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organizacional:
externa
PPGCOM/USCS
responsável PPGCOM/UMESP
multidisciplinar
Organizadores:
Elizabeth Moraes Gonçalves
Gino Giacomini Filho
USCS
São Caetano do Sul
2014
1
Comunicação organizacional: externa,
responsável, multidisciplinar.
Organizadores:
PPGCOM/USCS
Programa de Mestrado em Comunicação da USCS
São Caetano do Sul-SP, Brasil
PPGCOM/UMESP
Programa de Mestrado e Doutorado em Comunicação da UMESP
São Bernardo do Campo-SP, Brasil
USCS
São Caetano do Sul, 2014
2
USCS - Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Av. Goiás, 3.400, São Caetano
do Sul-SP, Brasil. Tel. 55-011-42393200. Website: WWW.USCS.edu.br.
Série =
Esta obra não pode ser
Comunicação & Inovação
comercializada e seu acesso é
gratuito Conselho editorial da coleção
BDPI USP
Produção técnica:
Universidade de São Paulo
A ***
A \\
Laboratório Hipermídias
(HyperLab) PPGCOM-USCS
http://www.producao.usp.br/
Q
Laboratório * ** *
Hipermídias
(HyperLab)
Sumário
Apresentação 4
Comunicação organizacional: uma abordagem ampliada.
Elizabeth Moraes Gonçalves; Gino Giacomini Filho 8
As organizações, a ética e a terceira dimensão do processo comunicacional.
Ana Maria Dantas de Maio 14
Comunicação estratégica para quem? Análise crítica da comunicação
organizacional sob a perspectiva da estratégia.
Victor Hugo Lima Alves 24
Greenwashing: alinhamento entre comunicação organizacional e práticas
ambientais.
Aristides Brito Jr 34
Comunicação organizacional em rede: imersão nas práticas comunicativas do
Greenpeace Brasil.
Katarini Miguel 42
Eventos sustentáveis: um novo ambiente para a comunicação organizacional.
Ana Maria Malvezzi 54
Desenvolvimento e sustentabilidade no discurso organizacional: a Amazônia
(re)significada pela propaganda.
Danielle Tavares Teixeira 64
A comunicação organizacional e a construção da identidade: contribuição da
divulgação científica.
Giuliana Capistrano Cunha Mendes de Andrade 77
A igreja na lógica do mercado: o testemunho religioso a serviço da publicidade
religiosa.
Ronivaldo Moreira de Souza 86
A comunicação no mercado de animais de companhia.
Ricardo Brandão Travagin 96
Camada popular emergente: um novo contexto para a comunicação publicitária
de instituições de ensino superior.
Ewerton Mauro Visotto Faria 104
Operadoras de telefonia móvel na sociedade midiatizada.
Anelisa Maradei 113
O mercado do imaterial: a natureza simbólica como base para uma proposta
insólita.
Renata Malta 122
4
Comunicação organizacional: externa, responsável, multidisciplinar.
Apresentação
A obra inicia-se com o texto “Comunicação organizacional: uma abordagem
ampliada” em que os organizadores sustentam teoricamente o viés externo, responsável
e multidisciplinar da comunicação empreendida por organizações. O primeiro para
contrapor obras do gênero que sistematicamente privilegiarem a comunicação interna,
embora a comunicação com públicos externos seja de extrema relevância para as
organizações. O segundo porque o caráter responsável, ético e humanístico deve
permear toda comunicação organizacional na sociedade atual, quer como objeto de
estudo explícito ou contexto do estudo. O terceiro por ser a multidisciplinaridade uma
vocação natural da área de comunicação social, em que outras ciências, diversos campos
de estudo e mercado interagem com as organizações e suas ações comunicacionais.
“As organizações, a ética e a terceira dimensão do processo comunicacional” traz
uma reflexão teórica sobre a comunicação organizacional a partir de elementos das
teorias da comunicação e, mais especificamente, das teorias da mídia. Tão importante
quanto o processo de produção da mídia e da recepção é o processo de circulação que
acontece em seguida, ou seja, o indivíduo recebe uma mensagem da mídia e a leva
adiante por meio de contatos pessoais, novas publicações ou redes sociais: são vários os
"circuitos" possíveis para que essa mensagem, redimensionada e ressignificada,
recircule. Com a comunicação organizacional acontece um processo semelhante: a
empresa produz um conteúdo que circula até a recepção e, depois, vai também
recircular em outras esferas de interação. O texto discute essa “terceira dimensão” da
comunicação organizacional: a circulação e as formas como as empresas têm enfrentado
essa realidade. O monitoramento pós-recepção muitas vezes é tentado, por exemplo, por
meio do rastreamento em redes sociais, mas, há situações inobserváveis, especialmente
quando não há registros, como nos circuitos face a face e interpessoais (por exemplo,
uma conversa telefônica). O texto ressalta a abordagem ética da comunicação
organizacional ao pressupor que se trata de um ambiente formado por pessoas que
interagem, necessariamente, com outras pessoas. Nessa perspectiva a comunicação
organizacional ultrapassa o domínio técnico em direção a um campo mais filosófico e
multidisciplinar.
Alguns termos aparecem na sociedade e tornam-se indispensáveis. O adjetivo
“estratégico” é um desses termos quando a temática é comunicação. O texto “Comuni
cação estratégica para quem? Análise crítica da comunicação organizacional sob a
perspectiva da estratégia” discute teoricamente o que significa estratégia e como seria
de fato uma comunicação estratégica no ambiente organizacional, no estabelecimento
do diálogo com os públicos de interesse. O autor critica o uso inadequado do conceito,
quando a comunicação não faz parte de um planejamento estratégico da organização,
tornando-se vazio de sentido. Na perspectiva integradora não se pode pensar os públicos
de forma distinta, pois, são diversos os papéis desempenhados pelo indivíduo na
interface com diversas categorias de públicos de interesse. Este fator, muitas vezes
relegado pela empresa, exige atenção e cuidado redobrados para a construção de um
discurso uníssono e coeso. O caminho, então, é tomar ciência da importância da
comunicação não somente como atividade ou como recurso da empresa, mas
principalmente como elemento organizador dos processos organizacionais gerais.
A forma nem sempre coerente como as organizações se comunicam tem sido
alvo de muitos estudos. O texto “Greenwashing: alinhamento entre comunicação
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pas: “Eu não sabia”, “eu não tive a reduzida ao silêncio, mas capaz de
intenção”, não são desculpas que a ser acordada. [...] A afirmação de que
responsabilidade moral em qualquer a consciência do eu moral é a única
nível aceitaria. [...] Seja dentro do garantia e esperança de humanidade
círculo de proximidade ou para além pode chocar-se com a mente moderna
dele, sou moralmente responsável por como absurda; se não absurda, então
minha ignorância – da mesma manei agourenta: qual a oportunidade de a
ra e no mesmo grau como sou mo moralidade ter a consciência [...] por
ralmente responsável por minha ima sua única fundamentação?
ginação, e por estendê-la a limites (BAUMAN, 1997, p. 347).
quando ela chega a agir ou a abster
se da ação. Embora transpareçam na proposição
do autor alguns traços que possam soar
Assim, Bauman convoca os agentes a como utópicos e visionários, a asserção
assumirem suas responsabilidades em mostra-se pertinente ao contexto
relação ao “outro”; e, preferencialmente, empresarial. Se as organizações, como
estender o olhar moral em direção ao vimos, são constituídas por pessoas, e as
“outro” distante no tempo e no espaço, ao pessoas são providas de consciência, por
chamado “estranho”. Ao fazê-lo, o que dissociar a consciência moral das
sociólogo atesta que nas organizações decisões organizacionais?
sociais – que incluem as empresas –, a
existência de uma série de mediadores 3 O trajeto do conteúdo (ético ou não)
acaba por afastar a responsabilidade do pelos circuitos
agente. “Em outras palavras, pode-se
descrever a organização como uma Produzida no âmbito desse dilema
máquina para manter flutuando a ético, a informação emitida por uma
responsabilidade moral. A responsabilida organização e consumida por seus distintos
de ‘flutuada’ não pertence a ninguém em públicos pode, posteriormente, submeter-se
particular [...]” (BAUMAN, 1997, p. 179). a um processo de ressignificação e ser
Para completar, o autor aponta ainda levada adiante no tecido social por meio de
que a fundamentação da ética pós-moderna interações que ocorrem através de
se encontra na consciência humana, e não circuitos. De acordo com Braga (2012, p.
nos códigos de posturas e regulamenta 41), esses circuitos “são culturalmente
ções. praticados, são reconhecíveis por seus
usuários e podem ser descritos e analisados
Felizmente para a humanidade [...] e por pesquisadores”, afastando quaisquer
apesar de todos os esforços de espe
abstrações em relação aos “canais” por
cialistas em contrário, a consciência onde seguem os fluxos.
moral – aquela última fonte incitado
ra do impulso moral e raiz da respon Processos tecnologicamente mediados
ou a simples conversa informal dentro de
sabilidade moral – apenas foi aneste casa constituem alguns desses circuitos,
siada, não amputada. Ela ainda está
lá, talvez adormecida, muitas vezes que garantem fôlego à informação original.
atordoada, às vezes envergonhada e Na verdade, no sistema de resposta social
são as reações ao conteúdo produzido pela
organização e suas implicações morais que
3Neste contexto, tem o sentido de “homens circulam. Os sentidos atribuídos pelos
intermediários”. públicos à mensagem inicial perpassam os
diferentes repertórios inseridos em
condições distintas de recepção,
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Comunicação organizacional: externa, responsável, multidisciplinar.
Na mesma linha, George Mead4 aponta É provável que, ao teorizar sobre esses
que ao tentar assumir o lugar do “outro”, o mecanismos de interação envolvendo
indivíduo consegue avaliar sua provável gestos 5, Mead não vislumbrasse o sistema
resposta. Embora seus estudos não de resposta social; ainda assim, o autor
mencionem abertamente instâncias considera as fases posteriores do ato
posteriores à recepção, é possível estender comunicativo que não se restringem,
suas ideias ao sistema de circulação, como necessariamente, à recepção. São
veremos a seguir. “É este controle da presumidos os riscos que essa operação
resposta do indivíduo, graças à absorção do implica; portanto, quaisquer generalizações
papel do outro, que produz o valor desse e convicções devem ser descartadas na
tipo de comunicação para a organização da busca da compreensão desse processo
conduta do grupo” (Mead, 2006, p. 305 comunicacional estendido.
306 apud FRANÇA, 2011, p. 79). Exemplos abundantes do fenômeno de
Conforme mencionamos anteriormente, a circulação pós-recepção podem ser
ética da autolimitação exercerá papel observados em sites que registram
preponderante neste momento que precede reclamações de consumidores, como o
a emissão de conteúdos da comunicação Reclame Aqui. Após supostamente ter tido
organizacional. acesso a propagandas da marca – conforme
Reconhecemos toda a subjetividade indicação do texto – e adquirir um
que acomete o exercício de projeção no eletrodoméstico, um internauta de São
mundo do “outro”, já que a singularidade Paulo registrou nesse suporte a seguinte
humana faz-se intransponível. No entanto, queixa 6:
a tentativa de interpretação da possível
resposta alheia pode auxiliar na tarefa de Comprei uma lavadora Clean 8 kg, e
antecipação de reações na medida em que ela simplesmente não lava, mancha
esteja fundamentada no conhecimento das todas as roupas que eu lavo, e quando
ela enche de água o tambor de dentro
teorias da linguagem, distinguindo-se de
inconsequentes adivinhações. De acordo cai, perdi várias roupas já e tento
contato na Brastemp, onde no chat
com Mead (2006, p. 176 apud FRANÇA,
nunca tem alguém disponível, e na
2011, p. 79, grifo nosso),
gravação pelo telefone o atendente
simplesmente diz: se você comprou
A significação de um gesto indica direto conosco disque 1; se comprou
aquilo ao qual reagimos e antecipa o em outro local agradecemos sua liga
conjunto das reações que o gesto po ção. Comprei a minha máquina na
de suscitar. Ela estabelece a relação
Americanas.com, mas a garantia é
do gesto com o comportamento pos
Brastemp, onde devo reclamar, tenho
terior (com as fases seguintes do a
to), e permite assim que possibilida
des futuras sejam percebidas com an 5 Na perspectiva do pensamento de Mead, podemos
tecedência; é graças à significação entender “gesto” como o equivalente a uma
que os seres humanos podem identi mensagem produzida dentro de uma concepção
ficar alternativas, selecionar as res interacional. “[...] esses gestos, que evocam
postas e retê-las no organismo. sentidos e são estímulos que devem provocar uma
resposta do organismo ao qual eles se dirigem [...]”
(FRANÇA, 2011, p. 78).
6O nome do reclamante não foi divulgado, porém o
um bebê e não posso lavar roupas, comunicação das Águas de Niterói, passou
pois mancha tudo, o sabão em pó pelo processo de ressignificação editorial,
gruda nas roupas, como fico??? Na política, cultural e ideológica que perpassa
hora de fazer propaganda aí todo não apenas a figura do sujeito-repórter,
mundo faz, mas na hora dos proble mas toda a estrutura empresarial da revista
mas ninguém se preocupa com o Exame – e da editora Abril, responsável
consumidor. Nunca mais compro na pela publicação, antes de ser direcionado a
da dessa marca, uma falta de respeito
com o consumidor.
um novo circuito, atingindo diferentes
públicos. Esses, por sua vez, poderão
interagir sobre a informação em si e sobre
A partir do momento em que a
manifestação do receptor é exposta em um o procedimento moral que a envolve,
circuito público, a empresa geradora do ato estabelecendo outros circuitos e dando
comunicativo – desde que monitore o continuidade ao sistema de circulação.
sistema de resposta social – passa a ter A organização que assume essa
condições de atuar de forma mais terceira dimensão do processo comunica
contundente em suas ações de cional como um indicador de sua atuação
comunicação, seja seu objetivo conter moral e visibilidade social estará,
riscos ou prevenir problemas, seja a estrategicamente, apropriando-se da esfera
experiência de administrar o êxito, ou das repercussões como insumo para os
ainda com a finalidade de refletir sobre sua processos de tomada de decisão. Cabe às
suficiência moral. A mesma lógica vale pessoas que a integram a tarefa de avaliar
para manifestações positivas a respeito da cumulativamente as implicações éticas das
conduta da organização, conforme ilustra respostas sociais, que tendem a traduzir o
posicionamento moral da empresa.
trecho da matéria “Com boa gestão, a água
apareceu em Niterói”, publicada na versão
digital da revista Exame: Considerações finais
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Comunicação organizacional: externa, responsável, multidisciplinar.
Marketing e vendas
São atividades relacionadas ao fornecimento dos meios que permitam aos consumidores adquirirem
os produtos, incluindo-se os processos persuasivos.
São exemplificadas em força de vendas, promoções, publicidade, exposições, apresentação de
propostas.
Fonte: adaptado de Porter (2002, 1989) e Hitt; Ireland; Hoskisson (2003), grifos nossos.
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rotativa apresenta os principais assuntos, páginas da web de menor tamanho com foco em
sempre com fotos, chamadas e hiperlinks determinado serviço, ou campanha no nosso caso,
que direcionam para página com infor elaborados com conteúdo bastante específico e de
forma temporária (PINHO, 2003, p.250).
8 Elaboramos, na ocasião da nossa Tese de
Doutorado, um levantamento quantitativo
6Hiperlinks são elementos lógicos que interligam elencando todos os destaques do portal do
os computadores da Rede. Mais comumente são Greenpeace Brasil, no período de um ano (junho de
endereços de páginas web, palavras destacadas que 2012 a junho de 2013), conseguindo, com isso,
quando ‘clicadas’ direcionam para o ambiente da dados mensuráveis que apresentamos e discutimos
informação. Diretamente relacionados estão os no presente trabalho. A quantificação considerou os
conceitos de hipertexto, blocos de texto que destaques e sua repercussão nas redes sociais
oferecem acesso instantâneo a outros conteúdos por digitais, as propostas políticas agregadas e se o
meio de links, e hipermídia no caso direcionando assunto alcançou a mídia convencional, na tentativa
para produtos audiovisuais, imagens e sons em uma de entender se a comunicação em rede transcende o
combinação multimídia (PINHO, 2003). ambiente virtual.
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Comunicação organizacional: externa, responsável, multidisciplinar.
www.greenpeace.org/brasil/pt/Blog/ www.facebook.com/GreenpeaceBrasil
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comunicativa. Mas é preciso esclarecer que semelhante (senão igual), também com
realizamos uma análise exploratória em banner e chamada sobre o Dia da
tempo real e também recorremos a Amazônia, verificado poucos dias depois,
mecanismos de buscas que nos permitiram conseguiu ‘apenas’ 1.890 curtidas, 51
avaliações, certas quantificações para comentários e 2.400 compartilhamentos.
visualizar o contexto, mas não a exatidão. No Facebook todos os posts trazem,
O Facebook do Greenpeace, criado em além do texto normalmente curto, direto,
outubro de 2009, é um meio de com hiperlink para o portal e páginas
comunicação muito utilizado pelos adjacentes, fotos ou vídeos relacionados.
usuários até pela dinâmica mais livre, As imagens são prioritariamente focadas
possibilidade de postagem imediata de em animais, no caso principalmente no
comentários, compartilhamentos, adesões, nosso período de estudos, de ursos polares
já que a intervenção direta no portal não é que são os símbolos da campanha ‘Salve o
permitida. Trata-se de uma fanpage Ártico’, além de animais nativos como
(página para o fã, como o próprio nome araras, macacos, onça, pássaros. Também
diz, criada para manter relacionamento estão presentes imagens de desmatamento,
mais direto com os seguidores e sem degradação ambiental e de ações ativistas,
limitação de participantes) que atende à em uma priorização do estereótipo
dinâmica da rede social com conteúdo ambiental enquanto preservação de fauna e
reduzido, slogans, priorização de imagens, flora e de protestos espetaculares,
sempre com link para a página principal, e materializando a figura do herói. Durante
atualização frequente (mais de um novo um ano de nossa observação contabiliza
post por dia). Conta com mais de um mos 187 posts, um novo posta menos de
milhão de curtidores/seguidores. O número dois dias. Destes, 117 ou 60% eram
de atualizações, assim como de referentes às duas campanhas principais –
comentários e curtições é muito variável e ‘Desmatamento Zero’ e ‘Salve o Ártico’,
inviável de ser mensurado. Para termos um mas com textos diversos. Também
exemplo, dentro da nossa amostra contabilizamos as curtidas e os comentá
verificamos um post sobre a campanha rios nas duas temáticas principais, para
‘Salve o Ártico’, com foto do urso polar, avaliar o nível de repercussão das
no dia 23 de agosto de 2012, que registrou publicações. Verificamos no caso do
34.800 curtidas, 1.884 comentários e mais ‘Desmatamento Zero’ uma média de 75
de 30 mil compartilhamentos. A mesma comentários por post e 1.620 curtidas, e no
campanha, pouco tempo depois, em 17 de Ártico um número mais significativo de
outubro do mesmo ano, com foto de urso, 271 comentários e 5.400 curtidas por post.
contou com 25 mil curtidas, 1.111 Em alguns posts a quantidade de
comentários e 12 mil compartilhamentos. compartilhamentos também chama a
Já em 14 de maio de 2012 um post sobre atenção, muitas vezes superando o item
um protesto ao vivo contra a cadeia de curtir, a forma mais simples de aderir à
produção de ferro gusa teve apenas 169 mensagem, chegando até 30 mil
curtições, seis comentários e 94 compartilhamentos. Há uma tática do
compartilhamentos. Outro post, também Greenpeace para estimular a ação de
com imagem de vegetação e chamada para compartilhar e com isso ampliar a
o Dia da Amazônia conseguiu 18 mil circulação da mensagem na rede, que foi
curtidas, 670 comentários e 20 mil realizada, entre outros, no post de
compartilhamentos. Mas o terreno é muito dezembro de 2012: “Curta se você gosta
nebuloso para afirmamos o êxito de cada dos animais e quer proteger o habitat
post de forma objetiva. Um post natural deles e/ou compartilhe se você
49
Comunicação organizacional: externa, responsável, multidisciplinar.
assim como nós quer proteger as florestas”. feedback contínuo sobre o que se diz”. A
Mas não é possível padronizar, pois as linguagem coloquial também desperta a
participações são muito variáveis e difíceis atenção nas mensagens, como nos
de compreender na avaliação empírica. exemplos aleatórios que guardamos das
No microblog Twitter o Greenpeace nossas observações: “Boa noite, antes de
conta com 675 mil seguidores (junho de dormir ajude a salvar minha casa”, “Exerça
2014) e já publicou 16 mil twe sua cidadania, assine pelo desmatamento
ets/atualizações, desde setembro de 2008, zero”, e o estilo direto, chamando a pessoa
quando foi criado o perfil. Estes números à ação: “Você sabia que a casa dos ursos
revelam a média de nove tweets por dia, e polares pode desaparecer nas mãos de
indicam o agendamento da organização, ou empresas petroleiras? Assine para salvar o
seja, os assuntos que ela elege para ganhar Ártico”, “Ajude-nos, assine e comparti
as redes sociais digitais e atingir os lhe”, “Tirou da gaveta seu título de eleitor?
diferentes seguidores. O procedimento do Aproveite para apoiar a lei de iniciativa
retweet (replicação de uma publicação) popular do #DesmatamentoZero”,
gera um ciclo que não se pode controlar, “Enquanto você lê esse tweet, madeireiras
além de sinalizar para aceitação, pressionam populações tradicionais na
concordância com a mensagem e o Amazônia”, “Se você não concorda com o
interesse em divulgá-la. Esta mesma absurdo que está acontecendo na
dinâmica existe nos compartilhamentos do Amazônia, então salve as florestas (...)”. O
Facebook que também são postados na tom de ineditismo também tem lugar com
página do usuário, de forma que outro as etiquetas #urgentes, #denuncia17.
seguidor pode compartilhar atingindo A organização ainda realiza estratégias
permanência e alcance abundantes na rede, midiáticas aproveitando as possibilidades
além de ser algo estratégico para dar do microblog, disponibilizando fotos,
visibilidade às ações ambientalistas. vídeos, fazendo o acompanhamento em
As postagens no microblog não tempo real de certos acontecimentos, como
ultrapassam os 140 caracteres, e estão foram os casos das atividades realizadas
sempre, no caso do Greenpeace, durante a Rio+20, das manifestações
acompanhadas de hiperlinks para o portal, indígenas em Brasília em abril de 2013 e
para as páginas das campanhas, fotos e dos protestos de junho de 2013 no Brasil.
vídeos, e ainda agregam as hashtags, que Tem proposto o twitaço, uma espécie de
garantem a visibilidade da mensagem, sua incentivo para que os seguidores postem
permanência na rede social e a etiquetagem mensagens com as hashtags para ocasionar
enquanto assunto consolidado. Como são certo tumulto na rede e colocar o tema em
os casos #desmatamentozero, #desafioda trending topics (os mais citados do
moda, #vemprarua, #brasilcomflorestas, Twitter); com isso, ganha proeminência.
#euvotopelasflorestas, #salveoártico, Na nossa observação acompanhamos o
#detoxmoda. As hashtags, para nossa twitaço, que acontece com dia e hora
análise, atuam como elemento de marcada para começar e terminar em duas
destacabilidade muito acertado para criar o
fio condutor necessário para os assuntos e 17Os exemplos foram retirados visualizando as
estabelecem uma cadeia de busca, com postagens do Greenpeace no Twitter -
forte repercussão e visibilidade. Para twitter.com/GreenpeaceBR, buscando o histórico da
Tascon e Abad (2011, p.12) trata-se do organização na própria rede e por meio da
sistema público mais impressionante para ferramenta de busca gratuita http://topsy.com/. No
caso do Facebook é possível obter o histórico desde
distribuir informação. “Twitter é,
a primeira postagem no próprio perfil do usuário:
sobretudo, informação compartilhada e
www.facebook.com/GreenpeaceBrasil.
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Comunicação organizacional: externa, responsável, multidisciplinar.
Optou-se por fazer um estudo compa para se avaliar a diversidade com que o
rativo entre as normas NBR ISO 20121 meio ambiente e a comunicação social são
(ABNT, 2012) e ASTM/E60.02 (ASTM, contemplados nas normas. A autora
2012). Dessa forma, é possível tanto também menciona que tal método permite
apresentar conteúdos de ambas como aferir lidar com conteúdos qualitativos,
aspectos que as diferenciam para avaliar significados e desdobramentos, algo que é
um evento quer no aspecto de impacto feito de forma sumária dado o tratamento
ambiental, quer em termos de uso da sintético que requer o formato deste artigo.
comunicação social. O Quadro 2 mostra o âmbito geral de
As duas normas, na íntegra, foram cada norma e a aponta que ambas trazem
adquiridas e se constituíram nos dois seu escopo e referências normativas. Na
documentos alvo da análise de conteúdo. ABNT NBR ISO 20121, a finalidade
Tendo em vista a viabilização da análise apontada é especificar os requisitos de um
conforme preceitua Bardin (2004), os sistema de gestão para sustentabilidade de
documentos foram divididos em três eventos para qualquer tipo de evento ou
grandes categorias: Âmbito da norma, ações relacionadas a essa atividade.
Aspectos ambientais e Aspectos de Determinou que a norma fosse projetada
comunicação. para tratar da melhoria da gestão de
O “âmbito da norma” compreende o sustentabilidade em todo o ciclo da gestão
texto introdutório em que constam as de eventos. O escopo da ASTM está
referências normativas e o escopo da presente nas oito normas que compõem a
norma em si. Ou seja, apresenta o objeto E60.02 e delineia requisitos processuais
que trata a norma e balizamentos para as especificações a serem avaliadas,
conceituais que ela segue. buscando a identificação de critérios
Já os “aspectos ambientais” se referem relacionados à sustentabilidade ambiental.
aos temas e objetos do meio ambiente O alvo da certificação, tanto ASTM como
contemplados na norma, ou seja, aspectos ABNT NBR ISO, é a organização na
e elementos que caracterizam o evento realização do evento. Os dois escopos
como sustentável em termos ambientais. A tratam da gestão de eventos sustentáveis e
comparação ficou restrita aos aspectos preveem os processos.
ambientais encontrados nas normas, de
forma que não se buscou Quadro 2 – Elementos do “Âmbito da norma”
elementos externos ou não Âmbito da norma ABNT NBR ISO 20121 ASTM E60.02
mencionados nas mesmas. Escopo
Os “aspectos de comunica Referências normativas
ção” se referem a elementos do
sistema de comunicação (emissor, Apesar de constar no início do texto da
receptor, meio, mensagem, contextos) ou
ABNT/ISO que não há referências
procedimentos comunicacionais normativas, em várias passagens de seu
(instrumentos ou formas de comunicação) conteúdo há menções a outras normas,
previstos pela norma a fim de viabilizar os como ABNT NBR ISO 26000, ABNT
intentos sustentáveis de um evento. Assim NBR ISO 14001, além de apresentar, no
como nos aspectos ambientais, os aspectos
final, uma lista com 14 bibliografias, entre
de comunicação ficaram restritos àqueles
elas a BS 8900 (Guidance for managing
encontrados nas duas normas. sustainable development) criada para as
Bardin (2004) afirma que a análise de
Olimpíadas de Londres. Outro elemento
conteúdo possibilita quantificar a crítico é o formato da norma, pois, apesar
frequência de elementos, algo que foi feito
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Comunicação organizacional: externa, responsável, multidisciplinar.
de estar previsto que os anexos contempla Ao passar pelo elemento água, além da
riam guias e informações para a preocupação das duas normas em analisar
implementação de eventos sustentáveis, a qualidade da água e utilizá-la de forma
muitas vezes o texto é muito genérico, sem consciente, a ASTM E60.02 indica a não
entrar em detalhamentos de formas e utilização de água engarrafada a fim de
números de como realmente realizar um minimizar os efeitos ambientais.
evento sustentável, seja no aspecto A escolha do local para realização do
ambiental, elementos dos aspectos de evento, sobretudo as áreas verdes e a
comunicação, ou procedimentos práticos. otimização dos espaços, aparecem na
Já a ASTM optou por não criar uma preocupação com a biodiversidade prevista
nova redação em uma única norma e sim na ISO 20121.
compilar várias já existentes, reunidas a
partir de uma subcomissão da E60, Quadro 3 – Elementos dos “Aspectos ambientais”
criando, assim, a E60.02. Dessa forma, Aspectos ambientais ABNT NBR/ ASTM
acaba por repetir alguns elementos, como ISO 20121 E60.02
o item sobre terminologias e gestão de Controle da qualidade do ar
resíduos. Por outro lado, quando se de
Compensação das emissões
carbono (CO2)
analisa a questão do aspecto comunica
ção, a ASTM torna-se mais detalhada, Consumo de energia
inclusive com percentuais de redução. Utilização da água
Os aspectos ambientais estão assina Saneamento
lados no Quadro 3 e nas duas normas Escolha do local - Uso dos
espaços e áreas verdes
aparecem questões relativas à qualidade Gestão de resíduos
do ar, água, consumo de energia, gestão
Educação ambiental
de resíduos, ocupação e exploração do
espaço e configuração da cadeia Resultado/Legado deixado
produtiva. Mas se a norma ASTM pelo evento
contempla apenas 56% do total de Cadeia Produtiva
aspectos abordados pela ISO, esta última Bem-estar animal
elenca elementos e fatores adicionais Matriz de maturidade
como educação ambiental, impactos no Produtos Químicos
Ruídos
futuro, bem estar animal, ruídos, produtos
químicos e matriz de maturidade em Total 14 7
% (ABNT x ASTM) 100 56
relação à sustentabilidade.
Sobre a qualidade do ar, a ISO 20121
sugere a atenção ao sistema de transporte A gestão de resíduos vai além da
para a compensação das emissões de coleta seletiva ou a reciclagem de
carbono (CO2), com o incremento do materiais, pois a ISO 20121 estabelece a
transporte público e a utilização do sistema prevenção da geração de resíduos,
de caronas para os participantes que vão ao considerando assim um planejamento para
mesmo destino. a redução do consumo e uso de materiais.
Na questão do consumo de energia, A cadeia produtiva também é contem
além do levantamento da utilização da plada nas duas normas; são abordadas
energia, a ASTM 60.02 inclui a iniciativa questões práticas que envolvem todos os
de redução da necessidade de consumo nos que atuam antes, durante e após a
eventos, a fim do organizador de eventos realização do evento, caso também da
estabelecer o que é realmente imprescindí preferência por fornecedores locais, não só
vel. para privilegiá-los, mas para causar menos
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conquistada, o que é reforçado com o uso do Governo Federal e dos governos dos
de expressões como: “tirar proveito das estados que compõem a Amazônia”.
riquezas da Amazônia”, “oferecendo O pesquisador Fiorelo Picoli (2006)
lucros”, “mina de ouro”. A peça é descreve quatro fases de expansão
finalizada com um convite tentador: “Há capitalista na região Amazônica: 1) do ano
um tesouro a sua espera. Aproveite. Fature. de 1946 a 1964, com o Estado direcionan
Enriqueça junto com o Brasil”. Vê-se, do recursos para valorizar o capital na
então, essa rica biodiversidade reduzida à região; 2) de 1964 a 1985, com a Política
ótica econômica: são empreendimentos, de Integração Nacional (PIN) para
respaldados por projetos econômicos já organizar os projetos agropecuários e o
aprovados pela SUDAM, ou por novos comércio; 3) de 1985 a 1994, com a
projetos industriais, agropecuários ou de política de integração das reservas
serviços, conforme descreve o texto. ambientais e; 4) de 1995 até os dias atuais,
Considerando-se seu método discursi internacionalização para a extração dos
vo, a estrutura persuasiva do texto recursos florestais e minerais. Portanto,
publicitário está baseada no apelo à durante a década de 1970, o Governo
emoção (lucro fácil na terra prometida X Federal voltaria a incentivar a ocupação de
antigas lendas que povoam a região), áreas consideradas vazias, por meio do
oferecimento da prova (muitas pessoas avanço da fronteira agrícola, do Plano de
estão sendo capazes de tirar proveito das Integração Nacional e de projetos de
riquezas da Amazônia, com incentivo da colonização da Amazônia Legal.
SUDAM e Banco da Amazônia) e apelo à Alguns meses antes da publicação
credibilidade do comunicador (Banco da desse anúncio publicitário, os militares
Amazônia e Governo Federal). haviam iniciado a construção das primeiras
A região Amazônica era (ou ainda é) grandes estradas que iriam integrar a
envolvida por lendas e mitos, tida como Região Norte do Brasil: a Transamazônica,
paisagem natural rica e abundante, terra a a Cuiabá-Santarém e a Manaus-Boa Vista.
ser desbravada, habitada por animais O discurso ressalta essas obras faraônicas
ferozes e índios selvagens. O cartaz é um como o caminho para a riqueza fácil: “A
incentivo para que empreendedores Transamazônica está aí: a pista da mina de
comecem a investir no potencial financeiro ouro”. A propaganda garantia terras férteis,
da região, deixando de lado mitos e lendas desenvolvimento, progresso e lucros. O
que não contribuiriam para o enriqueci que não falava era da deficiência na
mento/desenvolvimento da nação. infraestrutura, da inoperância dos órgãos
É interessante notar que a propaganda governamentais e de empresas privadas de
enfatiza o apoio e investimento do colonização, dificuldades de comercializa
Governo Federal, por meio da criação de ção e escoamento da produção, dentre
órgãos e destinação de recursos, para outros desafios encontrados.
concretizar a ocupação das terras. “[...] Apesar das dificuldades a que foram
Com o aplauso e o incentivo da SUDAM. submetidos os imigrantes, o estado
Com o aplauso e o incentivo do Banco da brasileiro produziu um discurso mítico
Amazônia. O Brasil está investindo na sobre a Amazônia, identificando-a à terra
Amazônia e oferecendo lucros para quem prometida, e os colonos, como pioneiros e
quiser participar desse empreendimento”. conquistadores. O migrante via na região a
Ao incentivo da União soma-se o empenho esperança de conseguir áreas férteis, onde
dos nove estados que compõem a área de poderia produzir e sustentar sua família,
Amazônia Legal: “Você terá todo o apoio imagem alicerçada em anos de colonização
dos sentidos. “Subjacente a isso está a
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Créditos: DC3 Marketing e Comunicação. Ressaltamos que peças publicitárias são obras protegidas, todas as
imagens possuem direitos reservados às agências ou anunciantes. A sua reprodução objetiva tão somente a
pesquisa para a produção científica.
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Quadro 2 – Número de visitantes / participantes das ações de divulgação científica desenvolvidas pelo LNA.
AÇÕES ANO
2010 2011 2012 2013
Visitas ao OPD 981 1.631 2.372 2.225
Visitas ao Observatório no Telhado - - 826 452
Tarde e Noite de Portas Abertas 1.720 1.357 1.674 920
Concurso de Astronomia para Estudantes - - - 269
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[...] uma camisa é uma camisa, mas a A noção de ethos foi introduzida nos
imagem da camisa significa felicida estudos retóricos de Aristóteles (2005). As
de ou masculinidade ou sedução ou
investigações do autor levaram-no a
aventura ou tudo isso. A imagem da concluir que o orador ganha a confiança do
camisa (imagem que é uma segunda auditório ao construir uma imagem de si
mercadoria) modifica a camisa (pri que seja convincente. Essa boa impressão é
meira mercadoria). Agora é a fantasi causada pela maneira como o locutor
a, que lhe dá o prazer, e não apenas o
uso, que o consumidor busca na mer constrói o discurso, isto é, desde as
cadoria (NERY, 2005, p.16). palavras que escolhe, argumentos, gestos e
postura, até o tom de voz e modulação da
Nesta perspectiva, Galindo (2008) fala. O ethos, objeto de estudo de
afirma que a “razão de ser da atividade Aristóteles, considerou especificamente a
publicitária, ontem, hoje e amanhã, foi, é e imagem que o locutor constrói de si no
será a de transformar objetos/bens e decorrer do discurso, ou seja, o ethos
serviços em cargas simbólicas que ligado ao próprio ato de enunciação.
transmitam mensagens que excedam seus Ducrot retomou esse conceito ao trabalhar
atributos e benefícios” (p. 213). a ideia de que o ethos não é dito no
Maingueneau vai além ao afirmar que a enunciado, mas mostrado na enunciação:
proposta do discurso publicitário não é
propor argumentos para valorizar um É necessário entender por isso o cará
produto, mas sim, elaborar “em seu ter que o orador atribui a si mesmo
pelo modo como exerce a sua ativi
discurso o corpo imaginário da marca que
supostamente está na origem do enunciado dade oratória. Não se trata de afirma
ções auto-elogiosas que ele pode fa
publicitário” (MAINGUENEAU, 2008, p. zer de sua própria pessoa no conteú
56). Como proposta teórica para do de seu discurso, afirmações que
investigação desse mundo imaginário que podem ao contrário chocar o seu ou
o discurso publicitário constrói em torno vinte, mas da aparência que lhe con
do produto, Maingueneau propôs uma fere a fluência, a entonação, calorosa
retomada do conceito de ethos: ou severa, a escolha das palavras, os
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Estabeleceu-se uma evidente associa parte da vivência das pessoas desde a idade
ção da comunicação mercadológica do mais tenra. Temos contato com as cores e
segmento de animais de companhia com as interpretamos de diferentes formas, mas
valores do universo infantil. Essa elas em si, já trazem significados
constatação pode ser materializada pela implícitos que nos levam e remetem aos
pesquisa com marcas de pet shop em que, mais diversos simbolismos.
das 54 imagens coletadas, todas tiveram ao Essa associação da comunicação
menos duas inserções em uma das mercadológica entre o segmento pet e
categorias do universo infantil. símbolos infantis possui fundamentos que
Algumas marcas fizeram grande foram discutidos no referencial teórico.
apropriação de símbolos infantis. Das Assim, quando a comunicação
categorias de valores do universo infantil, mercadológica das marcas do segmento pet
os tópicos referentes à mensagem é desenvolvida, pode-se perceber a
irreverente e conteúdo inusitado tiveram constante utilização desses elementos do
grande incidência. A irreverência remete à universo infantil para aproximar as marcas
alegria, sair do comum, o que pode das pessoas que lidam com animais de
também ser atrativo para uma marca ao companhia.
buscar esse posicionamento. No segmento Essa pesquisa, por ser de caráter
pet, já que os animais são tidos como quase exploratório, não permite que os resultados
crianças, a irreverência faz parte da sejam generalizados. Tendo em vista os
caracterização da marca; os animais são desafios encontrados no decorrer da
brincalhões, não seguem regras pesquisa e considerando a relevância desse
convencionadas, são irreverentes e objeto de estudo, pode-se propor que novos
inusitados. trabalhos tratem de aspectos como:
Outra categoria evidenciada foi o ampliação da amostragem estudada; estudo
conteúdo simples, porque a simplicidade específico das estratégias de comunicação
facilita a compreensão da mensagem (e a utilizadas no segmento pet;
persuasão), possibilita transmitir a desenvolvimento de pesquisa explicativa
mensagem mais rapidamente e sem ruído. sobre a associação entre a comunicação pet
O conteúdo simples também faz parte do e o universo infantil.
universo infantil, as primeiras letras, os
primeiros rabiscos, os primeiros passos, Referências
são seguidos de elementos simples e
didáticos, que acompanham a criança
durante muito tempo. BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo.
Lisboa: Edições 70, LDA, 2004.
O uso de estilo tipográfico característi
co do universo infantil também foi BERNASCONI, Marcos. Estrutura e
significativo. Foram palavras, letras e gestão dos canais de distribuição na
símbolos ortográficos que imitavam balão, indústria de alimentos para cães e gatos
utilizaram fontes cursivas ou que imitaram (petfood). 2007. Dissertação (Mestrado em
a caligrafia, trazendo maior identidade com Engenharia) – Universidade Federal de São
a escrita real e infantil; uso de fontes Carlos, São Carlos-SP, 2007.
diferentes e que também remetem a CALAHORRA FERNÁNDEZ, F.J.;
fantasia, ao lúdico. ROUCO PÉREZ, P.F. Estrategias de
As cores claras, chamativas e/ou marketing aplicadas a la venta de
misturadas também aparecem signifi alimentos de animales de compañía en
cativamente na análise; as cores fazem
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Estabeleceu-se que, se o fator custo nos anos 1980 e que propiciaram ganho de
aparecesse em 25% ou mais das áreas do renda, poder de consumo e inserção
anúncio, poderia ser considerado como sociopolítica para um contingente
estratégico naquela peça publicitária. predominante nas classes C, D e E. Tal
Dentro deste critério, 11 peças ou 9 emersão repercutiu nas IES, fazendo o
anunciantes apresentaram o elemento custo setor desenvolver estratégias de marketing
como estratégico, o equivaleria focadas no custo, estratégias estas que
respectivamente a 22,4% e 32% do total. demandaram esforço especializado por
Esses números indicam que o custo, parte da comunicação publicitária destas
embora com peso significativo, não é IES.
elemento usado de forma única ou Outro grande passo teórico e necessá
predominante na oferta publicitária para a rio foi o de caracterizar as instituições de
camada popular emergente. ensino superior em termos de estratégias
Segundo a análise de conteúdo efetua de marketing já que são organizações e
da, observou-se que o trabalho de criação anunciantes chaves no estudo. As
publicitária utiliza várias expressões, organizações educacionais voltadas ao
palavras, frases ou recursos semânticos que ensino superior registraram o dobro de
remetem a custo, tais como: bolso, grana, matrículas no período de 2000 a 2010, algo
dinheiro, preço, valor, prova/vestibular diretamente ligado ao ingresso da camada
social, condições especiais, mensalidades, popular emergente no mercado de
caro. Algumas palavras parecem pertencer consumo. É plenamente possível crer que
a um jargão popular (bolso, grana) que as estratégias de marketing e os esforços
remetem a vantagem econômica, enquanto publicitários para lidar com esse
outras são mais diretas: dinheiro, preço, contingente tenha se inspirado em outros
valor, caro, mensalidade (custo). Há setores do mercado e que, recentemente,
algumas que parecem indicar um apelo tenha desenvolvido conhecimentos e
promocional de curto prazo, oportunidades práticas especializadas, como as estratégias
ou vantagens em termos de custo com foco no consumidor e no custo.
benefício: prova/vestibular social, De um lado, a comunicação publicitá
condições especiais. ria focada no custo não pode ser entendida
como aquela que se apega apenas ao fator
Considerações finais econômico, pois, para ser aceita no
contexto da camada popular emergente, é
Este artigo objetivou analisar a comu necessário que o anúncio da IES agregue
nicação publicitária envolvida na relação qualidades adicionais, inclusive pela
das instituições de ensino superior para competitividade que alcançou o setor.
com a camada popular emergente. Em que Para tanto, a pesquisa primária com
pese as limitações desta pesquisa diante da anúncios publicitários de IES realizada na
extensão do objeto de estudo e o caráter amostra aqui apresentada, apurou que
exploratório do trabalho, pode-se afirmar 61,2% dos anúncios possuem conteúdos
que tal intento foi alcançado. alusivos ao custo. Esse dado, no entanto,
O primeiro grande desafio foi oferecer precisa ser completado com outro que
bases conceituais para o termo “camada aponta serem minoria os anúncios em que
popular emergente”, uma vez que tal termo o fator “custo” aparece de forma destacada,
não tem construção plena e é um dos como se evidenciasse melhor uma
pilares temáticos da pesquisa. Tal estratégia de marketing voltada ao custo.
construção ocorreu a partir dos fatores Visto por esse ângulo, apenas 22,4% das
econômicos, sociais e políticos eclodidos peças ou 32% dos anunciantes apresenta
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ram o elemento custo como estratégicos, o um aprendizado tendo em vista que essa
que corrobora com a premissa de que além inovação deve estar incorporada
do custo, é necessário agregar conteúdos adequadamente nas campanhas e anúncios.
que acentuem benefícios e gratificações ao Poucos foram os estudos sistematiza
cliente potencial. dos realizados sobre a comunicação
O referencial teórico sustentou que as publicitária das IES para com a camada
pessoas da camada popular emergente não popular, talvez porque esse contingente era
valorizam apenas os aspectos econômicos economicamente pouco relevante no
(custo), mas também qualidade, passado, mas que hoje torna-se foco para
conveniência, localização, perspectiva de investimentos comunicacionais.
emprego, projeção social entre outros Cumpre destacar que os resultados
fatores. Assim, a pesquisa com anúncios aqui alcançados e comentados não podem
reforça que a publicidade de IES voltada ser generalizados face aos limites da
para tal público precisa levar em conta amostra e ao tipo de pesquisa (explorató
múltiplos elementos e não apenas os ria).
relacionados a custo. Outros estudos podem ser conduzidos
Mas, por qualquer ângulo que se nesta temática, caso de se verificar se o
queira analisar os números encontrados, é modelo atual publicitário possui
certo que o fator “custo” integra-se como características corretas de especialização,
elemento informativo e persuasivo em ou ainda se oferece um tratamento
anúncios publicitários de IES voltados para estereotipado em anúncios destinados às
a camada popular emergente. camadas de menor poder aquisitivo, o que
Nesse sentido, vale comentar que a poderia acarretar depreciação da
análise não teve por pretensão rotular a IES credibilidade da IES e afetar seus intentos
como focada na camada popular de marketing no curto e longo prazos.
emergente, mas apenas discorrer sobre as A camada popular emergente mostra
peças veiculadas e, nelas, sugerir esse relevância e complexidades que precisam
vínculo. ser melhor estudadas, particularmente no
A criação publicitária em evidenciar o que se refere à indústria da comunicação,
preço nominal, descontos e os elementos inclusive para que os aspectos de eficácia e
relativos ao custo pôde indicar também o ética tenham sintonia com a realidade
alto grau de competitividade que chegou o atual.
setor educacional, notadamente as IES,
inclusive com a possibilidade de vários Referências
concorrentes disputar o mesmo mercado,
neste caso a camada popular emergente. AZEVEDO, Marcelo da R.;
Tais desafios demandam para a MARDEGAN-JR., Eliseu. O consumidor
publicidade inovações tendo em vista uma de baixa renda. Rio de Janeiro: Ed.
estratégia mercadológica mais ampla e Campus. 2009.
afinada com um consumidor que exalta o
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo.
custo-benefício, mas que aparentemente é
atento a uma oferta que faça sentido a sua Lisboa: Edições 70, 2004.
visão de qualidade de vida. BITTENCOURT, Vítor; GIACOMINI
A incursão de IES em estratégias FILHO, Gino. Marketing: estratégias e
focadas no custo mostra uma mudança de casos brasileiros. In: Estratégias
postura do setor do ensino superior. A se Empresarias: pesquisas e casos brasileiros.
referenciar pelos estudos encontrados, o LAMENZA, Ademir (org.). São Paulo:
setor publicitário ainda está passando por Saint Paul Editora, 2008, p. 175-222.
111
Comunicação organizacional: externa, responsável, multidisciplinar.
CIEGLINSKI, Amanda. Rumo aos 10 Advertising Age. New York, v.61, n. 41,
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LAUTERBORN, Bob. New marketing
litany: four Ps passe: C-words take over.
112
Comunicação organizacional: externa, responsável, multidisciplinar.
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Comunicação organizacional: externa, responsável, multidisciplinar.
Figura 3 - Top of Mind (%) 2006 - 2013 refletindo a excelência prometida nas ações
de marketing. Assim, o que essas
operadoras parecem não ter observado é
que os esforços para divulgar produtos,
serviços e pacotes promocionais, embora
legítimos, devem vir acompanhados pela
contrapartida do bom atendimento e
qualidade do que é proposto pelas
campanhas de comunicação.
Figura 4 –Telefonia Móvel / Defensores
setor de telefonia móvel atualmente em outro lado, o cenário para Oi e Claro foi de
uma perigosa zona de risco. E isso se ligeira recuperação, mas ainda distante dos
acentua em tempos de liberdade de níveis de defensores auditados em 2011.
expressão proporcionada pelas redes Os dados aliados aos rankings de
sociais digitais. reclamação do Procon e Reclame Aqui dão
Assim, a despeito das medidas da um indicador evidente da insatisfação dos
Anatel, a pesquisa da Associação clientes. Essa insatisfação pode ser
Brasileira de Anunciantes revelou que o comprovada com a chegada da Vivo ao
cenário geral para as marcas de telefonia topo no ranking geral de empresas
móvel foi de piora e não de recuperação. reclamadas do site Reclame Aqui, como já
Muito embora a Tim tenha sido Top of exposto anteriormente. Um alerta que deve
Mind novamente em 2013, a marca, que já ser considerado por gestores de
tinha perdido defensores em 2012, perdeu comunicação em tempos de novas formas
ainda mais defensores em 2013. E Vivo, de relacionamento entre consumidores e
marca com mais defensores em 2013, organizações.
também teve piora com relação a 2012. Por
Fonte: Portal O Globo, 12 jul2012. Fonte: Portal Guia de Teresina, 5 ago. 2012.
Fonte: Portal Guia de Teresina, 5 ago. 2012. Fonte: Portal UOL, 18 jul. 2012.
Referências http://exame.abril.com.br/tecnologia/notici
as/anatel-aprova-fusao-de-empresas-do
BATTIBUGLI, Alexandre. Anatel aprova
fusão de empresas do grupo Telefôni grupo-telefonica-vivo. Acesso em 06 fev.
ca/Vivo. Exame.com, 23 maio 2013. 2014.
Disponível em: BRETAS, B. Remixagens cotidianas: o
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Comunicação organizacional: externa, responsável, multidisciplinar.
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Comunicação organizacional: externa, responsável, multidisciplinar.
Renata Malta
Doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo.
Professora Efetiva do Departamento de Comunicação Social da
Universidade Federal de Sergipe (UFS). E-mail: renatamalta@hotmail.com
função principal dos líderes de empresas por ela, especialmente nos anos 2000, com
não seria mais a mesma. Jensen (1999) o intuito de estabelecer em que nível há
declarava que estes deveriam ser uma simetria simbólica entre comunicação
primeiramente contadores de histórias e, de mercado e sociedade pós-moderna.
depois, administradores de empresa. Essas Desse modo, chegamos a resultados
narrativas poderiam abordar diversos que demonstraram que os anos 2000
temas, de aventura ao bem estar dos marcam uma mudança no discurso
animais, sempre associadas a emoções. publicitário, e, simetricamente social.
Ponderamos que o mercado regido por Observamos uma alteração significativa da
emoções detalhado por Jensen não era práxis publicitária até então em voga,
necessariamente global. Seus exemplos e considerando o setor automobilístico, a
descrições diziam respeito a situações qual passou a privilegiar o intangível em
experimentadas em países desenvolvidos, detrimento do tangível. Fomos além,
da América do Norte e Europa. Fomos, identificamos as temáticas presentes nas
então, direcionados a um segundo produções publicitárias analisadas,
questionamento, se esta também seria uma objetivando, ainda, um entendimento
realidade do mercado brasileiro. comparativo entre diferentes períodos
Naturalmente, passamos a observar com sociais. A presença mais frequente de
mais acuidade as produções publicitárias muitas temáticas voltadas ao intangível na
disponíveis à sociedade brasileira, focando última década corroborou com o que já
nossas atenções nas histórias contadas por havíamos verificado na análise de
elas. Além da pesquisa bibliográfica, frequência temporal, que definitivamente
fomos instigados à realização de uma adentramos um período em que a
pesquisa empírica. A escolha do corpus foi imaterialidade prevalece e que essa é uma
intencional. Ao analisar peças publicitárias realidade que se aplica ao mercado
estaríamos envoltos na comunicação de brasileiro e, concomitantemente, à
mercado e, paralelamente, poderíamos sociedade desse país.
almejar um entendimento social, ao A possibilidade de apresentar uma
estabelecermos ser a publicidade uma classificação do mercado baseada nos
produção cultural. De forma comparativa, intangíveis comunicados pela publicidade
dos anos 1960 aos anos 2000, consideran se fez presente. O tradicional mercado de
do cada década um grupo, realizamos uma produtos e serviços é segmentado a partir
análise de conteúdo quantitativa em vídeos da natureza funcional dos bens disponíveis
publicitários televisivos do setor aos consumidores. No mercado do
automobilístico, randomicamente imaterial, seria a natureza simbólica que
selecionados, com a finalidade de determinaria tal segmentação. Portanto,
mensurar em frequência temporal quanto alinhada às asserções de Jensen (1999), e
do áudio e da imagem é constituído por paralelamente às características da pós
elementos tangíveis e intangíveis. Ainda modernidade, a classificação mercadológi
por meio da análise de conteúdo ca aqui proposta evidencia a imaterialidade
quantitativa, categorizamos as temáticas em detrimento da materialidade. Ainda que
presentes nestes vídeos com a finalidade de estejamos lidando com o setor automobilís
entender em que medida a publicidade tico, considerando o recorte e seleção do
alterou os assuntos constitutivos de seu corpus desta pesquisa, nesta classificação,
discurso no decorrer das décadas e não é o automóvel que prevalece, mas o
observar quais intangíveis ou valores valor simbólico agregado a ele.
simbólicos estão atrelados à marca e ao Como já pontuamos, observamos em
produto por meio das narrativas contadas nossas análises preliminares uma
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Comunicação organizacional: externa, responsável, multidisciplinar.
Pragmaticamente, esta
categorização pode ser observada como a constituintes será aleatória, não importando
base para um novo modelo. Nossa a frequência mensurada durante a etapa da
proposição não tem intenções revolucioná análise de conteúdo.
rias. Não acreditamos que o padrão Deparamo-nos com uma série de
tradicional de divisão de mercado, baseado intangíveis expressos nas mensagens
na materialidade dos produtos, seja publicitárias que representam sentimentos,
substituído2. Nosso objetivo é apresentar sensações, comportamentos, caracteriza
novas possibilidades de segmentação em ções, fenômenos, e que em nada se
consonância com um mercado que, cada associam à materialidade ou à funcionali
vez mais, privilegia a imaginação em lugar dade do produto ou da marca nelas
da argumentação. anunciados. Algumas são bastante
Para tanto, nossas atenções se centra específicas e de fácil interpretação. Outras
ram nos dados obtidos a partir da segunda de uma amplitude que requer um
análise quantitativa de conteúdo, detalhamento explicativo. Buscaremos,
especificamente dos anos 2000. então, definir os segmentos que compõem
Retomando os quadros e gráficos obtidos o mercado do imaterial, considerando que
nas análises, separamos as categorias que a simples nomenclatura não apresenta
se associam ao imaterial ou intangível da diretrizes acuradas. Objetivamos não
mensagem, tendo como meta a investiga somente descrevê-los, como também
ção de quais valores simbólicos aparecem pormenorizá-los, entendendo que se trata
neste momento social. Ressaltamos que de uma proposição hodierna e carente de
nesta etapa a frequência de aparição destas definições. Naturalmente, estamos diante
temáticas intangíveis não foi relevante, já de um mercado aberto à expansão,
que nosso interesse, neste momento, está provavelmente mais elástico do que o
focado na presença das mesmas e não em tradicional mercado segmentado a partir da
quantificações. Para demarcar o que funcionalidade dos produtos. Sabemos que
denominamos “mercado do imaterial”, diferentes bens materiais são constante
apresentaremos, primeiramente, um quadro mente inventados ou renovados e inseridos
(1) contendo todas as temáticas fincadas na no mercado, cuja flexibilidade é
imaterialidade, identificadas a partir do imensurável. Assim, novas categorias são
permanentemente criadas para dar espaço a
2Ainda que a segmentação de mercado a partir da eles. Ao dividir este ambiente de troca
materialidade do produto predomine, existem outras tendo a imaterialidade como base, as
divisões mercadológicas baseadas, por exemplo, no possibilidades são inúmeras. Desse modo,
perfil do consumidor. Neste caso, questões o quadro acima apresentado está longe de
psicológicas, demográficas e econômicas, entre ser concluído. Podemos dizer que se trata
outras, são determinantes para a devida
de um ensaio, um esboço de um modelo
classificação.
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com grande capacidade de expansão, mas relação conflituosa entre pai e filha é o
que tem a pretensão de manifestar foco da encenação, personificando uma
originalidade. problemática social, a dificuldade de
O primeiro segmento do mercado do comunicação entre pessoas de diferentes
imaterial é o elo familiar. Sabemos que a gerações. O valor simbólico ao qual o
publicidade retrata em suas produções a produto e⁄ou a marca pretendem se associar
realidade cotidiana social, entre outros é à revisão de conceitos que pode
modelos. Assim, a representação da família contribuir para o estreitamento do elo
é uma fórmula já utilizada em outros familiar entre pais e filhos, considerando a
períodos sociais, como pudemos constatar barreira a ser quebrada, fundamentada em
empiricamente em nossas análises. No “formas de pensar” enraizadas e oriundas
entanto, apresentar membros integrantes de de diferentes gerações. O elo familiar é,
uma família não significa, necessariamen assim, um segmento a ser explorado pela
te, que a representação de um elo familiar comunicação de mercado e passível de
se institua. Entendemos que família é um diversas representações. Independentemen
símbolo arquetípico que evoca emoções e te do tipo de relação familiar expresso, é
imagens presentes no inconsciente ela quem deve estar em ênfase, e não a
coletivo. Portanto, apenas sua presença já funcionalidade do produto, considerando a
comunica uma mensagem. Entretanto, o proposta de um mercado baseado na
que queremos estabelecer aqui é que ao imaterialidade.
segmentar elo familiar, ao invés de família, Ao estabelecermos a emoção como um
propomos que o foco da publicidade esteja segmento, pretendemos aclarar que não são
na expressão das relações familiares. Não os sentimentos geradores de emoção que
se trata apenas da representação da família estão em evidência, mas sim a reação a
feliz, composta habitualmente por uma eles. Em uma definição formal,
mãe, um pai e dois filhos, mas sim de entendemos por emoção a agitação de
como estas pessoas se relacionam. Ao sentimentos; o abalo ou turbação afetiva; a
situar-se nesta segmentação de mercado, a excitação mental ocasionada por variados
comunicação foca o seu discurso na tipos de eventos3. Entendemos o poder que
manifestação de elementos que simbolizem as emoções exercem sobre o público, já
esse elo, associando sua marca ou produto que, primeiramente, os sentimentos
a ele. Essa segmentação poderia ser básicos, como felicidade, tristeza, medo e
subdividida em inúmeras outras, as quais raiva, nem passariam pelo viés da
delimitassem como este elo é constituído. compreensão racional. Mesmo que o
Portanto, não basta que uma família receptor não consiga dar significado lógico
dramatize o uso de um determinado a um determinado signo porque o mesmo
produto anunciado para que este se não faz parte do seu repertório, a emoção
enquadre nesta categoria, é preciso que o possibilita que ele o sinta de forma
elo familiar esteja em evidência e que o dramatizada. Do ponto de vista da
produto se associe a ele, assinando a comunicação, a emoção seria, assim, um
encenação. Observamos, então, múltiplas signo que pode ser facilmente codificado,
possibilidades de relação e, embora a transmitido e reconhecido no processo
maioria das mensagens exprima elos comunicacional. Mais além, o reconheci
harmoniosos, algumas exploram conflitos,
trazendo à tona transformações sociais e
modelos de família que não se enquadram 3HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico Houaiss da
Língua Portuguesa. 2013. Disponível
a padronizações. Um exemplo presente no em: http://houaiss.uol.com.br. Acesso em 20 set.
corpus é a peça “Pálio camisinha”. Nela, a
2013.
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4Na Idade Média, costumava-se atribuir ao elixir, 5 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e
substância preparada com componentes aromáticos Estatística. Dados consultados em:
e/ou medicamentos dissolvidos em álcool, http://www.ibge.gov.br. Acessado em 20 set. 2013.
propriedades mágicas, resultando em um efeito 6Idem. Dados consultados em:
encantador e de sedução. http://www.ibge.gov.br. Acessado em 20 set. 2013.
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Sobre os organizadores:
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