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É fácil compreender que um fato ocorrido em 1731, que testificar um outro fato que
aconteceu durante o papado de Paulo III, por exemplo, seja desacreditado em 1876. E
quando os cientistas são informados de que os romanos mantinham luzes em seu sepulcro
por anos incontáveis graças à oleosidade de ouro; e que uma dessas lâmpadas perpétuas foi
descoberta queimando brilhantemente na tumba de Túlia, a filha de Cícero, não obstante a
tumba ter estado fechada durante mil e quinhentos e cinqüenta anos - eles têm um certo
direito de duvidar, e mesmo de descrer da afirmação, até se assegurarem, pela evidência de
seus próprios sentidos, de que tal coisa é possível. Neste caso, eles podem rejeitar o
testamento de todos os filósofos antigos e medievais. O enterro dos faquires vivos e a sua
ressurreição subseqüente, após trinta dias de inumação, pode parecer-lhes suspeito. Assim
também a auto-inflição de feridas mortais, e a exibição de suas próprias entranhas às
pessoas presentes por vários lamas, que curam tais feridas quase instantaneamente.
São os egípcios, esses filhos do País da Química, que lhes reclamam a invenção. Pelo menos
eles foram o povo que utilizou tais lâmpadas mais do que qualquer outra nação, por causa
de suas doutrinas religiosas. Acreditava-se que a alma astral da múmia permanecia sobre o
corpo pelo espaço de três mil anos do ciclo de necessidade. Presa a ele por um fio
magnético, que só podia ser quebrado por seu próprio esforço, os egípcio esperavam que a
lâmpada perpétua, símbolo de seu espírito incorruptível e imortal, convenceria por fim a
alma mais material a abandonar o seu domicílio terrestre e unir-se para sempre com o seu
EU divino. É por isso que as lâmpadas eram penduradas nos sepulcros dos ricos. Tais
lâmpadas são, com freqüência, encontradas nas cavernas subterrâneas dos mortos, e Liceto
escreveu um grande infólio para provar que em seu tempo, sempre que um sepulcro era
aberto, uma lâmpada ardente era encontrada na tumba, mas extinguia-se instantaneamente
devido à profanação. Tito Lívio, Burattinus e Michael Schatta, em suas cartas a Kirches,
afirmam que encontraram muitas lâmpadas nas cavernas subterrâneas da velha Mênfis.
Pausânias fala da lâmpada de ouro no templo de Minerva, em Atenas, que ele afirma ser
obra de Calímaco, e que queimava durante um ano inteiro. Plutarco afirma que viu uma no
templo de Júpiter Amon, e que os sacerdotes lhe asseguraram que ela queimava
continuamente há anos, e que, mesmo quando colocada ao ar livre, nem o vento nem a
água podiam extingui-la. Santo Agostinho, a autoridade católica, também descreve uma
lâmpada do templo de Vênus, da mesma natureza que as outras, inextinguível pelo vento
mais violento ou pela água. Encontrou-se uma lâmpada em Edessa, diz Cedrenus, "que,
oculta no topo de uma certa porta, queimou durante quinhentos anos". Mas, de todas as
lâmpadas, a mencionada por Maximus Olybius de Pádua é de longe a mais extraordinária.
Ela foi encontrada nas proximidades de Ateste, e Scardeonius a descreve de maneira muito
viva: "Numa ampla urna de argila havia uma outra menor, e nesta uma lâmpada ardente,
que assim queimava há 1.500 anos, por meio de um licor puríssimo contido em duas
vasilhas, uma de ouro e outra de prata. Estas estavam confiadas à guarda de Franciscus
Maturantius, que as avaliava por um valor extraordinário".
A lâmpada de Antióquia, que queimou mil e quinhentos anos, num lugar público e aberto,
sobre a porta de uma igreja, foi preservada pelo "poder de Deus", "que fez um número tão
infinito de estrelas para queimar com luz perpétua". Quando às lâmpadas pagãs, Santo
Agostinho assegura-nos que elas eram obra do demônio, "que nos engana de mil maneiras".
Nada mais fácil para Satã do que representar um facho de luz, ou uma chama brilhante para
aqueles que entraram em primeiro lugar numa tal caverna subterrânea. Isto foi sustentado
por todos os bons cristãos durante o papado de Paulo III, quando, na abertura da tumba na
via Ápia, em Roma, se encontrou o corpo inteiro de uma jovem nadando num licor brilhante
que a preservou tão bem que a face era bela como se estivesse viva. A seus pés queimava
uma lâmpada, cuja chama se apagou na abertura do sepulcro. Segundo alguns sinais
gravados, descobriu-se que ela fora sepultada há mais de 1,500 anos e supôs-se que era o
corpo de Tulliola, ou Tullia, filha de Cícero.
Químico e físicos negam que lâmpadas perpetuas são possíveis alegando que tudo que é
transformado em vapor ou fumaça não pode ser permanente, mas deve consumir-se; e
como a alimentação de óleo de uma lâmpada acesa é exalada como o vapor, o fogo, por
esse motivo, não pode ser perpétuo, pois necessita de alimento. Os alquimistas, por outro
lado, negam que toda a alimentação do fogo ateado deve necessariamente converter-se em
vapor. Eles dizem que há coisas na Natureza que não só resistem à ação do fogo e
permanecem inconsumíveis, mas também se mostram inextinguíveis pelo vento ou pela
água. Numa antiga obra química do ano de 1.705, intitulada Nekpornoeia, o autor dá
numerosas refutações às pretensões de vários alquimistas. Mas, embora negue que se possa
fazer um fogo queimar perpetuamente, ele está propenso a acreditar na possibilidade de
uma lâmpada queimar por vários séculos. Além disso, temos numerosos testemunhos de
alquimistas que devotaram anos a essas experiências e chegaram à conclusão de que isso
era possível.