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Leonardo Da Vinci – Arte, Ciência e seus Mecenas

Prof.a Dr.a Elza Ajzenberg


Aluna: Maria Helena Cruz McCardell
História da Arte Renascentista

Resumo. O objetivo deste trabalho é abordar parte da trajetória da vida de Leonardo Da Vinci
e relatar alguns aspectos da origem de seu nascimento ilegítimo em Vinci, passando por
Florença onde se desenvolveu artisticamente, muito jovem, com um talento ímpar. Por meio
de pesquisa dos mecenatos, notou-se a importância do artista em artes cênicas, festivais e
eventos da realeza. Observou-se o fato de ele ser personalidade com múltiplas habilidades –
mais de doze áreas de conhecimento, cujas experimentações foram fundamentais para seus
estudos. Da Vinci, conhecido como um grande pintor, dentre outras especialidades, faz
descobertas importantes para a humanidade no âmbito científico nos séculos XV e XVI. Da
Vinci acreditava que a arte e a ciência caminhavam juntas, completavam-se. Enquanto
desenhava tanques de guerra, bicicletas, helicópteros e dissecava cadáveres; nos eventos
reais, produzia peças, mascaradas, cenários para teatro, além de poemas e música. Sforza e
Francisco I, seus principais mecenas proporcionaram-lhe a oportunidade de desenvolver e
entreter a nobreza com performances.
Palavras-chave: Arte e ciência. Da Vinci. Mecenatos.

Summary.The purpose of this work is to address a part of the trajectory of the life of Leonardo
Da Vinci and to report some points of the origin of his illegitimate birth in Vinci, passing through
Florence where he developed artistically very young with a unique talent. The patronesses
were researched and noted the importance of the artist in the performing arts, festivals and
real events. The personality with multiple abilities that added more than twelve areas of
knowledge, since his experiments were fundamental for his studies. Da Vinci, well-known like
a great painter, among other specialties, makes important discoveries for the humanity in the
in the fifteenth and fourteenth centuries. Da Vinci believed that art and science walked
together, completing each other. While drawing tanks, bicycles, helicopters, and dissecting
corpses, he produced pieces, masks, stage sets for the theater, as well as poems and music.
Sforza and Francisco I, their main patrons provided Leonardo with the opportunity to develop
and entertain the nobility with their performances.
Keywords: Art and science. Da Vinci. Patronage.

Introdução

Em 2011, este estudo teve seu início de forma inesperada, literalmente dentro
do Castelo Clos Lucé, Amboise na França, A partir daquele momento a curiosidade
sobre Leonardo Da Vinci intensificou-se.
Absorvido o que foi visto, naquele ambiente que remonta mais de 500 anos,
esta pesquisadora decidiu investir num curso de Artes Visuais, no qual a disciplina
História da Arte contribuiu para aprofundar a pesquisa com leituras, aulas específicas
em “A História da Arte Renascentista” (século XIV a XVI).
Decidido o recorte da pesquisa foi resolvido uma explanação e reflexão neste
trabalho sobre a diversidade de Leonardo. Inteligência, habilidade e talento desse
artista, tornavam-no capaz de transitar em várias atividades profissionais como:
cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto,
botânico, poeta, filósofo, músico, desenhista, figurinista cenógrafo.
Desenhar, criar máquinas e tanques de guerra, fazer poemas, pintar anjos e
dissecar cadáveres, eram atividades tão diferentes que a curiosidade sobre a mente
dele, tão exótica, despertou mais interesse que sobre sua vida.
Da Vinci foi um artista que viveu durante um período de mudanças políticas,
econômicas, religiosas e filosóficas, marcado como o Renascimento, época de
transformações relevantes pós-Idade Média. Ao mesmo tempo foi propício a muitas
experimentações, já que a ciência se abria para um mundo mais humanista nos
séculos XV e XVI.
Para contextualizar e direcionar esta redação, preferiu-se dividir o estudo em:
nascimento ilegítimo de Leonardo, passar rapidamente por Florença, onde tudo
começou, com aprendizado artístico e primeiro mecenato; em seguida focar o objeto,
recortar com cuidado o tema “Mecenato em Milão” (Itália) com grandes e variadas
criações de Da Vinci e, na sequência: “Mecenato em Amboise” (França), com mais
desenhos, eventos e invenções.
Em ambos os mecenatos foram notadas as mesmas tendências de produção e
atividades recreativas. A motivação para adentrar tamanho desafio em poucas
páginas foi a leitura da biografia de Da Vinci, e assistir às aulas presenciais em
“História da Arte Renascentista”. Seguindo a metodologia exploratória, por um feliz
acaso a “fonte” (Clos Lucé) foi usada para organizar e dar início a esta pesquisa sobre
um dos homens mais importantes da Renascença.

1 Vinci - nasce um gênio ilegítimo

Para começar este trabalho e torná-lo o mais claro possível, faz-se breve relato
sobre a origem de Leonardo Da Vinci (1452-1519).
Na vila de Vinci, perto de Florença (Itália) nasce Leonardo, filho de Ser Piero
em relacionamento extraconjugal com a camponesa, Caterina. Leonardo da Vinci vem
de uma família que remonta o século XIV e seu tataravô, Michele, tinha o título
honorífico (Ser), pela função de tabelião, profissão de pelo menos cinco gerações.
Utilizando sua pouco praticada caligrafia de tabelião, o avô do garoto,
Antonio, registrou o nascimento no pé da última página de um livro que
havia pertencido ao seu próprio avô: “1452: Foi-me dado um neto, filho
de Ser Piero, meu filho, no dia 15 de abril, sábado, na terceira hora da
noite [por volta de 22 horas]. Ele carrega o nome de Leonardo”.
(ISAACSON, 2017:31)

A mãe, Caterina, não foi considerada digna de ser mencionada em nenhum


documento, nem certidão de batismo. Por essa omissão, sua identidade era um
grande desafio para os especialistas modernos descobrirem a verdadeira origem
materna de Leonardo; especulava-se até que pudesse ter sido uma escrava árabe ou
chinesa.
Segundo Isaacson (2017), ela era uma menina órfã, de dezesseis anos e se
chamava Caterina Lippi, moradora de Vinci, que acabou se envolvendo com Piero da
Vinci, homem próspero que tinha 24 anos. Para a indústria do turismo em Vinci:

Leonardo pode ter nascido em um chalé de pedra instalado ao lado de


uma fazenda a três quilômetros de Vinci, na aldeia vizinha de Anchiano
- hoje a sede de um pequeno museu dedicado a Leonardo.
(ISAACSON, 2017:32).

O fato de crianças, àquela época, nascerem fora do casamento tornava-as


parcialmente integrantes da família; eram considerados filhos bastardos, dentre os
quais havia muitos artistas e escritores, criados à margem da sociedade, o que os
tornava mais corajosos e criativos, tudo que a renascença propiciava. (ISAACSON,
2017).

Como a guilda de tabeliães de Florença barrava os non legittimo,


Leonardo pôde se beneficiar do instinto de fazer anotações
entranhado em sua herança familiar, ao mesmo tempo em que
desfrutava de liberdade para correr atrás das próprias paixões
criativas. Isso foi um golpe de sorte. Leonardo teria sido um péssimo
tabelião. Ele se entediava e se distraía com muita facilidade,
especialmente quando um projeto deixava de ser um esforço criativo
e se tornava algo rotineiro. (ISAACSON, 2017:36)

Leonardo foi autodidata e definia-se como um homem iletrado. Irônico, usava


esse argumento como defesa; embora sentisse orgulho justamente porque a ausência
de educação formal possibilitou-se experimentar mais, em várias áreas. De tal modo
que seu método era a experimentação.

Estou perfeitamente ciente de que o fato de não ser um homem das


letras, pode levar certas pessoas presunçosas a acreditarem ter razão
ao me criticar alegando que sou um homem sem instrução. Tolice! (...)
Elas ficam desfilando por aí cheias de pompa, com nariz empinado,
adornadas não por obra do próprio trabalho, mas dos outros (...) Elas
dirão que, por não ter sido educado pelos livros, eu não sou capaz de
expressar de forma adequada o que desejo descrever ---mas não
sabem que os objetos de minhas investigações requerem experiência,
e não as palavras de outra pessoa”. (ISAACSON, 2017:36)

2 Florença - Estudos com Verrochio e a família Médici

Ser Piero, observara a destreza do filho, percebe a importância de mandá-lo


estudar em Florença, numa das oficinas mais famosas da cidade, cujo proprietário era
o Maestro Andrea del Verrocchio, talentoso pintor, ourives e escultor à época.
Com apenas dezesseis anos, Leonardo chega a Florença, onde recebe toda a
base para se tornar um dos mais fantásticos pintores do Renascimento. Inicia as
noções de: escultura, arquitetura, óptica, perspectiva, música e até botânica.
Leonardo foi fortemente influenciado por Verrochio e Lourenço de Médici -
estadista, diplomata italiano e patrono de acadêmicos italiano, soberano de fato da
República Florentina durante o Renascimento italiano. Conhecido como Lourenço, o
Magnífico, foi um grande mecenas florentino de artistas e poetas. Grande humanista,
incentivador de Leonardo, tinha a habilidade na comunicação e por isso ajudou Da
Vinci a fazer seus quadros mais “parlantes” com um gestual mais acentuado, pintado
de maneira mais animada. Assim, contribuiu para Da Vinci desenvolver, nas figuras
por ele pintadas, um movimento inconfundível.
Com ajuda desses dois homens importantes de Florença, ele se destaca como
um grande e importante artista renascentista, que se mostra astuto, bem-humorado e,
sobretudo, criativo.
Essa criatividade, somada a inteligência (seu QI foi estimado entre 180 e 220)
e curiosidade, levou-o a fazer trabalhos sempre com base experimental, o que o
diferenciava. Até porque era muito observador, percebia formas e sombras com muita
exatidão; captava movimentos, “desde o bater de asas até emoções se espalhando
por um rosto” (ISAACSON, 2017:37). Esse verdadeiro gênio acreditava na
experimentação como princípio de tudo.

3 Milão - o importante Mecenato de Sforza

Foi o próprio Verrocchio que sugeriu que Leonardo, com todo seu talento e
ousadia, fosse ao encontro do Duque Ludovico Sforza, em Milão, um dos mais
importantes mecenas do grande artista. Nessa época, o Duque buscava aumentar o
nível cultural da cidade com o objetivo de elevá-la ao mesmo patamar de Florença.
Em carta a Sforza, Da Vinci – em escrita espelhada - oferece conhecimento e
sagacidade que tinha para propor invenções bélicas, o que era muito interessante ao
conhecido duque das guerras. A íntegra da carta (tradução livre

“Meu ilustríssimo senhor


Tendo agora visto o suficiente e considerado os feitos de todos que se consideram mestres
da criação de instrumentos bélicos, e tendo notado que a criação e utilização de tais
instrumentos não possuem diferenças para aqueles de uso comum, eu me proponho, sem
querer tirar o crédito dos outros, a me fazer ser entendido por Vossa Excelência para
poder, assim, revelar meus segredos e oferecê-los ao seu completo dispor, e, no momento
certo, trazer, de forma completamente funcional e efetiva, todas as coisas que descrevo
brevemente aqui a seguir:
1 - Eu possuo planos para pontes leves, fortes e portáteis, que serviriam para seguir e,
em algumas ocasiões, fugir dos inimigos, e outras, resistentes e indestrutíveis, seja por
fogo ou em batalha, fácil e conveniente para levantar e mudar de posição. Também
possuo planos capazes de queimar e destruir as pontes inimigas.
2 - Eu sei como remover água de diques e fossos e como produzir um número infinito de
pontes, escudos gigantes, escadas e outros instrumentos necessários para tal empreitada.
3 - Em caso da impossibilidade de, durante a realização do sitiamento de um terreno,
procedê-lo com um ataque por causa da inclinação ou das dificuldades de
posicionamento e locação, eu possuo métodos de destruir qualquer fortaleza ou outra
construção, a não ser que tenha sido criada sobre uma pedra.
4 - Eu também possuo tipos de canhões mais convenientes e portáteis, com os quais é
possível atirar pequenas pedras como uma chuva de granizo; e a fumaça dos canhões
instalará grande medo, além dos graves danos e confusão.
5 - Além disso, tenho meios de chegar a um lugar designado previamente através de
minas e passagens subterrâneas secretas, construídas sem nenhum barulho, mesmo que
seja necessário passar por debaixo de diques, poços ou rios.
6 - Também farei veículos cobertos, seguros e inatacáveis, que irão penetrar as forças
inimigas e suas artilharias, e não existe nenhum exército de homens armados que meus
veículos não atravessariam. E, atrás deles, a infantaria andaria sem nenhum dano ou
bloqueio.
7 - Também, em caso de necessidade, eu farei canhões, mísseis e morteiros com designs
bonitos e funcionais, que são bem diferentes do comum.
8 - Onde o uso de canhões for impossível, eu criarei catapultas, manganelas e outros
instrumentos de eficiência sensacional que poucas pessoas usam. Resumindo, de acordo
com o que as circunstâncias pedem, eu farei infinitos itens para ataque e defesa.
9 - E em caso de batalhas marítimas, eu possuo exemplos de diversos instrumentos que
são perfeitamente utilizáveis tanto para ataque ou defesa, além de embarcações que irão
resistir ao fogo dos mais pesados canhões.
10 - Em tempos de paz, eu acredito que posso realizar um magnífico trabalho em
qualquer outro campo da arquitetura, como a construção de prédios públicos ou
privados e a transição de grandes quantidades de água de um lugar para outro.
Eu também posso executar esculturas em mármore, bronze e argila. Da mesma forma,
posso executar qualquer pintura, com capacidade de desenhar tudo tão bem quanto
qualquer outro, seja ele quem for.
Em meu trabalho, posso me comprometer com cavalos de bronze, que serviriam para
imortalizar e eternizar a glória e a honra da auspiciosa memória de vosso pai, e a ilustre
casa de Sforza.
E caso qualquer um dos pontos acima pareçam impossíveis ou impraticáveis, eu estou
mais do que disposto em demonstrá-los em qualquer lugar que agrade Vossa Excelência,
para quem eu me recomendo com toda humildade possível.” (ISAACSON, 2017:115)
A carta de Da Vinci foi extremamente convincente. Nada foi dito sobre pinturas
ou talento artístico; ele tentou vender a si mesmo como um especialista em engenharia
militar. Era tanta sua capacidade criativa, que o tornava seguro para executá-las, ou
ao menos experimentá-las, fossem os recursos oferecidos pelos patronos, ou seja,
vendia naquela carta sua imaginação e entusiasmo para tentar experimentar e
concretizar inventos bélicos, num momento político, quando Sforza havia tomado o
poder à força e, por isso, estava sob ameaça constante de invasão francesa.

3.1 Milão - a mais legítima obra de arte do mundo

Da Vinci passou aproximadamente 18 anos trabalhando e servindo a corte da


família Sforza. Sua permanência por lá, a pedido do patrono, levou-o a pintar um
painel: “A Última Ceia” estampado para sempre na parede do refeitório do Monastério
de Santa Maria delle Grazie. Na técnica de afresco experimental, a pintura foi
realizada entre 1494 e 1497. A composição pictórica mede 4,60 por 8,80 metros e é
uma das obras mais famosas do mundo e das mais conhecidas do artista, assim como
uma das mais estudadas e copiadas de todos os tempos.

Fonte: Revista Veja, 19.ago.2017, sobre a restauração da obra, arcada por Oscar Farinetti.

Nessa pintura mural, Leonardo interpreta o tema de forma clamorosamente


nova. Escolhe representar o momento dramático da “Última Ceia”-isto é, o
anúncio por parte de Cristo da iminente traição- colhendo as emotivas e
excitadas reações individuais dos apóstolos. A Última Ceia pode ser
considerada um manifesto do quanto foi expresso por Leonardo em seus
escritos teóricos sobre a necessidade de o pintor prestar grande atenção ao
estudo das atitudes do corpo para melhor expressar as paixões da alma. A
perspectiva que observamos na “A Última Ceia” foi fruto de observações
meticulosas que a ótica e geometria lhes deram e que propiciaram mostrar a
profundidade emocional e as pessoas menos rígidas. Ele tinha essa
tendência de experimentação tanto na ciência como na arte, mas a
criatividade de Da Vinci tinha um preço alto, pois ele irritava seus patronos
com atrasos e muitas de suas obras eram inacabadas. Carregava essa fama:
de não terminar suas obras. (GRANDES MESTRES: 28)

Carmem Bambach, curadora de gravuras do Museum of Art em Nova York,


observa que Da Vinci não objetivava finalizar a obra. “Quanto mais ele pintava, mais
compreendia que é possível criar gradações infinitesimais de tom e de transições do
realce mais intenso à sombra mais profunda” (BAMBACH: 56). E isso se dava em
todos os segmentos experimentais, incluindo desenhos, esculturas e tudo mais que
começasse.

3.2 Arte e ciência em Milão: a contribuição legítima de Leonardo

A permanência de Leonardo na corte de Sforza prioriza as artes do teatro,


música e alegorias, cenários, mecanismos e performances. Sua criatividade gerava
engrenagens que unia a arte e a ciência, cujas atividades o fascinavam.
A corte de Ludovico Sforza aceita da Vinci não por sua função de engenheiro
ou estrategista de guerra, mas sim como produtor de espetáculos. Desde Florença,
onde havia muitos festivais públicos, Leonardo já era apaixonado pelo teatro e pôde
desenvolver com o seu mecenas milanês uma gama de apresentações mirabolantes
para entreter aquela corte.

Como produtor de espetáculos fazia croquis para figurinos, criava


engenhocas para mover palcos e cenários, fábulas para serem encenadas e
textos espirituosos para serem interpretados. (ISAACSON, 2017:128).

Infelizmente não existe conhecimento até o momento de registros sobre esses


eventos e apresentações. Sobraram alguns relatos que reconstroem os momentos de
glória e deslumbre apenas.
Muitas profissões, como arquitetos, mecânicos, músicos, poetas, atores e
engenheiros militares compuseram a execução dos projetos e eventos. Leonardo
sentia-se pertencente a todas essas categorias, sentiu-se legítimo.
Concomitantemente com os eventos para entreter a corte de Sforza, Leonardo
mantinha as experimentações em técnicas na pintura, desenhos e observações,
pesquisas e descobertas do corpo humano e da natureza. O gênio carregava
caderninhos pendurados no cinto, e neles desenhava e anotava tudo que via pelas
ruas de Milão. Além disso, enquanto caminhava, Leonardo registrava enorme
quantidade de pensamentos com frases filosóficas, uma prática popular na Itália
Renascentista.

Fonte: National Geographic – Brasil, 2019.

Da Vinci, preenche e espalha seus cadernos por onde passa, e os desenhos


realizados entre 1478 e 1519 tratam dos mais variados assuntos, como anatomia,
pintura e arquitetura, botânica, incluindo o vôo dos pássaros e geometria. O código
Atlântico, contém aproximadamente 1200 desenhos reunidos em 12 volumes e está
conservado na Biblioteca Ambrosiana em Milão (CARREIRA, 2000).
Leonardo inventou ou reinventou uma série aparentemente infinita de
máquinas. O que prevalecia nos desenhos e experimentos que ele criava para os
patronos era totalmente conceitual. Sua genialidade, pode ser vista em vários esboços
até corriqueiros como parafusos, rodas e molas.
Ele produziu mais de 500 desenhos e 35 mil palavras sobre máquina voadora.
Justamente o teatro é que lhe trouxe o interesse por ela. Desde Florença até a França,
Leonardo dedicou-se a esse universo com muito afinco: atores eram içados, enquanto
meninos (vestidos de anjos) movimentavam-se pendurados em caibros, pelos ares do
teatro. Ele sabia também sobre ar comprimido, e isso serviu para inventar mais tarde
o helicóptero.

Fonte: google.images
Fonte: google.images
Em 1490, ele esboça a carruagem de guerra ou
tanque de guerra.
A dedicação de Leonardo em criar mecanismos
para eventos e artes cênicas nas cortes de seus
Fonte: google.images mecenas era uma constante.

Apesar de toda ambição de Leonardo para se tornar famoso por suas criações
de engenharia militar, em Milão sob o patrocínio de Sforza, ele desenhou e criou uma
das principais funções naquela corte que foram as engenhocas para trazer mais
riqueza e brilho, com muito esplendor às cerimônias e apresentações teatrais feitas
para nobres milaneses.
Leonardo sempre buscou um patrono que pudesse substituir seu pai, Piero. Um
verdadeiro mecenas paternalista, que fosse indulgente. Até, então, os benfeitores de
não lhe retribuíram como ele acreditava merecer. Em Florença, Lourenço de Medici
deu-lhe poucas comissões. Em Milão, Ludovico Sforza demorou anos para convidá-
lo a fazer parte e integrar a corte ducal.
Além disso a obra equestre, mencionada na carta de pedido de emprego, foi
abandonada pelo duque e por isso também não recebeu suas comissões.

Fonte: Isaacson,2017:188.
Somente no mecenato de Francisco I, D Vinci encontra o que procurou a vida
inteira: liberdade, respeito e boa remuneração.

4 Francisco I - derradeiro e importante mecenas do legítimo artista

Da Vinci continua a entreter os nobres nas cortes, agora a do rei Francisco I


em Amboise. Sempre inventando, desenhando, pintando telas e desenvolvendo, em
sua mente efervescente, as máquinas espetaculares.
Em 1516, Leonardo Da Vinci conhece o jovem rei Francisco I, numa viagem a
Bolonha. Provavelmente Francisco I convidou Leonardo a mudar-se para Amboise
(França) e concede-lhe o Chateau Clos Lucé, ao lado do Palácio Real.
Francisco I, admirador incontestável de Da Vinci, acrescenta estipêndio (féria
ou embolso) e a liberdade para criar como bem entendesse. Leonardo leva nessa
mudança numerosos desenhos e três pinturas das quais jamais se separava: “Mona
Lisa”, “São João Batista” e a “Virgem e o menino com Santa Ana”.
Durante a visita arrebatadora ao palácio Clos Lucé, esta pesquisadora
descobre que Leonardo via da janela de seu dormitório as mesmas paisagens serenas
de sua infância. Ele se distraía com as cores e a luz do Vale do Loire e ainda
continuava se inspirando na natureza para seus projetos.
Com um mecenas mais generoso e pesquisador, da Vinci fez em Amboise
projetos de hidráulica, esboçou plantas para a nova residência real e continuou a
organizar celebrações grandiosas.

Todas as manhãs após se dedicar aos afazeres do governo, pedia para que
alguém lesse em voz alta as obras dos grandes autores de Roma e da Grécia
Antigas. Além disso organizava peças de teatro e espetáculos noturnos.
Leonardo era o recruta perfeito para tal corte. (ISAACSON,2017:529)

4.1 As mascaradas1 continuam em Amboise

Com eventos teatrais, festivais e performances,


Da Vinci, com mais liberdade na França, cria e recria
eventos suntuosos. Sem deixar a engenharia e a
arquitetura, segue desenhando cidades, máquinas e
mascaradas como o fez durante a vida toda.
Francisco I admirava-o pelo seu intelecto e não
pelas produções, encorajava-o para realizar peças
teatrais, garantia-lhe uma casa confortável e pagava um
Fonte: Isaacson, 2017: 532.
salário regular.

1
Mascarada era um divertimento de origem italiana, constituído de cenas ou números alegóricos,
mitológicos ou satíricos, que incluía música polifônica e dança e era representado por personagens
mascaradas.
Durante os três anos que Da Vinci viveu ali, muitas festas foram dadas sob a
direção dele. Desenhos de 1518 de Leonardo, indicam um dispositivo mecânico,
usado provavelmente para arremessar bolas numa festa para o filho do rei, ainda que
fosse considerado projeto de mecanismo criado para a engenharia militar.

Em uma festa com banquete ao ar livre realizada em homenagem ao rei nos


jardins do Château Du Cloux no mês seguinte, Leonardo ajudou a recriar
cenas da performance que elaborara quase trinta anos antes em Milão para
o casamento de João Galeácio Sforza com Izabel de Aragão a peça Paradiso.
(ISAACSON,2017:533).

Com as engenhocas, Leonardo aproveitava e misturava com criações artísticas


para eventos e festas. Confirmando sempre a trajetória entre as artes ciências
matemáticas e naturais.

As peças teatrais e mascaradas eram efêmeras, porém alguns dos desenhos


que Leonardo fez para elas perduraram. Um dele, belíssimo, mostra um rapaz
montado a cavalo segurando uma lança e vestindo um traje muito elaborado,
com capacete, plumas e várias camadas de roupas. (ISAACSON, 2017:533)

4.2 As legítimas Arte e Ciência na França

Leonardo da Vinci passou boa parte da vida, com sua mente privilegiada
transitando em mais de doze profissões e habilidades artísticas, desenhando,
pintando, tocando instrumentos e criando tanques de guerra entre outras engenhocas
militares.
Sabe-se que o interesse dele, entre a arte e
a ciência, era que as duas se envolviam num
movimento nas correntes e redemoinhos de vento
e água. Essa curiosidade de Da Vinci levou-o a
produzir uma série de desenhos bem turbulentos
criados aos 67 anos na França.
Fonte: imagem da série “Dilúvios”
(ISAACSON, 2017:536) A série levou o nome de “Dilúvio”. E, ao
longo dos anos, tanto na Itália como na França, ele
criou também diversos projetos de engenharia mecânica com dispositivos para
resolver problemas de desvio das águas nas cidades. Com certa fúria na criação,
esses esboços do dilúvio são poderosas obras de arte.
4.3 Clos Lucé - um palácio, um jardim, um talento legítimo

O rei Francisco I oferecia tudo o que Da Vinci havia buscado durante a trajetória
profissional na vida inteira. Com todo apoio de um mecenas perfeito para ele.
Clos Lucé é um monumento vivo a Leonardo. Situado em um parque repleto de
maquetes, entre sálvias e outras plantas que ele deixou desenhadas. Em uma das
laterais há um imenso roseiral com flores vermelhas: as rosas Mona Lisa, que saltam
aos olhos de quem transita pelo magnífico jardim.
O Palácio foi salvo das destruições, durante a Revolução Francesa. Em 1960
foi restaurado para voltar a ter aparência Renascentista dos tempos de Da Vinci e
mantém-se assim até hoje com móveis originais e maquetes espalhadas por todo o
local.

Fonte: acervo pessoal – duas maquetes


4.4 Jardim de Clos Lucé. Exposição de 20 maquetes

Fonte: acervo pessoal.

Em tamanho original ao do desenho de Da Vinci, foram construídas por volta


dos anos 1970 as maquetes do tanque de guerra blindado, o famoso helicóptero,
dentre outros, todos extraídos dos cadernos de Da Vinci em tamanho original ao que
por ele fora desenhado entre os séculos XV e XVI.
O local apresenta provas irrefutáveis das mudanças na Europa renascentista
através da exposição do material produzido por Leonardo. A edificação, cercada por
paisagens declaradas pelo UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade.
Clos Lucé, em Amboise, derradeira moradia de Leonardo Da Vinci e seu jardim
único mostra poesia, flores e guerra, uma verdadeira prova do legítimo homem da
Renascença, que morreu em 1519.
Em matéria sobre os 500 anos de sua morte a National Geographic (2019:64)
ressalta:
Novos estudos fornecem subsídios para pesquisas especializadas. Além da
curadora e pesquisadora do Metropolitan Museum of Art, Bambach, Paolo
Galluzzi coordena um estupendo banco de dados do Códice Atlântico, o
maior dos cadernos. Por outro lado, Walter Isaacson acredita que um dia
todos os cadernos de Leonardo estarão digitalizados por um movimento e
busca internacional. “Então, veremos Leonardo em toda sua glória”.

Para o pai, ele continuara como nascera: ilegítimo – erro que a história reverteu.

REFERÊNCIAS
ABRIL, Coleções. Da Vinci [trad. de José Ruy Gandra] São Paulo, Abril, 2011.
[Coleção Grandes Mestres].

CARREIRA, Eduardo J.A.N.(org.) Os escritos de Leonardo da Vinci: sobre a arte da


pintura. Brasília: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do
Estado, 2000.
ISSACSON, Walter. Leonardo da Vinci. [Trad. Andre Czarnobai]. Rio de Janeiro:
Intrínseca, 2017.

NATIONAL Geographic España. Leonardo da Vinci. Disponível em:


https://www.nationalgeographic.com.es/personajes/leonardo-da-vinci. Acesso em:
20.mai.2019.

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