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03 de Setembro de 2013
Psicologia da Família
Conceito de "família"
Há uma grande generalização deste conceito. Um dos problemas para definir família é
conhecermos este conceito do ponto de vista experimental, para nós é algo fundamental e não
conseguimos passar isso para o exterior. É necessário olhar a mesma experiência do lado de fora,
para além da experiência subjectiva e não ficar pelo senso comum.
A família não é um objecto de estudo simples, antes pelo contrário, é um elemento bastante
complexo que tem uma dimensão cultural, onde a maneira de viver não é igual para todos, pois
existem formas de ser "família" diferentes, cada um tem o seu imaginário de família. Poder-se-á
definir cultura como os modos de viver específicos que têm origem em maneiras próprias de
interpretar a realidade e a maneira de estar no mundo.
Dimensão histórica
Cultura Burguesa → dimensão dos afectos e inter-ajuda já faz parte do conceito de família nesta
época. Trata-se de uma cultura mais móvel, mais próxima da nossa, pois está mais aberta a
transformações. Aqui, começa-se a criar o elemento de "emagrecimento" do conceito de família, a
transformar a maneira de ser da mesma, tornando-se numa dimensão individual. Em latim, o
conceito de “família” é muito mais abrangente, tem dois significados: pessoas que lhe pertencia por
laços de sangue e pessoas que pertenciam por reconhecimento social e jurídico. Os servos,
antigamente, também eram encarados como pertencentes à família. Precisa de menos gente para se
desenvolver, pois a fonte de rendimento é maioritariamente o comércio. A família burguesa
transforma o conceito de família, restringiu-a; a família é apenas constituída pelas pessoas mais
próximas. Começa-se a transformar também a maneira de se “ser família”, começa a não ser tão
alargada, mas sim uma experiência pessoal, individual.
A família tem, também, um dever histórico enquanto instituição. É necessário perceber o
modelo típico de cada época, que valores são invariáveis e os que se transformam e que sentir é
transmitido de determinado período histórico.
É necessário encarar, de forma aberta, todas as novas realidade e alterações e reconhecer e
compreender o que o Outro está a sentir. Apesar das transformações que a realidade sofre ao longo
do tempo, a família mantém-se e é mais do que uma convivência social sustentada ao longo do
tempo: formas diferentes de se apresentar em culturas. Tanto em contexto histórico como cultural a
família teve formas diferentes de se manifestar ao longo do tempo.
Estes aspectos não definem totalmente o que é uma família, mas dizem respeito a grandes
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marcos importantes, pois de outra forma tudo seria comparado a família e nem todas as relações
pode ser família (e.g. família e amizade são diferentes), não podendo cair no erro de confundir
identidades. A família é uma experiência básica e primária do relacionamento humano, é primordial
à nossa
Passamos, então, de um conceito de família muito vasto, para uma cultura pré-moderna e,
finalmente, para algo muito circunscrito e ligado à "casa". As unidades familiares privatizam-se
ainda mais, restringindo-se do alcance de acção e das relações. A família torna-se pequena, uma
família considerada nuclear (pais e filhos). Aqui, as famílias mononucleares são consideradas
família. A família transforma-se, mas tem algumas constantes: relações de vínculo; cuidar, cuidar de
todos os familiares, devido ao sentido de responsabilidade que temos para com eles e a
responsabilidade
A família é entendida como uma forma social primária porque é a origem da civilização,
enquanto lugar que garante o processo generativo biológico, psicológico, social e cultural, porque
cumpre algumas das funções fundamentais, sem as quais a sociedade não poderia sobreviver e
porque tem como função a socialização primária dos filhos e a estabilização da sua vida adulta.
Desta forma, pode-se afirmar que a família é um sujeito complexo; é uma experiencia
fundamentalmente na construção do eu. A família insere-se num quadro de diversas culturas,
sociedade e pauta e estrutura a capacidade de estabelecer relações.
A família pode ter acesso a direitos, tem que se apresentar de tal forma à sociedade –
reconhecimento social. Para que haja família é necessário o reconhecimento social. Família não
existe para si própria, não se esgota. Para todas as culturas, normalmente, está ligada à ritualização.
O reconhecimento social continua a ser significativo e procurado, apesar de se ter transformado. Se
a família se fecha, não tem apoio e acabará por terminar sozinha e não acompanhada. As pessoas já
se sentem “protegidas” pela união de facto e, por isso, interessam-se menos em casar pela igreja, no
entanto, querem, que sejam reconhecidos alguns direitos.
A família, enquanto organizada e estruturada, permite uma maior coesão social. Uma família
que possa gerir a sua vida de forma saudável, integra-se de forma positiva na sociedade. A família é
quem garante o suporte dos membros mais frágeis. Família como agente de personalização, é um
agente que se constrói vivendo; é a construção da personalidade, da identidade da pessoa; tem
regras que não são ditas, mas que são muito importantes.
Podemos dizer que a família é como uma organização, uma vez que se supõe que esta
estabelece relações complexas, tornando-se uma organização complexa. A família organiza as
relações entre os diferentes membros, sendo esta uma dimensão básica – a família organiza as
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diferenças.
Definição mais “activa” de família de Levi-Strauss: "A família é uma união duradoura aprovada
de um homem e de uma mulher e dos seus filhos".
Desmontando esta definição verifica-se que a família não é algo ocasional, pressupõe um laço, uma
união, união essa que tem um dimensão temporal muito importante, duradoura. Deve ser aprovada e
reconhecida pela sociedade, para que haja família é necessário haver reconhecimento social e este
continua a ser procurado, mas sofreu transformações: as dimensões religiosas e rituais passam a ser
dispensadas. O homem e a mulher pressupõem uma diversidade de funções, mas tem que existir
uma diferenciação e nota-se que a primeira diferença dá-se a nível do género, depois a diferença de
gerações, idade e, por fim, as diferenças de linhagens. A família é uma organização complexa, não é
um grupo, nem um simples conjunto de pessoas, há uma diferenciação de papéis.
Funções da família
A família garante o suporte dos membros mais frágeis, assim as funções são: suporte
afectivo e social (protecção de todos); socialização primária; sexual/intimidade; dimensão
gerativa/reprodutora e económicas.
Para Sroufe e Fleeson as funções são cuidar e criar dos filhos e a Satisfação de necessidades/
intimidade/ suporte (necessidade profunda do "outro" que permite a identificação do "eu").
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algo com que temos uma certa confiança e relacionamento; encaramos o familiar como um
adjectivo.
Podemos ter várias formas de a família se manifestar, até de diferentes culturas, mesmo no nosso
contexto. Falamos de familiar como substantivo que se apresenta com uma dimensão universal, que
podemos reconhecer para além das diferenças. O conceito morfológico de “família” pode variar,
dependendo das culturas ou épocas históricas, ao contrário de o “familiar”.
Esqueleto real da família: Relações
Não se deve confundir relação com interacção. Podemos ter uma relação sem interacção (se
não conhecer o bisavô, não se estabelece qualquer interacção com ele, contudo há uma relação
familiar, há uma tradição transmitida, existe um laço genético) e interacção sem relação. Contudo,
nota-se que a relação não se esgota na interacção, é algo mais simbólico que implica significados e
linhagens.
Existem a dimensão de temporalidade, que está presente na constituição da família
(percorrer o caminho das culturas – Presente e passado), a dimensão de transição de passagem,
constituição da família e a dimensão simbólica, é uma marca, em elemento que reenvia para uma
outra realidade, algo que une realidades diferentes, a níveis diferentes. Estas dimensões não querem
dizer que as interacções não sejam importantes, a interacção é um nível imediato onde se
confrontam relações diferentes. Há dimensões que são típicas de cada família, como se fosse uma
minicultura.
Relacionar significa uma ligação de dois fenómenos, conceitos, aspectos, partilha de
Significados e transmissão da mesma pertença. A família constitui laços afectivos, de pertença e de
compromisso. Dentro destes últimos, podemos ter compromisso horizontal como a relação de
irmãos e de cônjuge, e uma dimensão vertical, ou seja, a relação transmite, em si mesma, valores,
mitos e histórias. Importa aqui a noção de tempo, mas também os significados, os acontecimentos
marcantes e a sua transmissão.
A família tem como finalidade favorecer a socialização, isto é, para além da transmissão
formal que os pais procuram fazer, também entra aqui a observação e imitação por parte dos filhos,
mas o mais importante é o estilo relacional da família. Toda a nossa história tem as suas raízes num
certo terreno que tem um certo tipo de relações. Aquilo que nos é dito e aquilo que experienciamos
pode não corresponder ao modelo relacional e àquilo que adoptamos na nossa vida. A transmissão
dá-se através do estilo de vida e do modelo relacional, aquilo que somos é também fruto das
relações. Contudo, a família também não é fechada em si, existe a possibilidade de transformação.
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O paradigma relacional dá valor seja à relação de casal seja à relação com a família de
origem e tem em conta as condições sócio-culturais com que a família interage.
O sentido da vida na família, os laços e a temporalidade são as dimensões chave do nível
relacional. Assim, o sentido da vida pode ser acedido através da presença de valores espirituais, de
valores éticos, de valores vitais, de materiais que guiam o comportamento, de comportamentos em
si. Estes podem ser acedidos de forma especial em momentos de rituais de família e em momentos
difíceis.
A análise das interacções permite aceder ao conhecimento das relações de poder, estilos
comunicativos, afetividade e reconhecimento de fronteiras. Já a análise das relações permite aceder
à consciência dos laços e do seu sentido que guia a acção. São ambos o fio da história relativa às
trocas entre gerações.
Eixo Simbólico
O símbolo refere-se à ligação entre diversas partes de algo, que permite o seu
reconhecimento.
A matriz simbólica tem de ser definida porque dá à vida familiar substância e permite
determinar o significado eventos familiares e constitui a base afectiva e ética da família. A família é
um complexo afectivo, mas também gera responsabilidade. As qualidades éticas e afectivas
constituem-se como a espinha dorsal tanto da relação de casal, parental e genealógica.
Três características da matriz simbólica: dimensão ética e afectiva e qualidades
éticas/afectivas como estrutura central das relações de casal, das relações parentais e relação
estirpes.
As qualidades são confiança, esperança e justiça num sentido dialéctico - coexistem com os
seus opostos: desconfiança, desespero e injustiça. Estes opostos ameaçam a saúde familiar. A
confiança e lealdade aparecem muito interligadas, é tão importante ser digno de confiança como
confiar em alguém.
As relações de confiança têm dois estados: estado de incerteza e de risco, onde a confiança
opera e estado de interdependência, que é a sua fundação relacional. A confiança tem também um
código afectivo e ético: alguém de confiança goza de certa independência e tem poder de decisão,
mas está empenhado em não trair a confiança da outra pessoa.
As teorias de vinculação também enfatizam a importância de relações primárias baseadas em
confiança no desenvolvimento da criança.
A esperança é a procura para além de si, por isso implica intenção relacional. A esperança dá
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a capacidade de lidar com as crises que surgem com o outro, inevitavelmente e produz um impulso
no sentido de encontrar e dialogar com o outro. Quando não há esperança, fica um meio carregado
de ansiedade por não existir um “porto seguro” em episódios de crise.
A justiça é um dos princípios de intercâmbio com outras pessoas. Traduz-se em leis e regras
culturais, mas é mais que uma regra - acontece um princípio ético estar acima de uma lei. Todas as
acções que encerrem obrigações contraídas num nível intergeracional elevam o nível de lealdade na
relação. A lealdade é uma qualidade relacional que se estende de forma invisível entre gerações e
que forma o tecido que liga as famílias.
A confiança é uma consequência de um intercâmbio intergeracional justo e equitativo, tendo
de ser merecida.
A injustiça na família pode ser introduzida na família através de incesto, abusos vários,
indiferença ou discriminação, uma vez que não obedecem ao princípio de valor da pessoa e do seu
direito em lhe serem prestados cuidados.
A lealdade interpessoal é intrinsecamente conflitual, pois as pessoas podem sentir-se presas
entre a lealdade ao cônjuge, aos pais e aos filhos. A forma de ultrapassar o conflito é evitando cair
no “princípio diabólico”, que divide a família: pede-se que se seja leal a todos os elementos da
família. As lealdades da família são específicas da relação que existe: especificidade na lealdade
conjugal, com as famílias de origem, com os filhos.
A família, como corpo familiar, precisa de manter o equilíbrio e de se deslocar. A estrutura
fundamental das relações são as qualidades ético-afetivas que estão presentes em todas as relações
dentro da família. Os dois pólos interagem de forma complexa e equilibram todas as formas de
relação na família. Dentro destas pode-se assumir quatro dimensões fundamentais: Confiança-
Esperança (pólo afectivo) e Justiça-Lealdade (pólo ético).
O deve é insuficiente para sustentar uma família, é necessário haver a dimensão afectiva
para a família não acabar. Tem que se criar um equilíbrio constante entre a dimensão ético-afetivo.
Normalmente, só existe uma só dimensão presente. Sem o pano afectivo não se consegue salvar a
relação, pois o dever ou o compromisso é insuficiente para sustentar uma relação.
Numa dimensão/pólo afectivo inclui as várias formas expressivas de relação, como a vida
emocional. O objectivo da relação não deve ser a satisfação pessoal baseada na emotividade.
Encontra-se, por um lado, a Confiança, que é a base de qualquer relação humana. Diz respeito ao
amparar, pois não pode haver afecto sem haver confiança. Erikson considera que o conflito do
desenvolvimento humano é a "confiança vs desconfiança" na primeira etapa do mundo, de
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Deste modo, é necessário existir um equilíbrio entre estes dois pólos, caso contrário a
relação pode não aguentar em situações de crise e não existindo compromisso a relação termina.
Quando se inicia uma relação, a pessoa deve estar consciente que vai assumir um compromisso com
outra pessoa e isso exige flexibilidade pessoal e abertura para com o outro.
O princípio simbólico presente no relacionamento familiar desenha a vida num
relacionamento recíproco em três pontos, sendo estes a confiança, esperança e justiça ou de outra
forma, uma vez que há um pólo afectivo - confiança e esperança - e um pólo ético - justiça e
lealdade - que se influenciam mutuamente. Scabini e Cigoli consideram que confiança e justiça são
qualidades originais, não são derivadas de outras características. A matriz encontra-se latente,
embora escondida, é o que dá ao relacionamento familiar o seu significado.
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noutras relações.
Dinâmica do Dom:
O Dom coexiste com a dívida e a obrigação (dever, tarefa), que são o oposto. O sentido de
obrigação em retribuir implica que, quanto mais livre for o dom, maior o sentido de obrigação que
cria. O dom manifesta-se pelo dever ou tarefa que tem de ser feita e através da dívida que é criada
por se dar. Esta forma de ver cria ambiguidade, incerteza, forçando ou negando o seu valor. Esta
ambiguidade trata-se através do "Dar", da abertura incondicional perante o outro, da aceitação da
tarefa específica de cuidar da geração seguinte, é ao mesmo tempo um dom e uma tarefa e do
"Receber", abertura perante o outro, reconhecer o que o outro fez e está a fazer por mim e
reconhecer o quanto lhe devo por isso (dívida). A reciprocidade implica saber como dar e realizar
tarefas na sua vez.
Em suma, o princípio dinâmico é inseparável do princípio simbólico e intersectam-se. A
dualidade inerente à dinâmica generacional e ao seu modo operacional assimétrico pode facilmente
levar a que o triângulo dar-receber-reciprocidade assuma várias formas estáticas, levando à
degeneração da relação familiar.
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além disso existe sempre um elemento de perda, condição dolorosa da mudança. Fica mais claro
também a forma como o nível interactivo e o nível relacional estão ligados.
No espaço (aqui) e no tempo (agora) dos intercâmbios familiares, emerge a temporalidade
longa que liga os elementos entre si no tempo (entre gerações).
Os significados das acções inserem-se neste sentido complexo do laço (o aqui e agora).
Como por exemplo: quando no nascimento, o que acontece é que há uma série de acções do dia-a-
dia que tentam inserir o recém nascido na história anterior (com quem é parecido? os olhos de que
família vêm?).
Como se mede o êxito de uma transição? Curto prazo e longo-prazo, tudo depende da
perspectiva que se adopta, por exemplo: no divórcio, pode-se considerar uma transição a curto-
prazo se tivermos em conta a adaptação social dos filhos, escolástico ou profissional (estudam
indicam que se dá entre 1 ano e meio e 2 anos); a longo-prazo caso se tenha em conta os factores
relativos à capacidade de investir e manter uma relação. Mais concretamente, é normal sublinhar os
efeitos a curto-prazo ao nível interactivo, ao passo que se sublinham os efeitos a longo-prazo ao
nível relacional intergeneracional. Os efeitos a longo prazo têm sempre implicações generacionais.
As transições estão sempre marcadas por eventos específicos.como transições chaves temos:
a aquisição de um novo membro (casamento, nascimento, adopção); perda de um membro (morte,
divórcio, invalidez, falência económica); relação com o mundo social (entrada na escola, primeiro
trabalho); outras não tão identificáveis ou típicos.
Descreva o modelo de McCubbin e Patterson sobre estratégias de adaptação activa a uma
nova transição familiar.
McCubbin e Patterson (1983) falam de três tipos de estratégia de adaptação ativa:
Evitamento - nega-se ou subestima-se o acontecimento, esperando que se resolva por si; Eliminação
- consiste na tentativa de se desembaraçarem do que o acontecimento traz, de forma a minimizar o
significado para que não tenham que mudar e Assimilação - é a forma mais evoluída; a família
aceita a mudança para responder à nova exigência, mas a mudança deixa intacta a estrutura, apenas
mudam parcialmente os padrões de interação.
As famílias com alta coesão e adaptabilidade parecem superar com uma certa facilidade as
passagens de um ciclo para outro e têm mais dificuldades em superar as crises provocadas por
eventos imprevistos;
Já as famílias com baixo nível de coesão e adaptabilidade estão particularmente vulneráveis
às mudanças do ciclo de vida e, em menor medida, vulneráveis aos eventos imprevistos.
Podemos considerar uma transição como um processo: uma transição não é apenas a
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passagem de uma posição para outra, esta inclui para todos os que estão envolvidos e uma tarefa de
desenvolvimento.
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distâncias com a família de origem e se redefinam as relações com estas e iniciando novos
processos entre si.
Processo de distinção do casal: ambos se relacionam com o modelo de casal da sua família,
por identificação ou por oposição ao tipo de relacionamento existente. o relacionamento de casal
interiorizado, mediado pela cultura e pela família, é a base das experiências que o casal vai vivendo.
No início, os confrontos em relação às famílias de origem serão sempre em maior número pela
adaptação a que os novos processos obrigam. À medida que o tempo passa, surgem naturalmente
outras transições, que os levam a deixar esses confrontos naturalmente. A partir daqui, o casal está
unido por uma história em comum, de experiências e eventos únicos que enfrentou. O casal já se
distingue e “toma posse” da sua unicidade. Sabem reconhecer que é aquela a sua história e não
outra qualquer.
Ainda em relação às famílias de origem, a forma como se individuam tem a ver com as
experiências pessoais. Assim, é comum afirmar-se que casais jovens que tenham vivido
experiências de conflito dos pais são um problema na construção da identidade. Mas o contrário
pode levar a uma idealização do relacionamento dos pais, que pode trazer problemas pois sente-se
facilmente inadequado e luta contra os problemas conjugais que possam surgir.
O que é o pacto conjugal e de que forma inclui o pacto declarado e o pacto secreto? Defina
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compromisso, mas antes há uma escolha que não é aleatória, não acontece por acaso. O indivíduo
escolhe a relação e depois assume o compromisso. A relação conjugal assume também uma
dimensão de contrato, pois existe um investimento de cada elemento. O pacto conjugal é um pacto
de reciprocidade que tem uma estrutura dramática, porque a reciprocidade põe em jogo cada um dos
intervenientes, é uma dimensão em acção, em movimento. Esta reciprocidade do encontro tem duas
facetas, uma mais consciente, mais racional, de fundamento cognitivo – Pacto Declarado; e outra
mais inconsciente, mais profunda – Pacto Secreto.
O pacto declarado dá uma atenção especial à valência ética do vínculo, exprime-se na
promessa de fidelidade e é uma obrigação a que se comprometem perante a comunidade. Nas
relações de facto “evita-se” a obrigação recíproca formal e o testemunho social. Vai-se mais ao
valor absoluto da escolha recíproca.
O pacto conjugal não se esgota na formalidade da declaração pública e explícita. Do ponto
de vista psicológico, sustenta-se com o pacto secreto é a união inconsciente (uma base afectiva) da
escolha recíproca.
A parte da atracção entre o pacto declarado e o pacto secreto é um misto de necessidades e
de esperanças, entre outros, com que os dois procuram lidar no seu relacionamento. Esta “mistura”
vai-se ligando na história progressiva dos dois e nos modelos de identificação com os familiares,
tanto ao nível individual como ao nível de “corpo-grupo”. A síntese do aspecto secreto
(inconsciente) do pacto e da escolha é “eu caso, em ti, com isto e tu casas, em mim, com isto”. O
pacto tem motivos múltiplos e articulados, mas o núcleo duro exprime as exigências afectivas e
relacionais fundamentais da pessoa, sobretudo os aspectos protectivos e os aspectos de renovação
do laço. Isto significa que cada um leva o que é seu para a construção da relação. A relação também
é a sua combinação de necessidades, desejos e medos numa parte inédita, que leva à unicidade do
casal.
Pacto Secreto
Os extremos deste pacto são a impraticabilidade e a rigidez. Normalmente, o pacto secreto
muda, no sentido de um maior reconhecimento do outro. Este diz-se “conseguido” (atingido, mas
não estático) quando é possível pô-lo em prática, ou seja, quando os dois são capazes de satisfazer
necessidades afectivas recíprocas. Isto é possível quando é flexível (pode ser relançado ou
reformulado), segundo a mudança das necessidades e das expectativas das pessoas ao longo da vida.
Passa-se, na mudança, de uma dinâmica de “caso com isto em ti” para uma dinâmica de “caso
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também com isto em ti”. O nível de expectativas deste pacto é muito alto e existe uma grande
idealização, quando se confronta com a realidade pode levar os casais a nem tentar e a não investir
na relação. Este pacto representa a componente complexa e inconsciente, sobre uma base afectiva
que sustenta a escolha recíproca. Este é mais ligado ao pólo afectivo da relação, tocando mais na
dimensão emocional. Não se deve confundir este com um pacto não revelado à sociedade, pois o
secreto é mais próximo das necessidades, sendo que é constituído por elementos presentes nas
motivações das mulheres dentro do casal, ou seja, não está totalmente consciente. ". Está implícito a
atracção física, emocional e dimensões profundas que fundamenta a relação. Quando estas
sensações diminuem, as pessoas sentem que o projecto já não tem futuro – sensação de ruptura.
Acontece que, quando este pacto ou esta dimensão dos afectos diminui, acha-se que já não tem
sentido terem um projecto de vida. A dimensão deste pacto implica a dimensão de flexibilidade e de
crescimento, tornando-a numa tarefa contínua. Este tem como base exigências às quais tentamos
responder dentro de uma relação, nomeadamente de protecção e de renovação. Numa situação de
desilusão, experienciamos o sentimento de que o pacto já não tem sentido.
Impraticável: o pacto secreto é impraticável quando as necessidades afectivas dos dois são
constantemente rejeitadas. Isto é típico de uma relação onde haja um domínio de um e submissão do
outro. Assim, este pacto, é caracterizado pela manipulação, violência e indiferença. O pacto secreto
impraticável acaba por ser uma situação em que o pacto em si não existe porque a compreensão é
nula e o intercâmbio impossível. Este apresenta uma forma de viver bastante dolorosa, sendo que a
conflitualidade é muito intensa, pois discute-se sobre tudo e, até mesmo depois de divorciados os
conflitos prevalecem. A relação é construída sobre o conflito e sobre a desconfiança mútua, e torna-
se irracional porque as motivações são muito profundas. O único objectivo é a destruição do outro,
sendo que a chantagem é elevada, não existindo qualquer outra perspectiva. Acontece quando as
expectativas ou exigências de um não vão de encontro às do outro. A relação fundamenta-se no tipo
“infernal” e numa acção punitiva pela parte de ambos, ou seja, nenhum dos dois consegue cortar a
relação, sendo crida uma dependência, como por exemplo, nas relações de violência conjugal.
Praticável: baseia-se sobre o respeito e o reconhecimento das necessidades de ambos. Ambos fazem
as coisas sem esperar nada em troca - ponto máximo do Pacto Secreto.
Rígido: não há o relançamento e a evolução do pacto, conforme as novas necessidades dos dois.
Não existe a incorporação da mudança de necessidades afectivas de um no outro, pelo que se ficam
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pelo pacto secreto original, sendo que o laço tende a desvanecer. Este pacto acontece quando as
expectativas profundas do pacto secreto permanecem acima da cabeça e a pessoa vive numa
constante desilusão. Acontece quando não há possibilidade de mudar, ou seja, as exigências
estagnam e volta-se ao primeiro nível, não havendo “espaço” para a relação crescer. Há sempre um
que cuida e outro que executa, ou seja, um é a pessoa má e o outro é a vítima, sendo que a vitima
não faz nada para deixar de o ser. Estes casos são frequentes, de nada serve alterar os
comportamentos exteriores, se não tentamos contornar os comportamentos e os pensamentos
interiores (recorrentemente leva às situações de divorcio; a relação, como não foi cuidada, congelou
e já não há capacidade de reconhecer as características da pessoa enquanto amável). Há uma
impossibilidade de investir, pois as pessoas já não conseguem recomeçar perante as adversidades da
vida.
Pacto Declarado
Tem como extremos a formalidade e a fragilidade (pouco consistente). Neste, denota-se uma
dedicação de ambos perante o laço criado. Este não é apenas a formalização da ritualização (e.g.
casamento). Está na base de qualquer relação duradoura. Nele encontram-se as motivações
conscientes explícitas que transformam um encontro num projecto, nem que seja um projecto de
vida de fim-de-semana, para começar a realizar uma relação ou um projecto de vida. Este é muito
significativo para o projecto de vida, sendo que ambos podem investir muito no trabalho durante a
semana, mas ao fim de semana dedicam-se a investir na relação, não deixando de ter um projecto de
vida. As motivações conscientes são aquelas que sustentam a escolha, sendo que se baseiam muito
mais nas dimensões éticas da escolha recíproca, como a lealdade e a confiança. Neste está implícita
uma promessa de fidelidade, uma vez que começamos a história porque lhe queremos dar
continuidade, e não acabar com ela. Existe um desinteresse da sociedade relativamente a este pacto
pois pensam que apenas diz respeito ao fórum íntimo e privado, logo, pensam que não devem
intervir.
Este não se baseia apenas na ritualização (casamento), implica também motivações
conscientes para começar um projecto de vida ("eu escolhe-te e tu escolhes-me") que transformem
em encontro num projecto de vida, consolidando numa escolha recíproca (dimensão ética-lealdade e
confiança). Está implícita uma promessa de fidelidade, sustentando uma relação contínua. É
necessário haver uma responsabilidade por parte da sociedade, não é apenas um facto privado da
intimidade do casal. Mas cada vez é dada menos importância a este factor (testemunhas do
casamento).
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Formal: quando há um projecto com áreas delimitadas (e.g. projecto de fim de semana). Implica
estar junto de alguém, mas os projectos são individuais, com um contrato com regras estabelecidas
em que pode haver uma ruptura. Este será como um contracto, permitindo mais facilidade para
rescindir o contracto, uma vez que as regras foram estabelecidas desde o inicio da relação. Não
envolve a dimensão afectiva-expressiva. Verifica-se quando não há investimento na relação de
casal, está muito próximo do pacto declarado e o pacto secreto é quase inexistente. Ambos têm a
sua realização pessoal, mas há um vazio, nem sequer têm razões para entrar em conflito e nunca se
constrói um "nós" de identidade pessoal. Existe uma indefinição muito forte acerca do que se quer
(se querem ser solteiros ou casados).
Assumido: É assumido conscientemente, quando é querido e interiorizado a nível cognitivo e
afectivo. Há dedicação dos dois ao laço criado, e abrange os aspectos individuais (fusão).
Frágil: é quando nem existe investimento pessoal e nem a pressão social é suficiente para manter a
formalidade da relação. Mas não é um pacto com grande conflituosidade. O projecto tem pouca
consistência e a escolha recíproca tem pouco empenho par parte de ambos, ou seja, há um pobre
investimento na relação. Não existe investimento pessoal nem pressão social e é suficiente para
manter a formalidade da relação.
Existe sempre um pacto declarado? Ele pode existir mas sendo muito frágil a ruptura é quase
inevitável. Mas se houve uma união, então existiu um pacto que pode ser secreto. Este pode resultar
de motivações inconscientes, mesmo sendo as motivações conscientes ocasionais e pouco
racionalizadas, há de certeza motivações intrínsecas.
Estes dois Pactos devem estar sempre em interacção constante para poder haver um
equilíbrio saudável, e para que haja este equilíbrio o casal não se deve centrar num só pacto. A
relação não é apenas um contrato, é necessário haver afecto, respeito e reciprocidade. O pacto
assumido (Pacto declarado) e o pacto praticável (Pacto Secreto) não são perfeitos, são apenas os
mais saudáveis e equilibrados, vistos como percursos de investimentos. Estes não se separam, pois
as relações verdadeiras são vivas se houver investimento contínuo nelas.
Se o pacto for assumido pelo casal e praticável a nível das expectativas, a relação não se
desmorona, mas obriga a uma reestruturação. Tem que haver um equilíbrio, em diferentes
momentos, um dos pactos pode ser mais evidente, pois são os momentos de crise que fazem mover
energias e o conhecimento do próprio e do outro. Este constante conhecimento torna o pacto vivo e
não o cristaliza, sendo que tem que existir um compromisso para que o pacto se torne praticável.
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A pessoa tem que sair da posição individualista e auto-centrada pois se a pessoa fica
desiludida com o projecto vai querer desfazer o contracto. Assim, o casamento dura até que as
motivações pessoais o sustentem, sendo que isto fragiliza o próprio pacto. Numa relação sadia, o
casal sustenta-se reciprocamente, o pacto secreto pode tornar consistente o pacto declarado e este,
por sua vez, torna conscientes as expectativas do pacto secreto. O desejo de algo individualmente
idealizado pode levar ao fim da relação, assim, o pacto declarado não pode ser nem demasiado
idealizado, nem demasiado frágil.
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envelhecimento);
Experiência da parentalidade cada vez mais tardia, é-se pai/mãe cada vez mais tarde: cada
vez mais se adia o nascimento dos filhos ou se escolhe não os ter; cada vez mais conjugal e
parental são exercícios diferentes: antigamente era visto como um exercício garantido
decorrente do casamento.
A experiência da parentalidade é escolhida: é pensada, não é automática; é um evento cada
vez mais escolhido: sabemos hoje como programar, impedir, ajudar a conceber; torna-se
mais produto da vontade do casal; mudanças psicológicas no processo: antigamente estava
associada incerteza e repentismo hoje temos controlo quase “omnipresente” e de rebeldia
contra o destino. No passado, a experiência da parentalidade era natural, passiva, acontecia e
fazia parte da experiência da pessoa, era automático.
Por ser uma escolha dos pais, o filho torna-se facilmente uma forma de o adulto se realizar :
o casal já não casa com o intuito de ter filhos – fase da nova parentalidade (novos desafios e
expectativas); o filho escolhido pode estar “condenado” a grandes expectativas; há o risco
de vir a ser um modo de realizar os pais em vez de ser um valor autónomo por si (valor da
pessoa) – o problema da posse; a flexibilidade de papéis é muito alta, por exemplo, a
parentalidade não é só feminista, a divisão de papéis entre o pai e a mãe já não é tão
estereotipada como antigamente.
Atualmente, há uma falta de equilíbrio no que diz respeito ao pensamento das decisões dos
casais em querer ter filhos ou não (poder de controlo da geratividade). Por um lado, há um grande
investimento para ser pai/mãe (auto-reconhecimento) e, por outro, encontram-se muitas crianças
órfãs. Hoje em dia esta experiência é vista como forma de auto-realização ("já fiz o que devia"). Do
ponto de vista de Bowlby, uma boa vinculação torna a família numa boa base.
A parentalidade exprime-se nos cuidados responsáveis. Os cuidados estão no pólo afectivo e
a responsabilidade pertence à esfera ética. O cuidado responsável está incluído no carácter
hierárquico da relação parento-filial, isso quer dizer que toca às gerações precedentes responder
pelas condições mentais e materiais que criam para as gerações sucessivas. O cuidado responsável é
uma tarefa conjunta, mas simbolicamente pode-se ligar o pólo afectivo à função materna e o pólo
ético à função paterna. No pólo afectivo, o elemento confiança é central da função materna, exprime
o aspecto incondicional das relações familiares (dinâmica dom-dever) e é bastante evidente na
relação mãe-filho. O filho é o sujeito dos cuidados e digno dessa confiança, independentemente do
nível das suas respostas. Ao nível psicológico, os cuidados correspondem à transmissão da vida. o
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Esse enfraquecimento é o grande risco de o filho não chegar a assumir as dificuldades de assumir na
totalidade o papel de adulto. É o grande risco também de que os pais não venham a conseguir a
transição à geratividade social.
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intergeracional.
A transição tem ligação ao processo de diferenciação recíproca das gerações. É um processo
que envolve todo o sistema familiar e implica que se responda por si próprio, ao nível de
pensamento, emoção e ação, sendo o ponto de partida a pertença à história familiar. Tem uma
dimensão ética, que se traduz em responsabilidade pessoal e tem uma dimensão cognitivo-afetiva,
que se traduz na capacidade de enfrentar a distância.
A história familiar, sendo a matriz comum das duas partes, oferece as condições para a
diferenciação da família, que faz emergir os aspetos de unicidade quer dos filhos quer dos pais.
A diferenciação produz reciprocidade e interdependência, seja individualmente ou em casal,
através da distância-destaque nasce a capacidade de autonomia e traduz-se em capacidade de se
distinguir dos outros; de refletir sobre si próprio e de refletir na pele do outro e de responder por si.
O processo de diferenciação exige a reorganização dos modelos de regulação das distâncias
do sistema familiar, exige também uma definição clara das fronteiras entre os diferentes
subsistemas geracionais, sobretudo entre o parental e o filial.
Na transição para a vida adulta, que se inicia na adolescência, passa nesta altura de uma
tríade (pai-filho mãe-filho) para casal (o novo casal em relação aos pais) - constitui o processo de
diferenciação de casal.
O processo de diferenciação de casal refere que os pais encontram-se perante um novo casal,
ainda que não constituído formalmente. Os pais, agora, não se podem relacionar com o filho
prescindindo do novo laço que constituiu, que se torna mais significativo.
Por parte do casal jovem, de início não é possível evitar o confronto com os pais. O
confronto, de início, tem o objetivo de estabelecer uma identidade de casal distinta, que recolha
elementos de ambas as famílias e crie algo de novo e único.
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questões de família há alguma incerteza: é cada vez mais adiada favorecendo a experimentação de
várias alternativas; cada vez mais se prefere não tomar a decisão de constituir família “já”.
Os estudos indicam que à medida que se vai ficando durante mais tempo no seio da família
de origem, a conflitualidade entre gerações tem vindo a reduzir-se; há também uma renegociação
das relações intergeracionais. É uma transformação pacífica da família: estrutura-se uma nova
forma, composta por duas gerações de adultos - família alargada do jovem adulto.
Neste tipo de família, o jovem adulto goza de grande liberdade e de amplas margens de
negociação; experimentam um clima de suporte e de não conflito. Sócio-culturalmente este
fenómeno explicasse pelo facto de a formação ter aumentado ao longo do tempo e da difusão de
uma cultura centrada no filho;
Outros fatores também jogam como a nuclearização da família; a diminuição da fecundidade
e o aumento da exigência cultural e económica da sociedade atual.
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associando às dificuldades económicas, o casamento é tardio, assim como a saída de casa dos pais).
As dificuldades dos filhos vão para além da dificuldade de constituir família passa também por não
se conseguirem desvincular dos pais, pois mesmo estando casados podem continuar a ter demasiada
ligação com a família de origem.
Alguns efeitos do afastamento da dimensão conjugal são as dificuldades de aquisição de
autonomia por parte do filho (por ter poucas dificuldades para enfrentar), o empobrecimento do
mundo afetivo dos cônjuges e a presença excessiva da mãe. Estes efeitos mantêm-se mesmo quando
os filhos já não necessitam do dever de cuidado dos pais. O casal aqui vive a síndrome de ninho
vazio e tem dificuldade em renovar o pacto conjugal, sendo a síndrome um desafio à capacidade de
adaptação e bem-estar do casal.
Para além de não se constituir uma identidade de casal, mantém-se uma certa assimetria para
com os pais, estes continuam a ter poder sobre o filho (papel de autoridade).
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clima de fusão entre as duas gerações adultas o que mostra claramente o valor familiar do filho e
ajuda o casal a gerir as mudanças num contexto de suporte e positivo.
A mulher sente mais este sistema relacional, sendo que isto pode acontecer que pelo facto de
sentir alguma dificuldade com a família de origem, também venha a sentir dificuldade na relação
conjugal, pois é um sistema de “coerência relacional”. O homem consegue compartimentar as
relações. Quando a mulher sente algum tipo de desequilíbrio, mais depressa usa a família de origem
como um recurso. A um nível geral, o laço com a família de origem representa uma fonte subtil de
ambiguidades para os novos pais; tanto se torna um suporte importante como um novo perigo. Por
um lado significa um suporte muito relevante, com sacrifício por parte dos avós, nos cuidados aos
filhos. Por outro, por se continuar na órbita da família de origem, a procura de equilíbrio da família
de origem com a “saída do ninho” pode levar à tentativa, inconsciente, do preenchimento dessa
lacuna com o próprio filho - restabelecimento do equilíbrio familiar. Ou seja, a distância e
diferenciação construídas na transição para a idade adulta podem sair enfraquecidas e passar-se de
família alargada a família extensa.
Nesta fase, é importante o tipo de vinculação e o comportamento dos pais: uma presença
demasiado pressionante pode provocar uma postura de desconfiança em relação à própria
capacidade de se ser pai/mãe (daí a necessidade de redefinição das distâncias de avós para pais). É
importante que os avós saibam encontrar um equilíbrio entre o desinteresse e a invasão.
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situações nas quais o casal tende a pôr em prática uma repetição da história familiar. Neste caso, o
nascimento não altera a hierarquia já consolidada e há uma certa imutabilidade da organização
familiar; o casal não é capaz de mediar a sua própria história e o laço com as famílias de origem e o
passado determina o tipo de função parental.
São transições adequadas aquelas em que o casal tem uma visão crítica da sua própria
história familiar e é capaz de se distinguir dessa história. O casal é capaz de não aceitar ou negar o
laço familiar sem critério; é capaz de aceitar o que considera bom e de estabelecer as próprias regras
familiares.
Cigoli apresenta uma outra forma de análise aos fatores de risco em que inclui a perspectiva
intergeracional; a tipologia dos casais parentais é um dos fatores. A tipologia de casais parentais
cruza a qualidade da dimensão do pacto parental que o casal pode instaurar ao nível da relação com
os filhos (eixo horizontal) com o nível da relação com os avós (eixo vertical). Os tipos de casal são
o compensador, negligente, delegante, de geratividade débil e coerente com a tarefa.
O casal compensador não reconhece nada de positivo na relação com as famílias de
origem; regula a distância em relação às famílias de origem através de um afastamento radical;
resulta do cruzamento do eixo fratura com as famílias de origem com o eixo da hiperprotecção e
substitui a importância do laço intergeracional com atenção e cuidados excessivos. É “confiado” ao
filho, mais ou menos conscientemente, a tarefa de resgatar e de dar novo significado à história
familiar. A hiperprotecção do filho (através dos cuidados exagerados) manifesta mais uma
necessidade de ressarcimento por parte do casal de um “défice de laço” ao longo do eixo
intergeracional. Essa necessidade aparece disfarçada nas necessidades que o filho tem.
O casal negligente não mantém aspetos da história familiar e tem poucos recursos pessoais
e de casal para conseguir cuidar do filho de forma adequada. Resulta do cruzamento do eixo fratura
com as famílias de origem com o eixo do descuido em relação aos filhos. O fosso para a família de
origem é uma ferida aberta, de tal forma central que não permite que possam cuidar adequadamente
dos filhos. Nestas situações em que o casal não consegue chegar a um “acordo” com a própria
história familiar é provável que venha a agir com o filho da mesma forma.
O casal delegante não se distingue das famílias e origem. Mantêm laços muito estreitos, não
sendo equilibrados e resulta do cruzamento do eixo repetição das práticas das famílias de origem
com o eixo descuido. Chega a delegar nos pais a educação e cuidado dos filhos; grave na medida
em que traz confusão na assumpção da responsabilidade parental. Nos casos mais extremos, o casal
não consegue desenvolver um filtro em relação à história familiar; não consegue fazer mais que
uma mera repetição da história familiar.
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Por fim, o casal de geratividade débil não tão grave como a anterior, pode criar
desconforto que se poderá ampliar com o tempo; cruza-se o eixo da hiperprotecção com a
indistinção com as famílias de origem; são casais que nunca tiveram grandes problemas com os
pais, absorveram a sua educação e propõem-na aos filhos. Ao nível do empenho parental, estão
muito focados em dar aos filhos o melhor. O melhor muitas vezes acaba por se tornar a tentativa de
conseguir um contexto para o filho sem preocupações e frustrações e centrados em bens materiais.
Risco de o sistema se bloquear e de o filho ficar retido num sistema afetivo convincente e
provavelmente satisfatório; o filho acaba por ser a função pela qual os pais vivem, em vez de ser
educado a constituir a nova geração. Este último tipo de casal é o típico da nossa época; mas não
deve ser assumido como sendo um indicador automático de bem-estar.
No casal coerente com a tarefa, a qualidade é definida pelo equilíbrio de todos os fatores
falados. Conseguem regular de forma dinâmica o relacionamento com as famílias de origem, bem
como exercitar as matrizes simbólicas da família. O filho é visto na sua individualidade e nas suas
ligações com a história familiar; o casal reconhece as dificuldades que a existência e presença do
filho implicam; esse reconhecimento leva a uma gestão mais eficaz. Conseguem ver os filhos como
pessoas que mais tarde irão “ser” a sociedade.
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