
4.14, Colossenses 1.28 e 3.16, 2 Tessalonicenses 3.15 e Tito 3.10.

A teoria noutética sugere uma confrontação do aconselhamento com os princípios


bíblicos, visando uma transformação comportamental.

2 – Autor da Teoria

O principal teórico do aconselhamento noutético é Jay Adams. Ele foi o deão do Instituto de
Estudos Pastorais e professor de teologia prática no Seminário Teológico Westminster, na
Filadélfia, Estados Unidos; graduado com especialização em homilética e oratória; também
pastoreou vários ramos da Igreja Presbiteriana da Pensilvânia e Nova Jérsei.

Jay Adams é autor de Conselheiro Capaz, editado pela Editora Fiel, no qual desenvolve sua
teoria de aconselhamento, transcrevendo modelos de ação junto aos aconselhandos.

2.1 – Histórico

Jay Adams prega que a Psicologia usada no aconselhamento é perniciosa e herética; que o cristão
deve buscar somente nas Escrituras as respostas para os questionamentos humanos.

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Para Adams, ler a obra de Mower A crise na psiquiatria e na religião foi como “passar por

um terremoto”, na medida em que ele imediatamente correspondeu ao abandono, por parte de


Mower, do ‘modelo médico’ de ‘doença mental’ e reagiu a seu anúncio de um ‘modelo moral’,
em que se reconhecem a culpa real e a responsabilidade pessoal. [...]. Ele concluiu que as pessoas
estavam internadas ali ‘por causa de seu comportamento pecaminoso não perdoado e inalterado’
[...]. Adams voltou de seu verão em Illinóis decidido a levar o ‘ministério da Palavra de Deus’ aos
chamados ‘doentes mentais’ (HURDING, 1995, p. 318).

Surge então a forma de pensar de Jay Adams, após um verão com seu mentor Mower, em
Illinois.

Pode-se afirmar que a teoria noutética está baseada no texto de 2 Samuel 12, na
confrontação de Natã com Davi, depois do pecado que este cometeu contra Urias e Bate-Seba.

3 – Metodologia

A teoria noutética trabalha o aconselhamento em confrontação com os princípios bíblicos,


visando uma transformação comportamental. Segundo seu idealizador, as pessoas que podem
exercer o aconselhamento são os membros do corpo de Cristo e todos os pastores, sendo que a
“metodologia deve necessariamente originar-se do ponto de vista bíblico de Deus, do homem, da
criação, sempre apropriando-se do mesmo” (HURDING, 1995, p. 318).

4 – Objetivos da Teoria Noutética

A teoria noutética busca restaurar a imagem de Deus no homem; levar o homem à conformidade
da vontade de Deus; transformar atitudes erradas e fazer com que o aconselhando transponha
algumas barreiras como vícios ou maus hábitos, bem como infundir no coração do aconselhando
uma noção mais profunda de temor ao Senhor. Objetiva também aplicar meios para levar as
pessoas a uma vida de santificação.

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5 – Avaliação

Pontos Positivos Pontos Negativos


•Declara a Bíblia como regra de conduta para •Deixa o ser humano e suas questões para
o conselheiro e para o aconselhando; segundo plano; o foco está em descobrir o
pecado que causou o problema...
•Centraliza as ações do aconselhando em •Não dá importância aos sentimentos
Jesus Cristo e sua palavra; humanos;

•Os conselheiros adeptos desta teoria falam •Não aconselha encorajando, apenas
do amor de Jesus; adverte, repreende, lança luz aos erros.
•Não direciona, apenas aponta os erros, mas
•Declara que “Toda a Escritura é inspirada nem sempre explica o porque do erro ter
por Deus e útil para o ensino, para a sido cometido e como fazer para não repeti-
repreensão, para a correção e para a lo.
instrução na justiça, para que o homem de
Deus seja apto e plenamente preparado •O aconselhamento deixa a desejar no caso
para toda a boa obra.” (2Tm 3.16 17) do aconselhando não ter conhecimento
bíblico;
•Não reconhece a contribuição da Psicologia
para a saúde mental e emocional das
pessoas.

Para aprofundamento e consulta:

ADAMS, Jay. Conselheiro Capaz. São Paulo: Fiel, 1997.


HURDING, Roger F. A Árvore da Cura: modelos de aconselhamento e de
psicoterapia. São Paulo: Vida Nova, 1995.
www.salus.psc.br. Rede Salus (Rede Cristão de Profissionais da Saúde).
www.str.com.br. Sociedade da Terra Redonda.

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X - ACONSELHAMENTO DIRETIVO

1 – Conceituação

A teoria diretiva de aconselhamento (ou método diretivo) caracteriza-se por uma postura mais
atuante do conselheiro. Este, após ouvir o aconselhando e analisar o que lhe foi apresentado,
procura discutir abertamente com a pessoa a rota de fuga para as situações apresentadas, à luz de
hipóteses formuladas em consonância com algum princípio bíblico ou enfoque terapêutico.

O conselheiro diretivo é mais incisivo e persuasivo. O aconselhando fala pouco.

Persuasão

Diagnos-
Descobre
tica
CONSE-
LHEIRO

Fala Trata

2 – Metodologia

De acordo com Silas Molochenco (2008, p.63 a 67) estas são as técnicas mais frequentemente
utilizadas na consulta diretiva:

Perguntas precisas: Como fruto da sua boa observação, fazer perguntas precisas que
toquem nas feridas ou na raiz da questão;

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Discutir sobre o problema ou tratamento: traçar o diagnóstico e mostrar as
alternativas para se tratar o problema;

Indicar o tema da conversação: quando a pessoa fala de muitas questões, o


conselheiro define a questão a ser enfocada;

Propor atividades: realização de tarefas e exercícios práticos para alcançar a solução


dos problemas apresentados;

Reconhecer o conteúdo: o conselheiro decifra a fala do aconselhando para relacioná-


las com tarefas e exercícios que serão propostos;

Convencer: persuadir o aconselhando a fazer o tratamento proposto;

Indicar o problema real: ajudar o aconselhando a perceber o que está acontecendo


com ele.

3 – Algumas Considerações

Tendo em mente a metodologia do aconselhamento diretivo, é importante ressaltar que:

1º) O método diretivo mostra a tendência para centrar todos os esforços no problema
que o paciente apresenta. O conselheiro seleciona os objetivos desejáveis que o
paciente deve atingir. Utiliza testes, tarefas e exercícios para o aconselhando. Pode
também trabalhar com o sujeito no seu ambiente social;

2º) Se o problema for resolvido de uma maneira que possa ser aprovado pelo conselheiro,
com o evidente desaparecimento dos sintomas, considera-se que a consulta e posterior
tratamento alcançaram êxito;

3º) O sucesso do método diretivo depende de uma entrevista bem sucedida, onde o
conselheiro ouve com atenção, colhe os dados, analisa o pano de fundo da situação,
delimita o problema central e as causas possíveis para a sua origem. Relaciona tópicos
e aborda cada um no decorrer do tratamento.

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Referências da Unidade

ADAMS, E. Jay. O Manual do Conselheiro Cristão. São Paulo: Fiel,1982.

BENJAMIN, Alfred. A Entrevista de Ajuda. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

COLLINS, Gary. Aconselhamento Cristão: edição século 21.São Paulo: Vida Nova, 2004.

______. Ajudando Uns aos Outros pelo Aconselhamento. São Paulo: Vida Nova, 2005.

CRABB Jr.; LAWRENCE J. Como Compreender as Pessoas: fundamentos bíblicos e


psicológicos para desenvolver relacionamentos saudáveis. São Paulo: Vida, 1998.

______. Princípios Básicos de Aconselhamento Bíblico. Brasília: Refúgio, 1984.

______. De Dentro para Fora. Venda Nova: Betânia,1992.

HOFF, Paul. O Pastor como Conselheiro. São Paulo: Vida, 1996.

HURDING, Roger F. A Árvore da Cura: modelos de aconselhamento e de psicoterapia. São


Paulo: Vida Nova, 1995.

LEWIS, C. S. Cristianismo Puro e Simples. São Paulo: ABU, 1989.

MOLOCHENCO, Silas. Curso Vida Nova de Teologia Básica: Aconselhamento. São Paulo:
Vida Nova, 2008.

NARRAMORE, Clyde M. A Psicologia da Felicidade. São Paulo:Fiel,1977.

POWELL, John. Por Que Tenho Medo de lhe Dizer Quem Sou? 3. ed. Belo Horizonte: Crescer,
1986.

WHITE, J. As Máscaras da Melancolia: um psiquiatra cristão examina a depressão e o suicídio.


São Paulo: ABU, 1987.

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