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1
RESUMO
Pode haver lobos em Wall Street, mas havia crocodilos em Canary Wharf.
Alguns de nós desejam dinheiro. Alguns de nós desejam poder.
Eu podia sentir isso no momento em que ela entrou para a entrevista, com seu
charme franco e personalidade vivaz. Ela lançou todos os outros na sombra, me fez rir
quando a vida não tinha nenhum humor. Nossa amizade deveria ter permanecido
profissional, mas não demorou muito para que as linhas começassem a se confundir.
Você sabe o que dizem sobre quanto tudo dá errado? Bem, eu nunca previ onde
meus planos levariam, e só na minha hora mais escura eu finalmente vi a luz...
Você pode ter todo o dinheiro e prestígio no mundo e ainda ser o homem mais
pobre na terra. E o amor, bem, eu odeio usar um clichê velho e cansado, mas o amor
pode ser a coisa que realmente te liberta.
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Marie você é o céu azul selvagem
E os homens fazem coisas tolas
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Parte um
Antes
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Um
Banco Johnson-Pearse, Canary Wharf, Londres, 2009.
Eu estava nervosa.
Eu também estava adiando enquanto eu estava sentada em um banco e observava
os homens e as mulheres correrem, um desfile interminável de pessoas com ‘coisas para
fazer’. Eu tinha mais de dez minutos antes de ir para dentro para minha entrevista, e eu
estava drenando cada um desses bad boys da mesma maneira que eu estava drenando a
última gota do meu café.
Apesar de ter vivido em Londres toda a minha vida, eu nunca tinha sido
efetivamente uma Canary Wharf. Nunca tinha tido realmente uma razão - até agora. Era
um lugar estranho, tão profissional, o cheiro de dinheiro no ar, e, no entanto, apenas um
par de metros longe de mim, o cara da banca era muito obviamente um
traficante. Crescer onde cresci, me fazia reparar nesse tipo de coisa. Um cara de terno
iria caminhar até ele, comprar um jornal, e ele escorregaria algo extra. Em seguida, o
cara sairia de fininho para seu prédio de escritórios para começar seu dia, tão casual
como poderia ser.
Era uma espécie de deprimente saber que, mesmo em um lugar como este, as
drogas ainda eram predominantes. A única diferença era que as pessoas aqui realmente
podiam pagar por elas.
Ok, hora de encarar a música. Levantando do banco, alisei minhas mãos no meu
vestido, respirei fundo e coloquei minha cara de profissional. Eu estava determinada a
fazer meu caminho firme através da entrevista, e fingir confiança era um dos meus
verdadeiros talentos. Hoje eu estava competindo por um trabalho como um assistente
executiva em um dos maiores bancos de investimento no país, com apenas um diploma
em administração e experiência de muitos anos como garçonete.
Eu ainda estava um pouco espantada de como eu sequer consegui marcar a
entrevista. Meu perfil estava online e funcionando, e eu tinha a sensação de que o Banco
Johnson-Pearse tinha feito um total de zero espreitadelas lá.
Cheguei na área de recepção e sorri para a senhora na recepção. – Oi, eu estou
aqui para entrevista para a posição de assistente executiva com o Sr. King.
Ela levantou uma sobrancelha especulativa, seu olhar me dando uma varredura
rápida para cima e para baixo. Não precisava ser um gênio para descobrir o que ela
estava pensando. Ela ouviu meu sotaque do Leste e imediatamente se perguntou o que
diabos eu estava fazendo ali. Ela não era a única, porque apesar da minha calma
exterior, eu estava sofrendo de um caso distinto da síndrome do impostor.
Apertando os lábios, ela finalmente concordou e me dirigiu a um grande
escritório no final do corredor, me dizendo para sentar e esperar lá fora até que fosse
chamada. Várias outras pessoas estavam sentadas esperando calmamente. Algumas
delas pareciam tão nervosas quanto eu me senti, enquanto outros pareciam frias, calmas
e recolhidas. Talvez elas estivessem fingindo, também.
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Minutos passaram. Um par de outros candidatos foram chamados para o
escritório, alguns saindo com sorrisos presunçosos, e outros parecendo que queriam ir
para casa e gritar. Eu poderia me ver no mesmo barco em um futuro não muito distante.
A porta se abriu e um homem mais velho surgiu.
– Sim, certo, Greg, eu vou acreditar que o seu lixo e dinheiro assim que eu
começar a começar as aulas de dança do ventre e colocar brinco em ambos as minhas
orelhas. – Ele riu cinicamente, e eu me arrepiei ao som do seu profundo riso. – Me
lembro de você puxar um golpe como este em 2006. Depois de todo mundo evitar O
Grupo Phillips, uma semana depois você estava passeando ao redor em uma BMW
nova.
Os outros dois se sentaram e esperaram em silêncio enquanto ele se envolvia em
seu telefonema, o que me levou a acreditar que apesar de ser mais jovem, Loiro era o
encarregado. Hã. Depois de apenas um minuto, ele terminou a sua chamada, deslizando
seu celular sobre a mesa e apertando as mãos. Então ele atirou no cara mais velho um
olhar que dizia que ele poderia começar a entrevista.
– É um prazer conhecê-la, Alexis. Meu nome é Daniel James, diretor sênior aqui
na Johnson-Pearse, – ele começou, e eu apertei sua mão. – Esta é Eleanor Price, atual
assistente do Sr. King, que vai se aposentar em breve e cuja posição nós estamos
querendo encher.
Eu apertei a mão de Eleanor. Ela parecia rigorosa, mas legal, de um jeito meio
maduro. Agora eu podia supor que o Loiro era o Sr. King, e eu imaginei que ele
precisava de alguém como Eleanor para mantê-lo sob controle. Se eu conseguisse esse
trabalho, eu imaginava que ficar perto do Sr. Sorriso Sexy me manteria motivada.
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Quando o Sr. James foi finalmente me apresentar para Oliver King, diretor-
gerente, senti minha bravata chutar. Eu não ia a murchar e corar em sua atenção. Não,
eu iria manter minha cabeça erguida e ser como Eleanor, resistente como pregos, sem
tolices.
– Sr. King, – Eu disse enquanto seus dedos quentes deslizaram contra os meus e
nós rapidamente apertamos as mãos. Sim, muito formigamento, mas me recusei a
demonstrar.
– Alexis, – ele respondeu, me olhando atentamente antes de se sentar. –
Obrigado por ter vindo.
Sentei-me na frente dos três e descansei as mãos no meu colo.
– Então, para começar, por favor, nos conte um pouco sobre si mesma, – disse
James.
Ok, bom. Eles estavam começando com o material padrão. Eu poderia fazer
isso. Limpando a garganta, eu comecei o meu lengalenga. Eu disse a eles sobre meus
resultados elevados, especialmente em computação e matemática, em seguida, mudei
para a minha experiência de bartender, durante o qual eu decidi voltar ao ensino e
buscar o meu diploma. Eu disse a eles que a minha principal razão para não ir
diretamente para a universidade depois da escola foi devido a uma falta de recursos, e
como eu estava ansiosa para ganhar experiência agora que eu tinha a minha
qualificação.
– Você entende que a maioria do pessoal que entra aqui têm diplomas
universitários, mesmo em nossos departamentos de administração, – disse James. – O
que você acha que pode trazer para o papel, uma vez que você ainda não teve o mesmo
nível de educação?
– Eu acho que posso trazer as habilidades das pessoas, – eu respondi
prontamente. – Trabalhar em um bar pode parecer que não é preciso muito, mas acredite
em mim, você tem boa experiência em lidar com todos os tipos de conflitos. Eu acho
que a educação é importante, sim, mas eu também sinto que eu posso trazer muito mais
para o papel, em comparação com alguém que está entrando com um grau, mas
experiência zero.
– E se você vir contra um problema que requer técnica ao invés de habilidades
interpessoais, algo que um graduado da universidade seria mais bem equipado para lidar
com isso? – James continuou. Olhei rapidamente para o Sr. King para encontrá-lo me
estudando de perto, e de repente senti um pouco mais quente debaixo do meu vestido.
– Então eu vou pedir orientação. Se há um problema que não posso lidar
sozinha, eu sempre peço a alguém para me ensinar. Eu sou tudo sobre a expansão de
minha aprendizagem, e eu mantenho a crença de que devemos estar continuamente
ganhando novas habilidades.
King se inclinou sobre a mesa para dar a James um sorriso. Ele disse: – Eu gosto
dela, – e eu me senti um pequeno triunfo na minha barriga. James era muito mais difícil
de ler, e Eleanor parecia apenas estar sentada na entrevista como uma observadora
silenciosa. Imaginei que ela estaria dando sua opinião depois que eu saísse, informando
os outros dois se ela achava que eu estava apta para substituí-la.
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– Ok, muito bom. – Disse James. – Então, por que é que você gostaria de
trabalhar aqui no Johnson-Pearse?
Alívio me inundou e eu estava contente que ele fez esta pergunta. Eu tinha
passado horas pesquisando o banco, então eu sabia minhas coisas. Até o momento que
eu acabei de falar todas as razões pelas quais eu pensei que era o lugar ideal para eu
trabalhar, todos os três entrevistadores pareciam impressionados.
Em seguida, Sr. King cruzou as mãos juntas, finalmente decidindo falar. – Você
parece saber muito sobre este banco, senhorita Clark, mas me diga, se você fosse
implementar uma mudança para melhorar a forma como executar as coisas, o que seria?
Sua pergunta me pegou de surpresa, e eu imaginei um branco total e
completo. Minha mente correu por uma resposta, qualquer resposta, e antes que eu
pudesse ter um segundo para pensar corretamente as coisas, eu soltei: – Bem, para
começar, eu chamaria a polícia sobre o traficante trabalhando na banca do lado de
fora. Eu estou supondo que funcionários drogados não fazem são muito produtivos.
As sobrancelhas de James se atiraram para cima em sua testa. Eleanor franziu os
lábios, me avaliando mais de perto, e King não mostrou quaisquer sinais exteriores de
uma reação que não seja a menor curva dos lábios. Ele olhou para fora da janela, onde
havia uma visão direto da banca de jornal, escreveu alguma coisa, em seguida, disparou
a James um olhar para continuar com a entrevista. Eu o vi olhando para mim de novo,
de forma diferente agora, como se estivesse vendo algo interessante que ele não tinha
notado antes. O fato de que nenhum deles tinha comentado sobre a minha resposta me
fez sentir suada e envergonhada, e minha necessidade de fugir da sala era palpável. Eu e
minha boca grande.
James jogou mais algumas perguntas para mim, perguntando como eu iria lidar
com um número de cenários. Infelizmente, porém, depois do meu comentário sobre o
traficante, seu desgosto por mim começou a brilhar, e ele rapidamente envolveu as
coisas.
***
Engolindo o último do meu café, eu escorreguei meus fones nos ouvidos, cliquei
em ‘play’ no meu álbum favorito de MIA, e parti para o metrô. Eu vivia no décimo
andar de um grande bloco de torre cinzenta em Bethnal Green com minha melhor
amiga, Karla. As escadas eram um aborrecimento, mas eu tinha que admitir que puxar
minha bunda para cima e para baixo todos os dias fez maravilhas para meus
glúteos. Pena que a minha propensão para comer bolo desfez todo o bom trabalho.
Era o meu primeiro dia de trabalho no Banco Johnson-Pearse. Após a natureza
bizarra da minha entrevista, e o fato ainda mais bizarro que eles realmente me
escolheram para o cargo, eu estava colocando as minhas melhores músicas. As músicas
de MIA sempre me fez sentir pronta para assumir um desafio; era como minha música
de luta.
Eu usava meu vestido lápis sob meu casado de lona. Eu também usava luvas e
um lenço, que eu enterrei meu nariz para afastar o frio. Era janeiro em Londres, o que
significava que estava frio suficiente para congelar seus mamilos.
Uma vez que cheguei ao metrô, eu saboreei o calor interno e fiz minha viagem
de pé porque era hora do rush, e eu não iria conseguir um assento. Finalmente chegando
em Canary Wharf, eu saí da estação de metrô gigantesco e completei a caminhada até a
torre de vidro e aço, onde Johnson-Pearse estava localizado.
Esta área era referida como The City, uma única milha quadrada que abrigava as
mais poderosas instituições financeiras no Reino Unido. Alguns dos edifícios tinham
apelidos engraçados. Por exemplo, você tinha o Gherkin, que eu pessoalmente achei que
parecia um ovo gigante.
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Você poderia dividir o distrito em três seções. Canary Wharf era moderna, se
elevando, sem alma, e onde você poderia encontrar os bancos de investimento todo-
poderosos. A Cidade Velha era histórica, peculiar, e principalmente casa das
seguradoras e corretores. E, finalmente, você tinha o elegante e cosmopolita Mayfair,
onde você poderia encontrar os fundos especulativos e empresas de capital privado. Eu
só tinha me tornado tão bem informada sobre tudo isso desde que eu comecei a minha
busca de emprego. Antes, era apenas outra parte de Londres para mim. Mas agora que
eu tinha descoberto esta cidade dentro da cidade, eu me tornei fascinada. Com apenas
um olhar, você sabia que este era um lugar onde havia um só Deus, e seu nome era
dinheiro.
Eu desapareci entre a multidão de gente profissional entrando no prédio. Eu tive
que assinar entrada no balcão da segurança, já que eu ainda não tinha recebido meu
crachá. Uma vez eu terminei, eu entrei no elevador. Eu ainda estava escutando a minha
música, de pé no canto do elevador lotado, quando eu senti os olhos de alguém em mim.
Rapidamente olhando para cima, vi Oliver King alguns centímetros de distância,
usando um terno e um sorriso, um jornal debaixo do braço. Puxando meus fones de
ouvido e os deixei descansar em volta do meu pescoço, dei a ele um aceno
educado. Meu primeiro instinto foi o de ficar constrangida que ele tinha me pego
balançando minha cabeça, afastada em meu próprio mundo pequeno, mas eu soquei a
cadela para baixo. Se qualquer coisa que eu aprendi crescendo em uma pequena casa de
conselho com três irmãos arrogantes e com recursos limitados, era de que você tinha
que manter sua cabeça erguida nesta vida. Tomar o que era seu e nunca deixar ninguém
fazer você se sentir desconfortável ou inferior.
Depois de eu ter ficado confortável, ela percorreu a rotina matinal do Sr. King
comigo. Eu seria responsável por ordenar o seu café da manhã e dar a ele um resumo
das manchetes em cada um dos principais jornais dos países, enquanto Gillian cuidava
do calendário de reuniões de manhã e à tarde. Aparentemente, o Sr. King tinha um
talento especial para absorver as notícias e fazer previsões sobre qual caminho os
mercados se transformavam. Eu era cética em relação a isso, mas nós veríamos.
As horas escorreram, e meu novo patrão saía e entrava do seu escritório várias
vezes. Por instinto, eu me encontrei observando como ele interagia com as pessoas. Ele
deve ter estado apenas nos seus trinta anos, ainda tinha essa confiança que deixava as
pessoas ansiosas para fazer o seu lance, para impressioná-lo. Era um pouco viciante de
assistir.
Era quase almoço quando Gillian apareceu na minha mesa e me disse que o Sr.
King queria ter uma conversa rápida. Engoli em seco e me levantei, hesitantemente
fazendo o meu caminho para o escritório. Foi muito impressionante. Dois lados da sala
eram todas janelas, com vista para a agitação de Canary Wharf. A atenção de King
estava fixada na tela de um de seus computadores (havia vários em torno de sua mesa)
enquanto seus dedos digitavam rapidamente. Eu não tinha certeza se ele até mesmo
percebeu que eu estava lá até que ele começou a falar.
– Como está indo o seu primeiro dia, Alexis?
Foi um pouco desconcertante que ele não estava olhando para mim, mas eu
respondi de qualquer maneira. – Muito bem. Eleanor está me dando uma boa educação.
Um sorriso enfeitou seus lábios. – Ela é ótima, não é? Eu vou ficar triste de vê-la
ir, mas ela e seu marido estão indo para o sul da França, e nenhuma quantidade de
dinheiro que eu tenho oferecido vai convencê-la a ficar.
– Bem, se dada a escolha entre apanhar banhos de sol em St. Tropez ou ficar
enfiado em um escritório durante todo o dia, eu sei o que a maioria das pessoas iriam
escolher.
Assim que a declaração estava fora, me arrependi. Ele fez uma pausa na
digitação e finalmente olhou para mim. Um longo momento decorreu, e eu me
perguntava se eu tinha sido muito livre com minha boca novamente. Este não era um
pub. Era um escritório. Este homem era o meu patrão, e eu realmente precisava
aprender certas brincadeiras que não eram apropriadas.
– Você já esteve? – Ele finalmente perguntou.
– Hã?
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– Em St. Tropez.
– Oh, não, nunca, – eu disse, os olhos olhando para fora da janela e, em seguida,
de volta para ele.
– Então, como você pode saber que é a melhor opção? Precisamos de evidências
para provar um ponto, senhorita Clark. Eu achismos são um desperdício de tempo.
– Não foi um achismo, – eu respondi, usando a sua palavra, o que
definitivamente não estava no dicionário. – Eu estava simplesmente usando
minha imaginação. – Além disso, a carreira dele não era em torno de suposições e
riscos?
Me ponderando um momento, ele perguntou: – Alguém já te disse que você é
muito direta? – Ele sorriu e bateu um dedo em seu queixo enquanto ele me estudava. –
Eu gosto disso. Eu sou direto também. Dito isto, às vezes a minha franqueza pode vir
através da maneira errada. O que me traz a razão pela qual eu te chamei aqui. Eu tenho
dito que seria sensato te pedir desculpas por meu comportamento na sua entrevista. Às
vezes tenho um problema com tato, e parece que o que eu disse a você poderia ser
considerado ofensivo.
Uau, ele estava se desculpando? Eu não queria mostrar qualquer fraqueza, então
eu simplesmente olhei para ele de frente e respondi calmamente: – Você vai ter que se
levantar muito mais cedo de manhã para me ofender, o Sr. King.
Foi só quando eu estava a meio caminho da porta que ele murmurou baixinho,
brincando, – O instinto para o negócio parece interessante.
Virei-me, e ele olhei para mim, me lançando um sorriso de fazer o coração
vibrar. Eu sorri de volta, e sua atenção voltou para sua tela de computador. Tudo de uma
vez, minha incerteza e embaraço desapareceu. Meu peito estava mais cheio, e enquanto
eu continuava meu caminho para fora da sala, eu jurei que senti seus olhos voltarem
para mim mais uma vez.
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Página
Dois
Quando ouvi o chuveiro ligado, eu sabia que ela tinha estado no turno
diurno. Quando eu liguei a TV e comecei o jantar, ouvi o chuveiro desligar. Poucos
minutos depois, ela saiu envolta em uma toalha e me deu um sorriso cansado. Seu
cabelo vermelho brilhante e molhado caiu sobre sua testa, e seus olhos azuis claros
pareciam cansados.
– Hey, – ela disse, a voz suave. – Como foi seu primeiro dia?
– Foi bom, – eu respondi. – Bom, mas estranho. Eu juro, é outro mundo inteiro
lá.
Seus olhos se iluminaram com as minhas palavras. Uma coisa que nós duas
amamos estava dançar, e cada par de semanas a gente ia em um clube.
– A Bala de Prata está dando uma noite de ska1 na sexta-feira, – disse ela. – Eu
vi o cartaz no meu caminho para casa do trabalho.
Eu sorri para ela. – Uma noite de ska então. Vamos pintar a cidade de bege, uma
vez que o vermelho está reservada estritamente para menores de idade.
Isso tirou uma risada dela, e eu me senti bem que eu tinha a feito rir. Ela pegou
uma cenoura e deu uma mordida. – Bem, claro.
***
1
Estilo da música. (N.T)
15
Página
King soltou um bufo divertido e se voltou para Gillian. – E você?
Gillian parecia alheia enquanto ela nervosamente limpou a garganta e apertou as
pastas que estava segurando. – Oh, hum, não, desculpe, não. – Ela pareceu desapontada
por si mesma, como se decepcionar o King Oliver de qualquer forma fosse uma falha da
parte dela. Eu senti vontade de dizer isso para animá-la e ser uma mulher, não uma
menina desesperada para agradar seu chefe.
Finalmente, ele olhou para mim. – Bem, você obviamente deve ter ouvido,
novata. Deus, é pedir muito para ter algumas senhoras que gostam de fofocar por
aqui? Estou praticamente rebentando pelas costuras.
Eleanor sacudiu a cabeça, mas eu vi seus lábios se contraírem com uma sugestão
de um sorriso. Sr. King estava, obviamente, em um clima excepcionalmente agradável
esta manhã. Enquanto conversava com ela ontem, ela me disse que seu humor poderia
ser um pouco imprevisível, então era sempre melhor estar do lado da cautela.
– Bem, nos diga o que você sabe, e eu vou estar feliz em contar, – eu disse. –
Bisbilhotice é o meu forte.
– Oh, graças a Deus. – King exalou com falsa dramática quando ele se
aproximou da mesa e me olhou maliciosamente. – George Bacon, um dos melhores
caras lá na Citibank, morreu na noite passada.
Deixei escapar um suspiro. – Isso é terrível.
– A-ha! Mas você ainda não ouviu o pior de tudo. O pobre Georgie estalou seus
tamancos durante uma sessão bastante intensa com uma senhora da noite. Seu velho
coração não estava à altura do desafio. – Ele balançou a cabeça, mas ele não sentia
claramente nenhuma simpatia pelo homem. Bem, já que tínhamos acabado de apanhar
por uma recessão desgraçada, muito poucas pessoas sentiam pena daqueles que
trabalham na indústria de serviços financeiros nos dias de hoje. No entanto, sendo um
banqueiro ele mesmo, pensei que o Sr. King pudesse ser capaz de sentir empatia.
Olhei para ele, encontrando sua escolha de tópico de conversação surreal. Oliver
King realmente não tem qualquer tato, mas estranhamente, eu não me importava. Na
verdade, eu meio que gostei. Quando eu tinha aceito este trabalho, eu pensei que eu ia
ser presa trabalhando com um monte de cadáveres.
Eu não tinha certeza porque eu disse o que eu disse em seguida. Era uma mistura
de ser uma espertinha e não ter nenhum filtro. Eu sorri para King e brinquei: – Então, o
que você está dizendo é que ele veio e se foi2?
Houve um momento de silêncio antes de King soltar uma gargalhada. Sorrindo
amplamente, ele se inclinou e descansou as mãos sobre a mesa, quando ele respondeu
com uma piscadela: – Eu prefiro dizer que chegou antes de partir.
Eu ri. – Bem ok, então, se você quiser ser todo sofisticado sobre o assunto.
Nós ainda estávamos sorrindo um para o outro quando Eleanor cortou, – Sr.
King, eu acredito que você tem uma reunião em vinte minutos que você precisa se
preparar.
2
Esse veio se refere a gozar. Gozou e se foi. Pois lá eles usam come para gozar e vir. (N.T.)
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King não olhou para longe de mim por um momento, enquanto seu sorriso
começava a desaparecer. Ter os olhos em mim me fez sentir um pouco
arrepiada. Finalmente, ele balançou a cabeça e virou-se, caminhando para dentro de seu
escritório com Gillian seguindo atrás. Voltei para a minha entrada de dados, e um ou
dois minutos de silêncio se passaram antes que Eleanor dissesse, – Eu acho que vocês
dois podem ser um pouco parecidos demais. – Ela fez uma pausa, e havia um sorriso em
sua voz. – Depois que eu me for, talvez Gillian deixe você acompanhar o Sr. King em
viagens. Tremo só de pensar o que o dois desencadeariam com clientes potenciais.
Eu atirei a ela um olhar interrogativo. – Viagens?
– Às vezes, ele nos obriga a acompanhá-lo em viagens de negócios. É realmente
apenas uma ou duas vezes por ano.
– Ah, certo, – eu disse, franzindo a testa um pouco. Devo ter apagado sobre essa
parte da descrição do trabalho, muito cheia de alegria quando vi o tamanho do meu
salário anual. Ah sim. Este ano iria haver um monte de compra de bolos uma vez que o
dinheiro começasse a rolar.
A manhã passou depressa. Quando chegou a hora do almoço, eu não quis
acompanhar Eleanor e Gillian a um restaurante de sushi e preferi pegar um sanduíche
nas proximidades. Eu precisava dos carboidratos, e nunca me sentia cheia depois de
sushi. E tudo bem, talvez eu devesse ter estado comendo mais do que sushi do que
sanduíches, porque eu estava carregando um pouco de peso extra, mas eu simplesmente
não conseguia reunir a vontade de me preocupar. Meu corpo era o que era. Eu tinha
herdado da minha mãe grega curvilínea, e a vida era muito curta para ficar comendo
pacotes de geleia de zero caloria do Japão.
Eu trouxe a minha comida de volta para o escritório e encontrei um lugar
relativamente calmo, uma vez que a maioria das pessoas estavam ou comendo fora, ou
estavam no refeitório almoçando. Eu tinha planejado comer na minha mesa, em seguida,
começar sobre o restante do trabalho que tinha para completar, quando minha atenção se
dirigiu para a porta do escritório de King.
Meu sordidez estava me pedindo para entrar e dar uma olhada ao redor, e eu
sabia pela sua programação que ele não deveria voltar de sua reunião da tarde até as
três. Trazendo meu almoço comigo, eu entrei em seu escritório e fiquei maravilhada
com a vista. Sua mesa era grande e imponente, e houve uma série de molduras na
parede. Dois deles mostravam seus certificados universitários. Ele tinha uma
licenciatura de primeira classe em finanças e contabilidade pela Escola de Economia de
Londres, e um mestrado em finanças de Cambridge. Eu assobiei enquanto eu olhava.
Uma educação como essa deveria ter custado um bocado. Mas então eu percebi que a
família de King provavelmente não estava sofrendo por dinheiro quando eu olhei o
próximo quadro.
Ele mostrava um poster do concerto antigo de Elaine King, uma mundialmente
renomada pianista de concerto que teve seu auge no final dos anos oitenta/início dos
anos noventa. Ela era agora uma renomada acho que em Agnetha do ABBA. Não
demorou muito para eu colocar dois e dois juntos e descobrir que ela estava relacionada
com King de algum modo, e vendo seu cabelo louro e características refinadas
familiarmente, eu colocaria meu dinheiro que ela era sua mãe. Uau.
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Eu vi uma porta que conduzia a um banheiro e dei um passo para dentro,
deixando escapar alguns palavrões quando vi o tamanho do lugar. Era provavelmente
maior do que toda a minha casa e a de Karla. Ele ostentava um grande chuveiro, um
armário e janelas do chão ao teto com esse vidro especial que era claro ou fosco com o
toque de um botão. A peça mais chamativa, no entanto, era o sofá ao longo de um lado
da sala. Quer dizer, um sofá como esse em um banheiro como esse apenas gritava
extravagância, e desde que eu só tinha um de baixa qualidade em casa que
definitivamente tinha visto melhores dias, eu não podia evitar me jogar sobre ele e cavar
o meu sanduíche.
Sim, eu estava almoçando no banheiro do meu chefe, enquanto aprecia a vista da
cidade. Provavelmente não o mais inteligente dos movimentos. E sim, isso era estranho,
mas eu não pude resistir de aproveitar o luxo. Quem sabia quando eu teria essa chance?
Retirando meu telefone, eu consultei o Facebook, intermitentemente rindo de
postagens engraçadas ou balançando a cabeça cinicamente pelas coisas habituais. Me
deparei com uma coleção de fotos a partir de um primo distante meu, tirado em seu
casamento de renovação de votos.
Hmm, a cadela nunca me convidou. Eu juro por Deus, deveria ter umas 350
fotos do mesmo evento, mas como a esquisitona que eu era (e, vamos enfrentar, todos
nós éramos) eu não poderia evitar continuar a clicar, como se eu precisasse ver dez
variações da mesma cena como um viciado em crack precisava da próxima dose.
Eu estava perdida no Facebook quando o ruído distinto de uma garganta do sexo
masculino me fez pular e deixar cair meu telefone no susto. Olhando para cima, eu
achei King de pé na porta, braços cruzados e um olhar curioso no rosto. Ele estava de
volta mais cedo. Claro que ele ia voltar mais cedo.
– Apreciando o seu almoço? – Ele disse, levantando uma sobrancelha.
O que foi esse som que você acabou de ouvir? Ora, era meu coração se jogando
no chão e rastejando em mortificação.
– Eu, eh, uh... – Eu tentei pensar em uma desculpa, mas tive um branco total e
completo. Finalmente eu falei, – Você tem um sofá em seu banheiro. – Sim, eu era uma
joia assim.
– Sim. E você está aqui, por quê?
Deixei escapar uma risada envergonhada e pendurei a cabeça de vergonha. Não
havia realmente desculpa para isso. Era como se, quando você vê uma girafa de
passagem, você é mais do que provável estar no jardim zoológico. Esta era eu tomando
liberdades claro como o dia. Estremecendo, eu decidi ser honesta e enfrentar as
consequências. – Eu realmente sinto muito. Eu estava olhando seu escritório e vi que
você tinha um sofá em seu banheiro e que seu banheiro é mais luxuosa do que qualquer
banheiro que eu já estive, e eu não pude evitar.
Oh, Deus, alguém amordaça a minha diarreia verbal, por favor.
Olhei para King. King olhou para mim. Sua expressão era indecifrável até que
ele balançou a cabeça e soltou uma risada suave. Em seguida, ele me surpreendeu
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quando ele fechou a porta, entrou e caiu ao meu lado. Ele jogou os braços para cima e
descansou a cabeça em suas mãos, chutando as pernas para fora.
– É bastante ostentoso aqui, – ele permitiu.
Um momento de silêncio se passou antes de eu perguntar: – Eu estou demitida?
Os olhos de King escorregaram para os meus quando ele deixou escapar um
longo suspiro. Eu pensei que ele poderia estar desfrutando de me fazer suar antes de ele
finalmente responder: – Felizmente para você, eu estou em um muito bom humor hoje,
portanto, não, você não está despedida. Eu apreciaria, porém, se você me avisasse da
próxima vez que sentir vontade de comer o almoço no meu banheiro. Eu poderia ter
estado aqui tomando um banho. – Ele sorriu para mim antes de colocar uma cara de
horror fingido. – Ou, Deus me livre, imagine o número dois.
Ele sussurrou as palavras ‘número dois’, e comecei a rir. Eu juro que era a última
coisa que eu esperava que ele dissesse. Ele era muito engraçado quando queria ser.
Eu bati os dedos sobre o meu coração. – Ok, eu juro que vou te falar da próxima
vez. Número dois não é algo que eu quero testemunhar.
Ele balançou a testa e se inclinou em uma fração mais perto, batendo no meu
ombro com o seu. – Ah, mas você não seria adversa a um chuveiro?
Sua pergunta me pegou de surpresa, e eu estava duplamente surpreendida pelo
olhar levemente aquecido que ele me deu. Minha surpresa, combinada com a minha
personalidade, me fez deixar escapar uma mentira. – Oh, bem, sendo lésbica e tudo, vê-
lo nu não iria realmente me incomodar.
Por que, por que, por que, Alexis? Porque você disse isso?
King me olhou com astúcia, sua expressão incrédula. – Você é gay... sério?
Apertei os lábios juntos e suspirei. Agora que a mentira estava fora, não havia
como levá-la de volta. Então eu teria que vir com uma razão para mentir, e isso
significaria dizer a ele da maneira como ele olhou para mim me dez ter alguns
pensamentos muito pouco profissionais sobre ele. E sim, de jeito nenhum iria fazer
isso. De jeito nenhum.
– Sim. Gay como um... dia de primavera no dia primeiro de maio.
Jesus. Eu não tinha ideia de onde essa estranheza que tinha acabado de vomitar
veio. Ele estudou as minhas feições, e eu não sabia o que ele iria dizer em
seguida. Então ele me deu um sorriso brincalhão antes de perguntar descaradamente, –
Sempre ou quase?
Pequeno insolente... Olhei para ele e continuei mentindo. – Sempre.
Eu não tinha certeza, mas eu pensei que eu vi um lampejo de decepção em seus
olhos. – Oh, bem, pelo menos isso significa que estamos assinalando uma caixa na parte
antiga da pesquisa de igualdade de oportunidades. – Eu poderia dizer pelo seu tom que
ele estava brincando. Mas ainda assim, eu precisava mudar de assunto. Talvez ele fosse
esquecer sobre a mentira. Afinal de contas, ele era um homem ocupado e certamente
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Página
levava em um monte de novas informações em uma base diária. Talvez o ‘Alexis ser
lésbica’ iria se perder no meio das massas.
– Você tem uma foto de Elaine King em seu escritório, – eu disse. – Qualquer
relação?
Sua expressão se tornou nublada, seu comportamento mais sério agora quando
ele respondeu sobriamente: – Sim, ela é minha mãe.
– Uau. Isso é um conjunto de genes talentosos de onde você vem. Você toca
piano, também?
Ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos. – Sim, na
verdade. Mamãe começou a ensinar-me quando menino. É claro, eu toco
exclusivamente para a recreação. Mãe é a estrela.
– Ela é muito bonita, – acrescentei.
– Sim, – King concordou, franzindo a testa. – Ela é. É uma pena que o mundo
não consegue mais vê-lo.
Eu queria perguntar a ele por que, mas eu não queria intrometer. Além disso, eu
tinha conseguido mudar o assunto, e isso era bom o suficiente para mim. Eu comi o
último do meu sanduíche, levantei do sofá, e dei a ele um sorriso amigável. – Bem,
Cambridge, é melhor eu voltar ao trabalho. Não há descanso para os ímpios.
Ele estreitou seu olhar de brincadeira, e fiquei aliviada ao ver o humor retornar
às suas características. Eu não gostava dele triste e sério. – Vamos deixar Cambridge
fora disso. É Sr. King para você, Oliver em um impulso.
A noite ska estava em pleno andamento quando nós caminhamos para a música
tocada no saxofone ‘One Step Beyond’ por Madness. Eu nem sequer me incomodei em
ir para o bar para pegar uma bebida. Em vez disso, agarrei a mão de Karla e a levei para
a pista de dança, onde começamos a saltar para cima e para baixo como um par de
crianças super entusiasmadas.
Eu estava perdida no céu de ska quando senti um par de braços ao redor da
minha cintura. Virando, eu encontrei o meu amigo Bradley sorrindo para mim, usando
um colete e um par de jeans amarelo-canário. Bradley era meu irmão de outra mãe que
amava pau. E sim, um fileira de paus. Ele tinha ido para a escola Karla e eu, e agora
trabalhava como fotógrafo de moda muito bem sucedido.
– Lexie! Eu não vi você em anos, – ele gritou no meu ouvido. – O que você tem
feito?
Vibrando meus cílios, eu respondi brincando: – Oh, você sabe, o de sempre. Leo
Di Caprio ofereceu para me dar um fim de semana sujo e não aceitaria um não como
resposta.
Ele soltou um latido de riso e pegou a minha mão na sua, levando-me para o
bar. Karla seguiu, e Bradley virou-se para dar-lhe um abraço e um beijo. Ele acenou
para o barman, encomendando uma rodada de doses antes de voltar para mim.
– Estou contente por ter esbarrado em você, – disse ele. – Na verdade, eu tenho
sentido que precisava te ligar, porque eu tenho uma proposta.
Eu não acho que ela ouviu, porque ela já estava no cio contra ele. Eu ri e agarrei
as mãos de Karla, balançando-a para a música. Eu estava feliz, suada, dançando quando
senti meu telefone começar a vibrar dentro da minha bolsa. Me afastando por um
momento, porque a música era alta demais para escutar ao telefone, eu olhei para a tela
e reconheci o número de King. Eleanor tinha programado todos os números necessários
para o meu telefone na segunda-feira, e da mesma forma, ela tinha passado o meu
número para King se ele precisasse de mim.
Eu estava curiosa, e sim, muito embriagada para atender uma chamada do meu
chefe, quando eu bati em ‘aceitar’. – Sim.
A voz de King entrou na linha. – Alexis? É você?
– Ótimo, – disse King antes de despejar onde eu tinha que ir, ao lado do seu
endereço de casa, e me disse que iria deixar a chave com o porteiro. Ele também me
disse para manter meus recibos de viagem para reembolso. Voltei para dentro, disse a
Karla que havia uma coisa de trabalho, e rapidamente fiz sinal para um táxi. Monty
acabou por ser um cara de vinte e poucos anos com um grande sorriso e uma ânsia
distinta para impressionar. Ele foi inflexível sobre eu entregar os documentos
diretamente para o Sr. King, sem desvios. Foi provavelmente a forma como eu estava
vestida que lhe tinha preocupado, como se eu fosse uma senhora louca de estampa de
leopardo fingindo ser a assistente de Oliver King.
O táxi estava em marcha lenta pela beira da estrada, esperando por mim, quando
voltei e continuamos para o lugar de King. Descobriu-se que seu apartamento era
localizado perto do Tamisa, em um edifício que gritava dinheiro.
O porteiro estava me esperando e me entregou um cartão-chave quando olhei ao
redor do interior moderno e elegante. Havia cerca de dez andares, e apartamento de
King estava no topo. Escolhendo tomar o elevador, desde que eu tinha escadas
suficientes para enfrentar no meu próprio prédio, eu cliquei no botão para o seu andar.
Eu estava totalmente sóbria enquanto eu caminhava pelo corredor para o
apartamento dele e entrei. A princípio, o lugar parecia tranquilo, mas então eu ouvi a
música. Alguém estava tocando um piano.
A canção tornou-se apaixonada, e seus dedos bateram nas teclas direitas antes do
meu telefone apitar com uma mensagem. Eu não tinha ideia de quem era, mas eu parei
quando King imediatamente parou de tocar e virou o rosto para mim. Ele pareceu pego
de surpresa, surpreso ao me ver lá, mesmo que ele sabia que eu estava vindo. Ficou
claro que ele estava completamente perdido na música.
Um momento de forte tensão, inexplicável caiu entre nós.
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Página
Então ele fez uma leitura lenta do meu corpo, e eu juro que ele estava segurando
um sorriso. Em um instante, a tensão se foi, e ele usava uma expressão bem-humorada.
– Oh, vá em frente, diga. Você sabe que você quer, – eu suspirei.
King soltou um suspiro como se tivesse estado segurando, e sua voz estava cheia
de diversão. – O que diabos você está vestindo?
– Ei, o que eu visto fora do escritório é minha prerrogativa. – Eu fiz uma careta
para ele, brincando. – Mas se você quer saber, eu estava em uma boate com alguns
amigos quando recebi a chamada, daí o meu traje fantástico.
Ele franziu os lábios em um esforço para manter o seu sorriso. – Bem, nesse
caso, peço desculpa por interromper sua noite. Por favor, venha e se sente. Você tem o
recibo para o seu táxi e os certificados de Monty?
– Sim e sim, – eu respondi, caminhando para seu sofá, colocando as pastas na
mesa de café, e tomando um assento. – A propósito, você toca muito bem. Sua mãe te
ensinou bem. – Minhas palavras foram contidas. O que eu realmente queria fazer era
jorrar sobre o quão incrível ele era, como a música tinha me dado sentimentos que eu
nunca tinha antes, como ele me fez vê-lo sob uma luz completamente diferente. E eu
realmente gostei dessa luz.
King parecia ficar autoconsciente quando ele passou a mão pelo cabelo. – Sim,
bem, é apenas um hobby. – Ele fez uma pausa e olhou para a minha bolsa. – O recibo?
– Oh, sim, desculpe, – eu disse, e comecei a procurar por ele enquanto ele
esperava.
Quando eu entreguei a ele, eu fiz uma verificação rápida do seu lugar. A
Steinway estava ao lado da janela com vista para o rio, e notei pilhas e pilhas de papéis
empilhados ordenadamente em todo o chão da sala. Ele deve ter estado trabalhando esta
noite. Uma garrafa de vinho tinto estava aberta na mesa de café, um copo meio-acabado
ao lado dele. Houve um tabuleiro de xadrez de aparência cara na mesa, e me perguntei
se ele jogou ou se era apenas decoração.
Olhando seu lado do tabuleiro de xadrez, eu já poderia dizer que ele ia ser um
adversário difícil e eu provavelmente iria perder o jogo. Jogamos por um par de minutos
em silêncio pensativo antes de King falar.
– E você? Qualquer garota especial em sua vida agora?
Sua pergunta e o tom curioso me pegou desprevenida, e eu estava respondendo
antes que eu tivesse tempo para pensar sobre isso. – Sim.
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Página
King levantou uma sobrancelha. – Sério? Há quanto tempo vocês duas estão
juntas?
– Não muito. É muito novo.
– Você acha que ela é pra casar?
Jesus, qual é dessas perguntas todas? Eu senti como se estivesse sob
interrogatório. Precisando aliviar o clima, eu respondi, – Quem sabe. Por agora eu estou
mantendo minhas opções abertas. Quer dizer, só porque eu estou amarrada à cerca, não
significa que eu não possa latir para os carros.
Ele riu suavemente. – Eu nunca tive uma lésbica como amiga antes. Eu gosto
bastante disso. É agradável conversar com uma mulher que é, essencialmente, um
homem.
– Hey! – Eu protestei.
Ele ergueu as mãos. – Eu não quis dizer isso de uma maneira ruim.
Fiz uma careta para ele. – Tanto faz. Além disso, eu não sou exatamente a sua
amiga. Eu sou sua empregada.
King fingiu uma expressão triste, como se eu tivesse acabado de ferir seus
sentimentos. – Você pode ser ambos.
Eu atirei a ele um sorriso. – Bem, tudo bem, então. Vamos tentar isso. E já que
estamos sendo amigos, você não vai se importar se eu abertamente chutar o seu traseiro
no xadrez.
Seu sorriso de resposta foi mau, e combinado com seu belo rosto e cabelos loiros
despenteados, me deu alguns sentimentos muito diferentes da coisa de lésbica. Oh, onde
eu estava me metendo?
– Dê o seu melhor, – disse King.
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Página
Quatro
Lee olhou para ela por alguns segundos antes de se inclinar e sussurrar algo em
seu ouvido. Eu não podia ouvir o que ele disse de onde eu estava de pé, mas eu vi Karla
engolir nervosamente. Dando a ele um último sorriso aquecido, ele se afastou com essa
arrogância confiante.
Deixei escapar um longo suspiro. – Me desculpe por isso.
Ela me ignorou. – Não é nenhum problema. Stu está lá fora?
– Sim, – eu disse, acenando com a cabeça, embora ela não pudesse me ver. – Eu
tenho isto. Não se preocupe comigo. – Eu tive que usar um pouco das minhas
habilidades de fingir confiança para isso. Claro, eu sabia a rotina de King, mas isso não
significava que eu não ia estragar tudo.
Eleanor soltou um suspiro aliviado. – Ótimo. Vejo você amanhã, então.
– Vejo você amanhã, – eu disse, e desliguei.
Os lábios de King se contraíram. – Bem, já que você é nova, eu vou pegar leve
com você. E não se preocupe, eu já tinha sido informado da ausência de Eleanor.
– Eu sinto muito. Eu teria começado mais cedo, se eu soubesse, mas eu vou
tentar o meu melhor para não estragar o seu dia. – Oh, Deus, se minhas mãos estivessem
livres, eu teria me dado um tapa por isso. A maneira de mostrar a ele que eu estava uma
pilha de nervos.
A expressão de King aqueceu. – Tenho toda a fé que você não vai.
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Página
Alguns segundos de silêncio se passaram antes que as portas abrissem. Enquanto
eu caminhava ao lado dele, ele comentou: – Você sabe, eu quase não reconheci você
hoje sem a estampa de leopardo.
Eu atirei a ele uma careta divertida, mas estranhamente, sua provocação
amigável conseguiu aliviar um pouco os meus nervos. – Muito engraçado, Sr. King.
Foi bom saber que só porque ele era meu chefe, não queria dizer que ele nos
escravizasse. Eu tinha certeza se eu cometesse um erro hoje, ele não iria censurar-me
por isso. E Deus, nem me fale em nervos. Nós caminhamos para o escritório, e Gillian
saltou de seu assento.
– Bom dia, Sr. King, – ela cumprimentou seu chefe brilhantemente antes de seu
olhar vir até mim e seus olhos queimarem significativamente. King continuou em seu
escritório. – Alexis, – ela sussurrou, – você esqueceu o café da manhã. – Eu juro, pelo
olhar em seus olhos que você pensaria que ela estava prestes a ter um ataque cardíaco
no horror de ter esquecido o café da manhã de Oliver King.
– Merda, desculpe! Vou cuidar disso imediatamente.
– É suposto estar esperando por ele quando ele chega.
– Eu sei. Foi mal. Vou entrar agora e pedir desculpas.
Saí antes que ela pudesse me forçar mais e deslizei para dentro do escritório de
King. Eu segurei minhas mãos para cima. – Mea culpa - eu esqueci o seu café da
manhã, mas estou remediando o assunto no momento. O que você está desejando?
Calma aí, Alexis, realmente? Por alguma razão o meu cérebro pensava ser
engraçado se a confusão tornasse isso menos grandes coisas.
King levantou uma sobrancelha quando ele olhou para mim do jornal que estava
olhando. – Te absolvo. Ovos Benedict e um expresso duplo. Você fala latim?
Tentei não rir silenciosamente. – Não, eu sou apenas esperta assim. E já trarei os
ovos Benedict e um expresso duplo. Eu estarei de volta mais rápido do que John
Travolta em uma jaqueta de couro.
King me lançou um olhar confuso, mas apenas balançou a cabeça. Ele
claramente não entendeu a minha piada, mas que seja. Fui para o café mais próximo e
comprei seu café. Quando voltei, ele estava no meio do que parecia ser uma chamada
séria, então eu calmamente coloquei sua comida em sua mesa. Ele deu meu pulso um
toque rápido e declamou um agradecimento antes de voltar ao seu telefonema
novamente.
Voltei para minha mesa e comecei a trabalhar, tentando não deixar que meus
pensamentos permanecessem no caminho ocasional que ele tinha me tocado. Foi um
toque de familiaridade, e não estava familiarizada. Bem, na verdade não. Talvez a
maneira que eu brinquei o fez pensar que estávamos, mas isso era apenas o meu
jeito. Eu era incapaz de não fazer palhaçada, e tendia a agir da mesma se eu estivesse
conversando com minha avó ou a rainha da Inglaterra. Não que eu já tivesse conhecido
a rainha, mas você sabe o que quero dizer.
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Página
A metade da manhã veio e foi, em seguida, havia um sujeito de pele escura
considerável em um terno chegando ao escritório para ver King. Sua aparência era
exótica, no entanto, não combinava com seu sotaque colegial. Na verdade, ele parecia
muito com o meu chefe.
– Ah, Sr. Batage, é bom vê-lo novamente, – disse Gillian. – Isso é um terno
novo?
Sr. Batage sorriu e olhou para o que ele estava vestindo. – É bom ver você,
também, Gill. E sim, ele é novo. Que bom que você notou.
Gillian pareceu gostar de ele encurtar seu nome para ‘Gill’ e deu a ele um
recatado, – Bem, parece realmente bom em você, e eu amo o jeito que você está
cortando seu cabelo nos dias de hoje. Siga-me - Sr. King é apenas dentro de seu
escritório.
Sr. Batage me deu um aceno antes de seguir Gillian. Eu continuei trabalhando
até que ela voltou e fechou a porta atrás dela. Ela verificou se estava realmente fechado
antes de andar até minha mesa e me dar um olhar de cima.
– Esse é Dilvan Batage. Ele é um bom amigo do Sr. King. Eles foram para a
escola juntos. Dilvan é um comerciante do The Ring, mas ele vem de dinheiro
realmente velho. Sua família é exportadora de chá ricos do Sri Lanka.
Olhei para ela. – Hã. O que é The Ring?
Ela olhou para mim como se eu fosse lenta. – É a indústria de metal de
Londres. Lugar ocupado. Sr. King me levou junto para uma visita uma vez. É o único
mercado que ainda comercializa exclusivamente em dinheiro.
– Ah. Entendi. Então, ele é uma espécie de manda chuva?
– Não, eu não estou. Se bem me lembro, você disse que Gillian se casaria com
um copo se-
Antes que eu percebesse, eu estava dando um passo para trás para que eu
pudesse por a minha mão sobre sua boca para calá-lo. Eu tinha deixado a porta
entreaberta, e havia uma pequena chance de que Gillian iria ouvir. Eu estava tão em
pânico por um momento que eu quase não percebi o que eu tinha acabado de fazer. A
palma da minha mão estava contra os lábios esculpidos de King, que, como aconteceu,
parecia realmente bom. Ele olhou para mim, os olhos brilhantes ficando escuros, antes
de eu puxar minha mão como se eu tivesse acabado de ser queimada. O silêncio encheu
a sala.
– Oh, meu Deus, eu sinto muito, eu não deveria ter...
E então ele e Dilvan começaram a rir.
– Você sabe, eu sinto pena de você, trabalhando com esta besta, – Dilvan me
disse.
– Eu só não queria que Gillian ouvisse, – eu sussurrei. – Eu não queria...
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King acenou minhas explicações. – Está bem. Não se preocupe com isso, – disse
ele.
Engoli em seco e acenei com a cabeça, virando e saindo mesmo que eu não
tivesse sido dispensada. Eu precisava sair de lá antes que eu começasse a tirar a roupa e
desse a ele um lap dance. Eu juro, eu fazia as coisas mais estúpidas às vezes. Eu não
ficaria surpresa se de alguma forma acontecesse.
Quando a hora do almoço chegou, eu não tinha certeza se o convite de King para
eu usar seu banheiro ainda estava aberto. Ele estava fora do escritório, embora, e Gillian
foi comer fora, como de costume, então eu decidi arriscar. Eu trouxe um almoço
embalado, porque eu precisava guardar economias até que eu tivesse o salário do meu
primeiro mês.
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Página
Cinco
– Bem, você vai ficar aí o dia todo, ou você vai vir e jogar comigo? Eu tenho
certeza que você está ansiosa para uma revanche, – King passou enquanto eu estava ao
lado da porta. Eu tinha que admitir, eu estava nervosa.
– Hum, eu...
– Sente-se, Alexis, – ele me pediu, mas também soou um pouco como um
comando. Quem sabia que meu chefe tinha um lado mandão?
Tentei me concentrar sobre a situação do tabuleiro de xadrez, mas eu tive que
pedir desculpas sobre a ‘minha mão sobre sua boca’ primeiro.
– Sinto muito por mais cedo, – eu soltei. King olhou para mim por um longo
momento e arqueou uma sobrancelha. – Em seu escritório, enquanto seu amigo estava
visitando. Eu coloquei minha mão sobre sua boca, e foi tão inadequado que eu nem sei
por onde começar. – Eu olhei para o lado e mexi com as mãos.
– Sente-se, Alexis, – King repetiu, desta vez com mais força.
Incapaz de resistir uma ordem como essa, eu finalmente vim para frente e tomei
o lugar que ele estava oferecendo. Seus dedos escovaram meu ombro enquanto ele
empurrou minha cadeira, e eu instintivamente respirei no contato. Não que ele
percebeu. Caminhando ao redor para o lado oposto da mesa, desabotoou o paletó e
sentou-se.
– O que você fez está tudo bem. Dilvan é um amigo. Se tivesse acontecido na
frente de qualquer outra pessoa, essa poderia ter sido uma questão diferente. Talvez
tente resistir ao impulso de me acariciar durante o horário de trabalho no futuro. – Sua
voz estava levemente brincando, mas havia também uma rigidez que me colocou em
alerta.
Ele começou a organizar as peças do seu jeito no tabuleiro, e eu não sabia como
me sentir. ele estava realmente bem com ele, ou ele estava apenas fingindo? Nah, um
homem como King não finge. Ele não precisa.
– Bem, eu vou ter mais cuidado da próxima vez. Eu não gostaria de constrangê-
lo.
Ele tocou seu bispo e acendeu os olhos para mim. – Me constranger?
– Na frente de seus colegas. Eu sei que este negócio pode ser tudo sobre
aparências.
– Você acha?
Alisei minha saia sobre minhas coxas e vi seus olhos seguirem o
movimento. Hã.
– Oh, eu sei que sim. – Fiz uma pausa, hesitante antes de perguntar: – Você quer
a honestidade ou a resposta educada?
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– A honestidade, sempre, – disse King sem pestanejar.
Engoli em seco e fui direta com ele. – Eu só trabalhei aqui uma semana, e já
posso dizer o ambiente é tudo sobre parecer ser bem sucedido e agir como se você
estivesse indo bem, mesmo quando você pode estar falhando miseravelmente. E, vamos
enfrentar isso, mais pessoas estão a perder do que ganhar, especialmente no clima de
hoje, mas você não pensaria isso olhando para eles.
Era verdade. Eu não poderia ter vindo a trabalhar bem no meio de tudo isso, mas
eu tinha passado através dos principais escritórios vezes o suficiente para ser capaz de
obter a configuração da terra. E a terra por aqui era altamente competitiva. Era uma
espécie de alívio não ser uma parte dela. Eu não tinha ideia por que alguém iria
realmente escolher isso para uma carreira. Bem, ok, eu sabia. Eles escolheram isso pelo
dinheiro. Embora, pessoalmente, eu achasse que a quantidade de estresse que
acompanhava o dinheiro não valesse a pena.
King parecia intrigado quando ele se inclinou para frente e apoiou um cotovelo
no joelho. – E eu sou um dos vencedores, ou um dos perdedores?
– Eu tenho trabalhado em suas planilhas. Eu acho que nós dois sabemos a
resposta para essa pergunta. – King estava ganhando a rodo.
Sua boca se moveu em algo semelhante a satisfação. – Você tem uma vista
muito cínica da minha indústria, senhorita Clark.
– Por que você trazer o seu tabuleiro de xadrez aqui? Esta é a mesma que
jogamos em seu apartamento, certo? – Eu perguntei enquanto ambos comiam.
Ele limpou a garganta. – É. E para responder a sua pergunta, eu gostei de jogar
com você. Pensei que poderia tornar isso uma coisa regular.
Sua resposta me pegou de surpresa, e sim, eu também estava um pouco
lisonjeada que ele queria jogar xadrez comigo regularmente. – E você colocou isso em
seu banheiro porque...?
Ele me deu uma dica de um sorriso. – Você está estranhamente atada ao meu
banheiro. Eu pensei que você seria mais receptiva jogando se eu colocasse aqui.
Eu ri alto, porque mesmo que ele fosse tão estranho, ele também estava tão
certo. – Oh, meu Deus, você me conhece muito bem. É meio assustador. – Eu balancei
minha sobrancelha.
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Página
– Eu queria fazer um esforço para a minha primeira amiga lésbica, – ele
respondeu.
Cristo, se alguma vez houve uma mentira que voltaria para me assombrar, foi
dizer a Oliver King que eu jogava no outro time. Ainda assim, foi um pouco engraçado
que ele acreditava que eu era gay, e foi agradável jogar junto. Quer dizer, mesmo que eu
o achasse atraente, eu não tinha intenção de deixá-lo ir em qualquer lugar, então que
mal faria deixar ele acreditar que eu gostava de meninas?
– Se você realmente queria fazer o esforço, você poderia ter instalado algumas
fotos de meninas de topless na parede. Você sabe, então eu teria um lugar agradável
para descansar o meu olhar.
King riu. – Me desculpe. Vou me lembrar disso para a próxima vez que eu
precisar puxar seu saco.
***
Eu quase ri quando tirei meu casaco e vi que ela estava segurando uma
espátula. Ela apontou para mim como se ela pudesse ter sido usada como uma arma
letal. – A próxima vez eu vou fazer palito de peixe! Então você vai aprender a chegar na
hora.
Agora eu ri. Mamãe tinha se mudou para o Reino Unido quando tinha vinte e
três anos, de modo que ela ainda tinha um sotaque, e ‘palito de peixe’ soava hilariante
quando vindo dela. Dei um passo para frente e deu a ela um abraço, o que pareceu
acalmá-la.
– Sinto muito, mamãe, isso não vai acontecer novamente.
Ela fungou. – Sim, bem, espero que isso não aconteça. Agora vamos lá, você
parece com fome.
A segui para dentro da cozinha, dizendo olá para papai e Kain quando eu tomei
um assento na mesa. Atualizei a todos em sobre os detalhes do meu novo trabalho, e eu
não deixei de notar o olhar de orgulho nos olhos do meu pai quando eu falei. Eu sabia
que o fato de eu ter ido para a faculdade significava muito para ele. Ele sempre me disse
que eu tinha cérebro para queimar, e que eu estava perdendo meu tempo trabalhando em
um bar. Eu não tinha certeza se eu iria muito mais longe na minha carreira do que
trabalhar na Johnson Pearse, mas pelo menos era algo.
Nós tínhamos acabado o jantar quando meu telefone começou a vibrar. Desde
que mensagens de texto à mesa era outra coisa que irritava minha mãe, eu me desculpei
e fui para a sala verificar a minha mensagem.
Oliver King: Você está ocupada?
Alexis: Acabei de jantar. O que você precisa?
Oliver King: Eu estou em uma reunião que está atrasada. Eu estou atrasado para
me encontrar com minha mãe uma hora, mas parece que eu não vou conseguir ir. Você
pode pegar algumas flores e entregá-las a ela?
Eu fiz uma careta por sua mensagem. Eu não queria deixar a minha família,
desde que eu normalmente ficava e assistia TV com eles após o jantar, mas eu estava
muito curiosa para conhecer a evasiva Elaine King. Ok, então eu estava morbidamente
curiosa. Ela não tinha sido vista em público há mais de uma década, e tinha que haver
uma razão para isso. Além disso, ela tinha sido a única a ensinar King como tocar piano
tão bem, e eu estava com um pouco de medo dela por isso. Finalmente, eu respondi.
Alexis: Claro. Envie-me os detalhes.
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Nem é necessário dizer que mamãe não ficou nada satisfeita quando eu falei que
tinha que ir. Saí com a promessa de visitar novamente no fim de semana, e isso a
manteve feliz. Quando eu cheguei na floricultura, houve um enorme buquê de lírios
vermelhos e amarelos à espera de ser recolhido. Eu os recolhi, tomando cuidado para
não danificar as pétalas, e sai para pegar um táxi.
Elaine King vivia em uma casa de quatro andares em Bloomsbury, uma área
muito exclusiva e cara de Londres. Eu fiquei lá fora por um momento, tentando me
recompor. Eu nunca tinha pisado em uma casa como esta na minha vida, e era um pouco
intimidante. Finalmente indo até ela, apertei a campainha, e um momento depois uma
voz feminina veio pelo alto-falante.
– Olá, é você, Oliver?
– Sra. King, meu nome é Alexis. Sou assistente do seu filho. Ele teve uma
reunião esta tarde que atrasou e me pediu para entregar algumas flores. Espero que
esteja tudo bem?
– Flores? Oh, sim, flores. Ok, só um minuto. – Havia algo maníaco e arejado
sobre sua voz que soava meio distante. Eu fiquei lá por uns bons cinco minutos antes de
eu finalmente ouvir a porta sendo destrancada. Abriu-se lentamente, e eu dei de cara
com um par mais velho de olhos azul-gelo que eram quase idênticos ao de King.
Ela me estudou por um momento, depois esticou o pescoço em torno do batente
da porta para garantir que eu estava sozinha.
– Você... você tem alguma identificação? – Ela perguntou, um tremor em sua
voz. Jesus, ela estava bem? Descansando o buquê no meu quadril, eu vasculhei minha
bolsa para o meu crachá de trabalho antes de puxá-lo para fora e mostrar. Ela levou o
seu tempo examinando os detalhes, em seguida, antes que eu percebesse, ela estendeu a
mão e agarrou meu pulso, me puxando para dentro. Sua mão estava fria. Tudo
aconteceu tão rápido que eu mal tive tempo para reagir. Eu estava em pé no hall de
entrada, ainda segurando as flores e meu crachá quando ela começou a passar
rapidamente as fechaduras e puxar em trancas.
Uau. Essa porta tinha um monte de bloqueios nela.
Quando ela finalmente se virou para mim, eu tive a oportunidade adequada para
olhar sua aparência. Leu cabelo loiro era longo e esfarrapado, e ela usava um robe de
seda cor creme sobre um pijama cor de pêssego, chinelos nos pés. Sua pele estava
pálida, e havia um nervosismo em sua expressão que era difícil ficar à vontade. Ela era
como uma mulher Havisham do século vinte, trancado em sua grande casa velha. Eu já
podia ver que a mobília estava poeirenta e sem cuidados, o que significava que ela
provavelmente não tinha qualquer pessoal doméstico.
– Oi, – eu disse, limpando a garganta. – Sinto muito por me intrometer, mas
como eu disse, o Sr. King queria que você recebesse isso.
Ela olhou para mim, parecendo se debater por um momento, e eu tive a sensação
de que ela não falava com novas pessoas muito frequentemente. Então seus olhos foram
para as flores, e seu rosto se iluminou num sorriso.
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– Oh, elas são lindas, – disse ela, se aproximando e pegando-as de mim. Sem
outra palavra, ela levou-as para a sala e colocou-as no parapeito da janela. Notei que ela
precisava espremê-las, porque já havia um monte de outros vasos. Algumas das flores
estavam frescas, e outras pareciam ter morrido há muito tempo. Eu me senti um
pequeno calafrio na espinha. Havia definitivamente algo errado sobre esta mulher.
– Muito obrigada por trazer. Oliver sabe que eu amo minhas flores. Lembro-me
de quando eu ainda estava me apresentando, eu voltava para o meu camarim, e sempre
estava cheio com buquês. Oh, o cheiro era divino. – Ela fez uma pausa, e engoliu, seus
olhos azuis me considerando timidamente. – Gostaria de... ficar para uma xícara de chá?
Eu não tinha certeza se eu queria, mas não havia nenhuma maneira que eu
poderia dizer não para ela. Ela parecia tão solitária, e ela claramente tinha se trancado
longe do mundo exterior. Queria saber se King era a única pessoa que chegava a visitá-
la.
Eu sabia que dizer que ela estava bem era uma mentira, porque não havia nada
bem sobre esta situação, mas eu não me senti à vontade para perguntar a King sobre o
estado de saúde mental de sua mãe em uma mensagem de texto. Houve um longo trecho
entre me enviar o texto e King responder. Elaine tinha feito o chá e foi despejando um
pouco em meu copo com uma mão instável quando senti meu telefone zumbir
novamente.
Oliver King: Eu ainda estou na reunião. Eu te ligo mais tarde. Seja tão sensível
quanto você puder com ela.
Bem, era óbvio pela sua resposta que, quando King tinha me pedido para
entregar flores, ele não esperava que a mãe dele me convidasse para entrar.
Algo sobre a minha resposta fez um pequeno sorriso aparecer em seus lábios. –
Eu teria vestido se eu soubesse que eu estaria tendo companhia.
Assenti, embora. – Não se preocupe. Eu e minha companheira de quarto Karla
praticamente vivemos em nossos pijamas quando estamos em casa. Na verdade, é o
auge do meu dia, chegar em casa e escorregar em um pijama. E nem sequer me fale
sobre sutiã. Tirar essas engenhocas de tortura depois de um dia de trabalho é puro céu.
Me surpreendendo que Elaine ri, um som iluminado. Ela se acomodou em seu
assento, parecendo um pouco mais à vontade agora. – Há quanto tempo você vem
trabalhando para Oliver?
– Não muito. Sua outra assistente, Eleanor, está se aposentando em breve, então
ele me contratou para substituí-la.
– Eu não conheço Eleanor, – disse Elaine. – Mas nós falamos uma ou duas vezes
por telefone. Ela parecia muito agradável.
– Ela é. Vou sentir falta dela quando ela sair.
Então, até mesmo Eleanor, a mulher que King mais confiava, não tinha
conhecido sua mãe? O fato de que ele tinha confiado em mim para vir aqui me fez
sentir... eu não sei, especial.
Ela parecia feliz com essa resposta, e agora eu sabia outra coisa. Elaine King
nunca tinha visto seu filho trabalhar, nunca tinha visitado ele no escritório. Ela era um
eremita de pleno direito. Nós conversamos por mais alguns minutos, e então eu tive a
sensação de que ela queria me deixar. Não porque eu tinha feito qualquer coisa para
fazê-la sentir-se desconfortável, mas apenas porque estar perto de alguém novo parecia
se estranho para ela. Eu me despedi, e ela me acompanhou até a porta. Quando eu saí,
eu imediatamente ouvi ela re-fazer as fechaduras.
O que na terra tinha acontecido com Elaine King?
Eu peguei o táxi para casa e estava apenas me acomodando na cama para a noite,
quando meu telefone começou a tocar. Era King.
– Olá?
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Página
Ele exalou um longo suspiro. – Alexis, eu... eu sinto muito. Eu não sabia que ela
ia te pedir. Ela nunca pede a qualquer um. Ela vem até a porta para recolher as entregas,
mas ela não deixa as pessoas entrarem, com exceção de mim e seu terapeuta. Ela nem
mesmo me permite contratar qualquer pessoal doméstico. – Uau, ele quase parecia
chateado. Foi um pouco chocante, já que ele sempre foi tão suave e recomposto no
escritório.
– Olha, King, isso não é da minha conta. Eu sei que deve ser difícil ter um
membro da família que...
Ha! Essa foi uma risada. Eu estava um pouco julgadora às vezes. Basta perguntar
a Karla.
46
Página
– Huh, – foi a minha única resposta.
– Bem, – disse King, limpando a garganta. – É melhor eu deixar você ir. Vejo
você na parte da manhã.
– Sim, vejo você, – eu disse, e então desliguei.
Deixando cair meu telefone na minha mesa de cabeceira e certificando-me de
acionar o meu alarme, eu pensei que hoje tinha sido algo para os livros. Eu estava
exausta, e assim que eu fechei meus olhos, eu estava fora. No entanto, em meus sonhos,
as palavras de King pareciam ecoar: Você tem um calor sobre você, Alexis.
Eu descobri que eu meio que gostava do som disso.
47
Página
Seis
Na manhã seguinte, recebi outro telefonema de Eleanor informando-me que ela
não viria até depois do almoço, então eu era responsável pela rotina matinal
novamente. Desta vez, eu me senti mais preparada. Eu tinha o café da manhã de King e
seus jornais em sua mesa quando ele chegou. Uma vez que Gillian tinha lhe falado
através das próximas reuniões do dia, ele muito sutilmente sinalizou para eu vir para o
escritório. Isso despertou minha curiosidade.
Fechando a porta atrás de mim, eu andei até a janela enquanto King olhava o
jornal. Eu não tinha ideia do que ele queria falar, e ele não começou a falar
imediatamente.
Talvez ele se sentisse estranho sobre a coisa de ontem à noite com a mãe dele.
Olhando para fora e para a grande praça aberta além do prédio de escritórios, vi
um cara novo que trabalhava na banca que eu estava observando na manhã da minha
entrevista. Um par de clientes iam e vinham, mas era óbvio que já não havia qualquer
negociação em curso.
King ainda estava lendo quando eu disse: – Você sabe que há um novo rapaz
trabalhando na banca lá fora?
O canto de sua boca formou um sorriso antes de ele se virar em sua cadeira,
segurando uma caneta na boca enquanto me considerava. – Alguma coisa passa por
você?
Dei-lhe um sorriso cheio de dentes. – Muito pouco.
Ele meio que suspirei, meio que ri quando ele voltou para sua mesa. – Eu
procurei por o outro cara depois que você o mencionou. Acontece que você estava certa.
Ele estava vendendo droga, então eu me livrei dele – Ele fez uma pausa, deixando
escapar uma risada irônica. – Aparentemente, ele era bem conhecido pelos comerciantes
por aqui, passava pelo nome de Bernie Black.
Fiquei impressionada que King tinha o tipo de atração que ele poderia conseguir
afastar o cara com essa facilidade. Quero dizer, ele estava lidando obviamente com
alguém de cima, e esta área teria sido altamente rentável. Finalmente, respondi: – Ele
disse às pessoas o seu nome? Isso é meio bobo.
Ele me olhou bruscamente. – Pense nisso, Alexis.
Eu pensei. Então percebi, e ri. – Ah, então Bernie como em cocaína, e Black
como em haxixe.
– Agora ela entendeu, – disse King com o tom de um professor paciente.
Eu estreitei meu olhar para ele. – Você conhece alguém no escritório que
comprou dele? Porque eles vão ficar putos quando descobrirem que ele se foi.
Os olhos glaciais dele se acenderam. – Há alguns que eu suspeito, mas vou ter
que lidar com isso. É um estilo de vida de um grande número de pessoas que vêm
trabalhar aqui. Se você é bom no que faz, você pode fazer uma enorme quantidade de
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Página
dinheiro em um piscar de olhos. Essas pessoas fazem esse dinheiro, e, de repente, eles
estão comprando carros caros, casas de luxo, e saindo todas as noites para comer
comida de preços exorbitantes. No entanto, como você disse ontem, manter-se com esse
estilo de vida e competir por todo este dinheiro é também uma grande parte
disso. Competição é igual a stress, e quando se está estressado, os seres humanos
procuram uma maneira de resolvê-lo. Uma das principais saídas para o alívio do
estresse são drogas. Portanto, a cidade é um grande mercado para os revendedores,
especialmente desde que as pessoas aqui têm mais do que dinheiro suficiente para pagar
o que eles querem. É um trabalho difícil manter o controle sobre quem está comprando
e onde, especialmente desde que eu estou sempre tão ocupado, então eu tenho que tenho
que te agradecer.
O calor em seu olhar me fez corar. – Não há de que. – O que ele disse me deixou
curiosa, e então eu continuei, – O que você faz para lidar com o stress?
Ele me deu um sorriso pálido, e havia algo em sua expressão que me pareceu
triste de alguma forma. Esfregando o queixo, ele respondeu: – Hmmm, quando estou
estressado... um bom copo de uísque normalmente faz o truque.
– Isso faz sentido, – eu disse, e andei em torno de sua mesa antes de me sentar na
frente dele. – Você sabe, eu sempre pensei que era gente pobre que usava drogas, para
escapar da desolação de suas realidades. Agora estou pensando que talvez a prática seja
mais comum na parte superior e na parte inferior da escada. Talvez o melhor lugar para
se estar é em algum lugar no meio.
– Não necessariamente. Eu estou no topo. Pareço drogado para você?
A maneira inexpressiva em que ele disse isso me fez rir. Eu me inclinei para
frente e brinquei: – Eu não tenho certeza. Deixe-me olhar suas pupilas. –
Surpreendendo-me, King levantou-se, caminhou ao redor da mesa, e chegou a se
ajoelhar na minha frente. Antes que eu percebesse, seu rosto estava a meras polegadas
do meu.
Tinha ficado mais quente aqui, de repente? Minha garganta estava se sentindo
anormalmente seca. – Bem, silicone é claramente um bom investimento, porque
convenhamos, a cirurgia plástica se torna mais e mais popular de ano para ano, e não
parece que vai desaparecer tão cedo. É a escolha segura, se você não levar em
consideração a possibilidade de uma substituição que está sendo criada que funcione
melhor. No entanto, o céu é o limite com a coisa de mídia social. Ele tem o potencial
para ir em qualquer lugar. E sim, é mais uma aposta, mas se for bem sucedido, as
recompensas podem ser enormes.
King se inclinou para frente, parecendo satisfeito. – Então, vamos dizer que você
é eu e eu sou o meu cliente. Entro e quero investir ou na mídia social ou no fabricante
do silicone. Você iria me aconselhar a ir para os meios de comunicação social?
Estreitando o meu olhar, eu assenti.
Ele sorriu. – Certo. Isso é tudo.
– É só isso?
– Eu tenho um dia muito agitado à frente, Alexis, mas eu espero vê-la na hora do
almoço para o nosso jogo de xadrez. – Sua demissão fácil me irritou, e eu senti como
ele estivesse sendo sorrateiro.
– King, isso era tudo hipotético, certo?
O olhar que ele me deu quando eu o chamava de ‘King’ deixou meus joelhos um
pouco fracos. Ele gostou claramente, e eu não tinha certeza se era porque eu
essencialmente lhe dei um apelido carinhoso, ou se ele só gostava de ser referido como
um governante todo-poderoso.
– E se não fosse?
– Sou apenas uma assistente. Eu sei praticamente nada sobre investimento. Você
não deveria estar usando o meu conselho em qualquer tipo de relações da vida real.
Agora eu tinha toda a sua atenção, e ele parecia irritado comigo. – Alexis, eu
ouvi mais inteligência de você em duas semanas do que eu tenho de algumas das
pessoas com quem trabalho em um ano inteiro. Nunca subestime o valor de suas
decisões.
Engoli em seco. Pisquei. Não podia acreditar no que estava ouvindo. Nunca em
um milhão de anos eu esperava que ele dissesse algo parecido. E então eu senti lágrimas
picarem meus olhos. Foi um grande elogio, e eu não estava acostumada a isso. Eu
precisava sair de lá antes que eu me envergonhasse. Não dizendo uma palavra, dei a ele
um aceno de cabeça, virou-me e sai da sala. Apesar do que eu tinha proclamado sobre
ter cérebros no final da minha entrevista, de repente eu percebi que quando era
relacionado a ele, eu realmente não acreditava que eu poderia fazer muito. O elogio de
King me mostrou que eu precisava religar seriamente a maneira que eu pensava de mim.
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Para as próximas duas horas, Gillian continuou me dando olhares furtivos. Ela
claramente queria saber o que King tinha falado comigo. Não contei nada. Não só a
mulher era uma flertadora, ela também era uma fofoqueira, e eu não queria ela se
espalhando rumores de mim recebendo tratamento preferencial do meu chefe. Não que
isso tinha sido particularmente preferencial, mas eu tenho a sensação de que ele não
costuma pedir à seus assistentes aconselhamento empresariais.
Era quase hora do almoço quando Gillian veio à minha mesa e colocou um
pequeno envelope branco na minha frente.
Quando minha hora de almoço veio, eu esperei até que Gillian tivesse deixado o
escritório para me dirigir para o banheiro de King. Ele não estava por perto, então eu
peguei meu sanduíche embalado e li meus e-mails pessoais, enquanto eu
esperava. Como eu fiz isso, um texto veio de Bradley. Ele tinha notícias sobre a sessão
de fotos, ele queria que eu fizesse. Em poucas palavras, ele tinha mostrado na casa de
moda algumas fotos minhas da minha página do Facebook. Eles gostaram do meu olhar
e me queriam para modelar. Tudo parecia tão glamoroso e emocionante. Eu estava
lendo através dos detalhes para a filmagem, que seria no sábado, quando a porta do
banheiro se abriu e King entrou.
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– Começou sem mim? – Ele perguntou, tirando o paletó para revelar uma camisa
branca perfeitamente passada por baixo. Eu realmente precisava parar de perceber essas
coisas sobre ele.
– Uh, sim, – eu disse, engolindo uma mordida enquanto ele cuidadosamente
colocava sua jaqueta sobre as costas da cadeira. – Eu não tinha certeza se você iria vir.
Ele arqueou uma sobrancelha e, em seguida, começou a desabotoar os punhos
das mangas da camisa antes de serem enroladas até seus braços. Eu não sabia por que
ele estava fazendo isso, uma vez que não estava particularmente quente aqui. E
realmente, eu desejava que ele não tivesse feito, porque eu não conseguia tirar os olhos
de seus antebraços. Eles eram... sim, muito agradáveis para se olhar. Ele parecia estar
escondendo algum tipo de satisfação quando ele acenou para o meu telefone.
Agora ele parecia cético. – Haverá outras mulheres por lá que se parecem com
você?
– Eu acho que sim...
– Acha? Não é estranho. Eu gosto de olhar para as mulheres, especialmente as
que estão interessadas em pênis, em vez de vaginas.
Eu não podia acreditar que ele apenas tinha dito isso. Eu também não poderia
resistir ao impulso de dar-lhe um susto. Olhando por cima do seu ombro, eu disse: – Oh,
oi, Gillian. Estava procurando por mim?
King instantaneamente empalideceu, e ele ficou completamente
imóvel. Comecei a rir quando ele se virou e encontrou a porta vazia. – Oh, meu Deus, o
olhar em seu rosto. Isso foi impagável!
– Foi cruel. – Ele fez uma careta para mim, mas eu podia ver o sorriso que ele
estava tentando de tudo para segurar.
– Bem feito por falar de pintos e vaginas no escritório. Eu aposto que você não
diz coisas desse tipo para Eleanor.
– Eleanor é velha o suficiente para ser minha mãe.
– E o que sou eu? Sem valor?
– Você, – disse King, voz baixa e rouca, – tem a idade perfeita para ouvir
palavras como essa.
Por instinto, eu lambi meus lábios, e seus olhos pararam sobre eles. Por que ele
dá tanta atenção aos pequenos detalhes? Era demais, e a fachada lésbica que eu estava
segurando estava lentamente começando a desmoronar. Se ele continuasse me dando
olharem assim, ele iria descobrir mais cedo ou mais tarde que eu estava mentindo,
porque a minha linguagem corporal praticamente gritava minha atração.
54
Página
Ele continuou olhando para mim, e eu sabia que ele estava esperando que eu
cedesse.
– Tudo bem, você pode vir, mas não incomode as outras modelos. Eu conheço
vocês dos tipos Cambridge. Cheio de fogo.
Ele riu. – Se por ‘cheio de fogo’ você quer dizer tenso e socialmente desajeitado,
então você nos conhece muito bem.
– Você está seriamente usando as palavras ‘tenso’ e ‘socialmente desajeitado’
para descrever a si mesmo? Porque se você for, você não está enganando ninguém.
King estalou. – Eu não estou falando de mim. Eu estou falando sobre o tipo de
pessoas com quem eu fui para a faculdade. Tive a sorte de nascer com o charme natural.
– Ele me deu um sorriso arrogante.
– Charme auto professado não é charme.
– Você me acha encantador.
– Isso é verdade. Eu acho quase tão encantador como uma comédia dos anos 80.
King riu alto em minhas palavras, estranhamente parecendo se divertir, e
começou a comer seu almoço enquanto olhava para o tabuleiro de xadrez.
– Então, vamos terminar este jogo ou o quê?
Nós terminamos.
E, desta vez, eu sai como vencedor. Nós estávamos em um empate.
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Página
Sete
Na manhã seguinte, entrei no escritório sentindo uma vibração estranha no
ar. Não demorou muito antes que eu descobri o motivo. Era aniversário de Johnson-
Pearse.
E não, isso não era aniversário como em aniversário. Isso era aniversário como
um Dia Bonus. Aparentemente, a banca de investimento, juntamente com a grande
maioria dos empregados no setor financeiro, orbitava em torno dos bônus anuais. E os
bônus eram anunciados no início de cada ano. Eu sempre li sobre esse tipo de coisa nos
jornais, onde os jornalistas de esquerda criticam os bancos para dar bônus exorbitantes
aos seus empregados, enquanto o resto do país sofria uma das piores recessões em
décadas. Eu tive que concordar com os jornalistas; era muito fodido. Isso ainda não
impediu que isso acontecesse, porém, e agora eu estava lá para testemunhar tudo isso
em primeira mão.
Logo se tornou evidente que todo mundo queria alcançar um bônus maior do que
aquele que tiveram no ano anterior, que foi responsável pela tensão nervosa. Ninguém
queria ter um bônus pequeno, porque isso significava que eles estavam perdendo no
jogo de fazer mais dinheiro do que todos os outros.
***
Eu não fui para o banheiro para o almoço naquele dia, nem eu no dia
seguinte. Em vez disso, eu comi meu sanduíche em um banco no exterior, de forma
intermitente olhando minhas mensagens e jogando pedaços de pão aos pombos. Eu
tinha quase esquecido que King e eu tivemos qualquer coisa que se assemelhava a uma
amizade até que ele se esgueirou para dentro do escritório na sexta-feira de manhã à
minha procura. E todo seu deleite presunçoso estava sendo firmemente dirigido a
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Página
mim. Ele disse que seus olás habituais tanto para Gillian e Eleanor, em seguida, veio
parar na minha frente, braços cruzados, um sorriso gigantesco no rosto.
– Você está parecendo particularmente adorável hoje, senhorita Clark, – disse ele
com um floreio.
Olhei para ele por um segundo, franzi a testa, e depois continuei a escrever. Qual
era o seu jogo? Eleanor se levantou de seu assento e foi usar o banheiro, e ainda assim
ele permaneceu de pé ali como um excêntrico completo e total, enquanto a voz de
Gillian falando ao telefone encheu a sala. Finalmente, eu cedi.
– Posso ajudar com alguma coisa?
– Eu poderia te beijar agora, – ele sorriu, e eu suspirou.
Ok. Tentando bancar a indiferente, eu respondi: – Por que exatamente?
Ele olhou para mim por tanto tempo que comecei a ficar desconfortável. Seu
sorriso, naturalmente desbotou, e agora sua expressão ficou séria. – Eu vou colocar um
bônus no pagamento do seu primeiro mês. Pense nisso como taxa de um consultor.
Agora eu estava franzindo a testa novamente. – Você não tem que fazer
isso. Sério, escolher a mídia em vez da outra empresa era apenas eu pensando em voz
alta. Arriscando uma suposição. Eu não fiz qualquer investigação. Eu poderia ter sido
completamente errada por tudo o que sabia.
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Página
King se aproximou mais. – Alexis, não me insulte. Eu conheço uma merda real
quando eu ouço uma. E o que você me deu foi ótimo.
Agora eu era a única a olhar para baixo. Eu decidi que não ia protestar mais,
porque, hey, se ele queria me dar um monte de dinheiro para o meu conselho, eu não
iria enrugar o meu nariz para ele. Talvez eu pudesse usar isso para eu e Karla darmos
uma pequena pausa de fim de semana ou algo assim.
***
Bradley: Não use qualquer maquiagem. Vai ser feito na sessão. Mal posso
esperar para vê-la. Beijos <3
Alexis: Está tudo bem se eu trouxer um amigo?
Bradley: Karla quer vir?
Alexis: Não, ela está trabalhando. Alguém.
Bradley: Um menino?
Alexis: Talvez.
Bradley: Envie-me uma foto e então eu vou decidir :-D
Alexis: Cai fora.
Bradley: Tá bom. Eu só vou ter que esperar e admirar. Se ele parecer qualquer
coisa como o último, então eu prevejo que vou me surpreender.
Alexis: Ele não é um namorado. Apenas um amigo.
Bradley: Ooooh. Entendo. Cavalheiro de um cavalheiro?
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Alexis: Desculpe desapontá-lo, mas não. Cavalheiro de uma senhora por
completo.
Bradley: Às vezes eu acho que você pode me odiar.
Alexis: Lol. Até logo.
Bradley: Tanto faz.
Na manhã de sábado, King insistiu me levar com o seu carro para a sessão de
fotos. Eu lhe disse que iria pegar o táxi e encontrá-lo lá, mas ele não aceitou um não
como resposta. Para ser honesta, eu realmente não queria que ele me buscasse. Eu
odiava admitir isso, mas eu estava envergonhada por onde eu morava. Sim, ele estava
ciente de que eu não tinha exatamente nascido em um berço de ouro, mas o pensamento
de King realmente vendo a realidade da minha vida me fez suar frio. Eu duvidava que
ele já tinha posto os pés em um edifício como o meu em sua vida. Isso ia ser um
despertar rude quando visse o graffiti, o bloco cinza de desespero em que eu morava.
Cedendo, eu mandei uma mensagem para ele com o meu endereço, esperando
que ele ligasse quando ele estivesse lá embaixo. Isso não foi o que aconteceu. Oh, não,
Oliver King subiu os muitos lances de escada até meu apartamento e bateu bem na
minha porta. Karla estava no trabalho, e eu estava apenas puxando uma blusa quando
ouvi o bater. Orando para que fosse um dos meus vizinhos vindo pedir um favor, eu fiz
o meu caminho até a porta e espiei pelo olho mágico. E há em toda a sua glória sexy
estava meu chefe. Deixei escapar um longo suspiro e bati minha cabeça contra o painel
de metal.
Bem, ele já tinha visto o pior de tudo agora. Não havia nenhum ponto em recusar
a deixá-lo entrar. Abri a porta e dei um passo para trás, olhando sua
aparência. Ele teve um grande efeito em mim. Ele não estava usando seu habitual terno
equipado. Não, hoje ele usava uma jaqueta casual preta, uma camiseta cinza por baixo,
jeans e um par de botas Caterpillar. Eu juro que tive que resistir conscientemente a
vontade de desmaiar. Seu cabelo estava desgrenhado casualmente com um pouco de gel,
e vendo-o vestido como um cara normal, me chamou atenção. Ele se parecia com
alguém que eu pudesse conversar em um bar.
Recuperando o fôlego, eu o cumprimentei. – Ei, você não tinha que vir todo o
caminho até aqui, mas entre.
Passando pelo limiar, King olhou para o meu pequeno, mas arrumado lugar antes
de trazer sua atenção para mim. – Bom dia, Alexis. Eu encontrei um casal de jovens na
escada. – Ele parecia um pouco nervoso, e isso me fez sorrir.
– Oh, sim, o que eles disseram?
Com a testa franzida. – Eu não tenho certeza se vale a pena repetir.
Eu bufei. – Sim, eu posso imaginar. Eu só tenho que jogar algumas coisas na
minha bolsa, mas fique à vontade. Volto em um minuto, – eu disse, e entrei no meu
quarto para empurrar o meu telefone e carteira na minha bolsa. Eu estava usando um par
de calças pretas, uma velha camiseta, e um casaco roxo longo. Oh, e sem maquiagem,
como solicitado pelo Bradley. Eu não me preocupei em me vestir muito bem por duas
razões. Um: eu seria arrumada na sessão. E dois: eu não queria King olhando para mim
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Página
mais do que ele já fazia. Quer dizer, o homem achava que eu era lésbica, e ele ainda
queria sair.
Talvez fosse minha personalidade brilhante.
Heh.
Voltando à sala de estar, eu encontrei King sentado no sofá, folheando uma
imagem de mim e minha família. A visão de toda a sua beleza masculina na minha sala
muito comum me atingiu como uma pancada no peito. Ele era um homem
impressionante, porra, e eu estava praticamente condenada a cobiçá-lo para o futuro
previsível.
– Eu estou pronta. Vamos pegar a estrada, Jack.
Seus olhos vieram aos meus. – Sua família?
– Me deixe terminar.
– Tudo bem, – Eu bufei.
– Em segundo lugar, não, eu normalmente não faço amizade com meus
assistentes. Na verdade, eu nunca tinha planejado fazer amizade com você. Isso
simplesmente aconteceu. Eu gosto de você. Você me faz rir. E você é diferente das
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Página
outras pessoas que eu conheço. Ter você por perto faz o dia um pouco mais
interessante. Gosto da espontaneidade de não saber muito bem o que você vai fazer. –
Ele parou de rir suavemente. – E em terceiro lugar, não, não é contra as regras. Eu sou
livre para ser amigo de quem eu escolher, empregado ou não. – Ele ficou em silêncio,
em seguida, e eu me virei para ver por que ele parou de falar.
Seus olhos pareciam... aquecidos.
Agora, ele sussurrou, sua respiração beijando meu ouvido: – Se eu fosse transar
com você, seria desaprovado, mas ainda não estaria quebrando as regras. Eu não sou seu
professor ou professor universitário, Alexis.
63
Página
Oito
Oh. Meu. Deus. Eu senti como se tivesse perdido momentaneamente a
capacidade de falar. Que diabos ele estava fazendo? Quer dizer, o motorista estava
sentado em frente de nós. Ele não mostrou quaisquer sinais de ter ouvido King, mas
mesmo assim. Eu acho que eu me tornei meio histérica quando eu sacudiu um dedo para
ele. – Você tem o equipamento errado para mim, lembra?
Jesus, era mesmo a minha voz? Eu parecia estridente demais.
Ele ficou em silêncio por um momento, e quando ele respondeu, sua voz era
baixa e calma: – Oh, sim, como eu poderia esquecer?
Agora, ele olhou pela janela, braços cruzados sobre o peito. Esta foi a viagem de
carro mais estranha e frustamente sexual da minha vida. Foi um alívio quando
finalmente chegamos ao local da sessão de fotos, um edifício de armazém em
Shoreditch. King saiu primeiro e deu a volta para a frente do carro, inclinando-se e
falando com o motorista através da janela. O homem concordou e foi embora depois de
eu ter saído também.
King olhou para mim e fez um gesto que eu deveria seguir. Eu dei alguns passos
até o interfone e apertei o botão para entrar. Uma voz feminina respondeu, e um
segundo depois estávamos entrando. King estava quieto enquanto nós subimos as
escadas para o estúdio. Eu estava morrendo de vontade de saber o que ele estava
pensando. Ele ia falar sobre o que aconteceu no carro? Quero dizer, ele muitas vezes
flertou, mas nunca foi lascivo, a não ser é claro quando estávamos trocando piadas
sujas. Mas não havia nada bem-humorado sobre o que ele me disse no caminho.
Quando chegamos ao primeiro andar, encontramos o lugar uma enxurrada de
atividades. Havia estações de maquiagem de um lado da sala grande e aberta, e, do
outro lado, estavam prateleiras sobre prateleiras de roupas. Algumas garotas tinham
seus rostos feitos por artistas de maquiagem, e outras estavam com estilistas lhe
entregando roupas para vestir. Música tocava nos alto-falantes postos nos cantos do
teto, e perto das janelas estavam panos brancos, pretos e vermelhos, onde as fotos
estavam sendo tiradas.
– King.
– Sim, Alexis?
– Isso é o suficiente de tocar.
Sua mão parou quando aterrou logo acima da minha bunda. Ele ignorou o meu
comentário e perguntou: – Para que você queria Bradley?
Virei-me, quebrando o contato, e fiz um gesto para a minha região torácica. – As
meninas não podem respirar nessa geringonça infernal.
King riu com ternura. – Bem, elas parecem fantásticas.
– O quê?
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Página
– Cérebros3.
Eu bufei.
3
Aqui ele tinha falado a palavra com B (que pra gente pode ser boceta), mas ele brincou, porque
cérebro é brain, que começa com B, e ela ficou confusa por um instante. (N.T)
68
Página
senso de humor, e eu ri quando ele começou a tentar explicar a uma modelo a diferença
entre feroz e ardente.
– Para arder, você tem que combinar um olhar sutil com um olhar estreito. Para
parecer feroz, você precisa colocar as mãos nos quadris e olhar para mim como se você
quisesse me foder e ser a única por cima.
Eu não tinha certeza do que era mais engraçado, o olhar de choque no rosto da
modelo ou a ideia de Bradley deixando uma mulher montá-lo. Ele me pegou rindo e me
deu uma carranca brincalhona, antes de ir para trás da câmera, tirando fotos e dando
ordens para as pessoas. Duas mudanças de roupas depois, avistei King novamente. Eu
estava meio que surpresa que ele ainda estava lá, porque, mesmo se houvesse mulher
atraente e tal, isso não poderia ter sido muito divertido para ele.
E tudo bem, talvez eu tivesse estado desejando que ele se cansasse e fosse
embora. Isso significaria que eu iria ficar para evitar a volta pra casa e a possibilidade
de ele trazer a tona o que ele tinha dito anteriormente. Ele realmente estava em uma
missão para empurrar meus limites hoje.
A roupa que eu atualmente usava era muito mais confortável do que a
primeira. Era um colete branco liso sob uma camisa creme com um par de jeans rasgado
pálido. Estilo casual. Bradley anunciou que estávamos tendo um intervalo de quinze
minutos, o que foi um alívio, porque eu estava morrendo de fome. Evitei procurar King
e fui comer. Pegando um prato, eu carreguei com sanduíches e peguei uma garrafa de
água. Então eu vaguei para o canto do estúdio, me sentei no parapeito da janela e
comecei a comer.
– Alexis. – Eu ouvi King dizer o meu nome antes de ele vir e sentar na minha
frente, perto o suficiente para que eu pudesse cheirar seu perfume.
– Oh, oi, – eu disse, recusando-me a fazer contato visual. Ainda bem que eu
tinha a janela para olhar.
Eu estava prestes a começar o meu segundo sanduíche quando ele pegou meu
pulso. – Eu preciso me desculpar por como falei antes? Se sim, diga-me, e eu vou. Eu
não quero colocar em risco a nossa amizade.
Agora eu finalmente olhei para ele, inclinando minha cabeça enquanto eu
considerava suas palavras. – Você sente como se você devesse pedir desculpas?
Ele se aproximou, o joelho batendo contra o meu. – Eu só disse o que eu estava
pensando. Eu te disse antes que tato não era o meu forte.
Deixei escapar um suspiro. – Está bem. Apenas tente não ser tão... insistente no
futuro.
– Como quiser, – disse King, estendendo a mão para mim. Ele era tão estranho,
mas eu aceitei de qualquer maneira, tentando ignorar o quanto eu gostava da sensação
de sua mão na minha. Um silêncio decorreu, e eu percebi que ele não tinha pego nada
para comer.
– Você quer compartilhar isso? – Perguntei, apontando para o meu prato, no que
consegui colocar muitos sanduíches. – Eu não vou comer todos. Meus olhos são
maiores do que a minha barriga.
69
Página
King me deu um sorriso lento, em seguida, estendeu a mão para um. –
Obrigado. É muito generoso de sua parte oferecer.
Deus, eu amava como ele falava algumas vezes. Era como se eu fechasse meus
olhos, eu quase podia fingir que estava com Mr. Darcy. Nós sentamos e conversamos
enquanto comíamos até que me dei conta de uma terceira presença. Virando a cabeça, vi
Bradley de pé a poucos metros de distância, uma câmera em seu rosto enquanto ele
tirava fotos de King e eu.
– O que você está fazendo? – Eu chamei, e ele parou de tirar fotos, baixando a
câmera e caminhando em nossa direção. King sentou ao meu lado, observando
silenciosamente.
– Vocês dois são ótimos juntos, – Bradley jorrou antes de empurrar a câmera
para mim. – Aqui, dê uma olhada. – Fiz o que ele disse e folheei as fotos mais
recentes. Era eu e King de vários ângulos, conversando e rindo. Nós parecíamos tão... à
vontade um com o outro. E wow, King realmente ficava bem em fotos. Ele poderia
passar como um modelo. E depois Bradley quase ecoou meus pensamentos quando ele
olhou para King.
– Como você se sente sobre estar em algumas fotos? Podemos pagar pelo seu
tempo, é claro. Vamos fazer uma linha masculina, e ainda existem algumas roupas que
sobraram do set de ontem.
King olhou para ele, em silêncio por um longo momento antes de perguntar: –
Alexis vai estar nas fotos comigo?
– Claro! – Exclamou Bradley. – Essa é a principal razão pela qual eu quero que
você faça isso. Vocês dois ficam surpreendentes em fotos. – Agora ele pegou a câmera
de mim e entregou para King, que imediatamente passou através das fotos. Ele não
disse nada por um minuto, sua expressão pensativa enquanto ele olhava. Eu não tinha
ideia do que ele ia dizer quando ele finalmente entregou a câmera de volta para Bradley.
– Eu vou fazer isso.
– O que?! – Eu gritei.
– Ótimo! – Exclamou Bradley. Ele já estava correndo para encontrar uma roupa
para King quando me virei para o meu patrão. – Você vai modelar? Sério? E se alguém
que você conhece acabar vendo as fotos?
Ele deu um pequeno encolher de ombros e olhou para mim. – O que eu faço no
meu tempo livre é da minha conta.
Eu estreitei meu olhar para ele, sentindo como se ele estivesse aprontando
alguma coisa, mas eu não tinha certeza do que. Um minuto depois, Bradley estava de
volta, segurando nada além de um par de jeans azul pálido. Eles tinham rasgos nos
joelhos e eram quase uma réplica exata da minha, exceto que eles eram uma versão
masculina.
– Aqui está, – ele chiou, e entregou o jeans a King.
Eu fiquei boquiaberta e apontei. – Isso não é um conjunto. Esse é um item. Onde
está a camisa?
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Agora Bradley balançou a testa. – Ele não vai estar vestindo uma.
Para seu crédito, King não abriu a boca. Na verdade, ele riu enquanto balançava
a cabeça.
– Oh, vamos lá, – eu protestei. – Você não pode estar falando sério. Isso é sessão
de moda, e não uma... uma sessão de sexo.
– Oooh, – Bradley cantarolou precocemente, – quero me inscrever para um
desses. E você esqueceu, minha querida Lexie, que o sexo vende. – Ele me beliscou no
nariz, e eu fiz uma carranca.
Bradley me lançou um olhar confuso, obviamente, não entendendo porque
estava descontente. De repente percebi que eu estava discutindo sobre ter que ver Oliver
King sem camisa. Sim, eu não entendia, tampouco. Apertando minha boca fechada, eu
deixei o meu amigo dar as instruções.
Antes que eu percebesse, o resto dos modelos estavam tomando uma pausa
prolongada e era só eu, King, Bradley, e um punhado de outras pessoas que ficaram no
estúdio. King foi atrás de uma das telas de privacidade acima mencionada para se trocar,
Bradley dizendo a ele para tirar os sapatos e as meias também. Então ele disse-me para
fazer o mesmo.
Bom Deus.
No que eu estava me metendo? Não demorou muito para que uma fantasia
tivesse tomado conta. King surgiu em jeans e nada mais, e eu praticamente me
engasguei com a minha própria língua. Meu chefe era tonificado. Até mesmo seus pés
descalços eram bonitos. Tinha ombros largos, lindos gominhos e abs definido, e um ‘V’
de morrer. Para não mencionar sua cor natural. Ele tinha um corpo ainda melhor do que
o meu ex, Stu, e eu sabia que ele tinha que ser um daqueles malucos por saúde
irritantemente presunçoso que se levantava às quatro da manhã apenas para se exercitar.
Sim, era isso. Eu precisava manter o foco na presunção vã de alguém que
malhava tão duro, em vez do fato de que isso me fez querer rastejar em cima dele. O
problema era que ele não parecia convencido. King usava uma expressão que era
tudo, Aqui estou, me leve ou me deixe, que só funcionou para deixá-lo ainda mais
irresistível.
Pegue ele, alguma parte profunda e feminina me implorou.
Notei Bradley olhando para King com quase exatamente a mesma maneira que
eu estava. Mordendo o lábio, ele murmurou baixinho, – Oh, nós vamos vender uma
quantidade séria de jeans depois disso.
Eu atirei a ele um olhar cínico. Me ajeitei um pouco e eu fui para ficar ao lado de
meu chefe, silenciosa e à espera de novas instruções.
– Oliver, – disse Bradley, – sente-se na cadeira. Alexis, eu quero você em seu
colo. Aja naturalmente. Tente me dar essa vibe que ambos tiveram anteriormente
quando você não sabia que eu estava tirando fotos. Eu quero que vocês parecendo um
casal real. Completamente apaixonados. Entenderam?
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Whoa, eh, ok. Eu estava apaixonada pelo abs do homem, se isso ajudava. King
caminhou até a cadeira como se fosse dono do lugar e sentou-se enquanto seus olhos
encontravam os meus. Aqueles olhos estavam comandando, sua cor gelada capturou a
luz enquanto ela brilhava através da janela. Esses era olhos pecaminosos, e eu tinha a
sensação de que ele iria apreciar isso. Ele iria apreciar muito. Reunindo minha falsa
confiança, eu andei até a cadeira e timidamente me abaixei em seu colo. Minhas mãos
instintivamente foram para seus ombros para me equilibrar, e sua mão roçou meu
quadril.
Nossos olhos se encontraram, e eu respirei fundo. Eu estava muito perto do rosto
de Oliver King mais uma vez, e eu não podia desviar o olhar.
– Oi, – eu disse, tentando o meu melhor para não soar estranha.
– Isso não funciona, a menos que você esteja olhando para ele, Lexie.
Sem outra escolha, eu levantei meu olhar. Meus olhos se encontraram com King,
e seu profundo olhar me segurou. Um dos meus joelhos estava doendo um pouco
quando eu levantei meu peso. Eu me ajustei e foi aí que eu o senti.
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Ele estava duro.
Eu engasguei em voz baixa, mas King foi o único a ouvir. Eu não sabia o que
dizer. Quer dizer, como é que uma lésbica reagiria tendo um pau duro contra
ela? Talvez ela não se importaria. O problema era que eu me importava, e embora eu
tenha tentado de tudo para ignorá-lo, meu corpo traidor tinha outras ideias. O ponto
entre as minhas coxas doíam, e involuntariamente meu tronco moveu pela menor
fração. Uma deliciosa pressão seguiu. Deus, isso era bom. E então eu estava
molhada. Tão molhada.
King não deixou de notar. Com a testa franzida, seu olhar concentrado enquanto
eu tentava não deixá-lo ver o tumulto dentro de mim. Parecia que uma eternidade tinha
passado, um milhão de perguntas em seus olhos que eu não sabia como
responder. Então aqueles olhos me deixaram, e eu senti um lampejo de alívio. Não
durou muito tempo, porque quando vi onde sua atenção havia se mudado, meu coração
queria bater para fora do meu peito. Ele estava olhando para os meus mamilos, meus
mamilos que estavam quase tão duros como seu pau.
Ele se aproximou, seus lábios na minha orelha de novo, enquanto eu sentia cada
músculo do seu corpo ficar tenso. Suas palavras foram letais. Elas mantinham partes
iguais de raiva, triunfo e satisfação quando ele sussurrou, – Porra eu sabia.
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Sutilmente, ele moveu seus quadris, seu pau duro levemente empurrando contra
mim quando ele soltou o mais ínfimo grunhido masculino. Isso era delicioso, e por um
momento eu esqueci que eu sem mesmo eu ter dito uma palavra, meu corpo tinha me
traído.
O gato estava muito fora do saco... ou devo dizer, a lésbica falsa estava fora do
armário.
– Oh, isso é fabuloso! Ok, vocês podem se levantar. Quero algumas fotos de
vocês em pé ao lado da janela. Oliver, você fica atrás de Lexie. Coloque seus braços em
torno dela e, não sei, acaricie sua orelha ou algo assim.
– Você não é gay, não é? Você sabe que eu valorizo a honestidade, então por que
você mentiu?
Eu senti a ponta do seu nariz contra a parte de trás da minha orelha, me
aninhando como Bradley lhe pediu para fazer. Minha respiração gaguejou; meu coração
martelando. Uau. Sua mão foi para minha barriga, seus dedos apenas mal deslizando
sob a barra do meu colete. Eu tive arrepios em todos os lugares.
– Eu não estava tentando intencionalmente ser desonesta com você. Era para ser
uma piada, mas depois você pensou que eu estava falando sério, e meio que ficou fora
de controle. Eu não sabia como contar a verdade.
Sua mão moveu uma fração para baixo, seus dedos cavando com força na parte
macia do meu ventre. – Você aceitar algo tipo assim: eu menti, King. Na verdade, não
só não sou uma lésbica, mas eu também acho você gostoso.
– Pouco arrogante? – Minhas palavras saíram estranhas e agitadas.
Ele não disse nada, mas eu poderia dizer que ele estava sorrindo.
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– Ok, – disse Bradley. – Vire-se, Lexie. Coloque seus braços em volta do
pescoço de Oliver e olhe para ele. Faça-me acreditar que você está apaixonada.
Oh, caramba.
Quando me virei, meus seios escovaram o torso de King e ouvi sua respiração se
aprofundar. Como diabos os modelos profissionais fazem isso todos os dias? Talvez eu
fosse mais sexual que a pessoa média, porque cada toque deixava minha mente correndo
para coisas sujas e lugares proibidos.
Estendi a mão, deslizei os braços em volta do seu pescoço, e enganchei os dedos
juntos. Meu peito estava alinhado com o dele, mas desta forma eu não conseguia dizer
se ele ainda tinha uma ereção. Talvez fosse melhor.
– Você realmente me fez acreditar em você por um tempo, – disse ele
calmamente.
– Você está bravo? – Perguntei, desesperada para saber.
– Ah, certo, sim está bem, – eu murmurei, entrando, a pele formigando onde sua
mão segurou meu cotovelo.
Já estava escuro lá fora, e eu estava exausta depois de passar o dia inteiro no
estúdio. Eu acho que King deve ter me visto piscando os olhos para tentar ficar
acordada, porque ele murmurou: – Venha aqui. – Sua voz tinha ficado macio, macia. E
enquanto ele segurava o braço para fora, eu não pude resistir em me lançar sobre ele e
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descansar minha cabeça em seu ombro. Ele acariciou meu braço enquanto o motorista
ligava o motor e ia embora do estúdio.
– Você está exausta, – disse King, e meu Deus, eu nunca tinha ouvido soar assim
antes. Eu tinha o ouvido ser rigoroso. Eu tinha ouvido ele brincar. Eu o ouvi
profissional de negócios. Mas eu nunca tinha ouvido ele assim. Eu realmente gostei de
ouvi-lo sexy assim. Era quase como se agora que ele sabia que eu estava em jogo,
algum tipo de parede tinha descido entre nós.
Um longo suspiro escapou antes de ele dizer, – Nós estamos em uma espécie de
contrariedade, amor.
Virei o rosto para olhar para ele. – Estamos?
Estendendo a mão, ele acariciou minha bochecha com as costas da mão. – Sim,
minha querida, porque eu quero muito te foder.
Eu inalei bruscamente à sua admissão, mas ele continuou falando antes que eu
pudesse dizer qualquer coisa.
– Na verdade, eu me pego pensando muito sobre isso. Mas eu não fodo minhas
assistentes. Eu nunca quis. E o problema é que eu te valorizo muito mais como uma
empregada e uma amiga que eu nunca verei isso como uma conquista.
Eu fiquei um pouco rígida enquanto eu o ouvia falar, mas não podia deixar de
soltar uma risada. – Conquista?
– Amor e romance não são coisas que entram em minha mente muito
frequentemente. Eles são muito... demorados, e eu já tenho tão pouco tempo. Eu
desfruto da companhia das mulheres em muitas maneiras diferentes, mas eu não tenho
espaço na minha vida para um parceiro real. Isso tem me segurado.
– Ok.
– Quando você me disse que era gay, eu fiquei reconhecidamente
decepcionada. No entanto, eu também estava aliviado, porque significava que nada
poderia acontecer entre nós. Mas agora que eu descobri que você não é, eu comecei a
querer coisas que eu não deveria. – Ele parou para me dar um olhar ardente. – Tocar
você hoje, estar perto de você, tem sido mais excitante do que qualquer outra coisa que
me lembro. É uma sensação inebriante encontrar alguém que você é altamente
sintonizado, não é?
Tudo o que eu podia fazer era engolir e acenar.
– E então, – ele continuou, – aqui está a nossa situação. Se eu te foder, eu vou
querer continuar fazendo isso, e eu não tenho tempo para continuar fazendo isso. Cristo,
até mesmo vir aqui hoje foi um pedaço enorme de tempo que eu normalmente gasto
trabalhando. – Ele parou e correu os dedos pelos cabelos. – Eu poderia me perder dentro
de uma mulher como você, Alexis. – Ele fez uma pausa antes de resmungar em voz
baixa, quase distraidamente, – E eu temo, que se eu te fizesse minha rainha, eu já não
vou poder ser um rei.
Eu fiz uma careta para ele, sussurrando: – Há muitas maneiras diferentes de ser
um rei, Oliver. – Foi uma das poucas vezes que eu o chamei pelo seu nome, e
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acrescentou uma ternura para o momento que eu sabia que ele não esperava. O olhar
que ele me deu me disse isso. Mas, realmente, eu me senti um pouco triste por ele. Ele
estava tão concentrado em conseguir, no vencimento, que ele nunca teria tempo para o
amor. Isso foi triste.
– Isso é verdade, mas a minha vida, é, bem, ela sempre foi de uma certa maneira,
e eu tenho medo de que essa possa ser a única maneira que eu sei de como ter sucesso.
Eu não sabia o que dizer, então eu não disse nada. Nossa jornada progredia, e
nós só estávamos a um par de minutos do meu apartamento quando King começou a
falar novamente.
– Você tem uma presença viciante que eu não quero desistir, então eu proponho
que é melhor tentarmos não nos tocar. Eu acho que o toque, para nós, é o lugar onde a
tentação se encontra.
Eu gemi e rolei para longe dele, cobrindo o rosto com a mão. – O que é tentador
é quando você fala assim.
Olhando para ele através dos meus dedos, eu o vi morder os lábios e me lançar
um olhar. – Talvez só uma vez... – Ele parou, afastando o pensamento. – Não, isso é
uma má ideia.
Ele olhou.
Eu inalei.
Ele apertou a mandíbula.
– Vejo você na segunda-feira então, – ele disse com esforço.
– Sim. – Eu assenti. – Segunda-feira. Certo.
Sua mão subiu para a minha bochecha em um tipo macio e desesperado de
carícia. – Durma bem, Alexis.
Finalmente ele se virou e saiu, e eu senti cada metro de distância, como se um
cabo fosse estirado entre nós. Abrindo a porta, ouvi Karla proferir um tranquilo ‘porra’
e a encontrei com uma mão na testa.
– Dê a sua colega de apartamento intrometida algum aviso antes de abrir a porta
da próxima vez, – ela reclamou. Ela claramente tinha estado nos espionando através do
olho mágico e levou uma portada na testa no processo. Eu ri, e ela me atirou uma
carranca.
– Aquele homem é bonito, Lexie, – ela suspirou, como se fosse uma coisa
ruim. Eu definitivamente sabia onde ela estava querendo chegar. Belos chefes que
queriam ser seu amigo eram uma coisa muito ruim.
– Diga-me tudo o que aconteceu hoje, – insistiu ela, estatelando-se no sofá,
parecendo acolhedora em seus pijamas azuis. Eu sorri e fui me juntar a ela.
– Ok, então em primeiro lugar, eu não tenho certeza se quero matar Bradley ou
enviar a ele um presente de aniversário antecipado.
Karla riu. – Oh, meu Deus, isso vai ser bom. Eu já posso dizer.
Eu já tinha mencionado o quanto eu realmente, realmente amava essa
garota? Ficando confortável, eu contei tudo a ela. E quando eu terminei, ela jogou um
cobertor sobre mim, porque eu já tinha adormecido.
* **
Eu não sabia como lidar com o drama de pessoas elegantes. Se algo assim fosse
acontecer em casa, por exemplo, se uma mulher estava com ciúmes de outra, seria
bolsas para o lado, brincos para fora, e uma sessão de puxar cabelo. Mas aqui, neste
ambiente profissional habitada pelos ricos e privilegiados, era tudo olhares estreitos,
comentários passivo-agressivos e raiva reprimida.
Eu estava praticamente estourando com a necessidade de simplesmente
gritar: Não há nada acontecendo! Porque isso é o que eu faria em qualquer outro
ambiente, mas não aqui. Aqui o meu emprego estava em jogo. Logo a reunião chegou
ao fim, e eu pedi licença para ir ao banheiro. Eu tinha acabado de deixar o box e fui
lavar as mãos quando a porta se abriu e Mila Rhodes entrou.
Oh, puta que...
– Olá, Alexis, – disse ela, se aproximando e colocando sua bolsa ao lado da
pia. Eu balancei a cabeça em olá para ela e desliguei a torneira, ela tirou um tubo de
brilho labial e começou a passar em toda a sua boca em forma de coração. Ela era uma
coisinha pequena, pelo menos alguns centímetros mais baixa do que eu, e extremamente
bonita. Ela tinha um daqueles rostos de bonecas, que sempre parecia jovem, não importa
a idade da pessoa.
Eu tinha acabado de sair quando Mila perguntou descaradamente: – Você está
trepando com ele?
Uai. Talvez esses tipos finos não fazem rodeios, afinal.
Absorvendo suas palavras, eu não podia dizer se isso foi um alerta ou se ela
estava pensando em voz alta. No entanto, eu dei a ela um aceno sóbrio. Deixando Mila
no banheiro feminino, eu fiz o meu caminho de volta para o escritório de King, com a
intenção de ter uma conversa séria com ele sobre sua ex. No entanto, quando cheguei na
porta do escritório eu parei, porque uma mulher de aparência estranha estava de
saída. Ela provavelmente estava na casa dos cinquenta, tinha tingido o cabelo de
vermelho, e roupas que me fizeram lembrar de uma cigana.
– Oh, oi, – eu disse, dando um passo para trás para deixá-la passar.
Ela só me deu um sorriso ambíguo antes de continuar seu caminho. ‘Estranha’
não chegava nem perto. Eu nunca tinha visto uma mulher assim por aqui
antes. Sacudindo a estranheza, fiquei cheia de determinação para enfrentar King sobre
Mila. Isso foi até que eu entrei na sala e o vi sentado no sofá perto da janela, uma
garrafa aberta de Macallan na frente dele. Ele derramou um pouco em um copo, bebeu
de uma só vez, e depois repetiu o processo. Tudo o que eu tinha planejado dizer
imediatamente fugiu da minha mente quando preocupação tomou o seu lugar. Eu o vi
beber no trabalho antes, mas não assim. A garrafa estava mais do que meio vazia, e eu
sabia que tinha estado cheia quando eu tinha visto ela no gabinete naquela manhã.
Música de piano estava tocando, algo clássico, mas era baixo o suficiente para
que você não fosse capaz de ouvi-lo do lado de fora do escritório. Eu reconheci-o como
a mesma peça que ele tinha colocado para tocar quando eu tinha visitado seu
apartamento. Lembranças daquela noite entraram em minha mente, o quão absorto ele
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Página
tinha sido, completamente inconsciente da minha presença, e quão bela sua música soou
aos meus ouvidos. Silenciosamente, eu sentei do outro lado do sofá e olhei para ele. Ele
não olhou para mim, apenas focou na bebida em seu copo.
– Aconteceu alguma coisa? – Eu perguntei hesitante.
Olhei para ele, este homem que a princípio parecia tão recomposto e no
controle. Quando eu olhei para ele agora, ele pareceu vulnerável. Ele mostrou o quanto
ele se importava com sua mãe. Imaginei que talvez ela fosse a única família que ele
tinha. Ele definitivamente nunca tinha mencionado um pai ou irmãos ou irmãs.
Eu estava tão perdida em estudá-lo que eu quase não percebi quando sua mão foi
para o meu joelho. Olhei para baixo, em seguida, de volta para seus olhos, que pareciam
estar me implorando para o conforto. Deus, como aqueles olhos me deixavam
fraca. Eles me fizeram querer dar a ele qualquer coisa que ele poderia pensar em pedir.
– King, – eu disse, um aviso silencioso.
Ele não respirava uma palavra, apenas apertou meu joelho e se inclinou para
mais perto. Sua mão começou a se mover para cima da minha coxa, lento e
tortuoso. Cada cabelo no meu corpo ficou em pé quando eu inalei seu perfume fresco
misturado com o cheiro forte de uísque. Era uma mistura inebriante, e eu não tinha
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palavras. Não havia frases engraçadas ou comentários sarcásticos para acalmar a
situação.
Eu não tinha nada, e Oliver King estava empurrando um limite que eu era
impotente para defender.
Eu não vi King pelo resto do dia, nem vi muito dele nos dias seguintes. Saí com
Eleanor e Gillian para o almoço e evitei nossos jogos de xadrez estranhos no
banheiro. Ele nunca me perguntou se eu estava evitando ele, o que foi um alívio. E
depois de um tempo, se tornou mais fácil se concentrar simplesmente em ser boa no
meu trabalho, ao invés de cultivar uma amizade surreal com o meu chefe.
Quando foi finalmente o último dia de Eleanor, Gillian e eu nos juntamos para
organizar um bolo para ser entregues no escritório. Não foi uma grande festa de
despedida porque Eleanor tinha declarado firmemente que ela não queria uma, e você
não ferrava com os desejos de Eleanor. Eu pensei que o mínimo que eu podia fazer era
fazer um bolo, especialmente desde que ela tinha sido tão útil em treinar-me para o
trabalho.
Era apenas depois das cinco quando um par de outros trabalhadores
administrativos vieram para a nossa área para partilhar o bolo. Pedimos um bolo de
frutas vermelhas, uma vez que era o favorito de Eleanor. Eu estava conversando com
meus colegas de trabalho, um prato de papel na mão, quando de repente eu senti sua
presença. Ele estava me ignorando um pouco, embora eu não poderia dizer se era
porque ele estava envergonhado por seu comportamento bêbado ou com raiva de mim
por dispensá-lo.
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Na minha visão periférica eu vi King vir e parar atrás de mim. Ele observou a
reunião, que foi composta principalmente de mulheres, e eu fingi que não tinha notado
ele. Então eu senti sua mão levemente tocar no meu cotovelo, seguido de sua respiração
no meu ouvido.
– Alexis, eu posso ter uma palavra em particular, por favor?
Virei a cabeça para ele um pouco e balancei a cabeça, a minha postura rígida. –
Sim.
Ele fez um gesto para eu segui-lo em seu escritório. Uma vez que eu estava lá
dentro, ele fechou a porta. Eu ainda tinha o meu bolo na mão, e encontrei-me agarrando
o prato de papel como um bote salva-vidas, nenhum indício o que era tudo isso. Eu ia
ser demitida? Não, não podia ser isso.
King parou na frente de sua mesa, recostando-se contra ela e cruzando os braços
enquanto ele me olhava. Eu usava uma saia lápis cinza e uma blusa creme modesta, um
conjunto que nunca seria pega usando fora do escritório. Era como uma fantasia, algo
que me fez sentir como uma pessoa diferente, alguém que pertencia à cidade com os
privilegiados e instruídos. King usava um terno azul-marinho com uma gravata
vermelha fina. Ele poderia ter sido um político se ele não fosse tão bonito.
Eu sempre me perguntei se os homens se sentiam como se tivessem a mão
superior quando usava um terno. Ele certamente parecia assim para mim.
Seus olhos queimaram quando eu disse o nome dele, e eu não poderia dizer se
era porque ele gostou ou porque ele não gostou. Antes que eu percebesse, ele afastou-se
da mesa e veio em minha direção até que havia muito pouco espaço entre nós.
– Eu senti sua falta, – ele confessou.
Minha expressão se suavizou. – Eu senti sua falta também.
Ele nivelou os olhos em mim, sua atenção vagando pelas minhas
características. – Podemos deixar isso para trás?
Eu pensei sobre isso por um momento antes de responder, – Já está
esquecido. Somos amigos. – Eu estendi minha mão para ele, e seus lábios se contraíram
quando nós apertamos.
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– Então, há bolo suficiente para mais um? – Ele perguntou, sorrindo.
– Claro, – respondi, e com isso voltamos para nos juntar aos outros.
***
Foi difícil se acostumar a não ter Eleanor ao redor no início, mas rapidamente
peguei o jeito das coisas. Em breve Gillian e eu éramos uma equipe, e embora nós não
nos dávamos tão bem como amigas, éramos perfeitas uma para a outra quando o assunto
era trabalho. Gillian era a melhor organizadora, e eu era a melhor pensadora
bilateral. Em outras palavras, eu podia ver a imagem maior e era boa em descobrir
problemas ou solucionar emergências sensíveis ao tempo. E quando era sobre esta
indústria em particular, havia um monte disso.
Foi rápido e emocionante, e há dois dias foram sempre os mesmos. Eu também
comecei a ver quão viciante o trabalho de King poderia ser. Ele sempre disse que só
tomava decisões com base em evidências e verdade, mas uma grande parte do tempo a
coisa toda pareceu como um bocado de jogo para mim. Havia uma emoção em sua
posição, sem mencionar uma grande quantidade de energia, e eu certamente poderia ver
por que ele tinha escolhido a carreira bancária ao invés de tocar piano como sua mãe.
Começamos a almoçar juntos novamente, e muitas vezes King tomava uma
bebida. Eu não tinha notado isso no início, mas agora estava claro para mim que ele
gostava muito de beber. Não de uma maneira que parecia que ele tinha um problema,
mas de uma maneira que me fez pensar que poderia facilmente se transformar em
um. Eu supunha que ele precisava de algo para lidar com o estresse de jogar com
milhões de libras em uma base diária.
Tinha sido uma longa semana, e eu estava ansiosa para um fim de semana
relaxante de não fazer nada. Eu tinha chegado em casa com comida indiana, colocado
meu pijama, e sentado na frente da TV. O garfada de frango Korma estava, literalmente,
no meio do caminho para a minha boca quando meu telefone começou a
tocar. Suspirando, eu baixei o garfo e atendi. O nome de King piscava na tela. Assim
que eu cliquei em ‘aceitar’ e segurei o telefone no meu ouvido, ele começou a falar.
– Por favor, me diga que você tem um passaporte válido.
Sua declaração me deixou curiosa. – E se eu tiver?
– Se você tiver, você pode ter um outro bônus. Gillian acabou de ligar, quase em
lágrimas, eu poderia acrescentar, dizendo que perdeu o dela e não será capaz de
conseguir outra com até menos três dias úteis. Ela está sendo emocional, e eu não gosto
disso. Você juraria que ela atropelou meu gato ou algo assim.
– Oh, – eu disse, a testa enrugando. – Você tem um gato?
– Foi só um jeito de falar.
– Certo.
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Eu não tinha certeza se eu deveria rir ou começar a entrar em pânico. Agora eu
entendia o que estava acontecendo. Durante toda a semana Gillian e eu estávamos
planejando viagem de trabalho de King para Roma. Ele deveria se encontrar com algum
empresário que era dono de uma cadeia de hotéis, e que insistiu em negócios cara a
cara. Tudo isso estava sendo feito em nome de um investidor misterioso de King, e
Gillian deveria fazer parte da viagem. A ideia de eu ir nunca tinha até mesmo passado
pela minha cabeça. Até agora.
– Eu preciso que você venha a Roma no lugar de Gillian, Alexis.
Minha voz era calma quando eu respondi: – Você acha que isso é sábio? – Nós
dois estávamos indo tão bem em manter as coisas platônicas. Ir em uma viagem e passar
muito tempo sozinhos poderia mexer com isso.
– Neste momento, eu não tenho outra escolha. Há muito trabalho para eu segurar
sozinho. Eu preciso de você.
Pareceu-me que ele não estava me dizendo que eu tinha que ir. Ele estava
deixando isso em aberto, dando-me a opção de dizer não. Eu não podia dizer não, é
claro, mas isso não significava que eu não apreciaria a sua sensibilidade. Nós dois
sabíamos que o tempo sozinho fora dos limites do escritório era um território bastante
instável para nós.
Deixei escapar um suspiro. – Eu irei. Os voos são para dez horas da manhã,
certo? Você precisa que eu entre em contato com a companhia aérea e altere o nome no
bilhete de Gillian?
Houve um alívio definitivo em sua voz na próxima vez que ele falou. –
Obrigado. E sim, isso seria muito útil.
– Certo. Vejo você na parte da manhã, então.
– Vejo você na parte da manhã, Alexis.
Nós desligamos, e eu apenas fiquei lá por um minuto, o meu apetite
momentaneamente perdido. Indiana era minha comida favorita, droga! A ideia de ir a
Roma era emocionante, não me interpretem mal, mas o esforço que eu teria que gastar
mantendo-me em cheque com o King era assustador. Não havia como negar que
tínhamos uma ligação, e isso era amplificado quando estávamos sozinhos.
Esta viagem certamente vai ser interessante.
***
Eu não tinha certeza por que, porque eu estava bastante certa de que não ia
sequer estar muito quente em Roma nesta época do ano, mas eu embalei de qualquer
maneira. Eu não tinha ido para a praia nem sabia fazia quanto tempo. Talvez eu poderia
ir enquanto King estava reunido com os ‘de ternos’. Era assim que eu tinha começado a
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chamá-los, porque todos eles pareciam o mesmo para mim, apenas um monte de
anúncios da Hugo Boss ambulantes.
King mandou seu motorista ir me buscar do lado de fora do meu prédio naquela
manhã. Suas malas estavam no carro, que era o meu trabalho ter verificado, e,
aparentemente, ele me encontraria na sala VIP antes do embarque. Bem, eu estava
sentada naquela mesma sala, e ainda não havia sinal dele. Eu estava começando a me
preocupar, uma vez que o nosso voo era para embarcar em apenas 20 minutos.
Para passar o tempo, peguei meu telefone e verifiquei meus e-mails. Foi uma
agradável surpresa quando eu vi um de Bradley intitulado ‘algumas imagens da sessão’
;-) Abrindo ansiosamente, eu baixei rapidamente e comecei a olhar. Havia um par de
fotos do início do dia, eu com os outros modelos. Então eu vi as minhas com King, e fiz
uma pausa. Elas eram... bem, eu não tinha certeza de como descrevê-las. Tudo o que eu
sabia era que elas não eram o que eu precisava estar vendo naquele momento,
especialmente desde que eu estava tentando manter as mãos longe do cara.
A primeira me mostrava em cima dele quando ele se sentou na cadeira,
inclinando-se casualmente para trás e olhando para mim com um calor inconfundível
em seus olhos. Uau. Agora eu entendi o que Bradley quis dizer quando ele disse que
fotografávamos bem juntos. Era apenas uma imagem, e ainda assim você praticamente
podia sentir a necessidade derramando de nós dois. Ou nós éramos realmente bons
atores, ou queríamos um ao outro... tanto.
Engoli em seco e virou para a próxima, onde estávamos pela janela do estúdio,
os braços de King em torno de mim e seus lábios no meu ouvido. Sério, esta era mais
como pornô para mim do que moda. Sem perceber conscientemente, eu estava
apertando minhas coxas, minha pele ficando quente enquanto eu ficava lá,
lembrando. Havia cerca de dez fotos no total, e eu folheei mais vezes do que vale a pena
mencionar. Eu estava estudando a minha no colo de King novamente quando de repente
alguém falou baixo no meu ouvido.
– O que você está olhando?
Assustada ao ouvir a voz dele, eu pulei e me virei, agarrando meu telefone
firmemente ao meu peito. King riu e me deu um olhar divertido com desconfiança
quando ele estendeu a mão. – Deixe-me ver.
Eu bufei. Era muito elegante. – Nããão.
Um momento depois, eu olhei sua aparência corretamente, percebendo que ele
ainda estava vestindo com o mesmo terno de ontem. Ele parecia mais cansado do que eu
já o tinha visto, e ele cheirava a cerveja. Foi tão desconcertante que eu não o avistei se
lançando para o meu telefone e puxando-o do meu aperto. Eu vi quando seus dedos
cutucaram toda a tela, antes que ele devolvesse para mim. Forçando-me a olhar para
baixo, vi que ele enviou as imagens para o seu próprio e-mail.
– Isso foi uma jogada suja, – eu reclamei.
Ele me deu um olhar irônico. – Estou nessas fotos também. Eu tenho todo o
direito de vê-las.
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Bem, ele estava certa. Ainda assim, isso não tirou o meu constrangimento. Essas
fotos estavam beirando a pornografia leve, e ele era meu chefe. Era muitos níveis de
errado, eu não poderia nem mesmo começar a contar.
Foi por isso que eu precisava dizer não para as sessões de Bradley no
futuro. Nota para si mesma: Não se entregue ao travesso duende da próxima
vez. Minhas bochechas começaram a corar quando King veio e sentou ao meu lado,
puxando o seu telefone. Era ridículo, porque eu nunca fui normalmente envergonhada
com coisas sexo, mas com King tudo era apenas oposto. Eu nunca soube onde
estávamos um com o outro. Fiquei em silêncio enquanto ele se concentrava em seu
telefone, e eu nem sequer tive que olhar para saber que ele estava acessando seu e-mail
e fazendo o download das fotos que ele tinha acabado de encaminhar.
Deus, eu meio que o odiava naquele momento.
Tentei ignorá-lo, mas enquanto os minutos passavam, eu perdi a
batalha. Virando-me, eu encontrei seus lábios curvados, no que parecia ser um sorriso
de satisfação. As fotos foram exibidas na tela do seu telefone, e King estava rolando
para frente e para trás, folheando-as como se insultando-me a dizer alguma coisa.
– Só exclua isso, – eu suspirei.
Ele olhou para mim, a sobrancelha arqueada. – Porque eu faria isso?
– Porque nós parecemos estúpidos, – Eu bufei. Nós não parecíamos
estúpidos. Parecíamos insanamente querendo um ao outro, o que era exatamente o
problema. King estava prestes a falar quando a voz de uma aeromoça anunciou que o
voo estava pronto para embarcar. Eu peguei minha bagagem de mão, notando que King
não tinha trazido nada com ele que não fosse uma pasta preta fina. Todas as suas coisas
estavam em sua bagagem despachada.
Ele fez um gesto para eu ir na frente dele, e eu conscientemente alisei as minhas
mãos na parte de trás da minha saia, me perguntando se eu tinha uma linha de calcinhas
visível. Eu sempre tive esse sexto sentido para quando alguém estava olhando para
minha bunda, e logo em seguida, ele estava me dizendo que era exatamente o que King
estava fazendo. Ele estava ativamente tentando fazer esta viagem mais difícil?
Ele se inclinou, a boca no meu pescoço quando ele disse, – Eu acho que nós
parecemos fascinantes.
Fascinantes. Certo. Que diabos isso quer dizer? Uma vez que estávamos
sentados no avião, King fechou os olhos e soltou um longo suspiro. Apesar de sua
jovialidade anterior, algo estava obviamente errado com ele. Estudei-o por um
momento, então perguntei: – Quer compartilhar?
Ele abriu um olho. Ele não disse uma palavra, então eu continuei: – Você está
vestindo o mesmo terno de ontem, e você cheira como se você tivesse dado um
mergulho em uma cervejaria. Isto não é você.
Ele suspirou. – Você me conhece a um par de semanas, Alexis. Você não tem
ideia de como sou ou não sou.
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– Olha, eu não estou tentando ser intrometida. Estou apenas preocupada, isso é
tudo. Você andou bebendo muito, e vindo de alguém que costumava trabalhar em um
bar, eu conheço um problema quando vejo um.
– Não há nenhum problema, – disse King.
Olhei para ele, incrédula. Se ele queria se enganar em pensar que ele não tinha
um problema, então tudo bem, eu não iria empurrá-lo. Levantando-me do meu assento,
eu estendi a mão para o compartimento de bagagem e tirei minha bagagem de mão. Ele
continha um novo conjunto de produtos de higiene pessoal de viagem, incluindo uma
mini-escova de dentes.
– Você pode usar isso se você quiser ir se refrescar, – eu disse com firmeza,
segurando a escova para ele.
Ele olhou para mim, não aceitando. Um longo momento de silêncio se passou,
seus olhos claros se transformando em tempestuosos. Finalmente, e sem dizer uma
palavra, ele aceitou os produtos de higiene pessoal e saiu para usar o banheiro. Cerca de
dez minutos depois, ele voltou, parecendo um pouco melhor do que antes. Embora se o
cheiro dele antes era qualquer coisa ir perto, ele deve ter sido vítima de uma ressaca do
cão. O voo avançava em silêncio, enquanto eu me concentrava em ler uma revista que
eu trouxe comigo. Quando a aeromoça parou para perguntar se gostaríamos de algo para
comer ou beber, eu praticamente prendi a respiração. Havia uma variedade de bebidas
alcoólicas disponíveis para pedir, e eu sabia que King estava tentando escolher. Em vez
disso, ele sacudiu a cabeça, e a mulher se mudou para os próximos passageiros. Bem,
isso foi um alívio.
Antes que eu percebesse, estávamos pousando em Roma. Depois que partimos
do avião, fui para recolher as nossas malas na esteira, enquanto King pedia licença para
o banheiro. Pela aparência pálida no seu rosto, eu pensei que ele poderia estar indo
vomitar. Eu sabia que estava certa quando ele me encontrou vários minutos mais tarde,
um pouco da cor tendo regressado as suas bochechas. Talvez ele agora aprendeu a lição
de não exagerar no futuro.
Um carro estava esperando por nós, e nos levou para um hotel perto de um lugar
chamado Ostia. King tinha insistido em ficar lá porque era um de seus favoritos, e eu
podia ver o porquê. Tinha uma piscina exterior e jardins maravilhosos, o que me deixou
animada. Eu tinha que me lembrar que eu estava lá para trabalhar, não para férias.
Vasculhando para a pasta de documentos que Gillian tinha me enviado por e-
mail na noite passada, eu recuperei nossa reserva e apresentei a recepcionista, enquanto
King ficou para trás, seu telefone em seu ouvido enquanto ele conversava sobre
trabalho. Eu estava vagamente consciente da recepcionista me informando que tínhamos
quartos conjugados quando ela me entregou os cartões-chave. King deve ter visto o
olhar PQP no meu rosto, porque ele baixou o telefone por um segundo para explicar: –
É mais fácil dessa maneira. Gillian sempre pede quartos conjugados, de modo que não
temos para ir atravessando até o outro lado do hotel para encontrar um ao outro.
E então ele estava de volta ao telefone. Bem, isso foi... conveniente. Um
mensageiro veio para levar nossas malas, e antes que eu percebesse, eu estava sozinha
no meu quarto, se jogando na cama e me perguntando onde eu tinha me metido. Nós
não tínhamos que nos encontrar com os clientes até o jantar, e os italianos comiam
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tarde, de modo que me deu um par de horas para descansar. Fiquei ali por um tempo,
cansada, porque não importa o quão curta a viagem tinha sido, voos sempre me
pareceram drenar a energia.
No final, eu decidi me tratar e tomar um banho. Eu fiquei um bom tempo na
banheira e sai somente quando os meus dedos começaram a virar ameixas
secas. Envolvendo uma toalha macia e branca em volta do meu corpo, eu peguei outra e
torci em meu cabelo seco. Normalmente, se eu apenas deixasse uma toalha seca no meu
cabelo e não escovasse, ele ficava muito encaracolado. Assim quando eu estava
colocando na cama meu vestido preto que eu planejava usar para o jantar de negócios,
ouvi uma batida suave na porta que dava para o quarto de King.
Antes que eu tivesse a chance de reagir, a maçaneta girou, e meu chefe entrou.
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Por que eu não tinha pensado em fechar a porta? Mas meu Deus, ele poderia ter
esperado eu responder antes de abrir.
Fiquei ali, paralisada na minha curta toalha e cabelo úmido. King tinha
claramente tomado um banho e vestido um terno novo. Na verdade, ele parecia um
homem totalmente novo, não mais amarrotado e de ressaca. No momento em que ele me
viu, ele desviou o olhar. Bem, não, isso não é bem o que ele fez. Seu olhar fez uma
leitura rápida do meu corpo, com especial atenção para a ondulação dos meus seios. Sua
mandíbula endureceu, e então ele desviou o olhar. Sua atenção literalmente me fez
ruborizar das minhas bochechas até as pontas dos meus dedos.
Ele limpou a garganta. – Eu sinto muito. Achei que você estaria vestida.
– Bem, eu não estou, – eu disse, afirmando o óbvio.
Havia uma tensão em sua voz quando ele repetiu a minha declaração. – Não,
você não está.
Eu esperava que minha piada para fazê-lo rir. Infelizmente, parece ter o efeito
oposto. A expressão dele ficou séria e ele se virou, limpando a garganta. O motorista
saiu da frente do carro e deu a volta para abrir minha porta. O tipo de comportamento
extravagante para alguém que estava, essencialmente, nos deixando em um bar de strip.
– Ora, muito obrigada, senhor, – eu disse para o motorista em um tom bem-
humorado. Isso tirou um pequeno sorriso de King, que já era algo. Eu gostava que eu
ainda podia diverti-lo, mesmo quando ele estava em um modo decididamente
sério. Quando nos aproximamos da entrada, King deslizou o braço no meu. – Fique
perto de mim esta noite, Alexis.
– Por quê? – Perguntei, curiosa.
– Porque, – ele respondeu baixo, – se o Sr. Hirota está disposto a fazer negócios
em um lugar como este, então eu me preocupo como ele pode se comportar com uma
mulher que se parece com você.
Eu ri e brinquei: – Até parece que onde quer que eu vá eu estou constantemente
sendo aterrorizada por homens tendo ereções espontâneas em torno de mim. É difícil ser
uma bomba sexual.
Mais uma vez, King parecia estar lutando contra sua vontade de rir. No final, o
seu lado sério venceu. – Eu estou brincando. E não se preocupe - eu vou ficar com você
como cola, Oliver.
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Ele me deu um olhar quente, e, em seguida, estávamos entrando na escuridão da
caverna de peitos. Ok, eu vou parar. Nudez só me deixava tonta como uma criança de
cinco anos de idade. Uma mulher com pouca roupa nos recebeu e nos levou a uma
seção VIP na parte de trás do clube. Todo o tempo eu estava me perguntando se isso
ainda ia ser um jantar de negócio. Eu estava longe de ser arrogante, mas a ideia de
comer comida preparada em um clube de strip não me animou. Sim, eu definitivamente
iria esperar até voltarmos para o hotel, e então eu estaria fazendo um pedido de quarto
do caramba. Que com toda a viagem, eu quase não tinha a oportunidade de comer.
Foi meio engraçado que eu dei mais atenção para as mulheres em topless
dançando no palco do que King. Chame isso de fascinação mórbida. Eu sabia que King
estava um pouco incomodado sobre o local, mas provavelmente não foi a primeira vez
que algo assim tinha acontecido. Eu odeio estereotipar, mas empresários gostavam de
olhar para peito. Era um fato conhecido.
Na seção VIP havia algumas mulheres dançando e uma grande mesa onde vários
homens estavam sentados. Reconheci imediatamente o Sr. Hirota como o cara japonês
no terno branco, camisa preta e gravata branca. Um terno branco! Como eu não iria
comentar sobre isso?
Sr. Hirota imediatamente se levantou quando viu King, estendendo a mão para
cumprimentar. King tomou-a, e os dois trocaram brincadeiras habituais.
– Este é a minha assistente, Alexis Clark, – disse King, distraindo-me do brilho
do terno branco e conduzindo-me para frente.
– Alexis, é um prazer conhecê-la, – disse Hirota, enquanto me dava um rápido
olhar.
– Claro, – eu respondi, e peguei minha bolsa antes de retirar uma pasta grossa.
Hirota acenou com as mãos no ar. – Sem contratos agora. Esta noite é para o
prazer. Amanhã vamos discutir negócios. – Eu coloquei as pastas de volta na minha
bolsa, e eu podia sentir a insatisfação de King. Ele não queria fazer mais do que ele
tinha que fazer. Infelizmente, Hirota parecia determinado a fazer exatamente isso.
– Algum de vocês com fome? – Perguntou Hirota. – Temos um menu
espetacular aqui.
– Está tudo bem. Nós comemos no hotel, – King mentiu, e eu estava feliz que ele
era tão contra comer aqui como eu.
Hirota não parecia incomodado, e ele começou a falar sobre os seus dois filhos, e
como eles estavam atualmente aprendendo a montar cavalo em sua propriedade
rural. Conversa fiada encheu a mesa, principalmente a partir de Hirota e seus
homens. King parecia no limite, como se ele preferisse apenas terminar o negócio que
tinham com ele em vez de arrastar as coisas. Normalmente, ele conversava e jantava
com seus clientes, mas não desta vez. Certo, eu podia sentir a sua agitação, como se ele
realmente só quisesse finaliza as coisas. Foi provavelmente por isso que ele continuou
bebendo, o que me preocupou.
Cerca de uma hora passou, e a maioria dos homens estavam prestando atenção à
mulher que tinha acabado de entrar no palco para uma performance especial. Uma
música lenta e sexy foi reproduzida através dos altifalantes quando ela começou seu
striptease. O humor que eu tinha originalmente encontrado na situação começou a se
dissipar. Naquele momento eu tinha visto peitos suficientes para durar uma vida.
– Eu prefiro muito mais estar olhando para você no palco, vestindo nada além
daquela toalha de mais cedo, – King sussurrou, e meu coração deu uma
cambalhota. Esta foi a primeira vez que ele comentou sobre as strippers, e foi mais um
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comentário sobre mim do que elas. Meu peito se agitou e eu tentei pensar em uma
resposta engraçada, mas meu cérebro me decepcionou. Eu sabia que era o álcool que
estava fazendo ele falar tão livremente.
– Estou cansada, – eu disse. – Estaria tudo bem se eu tomasse um táxi para o
hotel?
Os olhos de King esvoaçavam entre meus enquanto ele me estudava de
perto. Foi um longo momento antes de ele finalmente concordar, puxando a carteira e
me entregando algum dinheiro para a viagem. Minha reação imediata foi dizer a ele que
estava tudo bem, que eu poderia pagar para o meu próprio táxi, mas depois me lembrei
isso era trabalho. Ele deveria estar pagando. Era tão fácil esquecer a verdadeira natureza
da nossa relação, às vezes.
Um segundo depois, ele estava no meu quarto, vestindo apenas a camisa e calça,
o paletó descartado. Os primeiros botões da sua camisa estavam abertos e parecia como
se tivesse estado passando as mãos pelo seu cabelo algumas vezes demais. Ele parecia...
estressado, mas ele não parecia bêbado. Ele deve ter parado de beber logo depois que
deixei o clube.
Passou um momento enquanto ele me olhava escondida na cama, o prato e o
copo de vinho vazio no chão e a comédia romântica passando na televisão de tela plana.
– Sinto muito, estou interrompendo? – Ele perguntou. Sua voz estava cansada e
segurava uma pitada de humor.
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Peguei o controle remoto e apertei ‘pausa’ no filme. King sentou em uma
poltrona, e eu subiu para uma posição sentada. Lembrei-me de que eu não estava usando
um sutiã apenas quando seus olhos demoraram um pouco demais nos meus seios. Eu
não disse nada, apenas levantei uma sobrancelha em sua obviedade. Com o sorriso mais
ínfimo, ele balançou a cabeça e desviou o olhar.
– Você se importa se eu pedir um pouco de comida? – Ele perguntou então.
– Hã.
Um silêncio decorreu enquanto eu o estudava, então, perguntei suavemente: –
Como tem estado a sua mãe?
Minha pergunta o pegou desprevenido quando ele trouxe os olhos para mim. Por
um segundo eu vi a tristeza neles, e isso fez meu coração bater mais forte. – Ela está
bem, – respondeu ele, em seguida, fez uma pausa, sacudindo a cabeça. – Bem, não, isso
não é bem verdade. Você viu como ela está vivendo - não há nada bem sobre isso. Mas
ela tem estado ruim da cabeça por um longo tempo, e às vezes parece o pior tipo de
doença. Pelo menos com uma doença física você pode encontrar a causa e tratá-
la. Doença mental é muito mais difícil de curar. Alguns dias são melhores que outros,
mas eles nunca são o que você consideraria normal.
– O que há de errado com ela? – Perguntei, minha voz macia.
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– Ansiedade severa e paranoia, emparelhado com um caso grave de
agorafobia4. Ela raramente gosta de sair de casa.
Eu queria perguntar o que causou tudo isso, mas eu sabia que era da minha
conta, então eu simplesmente tomei sua mão na minha e apertei. – Isso deve ser
horrível.
Quando ele olhou para mim, sua expressão era de dor, e por um segundo parecia
que todo o tumulto dentro dele estava prestes a inundar. – É horrível. Você já desejou,
Alexis, que o seu coração fosse apenas um pouco menor, de modo que você não
precisasse se preocupar tanto?
Sua pergunta tirou o ar de dentro de mim. Quando tinha começado com esta
conversa, eu nunca esperava que iria ficar tão profunda. Apertei sua mão mais uma vez
e sussurrei: – Nunca. Quanto maiores são os nossos corações, mais bonitas nossas almas
são.
Nossos olhos se encontraram, seus olhos nos meus enquanto ele absorvia minhas
palavras, o que eu queria dizer. Eu não tinha previsto a minha resposta; só parecia vir
naturalmente. Por um longo momento nós nos sentamos lá em silêncio. Eu não queria
que ele ficasse triste e tentei animá-lo quando eu disse: – Então, o que você acha de
comédias românticas?
Ele piscou para mim, se trazendo de volta para o presente, e sem nada de
sarcasmo, respondeu: – Oh, eu adoro.
– Bem, isso não é simplesmente fabuloso, porque você vai se juntar a mim para
assistir a um, – eu disse, ignorando a sua atitude atrevida e batendo no espaço ao meu
lado. King levantou de seu assento ao lado da cama e se arrastou. Eu não sei, houve
apenas algo sobre o visual que me deu arrepios. A cama era um território novo para nós,
e, inevitavelmente, fez a minha mente vagar. Eu cliquei em ‘play’ no filme e King parou
perto de mim, nossos cotovelos se tocando. Tentei ignorar o cheiro limpo de seu gel de
banho e o cheiro familiar de sua colônia, mas era difícil.
Cara, eu poderia seriamente engarrafar essas coisas... você sabe, apenas para
levar para casa e jogar em meus travesseiros cada vez que eu quisesse me torturar.
– Que tipo de colônia que você usa? – Eu soltei, porque essa sou eu e é isso que
eu faço. Eu falo demais.
Os olhos de King vieram até os meus lentamente, e eles pareciam curiosos. –
Você gosta?
Chupei uma respiração profunda. – Uh-huh.
– É Estee Lauder Prazeres para homens.
Ei soltei uma gargalhada. – Ha! Por que eles sempre insistem em dar esses
nomes embaraçosos? É quase como se eles não quisessem que as pessoas a
comprassem.
4
Medo de lugares e situações que possam desencadear pânico, sensação de impotência ou
constrangimento. (N.T)
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King se mexeu em seu lugar e suspirou. – Jogada de marketing, eu
assumo. Nomeando-o de 'Prazeres', eles imaginam que o nosso cérebro vai fazer a
conexão de que, se comprarmos o produto, ele vai de alguma forma nos trazer
exatamente isso: prazer. Eu, por exemplo, apenas gosto de como ele cheira.
– Ah, mas alguma vez te trouxe prazer? – Eu provoquei. – Essa é a questão.
Ele me lançou um olhar preguiçoso e inclinou a cabeça. – Eu ainda estou
esperando descobrir.
– Oh, você é um canalha, – eu declarei, e lhe deu um tapa de leve no ombro.
King apenas balançou a cabeça e voltou sua atenção para a TV enquanto
murmurava baixinho, – Eu não estava brincando.
Eu atirei a ele um olhar de olhos arregalados, mas ele ainda estava olhando para
a tela. Um silêncio encheu o quarto. Teria sido pior se não fosse o filme tocando no
fundo. Senti um rubor rastejar até meu pescoço e olhei para baixo para ver King abrir e
fechar repetidamente o punho. Ele tinha enrolado as mangas de sua camisa, então eu
podia ver seus antebraços, e como de costume, eles eram uma distração. Comecei a
sentir uma sensação engraçada, tanto no meu peito e entre as minhas
pernas. Uma dor. Minha imaginação estava trabalhando horas extras, mostrando-me o
quão facilmente seria para ele rolar em cima de mim e então me faz ver estrelas.
Fiquei imaginando como ele seria durante o sexo...
Ele disse que não era de amor e romance, mas eu aposto que ele fazia uma
sessão de sexo antiquado. E realmente, se ele colocava ainda que metade do esforço
nisso do esforço que ele fazia no trabalho, então ele provavelmente era mais do que eu
poderia aguentar.
E, curiosamente, eu tinha um repentino desejo de mais do que aguentar.
A tensão quase tinha alcançado seu ponto de ebulição, quando houve uma batida
na porta. Era o serviço de quarto, e King saiu da cama para ir deixá-los entrar. Foi uma
coisa boa, porque eu precisava seriamente de um momento. Eu temia que o rubor que
tinha começado no meu pescoço havia se espalhado por todo o caminho pelo meu corpo
agora.
– Quer um pouco? – Perguntou King, colocando o prato e seu copo de vinho na
bandeja e carregando para a cama.
– Claro, – respondi. Eu nunca disse não a pizza, e esta parecia deliciosa.
King se ajeitou em seu lugar e deu uma mordida rápida, em seguida, levou a
pizza para minha boca. Normalmente eu diria algo atrevido nessa circunstância, talvez
faria uma piada, mas meu senso de humor não estava mais presente. Eu estava excitada,
e os olhos de King seguravam um jogo. Eu queria jogar. Fazendo contato visual com
ele, me inclinei e dei uma mordida bem de onde ele tinha dado uma. Suas narinas
inflaram, uma nova intensidade em seus olhos. Ele voltou a pizza para sua própria boca
antes de trazê-la de volta para a minha novamente.
Ele estava pairando sobre mim, seu corpo deleitável bem ali, e minhas mãos
coçavam para senti-lo. O filme foi esquecido, enquanto continuamos a nossa interação
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estranha. Eu mal tinha roupa, e desde que King ainda estava em sua camisa e calças, eu
me senti vulnerável e um pouco nua. Sua respiração ficou pesada, e eu vi sua atenção
vagar para a minha clavícula, fixando nele.
– Nós devemos... – Ele começou, mas então vacilou.
– O quê?
Ele olhou para baixo, seus grossos cílios dourados protegendo seus olhos. Sua
voz era tão calma e rouca quando ele continuou, – Eu preciso tirar isso do meu sistema,
Alexis.
– Tirar o que...
Antes que eu pudesse terminar a frase, ele estava tirando a massa de pizza da
minha mão, jogando-a no prato, e nivelamento seus olhos azuis gelados em mim. – Nós
podemos foder. – Ele fez uma pausa, seu sotaque enfatizando o ‘foder’ e fazendo meus
ossos se transformarem em geleia. – Nós podemos fazer sexo uma vez e ainda
permanecermos os mesmos. Estou certo disso.
– Bem, nós somos muito pragmáticos, – eu concordei, todo o meu corpo
apertado. Eu poderia não ter acreditado em uma palavra que eu estava dizendo, mas
naquele momento eu queria ele dentro de mim, e minha boceta estava disposta a me
deixar mentir para mim mesma, a fim de fazer isso acontecer. Suas mãos já estavam em
meus quadris, massageando.
– Somos, – ele repetiu, a voz baixando para um sussurro quando ele trouxe sua
boca para minha clavícula, até o ponto que ele estava olhando tão intensamente. Um
gemido escapou de mim, e eu inclinei minha cabeça para trás para lhe dar maior
acesso. Ele lambeu minha pele, cantarolando em aprovação quando ele arrastou seu
nariz em toda a ascensão do meu seio. Ele esfregou levemente no meu decote, em
seguida, começou a plantar beijos por todo o caminho até o centro do meu pescoço. Eu
ondulava debaixo dele, e quando ele chegou à minha mandíbula, ele mordiscou minha
pele, roubando outro gemido de mim. Seus lábios fizeram uma viagem rápida para a
minha boca. Mas uma vez que ele estava lá, ele se afastou para olhar nos meus olhos, e
levou meu fôlego por uma fração de segundo. Ele olhou para mim como se eu fosse a
coisa mais sexy que ele já tinha visto.
Inclinando-se novamente, King colocou beijos surpreendentemente macios em
ambos os lados da minha boca, e eu o beijei de volta. Esses beijos carinhosos
continuaram por um tempo, cada um de nós mordiscando um ao outro, conhecendo um
ao outro até que os beijos começaram a se aprofundar. Ele deslizou sua língua
suavemente pelos meus lábios, me provocando, me degustando. Eu estava derretendo
em uma poça na cama, agarrando seus ombros, seus peitorais duros pressionando na
suavidade dos meus seios. Não demorou muito antes de estarmos nos beijando
fervorosamente, segurando um ao outro, bebendo um do outro m como se nós não
poderíamos conseguir o suficiente.
Minhas mãos foram para os botões de sua camisa, ansiosa para tirá-lo. Ele
começou a ajudar, e assim que ele estava nu, ele estendeu a mão para a barra da minha
camiseta, puxando-a por cima da minha cabeça de uma só vez. Houve um momento em
que nós dois apenas olhamos, eu encarando os contornos perfeitos de seu peito e
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abdômen, ele estudando as curvas dos meus seios, a chama de meus quadris e os picos
duros dos meus mamilos.
Eu estava tão excitava que eu me sentia vazia. Eu precisava dele dentro de mim.
– Porra, – ele xingou, todo o seu fôlego escapando dele.
Ele foi para a frente, abaixando-se sobre mim e trazendo sua boca para meu
peito. O som que fiz quando seus lábios se fecharam sobre o meu mamilo teria sido
embaraçoso se eu não estivesse tão perdida em excitação. Sua mão se arrastou sobre
minha coxa, apertando antes de correr pelo meu quadril e estômago até que ele veio ao
meu outro seio. Eu arqueei minhas costas para fora da cama, ansiosa por seu toque
enquanto massageava e lambia. Ele tirou um grito de mim quando seus dentes
pressionaram no meu mamilo em uma mordida de provocação.
Deus, isso.
Só isso.
Às vezes você não percebe o quanto você precisava de algo até que isso está
acontecendo. Eu senti como se tivesse estado inconscientemente trancando todo o
desejo por este homem desde o dia em que nos conhecemos, e agora estava escorrendo
de mim como uma cachoeira.
– King, – eu gemi, e um grunhido emanou dele enquanto ele movia seu corpo,
habilmente puxando minhas coxas e se acomodando entre as minhas pernas. As pontas
dos seus dedos escavaram desesperadamente em minha pele, me marcando com sua
necessidade. E eu podia senti-lo, o comprimento grosso dele pressionando em meu
núcleo até que eu não poderia encontrar ar suficiente. Minha respiração aumentou para
combinar com a sua e meu cérebro estava completamente fora. Eu não era nada, além
de sentimento e sensação, e tudo que eu queria era mais.
De repente, sua boca deixou meu mamilo, e eu queria lamentar em
protesto. Mas, então, ele estava no meu ouvido, e eu estava quente, tão quente que eu
não poderia proferir palavras quando ele rosnou, – Eu quero te foder tão forte, Alexis,
tão forte que você ainda vai estar me sentindo dentro de você amanhã e depois de
amanhã e depois.
Ele estava fazendo o seu caminho pelo meu corpo, lambendo e beijando a parte
macia do meu estômago até chegar aos meus shorts de dormir. Ele fez uma pausa,
esfregando minha barriga, o rosto pressionado na minha pele quando ele soltou uma
longa exalação.
– Eu adoro o seu corpo, – ele respirou, quase como se ele estivesse com dor. –
Eu estava louco por isso.
Whoa, não era como se eu tivesse uma pequena quantidade de sexo na minha
vida, mas isso foi definitivamente o mais intenso sentido que eu tinha recebido de um
homem. Foi provavelmente porque eu estava refletindo essa intensidade exata de volta
para ele.
Seus dedos brincaram com o elástico, avançando pouco a pouco até que ele foi
puxando os shorts e eu fiquei em nada além da minha calcinha preta.
King olhou para mim, respirando pesadamente enquanto eu estava lá assistindo
ele, extasiada.
– Você é tão linda, – ele disse, tão baixo que quase não ouvi. E então ele
pressionou o rosto em minha boceta, declamando-a através do tecido e milagrosamente
encontrando meu clitóris. Ele chupou em sua boca, amortecendo o material e me
enviando para a beira do desespero. Eu precisava da minha calcinha fora. Agora.
Um segundo depois, elas estavam; King as puxou suavemente antes de voltar
sua atenção para o meu sexo. Eu praticamente podia me sentir pulsando com
antecipação enquanto seu hálito quente aquecia a minha pele e seus olhos devoraram
cada polegada minha.
– Tão linda, – ele sussurrou, e depois se inclinou para me dar o mais leve dos
beijos. Estremeci, tão excitada que ele poderia ter continuado a fazer isso e eu teria
gozando em segundos. Ele não continuou fazendo isso, embora. Apenas um segundo se
passou antes que uma onda de feroz necessidade vencesse e sua boca estava chupando
duro, sua língua lambendo rápido e seus dedos arrastando as minhas coxas. Uma mão
encontrou a minha entrada, um dedo lentamente mergulhando para dentro e um rugido
feroz dele quando ele fez isso. Eu enrolei minhas mãos nos lençóis, o prazer enchendo
cada poro meu quando eu senti ele me devorar. Me possuir.
Stu tinha sido bom, mas nada como isto. King possuía habilidade, sim, mas era a
intensidade com que ele me queria que fez isso muito melhor. Foi um sexo oral de nível
surpreendente, e eu momentaneamente me perguntei se algum homem que viesse depois
de King seria bom o suficiente.
E honestamente, eu não tinha certeza se queria qualquer outro homem depois de
King. Eu estava enfeitiçada por ele, apaixonada. O pensamento deveria ter me deixado
sóbria, colocado um amortecedor sobre o que estávamos fazendo, mas isso não
aconteceu. Só me fez querer ainda mais. Eu queria que ele me consumisse; Eu queria
consumi-lo antes que a vida ficasse no caminho e arruinasse para nós dois.
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Esta pode ser a nossa única chance de esquecer tudo e apenas nos perder no
momento.
King nivelou seus olhos em mim, sua expressão escura e sexual enquanto lambia
a minha fenda, lento e forte - proposital. Todo o meu corpo tremia, e o orgasmo que
tinha rapidamente se construído me bateu de repente. Quentes arrepios espalharam pela
minha pele, e minhas mãos foram instintivamente para seu cabelo e, em seguida, seu
rosto, maravilhada com ele.
– Você... eu... nós... – Eu murmurei incoerentemente, nem mesmo tendo certeza
do que eu queria dizer a ele. Não havia palavras para descrever o que ele tinha feito
comigo, o que ele tinha acabado de me fez sentir. Me senti satisfeita, mas de alguma
forma ainda mais vazia. Sua boca era muito boa, mas não satisfez a profunda
necessidade que eu tinha para seu pau. Ele subiu na cama até que suas mãos estavam
apoiadas em cada lado da minha cabeça.
Ele respirou fundo, seus olhos viajando entre os meus enquanto ele passava a
boca em meu lábio inferior. Sua voz estava rouca quando falou. – A maneira como você
gozou foi devastador.
A maneira como ele falava era devastador. Meus olhos foram para baixo,
encontrando sua ereção em posição de sentido sob suas calças.
Eu puxei sei cinto e sussurrei: – Tire isso.
Minha voz ficou tensa e exigente. Eu não queria mais jogar; Eu só queria ele
dentro. – Oliver, me foda, por favor. Eu quero sentir tudo de você, – eu gritei.
– Assim é melhor, – ele ronronou, sua voz cheia de satisfação masculina quando
eu o ouvi puxar algo do bolso da calça. Houve o breve som de rasgar antes de ele
posicionar seu pau, em seguida, dirigi-lo para dentro de mim, duro e tão deliciosamente
profundo. Me senti pulsar em torno dele, como se meu corpo estivesse agradecendo-lhe,
finalmente, dando a ele o que precisava. Senti sua boca se mover por cima do meu
ombro antes de seu rosto afundar no meu cabelo.
– Jesus Cristo, – ele gemeu.
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– Oliver, eu preciso...
– Calma, eu sei, querida, eu sei.
Ele se levantou de novo, suas mãos encontrando minha bunda e apertando. Ele
rosnou e deu um tapa antes de pegar meus quadris e agarrar apertado. Meus dedos
cavaram os travesseiros enquanto eu me segurava, embora meu corpo só quisesse se
deixar. Tudo apenas muito bom e meus músculos se transformaram em geleia. King
empurrou de volta para mim, dentro e fora deliciosamente lento. Em seguida, seus
movimentos aceleraram, e eu juro que perdi a capacidade de pensar. Eu nunca tinha
sentido nada tão celestial em toda a minha vida. Minhas pequenas respirações e gemidos
encheram o quarto; Eu não fui incapaz de segurar nada de volta. King pareceu sentir
prazer em meus sons, murmurando o quanto ele os amava, o quanto ele amava meu
corpo, minha boceta, quão perfeitamente nos encaixávamos.
Eu nunca esqueci seus grunhidos masculinos enquanto ele martelava em mim, a
espessura, a sensação dura de como ele me encheu. Eu senti como se eu quisesse morrer
quando de repente ele puxou, mas antes que eu percebesse, ele estava me virando e me
empurrando para as minhas costas.
– Eu quero seus olhos, – ele rosnou, levantando minhas coxas em torno de seus
quadris e voltando para dentro de mim mais uma vez. Ele segurou meu queixo em sua
mão, esfregando o polegar no meu queixo enquanto ele me nivelava com seu olhar. Ele
era lindo naquele momento, cativante. Eu queria olhar para baixo, contemplar a vista de
seu corpo gloriosamente tonificado, mas ele não permitiria. Ele me segurou no lugar,
nunca permitindo que os meus olhos deixassem os seus, e algo agarrou meu peito e
garganta. Foi uma emoção que eu não tinha certeza de que eu poderia identificar: afiada
e mesquinha, mas quente e bonito ao mesmo tempo.
A expressão de King ficou séria. – Você sente isso? – Ele perguntou em uma
respiração ofegante.
Tudo o que eu podia fazer era acenar com a cabeça, e no segundo seguinte
ambos pareciam entender que estávamos completamente e totalmente ferrados. De jeito
nenhum isso seria uma coisa de uma vez. Eu já queria rastejar debaixo de sua pele e
nunca sair.
– Você é tão bonita, Alexis. Você é tão bonita por dentro também.
– Oliver...
– Sim, querida?
– Você vai gozar para mim? – Perguntei, minhas palavras um apelo desesperado.
– Qualquer coisa para você, – ele sussurrou, seus movimentos abrandando, mas
crescendo em intensidade. Ele parecia ficar ainda mais duro enquanto seu clímax
construía, e assim que eu vi que ele estava prestes a explodir, eu puxei seus lábios nos
meus e o beijei desesperadamente, engolindo todos os seus ruídos, deixando-os se
tornar uma parte de mim. O senti se derramamento em mim, gemendo baixinho e rouco
como ele gozou duro, seu corpo tremendo um pouco com o esforço. Uma suave camada
de suor revestia a pele dele quando seu delicioso peso caiu em cima de mim. Seus
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Página
braços foram ao redor do meu corpo, me puxando para ele apertado quando ele
descansou o rosto na curva do meu pescoço.
Eu acariciava seu cabelo, e ele nos colocou em uma posição mais confortável
para que seu corpo inteiro rodeasse o meu. O senti plantar beijos suaves no meu
pescoço e soltei um pequeno ronronar de aprovação quando sua mão foi entre as minhas
pernas.
– Você acha que poderia gozar de novo? – Ele perguntou em voz sonolenta.
– Você está exausto, Oliver. Vá dormir.
– Mas minha mão está com ciúmes da minha boca, – queixou-se ele,
brincando. – Ela quer se sentir você gozar também.
Meu riso logo se transformou em um gemido quando ele começou a me
acariciar. Seus dedos circularam meu clitóris, então mergulharam para dentro. Eu me
mexi e senti seu pau começar a endurecer novamente ao lado de minha bunda e eu já
poderia estar pronta para mais uma rodada. Meu corpo estava com sono, mas eu estava
contente que simplesmente fiquei ali e deixei que ele me acariciasse.
– Eu sabia que ia ser assim para nós, – ele ronronou. – Sem esforço. – A outra
mão veio ao redor e espalmou meu peito, moldando-o e, em seguida, beliscou meu
mamilo. Ele começou a esfregar o polegar para trás e para frente sobre o pico apertado,
o movimento combinando enquanto acariciava meu clitóris. No momento seguinte, eu
estava gozando com um grito alto. King murmurou palavras tranquilizadoras no meu
ouvido e eu me virei em seu corpo, abraçando-o com força e pressionando beijos em
seus peitorais.
Logo depois, nós dois fechamos nossos olhos, e então não demorou muito antes
do sono nos puxar para baixo.
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Página
Doze
Sentindo uma presença, eu abri meus olhos e deslizei meus óculos no meu
nariz. King sentou ao meu lado na areia, com o queixo apoiado na palma da mão e uma
expressão pensativa no rosto, enquanto olhava para a água. Ele parecia um milhão de
milhas de distância, e o fato foi confirmado quando eu disse seu nome, mas não obtive
resposta.
– Oliver, – repeti, e o vi piscar.
Ele virou a cabeça. – Eu achei que você poderia estar dormindo, não queria te
acordar.
– Não seria meio perigoso adormecer em uma praia pública? – Perguntei, mas
ele só deu de ombros e voltou sua atenção de volta para o mar. Sentei-me, estendi a
mão, e coloquei uma mão suavemente em seu braço.
***
Desde que King tinha um quarto maior, nós fomos lá para trabalhar pelo resto do
dia. Sentei-me em sua cama, o meu computador no meu colo, enquanto ele estava
sentado à mesa. Havia um monte de pequenos detalhes para amarrar antes de Hirota
assinar os contratos naquela noite, então nós dois ficamos enterrados no trabalho por um
par de horas. Eu falei com Gillian via Skype para que ela pudesse cuidar de tudo o que
precisava ser feito no escritório de Londres. Eu tinha acabado de falar com ela quando o
telefone de King começou a tocar. O vi olhar para a tela, e eu juro que seu rosto
instantaneamente se transformou. Ele não estava mais relaxado e concentrado. Ele agora
parecia irritado e estressado.
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De pé, ele não olhou para mim, uma vez que ele saiu do quarto e saiu para o
corredor. Ele só fechou a porta a meio caminho, então eu ainda pude escutar a conversa.
– Sim? – Ele respondeu, a voz plana.
Uma pausa.
– Claro. Está tudo caminhando como planejado. Os contratos serão assinados
hoje à noite.
Outra pausa.
– Muito bem. Basta lembrar do nosso acordo. Esta é a última vez.
Eu ouvi ele soltar um suspiro longo e frustrado, e eu podia imaginar sua
mandíbula apertando. Ele não parecia feliz.
– Bruce, eu estou falando sério. Esta é a última vez. Você vai ter o seu
formulário na parte da manhã. Adeus. – Um segundo depois, ele atacou de volta para o
quarto e eu praticamente gritei de surpresa quando ele veio direto para mim. Ele
empurrou meu laptop para longe, em seguida, começou a desfazer os botões do meu
vestido, revelando o sutiã por baixo.
– Durante toda a tarde eu tive que ver você sentada aqui, me torturando em este
pequeno vestido cobrindo seus peitos perfeitos, – ele rosnou, e trouxe sua boca para
meu decote, arrastando seus lábios sobre as ondas dos meus seios. Um gemido escapou
de mim enquanto minhas mãos foram para o seu cabelo. Ele não era o único que tinha
sido torturada. Ter Oliver King perto sempre foi um teste para minha força de vontade.
– Oliver, – eu respirei enquanto ele empurrava meu sutiã, então pegou meu
mamilo em sua boca. Sua língua circulou, e eu me contorcia embaixo dele. – Oliver,
que é Bruce?
Sua forma inteira ficou imóvel, sua boca me deixando. – Você não deveria ter
ouvido essa conversa, Alexis.
– Eu sinto muito. É que assim que recebeu a chamada, você se tornou muito
estressado. Me preocupou.
– Alexis, – disse King, seus olhos deslizando pela minha forma antes de sua mão
ir para a minha parte inferior das costas para me conduzir do átrio. Ele não disse uma
palavra sobre a minha aparência, não me deu nenhum elogio aquecido e meu intestino
afundou. Entramos numa limusine preta elegante, onde King imediatamente deslizou
pelo assento e foi abrir o mini-bar. Sentei-me e brinquei com o meu telefone, enquanto,
ao mesmo tempo, dava olhares furtivos ao meu chefe. Você poderia ter cortado a tensão
entre nós com uma faca, e pela primeira vez não era sexual. Bem, ok, era sexual. Era
sempre assim conosco, mas nesta ocasião a tensão real superando a tensão sexual.
King estudou as garrafas, decidindo sobre qual bebida ele ia tomar. Os olhos
dele foram para os meus enquanto ele segurava uma garrafa de Scotch.
– Você gostaria de um copo?
Eu balancei minha cabeça.
Outra coisa que eu estava começando a notar sobre ele é que ele era muito
específico na forma como ele fazia suas bebidas. Ele fazia isso com amor e com uma
certa finesse. Eu sabia que havia apenas três razões pelas quais uma pessoa era tão
cuidadosa sobre a sua preparação de bebidas. Uma: Eles trabalharam em um bar e era
assim que ganhavam a vida. Duas: Eles eram coletores/amadores que provavam licores
antigos e caros. Três: Eles eram alcoólatras.
Eu odiava ser tão insensível em minha rotulagem, mas era verdade. Eu só
esperava que King caísse no grupo número dois, porque eu sabia que ele não pertencia
ao grupo número um e o número três do grupo era doloroso demais para
contemplar. Lembrei-me de nossa conversa sobre Bernie Black, o revendedor que
forneceu medicamentos para aqueles que trabalhavam em empregos de alta potência no
The City. Lembrei-me de que King tinha dito, e não pela primeira vez.
– Qualquer coisa.
Me inclinei quando ele se virou e passou os dedos entre as teclas.
E então, só assim, ele começou a tocar.
113
Página
Treze
Eu me apaixonei.
Eu já tinha começado a me apaixonar, mas a forma como ele tocava terminou o
trabalho. Foi tão bonito em seu realismo que eu não poderia deixar de estar possuída por
ele. Elaine King tinha, obviamente, passado seu talento para seu filho, e foi quase uma
tragédia que este não era o que ele fazia durante todo o dia, todos os dias.
Eu não tinha certeza quanto tempo ele tinha estado tocando quando a música
finalmente chegou ao fim. Fiquei ali sentada, olhando para o piano em um silêncio
atordoada, quando ele se virou para mim.
– Por que está tão tranquila, querida? – Ele perguntou, pegando meu queixo
entre os dedos.
– Eu não sei o que dizer.
– Então não diga nada. – Sua boca foi para o meu queixo enquanto ele me dava
um beijo leve.
– Qual era a música?
King sentou-se e limpou a garganta. – É Rachmaninoff, Piano Concerto No. 2. É
a última música que minha mãe tocou para um público ao vivo.
E então, tudo fez sentido. A música era claramente muito especial para ele.
– Eu espero que você não leve a mal, mas você está perdido como um
banqueiro. Isto é o que você deve fazer, – eu disse sem rodeios.
King riu suavemente. – Eu acho que eu te disse antes que minha mãe é a
estrela. Pianistas são um centavo neste mundo5, e isso é normalmente o quanto eles
fazem para ganhar a vida, também. – Sua brincadeira caiu.
5
Não faz muito sentido em português porque ele fala: ten a penny in this world, que significa que eles
são muito comuns, pianistas são muito comuns e na frase em português não faz muito sentido. Penny é
dinheiro. (N.T.)
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Página
– Eu pensei que você não se preocupa com dinheiro.
– Não. Eu me preocupo com prestígio e minhas habilidades de piano medíocres
nunca me trariam isso.
– Medíocre? Você está falando sério?
Seu baixo riso carinhoso fez alguma coisa para a boca do meu estômago. Bem,
foi o riso combinado com a música que ele acabou de tocar. Seus dedos estavam
arrastando pela minha coxa, encontrando a barra da minha saia e mergulhando por baixo
quando falei sem pensar.
– Faça amor comigo, – eu soltei.
O olhar de King ficou aquecido, e sua boca estava no meu ouvido novamente,
sussurrando uma única palavra, – Amor? – O segundo que deixou seus lábios, seu dedo
deslizou por minha roupa de baixo e direto para dentro de mim. Minha respiração saiu
em uma corrida.
Sua voz tornou-se escura. – Um dia eu vou te espalhar no meu piano em casa e
te foder até que você esqueça o seu próprio nome.
Jesus Cristo. – Oliver.
– Você está tão molhada.
Devemos arriscar?
– Estou tomando pílula, – eu soltei. Era a verdade. Eu tinha estado tomando por
anos e não tinha parado depois que Stu e eu terminamos.
Seu olhar segurou um aviso. – Não faça isso.
– Eu confio em você.
Ele gemeu novamente. – Inferno do caralho.
Eu me contorci debaixo dele, empurrando minha calcinha de lado e
cuidadosamente guiando seu pau para mais perto. Sua resistência rachou e seus quadris
se projetavam para frente, fechando a distância restante entre nós quando o seu duro
comprimento nu empurrou dentro de mim. Eu gemi e fechei os olhos, a sensação dele
com nada entre nós um pouco mais do que eu poderia suportar. Eu tinha vinte e sete
anos e esta foi a primeira vez que eu tinha tido relações sexuais desprotegidas com outra
pessoa. Eu nunca imaginei o quão incrível isso poderia ser, especialmente quando você
adicionava meus sentimentos continuamente crescentes à equação.
– Alexis, querida, – ele murmurou. – Você parece... incrível.
***
Tudo foi uma corrida louca enquanto arrumávamos nossas coisas e fizemos o
nosso caminho para o aeroporto. Mal tivemos a chance de recuperar o fôlego até que
estávamos sentados no voo. Nós tínhamos acabado de desembarcar no aeroporto de
Heathrow e estávamos fazendo o nosso caminho para a esteira de bagagem quando o
telefone de King começou a tocar. Eu não prestei muita atenção à conversa, até que ouvi
o tom preocupado em sua voz.
– Mãe? Não, não, merda, fique onde está. Eu estarei aí dentro de uma hora.
Eu coloquei a mão no cotovelo de King. – Está tudo bem?
Ele virou para mim e olhou para baixo, sua agitação clara como o dia. – Não, –
ele respondeu, quase distraído. – Não, não está. Temos que ir.
Eu balancei a cabeça e agarrei nossas malas enquanto corríamos para pegar um
táxi. King mal disse uma palavra, e eu estava meio convencida de que ele tinha
esquecido que eu estava lá. Parecia que alguma coisa tinha acontecido com sua mãe
novamente. Talvez ela teve de ser levada de volta para o hospital, embora eu ainda não
sabia o que tinha acontecido na última vez. King agarrou o telefone na mão, os nós dos
dedos ficando brancos. Eu queria fazer algo para acalmá-lo, mas eu estava em
desvantagem. Ele estava apertando tanto que eu temia que ele poderia me machucar se
eu tentasse tocá-lo.
Demorou mais de uma hora para chegar a casa (culpa do tráfego de Londres), e
King quase entrou em uma briga com o motorista de táxi ao longo do caminho. Ele
estava chateado e eu sabia que a sua ira era apenas devido a tudo o que tinha acontecido
com sua mãe. Eu paguei ao motorista quando chegamos lá, pedindo desculpas pelo
comportamento de King quando meu chefe praticamente saltou do carro e correu para a
porta da frente. Remexeu no bolso antes de retirar um conjunto de chaves e, em seguida,
um segundo depois, ele desapareceu lá dentro.
Eu trouxe nossas pequenas maletas para a porta de entrada quando King gritou:
– Mãe, eu estou aqui! Mamã!
Normalmente eu não aceitaria, mas a situação chamava para uma bebida, então
eu balancei a cabeça e tomei o assento ao lado dele. Ele serviu. Então me entregou o
copo, e eu tomei tudo. A sala ficou em silêncio por alguns minutos, e eu não sabia por
que, mas eu senti o impulso de abraçá-lo, de preencher a lacuna monumental que
parecia ficar entre nós. Eu joguei meus braços ao redor de seus ombros, e ele endureceu.
Eu não o soltei.
Ele resistiu ao meu abraço por tanto tempo que eu tinha certeza de que eu teria
que desistir eventualmente, mas então, ele suavizou. Tudo aconteceu ao mesmo
tempo. Seu corpo derreteu no meu enquanto seus braços foram ao redor da minha
cintura e me puxou para perto. Ele me agarrou com tanta força que senti o ar dos meus
pulmões esvaziarem. Foi nesse momento que eu sabia que eu tinha dado a ele
exatamente o que ele precisava.
– Ontem você me perguntou quem era Bruce, – disse ele, falando em meu
pescoço. – Ele é meu pai.
Eu me endireitei e King se afastou um pouco para encontrar meus olhos. – Ele
também esteve me chantageando quase toda a minha vida.
Minha testa franziu quando eu balancei a cabeça. – Eu não entendo.
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King soltou um longo suspiro, pegou o copo, e bebeu tudo de uma só vez. –
Minha mãe esteve tocando piano desde que ela podia andar. A família dela era rica, e
quando viram que ela tinha um talento natural, investiram muito em sua carreira. Uma
vez que ela chegou a adolescência, ela começou a chamar a atenção, e logo ela estava
tocando com orquestras, viajando ao redor do mundo.
Olhei para ele, absorvendo suas palavras. King derramou mais líquido no seu
copo.
– Ela estava tocando no Royal Albert Hall em uma noite quando meu pai estava
presente. Ele a viu no palco e decidiu que queria ela. Ela tinha apenas dezessete anos,
mas Bruce Mitchell era um homem que conseguia o que queria. Ele era muito mais
velho e muito rico, mas ele também era perigoso, que provavelmente foi o que atraiu
Mamãe - o perigo, a emoção. Eles eram de mundos diferentes, ainda são, e Bruce não é
um bom homem. Ele é um criminoso, muito poderoso. Todas as coisas mais
desprezíveis que você pode pensar, meu pai provavelmente tinha uma mão nelas.
– Oliver, eu...
– Silêncio. Apenas me deixe falar. Eu nunca disse a ninguém antes. – Ele fez
uma pausa para encontrar o meu olhar, inclinando a cabeça. – Eu confio em você,
Alexis. Isso não faz de mim um tolo, não é?
Eu fiz uma careta. – Claro que não. Qualquer coisa que você me diga nunca vai
sair desta sala.
Ele tomou um gole de sua bebida e bufou. – De qualquer forma, para encurtar a
história, mamãe teve um breve caso com Bruce e ficou grávida de mim. Sua carreira
realmente decolou depois disso e ela se tornou muito famosa por uma série de anos,
enquanto Bruce meio que derivava para o fundo. Então, logo depois que ela completou
dezoito anos, minha mãe começou a ter problemas com um stalker. Foi um momento
assustador para nós dois. Voltando para casa para ver que ela tinha sido assaltada, os
objetos de valor deixados, itens intocados, mas as coisas pessoais da minha mãe
roubadas. Ele escreveu ‘assustador’ em letras obsessivas, e minha mãe teve que colocar
a polícia sobre o caso. Meses se passaram, e minha mãe começou a sair menos e
menos. Ela estava com medo de encontrar seu perseguidor, e um monte de que ele tinha
escrito em suas cartas indicava que ele não era bem da cabeça. E então, uma noite
durante o verão antes de eu começar a universidade, cheguei em casa e encontrei minha
mãe espancada e amarrada, um homem se preparando para estuprá-la. Eu perdi a calma,
fui à loucura e comecei a bater nele. Eu não conseguia parar. – A voz de King engasgou
e eu vi seus olhos se encherem de emoção enquanto ele se lembrava. Eu estava tão
absorta em sua história, tão horrorizada por ela, que eu quase parei de respirar por um
momento. Peguei a mão dele na minha, apertei com força.
– Eu... eu pensei que o tinha matado. Eu não poderia encontrar um pulso, então
eu entrei em pânico. Eu juro, Alexis, achar que você matou um homem é o sentimento
mais terrível do mundo. É como se tudo acabasse e todo o seu futuro está
desaparecido. Eu não sabia se devia chamar a polícia ou começar a pensar sobre onde eu
poderia enterrar o corpo, mas, então mamãe falou. Ela me disse para chamar Bruce. Eu
só encontrei o meu pai um punhado de vezes, mal sabia sobre ele, mas eu estava em tal
estado que eu simplesmente fiz o que ela me disse.
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Página
– Um pouco mais tarde ele apareceu na casa, encontrando Mamãe ferida e
machucada, e eu coberto de sangue de outro homem. Eu pensei que ele era nosso
salvador naquela época. Ele cuidou de tudo. Levou o homem que eu tinha batido a um
hospital, pagou a ele para manter a calma, e fez com que ninguém soubesse que eu tinha
quase o matado em minha raiva e medo. A experiência sempre ficou comigo, mas pelo
menos não tinha matado ninguém. E então, vários meses depois, Bruce começou a fazer
sua presença conhecida. Ele queria conhecer seu filho, passar um tempo comigo. Eu
estava mais do que feliz em primeiro lugar. No entanto, uma vez que me tornei
familiarizado com o meu pai e seu modo de vida, eu queria absolutamente nada a ver
com ele. Bruce, infelizmente, não estava disposto a me deixar ir. Ele me disse que
nunca tinha levado o perseguidor da mamãe para um hospital naquela noite, mas em vez
disso, tinha matado e enterrado ele em uma cova rasa. Ele me disse que se eu não
começasse a fazer como ele disse, ele ia fazer com que a polícia encontrasse o corpo e
eu seria preso por assassinato.
Olhei para ele, espantado e chocado. Agarrei sua mão tão apertado que eu
estava, provavelmente, cortando sua circulação. – Então... o seu pai, eu quero dizer,
Bruce esteve te chantageando a fazer o que ele manda desde então?
King se aproximou mais. – As coisas que eu vi, Alexis, as coisas que ele me
forçou a testemunhar, sequer pense nisso. Eu construí toda a minha carreira de forma
limpa, não roubei, não fiz nada de errado com o único propósito de nunca me tornar
como ele. Mas agora.... – King suspirou, sua mandíbula apertando quando seu peito
caiu, – Agora ele está à procura de novas maneiras de limpar o seu dinheiro, e ele
decidiu fazer isso me obrigando a investir para ele. Eu disse a ele apenas uma vez que
eu faria este negócio com Hirota, e então eu nunca quis vê-lo novamente. Mas se vir
aqui hoje e ameaçar Mamãe é qualquer indício, ele não tem intenção de nos deixar em
paz. – Ele olhou para mim. – Lembra quando eu disse que a mamãe teve que ser levada
para o hospital?
Eu balancei a cabeça.
– Ela teve uma overdose de medicação de ansiedade porque ela estava tão
preocupada com o que Bruce faria conosco se o negócio não desse certo. Eu não posso
deixá-la mais viver assim. A minha mãe é a única família que me resta no mundo, e ela
passou mais de uma década como um fantasma. Ela está muito ansiosa e paranoica
sobre as ameaças de Bruce para sequer sair de casa. Eu quero vê-la viver de novo, vê-la
sair e ser como qualquer outra mulher na rua.
Meu coração corria com suas palavras, na sinceridade delas e a dor que ele tinha
tão obviamente carregado por anos. Eu queria corrigir isso para ele. Eu precisava. E eu
sabia quem podia ajudar. Eu cresci em um bairro de classe baixa, e ter sido a melhor
amiga de Karla toda a minha vida, uma policial criada por um superintendente, eu sabia
sobre como os criminosos operavam.
122
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Quatorze
– E Lee Cross.
Karla praticamente cuspiu um amendoim para fora da boca. – Oh infernos
não. Eu não quero que ele saiba onde eu moro.
– Ele já sabe, Karla. Stu já veio aqui muitas vezes, então se ele quisesse
descobrir onde você vive, tudo o que tinha a fazer é perguntar a seu irmão.
– Sim, mas há uma grande diferença entre ele saber e convidá-lo. Isso é como
enfiar um grande sinal de ‘venha me pegar’ na minha testa, – ela gaguejou.
– Oh, não seja tão melodramática. Tenho certeza que ele vai ser capaz de resistir
a você enquanto ele estiver aqui, – eu respondi sarcasticamente, que só pareceu irritá-la
ainda mais. Foi um pouco engraçado, e eu precisava de algum alívio cômico.
– Ei! Eu não estava dizendo isso porque eu acho que sou irresistível. Eu disse
isso porque eu sei como homens como ele funcionam. Eles querem transar com uma
policial para que eles possam se gabar para seus companheiros. Eu sou apenas um
troféu para ele. – Ela caiu para trás em sua cadeira e cruzou os braços, murmurando
baixinho. – Nada a ver com a minha aparência.
Tinha tudo a ver com sua aparência. Ela era linda, ela só não sabia disso -
provavelmente porque ela tinha que usar esse uniforme preto e branco sem graça todos
os dias.
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– De qualquer forma, – eu comecei, mudando de assunto, – Eu preciso te pedir
uma coisa.
– Continue.
– O que você sabe sobre Bruce Mitchell?
As sobrancelhas de Karla se atiraram em cima de sua testa, quando ela soltou um
assobio. – Isso é um nome grave para ficar falando por aí.
– Eu sei. Então me diga o que você sabe.
– Eu sei que ele é um criminoso grande. Tem os dedos em cada torta que se
possa imaginar, mas principalmente suspeito de correr um grande anel de drogas no
centro de Londres. Ele tem estado fazendo isso por tanto tempo que é praticamente sua
própria instituição. – Ela fez uma pausa, olhando-me desconfiada. – Por que você está
me perguntando sobre Bruce Mitchell, Lexie?
E aqui foi onde eu lhe contei a mentira que eu acordado com King. Nós não
contaríamos a ninguém que Bruce era seu pai, nem sobre o passado com o perseguidor
de sua mãe. O que diria a eles foi que Bruce tinha chantageado King e ameaçado
enquadrá-lo por crimes que ele não cometeu. Então nosso plano era pedir que Lee, que
era astuto como uma raposa e sabia tudo sobre todos nesta cidade, se ele poderia jogar
alguma sujeira em Bruce. Tínhamos então de usar essa sujeira para fazer Bruce se
afastar de King e Elaine. Como eu disse, ele estava lutando fogo contra fogo. Lee era
uma opção segura, porque eu o conhecia bem o suficiente para saber que ele podia
confiar, mas ele também era alguém com seu próprio nível de energia, de modo que
Bruce não iria tentar retaliar contra ele como nosso intermediário, por assim dizer.
Depois que eu terminar de falar, Karla me encarou, chocada.
– Você está seriamente me dizendo tudo isso e esperando que eu não vá
denunciá-lo? Em que planeta você está vivendo?
Eu refleti sua indignação de volta para ela. – Você está seriamente sentada aí
achando que eu vou reportar isso? Se eu aprendi alguma coisa de viver com você, é que
o sistema de justiça criminal neste país é besteira. Bruce esteve saindo limpo de
assassinatos por décadas. O que faz você pensar que vai parar agora? Você não acha que
centenas de pessoas têm ido à polícia sobre ele ao longo dos anos? E algo disso
funcionou? Não. Nós precisamos vencê-lo no próprio jogo dele.
Karla caiu de volta no sofá, desistindo. – Às vezes eu nem sei porque me
incomodo com este trabalho.
Eu vim para frente e apertei seu ombro. – Você faz isso porque você é uma boa
pessoa que quer ajudar aqueles que precisam disso. Não é sua culpa que o sistema esteja
corrompido.
Ela balançou a cabeça. – Eu só não entendo por que você está confiando em Lee.
– Eu estou confiando nele porque ele sabe das coisas. E sim, ele pode não estar
tecnicamente vivendo a sua vida no lado direito da lei, mas ele é uma pessoa
decente. Ele tem um bom coração e ele nunca magoaria alguém. Ele não é como Bruce.
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Karla me olhou especulativamente. – Você parece muito certa sobre ele.
– Passei muito tempo em torno dele quando Stu e eu estávamos juntos. Ele pode
não fazer o seu dinheiro de forma legal, mas eu o vi usá-lo para cuidar de sua
família. Ele até mesmo compra comida para as crianças dos vizinhos, cujos pais
viciados não estão aptos para cuidar deles, – eu disse a ela. – Então, sim, ele não é
perfeito, mas ele não é uma pessoa ruim.
Sua expressão se suavizou por um breve momento antes de ela me dar um aceno
sóbrio e voltar sua atenção para a TV. Eu poderia dizer que ela ainda não estava
inteiramente feliz com a situação, mas ela também não iria continuar protestando.
Eu tinha acabado de colocar uma camiseta leve e legging quando uma batida
soou na porta. Eu pedi para Karla atender, e em seguida, corri para King. Ele tinha
tirado o terno que ele estava usando mais cedo e agora usava jeans, uma camiseta e uma
jaqueta caqui. Eu juro, mesmo com as atuais circunstâncias, a visão dele fez meu
coração acelerar.
– Hey, – Cumprimentei ele em silêncio, dando-lhe um sorriso hesitante.
– Alexis, – disse ele, e se inclinou para pressionar um beijo em meus lábios. Eu
praticamente podia sentir os olhos de Karla perfurando minha cabeça, porque eu sabia
que tinha que estar nos observando. Eu ainda não tinha tido a oportunidade de explicar
completamente a minha relação com King para ela, mas eu imaginava que ela iria
colocar dois e dois juntos. Nós não tínhamos feito sexo em quase dois dias, e apesar de
tudo o que estava acontecendo, meu corpo ansiava por seu toque. Parecia que eu sempre
queria mais e mais dele.
Eu passei a mão pelo seu braço antes de laçar meus dedos com os dele. – Como
você está se sentindo?
– Preocupado, estressado. – Ele se inclinou para sussurrar a última parte no meu
ouvido, – Com tesão.
Um arrepio correu ao longo da parte de trás do meu pescoço enquanto eu tentava
resistir ao desejo de arrastá-lo para o meu quarto. Em vez disso, o levei até o sofá e o
apresentei a Karla.
– Esta é Karla, minha companheira de quarto e BFF6. Eu já falei com ela sobre a
situação. Karla, este é Oliver, meu eh, uh...
– Seu chefe? – Ela terminou para mim, arqueando uma sobrancelha.
Eu fiz uma careta para ela. – Sim, meu chefe.
Antes que a conversa pudesse continuar, houve outra batida na porta. Eu fui
atender e fui recebida por não apenas Lee, mas seu irmão também. Sim, isso mesmo,
meu ex decidiu aparecer. Às vezes eu gostaria de ter um mordomo para atender à minha
porta e informar aos visitantes em meu nome, Eu sinto muito, mas não hoje.
Por que diabos ele estava aqui? As minhas primeiras palavras expressaram esse
mesmo sentimento enquanto os dois homens entravam sem esperar ser convidados.
6
Best Friend Forever – Melhor amiga para sempre. (N.T.)
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– Uh, por que Stu está aqui? – Perguntei, gesticulando.
Lee me lançou um sorriso. – Ele é meu músculo.
– Tanto quanto eu posso ver, você já tem bastante músculo em você mesmo, –
eu respondi.
– Ah, sim, mas você sabe que a sociedade é uma cadela. Você tem que ser um
bastardo alto para que as pessoas tenham medo de você estes dias. Eles não percebem
que os indivíduos pequenos são mais rápidos. – Ele fez uma pausa, os olhos correndo do
outro lado da sala para dar a Karla uma piscadela. – Além disso, temos a vantagem de
um centro de gravidade mais abaixo.
Lee não era exatamente baixo, mas eu entendi aonde ele queira chegar. Meu ex
era bem mais alto, um grande idiota burro. Eu tive que resistir à vontade de rir quando
Stu deu a seu irmão um olhar vago em sua menção de ‘um centro de gravidade mais
baixo’.
– Como vai, Lex? – Disse Stu quando sua atenção veio descansar em mim, seus
olhos fazendo uma varredura rápida do meu corpo.
– Ela vai estar muito melhor quando você der o fora daqui. Nada disso te diz
respeito.
Lee levantou a mão. – Ora, ora, não vá começar a dar piti, Clarky. Você me
ligou pedindo ajuda. Eu tive a amabilidade de atender, mas se você quer que eu fique
por perto, você vai ter que lidar com o meu irmão aqui, também. – Sua voz era dura e
abordou mais nenhuma discussão. No segundo seguinte, King estava ao meu lado,
apresentando-se.
– Nós ainda não tivemos o prazer, – disse ele urbanamente. – Meu nome é
Oliver.
Lee deu a ele um rápido olhar antes de olhar para mim, seus lábios se contraindo
em diversão. – Arrumou um bastardo fino, não é? – Ele cutucou seu irmão com o
cotovelo. – Ela está se movendo para cima no mundo.
– Não seja um idiota, – disse Karla em um tom irritado.
Lee parecia desfrutar da sua farpa. – Eu nunca vou ser um idiota para você,
esquentadinha. Na verdade, – ele continuou, sua voz baixando, – Eu vou ser tão
agradável que você nunca vai querer que eu vá embora.
Karla revirou os olhos, sem se incomodar em replicar. Notei que Stu agora
estava encarando King, e eu não gostava da inclinação irritada de sua boca. Jesus, tudo
isso teria sido mais tranquilo se Lee tivesse deixado o irmão em casa. Stu desviou seu
olhar entre mim e King.
– Vocês estão juntos?
Minha postura ficou dura. – E se nós estivermos?
Oh, pelo amor de Cristo. Eu lancei um olhar suplicante para Lee enquanto King
olhava sem emoção para o meu ex. Decidindo, Lee acenou para a porta. – Eh, Stu, vai
esperar por mim lá fora. Certifique-se de que ninguém tente entrar no flat.
Stu não parecia feliz sobre a ordem de seu irmão, mas ele fez o que lhe foi dito
mesmo assim. Entre os dois, ficou claro quem era o alfa. Assim que Stu saiu, eu
finalmente me senti como se eu pudesse respirar. Mandei a King um olhar de desculpas
quando ele se inclinou e sussurrou, – Uma antiga paixão sua?
– Infelizmente sim.
– Ele quer você de volta.
Deve ter sido o tom de Lee que fez King rir. Karla deixou escapar um longo
suspiro e olhou para mim. – Eu não posso acreditar que você está me fazendo ser um
testemunho disso. Você seriamente me deve uma, Lexie.
Lee inclinou a cabeça para ela. – Eu vou te dever uma a qualquer dia da semana,
querida.
Ela fez uma careta para ele e ele sorriu de alegria. Ela murmurou um ‘desculpa’
para ela e pensou que talvez ela devesse parar de ser tão descontente com ele, porque
era óbvio que ele gostava. Um momento de silêncio se passou antes de Lee apertar as
mãos e começar a falar.
– Então, Sr. King, parece que você está com sorte. Já fiz algumas perguntas
discretas por aí e parece de Brucey foi ficando desleixado na sua velhice. Se você me
perguntar, deve ser todas aquelas prostitutas. Sífilis fode com o cérebro.
King ficou duro com as palavras de Lee, e eu estendi a mão para atar meus dedos
com os dele. Silêncio se seguiu. Lee riu. – O quê? Piada ruim? – Nenhuma resposta. Ele
ergueu as sobrancelhas. – Ok, eu vou manter as piadas para mim no futuro. Então, o que
fiquei sabendo é que Bruce matou um policial um par de meses atrás.
Karla engasgou. – O quê?
Lee concordou. – É sério. Mas não se preocupe, esse policial era sujo. Isso não
vai acontecer com você, esquentadinha. Você é um lírio branco. Eu posso dizer.
– Vá se foder.
Lee lançou a ele um sorriso cheio de dentes. – Briguenta. Eu gosto disso. De
qualquer forma, deu merda. O policial estava na folha de pagamento de Bruce, mas o
vendeu para a competição, um cara chamado Tiny McGee7. Irônico, já que ele é um
filho da puta gordo. Eu consegui em minhas mãos a arma que Bruce usou para disparar
no policial. Ele atirou nele no Thames, mas um de seus homens, vendo uma
oportunidade para chantagear, pegou a arma e guardou para uso futuro. Este cara
concordou em vender a arma para mim por 25mil, – ele disse, e olhou para Karla. – Viu,
eu não sou completamente desprezível. Metade do dinheiro nem é pra mim.
– Oh, sim, você é um verdadeiro santo, – Karla brincou.
Lee trouxe sua atenção de volta para King. – Então tudo que você precisa fazer é
sentar, relaxar, e me deixar cuidar do resto. Atirar em um policial é um mau negócio, e
ele não vai querer que isso vá a público. Eu vou dar a Bruce uma chamada. Dizer a ele
7
Tiny significa pequeno. (N.T).
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como as coisas vão rolar e ver se ele quer ser inteligente ou estúpido. Não posso garantir
que ele vai ser inteligente. Como eu disse, é a sífilis. – Ele fez uma pausa, esperando
que nós ríssemos. – O quê? Ainda não é engraçado? Tudo bem, eu desisto.
Lee se levantou quando King se dirigiu a ele. – Quando posso esperar para ouvir
de você?
Olhando para o relógio, Lee respondeu: – Mais ou menos essa hora amanhã.
– Muito bom, – disse King, estendendo a mão e sacudindo a de Lee.
– Foi um prazer fazer negócios com você.
Lee se levantou para sair, mas antes que ele fizesse, ele se inclinou sobre o sofá,
assustando Karla, dando a ela um beijinho de surpresa na bochecha. Poderia ter sido um
gesto doce, se não fosse tão descarado. Ela imediatamente recuou, soltando punhais
para ele. Ele piscou para ela. – Algo para você se lembrar de mim, esquentadinha. Até a
próxima vez.
– Não se preocupe. Eu posso lidar com isso. – Sua voz ficou abafada quando ela
se inclinou para frente, os olhos passando rapidamente para a porta do banheiro. – Que
diabos está acontecendo com você e o Sr. Alto, loiro, e perfeito?
Eu soltei um suspiro. – É complicado.
– Eu posso ver isso. Não é contra a política da empresa vocês estarem saindo?
– Não. Ele disse que não era. Nós realmente não temos discutido as coisas ainda
corretamente. Acho que vamos esperar até que essa coisa toda com Bruce termine antes
de falarmos sobre isso.
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Eu fiquei quieta quando vi a agua do banheiro fechar, e depois King ressurgiu.
– Então, eu deveria ir. Eu preciso verificar mamãe, – começou ele.
130
Página
Quinze
No dia seguinte, eu não vi King até depois do almoço. Ele teve reuniões durante
toda a manhã e ficou longe do escritório. Eu senti falta dele. Foi provavelmente por isso
que eu fui para ele assim que ele voltou, sob o pretexto de ter trabalho para ele
olhar. Gillian tinha acabado de sair para tomar um café quando eu fiz meu movimento.
Gillian soou estranha, provavelmente porque ela pensou que King estava usando
o banheiro. Fiquei imaginando o que ela pensaria se soubesse o que ele estava realmente
fazendo.
– Eu tenho um par de mensagens para você. Vou deixá-las em sua mesa.
– Obrigado. Vou sair em breve.
Como ele conseguiu ficar tão calmo? Suor revestia minha testa, ansiedade
inundando meu sistema. A boca de King se dirigiu para o meu ombro, brincando de
morder. Mordi a sua mão, que ainda estava grudada na minha boca, e ele soltou uma
risada tranquila, satisfeita. O bastardo estava gostando disso. Eu ouvi os saltos de
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Gillian batendo no chão quando ela fez para sair. Alívio me inundou por apenas um
momento, até que ela parou.
– Sr. King, você ainda não viu Alexis, não é? Ela não está em sua mesa.
– Eu pedi a ela para fazer uma coisa para mim, – King respondeu suavemente. –
Ela não vai demorar muito.
Após isso, ela continuou a sair, fechando a porta com um clique. Ar me
escapou. A mão de King saiu da minha boca, arrastando pelo meu corpo e entre as
minhas pernas.
– Eu vou te matar, – Eu gemi.
Ele riu novamente. – Não, você não vai. Eu vou fazer você gozar, e então você
vai gostar muito de mim para me matar.
– Não é provável.
– Isso é um desafio?
Eu não respondi. Não podia. Seu pau estava batendo em meus pontos doces, e eu
já não sentia o desejo de repreendê-lo. Eu meio que odiava que ele estava certo. Ele
encontrou o meu clitóris e começou a esfregar, e eu não tinha certeza se eu poderia
aguentar. A sensação dele dentro de mim e de seus dedos hábeis trabalhando no meu
clitóris era demais. Eu iria gozar cedo. Cedo demais. Eu queria dar uma dura nele por
brincar com o fogo assim, me foder enquanto Gillian estava lá, mas eu não podia
invocar a força de vontade. Tudo parecia bom demais.
– Eu posso sentir você me apertando, – ele rosnou. – Você gosta disso?
– Sim, – eu suspirei.
– Você vai gozar?
– Sim, – eu repeti.
– Você é linda, – ele respirou, e ao mesmo momento quebrei debaixo da sua
mão. Ele gemeu e continuou a me foder enquanto eu gozava, extraindo cada onda, até
que ele estava gozando também. Eu nunca me senti tão possuída em toda a minha
vida. King encheu-me, e foi só naquele momento que eu percebi que tínhamos transado
sem proteção novamente. Não tínhamos usado antes na limusine também, então não foi
um grande negócio. Ainda assim, ter relações sexuais desprotegidas com ele se sentia
mais perto do que qualquer outra coisa. Eu queria dizer a ele como eu me sentia, mas eu
estava com medo. Eu era geralmente uma pessoa que expressava o que estava pensando,
mas não neste caso. Minha apreensão da pequena chance de que ele não fosse retornar
meus sentimentos continuava lá dentro, à espera de um raro momento de bravura.
King colocou seus braços em volta de mim por trás, seu corpo fundindo no meu
enquanto ele soprava minha pele.
– Eu... – Ele começou, mas vacilou.
– Oliver? – Eu sussurrei.
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– Eu não consigo parar de pensar em você, amor. Mesmo com tudo o que está
acontecendo, eu não posso parar.
– Eu penso em você, também. O tempo todo.
Seus lábios traçaram meu ouvido. – O que estamos fazendo?
– Eu acho que... – Fiz uma pausa, perdendo a coragem. Vamos, coragem, não
falhe agora. – Oliver, – eu comecei mais me virei, trazendo meus braços em volta do
seu pescoço, meus olhos procurando os seus. – Acho que podemos estar apaixonando
um por outro.
Sua garganta se moveu quando ele engoliu, e sua mão subiu para a minha
mandíbula. Seus olhos eram tão ferozes, então tão cheios de palavras não ditas, que eu
achei difícil de respirar. Cada cabelo no meu corpo ficou em pé, e seu polegar acariciou
minha garganta, enviando tremores através de mim. Então sua boca veio até a minha,
sua língua deslizando para dentro, e eu fechei os olhos. Ele não estava falando, mas ele
não precisava. Seu beijo me disse como ele se sentia. Me disse mais do que palavras
poderiam transmitir.
***
– Era Lee Cross. Ele disse que Bruce concordou em recuar. Ele vai nos deixar
em paz.
Elaine suspirou, sua mão indo para sua boca enquanto seus olhos se molhavam
de lágrimas, apesar de estarem, obviamente, felizes. Levantei-me e caminhei até King,
dando a ele um abraço apertado e pressionando um beijo rápido em seus lábios. No
momento em que eu o soltei, ele foi para sua mãe, pegando-a em seus braços e
apertando-a com força. O abraço durou muito tempo. Estava cheio de alívio, anos de
preocupação e estresse que estava sendo soltado de uma vez. Eu pensei que talvez eu
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devesse dar a eles um momento a sós, mas então King recuou, com os olhos em sua
mãe.
– Vamos, vamos levá-la para a cama. Talvez esta noite você vá dormir
tranquilamente pela primeira vez.
Elaine assentiu e me deu boa noite antes de King a levar da sala. Sentei-me no
sofá, peguei o meu vinho, e tomei o resto do vinho. No momento em que King voltou,
senti-me cansada. Fiquei aliviada, sim, mas havia também um nó de apreensão no meu
intestino.
Eu sabia que isso tudo tinha sido minha ideia, mas havia algo sobre isso que
pareceria muito fácil. Eu nem por um segundo pensei que Lee estava nos
enganando. Ele poderia ter sido um criminoso, mas ele era nobre. Sim, havia uma coisa
como honra entre ladrões. Além disso, eu tinha visto desertores reais durante meus anos
de trabalho no bar para reconhecer um, embora ligeiramente bêbados quando via um.
Ainda assim, algo simplesmente não parecia bem pra mim, e eu odiava me sentir
assim. Como se houvesse pontas soltas invisíveis que não eram o bastante para se
agarrar.
King voltou para a sala e caiu no sofá ao meu lado. Ele não disse uma palavra,
mas ele não precisava. Eu podia sentir que seu alívio foi de curta duração, como o meu
tinha sido. Ele tinha colocado uma cara aliviada por sua mãe, tentando dar a ela uma
aparência de paz, mesmo que poderia ter sido enganosa.
Ele esticou o corpo para fora no sofá e me puxou para o seu peito de modo que
minha cabeça estava descansando em seu esterno. O silêncio continuou quando nenhum
de nós falou. Eu pressionei meu ouvido em sua pele, ouvindo a batida do seu
coração. Foi tranquilizador, em meio à incerteza, ter seu corpo forte tão vivo ao lado do
meu. Saber que uma batida seria seguida pela próxima.
Sua mão começou a acariciar meus cabelos, meu braço nu, meus ombros. Fechei
os olhos, apreciando seu toque.
– O que você disse hoje no escritório, você estava falando sério? – King
murmurou, sua voz quase hesitante.
Sua pergunta me deu uma pausa quando eu levantei a minha cabeça para
encontrar seus olhos. – O que eu disse?
– Sobre nós estarmos nos apaixonando, – King sussurrou. – Você acredita nisso?
– Eu não preciso acreditar nisso, – eu respondi fervorosamente antes de tomar
sua mão e colocá-la sobre o meu peito. – Eu sinto.
King respirou, os olhos piscando entre os meus. Sua voz era quase inaudível,
quando disse: – Eu sinto isso também, Alexis.
Meu coração gaguejou, e um sorriso espalhou o seu caminho através de minha
boca. – Bem, então, Oliver, isso é tudo o que precisamos saber.
E então eu o beijei.
136
Página
***
– King.
– Eu disse que não era ninguém, – ele gritou, e eu parei. Um silêncio mortal
encheu a sala até que seu telefone começou a tocar. Eu pensei que ele iria ignorar, mas
então ele viu o nome de sua mãe na tela. Ele atendeu e segurou ao ouvido. A sala ficou
em silêncio e o volume era alto, então mesmo estando longe, eu podia ouvir a voz na
outra extremidade, e a voz não pertencia a mãe de King. Era uma voz profunda,
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Página
arranhada, um decadente sotaque londrino, e meu peito apreendeu quando eu imaginei a
quem pertencia.
O corpo inteiro de King se transformou em pedra enquanto eu escutava.
– Olá, filho, – disse Bruce, satisfação cruel atada em sua voz.
– O que está fazendo com o telefone da minha mãe? – King exigiu, um tremor
em suas palavras.
– Pensei que você poderia me foder mais, seu merdinha. Eu e sua mãe estamos
nos divertindo agora. Você sabe, relembrando. Eu estava esperando que você pudesse
vir e se juntar a nós.
Um grito feminino ecoou e então uma batida audível. A voz de Bruce se afastou
do telefone. – Pare de chorar, ou eu vou te dar algo para chorar. Você sabia o que estava
fazendo, não é, sua cadela. Vocês dois tentaram me foder. Bem, agora vocês vão
aprender que ninguém fode comigo e sai ileso.
– Se você machucá-la, – King começou, a voz baixa e com raiva, mas ele não
conseguia esconder sua emoção. Seu puro pânico era evidente, e eu sabia que Bruce
estava gostando. – Se você tocar em um único fio de cabelo na cabeça dela, eu vou te
matar. Você acha que ganhou, mas você não ganhou. Não tenho mais nada a perder
agora, Bruce. Nada.
Um riso cruel soou o telefone e, em uma fração de segundo, King esmagou-o
contra a parede, e a tela rachou em pedaços. Ele pegou o casaco e fugiu do
escritório. Corri atrás dele, pedindo a ele para esperar, mas ele não quis ouvir. O segui
para a saída de trás do edifício, onde jornalistas estavam esperando, e antes que eu
percebesse, estávamos em um táxi indo para a casa de Elaine. Tentei segurar a mão de
King, mas ele não me deixou tocá-lo.
O ar entre nós parecia frio e eu me mexi para tentar pensar em algo que pudesse
acalmá-lo. Impedi-lo de fazer qualquer coisa estúpida. A viagem foi muito curta, e antes
que eu percebesse, King estava jogando dinheiro para o motorista e correndo para sua
mãe. A porta da frente, que eu sabia que King tinha posto novos bloqueios após a última
invasão de Bruce, tinha sido definitivamente quebrado. A porta estava fechada, mas o
bloqueio estava quebrado. King abriu, e ambos corremos para dentro. Um homem alto,
de ombros largos, estava esperando no corredor. Ele cruzou os braços sobre o peito e
disparou a King um sorriso confiante.
Ele era obviamente muscular demais para ser Bruce. Ele também pareceu pensar
que ele poderia facilmente acabar com King. É por isso que nos surpreendeu quando
King caminhou direito para cima e lhe deu uma cotovelada forte no lado do rosto
dele. Ouvi o osso rachar, e o homem tropeçou em uma parede com um grunhido de
dor. Então King trouxe o pé na canela do cara. O cara soltou um grito estrangulado, mas
nós dois já tínhamos ido embora, correndo para encontrar Elaine.
A casa estava em silêncio, o que de alguma forma pareceu mais assustador do
que se ela estivesse gritando de terror como nós tínhamos ouvido no telefone. Entramos
na cozinha para encontrar um homem mais velho em pé ao lado da pia, casualmente
usando um pano de prato para limpar o sangue de suas mãos. Ele parecia estar em seus
setenta anos, seu cabelo quase completamente desaparecido. Seu rosto estava forrado
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com rugas profundas, e havia uma cicatriz que ia logo acima de sua sobrancelha
direita. Ele parecia em forma para sua idade, sua construção atarracada, o único sinal de
fraqueza de um pouco de banha ao redor da sua cintura.
Seus olhos foram para King, e seu olhar se estreitou. Ele não estava mais
rindo. Havia uma frieza sobre ele que congelou meus ossos.
– Você está muito atrasado, – foi tudo que ele disse. A voz morta. Os olhos
mortos. O coração preto. Eu sabia de tudo isso dentro de segundos olhando para ele.
King estava parado e ele não estava olhando para seu pai. Isso me confundiu no
início, mas depois eu segui o seu olhar para o chão. O tempo deixou de existir. No chão
estava Elaine. Ela usava seu pijama pêssego favorito - o pijama de pêssego favorito que
estava banhado de sangue. Ela não estava se movendo, não estava respirando, mas eu
me recusei a aceitar que ela estava morta. Ela parecia tão... pequena.
Não.
Não.
Não.
Eu nem sequer percebi que estava balançando a cabeça até que King mergulhou
para seu pai, suas mãos indo ao redor da garganta do homem mais velho. Eu não
conseguia ouvir sobre o som do meu coração trovejando nos meus ouvidos. Não era
possível me mover. Então eu estava ali, congelada em estado de choque, quando King
começou a bater em seu pai. Bruce deu um par de socos, mas ele era velho, e sua força
não era párea para a de King. Eu estava prestes a gritar quando eu o vi puxar uma arma,
mas King era mais rápido, levando seu pai ao chão e enviando a arma para longe. Ele
deu um soco final no crânio de Bruce, e o homem caiu molemente nos azulejos. O
baque pesado era um som horrível, e eu pensei que eu ouvi um osso quebrar mais uma
vez. Um tremor abrangente e profundo percorreu meu corpo. O peito de King subia e
descia rapidamente enquanto ele olhava para corpo sem vida de seu pai.
Eu permaneci congelada, sem entender como isso aconteceu.
– Não, não, não, não, não, – ele começou a murmurar, correndo as mãos pelo seu
rosto quando ele balançou a cabeça. – O que foi que eu fiz? O que eu fiz? – King repetiu
suas palavras mais e mais, a sua forma inteira começou a tremer.
Ele foi para sua mãe e caiu de joelhos, puxando-a em seus braços. – Não, mãe,
acorda. Acorda.
Lágrimas encheram meus olhos e correu pelo meu rosto. Era
demais. Demais. Isso não poderia estar acontecendo. Eu não sabia o que fazer. O que eu
poderia fazer? Deveria chamar a polícia? Eu não deveria chamar a polícia? Eu senti
vontade de chamar Lee, mas eu não tinha certeza se eu deveria estar envolvendo
qualquer outra pessoa nesta situação.
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Dezesseis
Londres, seis anos mais tarde.
Cara Alexis,
Eu espero que você não ache a minha carta intrusiva, mas te descobri através
da agência que você trabalha e por alguns trabalhos como modelo que você fez
antes. Meu nome é Lille Baker, e eu sou uma artista. Eu trabalho em um circo
itinerante, o Circus Spektakulär. Nós fazemos shows por toda a parte, mas agora nós
estamos parados para fazer alguns shows em Londres.
Eu queria te enviar esta carta durante semanas, mas eu estendi isso. Eu tive que
esperar até que estivéssemos perto o suficiente para que você viesse. Você
provavelmente está se perguntando por que eu não apenas te mandei e-mail. Ou
liguei. Castas são uma espécie de forma de arte perdida agora, certo? Mas o que tenho
a te dizer é de tão grande importância que eu senti que um e-mail seria muito
impessoal. Uma ligação muito abrupta.
Por outro lado, era uma localização centro da cidade, onde o circo estava
atualmente acampado para shows. Não era mais do que uma viagem de carro de
distância, e minha pele se arrepiou a pensar que ele estava tão próximo. Era real, ou era
alguém pregando uma peça?
Não, tinha que ser real. Ninguém além de Bruce pensaria em fazer algo tão cruel,
e ele morreu na prisão seis meses depois de ter sido colocado lá, esfaqueado por um
jovem rapaz que não queria ele entrando e tomando conta. Eu achei que sua morte se
encaixou.
Bruce Mitchell.
Marina Mitchell.
King tinha uma irmã. Como eu não a tinha conhecido? Como Elaine não tinha
conhecido? A memória da mulher cigana que King certa vez disse que era da família
brilhou em minha mente novamente. Esta Marina deve ter sido sua meia-irmã, nascida
de Bruce e uma mãe diferente. É por isso que Elaine não a conhecia. Mas por que
diabos King estava vivendo com alguém que tinha alguma coisa a ver com esse
monstro? Era tudo demais, muito confuso. Debrucei-me na minha cadeira, tentando
fazer sentido disso.
Depois que ele desapareceu, eu tinha passado por todas as cinco fases do luto:
negação, raiva, barganha, depressão e finalmente aceitação. Agora, cada uma dessas
etapas estavam correndo de volta ao mesmo tempo, tornando-se uma estranha confusão
de esperança e alegria, raiva e medo.
Eu finalmente resolveria na minha vida. Como poderia uma única carta virar
tudo sobre o seu eixo?
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Página
Quatro anos atrás, eu tinha parado de modelar e abri a minha própria
agência. Deu tão certo que eu finalmente guardei dinheiro suficiente para uma hipoteca,
e tinha comprado uma pequena casa de dois quartos em Waltham Forest. Elaine, que eu
tinha me aproximado ao longo dos anos, vendeu sua casa grande em Bloomsbury, que
segurava muitas memórias ruins, e comprou uma pequena casa de campo em Waltham,
a fim de estar perto de nós.
Nós.
O próprio pensamento fez minhas lágrimas aumentarem. A vida tinha sido tão
difícil desde que King desapareceu. Durante muito tempo, eu não poderia seguir em
frente. Meu coração se recusou a acreditar que ele estava longe pela sua própria
vontade, mas ao mesmo tempo eu entendi o trauma que ele deve ter sofrido ao pensar
que ele tinha matado um homem com suas próprias mãos. Agora eu sabia que ele estava
lá fora, perto o suficiente para me alcançar. Tocar. Para puxar perto.
E ainda assim, aqui estava eu vivendo em minha pequena casa com o amor da
minha vida. Aquele que pareceu depois de King e remendou meu coração partido.
Eu o ouvi puxar a maçaneta da porta e entrar na sala, provavelmente, se
perguntando porque eu estava chateada, porque eu estava chorando. Limpei as minhas
lágrimas e tentei gessar uma cara brava, não querendo preocupá-lo.
– Mamãe, – ele perguntou, – o que há de errado?
Meu menino era tão bonito, tão parecido com o pai, com seu cabelo loiro e olhos
azuis pálidos. Eu nem percebi que estava grávida por um longo tempo depois que King
desapareceu. Eu tinha achado que iria morrer de tristeza. Sim, eu pensei que eu estava
vomitando minhas tripas todas as manhãs por causa do quanto senti falta dele. Eu logo
percebi que não era o caso. Aparentemente, o comprimido nem sempre é eficaz.
Mas ainda assim, uma pequena parte de mim estava grata. Meu amor tinha
desaparecido, mas ele tinha deixado algo de si mesmo para trás. No entanto, eu estava
deprimida por grande parte da minha gravidez. Karla e meus pais estavam
preocupados. Elaine também. Ela queria tanto um neto. E então, meu Oliver veio e eu
me apaixonei novamente.
Minha força voltou. Eu precisava viver para o pequeno ser que precisava de
mim. Então eu coloquei tudo em minha carreira, comecei a modelar, tanto quanto eu
poderia. Elaine ajudou com dinheiro até que eu estava indo bem o suficiente para ir
sozinha. Eu acho que a combinação do nascimento de Oliver e a morte de Bruce mudou
alguma coisa nela. Ela começou a sair mais, tornando-se independente. Ela ainda tocava
piano de vez em quando. Ela estava muitas vezes triste, quando ela chorava por seu
filho desaparecido, mas ela não era mais o casco de uma mulher que ela era uma vez.
Mesmo que eu tinha aceitado o fato de que ele se foi, eu sofria também. Todo
dia. Por King.
Acho que foi o fato de que nós tivemos tão pouco tempo juntos, tornou isso
pior. Eu tinha todas essas possibilidades para me perguntar. O que a nossa vida teria
sido se certos eventos não tivessem acontecido? É diferente de perder o seu amor aos
oitenta anos depois de uma vida juntos. A dor é muito mais nítida. Ele acaba com você,
porque você uma vez segurou a perfeição em suas mãos, apenas para ver isso se
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Página
afastando como a névoa. Você tem que ir sabendo que você nunca vai se sentir como
antes, sabendo que ninguém jamais irá se comparar.
Eu podia ir até ele. E, no entanto, eu hesitei.
As palavras na carta de Lille me assustaram. O que eu iria encontrar no
circo? Que tipo de homem? Reunindo um pouco de força, eu sabia que ainda tinha que
ir. Por ele. Pelo nosso filho. Pelo meu coração.
Puxei Oliver no meu colo e deu a ele um aperto suave. – Eu estava pensando em
uma história triste, isso é tudo.
– Por que você pensa sobre histórias tristes? – Ele perguntou, curioso, os dedos
indo para o meu rosto úmido.
– Porque às vezes meu cérebro faz isso, – eu respondi, e suas mãos viajaram para
minha testa, dando um puxão.
– Cérebro, parar de deixar mamãe triste. – Suas palavras me fizeram rir. Em
apenas um par de meses, ele iria completar seis anos. O tempo estava voando tão
rápido. Às vezes ele perguntava sobre seu pai, perguntava se ele tinha um, porque todos
os outros meninos na escola tinham. Eu lhe disse que seu pai estava muito, muito
distante. Eu odiava a triste inclinação na boca de Oliver depois e me perguntei se
poderia ter pensando em uma resposta melhor.
Parecia não natural vê-lo triste, porque ele era uma criança tão feliz,
sociável. Ele nunca foi tímido ou inseguro, sempre aberto para o mundo e as
possibilidades que cada dia poderia trazer. Ele fazia amigos com facilidade também. O
professor de sua classe, Montessori, disse que estava sempre trazendo as crianças para
perto, fazendo sugestões para novos jogos que poderiam jogar.
Eu o deixei sair do meu colo e fui até a cozinha para preparar o almoço. Era
sábado, o meu dia de folga. Normalmente, Elaine ou a minha mãe ficavam com Oliver
quando eu estava trabalhando, mas eu sempre ficava com ele no fim de semana. Se eu
pedisse a uma delas para tomar conta esta noite, elas iriam querer saber o porquê, e eu
não queria explicar a carta de Lille Baker pra ninguém. Eu particularmente não queria
dizer a Elaine no caso disso não for certo. Tirar suas esperanças seria cruel demais.
Depois que eu tinha feito a Oliver sua comida, eu liguei para Karla. Ainda
éramos tão próximas como nunca, mesmo que já não vivíamos mais juntas. Nós não
conseguíamos ver uma a outra tanto quanto costumávamos, mas nos falávamos no
telefone quase todos os dias. Tendo sido a minha rocha quando Oliver era um bebê, ela
amava meu filho, tanto como eu e eu sabia que ela ia saltar na chance de tê-lo por uma
noite. Na verdade, ela estaria tão feliz que ela não pensaria em fazer perguntas.
Não fazer perguntas era fundamental.
Fiz a ela uma ligação rápida, e ela disse que chegaria em um par de horas. Com
isso certo, eu tentei brincar com Oliver por um tempo, mas meu coração não estava
nele. Eu não conseguia me concentrar. Colocando um DVD no leitor, eu o coloquei na
frente da TV para que eu pudesse ir tomar banho. Eu estava nervosa. Eu tinha saído e
estava enrolada em uma toalha quando comecei a tremer. Meu estômago se retorceu e
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se virou. Eu não tinha sido capaz de comer uma refeição desde a manhã. Minha
garganta estava entupida com os nervos e esperança, aniquilando o meu apetite.
Olhei para meu armário sem nenhuma pista do que vestir. Meu senso de moda,
se alguma coisa, tinha se tornado mais distinta ao longo dos anos. Quando você trabalha
na indústria, você tende a se tornar um pouco obcecada com as últimas
tendências. Minhas mãos tremiam de novo quando eu retirei uma blusa de renda bonita
e jeans skinny. Eu combinei com umas botas de couro e permiti que meu cabelo ficasse
enrolado.
– Você conhece Lille? – Questionei ele sem fôlego, meu ritmo cardíaco correndo
quando eu me aproximei.
– Sim, eu a conheço. – Ele acenou com a cabeça para o fundo da tenda. – Venha
comigo.
Em vez de me levar para frente, como a mulher havia instruído, ele me levou na
direção oposta. Nós saímos da tenda e ele parou, puxando um cigarro e acendendo. Ele
me olhou nos olhos, sem dizer uma palavra.
– Um... – Eu comecei, me sentindo nervosa. Ele poderia ter sido o sexo em uma
bandeja, mas ele também era assustador e intimidante. Atualmente eu estava
acostumada a ficar perto dos meus clientes (que eram quase todas mulheres) e meu
menino. Os homens eram uma área que eu estava completamente fora de prática. Claro,
eu tinha meus irmãos, mas eu não os via muito frequentemente.
– Como você sabia vir aqui? – Ele perguntou.
Ansiosa, eu me atrapalhei com a minha bolsa. – Eu recebi esta carta.
– Puta merda! É você, – disse ele com um suspiro, e chegou a colocar as mãos
sobre os meus ombros, apertando-os enquanto ele sorria para mim. – Eu não posso
acreditar que você está aqui.
Ok, agora eu estava confusa. – Uh, nem eu?
– Eu sou Jay, – ele continuou. – Jack é um mal-humorado. Ele é meu irmão. Puta
merda, você é real, Alexis. Você é viva, uma mulher respirando. Por um momento
pensamos que poderia ser um fantasma.
– Espera um segundo, – Jack, o mal-humorado, interrompeu. – Não me disse que
você estava nisso também?
Jay revirou os olhos e sorriu. – Claro que sim.
– E Matilda? – Perguntou Jack.
– Não, era só eu e a sua mulher. Fomos meio sorrateiros sobre isso.
– Isto não é uma piada, Jay. É sério. King não está...
– King vai ficar bem, – Jay entoou significativamente, virando a cabeça para seu
irmão antes de olhar para mim. – Uma vez que ele vê sua bela Alexis, ele estará fazendo
cambalhotas.
Mordi meu lábio, emoção enchendo meus pulmões e meus olhos ficando
aguados. – Como ele está?
– Ah, merda, querida, não chore, – disse ele, e deu um passo para frente, me
assustando quando ele me puxou para um abraço. Eu tinha estado sozinha por tanto
tempo e esse estranho me abraçando apenas piorou as coisas. Sua bondade era mais do
que eu poderia lidar enquanto eu o deixava me abraçar. Era bom ter um homem perto,
um que cheirava bem. Eu não poderia ter antecipado o efeito emocional que teria sobre
mim.
Ele começou a esfregar o centro das minhas costas suavemente, e eu tentei o
meu melhor para parar as minhas lágrimas. Eu me afastei, balançando a cabeça. – Eu
sinto muito. É só que eu estive procurando por ele há anos. Isso tudo é um pouco
demais no momento.
As sobrancelhas de Jay se arquearam com empatia quando ele soltou um suspiro
brusco e colocou as mãos nos quadris. Ele olhou para o chão antes de encontrar meu
olhar. – Olha, eu não vou mentir. Ele está ruim. Lille não disse explicitamente isso na
carta, mas porra, seu homem tem um problema sério com a bebida. Vou levá-la para ele,
você vai vê-lo, mas ele com certeza não vai ser o mesmo que você o conhecia. Você
precisa se preparar para isso, Alexis, ok?
Eu inalei, e mesmo que suas palavras fossem uma grave advertência, havia algo
reconfortante sobre elas. – Ok.
Jay assentiu, satisfeito. – Ótimo. Isso não vai ser fácil, mas eu acho que se ele te
ver, se ele saber que você ainda existe, então podemos todos trabalhar juntos para puxá-
lo de volta. Você vai ser o catalisador. Você vai ser o objetivo para ele. Quer dizer, se
ele sabe que pode ter você de volta, então eu acho que ele vai fazer todo o trabalho duro
ele mesmo. – Uma pausa quando ele me olhou. – Ele pode ter você de volta, certo?
Sem pensar, concordei. Então, eu simplesmente olhei para ele, absorvendo tudo
o que ele tinha acabado de dizer. Um silêncio caiu entre nós. Memórias de mim, todas
as coisas que King tinha passado em sua vida me bombardeou.
A voz de Jay foi um suave sussurro, seus olhos me olhando, me estudando como
se eu fosse um livro e ele estava se esforçando para ver as palavras. – Jesus, Alexis, o
que diabos aconteceu com ele?
Meu rosto ficou triste. – Aconteceu tudo tão rápido. Tenho a sensação de que ele
ainda não sabe que ele não fez o que ele acha que ele fez.
– O que ele acha que ele fez?
Eu não tinha certeza sobre quem era esse cara, mas ele tinha um jeito de puxar
todas as informações de dentro de mim. Minha voz era um sussurro quando eu respondi:
– Ele acha que ele matou alguém.
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Página
Jay absorveu isso rapidamente, sua postura estoica. – Mas ele não matou?
– Não, ele não matou. Ele deveria. Se alguém merecia matar aquele bastardo,
esse alguém era King, mas ele não fez.
– Cristo.
– Jay.
– Sim?
Eu não podia acreditar que esse era o mesmo homem que estava em seu
escritório com vista para o Tâmisa, um governante de seu próprio universo, o melhor
em tudo o que ele botava esforço. Agora, ele foi reduzido a um bêbado sem-teto,
completamente irreconhecível. Eu realmente não entendia como funcionava o mundo,
às vezes.
Aos trinta e três anos, ele esteve no topo.
Agora, trinta e nove anos, quase quarenta, ele estava por baixo.
E, no entanto, sua presença ainda fazia meu coração bater, ainda fazia meus
pulmões se encherem de ar. Ele estava vivo. Ele estava respirando. E eu não me
importava no que ele se tornou, desde que eu poderia tê-lo de volta. Minhas pernas
cederam, mas Jay me firmou. Eu não conseguia tirar os olhos de King, e ele nem sabia
que eu estava lá.
Uma pequena comoção soou de perto, e eu me virei para ver uma mulher loira
vindo correndo até nós. Ela foi seguida de perto por Jack e outra mulher, uma pequena
morena. Ela parou na nossa frente, as mãos indo para os quadris enquanto tentava
recuperar o fôlego. Seus belos olhos cinzentos dançavam enquanto ela me acolhia.
– Você está aqui, – ela respirou. – Eu não posso acreditar que você veio.
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Página
Olhei para ela, surpresa, mas eu soube imediatamente que este tinha de ser
Lille. Ela confirmou minha suposição quando ela jogou a mão para fora e se
apresentou. – Sou Lille, aquela que escreveu a carta.
Lentamente, eu estendi a mão e apertei a mão dela, sentindo tímida e fora do
lugar. – Eu sou Alexis.
Ela assentiu com a cabeça, sorrindo, e respondeu em voz alta, – Sim, eu sei. –
Ela estava claramente animada.
– Quietos, porra, – uma voz choca, arranhada, exigiu nas proximidades, e todos
os pelos do meu corpo ficaram em pé. Sua voz, tão mudada, ainda que a mesma. Eu não
podia deixar de fechar os olhos, piscando outra lágrima. Eu virei de costas para ele
quando eu apertei a mão de Lille, e agora eu ouvi botas duras esmagando o chão. Eu
virei para trás enquanto ele se aproximava. Seus olhos azuis, outrora tão brilhantes e
cintilantes, estavam agora aborrecidos e avermelhados.
Eu respirei fundo.
Ele parou.
– É isso mesmo, você não pensou, – Jack se irritou, olhos agora piscando com
acusação para seu irmão. – Nenhum de vocês. – Havia algo na maneira como ele falou
que me fez sentir como se isso fosse pessoal para ele, como se estivesse realmente o
irritado que Jay e Lille tinham me trazido aqui para King, que claramente não estava em
bom estado para me ver. Mais uma vez, as minhas lágrimas vieram. Eu senti como se
meu coração, minha alma, estivesse sendo dividido em dois. Eu não queria que ele fosse
assim. Eu só queria que o velho King de volta.
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Página
Agora eu não tinha certeza se isso era mesmo possível. Então, de repente, a raiva
me bateu. Como ele poderia se deixar se tornar assim? Como ele poderia me deixar por
todos esses anos e nunca tentar fazer contato? Tinha que haver uma razão, mas eu não
estava vendo. Talvez fossem as lágrimas enchendo meus olhos que causou a minha
cegueira.
Jack levou King para longe e eu olhei para o meu amor, um nó na garganta e um
tijolo no meu estômago. Nada sobre isso estava bem.
Nada.
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Página
Dezessete
Chorei todo o caminho de casa, grata que estava escuro e não existem outros
motoristas que podia me ver lamentando como uma pessoa louca no banco da
frente. Depois que Jack tinha levado King embora, eu tinha falado com Lille e Jay por
um tempo, e a morena, Matilda, que acabou por ser a esposa de Jay. Todos eles foram
tão gentis e apologéticos, me implorando para voltar em um ou dois dias. Eles
prometeram que iriam fazer o seu melhor para limpar King, deixá-lo sóbrio. Eu balancei
a cabeça distraidamente, mas ao mesmo tempo a imagem dele em seu estado atual se
marcou em minha mente. Eu não sabia como me sentir. Deveria ficar com
raiva? Triste? Feliz em tê-lo de volta, mesmo que ele não era o mesmo?
Eu pensei que poderia ser sábio em lhe dar espaço por um tempo, mas eu sabia
que ia ser impossível ficar longe. Eu já estava inventando planos, descobrindo maneiras
em que eu poderia trazê-lo de volta ao seu antigo eu. Embora tivesse levado anos,
encontrá-lo tinha sido a parte fácil. Curá-lo seria o maior desafio que eu já tinha
enfrentado.
Eu decidi não contar a ninguém sobre nosso filho, mas eu deixaria King saber
que Elaine estava viva logo que pudesse. Eu pensei que iria aliviar sua mente um pouco,
dar a ele esperança. Eu também precisava dizer a ele que ele não tinha sido o único a
matar Bruce. Ele precisava saber.
Quando cheguei em casa, eu me sentei no carro por alguns minutos, tentando me
recompor. Era inútil, porém, porque Karla ia saber que algo estava acontecendo no
segundo que ela me visse.
A casa estava em silêncio quando eu entrei e deixei cair as chaves na mesa. A
TV estava baixa, e Karla estava sentada no sofá, percorrendo as mensagens em seu
telefone.
– Hey, – eu disse calmamente.
Ela virou para mim e olhou para cima, seus olhos me observando entrar. – Ei,
você está de volta.
– Sim, como ele foi?
– Bem comportado, mas falador, como sempre, – ela me disse com um sorriso
suave que rapidamente se desvaneceu. – Lexie, está tudo bem?
Eu não poderia evitar - eu funguei. Ela levantou de seu assento e me levou em
seus braços dentro de segundos, me segurando perto. Minhas palavras foram baixas,
quase inaudíveis, quando eu sussurrei, – Eu o encontrei.
Karla respirou chocada e se afastou para olhar para mim. Várias emoções
atravessaram seu rosto, principalmente surpresa. – King? Encontrou King?
Eu balancei a cabeça.
– Onde ele está?
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Página
– Não muito longe, mas Karla, ele mudou, mudou muito. Eu nem tenho certeza
se... – Minha voz se quebrou e foi substituída por soluços. Karla me puxou para perto
novamente.
– Hey, hey, está tudo bem. Você vai passar por isso, você tem a mim. Farei tudo
o que puder para ajudar.
Suas palavras me acalmaram um pouco, e mesmo que eu tivesse estado lá para
ela por alguns momentos realmente difíceis ao longo dos últimos anos, eu me senti
envergonhada que eu estava chorando. Depois de um minuto eu me afastei e fui pegar
um lenço de papel para secar meu rosto.
– Você pode ficar com Oliver novamente amanhã?
Karla assentiu. – Claro. Qualquer coisa que você precise.
Poucos minutos depois ela saiu, e eu subi as escadas para a cama, sabendo que
eu provavelmente não iria pregar o olho. Eu dei uma passada no quarto de Oliver e o
encontrei dormindo profundamente, sua respiração preenchendo o espaço. Eu o amava
tanto quanto eu amava seu pai, mas eu só consegui manter um deles seguro.
Eu estacioneis por perto, saí, engatei a minha bolsa no meu ombro (era pesada
por causa do tabuleiro e todas as peças), e fiz meu caminho até a entrada. Quando eu
cheguei lá, eu quase tropecei sobre meus próprios pés, pois ao lado de Jay estava a
mulher cigana, Marina. A meia-irmã de King. Ela quase não mudou desde que eu tinha
visto pela última vez, e quando ela olhou para mim, seus olhos tinham uma mistura de
calor e desconfiança.
– Olá, querida, – ela disse em saudação enquanto ela segurava sua mão. – Eu sou
Marina. Este é o meu circo.
– Você é a irmã de King, – eu respondi, sem saber o que dizer.
Ela assentiu com a cabeça, aqueles velhos olhos sábios piscando lentamente. Um
pequeno macaco-prego estava em seu ombro, que eu teria achado estranho se ela não
possuísse um circo. Eu podia imaginar a excitação de Oliver se ele estivesse
aqui. Sempre que eu o tinha levado para o zoológico de Londres, ele ia logo para os
macacos.
– Então, Bruce Mitchell era o seu pai? – Prossegui.
– É isso mesmo, embora eu diria que apenas por sangue. Aquele homem nunca
foi um pai. – Sua voz era dura quando ela falou dele, e eu soube imediatamente que ela
deve ter tido um tempo horrível com Bruce assim como King. Talvez que é como eles
fossem ligados. Além disso, ela usou o verbo no passado, então eu presumi que ela
sabia que ele estava morto, mas ela sabia que King não tinha sido o único a matá-lo?
– Alexis, ninguém vai dizer a ele, – Jay me tranquilizou. – É a sua história para
contar.
Algo em sua voz, a maneira como ele falou, me acalmou. Eu atirei a ele um
olhar agradecido. – Obrigada.
– Venha com a gente, – disse Marina, se recompondo. – King passou a noite no
meu trailer. Jack deu banho nele e deu a ele algumas roupas limpas. Ele não teve uma
gota para beber desde ontem, então ele está sóbrio, mas ele está instável, taciturno. Ele
não vai estar no melhor humor, querida. A abstinência deixa ele um doente, porque seu
sistema está acostumando a ter álcool. Só sei que, se ele for cruel ou ruim, não é por
causa de você ou como ele se sente sobre você. É porque ele está em dor física. – Sua
bondade me surpreendeu, porque até agora eu não conseguia dizer se ela estava ou não
feliz por me ter lá. Agora eu sabia que ela estava; ela estava apenas preocupada como
minha presença iria afetar seu irmão. – Jack disse a ele que você estava vindo, então ele
sabe. Ele não disse muito, mas eu posso ver a mudança nele. Posso dizer que ele quer te
ver.
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Suas palavras me deram esperança. Nós viemos para um dos trailers maiores, e
isso foi quando o vi pela segunda vez em tantos anos. Havia uma mesa e duas cadeiras
do lado de fora. King estava sentado em uma das cadeiras, um copo semi acabado de
chá na frente dele e o que parecia ser uma tigela de mingau. Eu imediatamente percebi
as mudanças de ontem à noite. Seu longo cabelo dourado tinha sido lavado e pendurado
sobre um ombro. De certa forma, era lindo. Ele ainda tinha a barba, mas estava
limpo. Ele usava roupas limpas também, uma camisa azul e jeans escuros. Eu fiquei ali,
observando quando ele usou a mão trêmula para levantar a colher e trazer um pouco de
mingau à boca. Parecia que ele tinha dificuldade em engolir, e foi uma coisa difícil de
testemunhar.
Sua construção era a mesma que antes, mas um pouco mais preenchido, menos
magro e atlético. Não me interpretem mal, ele não era gordo, apenas mais espesso em
torno do pescoço e ombros, como parecia acontecer quando os homens se aproximavam
dos quarenta. Seu rosto tinha envelhecido um pouco, mas eu pensei que tinha mais a ver
com o consumo do que os anos que se passaram.
Ele deve ter percebido que ele tinha uma audiência, porque ele olhou para cima,
e eu juro que o ar ficou preso nos pulmões no momento em que seus olhos pousaram em
mim. Ele se levantou abruptamente da mesa, a cadeira caindo no chão atrás dele. Minha
pele se arrepiou com a consciência quando ele começou a se mover para frente, meu
coração batendo rápido quanto mais próximo ele vinha. Seu peito bateu nos meus
suavemente, seus olhos brilhando à luz do sol como antigamente. Eu mal podia respirar
enquanto suas mãos subiam para o meu rosto. Seus dedos começaram a acariciam às
minhas têmporas, em seguida, começou a mover-se lentamente para minhas
bochechas. Eu engoli duramente, meu peito vibrando com borboletas por tê-lo me
tocando. Seus dedos estavam calejados, mas tão suaves. Eu senti como se estivesse
permitindo que um animal selvagem me inspecionasse, percebendo que não era uma
ameaça.
Seus dedos vieram a minha mandíbula, e eu fiquei ali, imóvel como uma estátua,
minha respiração intensificando enquanto inspeção continuava. Seu olhar estava em
mim, tão intenso, e eu achei difícil de encontrar seus olhos. Finalmente, os levantei e
eles trancaram com os dele. Seus dedos estavam em minha garganta agora. Foi um
ponto vulnerável, sensível. Seus dedos cavaram um pouco e o ar saiu de dentro de
mim. Desconfortavelmente, tomei consciência da minha excitação. Ele cheirava a
limpeza, como sabão, e ele era o único homem que eu já amei. Meu corpo estava
programado para responder ao seu, não importa a circunstância. Meus mamilos
endureceram, uma dor persistente entre as minhas coxas.
Ele ainda estava me tocando, os dedos explorando a ascensão e queda da minha
clavícula. Eu podia sentir que suas mãos tremiam e me lembrei do que Marina tinha dito
sobre a abstinência. Eu fiquei encarando, confusa por como ele parecia tão fraco e tão
vital ao mesmo tempo.
Eu vi sua garganta mexer quando ele engoliu antes de murmurar um tímido, –
Olá.
Isso quebrou meu coração.
– Oi, – eu sussurrei de volta.
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Ouvi Marina falando por perto, mas dificilmente poderia me concentrar no que
ela disse. – Nós vamos dar a vocês um pouco de privacidade. Alexis, se você precisar de
alguma coisa é só ligar para o telefone de Jay, ok?
– Ok, – eu respondi baixinho, sem tirar os olhos de King. Eles saíram, e seu
corpo se inclinou mais perto até que eu podia sentir que ele estava duro dentro de suas
calças, apenas o toque mais leve contra a parte inferior do meu estômago. Devo ter feito
algum pequeno som de surpresa, porque suas pálpebras começaram a se agitar
nervosamente e ele desviou o olhar, recuando. Ele parecia embaraçado e envergonhado.
– Me desculpe eu.
Eu coloquei a mão em seu ombro. – Ei, está tudo bem.
– Não está, – ele resmungou, e se virou, voltando para a cadeira de praia e
pegando-a do chão. Ele sentou-se e pegou o copo, engolindo o resto do seu conteúdo
rapidamente. Deixando minha bolsa cair do meu ombro, me aproximei da mesa e tomei
o assento vazio. King observava cada movimento meu com cautela quando abri minha
bolsa e comecei a remover o tabuleiro de xadrez. Eu não disse nada, porque tudo
parecia ter estado indo bem até que nós falamos. Às vezes, as palavras simplesmente
complicavam as coisas.
Memórias brilharam em seus olhos quando ele viu o que eu tinha. Eu vi um
caleidoscópio de imagens também, todos os nossos jogos privados juntos. Eu abri a
placa para que ele colocasse em cima da mesa, em seguida, comecei a retirar as
peças. Elas eram feitas de madeira maciça, então eram pesadas, mas eram de
qualidade. Eu tinha comprado o conjunto recentemente, tinha planejado começar a
ensinar Oliver como jogar.
Oliver.
Como eu iria dizer a King que ele tinha um filho? A perspectiva enviou uma dor
aguda no meu peito. Ele tinha faltado muito, e ele nem sequer sabia da missa a
metade. Lentamente, eu me lembrei. Eu precisava dar um passo de cada vez.
Os olhos de King não me deixaram, seu olhar focado em minhas mãos enquanto
eu ajeitava o jogo. Pegando um peão, abri o jogo. Ele me observava, e um silêncio
seguiu. Parecia durar para sempre, e eu não tinha certeza se ele iria se juntar a
mim. Então, quase timidamente, ele se inclinou para a frente e fez um movimento. Meu
coração pulou. Era uma coisa tão pequena, e ainda o fato de que ele estava jogando
significava o mundo para mim.
Sua emoção não me surpreendeu tanto quanto sua altura. Quão sensível eu
poderia ser? Eu vi seu rosto, vi todas as realizações caírem sobre ele como uma tonelada
de tijolos. Eu sabia exatamente o que ele estava pensando. Ele estava imaginando o
tempo todo que ele tinha perdido, porque ele achava que ele era um assassino. Ele havia
se escondido, bebendo quase até a morte, pensando que a única outra opção era a
prisão. Se apenas ele estendesse a mão, tivesse entrado em contato. Mas não, ele estava
muito perdido, enterrado sob uma montanha de álcool e culpa. Eu podia ver que eu
estava perdendo ele, e eu não podia deixar que isso acontecesse. Eu não podia deixá-lo
se perder em arrependimentos.
– Volte e jogar comigo, por favor. Não temos de falar, apenas jogar, – eu disse,
desesperada.
Seu rosto ficou intenso, e minha pele se arrepiou.
– Não. Você deve ir, – disse ele, irritado, se afastando de mim.
Dei um passo para frente, fechando a distância entre nós, mais uma vez, e olhei
para ele de forma aberta, não escondendo nenhuma da vulnerabilidade que eu sentia por
dentro. – Por favor, King, – Eu sussurrei.
Um tremor passou por ele quando eu disse seu nome, e ficamos ali, trancado em
um concurso de encarar que parecia que nunca iria acabar. Depois de um longo tempo,
sua angústia parecia morrer quando ele percebeu que eu não ia desistir e ir embora.
Finalmente, ele soltou, – Certo. Vamos jogar, então.
Alívio me inundou. Fiz um gesto para ele liderar o caminho de volta. Ele se
virou. O segui até que estávamos à mesa, nos sentando para continuar o nosso jogo. Era
meados de julho, e o tempo estava quente. Estava um pouco quente demais para um
casaco, então eu tirei o meu e pendurei sobre as costas da minha cadeira. Alguns dos
botões da minha blusa tinha se desfeito, revelando a borda do meu sutiã de renda
preta. Corri para fechar o botão, sentindo a sua atenção em mim. Se qualquer coisa,
meus peitos tinha ficado um pouco maiores ao longo dos anos, provavelmente porque
eu tinha ganhado alguns quilos depois que eu tive Oliver. King usava nenhuma
expressão, mas seus olhos praticamente me queimavam, e eu já estava muito quente do
sol. Eu estava um pouco contente, apesar de tudo. Pelo menos desta maneira ele poderia
estar pensando em outra coisa que não fosse seu fodido passado.
Nós continuamos a jogar em silêncio, mas eu podia sentir a sua necessidade
agora como um toque físico. Eu não tinha certeza qual de nós estava mais desesperado
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Página
para o conforto humano, ele ou eu. Talvez nós estávamos em pé de igualdade. No
entanto, eu sabia que, ao contrário de mim, King não queria reconhecer o que ele sentia.
Eu estava ganhando o jogo, que era fora do comum, porque ele sempre ganhava
mais do que eu. Olhei para ele para ver sua testa franzida e seu lábio superior
puxado. Sem sequer pensar, eu sabia que ele estava com dor. Sua cabeça deve ter estado
latejando por causa do álcool, sem mencionar a verdade feia de tudo que eu disse a ele.
– Você teria. – Ele olhou para o copo em suas mãos, agora vazio.
– Quer outro? – Perguntei, apontando para ele.
Ele não respondeu, apenas entregou para mim.
Eu fui até a pia para recarregar, em seguida, caminhei de volta para o sofá. King
tinha ficado ainda mais pálido, e parecia que ele poderia querer vomitar. Ele também
parecia desconfortável, como se ele não me quisesse lá para testemunhar isso. Eu
coloquei o copo sobre a mesa e peguei a minha bolsa, fazendo um show enquanto
olhava para o relógio.
– Bem, eu tenho algumas coisas para fazer enquanto eu estiver na cidade, mas eu
gostaria de voltar mais tarde, se estiver tudo bem para você? – Eu disse calmamente.
Levou um segundo para responder quando ele engoliu em seco. – Sim, sim, está
tudo bem.
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Dezoito
Eu dei alguns passos para frente até que eu estava de pé ao lado da mesa. Foi
Jack que me viu primeiro, e ele deve ter visto onde os meus olhos estavam mirando, já
que ele começou a explicar rispidamente: – Ele não pode parar de vez. Vai matá-lo. A
cerveja é leve, boa para desintoxicar.
– Não seja boba, – disse Lille, sua voz suave. – Você tinha tanta coisa para
pensar. – Eu vi uma careta nela depois que ela disse isso, como se ela tivesse achado
que poderia ter sido um pouco desajeitada com as suas palavras. Eu não me
importava. De modo nenhum. Eu preferia muito mais palavras desajeitadas do que
silêncio.
– Bem, – Jay começou a explicar, – Jack e eu somos artistas. Eu faço ilusões, e
Jack é um engolidor de fogo. – Ele balançou as sobrancelhas e me deu um sorriso. –
Realmente perigoso. – Jack revirou os olhos para o irmão e deu uma mordida em seu
frango. – Lille pinta rostos para os pequenos, e Matilda aqui projeta o show de fantasias.
– Ele passou um braço em torno do ombro de sua esposa.
– Bem, eu estou realmente apenas começando, – Matilda acrescentou
timidamente. – Eu projetei as coisas para Jay por um tempo, então alguns estão me
deixando por a minha mão na criação de alguns projetos para eles também.
– Oh, isso é legal. Eu trabalho por mim mesma. Bem, não em design, mas eu
executo uma agência de modelos de pequeno porte.
Os olhos de Matilda iluminaram com interesse. – Sim, é mesmo. Lille me disse.
Nós conversamos um pouco sobre moda, mas o tempo todo eu nunca me senti à
vontade. Eu podia sentir King me observando atentamente. Eu não tive a coragem de
olhar para ele. Seus dedos estavam cruzados em torno de sua garrafa de cerveja, e eu me
perguntei se ele se sentia estranho sobre eu estar lá, tentando se encaixar com todos
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esses estranhos que pareciam conhecê-lo muito melhor do que eu. Bem, eles conheciam
o homem que ele era agora melhor do que eu, de qualquer maneira.
A minha participação na conversa morreu quando me tornei cada vez mais
consciente da sua atenção e presença.
– Hey, Watson, você conseguiu remendar essa camisa para esta noite? Eu
preciso dela para a segunda parte do meu ato, – Jay perguntou à esposa.
– Sim, – respondeu Matilda. – Está tudo feito. Deixei no armário para você.
– Bom, eu não quero ir dar as senhoras na plateia outro prato cheio, – disse ele, e
me atirou um sorriso brincalhão. – Na noite passada eu estava mudando de traje, eu tive
um problema com meu guarda roupa. A rupa mal cobriu minhas coisas.
– Você definitivamente deu a Janet Jackson mais dinheiro, – Matilda disse,
rindo.
Eu ri e sabia que Jay sentiu meu desconforto quando ele me enviou uma
expressão quente. É por isso que ele fez a piada. Eu estava grato a ele. Lille também riu,
enquanto Jack sorria e parecia estar suprimindo outro rolar de olhos. Arrisquei um olhar
para King para descobrir que ele não estava sorrindo. Isso fez a minha pele
formigar. Talvez ele não me quisesse lá. O pensamento me sacudiu, e de repente eu
queria fugir. Peguei minha bolsa do chão e atirei por cima do meu ombro.
– Bem, está ficando tarde. Eu provavelmente deveria ir. Talvez eu possa vir
visitar novamente amanhã? – A insegurança na minha voz era palpável, e eu odiava
como soava.
O segundo que eu fiz um movimento para ficar de pé, a mão de King pegou o
meu pulso. Isso me chocou, desde que ele mal registrou a minha presença, e agora ele
estava me tocando. A sensação de sua pele na minha enviou um tremor através de mim,
e eu olhei para ele, vendo uma pitada de desespero em seus olhos. – Não vá ainda, –
disse ele, a voz baixa e suplicante.
De repente me dei conta do que tinha estado realmente acontecendo. Ele me
queria lá; ele estava apenas embaraçado e envergonhado de como ele estava, como eu
tive que sair tão rapidamente mais cedo para que eu não o testemunhasse vomitar.
Abaixei-me de volta para o banco, e ele soltou meu pulso. – Ok, eu posso ficar
por mais um tempo, – eu disse calmamente.
Meus olhos permaneceram em King quando Lille anunciou: – Todos nós
devemos começar a nos preparar para o show de hoje à noite. Foi ótimo vê-la
novamente, Alexis.
Eu balancei a cabeça para ela, sorrindo, e todo mundo se levantou da mesa para
sair. Alguns momentos depois era apenas King e eu, sentados sozinhos, enquanto os
trabalhadores do circo conversavam e comiam em torno de nós. Meus poros
formigavam quando eu senti muita atenção de King, seu calor ao meu lado. Tudo o que
levaria era chegar a alguns centímetros, e eu estaria tocando-o novamente. Mas eu não
fiz isso porque ele ainda estava desconfiado, ainda feral de alguma forma.
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– A minha mãe sabe que você me encontrou? – Ele perguntou, uma
vulnerabilidade em sua voz.
Meus olhos se suavizaram quando eu sussurrei: – Ainda não, – então falei um
pouco mais alto quando eu limpei minha garganta. – Você quer que eu diga a ela?
– Marina não vive como a maioria das pessoas. Este circo é tudo para ela. O
estilo de vida nômade é o que a faz feliz. Ela nunca realmente abraçou a tecnologia, não
usa a Internet, nem sequer realmente lê os jornais. É como ela vive.
– Eu não entendo...
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King esfregou a mão sobre a boca, como se ele realmente não quisesse falar, mas
estava forçando a si mesmo por mim. Então eu não iria embora. Eu tentei o meu melhor
não perder controle das minhas emoções. Toda vez que eu olhava para ele, eu não sabia
se eu queria chorar e beijar cada polegada dele ou sacudi-lo com raiva por se maltratar
tanto. Era uma sensação estranha de amar alguém tão completamente ainda que
ferozmente odiar suas ações. Suas palavras me tiraram dos meus pensamentos.
– Marina foi o primeiro filho de nosso pai, nascida quando ele ainda era um
adolescente. Ela suportou o peso da sua crueldade porque ele estava em sua vida mais
do que tinha estado na minha. E ele era um pai violento. Ela queria ficar longe dele, e
ela fez isso acontecer por desaparecer. O circo era o escape perfeito, a maneira perfeita
de desaparecer.
– Foi somente através do pequeno contato que teve com sua mãe, que ainda era
casada com Bruce, que ela descobriu sobre mim e como ele estava me
chantageando. Então, ela entrou em contato. Ela queria me ajudar, porque ela nunca
teve um irmão, mas também porque ela sabia o quão terrível o tratamento de Bruce
poderia ser. Nós nos tornamos amigos. Ela me visitava sempre que ela estava perto de
Londres. Eu mesmo a ajudei com dinheiro quando o circo não estava indo tão bem. E
então, quando eu pensei que eu, – ele parou, sua voz cada vez mais tensa, – quando eu
pensei que eu tinha matado Bruce, quando eu pensei que tinha perdido tudo, foi para
onde eu fui. Se Marina tinha conseguido formar uma vida de obscuridade aqui, então
talvez eu também poderia. Eu esqueci de prever que não importava onde eu fosse,
minha própria mente se tornaria uma prisão.
Fiquei ali sentada, absorvendo suas palavras, sentindo como se este tenha disso o
máximo que ele tinha falado com ninguém em um tempo muito longo. Eu queria tocá-
lo, mas novamente me lembrei que eu não deveria.
– O que quer dizer? – Perguntei, franzindo a testa.
Ele começou a tossir e parecia terrível, pesado, a respiração ofegante. – A mente
se torna uma prisão, uma vez que reproduz suas imagens, e tudo que você quer fazer é
acabar com elas. Acabar com a repetição. O álcool é uma maneira tão fácil de fazer isso,
acalmar tudo. Torna-se uma necessidade básica, como água ou ar. De repente, você mal
pode ficar uma hora sem tê-lo em seu sistema.
Ele esfregou os olhos e, em seguida, a testa, como se para acalmar uma dor. – Eu
me sinto horrível quando eu não bebo. Agora é como se existissem estas formigas na
minha pele, rastejando em cima de mim, e eu posso sentir cada uma delas como
essa coceira.
Eu tentei não deixar meu medo aparecer quando ele expressou o que estava
sentindo em voz alta. Era tão fácil simplesmente aceitar que ele estava abandonando o
álcool sem pensar em como ele se sentia. Eu não era a pessoa dentro de seu corpo, tendo
que sentir cada segundo da agonia.
– Você acha que pode parar completamente? – Eu perguntei antes de alterar a
minha pergunta. – Quero dizer, você quer?
Ele olhou para mim, seus olhos cheios de dor e pesar. – Eu realmente não sei.
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Engoli em seco, tentando não deixar que a sua resposta me machucasse. Seria
ridículo pensar que só porque eu estava lá, só porque eu tinha encontrado ele, que ele
tinha de repente faria uma recuperação milagrosa. Que seu vício seria simplesmente
esquecido porque a mulher que o amava tinha vindo encontrá-lo. Sim, eu estava
chateada, com raiva até, mas eu não estava ofendida. Era irrealista pensar que ele
poderia ficar melhor em um piscar de olhos. Eu não era um anjo ou uma princesa
mágica. Eu era apenas uma pessoa, e ele era apenas uma pessoa, e juntos estávamos
lutando no escuro para tentar entender um ao outro.
King começou a ficar incomodo, descascando o rótulo de sua garrafa de cerveja
agora vazia. Eu não tinha certeza se era um sinal de que ele estava impaciente para mais
ou se a conversa estava deixando-o irritado. Eu não tinha em mim força para oferecer
para lhe comprar uma bebida. A mudança de assunto foi tudo o que consegui.
– Você sabe que o seu apartamento ainda está lá? Sua mãe esteve cuidando da
manutenção. Todas as suas coisas ainda estão lá, também, e seu piano. Você toca?
– Não, – King respondeu abruptamente. – Eu não toco mais.
Eu balancei a cabeça, e não empurrei o assunto, mas simplesmente lhe disse: –
Você costumava tocar tão bem.
– Todas essas coisas... elas podem estar lá, mas elas não se sentem como meu
mais. Você deve dizer a mamãe para vendê-los, vender o apartamento, eu não sei, se
livrar dele. Eu não mereço nada disso.
– Claro que sim. Você trabalhou para pagar tudo.
– Não há nenhum ponto já que ninguém mais acredita nisso.
Não entendi o que ele estava falando no início, mas, em seguida, isso me
bateu. – Você quer dizer a campanha de difamação de Bruce? Oh, Oliver, tudo isso foi
exposto anos atrás. Isso saiu durante o seu julgamento. O seu nome foi completamente
apagado.
Sua boca se moveu de uma forma estranha, como se ele compreendesse o que eu
estava dizendo a ele. Ele parecia perturbado, e novamente eu me senti como uma idiota
por sem a menor cerimônia, jogar os fatos sobre ele. Eu só não sentia como se houvesse
alguma maneira correta de fazer isso. Não importa o quão cuidadosa ou sensível eu era,
a verdade ia ser uma pílula difícil de engolir. King se levantou de seu assento, de pé no
lugar por um segundo. Eu pensei que ele estava prestes a sair, perturbado pela notícia de
que ele tinha sido inocentado de qualquer má conduta. Mas então ele começou a tossir
novamente e se sentou abruptamente, sua mão indo para o peito como se ele estivesse
com dor grave. Desta vez, a respiração ofegante soou ainda pior, e meu estômago
apertou com preocupação.
– Quando foi a última vez que você viu um médico? – Perguntei,
preocupada. Seu olhar era toda a resposta que eu precisava. Ele não tinha visto um
médico em anos. De repente eu estava desesperada para levá-lo para o hospital e ele
olhou por cima, com medo de ter alguma doença terrível causada por seu abuso de
álcool. Uma vez que seu ataque de tosse melhorou, sugeri baixinho: – Você deveria me
deixar levá-lo.
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Ele balançou sua cabeça. – Eu vou ficar bem.
Sua resposta abrupta me deixou perplexa, e antes que eu tivesse a chance de me
censurar, eu disse a ele bem direta. – Você costumava ser o homem mais inteligente que
eu conhecia. Então não me venha com essa.
Eu esperava que ele ficasse com raiva ou brigasse comigo, que era por isso que
eu fiquei surpresa quando um sorriso doloroso se formou em seus lábios. – Você não
mudou, não é?
Eu devolvi o sorriso, a pequena expressão praticamente iluminando-me de
dentro para fora. Eu queria manter aquele sorriso, deixá-lo como prova de que a
felicidade ainda era possível para ele. – Nah, se alguma coisa, eu só fiquei melhor com a
idade.
Seus olhos intensos praticamente fizeram um buraco em mim. – Eu não duvido.
Eu tremi, e ficou claro que ele viu. – Frio?
Eu balancei minha cabeça. Seus olhos aqueceram e seu peito subia e descia
lentamente quando ele tomou uma respiração profunda. – O que, então?
– Só... – Eu suspirei. – Recordações.
Ele levantou uma sobrancelha questionando. Eu continuei olhando para ele até
que ele finalmente entendeu, e então algo em sua postura mudou. Ele parecia menos
doente, vulnerável e mais do velho King confiante de que eu conhecia. Foi apenas um
vislumbre, mas ele me afetou até as pontas dos meus dedos. Um arrepio percorreu-me e
King se aproximou, o olhar aceso, suas palavras quase um sussurro. – Diga-me.
– Bem, eu estava só pensando em você naquelas calças de brim e como você não
se importou de estar semi-nu em uma sala cheia de pessoas. Você estava tão à vontade
consigo mesmo.
Ele deu de ombros e olhou para a mesa, em seguida, de volta para mim. – A
nudez nunca me incomodou.
– Eu poderia dizer. Foi tão sexy. Eu era como, me mate agora, porque não há
nenhuma maneira que eu vá ser capaz de continuar fingindo que eu sou um léxica com
este perfeito exemplar masculino. – Eu amei o som de sua risada de resposta suave e
assisti sua reação às minhas palavras com cuidado. Fiquei encantada por que eles
tinham tido o efeito desejado. Eles fizeram com que ele se sentisse elogiado, orgulhoso,
uma vez ter sido digno de admiração feminina. Isso significava que ele poderia se sentir
assim novamente. Eu queria que ele visse que havia coisas que valiam a pena viver, e às
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vezes as pequenas coisas eram as melhores. Como quando uma mulher percebe você
andando na rua, ou quando alguém flerta com você e sinaliza sua atração.
– Eu tinha começado a suspeitar, – King admitiu. – A maneira como você olhava
para mim às vezes...
– O quê? – Eu perguntei, ansiosa para saber o que ele estava prestes a dizer.
Ele me nivelou com os olhos. – Às vezes você olhava para mim como se me
quisesse.
Eu fiquei quente de repente, e ri para tentar neutralizar o momento. – Bem, suas
suspeitas eram verídicas.
Ele se virou para mim totalmente, em seguida, sua cabeça inclinou para o lado
com curiosidade quando o seu olhar se desviou pelo meu corpo de forma aguda. –
Quanto tempo tem sido para você?
Sua pergunta me surpreendeu e me pegou desprevenida. Oh, como ele poderia
me ler tão bem, mesmo depois de todos estes anos. Fez meus poros formigarem pensar
que ele estava prestando atenção. Sim, eu sabia exatamente o que ele estava pedindo,
mas a resposta honesta me envergonhou. Na verdade, tinha sido anos desde que eu tinha
tido relações sexuais.
King tinha ido embora há meses, desapareceu sem deixar rasto. Eu apenas
descobri que estava grávida e estava me sentindo terrivelmente triste. Lee ainda estava
farejando Karla enquanto eles faziam seus velhos jogos de: ‘eu te odeio, mas eu quero
foder você’. Estávamos em um pub uma noite, quando os irmãos tinham aparecido. Eu
não estava bebendo, é claro, mas eu não estava no meu juízo perfeito, tampouco. E
quando Stu se aproximou e começou a fazer os movimentos, eu sucumbi a
eles. Evidentemente, não era a minha melhor hora, mas eu estava solitária e deprimida e
só queria sentir o conforto de outro ser humano. Isso foi há seis anos, e também a última
vez que eu tinha tido relações sexuais.
Eu decidi imediatamente que eu não ia dizer a King sobre aquela noite com Stu,
porque seria contraproducente e inútil. No entanto, eu também não iria enganá-lo em
acreditar que eu tinha estado com ninguém desde que ele também.
O que ele disse fizeram meus instintos protetores chutarem em alta velocidade. –
Elas nunca tentaram estar com você contra a sua vontade, não é?
Os olhos de King queimaram com a minha pergunta, e ele se apressou para me
corrigir. – Deus, não.
Deixei escapar um suspiro de alívio. – Então você não fez?
Ele balançou a cabeça, e meu coração doeu por ele. Ele realmente tinha estado
preso. Tão só. Me chocou perceber que eu poderia ter preferido que ele tivesse tido
alguém. Não me interpretem mal, eu odiava a ideia ao mesmo tempo, porque no meu
coração ele pertencia a mim e mais ninguém. Mas o fato de que ele não tinha tido
qualquer companhia brilhou uma luz forte em seu sofrimento. Eu queria que ele tivesse
um momento de alívio em meio à turbulência, mesmo que o fizesse me deixasse cm
ciúmes como o inferno.
Nós compartilhamos um momento de profundo intenso contato com os olhos, e
então ouvi a música começar a tocar a partir de dentro da tenda do circo. Foi uma
passagem de som e luz, um tilintar de piano flutuou em torno de nós. A expressão de
King se transformou pelo som e eu sabia que ele estava lembrando o quanto ele adorava
tocar.
– Eu te disse que Elaine começou a tocar de novo, não foi? – King olhou para
mim. Limpei a garganta. – Bem, não para o público ou qualquer coisa assim. Só em
casa. Eu acho que é terapêutico para ela. Você deveria pensar sobre...
– Eu não vou tocar piano de novo, então por favor pare de empurrar.
– Eu só estou tentando ajudá-lo, – eu sussurrei.
– Você está me ajudando. Apenas por estar aqui, você está ajudando. Confie em
mim.
Engoli em seco. – Ok. – Uma pausa. – Você vai, pelo menos, considerar ver um
médico? Essa tosse não soa muito boa, e se não for ver, pode se transformar em algo
desagradável. – Já parecia que tinha se transformado em algo desagradável, mas eu
estava tão desesperada para que ele fosse ver isso que eu me agarraria a qualquer
motivo.
– É difícil cuidar de algo que já está caindo aos pedaços, – disse ele com
veemência.
Olhei para ele, de repente chateada com a maneira como ele falou. – Essa é uma
fodida desculpa, e você sabe disso. Só porque algo está quebrado, não significa que não
pode ser concertado. É só preciso coragem, coragem e um monte de esforço. Mas é
evidente que você não quer sequer tentar. – Minhas palavras eram um desafio, e eu
precisava desesperadamente que ele enfrentasse, combatesse. Eu vi o flash de raiva nos
olhos dele e sabia que o que eu tinha dito o tinha irritado.
Ele se inclinou para frente, sua expressão afiada e seu olhar se estreitou. – Está
quebrado, Alexis, irrevogavelmente quebrado. Talvez tentar seja inútil.
A maneira como ele sussurrou suas palavras me fizeram levantar rapidamente da
mesa, meu banco raspando duramente nos painéis de madeira compensada que tinham
sido colocados para criar um piso improvisado. – Você não está irrevogavelmente
quebrado até que você esteja morto, King. Você pode tentar - você apenas não quer, –
Minha voz tremeu quando minha raiva foi lentamente ultrapassada pela auto piedade. –
Talvez você não ache que eu valha a pena. – Uma única lágrima caiu pelo meu rosto, e
King se levantou de seu assento. A dureza em sua expressão tinha desaparecido, e em
seu lugar estava remorso. Ele estendeu a mão para tocar meu rosto, e eu recuei.
– Alexis, eu...
– Quando você fala assim, quando você se machuca com álcool, você está sendo
cruel para nós dois. Você sabe disso, certo? Não pense que você é o único que sofre
aqui. Quando eu disse que eu cuidaria de você, eu estava dizendo a verdade. Cada
pedaço de dano que você causou ao seu corpo, é como se você me desse socos no
estômago.
Minhas palavras o fizeram recuar. – Isso não é verdade.
– É verdade! Eu sei como me sinto.
Ele ficou irritado novamente e puxou seu cabelo. – Sim, mas você não sabe
como me sinto. Você não sabe como isso é difícil.
Eu balancei a cabeça para ele. – Outro fodida desculpa. O Oliver King que eu
conhecia nunca se afastava um desafio. Ele apreciava. Desafios eram pelo que ele vivia.
Antes que eu pudesse me mover, ele estava no meu espaço, seu rosto
tempestuoso. – Mas você não vê, eu não sou o Oliver King que você conhecia. Pelo
amor de Deus, Alexis, eu não sou mais ele.
Ele estava furioso, mas eu também. Eu estava prestes a jogar mais palavras de
volta para ele quando de repente Jack estava lá, puxando King para longe de mim.
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– Que diabos? – Ele disse, olhando entre os dois de nós.
De repente, o vento saiu dos meus pulmões. Que diabos eu estava fazendo,
brigando com King assim? Isso não iria ajudar. Ele estava doente, e eu estava colocando
meus próprios sentimentos antes da sua doença. Naquele momento, me senti
terrivelmente envergonhada.
– Sinto muito, – eu sussurrei. – Eu deveria... Eu deveria ir.
– Sim, – disse Jack. – Talvez seja melhor.
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Dezenove
O que ele disse me fez sorrir. Eu juro que meu menino já era um pouco filósofo,
pensar sobre a percepção de sua própria maneira particular. Deus, e agora eu estava
pensando sobre como eu precisava contar a King que ele tinha um filho. Por que toda a
explicação tem que cair sobre meus ombros, hein? A emoção me atingiu de repente,
mas eu me lembrei que, embora pudesse ser uma experiência estressante no início, eu
estava animada para King saber mais sobre Oliver, conhecê-lo. Eu tinha certeza de que
ele ficaria fascinado, tanto quanto ele me fascinou.
– E o que vovó Elaine disse?
– Ela disse que as cores eram as mesmas para a maioria das pessoas, mas
algumas pessoas têm daltonismo. Isso significa que elas não veem as cores do mesmo
jeito. – Ele fez uma pausa, a testa enrugando em concentração e ele olhou para mim. –
Eu tenho olhos azuis e vovó tem olhos azuis. É por isso que vemos igual? Você tem
olhos castanhos, mamãe. Isso significa que você vê diferente?
– Não, Oliver, que não é assim que funciona.
Ele franziu a testa, confuso que a sua lógica não estava fazendo sentido, então eu
tentei explicar a ele. – Não importa de que cor nossos olhos são - é nosso cérebro que
diz aos nossos olhos que cor nós estamos olhando. Então os nossos olhos têm três
receptores de mensagens neles. Um para luz vermelha, um para a luz azul, e um para a
luz verde. Vemos a cor através da luz. Estes receptores veem a luz e enviam uma
mensagem para os nossos cérebros, e, em seguida, o nosso cérebro interpreta a
mensagem para nos dizer que cor é. – Eu tentei explicar simplesmente, na medida em
que pude. – No entanto, algumas pessoas têm um defeito em um de seus receptores de
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Página
mensagens, o que significa que eles veem a luz errada e enviam a mensagem errada para
o cérebro. Isso os torna cegos de cor.
Oliver parecia preocupado agora. – Eu não quero ter um defeito no meu receptor.
Sua declaração fez com que eu soltasse uma risada suave. – Você não tem um
defeito.
Ele se levantou pondo com as mãos sobre a mesa, totalmente angustiado. – Mas
como você sabe?!
Oh, meu Deus, eu sinceramente não poderia aceitar o quão bonito era quando ele
esta forçado sobre as coisas, como se fosse uma questão de vida ou morte. – Bem, na
verdade, eu não sei. Teríamos de testar.
Eu torci um pouco de espaguete em torno de meu garfo, concentrando-me em
minha comida novamente.
– O que você está esperando? Eu quero que você me teste agora, mamãe.
Dei a ele o meu olhar severo. – Eu vou, mas primeiro você tem que terminar de
comer seu jantar. – Ele não estava feliz com a minha resposta, mas ele se acomodou em
sua cadeira, e terminou sua comida. Eu tive que ir procurar um teste de daltonismo e
testar. Quando chegou o resultado que ele não era cego de cor, ele literalmente pulou de
alegria, jogando os braços pequenos em volta do meu pescoço e apertando.
– Oh, mamãe, eu estou tão feliz que eu não sou daltônico. Eu não quero um cão.
Eu ri mais forte dessa vez, percebendo o que lhe tinha causado tanto
sofrimento. Ele pensou que teria que obter um cão guia se ele fosse daltônico. Sério, às
vezes ele era muito bonito para aguentar.
– Todas essas pobres pessoas cegas. Não conseguindo ver as cores, – continuou
ele, suas palavras golpeando um acorde em mim. King costumava ver as cores, mas não
mais. O mundo estava todo em cinza. Eu precisava ensiná-lo a ver as cores novamente.
– Sim, querido, – eu sussurrei. – Todas essas pobres pessoas.
***
– Não.
– Bem, então, por que você não veio?
Eu arqueei minha sobrancelha e contive uma gargalhada. Sério, seu tom
autoritário me lembrou tanto de nosso filho, isso era muito engraçado. Fiz questão de
manter minha expressão neutra, embora, não querendo angustiá-lo ainda mais.
– Porque eu estava exausta, e eu não sei você, mas alguns de nós usamos a noite
para uma pequena coisa chamada sono. – Ser atrevida com ele era um risco, pois
poderia enviá-lo ao fundo do poço. Foi um alívio quando isso não aconteceu, como ele
continuou a dedilhar seu cabelo longo e se desculpou.
– Desculpe. Estou sóbrio a dez horas. Isso está me deixando rabugento. E eu
achei que você poderia ter se afastado por causa de como eu falei com você na outra
noite.
Eu olhei para ele significativamente. – Tivemos uma pequena briga, King. Não
foi nada, e certamente não o suficiente para me fazer desistir de você. Mas de qualquer
forma, eu pensei que você não deveria fazer isso de uma hora para outra?
Ele soltou uma respiração áspera. – Eu estou testando as águas, ver quanto
tempo eu posso ir. Eu me sinto como merda, mas eu posso lidar com isso. – Seus olhos
pousaram em mim, e sua intensidade me deixou um pouco sem fôlego. – Estou feliz que
você veio. Eu preciso de uma distração. E eu senti sua falta.
Eu inalei bruscamente na honestidade gritante de sua declaração, e senti meu
coração dar uma pontada de saudade. Ele estava puxando seu cabelo agora, mas eu não
tinha certeza se ele percebeu que estava fazendo isso. Aproximando, eu tentativamente
alcancei e desenrolei seus dedos dos longos fios. Estava um pouco sujo, e eu perguntei
se ele tinha lavado depois, quando Jack o ajudou.
– Você vai acabar puxando da raiz, – eu disse suavemente, e ele me deixou
baixar a mão, me observando de perto o tempo todo. Sentindo uma necessidade
estranha, afundei minhas mãos em seu cabelo e corri até as extremidades. King não me
impediu de fazer isso, só continuou estoicamente a me observar, e isso me deu coragem.
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– Você sabe, eu realmente gosto do seu cabelo assim.
– É mesmo? – Perguntou ele, perplexo.
– Sim, – eu disse, balançando a cabeça. – É lindo, mas precisa ser lavado. Que
tipo de pia Marina tem em seu trailer?
King deu de ombros. – Eu não sei. Nunca realmente notei.
– Bem, você acha que ela se importaria se nós usássemos seu banheiro por meia
hora para lavar seu cabelo?
Ele estreitou seu olhar. – Você quer lavar meu cabelo?
– Sim, Oliver, eu quero. Você acha que ela se importaria?
Balançando a cabeça e exalando fortemente, ele respondeu: – Não, ela não vai se
importar.
– Ótimo. Vamos, então, – eu disse, e fiz um gesto para ele seguir.
Eu fiz o caminho para a volta do circo, onde os trailers estavam estacionados,
sentindo o olhar curioso de King em mim enquanto ele andava um ou dois metros
atrás. Eu estava usando jeans novamente e meus sentidos entraram em alerta. Eu
praticamente podia senti-lo examinando minha bunda. Ele sempre costumava fazer isso
antes, e o pensamento me deu uma corrida de emoção. Qualquer pequeno sinal do seu
antigo eu era motivo para otimismo. Quando chegamos ao trailer de Marina, ele enfiou
a mão no bolso e tirou uma chave para abrir a porta. Eu o deixei mostrar o caminho para
dentro enquanto ele caminhava para o banheiro.
– É um pouco pequeno, – disse ele, olhando ao redor.
Eu desconsiderei o comentário dele e começou a enrolar as mangas, sentindo sua
apreensão. Ele estava irradiando necessidade e... qualquer que seja o oposto do desejo
fosse, como se estivesse morrendo para eu lavar seu cabelo, mas ao mesmo tempo
não. Eu entendi. Ele não estava acostumado a pessoas o tocando nos dias de hoje, e se
minha intuição estava certa, ele não estava acostumando a tomar banho também. Ele
tinha estado vivendo como um vagabundo, mas eu planejei para guiá-lo suavemente de
volta para a terra da água e sabão. Era de extrema importância.
Eu o vi puxar um pequeno pacote de seu jeans quando eu fui para pegar uma das
cadeiras da mesa da cozinha de Marina, e então ele apareceu com algo na boca.
– O que é? – Perguntei, levando a cadeira para o banheiro e colocando na frente
da pia.
– Hortelã. Jack disse que eu deveria chupá-los para que eu tenha algo a fazer
com a minha boca.
Suas palavras foram ditas sem quaisquer conotações sexuais de qualquer
natureza, mas ainda assim, elas fizeram a minha mente vagar a lugares que não tinham
vagado antes. Lembrei-me dele indo lá em baixo em mim, a habilidade celeste de seus
lábios e língua. Ele tinha sido muito, muito bom nisso. Piscando, eu me balancei de
volta ao presente.
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– Ah, certo, – eu disse, olhando para longe e colocando a rolha na pia antes de
ligar a torneira de água quente e deixá-lo encher.
– Ele diz que vai me manter ocupado, de modo que eu não vá pensar em tomar
uma bebida.
Nós nos encaramos e eu sabia que tinha feito tudo o que podia com o shampoo,
então eu comecei a lavar. Notei algumas lesões no couro cabeludo, e um pouco de
vermelhidão, mas eles curavam bem, desde que ele continuasse um regime de higiene
decente. Era sua tosse eu estava me preocupando.
– Você pensou sobre ir ver um médico? – Perguntei suavemente, tirando partido
do seu bom humor momentâneo.
– Faria você feliz se eu fosse? – Seus olhos brilharam entre os meus.
– Sim, – eu respondi.
Determinação formou em seu olhar, e eu sabia que não ter vindo vê-lo ontem
havia lhe dado um susto, o fez perceber que ele não queria me perder. – Então eu vou.
Abri a boca e fechei. Foi difícil encontrar palavras por um segundo, e então eu
finalmente encontrei. Eu esperava que ele ouvisse a minha gratidão. – Obrigada.
Eu continuei a enxaguar o cabelo, então sentiu a mão dele vir para descansar no
meu quadril. Ele deixou lá, e nem um de nós comentou. Calor impregnava minha pele,
irradiando de onde ele me tocou. Uma vez que eu tinha torcido todo o excesso de água,
eu puxei a toalha de seus ombros e envolvi em torno de seu cabelo molhado até que
estava em um pacote em cima de sua cabeça. Nós compartilhamos um momento de
contato com os olhos enquanto eu atava meus dedos através dele e o puxei até ficar em
pé.
Levando-o para fora da sala de estar, eu o trouxe para o sofá e ele se sentou,
enquanto eu fui remexer minha bolsa para uma escova de cabelo. Então eu vim e me
abaixei para sentar ao lado dele. Puxei a toalha de seu cabelo, deixei cair em torno de
seus ombros, e torci para secar antes de começar a escovar os emaranhados. King ficou
o tempo todo imóvel como uma estátua, e me permitiu prepará-lo. O ato foi tão
simplista em sua intimidade. Ele estava se afastando de mim, e eu estava prestes a
terminar quando de repente ele se moveu, seus olhos nos meus.
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Eu me assustei quando vi suas lágrimas e engasguei quando de repente ele me
agarrou, me puxando para um abraço desesperado. A velocidade com que ele se mexeu
foi chocante, mas a ternura de suas ações parou meu coração. Ele descansou a cabeça no
meu estômago, e eu não poderia encontrar a minha voz. Ele estava aberto para mim
naquele momento, nu e sua vulnerabilidade provocou lágrimas em mim. Sua respiração
era profunda, a ascensão e queda de seu pesado peito, como eu trouxe as minhas mãos
para seu cabelo e comecei a acariciar.
Eu senti seu rosto se mover e percebi que ele deu um beijo no meu estômago
sobre o tecido da minha blusa. Eu engoli profundamente, sem saber se eu deveria tocá-
lo de volta ou permitir que ele assumisse a liderança. Sua mão veio para a parte macia
da minha barriga e começou a empurrar para cima a barra até que ela revelou pele. A
velha desbotada linha de estrias que eu tinha tido quando eu estava grávida de Oliver
eram um lembrete de tudo que eu ainda tinha que dizer a ele. Eu não poderia impedi-lo,
porém, não quis, e ele não parecia perceber a ligação entre as pequenas linhas e o fato
de que eu poderia ser mãe. Ele simplesmente estava maravilhado com a minha pele,
como se fosse uma coisa maravilhosa.
Ele começou a me acariciar, quase com reverência, e todos os poros do meu
corpo se apertaram. Sua mão era quente, grande e viril, e eu amei a sensação de seus
dedos calejados na minha pele macia. Me deixei completamente imóvel, e permiti que
ele encontrasse seu próprio caminho, ir tão longe quanto ele estava confortável. Mas ele
não tentou qualquer outra coisa, parecia contente em simplesmente correr suas mãos
sobre minha barriga nua e se concentrar no movimento de seus dedos.
Depois de muito tempo, suas mãos pararam e seus olhos se fecharam. Fechei os
meus também. Eu só percebi que tínhamos ambos dormido quando o zumbido do meu
telefone me acordou. King ainda dormia, mas consegui chegar dentro do meu bolso para
verificar a mensagem sem acordá-lo.
Era uma mensagem de Elaine, perguntando quando eu estaria em casa. Eu tinha
que ir, mas eu não queria. Eu queria voltar a dormir, deitar aqui com King durante
horas, e apenas sentir a paz de estar com ele. Infelizmente, a vida tinha outras
ideias. Sua respiração era alta e constante, com um pequeno ronco. Me fez lembrar que
ele concordou em ver o médico, e meu coração se sentiu subitamente mais leve.
Quieta como um rato, eu saí de debaixo dele e deixei o trailer e quase bati em
Jack quando eu estava saindo.
– Oh, meu Deus, você me deu um susto, – eu sussurrei em voz alta, minha mão
indo para o meu peito.
Ele parecia estranho. – Desculpa. Eu recebo muito isso.
– Você é um desses grandes homens com pés silenciosos, hein? – Prossegui.
Inesperadamente, Jack sorriu. Ele era lindo quando ele sorria. Bem, ele já era
lindo, mas ele franzia muito a testa. Ele parecia ser fechado. A única vez que eu
realmente o vi sorrir foi quando ele estava com Lille ou seu irmão.
– Sim, você poderia dizer isso, – ele concordou.
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Eu olhei de volta para o trailer. – King dormiu e ele me disse que vai ver um
médico. Eu trabalho durante o dia, então não vou ser capaz de levá-lo. Você acha que
você poderia levá-lo? Talvez marcar uma consulta para amanhã.
Ele assentiu. – Certo. Eu cuidarei disso.
– Obrigada. Oh, e há outra coisa. Você sabe que ele costumava tocar piano?
Jack balançou a cabeça. – Não, mas eu sabia que a mãe dele tocava.
– Certo. Bem, King costumava tocar também. Música significava muito para ele,
e eu comprei bilhetes para um concerto que eu quero levá-lo para ver. Eu acho que vai
ser bom para ele ouvir uma orquestra ao vivo novamente, talvez terapêutico, mas não
tenho certeza se posso lidar em levá-lo sozinha. Então, você acha que você e Lille
poderiam vir junto?
Jack arqueou uma sobrancelha. – Como em um encontro duplo?
Ele estava me provocando agora, e isso me fez sorrir. Eu não sabia que Jack
tinha essa coisa de provocar. Eu coloquei a mão no meu quadril. – Sim, como um
encontro duplo.
Seus lábios tremeram. – Eu acho que nós podemos fazer isso. Quando é o show?
– Próximo sábado. Você vai se apresentar?
De pé, eu andei até ele e instintivamente trouxe a minha mão para sua bochecha.
– Você raspou, – eu sussurrei.
Seus olhos, aborrecidos e injetados apenas um par de dias atrás, tinham
recuperado um pouco de sua cor. Eles parecem mais claros, mais azuis. – Eu achei que
já era hora.
– Eu posso ver seu rosto agora, – Eu sorri, percebendo as linhas que não estavam
lá antes. Ele também tinha uma pequena cicatriz em uma de suas bochechas. – Como
isso aconteceu?
– Honestamente, amor, não me lembro, – respondeu ele, e eu tremi ao seu termo
carinhoso. Ele sempre me chamava de ‘amor’ quando fizemos sexo, e várias memórias
varreram minha mente de uma só vez.
– Bebida pode fazer isso com você, – disse Jack, dando um tapinha firme no
ombro de King. – É o elixir da perda de memória.
King atirou a seu amigo algo de um sorriso enquanto Lille arregalou os olhos
para o namorado. – Jack.
– Precisamos ser capazes de brincar com isso. Tira seu poder, – Jack explicou, e
achei que fazia sentido.
Olhei para King. – Venha para um passeio comigo?
Sem uma palavra, ele parou ao meu lado e fez um gesto para me mostrar o
caminho. Eu disse adeus a Lille e Jack antes de sair do trailer. Quando chegamos lá
fora, eu deslizei suavemente meu braço através do de King. Ele olhou para mim, os
olhos demorando em nossos braços dados.
– Aonde você foi ontem à noite? – Ele perguntou, tenso. Eu ainda estava
tentando me acostumar com a visão dele sem a barba. Além disso, a sua pergunta me
deixou estranhamente tímida enquanto eu me lembrava de suas mãos sobre mim, seu
carinho, seus toques de adoração. Olhei para os meus dedos enquanto caminhávamos.
– Eu tinha que voltar para casa e não queria te acordar.
– Você poderia ter ficado, – disse ele em voz baixa, e eu não sabia como
responder.
Ele riu, baixo e profundo, antes de dar de ombros. – Se você gosta do cabelo, eu
vou manter o cabelo.
– Ótimo, – eu disse, satisfeita. Nós conversamos enquanto continuamos a nossa
caminhada. Perguntei a ele como se sentia, e ele me disse que ele ainda estava com dor,
mas não tanto como no dia anterior. Nós entramos em um movimentado distrito de
compras, ônibus e carros entupindo as estradas desde que era a hora do rush. As ruas
estavam cheias de pessoas, todas correndo para ir para casa do trabalho.
– Você está com fome? – Perguntei quando eu senti meu estômago roncar. Eu
tinha estado em tal pressa para deixar o escritório hoje que eu tinha esquecido
completamente de jantar.
King desviou o olhar desconfortavelmente. – Eu não tenho dinheiro.
Eu não apontei o fato de que ele tinha dinheiro. Ele tinha uma conta bancária
cheia dela, sem mencionar um apartamento gigantesco que tinha sido deixado pelos
últimos seis anos. Ele não havia considerado isso por um tempo muito longo. Talvez ele
pensasse que todos os seus bens tivessem sido apreendidos pelas autoridades. Afinal,
ele nunca soube que seu nome tinha sido limpo. Ainda assim, eu não tinha a intenção de
empurrar o assunto. Eu só queria comer com ele e desfrutar de sua companhia. Eu
sempre amei os almoços que compartilhamos juntos em seu escritório, a conversa.
– Por minha conta, – eu disse enquanto o guiava na direção de um pequeno
bistrô.
Ele não protestou, mas eu tive a sensação de que ele não estava muito
entusiasmado em eu pagar a conta. Nenhum de nós estava vestido
extravagantemente. Eu usava uma blusa de malha creme, calça jeans azul pálido, e
sapatilhas. King usava uma camisa de trabalho e calças cáqui. Mas o Bistro era
ocasional, então não tinha importância. A garçonete nos levou a um pequeno recanto na
parte de trás e nos entregou um menu. Olhei para a lista.
– Frango assado tem bom aspecto, – eu disse, e fui recebida com silêncio.
King estava olhando ao redor, claramente desconfortável. Eu não tinha que
perguntar para saber que tinha sido um longo tempo desde que ele tinha comido em um
restaurante. A garçonete voltou para anotar o pedido das nossas bebidas. King parecia
confuso, então eu liguei meu pé no seu tornozelo debaixo da mesa por um segundo
como uma demonstração de solidariedade. Parecia confortá-lo um pouco, mas a
garçonete ainda estava à espera do seu pedido e ele não estava falando. No final, eu pedi
duas coca-colas e disse que ela poderia nos trazer dois pratos de frango assado também.
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King pareceu aliviado depois que ela saiu, olhando para mim e murmurando um
baixo, – Obrigado.
– Ela estava sendo agressiva, se você me perguntar, – Eu brinquei para tentar
fazê-lo se sentir menos desconfortável. – Então, – eu continuei casualmente, – Lille e
Jack nos convidou para sair com eles no próximo sábado à noite.
Suas sobrancelhas se uniram. – Sair aonde?
– Não tenho certeza. Provavelmente para jantar e um show ou algo
assim. Poderia ser divertido, – eu disse, tentando parecer indiferente. Eu não queria que
ele soubesse o quão desesperadamente eu precisava que ele dissesse sim.
– Você quer que eu vá?
Eu o cutuquei com o pé. – Claro que sim.
O que ele disse me surpreendeu, já que eu ainda não tinha tido certeza se ele
queria desistir. – Outro dia você disse que não tinha certeza de que queria sair, mas você
parece determinado agora.
Seus olhos queimaram significativamente. – Estou tentando.
– Tudo o que você pode fazer é tentar, – eu disse, dando a ele um sorriso,
lembrando como ele me disse algo assim anos atrás.
Ele sorriu de volta, fazendo meu coração cheio de esperança disparar. Sentamos
lado a lado em nosso recanto, os ruídos do restaurante nos rodeando. – Talvez em uma
semana ou algo assim, você acha que poderia ver sua mãe? – Eu perguntei hesitante.
Ele limpou a garganta, tossiu um pouco. – Sim, – ele concordou. – Eu só preciso
de mais algum tempo para... ficar melhor.
– Eu posso entender isso, – eu disse, olhando para ele. Eu não sei por que, mas
havia algo em seus olhos que me segurava.
Ele se inclinou um pouco mais perto, e sussurrou para que ninguém mais
pudesse ouvir, – Eu sonhei com você ontem à noite.
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Vinte
Apertei os olhos para ele, irritada e bem, com tesão. – Não me dê seu recatado
‘como assim’. Você sabe exatamente o que quero dizer
– Alexis... – Ele começou, seu tom apologético, mas foi interrompido quando a
garçonete chegou com as nossas refeições. Eu não sabia o que fazer - continuar com a
conversa ou fingir que não tinha acontecido? No final, eu cavei em minha comida, feliz
pela distração. Pelo menos desta maneira uma das minhas fomes estava sendo
satisfeita. King pegou seus talheres e começou a comer também. Havia algo
reconfortante sobre o silêncio que se seguiu. Era um bálsamo para a dor dentro de mim
que ansiava por ele.
Quando nós dois acabamos de comer, eu me sentei um momento,
hesitando. Finalmente decidi para o inferno com isso e coloquei minha cabeça em seu
ombro. Eu o ouvi chupar uma respiração no meu movimento, mas eu não poderia
evitar. Eu precisava do contato. Timidamente, ele levantou o braço em volta do meu
ombro e me puxou para perto. A garçonete veio e perguntou se gostaríamos de uma
sobremesa. Eu pedi um cheesecake para nós compartilharmos, principalmente porque eu
queria prolongar o nosso tempo juntos, mas também porque, bem, eu queria cheesecake.
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Uma vez que ela o entregou com duas colheres, King e eu comemos a partir de
uma das extremidades da fatia. Continuamos dando olhares um para o outro. Tornou-se
tão ridículo que ambos começaram a rir no final.
King baixou o garfo e estendeu a mão para a minha bochecha. Minha risada
morreu, meu sorriso desaparecendo, enquanto seus olhos me bebiam. – Você é tão
bonita.
– Estou velha e gorda, – Eu bufei. E olha, eu sei que eu deveria ter apenas
aceitado o elogio, mas eu era terrível com louvor. Não podia lidar quando as pessoas
diziam coisas agradáveis. Quando eu era mais jovem, eu poderia ter lhe dado
uma atrevida, sou mesmo, não é? Mas não agora. A vida tinha tido o seu caminho
comigo. Eu não era um colírio mais e nem tão sarcástica.
King franziu a testa. – Você não é velha ou gorda. Na verdade, você está de
alguma forma mais bonita agora do que antes.
– Talvez eu não fosse muito bonita antes, – eu brinquei.
– Isso não é verdade. Você era deslumbrante. Eu realmente não deveria ter
contratado você. Mesmo quando eu concordei com Eleanor que você seria sua
substituta, em algum lugar no fundo da minha mente eu sabia que estava fodido.
***
No dia seguinte, eu tinha a minha assistente, Dara, me cobrindo a tarde para que
eu pudesse sair do trabalho mais cedo para ir e ver King. Nosso tempo juntos na noite
anterior tinha ido tão bem, e eu estava ansiosa para passar mais tempo com ele. Quando
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topei com Matilda, ela me disse que tinha o visto caminhando em direção ao gazebo,
então eu fui nessa direção. O lugar estava lotado com pessoas almoçando, muita
agitação, e eu não consegui achar King.
Quase todos os lugares no local estavam tomados e quando eu digitalizei as
cabeças, procurando seu longo cabelo loiro reconhecível, o vi sentado sozinho no canto
mais distante. Tive a sensação de que a maioria dos trabalhadores do circo tendiam a
evitá-lo. Fazendo meu caminho pelas pessoas, eu vi que havia uma refeição na frente
dele. Um homem de pele escura passou, viu King, e puxou uma pequena garrafa de
vodca de seu casaco. Quando falou, seu sotaque soou estranho.
– King, meu amigo, tenho algo para você. – Ele colocou a garrafa sobre a mesa,
deu um tapinha no ombro dele, e se afastou. Os olhos de King foram para a garrafa, e eu
fiquei ali, olhando incrédula para o homem enquanto ele se afastava. Ele não sabia que
King estava tentando parar de beber, ou ele estava intencionalmente tentando sabotá-lo?
Seus olhos encontraram os meus, intensos e sondando: – Sim, talvez por isso.
***
Quase duas semanas se passaram, e eu arranjei para os meus pais ficassem com
Oliver por um par de noites. Eu não gostava de estar longe dele, mas eu precisava de
tempo com King. Era um período crítico. Ele estava fazendo progresso, e eu senti como
se me ter por perto estava ajudando. Isso foi apenas uma pequena parte disso,
embora. Depois de resistir a vodca, sua própria força interior estava começando a
brilhar, sua determinação a assumir. Foi como quando era mais jovem, e ele trabalhava
durante a noite, a fim de fazer o melhor trabalho que podia. Essa característica potente
estava voltando, e ele estava usando isso em sua busca para desistir de álcool para
sempre. Não me interpretem mal, ele teve alguns momentos preocupantes onde
ele realmente queria uma bebida, mas com a minha ajuda e com a ajuda de seus amigos,
ele conseguiu ficar forte.
E forte era o que ele precisava ser, porque ele vomitava muito durante essas duas
semanas. Na verdade, era um tempo horrível. Eu estava lendo muito sobre o alcoolismo,
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mas parecia que todos os casos eram diferentes. Recuperação bem sucedida dependia do
indivíduo.
Marina nos deixou termos nosso tempo no seu trailer. Tentei ajudar King com os
seus medicamentos e tal, mas ele não me queria por perto para isso. Ele ainda ficava um
pouco irritado as vezes, dizendo que ele era bem capaz e não precisava de uma
enfermeira. Poderia ter me levado no caminho errado se isso não tivesse me deixado tão
incrivelmente feliz. Na verdade, eu estava mais feliz em tê-lo fazendo as coisas ele
mesmo do que confiar em alguém para ajudar. Apoiando-se significava que ele tinha
uma maior chance de sucesso.
Então a noite do concerto veio, e meu estômago estava fazendo cambalhotas
todo o dia que a antecedeu. Eu estava com medo que King iria ficar puto comigo por
enganá-lo, mas eu estava determinada a aproveitar a oportunidade. O retorno potencial
valia a pena o risco.
– Oi.
– Olá, Alexis, – disse ele, os olhos mergulhando momentaneamente para meu
vestido, em seguida, de volta para o meu rosto. – Você está bonita.
Nesse momento, todo o esforço valeu a pena. A palavra ‘bonita’ na boca de
Oliver King quando dirigida a mim sempre valia a pena.
– Obrigada.
O táxi começou a se mover. Eu já tinha dito ao motorista nosso destino
final; Dessa forma, King não saberia para onde estávamos indo até que nós realmente
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chegássemos lá. Ele não fez perguntas, e parecia contente em simplesmente se sentar ao
meu lado, nossas coxas se tocando, braços escovando sempre que o táxi virava.
A área do lado de fora da Royal Albert Hall estava agitada, então King não
reconheceu imediatamente onde estávamos. Meu coração estava batendo a mil por
hora. E então, quase em câmera lenta, ele olhou para cima e observou o local. Eu vi sua
garganta mexer quando ele engoliu em seco, e todo o ruído que nos rodeava parecia se
acalmar enquanto eu esperava por sua reação. Jack e Lille foram para o lado, de mãos
dadas. Jack parou, observando King quase tão de perto quanto eu estava para que ele
pudesse mergulhar de cabeça se as coisas tomassem um rumo para o pior.
O olhar de King veio descansar em mim, as sobrancelhas juntas em
consternação. – Porque estamos aqui?
– É engraçado que eu nunca realmente vim aqui antes. Eu deveria tornar uma
coisa regular.
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Nada ainda.
– Você gostaria de algo para beber? – Perguntei, e depois fiz uma careta. –
Quero dizer, como água ou suco de laranja ou algo assim.
– Eu estou bem, – ele finalmente disse em uma longa exalação.
– Ah, certo, bom. – Fiz uma pausa, olhando em volta. Lille e Jack estavam tão
silenciosos quanto King, que não estava querendo papo. Tive a sensação de que nenhum
dos dois eram do tipo falador, mas poderiam muito bem ter evitado o constrangimento
em tentar dizer alguma coisa. De repente, meu vestido parecia muito apertado, e minha
garganta obstruía com a tensão nervosa.
– Bem, eu acho que vou usar o banheiro e talvez agarrar um programa antes do
início do concerto.
King olhou para mim por um breve momento, balançou a cabeça, em seguida,
voltou sua atenção para o palco novamente. Eu me levantei, fazendo o meu caminho por
ele, porque muitas pessoas já tinham tomado seus lugares na outra extremidade da
fila. Eu fiz o meu melhor para não tocar em ninguém, e depois corri para encontrar o
banheiro. Uma vez que eu cheguei lá, eu realmente queria jogar um pouco de água no
meu rosto, mas não podia porque iria estragar a minha maquiagem, então eu colocar
molhar meus pulsos debaixo da torneira fria por um minuto.
Quando terminei, eu comprei um programa e pairei no navegador na seleção de
CDs disponíveis. Em seguida, a chamada final para o início do concerto foi anunciado
nos alto-falantes, então eu fiz o meu caminho de volta para dentro. Eu tive que passar
por King novamente para chegar ao meu assento, e meu salto pegou na ponta do seu
sapato, me fazendo. Suas mãos foram para os meus quadris para me firmar e me puxou
de volta para cima, pedindo desculpas profusamente. Uma vez eu estava sentada com
segurança, sua mão apertou meu joelho, o gesto carinhoso me surpreendendo. Fiquei
ainda mais surpresa quando ele se inclinou perto do meu ouvido e sussurrou
calmamente: – Relaxe, Alexis.
Minha pele aqueceu em todos os lugares quando sua respiração me tocou, e ele
moveu a mão para longe. Eu queria que ele deixasse ela lá. Um momento depois, o
concerto começou, os músicos da orquestra tomando seus lugares no palco. O pianista
foi o último a aparecer, uma mulher de trinta anos usando um vestido preto longo. O
público aplaudiu, e, em seguida, o condutor estava de pé ao seu pódio, sinalizando o
início do concerto. As luzes do salão foram controladas, que fez o local gigantesco
parecer pequeno de alguma forma.
O segundo que a pianista começou a tocar, eu tive calafrios. Com cada clicar nas
teclas, ela se mexia seu corpo com uma elegância feroz. Me fez lembrar daquela noite
em Roma, quando King tinha tocado a mesma música e eu tinha ficado fascinada por
seu talento e habilidade. A orquestra se juntou depois de um par de notas, e eu fui
varrida com a música. Era tão... apaixonado. Vários minutos se passaram antes que eu
pensasse em olhar para King. Ele olhava para a frente, as mãos apoiadas sobre as coxas,
mas seus olhos estavam vidrados, sua mandíbula apertada. Eu não poderia dizer se era
porque ele estava com raiva ou porque ele estava tentando controlar suas emoções.
Me sentindo corajosa, eu estendi a mão e deslizei a minha na dele, nossos dedos
entrelaçados. Ele não me afastou. Em vez disso, ele apertou meus dedos, quase ao ponto
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de doer. Ele não tinha ouvido a música em um tempo muito longo, e eu poderia dizer
que estava tendo um profundo efeito sobre ele. Inferno, estava tendo um efeito profundo
em mim, e eu não sabia nada sobre música clássica. Havia tanta beleza que era difícil
não deixá-la prender a sua imaginação.
Tudo nesse homem tinha brilhado em minha mente. O medo do perseguidor de
sua mãe. Pensando que ele tinha o matado e depois seu pai ajudando, fazendo parecer
que ele poderia resolver tudo, quando na verdade ele só iria tornar isso pior. Bruce
tentando forçar seu modo de vida na vida de King quando ele não queria participar
disso. Fazendo-o testemunhar a violência e crimes que ele nunca poderia arrancar de
suas memórias. Ser chantageado por anos. E então, a gota d'água quando King
finalmente estalou e quase matou seu pai. Fugindo e deixando para trás tudo o que ele
trabalhou tão duro para conseguir, porque ele achava que ele era um assassino.
A música continuou, e antes que eu percebesse, o concerto tinha chegado ao
fim. Quando o público se levantou em uma ovação de pé, King se levantou de seu
assento, rapidamente fazendo o seu caminho para fora do salão.
– Onde ele está indo? – Perguntou Lille, mas eu só poderia dar a ela um olhar
vazio. Eu não tinha ideia, mas eu sabia que precisava segui-lo. Abri caminho para fora,
vendo-o a um par de metros a minha frente. Era difícil manter-se com seus passos
largos, especialmente desde que eu estava de salto e tinha pernas consideravelmente
mais curtas.
– King, – gritei. – Onde você vai?
Eu não esperava que ele respondesse, mas, em seguida, ele respondeu em voz
alta por cima do ombro, – Eu tenho que... eu tenho que ir em algum lugar.
– Sua mãe as deu para mim. Ela queria que eu verificasse as coisas. Certificar
que as plantas fossem regadas.
– Eu nunca tive quaisquer plantas.
Eu fiz um som estranho na parte de trás da minha garganta. – Oh, você sabe o
que quero dizer.
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As portas do elevador abriram, e houve um momento de silêncio onde King
apenas olhou para mim. Eu amava e odiava seus olhares em igual medida. Eu amava
porque me fazia querer ele. E eu odiava porque me fazia querer ele.
Ele fez o seu caminho para fora do elevador, e eu segui. Quando chegamos à
porta, ele se endireitou e esperou que eu abrisse. Eu fiz isso em silêncio e ele se
apressou para dentro, indo direto para uma gaveta e tirou um bloco de papel e um
lápis. Achei fascinante que ele se lembrava exatamente onde tinha deixado as
coisas. Então, ele foi para o seu piano, se sentou pela grande janela que dava para o
rio. Eu vi quando ele se sentou e abriu a tampa, revelando as teclas. Ele correu os dedos
sobre elas, levemente, como se dizendo olá a um velho amigo.
Eu o observei com muita atenção. Seu rosto se levantou, e eu notei que ele
estava olhando para alguma coisa. Seguindo seu olhar, vi que estava fixado no armário
de bebidas do outro lado da sala. Elaine não sabia sobre o abuso de álcool de King,
então, obviamente, ela nunca tinha pensado em limpar o gabinete. King ainda estava
olhando para ele quando ele falou, a voz tensa. – Você pode esvaziar todas aquelas
garrafas na pia, por favor?
– Claro, – eu disse, um pouco confusa, e corri. Tão rápido quanto eu podia, eu
removi as garrafas e as levei para a cozinha, onde eu prontamente derramei seu
conteúdo na pia. Eu estava uma mistura de nervosa e triunfante, porque a maneira em
que King olhou para as garrafas foi estressante, mas o fato de que ele me disse para
esvaziá-las significava que sua força havia vencido. Uma vez que tudo foi feito, eu virei
para trás e deu a ela um aceno de cabeça firme. O corpo de King suavizou, e ele me
lançou um olhar estoico antes de sua atenção estar de volta ao piano.
De repente, me tornei ciente de meus pés doridos, e eu só sabia que eu tinha um
monte de bolhas pela longa caminhada. Por que diabos eu não tinha sugerido um
táxi? Ou até mesmo pegado um? Eu estava tão ansiosa, tão preocupada com a forma
como o concerto tinha lhe afetado, que meu cérebro não pareceu estar funcionando
como de costume.
Vendo que a porta do banheiro estava entreaberta, eu deixei King à sua própria
sorte, quando eu entrei e tirei meus sapatos. Assim como eu achava, meus pés estavam
vermelhos e crus.
Eu não tinha certeza de quanto tempo tinha passado quando a porta do banheiro
rangeu e King entrou. Abri os olhos, olhei para cima, e o vi me estudando. Sua
sobrancelha arqueou para cima.
– O que você...
– Meus pés estavam doloridos, – eu expliquei rapidamente.
– Oh, – ele disse. – Eu esqueci que você não estava acostumada a andar.
– E você está?
Conscientemente, ele coçou a cabeça. – Às vezes, quando o circo está em uma
pausa, eu vago por aí.
Sua resposta me intrigou. – Você vaga? Onde?
– Qualquer lugar. Eu nunca realmente me importei para onde ia, desde que fosse
para algum lugar diferente do que antes. De alguma forma, porém, eu sempre consegui
encontrar o meu caminho de volta.
Algo doloroso me acertou bem no peito, como se eu compreendesse o que ele
estava dizendo. – E quando você anda, – eu sussurrei, – onde você dorme?
– Nas ruas.
– Oliver, – eu disse, minha voz vacilante.
– Você está chateada, – ele afirmou.
– Claro que estou chateada. Você esteve dormindo nas ruas, e ainda assim você
tinha este lugar aqui o tempo todo.
– Eu te disse, eu parei de pensar nisso como meu.
– Bem, você precisa começar novamente. Porque esta é a sua casa.
Seu rosto ficou tenso. – Alexis, eu não tive uma casa adequada, a minha própria
cama, em um bom tempo. – Ele fez uma pausa, olhou ao redor, e fez um gesto com as
mãos. – Tudo isso vai levar um tempo para se acostumar.
Em um nível, o que ele disse me irritou. Este lugar era dele, pelo amor de
Deus. Mas em outro nível, eu completamente compreendia. O apartamento era
praticamente palaciano, e tudo nele era caro e de luxo. Minha própria casa era
positivamente singular em comparação a esta cobertura.
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Minha voz era calma quando eu ofereci, – Você pode vir e ficar comigo, se
quiser. Minha casa é pequena. Pode ser melhor pra você. – Eu atirei a ele um sorriso,
por um momento esquecendo que ele não poderia ir e ficar comigo até que eu dissesse a
ele sobre Oliver. Eu tive que dizer a ele sobre Oliver; Eu estava apenas esperando o
momento certo, que parecia nunca chegar.
– Eu não poderia impor a você, – disse ele, e foi até a prateleira para retirar uma
toalha. Ele se aproximou, a toalha na mão, então se ajoelhou na frente da banheira. Eu
assisti com muita atenção quando ele chegou e retirou um pé e depois o outro, secando
ambos com cuidado. O esfregou meus pés, aplicando apenas a quantidade certa de
pressão. Eu tinha que morder o lábio para não gemer, porque parecia tão bom.
– Você não tem que fazer isso, – eu disse, enquanto ao mesmo tempo não queria
que ele parasse. Seus olhos vieram aos meus, e a toalha caiu enquanto ele olhava para
baixo e começou a examinar os meus pés. Sugando uma respiração dura, ele disse: –
Você precisa curativo nestes cortes.
– Eles vão ficar bem.
Ele me lançou um olhar de repreensão e eu calei minha boca.
– Eu acho que eu costumava manter um kit de primeiros socorros aqui em algum
lugar, – disse ele, e olhou no armário sobre a pia. Com certeza havia uma caixa branca
lá dentro. Ele puxou para fora e começou a procurar por algum creme antisséptico e
band-aids.
– A música que estava tocando lá era linda, – eu disse enquanto ele trabalhava.
– Sim, eu estava assistindo a mulher tocar esta noite, e eu percebi uma coisa. –
Ele franziu a testa, as mãos parando no meu pé.
– O que foi?
Seu olhar encontrou o meu. – Que eu estava com ciúmes.
Eu não sabia o que dizer, mas então ele continuou a falar. – Eu queria o que ela
tinha, era quase um tipo físico de dor. Eu estive longe da verdadeira música por tanto
tempo que eu não percebi o quanto eu precisava. Ela costumava ser a minha coisa
favorita, algo que eu fazia para descomprimir. Mas agora parece que eu não posso
respirar se eu não voltar a isso.
Meus lábios ficaram secos, ainda sem saber o que dizer. – Bem, eu estou feliz
que você tenha gostado do show.
– Gostei. Obrigado por me levar lá. Eu sei que isso te legou um monte de
coragem.
Ele segurou meu pé na sua mão, seus dedos deliciosamente quentes na minha
pele. Fiquei olhando, paralisada, quando ele começou a fazer o seu caminho até minha
canela. Meus lábios ficaram mais secos. Na verdade, eu estava morrendo de sede
naquele momento, e não era para a água. A boca de King estava aberta enquanto ele
admirava minhas pernas nuas, seus olhos vagando tão longe em minhas coxas antes que
eles viessem para o meu rosto. Nós nos comunicamos em silêncio e, segundos depois
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ele estava me puxando para ele, espirrando água quando ele me pegou. Suas mãos
agarraram cada lado do meu pescoço, e ele baixou a boca na minha.
O beijo foi suave no início, talvez até um pouco hesitante, mas, em seguida, sua
língua deslizou ainda que levemente contra a minha, e eu gemi no fundo da minha
garganta. O som fez King deixar sair um grunhido baixo enquanto seus dedos se
cravavam em minha pele e o beijo se aprofundou. Cada fibra do meu ser veio explodiu
enquanto nossas línguas enrolavam, nossos lábios mordendo, mordiscando, buscando, e
eu senti o ponto entre as minhas coxas ficar molhado e necessitado.
Eu poderia ter gozado apenas pelo beijo, foi tão intenso. Nós nos beijamos como
se as nossas vidas dependessem disso, como se estivéssemos morrendo de sede no
deserto, e eu teria estado constrangida pela minha necessidade óbvia se não tivesse
correspondido com a dele. Longos minutos se passaram, mas seus dedos não desviaram
do meu pescoço e os meus nunca deixou a frente de sua camisa, o material agrupado em
meus punhos. O fato de que estávamos mal nos tocando tornou muito mais febril. Foi só
quando eu gemi uma segunda vez, muito mais alto do que antes, e King deu um rosnado
profundo, masculino, que eu sabia que tinha que quebrar o beijo. Se não parássemos
com isso, ele ia estar dentro de mim em breve, e eu sabia que não teria a força de
vontade para detê-lo.
Meu peito arfava quando eu rompi, vendo estrelas, todas elas douradas como seu
cabelo. Nós nos encaramos e foi naquele momento que eu deixei escapar: – Há alguém
que eu preciso que você conheça.
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Vinte e um
King não queria ficar em seu apartamento naquela noite, e não importou o
quanto eu tentei convencê-lo a dar uma tentativa, ele estava determinado a voltar para o
circo. Ele queria o que era familiar, e seu antigo apartamento era estranho para ele
agora.
Elaine tinha vindo para o café da manhã, e estávamos sentadas à mesa, tomando
café e comendo panquecas. Você sempre saberia que eu estava supercompensando
quando eu fazia panquecas. Oliver estava na sala de estar, comendo uma tigela de
Cheerios e assistindo televisão. Ele não queria panquecas por algum motivo e estava
determinado a comer cereal. Oh, os caprichos de uma criança de cinco anos de idade.
– Eu tenho que te dizer uma coisa, – eu disse, nervosa, e Elaine ergueu os olhos
da revista que ela estava olhando. Suas sobrancelhas naturalmente pálidas arquearam
em preocupação quando ela percebeu minha apreensão.
– Sim, querida? – Ela disse, dando-me um sorriso caloroso. Eu mencionei o
quanto eu amava que ela me chamava de querida? Ela tinha essa educada classe de
sobre ela. Às vezes eu me sentia como se talvez eu pudesse ganhar um pouco disso por
osmose.
Ok, isso e perder uns quilinhos. Eu não queria fazer rodeios, e Elaine não estava
tão vulnerável nestes dias, então ela poderia lidar com um pouco de um choque.
– Eu encontrei Oliver.
Ela piscou para mim, incrédula, seus olhos correndo para a porta que dava para a
sala de estar. – Você quer dizer, meu Oliver?
Eu balancei a cabeça.
Ela se levantou da mesa e começou a se abanar com as mãos enquanto ela
andava para trás e para frente. Eu assisti, tensa, preocupada que ela poderia ter um
colapso. Felizmente, isso não aconteceu. Sua voz estava ofegante de emoção e excitação
quando ela finalmente falou. – Como você o encontrou? Quer dizer, onde ele está?
Eu disse a ela para se sentar e que eu iria explicar tudo. E eu fiz. Tudo sobre a
carta de Lille e como King tinha uma meia-irmã que era dona de um circo, como ele
tinha vivido com ela durante anos. Quão doente ele se tornou e como ele estava
lentamente tentando ficar melhor. Ela estava com os olhos arregalados e sem fala pelo
tempo que eu tinha terminado de contar tudo.
– Você acha que ele vai querer me ver? – Ela perguntou timidamente.
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– Eu sei que ele quer. Ele só quer ficar melhor primeiro, se fazer apresentável.
Ela assentiu com a cabeça, os olhos lacrimejantes quando ela olhou por cima do
ombro, e eu sabia que sua mente estava em outro lugar.
– Eu vou levar Oliver para o circo hoje para apresentá-los. Eu não posso
esconder o fato de que temos um filho por mais tempo.
O rosto de Elaine ficou preocupado. – Ele está pronto para isso?
– Sim, – eu disse, – Eu acho que está.
***
– Alexis, – ouvi uma voz de perto chamar e tive que fechar os olhos. O que eu
estava fazendo? Era muito cedo. Eu silenciosamente desejei nos transportar para longe
de lá, mas eu não podia. Eu não tinha outra escolha a não ser encarar a música. Passos
soaram quando King se aproximou, e eu me forcei para abrir os olhos. Ele usava uma
camiseta, jeans e botas. Foi surpreendente vê-lo camiseta de manga curta quando
normalmente ele usava de manga longa, mesmo no calor escaldante.
– Oi, – eu disse, mal reconhecendo minha própria voz. Olhei para Jay em pânico,
e ele balançou a cabeça em encorajamento, como se dissesse, Você pode fazer isso.
Eu poderia fazer isso. Eu poderia.
King ainda estava focado em mim, uma carranca tomando forma quando ele
observou a minha postura nervosa. Vários minutos de silêncio se passaram enquanto
meu coração batia alto em meus ouvidos. Parecia que o momento tinha durado uma
eternidade. King de repente, olhou para baixo e viu Oliver. Seus olhos azuis se voltaram
para os meus, uma pergunta neles.
– Seu amigo? – Ele perguntou, sua voz uma mistura de curiosidade e apreensão.
Eu engoli em seco e chamei a minha coragem antes de deixar escapar: – Este é o
meu filho.
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– Olá, – disse Oliver, acenando, totalmente alheio à cena. Sua voz chamou a
atenção de King de volta para ele, e eu o vi olhar casa parte dele, de seus olhos azuis e o
cabelo loiro, o rosto que era quase uma cópia do dele. Eles dizem que você se parece
com um dos pais mais em momentos diferentes em sua vida. Bem, bem, então Oliver se
assemelhava a seu pai muito mais do que sua mãe.
A mandíbula de King se mexeu e ele engoliu em seco, seus olhos não deixando
Oliver quando ele perguntou: – Quantos anos ele tem?
– Cinco, – eu respondi, a voz vacilante, embora eu só tivesse pronunciado uma
sílaba.
King correu as duas mãos pelos cabelos e olhou para longe, tensão marcando
suas feições. Eu sabia exatamente o que estava acontecendo; sua mente estava reunindo
as informações, fazendo a matemática. Quando ele olhou de volta para mim, seus olhos
estavam molhados, e eu senti o peso de tudo o que ele estava sentindo como um golpe
no peito. Nossos olhares se encontraram, a atmosfera pesada com perguntas sem
respostas. Finalmente, Oliver interrompeu, puxando a minha mão.
– Mamãe, eu quero entrar agora.
– Ei, amigo, – disse Jay, dando um passo para frente. – Você quer ver algo legal?
King avançou às pressas, sua expressão frenética e sua voz arejada. – Ele é meu,
não é? Porra, você só tem que olhar para ele para saber que ele é meu. – Ele se virou,
olhando para as pessoas caminhando, sua mente claramente correndo. Música começou
a tocar nos alto-falantes na entrada para o circo, como um ponto de exclamação gritante
no final da sua declaração.
– Ele é seu, – eu respirei.
King esfregou sua mandíbula, onde um pouco de barba começava a crescer. E
então, só assim, ele se virou e foi embora. Jesus. Meus sapatos pareciam estar presos em
uma banheira de cimento enquanto eu ficava ali, sem saber o que fazer. Quando eu
finalmente recuperei os sentidos, corri atrás dele. Ele tinha dado a volta na tenda e
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estava fazendo o seu caminho para os trailers quando cheguei perto o suficiente para
agarrar seu cotovelo.
– Espere, não fique zangado comigo, por favor, – eu implorei. Ele parou de
andar e se virou, suas feições contorcidas de angústia. Seus olhos brilharam entre os
meus, sua voz saindo tensa e rouca.
– Cristo, Alexis, eu não estou com raiva de você. Eu estou com raiva de mim
mesmo.
– Por quê? Você não tinha ideia de que estava grávida. Inferno, eu nem sequer
me dei conta disso até meses depois que você tinha desaparecido.
Ele bufou, as mãos freneticamente correndo por seu cabelo novamente. – Sim,
mas eu sumi por anos, enterrando a cabeça na areia, e todo o tempo você estava lá fora,
sozinha com uma criança que era minha. Isso só... me faz sentir inútil.
Cheguei mais perto e ergui as mãos para seu cabelo, como eu fiz antes, quando
ele estava puxando para o ponto onde ele estava quase rasgando para fora. Deslizando
os dedos pelos seus, eu segurei as duas mãos na minha e o olhei nos olhos. – Você não é
inútil, King. Você é a pessoa mais forte que eu conheço. Quero dizer, olhe para você,
olhe para o quão longe você veio desde que eu te encontrei. Não se atreva a pensar por
um segundo que eu te culpo por não estar lá. Eu tive ajuda. Eu tive Karla e os meus
pais, e sua mãe também. A única coisa que eu lamento são os anos que você perdeu,
mas eu não vou me debruçar sobre eles, e eu não vou deixar você fazer isso
também. Ele ainda é jovem, King, e há mais anos à frente do que há para trás.
Lágrimas escorriam pelo seu rosto quando ele olhou para mim. – Ele é tão...
perfeito. – Ele fez uma pausa, levou as mãos ao meu rosto para minhas bochechas. – Ele
é como este pequeno humano perfeito que fizemos juntos, e eu nem sequer o conheci.
Eu coloquei minhas mãos sobre as dele. – Você vai conhecê-lo. E se eu fosse
você não ficaria jorrando a palavra ‘perfeito’ ainda, – eu brinquei. – Quando ele está
tendo um acesso de raiva ou entrando em casa todo sujo, ele está longe de ser perfeito,
acredite em mim.
King soltou uma triste risada baixa e me segurou mais apertado. O silêncio foi
interrompido pelo latejar no meu pulso, que eu tinha certeza que ele podia sentir. Um
longo silêncio caiu entre nós enquanto simplesmente ficamos ali, nos comunicando sem
palavras. Finalmente, falei.
– Vamos, vamos voltar para que você possa conhecê-lo corretamente.
Indecisão nublou sua expressão, ele respirou fundo e limpou as lágrimas de seus
olhos. Havia algo tão dolorosamente bonito sobre o momento, e eu me perguntava por
que eu estive com medo de dizer a ele. Se qualquer coisa, a descoberta trouxe mais da
cor de volta para seus olhos, e eu estava determinada a substituir até a última gota.
Nós caminhamos lado a lado para onde os elefantes estavam sendo mantidos, e
encontramos Jay com Oliver em seus ombros para que ele pudesse acariciar um.
Eu ri também, e vi King sorrir. Eu poderia dizer que ele ainda estava lutando
com suas emoções, mas estava fazendo um esforço para se segurar. – É um prazer
conhecê-lo, cara, – disse ele, e estendeu a mão para pegar a dele e agitar. Oliver ficou
quieto enquanto ele estudava King, tentando desvendá-lo. Era adorável. Dei a ele um
pequeno empurrão.
– O que você diz de volta?
– É um prazer conhecê-lo também.
O sorriso de King se tornou maior, e eu senti como se meu coração estivesse
prestes a estourar. Eu tinha visualizado este momento há anos, imaginei isso
acontecendo de muitas maneiras diferentes, mas agora que ele estava realmente aqui,
não havia comparação. Era como um pequeno pedaço de mim que foi quebrado sendo
finalmente ser curado. E pelo olhar no rosto de King, ele estava se sentindo exatamente
da mesma maneira.
– Oh, eu sei o que podemos fazer, – Oliver anunciou de repente. – Eu posso ser
Oliver 1 e você pode ser Oliver 2.
– Isso soa como uma boa ideia, – King riu, a ternura em sua voz quando ele
interagiu com o nosso filho fazendo uma parte profunda e feminino de mim doer.
Eu realmente queria dizer a ele que ele poderia chamá-lo de papai, mas era muito
cedo. Oliver do tipo aberto de criança, mas ainda assim, eu sabia que tinha de aliviar a
ideia de que King era seu pai. Baixando-o dos meus braços, nós fomos para dentro da
tenda para o início do show. Eu comprei a Oliver algum algodão doce, então ele ficou
quieto, concentração estampada em seu rosto. King parecia não saber como agir, mas eu
só apertei a mão dele para que ele soubesse que ele estava indo bem. Quando
encontramos alguns lugares e King se sentou, Oliver sem cerimônia começou a subir
em seu colo.
– Eu vou sentar aqui, – disse ele, sem preâmbulos. Eu ri. King olhou para ele,
uma mistura de divertimento e perplexidade. Isso era o típico comportamento de Oliver,
embora; ele fazia amizade rapidamente. Dei de ombros e tomei o assento ao lado de
King com o nosso filho sentado em seu colo, feliz, comento seu algodão doce como se
ele não tivesse nenhuma preocupação no mundo.
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Eu olhei para King, em seguida, sussurrei: – Você está bem?
Ele engoliu em seco e piscou algumas vezes antes de limpar a garganta. – Sim,
eu estou bem.
Eu sorri e lancei um olhar na direção de Oliver enquanto observava algumas
pessoas de mexendo para dar início ao espetáculo. – Eu acho que ele decidiu que vocês
irão ser amigos. Não que você tenha alguma a coisa a dizer a esse respeito. Desculpa.
King riu suavemente. – Isso está bom pra mim.
– Obrigada por ser tão legal sobre isso, – continuei, a voz suave.
– Ela tem um macaco! Olha, mamãe, ela tem um macaco! – Ele saltou no colo
de King, que se inclinou para lhe dizer:
– Essa é a minha irmã, Marina. O nome do macaco é Pierre.
Oliver olhou para ele, com um sorriso enorme no rosto e pedaços de algodão
doce rosa presos a suas bochechas. – Posso conhecer ele?
King sorriu para ele, e novamente fez meu coração correr. – Eu tenho certeza
que posso arranjar isso.
– Você é o melhor, – Oliver declarou, e sem aviso estendeu a mão e jogou os
braços em volta do pescoço de King para um abraço. Ele parecia assustado no início,
mas então seus olhos vieram aos meus e eu vi a emoção em si. Ele o apertou de volta, e
de alguma forma eu sabia naquele momento que tudo ia ficar bem. Eu tive que desviar o
olhar por um segundo e limpar a garganta para não ficar toda chorosa.
O show começou com Marina anunciando os elefantes.
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– É o que eu acariciei, – Oliver gritou, apontando para uma das grandes
criaturas.
Ele estava hipnotizado por todo o show, em parte específica de Jay, que me
deixou de queixo caído com espanto. Depois de Jay veio Jack, mas Oliver não gostou
tanto. Na verdade, todo o fogo o assustava, e ele se virou no colo de King, empurrando
seu rosto no peito dele, porque ele não queria assistir. King se assustou, as mãos no ar
como se ele não soubesse o que fazer. Dei a ele um olhar encorajador e apontei para as
mãos. Por fim, ele pegou a dica e passou os braços ao redor de Oliver como se
protegendo-o do que o assustou.
Ao contrário do meu filho, eu não estava com medo do ato de Jack. Pelo
contrário, eu estava maravilhada, especialmente desde que o homem usava jeans e
estava sem camisa. Eu peguei King me olhando, então eu dei de ombros e murmurei
o quê? para ele. Ele só sorriu e balançou a cabeça, mas se eu não soubesse melhor, eu
diria que ele estava com ciúmes. O pensamento me deixou estranhamente tonta.
Durante o intervalo, Oliver era um gato falante, como de costume. E ele estava
mais do que fascinado pelo King.
– Por que você tem cabelo comprido?
King me deu um sorriso diabólico antes de responder, – Sua mãe gosta dele
assim.
Oliver se virou para mim, todo curioso. – Por que você gosta do cabelo longo
dele, mamãe?
Eu dei a King uma careta, tentando não sorrir de volta, mas o meu esforço foi
inútil. – Porque é belo e loiro como o seu.
Pelo olhar em seu rosto, ele não gostou do som disso. – Eu sou um rapaz. Eu não
sou belo. Eu sou bonito.
Sua resposta me fez rir, e eu estava olhando para King quando eu respondi: – Às
vezes os meninos podem ser belos e bonitos.
– Vovó Elaine me diz que eu sou bonito o tempo todo, – Oliver respondeu.
A expressão de dor cruzou o rosto de King com a menção de sua mãe, e eu sabia
exatamente o que eu tinha deixado de fazer. Eu tinha que levá-lo para vê-la. O show
chegou ao fim, e Oliver não iria ouvir uma palavra sobre ir para casa até que ele tinha
conhecesse o macaco. King nos levou aos bastidores, e Marina estava mais do que feliz
em apresentar Oliver para seu companheiro peludo. Eu mesmo vi um pouco de brilho
em seus olhos quando ela viu o meu menino. Ela ficou olhando entre ele e King,
observando as semelhanças. Eu pensei que ela poderia explodir em um ponto, mas ela
conseguiu segurar.
– Você quer voltar para casa com a gente para o jantar? – Perguntei a King em
silêncio, enquanto Oliver ria animadamente enquanto Pierre enfiava suas mãos de
macaco nos bolsos da camisa e calças do meu filho, querendo roubar.
King respirou fundo, perto o suficiente para eu sentir sua respiração bater minha
pele. – Sim, eu gostaria disso, Alexis.
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Havia algo intenso na maneira como ele disse meu nome. Fez com que os
minúsculos pelos em meus braços ficassem em pé e minha respiração travasse. Eu
comecei a lembrar do nosso beijo da noite anterior, sua língua quente e molhada na
minha boca e seu pau duro e pronto em suas calças. Eu pisquei e desviei o olhar,
tentando apagar as imagens. Eu não podia ter esses tipos de pensamentos naquele
momento.
Alguns minutos mais tarde, eu finalmente conseguiu puxar Oliver para longe de
Pierre. De repente, tudo o que ele poderia falar era ter um macaco de
estimação. Fizemos nosso caminho para onde eu tinha estacionado o carro, e Oliver
pediu a King para se sentar na parte de trás com ele para que pudessem conversar. No
momento em que chegamos em casa, ele contou a ele tudo sobre seus amigos em
Montessori e como ele iria estar começando na grande escola em setembro.
De vez em quando o meu olhar travava com o de King através do espelho
retrovisor e cada vez que isso acontecia, minha pele formigava. Ele estava aqui, em
nossas vidas, falando com o nosso filho como se fosse a coisa mais normal do
mundo. Me sentindo tonta com a felicidade, eu saí do carro e dei a volta para deixar
Oliver sair. King saiu do outro lado e parou no nosso pequeno jardim, observando a
casa na frente dele.
– Este é um lugar agradável, – ele disse enquanto eu gesticulava para ele me
seguir para dentro.
– Obrigada. Pareceu ter levado uma vida poupando dinheiro para comprar. Eu ia
colocar o dinheiro do meu trabalho de modelagem, mas, então a agência decolou e eu
pude finalmente pagar. – Parei de falar quando eu percebi que estava divagando
– Você gosta de viver aqui? – Perguntou.
– Eu amo, – respondi simplesmente. – É um lar.
Escorregando meus sapatos no corredor, eu fui descalça até a cozinha e abri a
geladeira, pegando os ingredientes para o jantar. Eu planejava fazer porco assado com
batatas e molho de maçã. King tomou um assento na bancada e assistiu, enquanto
Oliver se sentava na sala de estar para jogar. Ele tinha esse conjunto de carros de
brinquedo que ele atualmente estava obcecado. Tudo que eu ouvia era várias
interpretações de vroom vroooom dele por horas a fio.
– É bom olhar para você, – disse King aleatoriamente enquanto eu descascava
batatas.
– O que?
– Esse lugar. Eu gosto do quão feliz você parece aqui.
– Bem, como eu disse, eu meio que tenho que te agradecer por isso. Você
sempre me via grande, me dizia que eu poderia fazer o que quisesse uma vez que eu
colocasse a minha mente nisso. E possuir uma casa própria sempre foi um grande sonho
para mim.
Seu olhar ficou pensativo. Ele não disse nada em resposta, e de repente eu me
senti estranha. Foi provavelmente por causa da maneira como ele estava olhando para
mim com tanta atenção. Eu pus o dedo na gola da minha camisa, acanhada, e seus olhos
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se dirigiram para o movimento. Sua respiração lhe escapou de uma vez, antes que ele
deixasse escapar, – É estranho sentir como se eu já o amasse e eu acabei de conhecê-lo?
Meu coração deu um único baque duro, e eu soube imediatamente que ele estava
falando sobre Oliver. Suas palavras fizeram meu pulso acelerar quando eu balancei a
cabeça. – Não é estranho. Eu o amei desde o momento em que o vi.
Agora, ele franziu a testa enquanto ele estendia a mão e apertou a minha mão. –
Me desculpe não estar lá no nascimento. Isso não é algo que você deveria ter passado
sem mim.
Olhei para ele. – É o que é. Não podemos mudar o passado. Você está aqui
agora, no entanto. Isso é tudo que importa.
Ele apertou minha mão uma vez antes de soltar, e eu voltei para preparar o
jantar. Era meio desconcertante ele simplesmente ficar lá e assistir. Bem, desconcertante
e sexualmente frustrante, porque a forma como ele olhava para mim parecia
sensual. Sempre foi. King tinha um jeito intenso de estudar as pessoas que garantia
conseguir qualquer mulher quente sobre ele. Falando nisso, eu estava puxando a minha
gola de novo, e ele pareceu notar.
– Você está bem?
– Sim. Está apenas um pouco quente aqui com o forno. Acho que vou subir e
trocar para algo mais leve.
King concordou. – Está tudo bem se eu usar seu banheiro?
– Claro, venha e eu vou te mostrar onde ele está.
Ele franziu a testa e se virou. – Desculpa. Eu não sei por que vim aqui.
– Você veio porque eu chamei você. Está tudo bem? – Eu senti como se
estivesse sempre lhe perguntando isso, mas eu não conseguia evitar. Eu sempre queria
ter certeza de que ele estava se sentindo bem e não sobrecarregado. Ele finalmente
levantou os olhos para mim e minha tensão aumentou, um peso se fixando em minha
garganta. O peso da atmosfera entre nós era quase insuportável.
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– Você deu o meu nome para ele, – ele sussurrou.
Tudo o que eu podia fazer era acenar com a cabeça, minha boca ligeiramente
abrindo, coração apertando com tantos sentimentos diferentes ao mesmo tempo.
Ele respirou para dentro e para fora, em seguida, deu um passo adiante. Agarrei a
camisa que eu tinha acabado de tirar com força em minhas mãos e não podia deixar de
admirar a sua forma. Sua camiseta encaixava muito bem ao redor de seus ombros
largos, seu cabelo pendurado ligeiramente para frente para proteger o rosto. Mesmo
antes, eu raramente o vi em jeans, mas abraçava a cintura fina atraente, acentuada por
um cinto de couro marrom simples. Ele parecia tão normal e, então viril. Era difícil
imaginar um momento em que ele vestia ternos de grife e tinha seu cabelo cortado por
um ótimo salão em Londres.
Sua cabeça mergulhou para frente, o queixo na minha testa e seu nariz e os
lábios no meu cabelo. Ele inalou profundamente, e um arrepio me percorreu. Ele sentiu
isso, apoiando-se em mim ainda mais forte. Eu estava tão tensa que eu pensei que eu
poderia derreter na parede. A maneira como seu corpo sentia estava fazendo o meu
coração para correr e minha cabeça se encher de imagens. Minha cama estava bem ali.
Como seria fácil para ele me jogar sobre ele e me levar?
Naquele momento, eu queria ser tomada.
– Eu fiquei pensando sobre a noite passada e sobre beijar você, – ele
murmurou. Engoli em seco bruscamente quando ele pegou minha orelha em sua boca e
chupou. Sua língua deslizou ao longo da concha da minha orelha e formigamentos
irradiaram pela minha espinha.
– Oh, Deus.
Ele continuou lambendo minha orelha, em seguida, mexeu o seu corpo para que
eu pudesse sentir sua dureza pressionando no meu estômago. Eu queria gemer, mas
mordi o lábio para segurar. Oliver estava lá em baixo, e eu não queria que ele ouvisse.
– Te quero tanto. Eu quis você desde o momento em que se aproximou de mim
naquele dia no circo. – Suas palavras provocaram a memória dele se levantando
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abruptamente da cadeira e andando em minha direção como se eu fosse a única coisa
que ele viu. Como ele tinha me tocado quase com reverência, seus dedos traçando
minhas características que ele não acreditava que eu era real.
Me mexi um pouco, apertando minhas coxas para aliviar a dor que ele tinha
criado. Ele notou, e seus lábios começaram a curva em um sorriso. – O que está errado,
amor?
Olhei para sua garganta. – Jantar. Eu preciso descer e ver como a comida está.
– A comida está muito bem.
– Pode queimar.
– Não vai. Eu quero te tocar.
Eu levantei meu olhar, encontrando seus olhos ferozes, e sussurrei: – Então me
toque.
O segundo que as palavras saíram da minha boca, suas mãos voaram para o cós
da calça, desfazendo o botão e se aventurando no interior. Seus dedos deslizaram sob o
elástico da minha calcinha, e então ele estava me sentindo, seu toque quente e
sondando. Nós dois trememos. Ele tocou minha fenda, em seguida, afundou ainda mais,
explorando minhas dobras, e eu senti meu corpo espalmar pelo contato. Eu estava
encharcada, e quando ele encontrou a minha abertura e levou para dentro, eu tive que
enterrar meu rosto em seu ombro e morder para não gritar. Tudo de uma vez ele estava
enchendo anos de vazio, e foi demais.
Meu corpo ficou mole, mas sua força me segurou. Ele moveu os dedos
lentamente, fodendo para dentro e para fora enquanto seus olhos brilhavam, imersos em
minha reação. Meus mamilos ficaram duros, esfregando quase dolorosamente contra o
tecido do meu sutiã. King continuou com seu dedo, o polegar esfregando círculos em
meu clitóris. Eu ondulei sob ele, deixando escapar um suspiro que ele capturou com sua
boca. Não houve delicadeza em seu beijo. Foi duro e exigente, sua língua se movendo
em uníssono com a minha, enviando a cada terminação nervosa minha em uma
pirueta. Eu estava completamente aberta para ele enquanto ele explorava.
– Você é incrível, – ele engasgou, quebrando nosso beijo por uma fração de
segundo antes que seus lábios estivessem de volta em mim. Seu polegar circulou o meu
clitóris mais uma vez e eu gozei em um instante, tremendo e sacudindo contra ele. Ele
soltou um gemido baixo quando ele me beijou, e ele vibrou através de mim quando as
ondas do meu orgasmo caíram sobre mim como um tsunami. Seu beijo ficou mais
suave, até que ele foi mordiscando nas bordas dos meus lábios, permitindo-me apreciar
os efeitos. Eu estava vagamente consciente do meu constrangimento, desde que eu tinha
acabado de ser vítima do equivalente feminino da ejaculação precoce. King nem sequer
pareceu estar ciente de quão rapidamente eu gozei, então eu não me debrucei sobre
ele. Eu encontrei seus beijos, explorando sua mandíbula e, em seguida, seu pescoço. Ele
gemeu quando eu lambi o lóbulo da sua orelha, assim como ele tinha feito comigo.
Minha mão tinha apenas começado a se mover ao longo de seu estômago na
direção de sua virilha, quando uma voz chamou do andar de baixo.
– Algo está apitando, mamãe!
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Minha mão parou a sua exploração quando abaixei minha cabeça em seu peito e
suspirei.
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Vinte e dois
Tomei consciência de várias coisas ao mesmo tempo. Um, meu filho estava lá
embaixo - o nosso filho estava lá embaixo. Dois, eu tinha acabado de deixar King me
foder com os dedos dentro de uma polegada da minha vida, e eu queria levar as coisas
mais longe. Três, eu não tinha tempo para levar as coisas adiante (cara triste.) E quatro,
eu realmente precisava verificar o jantar.
Eu me afastei de King, a voz ofegante. – Eu deveria descer.
– Sim, – ele disse, um pouco sem fôlego.
Eu estava consciente dele entrando no banheiro para lavar as mãos em vez de
seguir atrás de mim. Na cozinha, eu me ocupei desligando o forno e verificando para
garantir que a carne foi cozida. Eu sabia que era o temporizador apitando, o que
representou o sinal sonoro. Ainda assim, eu verifiquei, principalmente para me manter
de pensar sobre o que tinha acontecido. Foi estranho, porque eu certamente não tinha
forçado sua mão para dentro das minhas calças, mas eu tinha essa noção ridícula de que
eu estava tirando proveito dele. Eu não estava, é claro. Eu nunca faria isso, mas era
exatamente como eu me sentia. Provavelmente porque ele ainda estava em estado de
recuperação.
Quando King desceu um minuto depois, ele entrou na sala de estar para ficar
com Oliver. Os ouvi conversar enquanto terminava a comida, sorrindo para as perguntas
intermináveis do meu filho e as respostas de King na pequena conversa aleatória. Eu
poderia dizer que ele estava completamente obcecado, embora, e isso fez meu coração
disparar.
– Obrigada, – eu sussurrei. Foi bom ter alguém lavando os pratos pra variar.
– Sem problemas.
– Eu ia ler uma história para dormir para Oliver. Você quer ir?
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Um olhar pensativo atravessou seu rosto antes de ele limpar a garganta e
perguntar: – Você se importaria se eu fizesse isso? Ler a história, quero dizer.
Estudei-o, surpresa com o pedido. – Claro que não. Vou te dizer uma coisa - eu
queria tomar um banho, então que tal você ler enquanto eu estou no banho?
Eu nunca tirei meus olhos dele quando minhas mãos caíram para o robe e seguiu
seu comando. Lentamente, eu escovei ambos os lados separados até a minha nudez
estava nua para ele. Ele assobiou e se aproximou, cotovelos nos joelhos. Seus olhos
estavam nivelados nos meus seios e meus mamilos, que estavam endurecidos. Em
seguida, ele se abaixou.
Sua voz estava grossa quando ele falou. – Levante os joelhos para cima e abra as
pernas. – Na superfície, suas palavras eram brutas, mas foi a maneira como ele disse que
segurava ternura. Dentro do meu peito, meu coração estava batendo com excitação. Eu
amei isso, amei como ele estava me dizendo o que fazer. Uma vez que eu tinha feito o
que ele tinha pedido, King soltou um gemido audível antes de murmurar, – Jesus, você
está molhada.
Ele estava certo, eu estava. Eu também estava doendo, pulsando com uma
profunda necessidade para ele vir e me dar algum alívio. Suas próximas palavras, tão
calorosos, me fizeram gemer.
– Toque-se para mim, amor.
De qualquer forma, não era como se meu corpo não tivesse mudado. Eu tinha
estrias antigas e ganhei uns quilinhos a mais. Não era uma coisa ruim. Era apenas
humano. Os olhos de King praticamente brilhavam, e eu sabia que era tão sexy para ele
como era para mim. Não sobre o lado de fora, mas sobre a alma.
Quando suas calças tinham ido embora, eu trouxe o preservativo para a minha
boca em um esforço para rasgar sedutoramente com os dentes. O pacote não rasgava e
ambos compartilharam uma risada em minha falha épica. King colocou a mão na minha
bochecha, e murmurou: – Cristo, eu te amo.
Suas palavras me fizeram ofegar e eu olhei para ele, incrédula, o pacote caindo
deselegantemente da minha boca. Eu não tinha certeza por que eu não acreditava
nele. Eu acho que eu só passei tanto tempo desejando tê-lo de volta que era difícil
acreditar que havia se tornado uma realidade. De qualquer forma, minha descrença não
durou muito tempo, porque mesmo que meu cérebro estivesse hesitante, meu coração
sabia o que significava o que ele tinha dito.
Ele riu e se abaixou para beliscar meu queixo quando ele tomou o preservativo
de onde tinha aterrado no meu peito. Claramente, eu não poderia ser confiável com ele.
– Não há necessidade de parecer tão chocada, amor, – ele me disse
suavemente. – Eu nunca deixei de te amar, nem mesmo na minha hora mais escura.
– Eu não estou chocada, – eu disse, me engasgando. – Eu só estou tentando...
absorver. Eu nunca deixei de te amar também.
O sorriso que ele me deu em resposta fez meu peito doer. Eu vi como ele rasgou
o preservativo com muito mais requinte do que eu poderia ter feito antes de rolar em
comprimento duro. Engoli em antecipação quando ele trouxe as mãos para minhas
coxas e as puxou firmemente em torno de seus quadris. Sua ereção roçou, me
provocando, e ele se inclinou para capturar meus lábios com os seus. Ele manteve os
olhos abertos enquanto ele me beijava; era ao mesmo tempo estranho e cativante. Olhei
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para ele, fascinada por todos os seus movimentos. Eu amei a tensão em seus ombros
enquanto se segurava, e a tensão de seus bíceps enquanto ele continuava entrar de mim.
Em seguida, seus quadris começaram a se mover, lentamente para dentro e para
fora, seu pau me abrindo. Segurei seus braços e gemi de frustração. Ele apenas mal
deslizou para dentro antes de arrancar de novo e, finalmente, entrou até o fundo com um
rosnado quase selvagem. Gritei com a invasão, meu corpo apertado e fora de
prática. Parecia incrível, tão quente e escorregadio. Não se movendo, ele continuou a
me beijar, sua língua sedosa e molhada, suas pálpebras fechando de prazer. Um arrepio
o percorreu, mas ainda assim ele não se mexeu. Eu amei a sensação dele tão
profundamente dentro de mim, enchendo cada polegada. Por instinto, eu cerrei em torno
dele, e sua boca caiu da minha quando ele soltou um gemido silencioso.
– Jesus.
– Oliver, – eu respirei, um apelo silencioso.
– Apenas... apenas me dê um minuto.
Baixei a boca para seu pescoço e chupei, fazendo-o estremecer uma segunda
vez. Então eu corri minhas mãos sobre os ombros largos e sua espinha até chegar a sua
parte inferior das costas. Pressionando os dedos suavemente, uma vontade silenciosa
para ele se mover, olhei para cima e o encontrei olhando para mim com
fascinação. Seus olhos gelados dançavam à luz da lâmpada, a boca aberta. Levantei-me
um pouco e tomei seu lábio inferior entre os meus dentes, dando a ele uma linha de
contato suave. Ele rosnou baixo em sua garganta, um som brincalhão e sexy.
Suas palavras fixaram algo em mim, vedando qualquer dúvida persistente. Ele
estava aqui para ficar. E eu nunca o deixaria ir.
E então ele estava dirigindo em mim ferozmente, expulsando anos de fome e
solidão. Eu conhecia que o sentimento. Era quase eufórico por ter finalmente alguém
para conectar no nível humano mais básico. Eu corri minha boca sobre sua mandíbula,
tentei pegar seus lábios nos meus, mas ele me escapou enquanto seu corpo se movia
rapidamente. Seus músculos estavam apertados, sua respiração dura. Eu queria o beijo
dele, caramba. Assim como se ele estivesse em sintonia com todas as minhas
necessidades, ele diminuiu o ritmo e me deu sua boca.
Enquanto nós nos beijávamos, nosso amor se tornou lento e lânguido, mas de
alguma forma mais febril. Eu senti cada segundo, m encontrei tremendo enquanto eu
apreciava o empurrar e puxar e saboreei cada polegada dele dentro de mim. Meus poros
apertaram, minha pele estava quente e corada, e uma leve camada de suor revestida
minha pele.
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Ele baixou o rosto para o meu pescoço, ainda me fodendo, e respirou
fundo. Havia uma urgência para os seus movimentos, e eu sabia que ele ia gozar em
breve.
– Eu te amo, – eu sussurrei em seu ouvido. – Sempre.
E então ele ainda gozou, antes de cair quente e pesado no meu peito.
***
Algo era maravilhoso. Eu pensei que eu poderia estar sonhando, mas havia essa
tensão vibrando na boca do estômago e percebi que o sentimento era tudo muito real. Eu
mexi um pouco na cama, abrindo os olhos e olhando para baixo para encontrar a cabeça
de King entre as minhas pernas, sua língua me lambendo avidamente. Eu inalei com a
vista, e o primeiro som que fiz foi um gemido baixo.
– O que você está fazendo? – Eu perguntei, minha voz um sussurro.
– Te provocando, – disse ele, suas palavras como a da primeira noite que
passamos juntos em Roma, e como ele tinha me acordado com o plantio de beijos ao
longo das minhas coxas.
Antes que eu pudesse responder, seus dedos estavam dentro de mim, bombeando
rápido enquanto sua língua trabalhava sua mágica em meu clitóris. Eu tinha energia
suficiente para virar a cabeça e verificar o tempo no meu despertador. Eram cinco e
meia da manhã, e, portanto, cedo o suficiente para que Oliver não estivesse acordado
ainda. Eu poderia desfrutar disso. Deixei escapar um suspiro de alívio que se misturava
com os meus gemidos.
King tinha jogado minhas pernas sobre os ombros para dar a ele maior acesso, e
eu juro por Deus que eu poderia ter morrido com a sensação celestial de seus lábios e
língua.
– Eu mencionei que eu te amo? – Eu suspirei.
Ele veio para o ar. – Diga a verdade. É por isso que você queria que eu
mantivesse o meu cabelo comprido.
Eu triturei meu queixo e respondi sem fôlego, – Eu disse para se calar.
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Rindo, e então ele estava de volta para mim, me lambendo até que eu estava
gozando em sua boca. Sua mão acariciava minha barriga, se arrastando pelo meu corpo
e acariciando meus seios, meus mamilos. Eu tremia e agarrei seus ombros, puxando-o
para mim.
– Venha aqui, – eu sussurrei, e passei meus braços em volta do pescoço,
segurando-o perto. Sua respiração era profunda e relaxada, e eu amei a
sensação. Minhas coxas estavam em torno de sua cintura, seu delicioso corpo pesado
em cima do meu. Eu acariciava seu cabelo, apreciando a sensação sedosa, e o senti cair
de volta para dormir.
Eu não tinha certeza de que horas eram quando acordei, mas eu sabia que tinha
que ser mais tarde do que a minha hora habitual. King e eu tínhamos nos mexido
enquanto dormíamos, e agora ele estava atrás de mim, seu grande corpo me
encapsulando. O edredons foram puxados, nos cobrindo completamente, ainda bem...
porque eu abri meus olhos para encontrar dois olhos azuis curiosos olhando para mim.
Oh, Meu Deus.
Oliver estava ali em seus pijamas, um olhar inquisidor em seu rosto enquanto ele
segurava um de seus ursos de pelúcia em seu peito. Ele olhou para mim e King na cama,
mas não parecia perturbado. Ele só parecia curioso. Eu poderia ter sentido vergonha se o
homem na minha cama não fosse seu pai e se eu não tinha planos de passar o resto da
minha vida com ele.
– Oliver 2 está dormindo, – ele sussurrou, e apontou.
Dei a ele um sorriso tenso, e honestamente, eu meio que senti vontade de rir. Eu
já disse que não havia nenhuma privacidade quando você vivia em uma casa com uma
criança de cinco anos de idade? Eu realmente deveria ter pensado em trancar a
porta. Mas se ele tivesse acordado e encontrado minha porta trancada, ele iria ficar com
medo e ira começar a chorar, ou ia dar um chilique até que eu o deixasse entrar.
Bem, não era exatamente perfeito, mas eu imaginei que isso foi o jeito dele saber
que King e eu estávamos juntos.
– Por que ele está dormindo em sua cama, mamãe? – Oliver perguntou, ainda
usando aquela expressão curiosa. Era meio que adorável.
– Porque ele é meu... amigo especial, – eu respondi, imediatamente me
encolhendo com a minha escolha de palavras. Sério, eu poderia ter feito melhor do que
puxar o cartão de ‘amigo especial’, mas simplesmente não havia um jeito certo para
explicar esta situação a uma criança. – Você pode fazer uma coisa para mim,
querido? Descer e pegar a bolsa da mamãe na cozinha? A azul?
Oliver pulou para a atenção a meu pedido, balançando a cabeça e correndo para
completar a tarefa. Me sentei na cama rapidamente e puxei meu roupão, me inclinando e
apertando o ombro de King. Ele abriu os olhos, me viu pairando sobre ele, e sorriu
preguiçosamente. Ele deslizou o braço em volta da minha cintura para me puxar para
mais perto, sua mão imergindo para dentro do meu robe para pegar meu peito. Eu
gentilmente o empurrei.
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Página
– Lamento acordá-lo, mas Oliver acabou de chegar e nos encontrar dormindo
juntos, – eu disse, não tendo certeza porque eu ainda estava sussurrando. Todo mundo
estava acordado agora. King estava com muito sono para interpretar o que eu estava
dizendo no início, mas quando ele percebeu, suas sobrancelhas se arquearam.
– Ah, inferno, – disse ele, se levantando para se sentar e passando a mão sobre o
rosto.
– Sim, você precisa colocar algumas roupas. Ele estará de volta em um segundo.
– Ok, – ele murmurou, se inclinando para dar um beijo em meus lábios antes de
se levantar e puxar sua cueca, jeans e camiseta. Eu fui fazer a cama enquanto ele
deslizava o cinto através dos aros e ajeitava a fivela. Havia algo satisfeito em sua
expressão enquanto ele me observava, e eu não gostava disso. Ok, isso foi errado. Eu
gostei muito, mas eu não gostava que eu gostei. Dizia algo tipo: Sim, eu fiz você gozar
várias vezes ontem à noite, não há necessidade de me agradecer. Bem arrogante. Eu
tinha apenas tempo suficiente para estreitar os olhos para ele e suprimir um sorriso antes
de ouvir pezinhos voltando a subir as escadas.
– Aqui, mamãe, aqui está sua bolsa, – Oliver anunciou, segurando minha bolsa
triunfante.
Eu tomei dele e dei um beijo no topo de sua cabeça. – Muito obrigada, querido.
King deu um passo adiante e bagunçou o cabelo de Oliver, nós três de pé juntos
em um círculo. Eu fui momentaneamente atingida com uma pontada de emoção de ter
os dois tão perto. Meus dois homens. A nossa pequena família. King me lançou um
sorriso caloroso como se ele pudesse ler meus pensamentos.
– Vamos, cara, vamos descer e fazer o café da manhã. Dê sua mãe uma manhã
de folga.
– Ok, – disse Oliver, balançando a cabeça. Ele parecia gostar de como King o
chamou de ‘cara’ como se ele fosse um adulto. Ele também parecia animado em tê-lo
lá. Deve ter sido porque era geralmente só nós dois, então ter alguém novo de manhã
acrescentava um elemento de diversão. Eu fui e tomei um banho rápido, enquanto os
dois conversavam na cozinha. Eu não tinha ideia do que eles estavam cozinhando, mas
eles estavam fazendo um monte de ruído. Quando ouvi King rir, cheio e profundo, isso
enviou um tremor de prazer bem na minha espinha. Era bom ter um homem por perto,
apenas fazendo coisas normais de homem, como fazer café da manhã com o nosso filho
e me dar orgasmos.
Uma vez fora do chuveiro, eu envolvi meu cabelo em uma toalha e coloquei um
vestido confortável azul de bolinha creme. Em seguida, removi a toalha, eu torci o
cabelo úmido em um nó e desci para ver que tipo de estragos os dois estavam causando
na minha cozinha.
Surpreendentemente, o lugar não estava muito confuso, e o cheiro celestial de
pão francês encheu a sala. King estava junto do fogão, segurando uma espátula. Ele
tinha colocado Oliver em um banquinho para que ele pudesse sentar e assistir. Eu fui e
espiei em um dos armários, sorrindo feliz quando descobri que tinha xarope de
bordo. King não tinha percebido que eu entrei, porque ele estava muito focado em
cozinhar e conversar com Oliver. Os dois eram tão fofos juntos, as semelhanças entre a
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Página
sua aparência era particularmente impressionante. Era como olhar para duas fotos da
mesma pessoa, um como um menino e o outro como um homem. De alguma forma,
mesmo que ele era menor e não tão forte, eu me senti como talvez o menino fosse o
único a salvar o homem neste momento. Ter o meu amor era tudo muito bom, mas
apenas algo sobre os olhos de King quando ele olhou para o nosso menino trouxe a vida
de volta neles. Foi nesse momento que eu realmente acreditava que ele nunca beberia
novamente. Eu não tinha percebido isso, mas eu não tinha certeza antes. Agora, de
alguma forma, eu sabia.
Sentando ao balcão, coloquei meu queixo nas minhas mãos, observando-os
interagir.
Isso me fez feliz.
– Bem, – disse King, se inclinando mais perto, a voz baixa, – Eu amo que você
ama que eu o amo. E eu te amo também.
Eu atirei a ele uma careta divertida. – Não tente me ganhar. – Minha mão se
mudou de sua boca para o queixo, meu toque uma carícia quando minha expressão ficou
séria. – Como você está se sentindo? Quaisquer dores de cabeça ou náuseas?
Sua boca endureceu quando ele engoliu. – Honestamente? Sim, um pouco de
ambos. Mas eu estou lidando com isso.
– Sim, – eu respirei, pronta para estourar, eu estava tão orgulhoso dele. – Sim,
você está.
Sua força para lidar com tudo isso mesmo se sentindo como merda, me
surpreendeu. Ele me apoiou na parede e se inclinou para pressionar um beijo na minha
mandíbula. – Eu vou sentir sua falta hoje.
– Eu irei sentir sua falta também. Agora, é melhor eu ir. Caso contrário, eu
poderia te arrastar de volta para a cama.
Sua risada vibrou através do meu peito enquanto eu escorregava para fora da
porta e me dirigia para o meu carro. Foi só quando eu estava no meio da rua da minha
casa que eu percebi que não tinha ideia de onde eu estava indo.
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Vinte e três
– Oh, meu Deus, nem sequer me fale, – Lille pigarreou. – Esse macaco roubou
dezenas de presilhas, vários tubos de gloss, pacotes de tintas de rosto, e qualquer
pequenas moedas desde que comecei a viver com este circo. Alguém precisa chamar a
polícia. Eu juro, eu não sei onde ele esconde tudo.
– Talvez ele tenha um esconderijo secreto onde ele vai para admirar todos os
seus belos tesouros, – Matilda sugeriu com um sorriso.
Lille suspirou. – Ele estava com o rabo sujo de tinha verde no outro dia, e minha
tinta verde estava suspeitosamente faltando.
– Bem, essa não é uma boa notícia para mim. Após o encontro com Pierre,
Oliver está determinado a conseguir um macaco. Talvez eu tenha que arrumar um novo
brinquedo só assim ele vai esquecer, – eu brinquei.
As meninas riram quando nós nos sentamos na mesa da cozinha minúscula no
trailer de Lille, compartilhando uma garrafa de vinho e falando do macaco ladrão de
Marina, Pierre. Quando eu tentei pensar em um lugar para ir mais cedo, eu me encontrei
instintivamente dirigindo na direção do circo. Eu tinha mentido quando eu tinha dito a
King e Elaine que eu tinha coisas para fazer, mas era uma mentira branca. Eu poderia
ter ido para a casa dos meus pais, ou mesmo para a casa de Karla, mas por alguma razão
eu queria passar mais tempo com estas mulheres, conversar com elas sobre King,
porque elas foram as que o conhecia melhor estes dias.
De alguma forma, porém, tínhamos conseguido discutir tudo que não era o pai
do meu filho, e foi estranhamente relaxante. Às vezes era um alívio apenas falar sobre
porcaria aleatória, como o macaco ladrão. Matilda tinha um vestido na frente dela
enquanto ela costurava à mão um detalhe no decote. Jack e Jay tinham aparecido, mas
principalmente ficavam na tenda, ensaiando. Eu estava interessada na dinâmica entre os
dois casais, e sinceramente, morrendo de vontade de saber como eles se
conheceram. Então, como a sem noção que eu era, eu perguntei.
Uma hora depois, a garrafa de vinho há muito havia sido esvaziado, e eu tinha
vivido através das histórias de dois romances muito espetaculares. Me fez sentir aliviada
ao saber que eu não era a única cujo coração tinha sido virado, mastigado e cuspido de
volta novamente. Eu pensei que talvez os melhores amores tinham de sofrer as maiores
dificuldades. Você tinha eu e King, Jay e Matilda, Jack e Lille. Inferno, havia até Karla
e seu marido, mas essa era uma história para outro dia.
Matilda tinha ido usar o banheiro quando Lille se inclinou para frente e colocou
a mão sobre a minha. Aos trinta e três anos, eu era quase onze anos mais velha que ela,
e, no entanto, havia algo sobre Lille que parecia sábio além de seus anos. O toque dela
me confortou, e quando falou, meu coração se sentiu muito cheio.
– Estou tão feliz que encontramos você, Alexis. Vendo King ficar melhor tem
sido verdadeiramente surpreendente de assistir, e é tudo por causa de você.
Olhei para ela por um longo momento, então passei meus dedos ao redor dela
para apertar sua mão. – Estou tão feliz que você me procurou.
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Página
Era tarde da noite quando eu finalmente disse adeus. Eu só tinha tomado dois
copos de vinho, e isso foi horas atrás, então eu sabia que estaria bem para ir para
casa. Quando cheguei lá, encontrei Elaine enrolada na poltrona na sala de estar,
dormindo com uma manta estendida sobre ela. King estava sentado no sofá com Oliver,
e um filme infantil estava passando na TV. Oliver estava sentado confortavelmente em
seu colo enquanto King distraidamente acariciava o cabelo dele. Se eu não estava tão
tomada pela visão deles, eu poderia ter puxado o meu telefone para tirar uma foto. Era
muito encantador.
– Se divertindo? – Eu perguntei suavemente, com cuidado para não acordar
Elaine.
King olhou para mim, e fiquei impressionada com a calma em suas
características, a sensação de paz sobre ele. Ele não respondeu, apenas me lançou um
sorriso preguiçoso e acenou para eu vir me sentar. Deixei minha bolsa no chão e tirei
minha jaqueta antes de tomar o lugar ao lado dele. Depois de um segundo de hesitação,
eu descansei minha cabeça em seu ombro. Ele exalou pesadamente, virando o rosto para
que ele pudesse acariciar o nariz em minha testa.
– Você e Elaine tiveram tempo suficiente para conversar? – Eu sussurrei.
– Sim, – King sussurrou de volta e eu podia senti-lo sorrindo em minha pele. –
Obrigado por nos dar algum tempo. Era necessário.
– Não é nenhum problema. E Oliver não foi demais? – Perguntei, o nosso filho
muito absorto no filme para ouvir o seu nome.
King balançou a cabeça, ainda sorrindo. – Não, amor, ele foi bonzinho.
Apenas um ou dois minutos se passaram antes de Oliver dar um salto e anunciar:
– Eu tenho que fazer xixi. – Ele se levantou e saiu pela porta um segundo depois,
subindo as escadas para o banheiro. Deixei escapar uma risada silenciosa e olhei para
cima para encontrar King olhando para mim calorosamente. Elaine se agitou em seu
lugar, o anúncio de Oliver acordando ela.
– Que horas são? – Ela perguntou, a voz sonolenta.
– Um pouco depois das oito, – eu respondi. Ela olhou para mim e King sentados
juntos, e sorriu com carinho.
– Bem, é melhor eu ir, – disse ela, passando as mãos pelo seu vestido e se
levantando. King se levantou também.
– Devo te levar?
Ela parecia surpresa com a sua oferta, tímida até. – Bem, eu moro na mesma rua,
mas eu não me importaria de alguma companhia.
King estendeu o braço para ela, e ela deslizou através dele antes de saírem.
– Eu estarei de volta em um par de minutos, – ele disse por cima do ombro,
assim quando a porta da frente abriu e fechou. Aproveitei a oportunidade para subir e
deixar Oliver pronto para a cama. Em um dia normal, ele já estaria dormindo, mas este
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Página
não era um dia normal. Pegando-o assim como ele saiu do banheiro, eu o levantei em
meus braços.
– Tudo bem, senhor, hora de ir dormir.
– Mas eu estava assistindo a um filme, – ele se queixou.
– E você pode terminar de assistir amanhã, – eu disse firmemente enquanto eu o
levava para o seu quarto. Eu precisava parar de levantá-lo, porque Jesus, ele estava
ficando pesado. Eu ia acabar estragando as minhas costas.
– Onde está Oliver 2?, – Ele perguntou quando eu fui pegar o pijama da gaveta.
Deixei escapar um suspiro e respondi: – Ele está levando vovó Elaine para
casa. Ele estará de volta em poucos minutos.
– Eu gosto dele.
Sua declaração me fez sorrir. – Você gosta?
Ele balançou a cabeça e se inclinou para frente, sussurrando: – Se eu pedir a ele
para ser meu melhor amigo, você acha que ele diria que sim?
Eu juro, eu não sabia onde ele tirou isso, porque certamente não foi de mim. Eu
tinha sido um pouco aterrorizada na sua idade. Havia algo sobre o momento que me fez
sentir como se tivesse testando as águas.
– Querido, você sabe que vovó Elaine é a mamãe de Oliver 2? – Ele olhou para
mim, balançando a cabeça, e eu continuei: – E vovó Elaine é o sua vovó? Bem, isso
significa que Oliver 2 é o seu pai.
Ele olhou para mim por um longo tempo, sua expressão concentrada como se ele
estivesse tentando descobrir a lógica. – Você disse que meu pai estava longe.
– Ele estava. É por isso que vovó Elaine não tinha visto ele em um tempo muito
longo, mas agora ele está de volta.
Oliver estava franzindo a testa, em seguida, e eu não sabia por que, mas seus
lábios ficaram todos cheios, como se estivesse prestes a chorar. – Ele vai embora de
novo?
Eu o puxei para um abraço. – Não, querido, ele não vai desaparecer
novamente. Eu prometo.
E assim, a possível crise de choro tinha desaparecido quando ele saltou em meus
braços. – Ele é meu pai. Eu mal posso esperar para contar a Timothy que tenho um pai
agora. – Timothy era seu amigo de Montessori. E sério, ele precisava parar de dizer
coisas que me deixavam emocional. Meu filho aceitou que King era seu pai sem uma
única hesitação. Houve uma batida na porta, e eu o desci para abrir.
– Hey, – eu disse enquanto a mantinha aberta e ele entrou. – Então, você e Elaine
realmente tiveram uma boa conversa? – Eu não sei por que eu senti a necessidade de
reafirmar que estava tudo bem entre eles. Acho que eu só queria ter certeza de que ele
estava bem e não se sentia como se as coisas estivessem indo rápido demais,
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especialmente desde que eu tinha agora outra bomba para soltar. Talvez pudesse esperar
até de manhã.
Ele balançou a cabeça e respondeu: – Sim Alexis, estamos bem. Pare de se
preocupar.
– Oh, não, eu não acho que você estava. Eu só, talvez eu devesse ter falado com
você primeiro.
Ele deu um passo à frente, colocando a mão no meu ombro. – Estou bem. Estou
mais do que bem. Relaxe.
Suas palavras funcionaram para me acalmar. – Você quer ler para ele de novo?
– Sim.
Deixei eles lá e fui para o meu quarto, respirando profundamente. Por um
segundo eu estava certa de que eu tinha fodido as coisas. Me deixei na cama e tentei me
concentrar na leitura que eu estava atualmente trabalhando. Após cerca de vinte
minutos, olhei para cima para encontrar King em pé na minha porta. Nos encaramos e
um silêncio caiu entre nós.
– Eu deveria ir, – disse ele, ao mesmo tempo que eu soltei, – Fique.
Ugh, por que eu estava sendo tão estranha? King me lançou um sorriso
arrogante, então eu joguei um travesseiro nele. – Não me venha com essa cara.
Ele entrou no quarto e perguntou timidamente: – Que cara?
– Essa mesma. – Eu apontei. – A cara que diz que você acha que é uma
merda. Eu odeio essa cara.
Ele estava no pé da cama quando ele respondeu, – Você ama essa cara.
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– Ok, eu vou ajustar a minha declaração. Eu amo seu rosto. Eu odeio a sua
expressão.
Ele balançou sua cabeça. – Não, eu tenho certeza que você ama minha expressão
também.
Ele estava inclinado sobre mim agora, subindo em cima do colchão e nivelando
as mãos em cada lado da minha cabeça. Eu estava prestes a dizer algo inteligente, mas
fugiu imediatamente da minha mente quando ele me beijou. Sua língua varreu em
minha boca, e tudo que eu podia fazer era gemer.
– Obrigado por dizer a ele, – ele respirou quando se afastou para beijar ao longo
da minha mandíbula, descendo para o meu pescoço. Esforcei-me debaixo dele, as mãos
indo para seus ombros. Em todos os lugares que seus lábios viajaram, eles deixaram um
formigamento em seu rastro.
– Eu pensei que você tinha ficado com raiva de mim por um segundo.
– Eu não estava com raiva. Eu só estava surpreso. Ele me chamou papai.
– Bem, você é seu pai.
Ele se abaixou agora, o rosto nivelado com meus seios enquanto ele se aninhava
em meu decote. – Sim, eu sou.
Fechei os olhos, tentando me concentrar na trajetória de nossa conversa, em vez
de o fato de que seu nariz estava roçando meu mamilo endurecido.
– Eu não vou mentir, – eu disse sem fôlego. – Ele ficou um pouco chateado
quando eu disse a ele. Não é porque você é seu pai, mas porque ele pensou que você
poderia ir embora de novo.
King fez uma pausa para olhar para mim, o rosto sério. – E o que você disse a
ele?
Um momento de silêncio decorreu quando eu engoli. – Eu - eu disse a ele que
você estava aqui para ficar.
Seus olhos seguraram os meus por um longo momento antes de ele concordar, –
Bom, porque eu vou. – E então ele lambeu seu caminho através da parte superior do
meu peito, e meu cérebro virou gosma.
***
Os olhos de King estavam acesos quando ele voltou sua atenção para mim. Eu
juro que quase brilhavam, e eu poderia dizer que a sua mente estava correndo. A musa
criativa estava sobre ele.
– Sim, a música, é, bem, ela está derramando. O foco é libertador. Eu mal parei o
dia todo.
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O que ele disse me preocupou. – Você comeu?
Ele franziu a testa, como se tentasse se lembrar. – Eu acho que eu comi algumas
torradas na hora do almoço. – Bem, isso era uma mentira, se alguma vez eu ouvi
uma. Puxando meu telefone da minha bolsa, eu rapidamente disquei para meu
restaurante chinês favorito e fiz um pedido. Com isso feito, eu parei na frente do piano e
dei a ele um olhar reprimido.
Estendi a mão e peguei a mão dele, deslizando os dedos pelos seus. – Não se
desculpe. Eu gosto da sua mente. Combina com a minha.
O sorriso que ele me deu iluminava todo o seu rosto, e meu coração bateu mais
rápido ao vê-lo.
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Apertei a mão dele enquanto eu continuava significativamente, – Mas lembre-se,
a sua música não tem de significar elogios para você. Ele pode ser o presente que você
dá a outras pessoas.
Ele olhou para mim, pensativo, antes de sua atenção vagar para as teclas do
piano. Eu poderia dizer que ele estava pensando sobre o que eu tinha dito. Alguns
momentos passados de nós sentados lá em silêncio, o peso dos anos nos rodeando e o
amor que tínhamos um pelo outro fazendo todo o sofrimento valer a pena. Engoli o
último do meu chá e me curvei para colocar meu copo no chão. Meu top subiu na parte
de trás, expondo a pele, e eu senti as mãos de King na base da minha espinha. Eu fiquei
completamente imóvel quando ele se inclinou para murmurar sedutoramente no meu
ouvido.
– Acho que me lembro de dizer que uma vez que eu ia transar com você sobre
este piano até que você esquecesse seu próprio nome. – Ele fez uma pausa e baixou a
voz para um sussurro. – Vamos tentar isso?
Eu não precisei falar, porque o meu corpo já tinha dito a ele a resposta.
Sim, Oliver, vamos tentar isso.
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Vinte e quatro
Dois meses depois.
– Sim, só Oliver.
E então ela se foi e eu estava olhando para King, tudo sobre ele me mantendo
cativa. O fato de que ele manteve os olhos fechados a maior parte do tempo e nunca
realmente olhou para alguém na plateia significava que ele não me viu lá. Ainda assim,
tive a certeza de ficar atrás de um par de outras pessoas apenas no caso. Por um segundo
eu pensei em ficar esperando até o fim, saltando sobre ele, e declarando que eu tinha
descoberto o seu segredo. Mas não, não era isso que eu queria. Eu só queria que ele
continuasse tocando, continuasse fazendo ele e as pessoas que viam vê-lo tocar
felizes. Eu nunca seria aquela que transformou o que ele amava em algo que exigia
elogios, algo que já tinha destruído ele.
Assim, quando ele terminou sua canção final da noite, eu inalei uma respiração
profunda, saboreei o momento, e observei as reações das pessoas ao meu redor, a
catarse que sentiam das emoções retratadas em sua canção sem palavras. Então eu me
virei e saí do bar.
235
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***
King deu um sorriso glorioso, sua réplica provocando memórias das palavras
que ele tinha falado para mim anos atrás. – Não, eu quero casar com você por causa das
suas brincadeiras espirituosas. Bem, isso e seu cérebro classe mundial.
Sua resposta me fez rir mais uma vez quando eu dei um último olhar na direção
de Oliver para ver que o professor estava agora liderando as crianças para dentro da
escola. Uma vez que ele se foi, eu me virei de volta a King. – Você sabe o quê? Eu
estou no humor para me casar hoje. Deve haver algo no ar.
Eu sabia que ele não esperava a minha resposta quando o seu sorriso cresceu
ainda mais em seu rosto maravilhosamente bonito. Ele puxou meus lábios nos dele e me
beijou profundamente antes de se afastar e sussurrar, – Deve ser.
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Epílogo
King
Ela entrou na sala e eu olhei para cima casualmente, a minha atenção no meu
telefonema. Olhei para fora, em seguida, olhei para trás. Puta que pariu, ela tinha um
corpo, e notei algo exótico em suas feições escuras. Beneficiando de uma visão breve,
mas detalhada, de afundar meus dedos ao redor dos quadris exuberantes, olhei para o
seu currículo para verificar o nome dela. Hmmm.
Você tem olhos lindos, Alexis Clark.
Lembranças eram uma coisa poderosa. Elas poderiam ao mesmo tempo te
libertar ou levá-lo como prisioneiro, mantenha toda sua vida cativa.
Eu acho que, no espaço entre o nascimento e a morte, você pode ter uma vida, ou
você pode ter muitas. Mas, a fim de ter muitas, você também precisa de força para
acabar com a que veio antes. E aí reside a parte complicada.
Na antiga vida você pode ter sido a cara para baixo na terra, mas a terra segurava
uma qualidade sedutora que o mantinha em seu agarre.
Era uma vez um tempo em que eu sentia preso em um túnel escuro, e a única luz
era uma luz falsa encontrada no fundo de uma garrafa. A única paz era a dormência que
cantava em minhas veias e bloqueava as memórias da vida que deixei para trás. Edgar
Allen Poe disse uma vez que ele não começou a usar drogas pelo prazer que trouxe, mas
para escapar das memórias que o atormentavam. Nesse sentido, fomos parentes.
Quando eu era jovem, eu era confiante, pronto para assumir qualquer desafio,
livre do medo.
Quando eu era um homem adulto, eu sabia que o mundo e eu estávamos
ganhando, embora houvesse preocupações que tentaram me arrastar para baixo.
Quando eu era um homem mais velho, eu estava quebrado; as coisas que eu
pensava que tinha feito tinha arruinado as coisas que eu tinha deixado para trás.
Agora eu era um homem ainda mais velho, e eu sabia que minhas memórias não
tinham que me possuir e nada estava perdido para sempre, especialmente o amor. Ele
estava simplesmente à espera de ser recuperado, e recuperando a força necessária.
Ela puxou minha mão e me puxou de volta para baixo com uma surpreendente
quantidade de força para uma mulher de sessenta anos de idade.
– Você não pode vê-la agora. Dá má sorte, – ela me repreendeu.
Jay, que estava sentado do outro lado da sala, fez um barulho como se Marina
tivesse respondido a uma pergunta errada em um show de perguntas. – Até parece, –
disse ele, casualmente fechando seu livro e inclinando-se para frente. – As pessoas
diziam essa merda nos tempos dos casamentos arranjados. Imagine isso: O cara entra e
vê que sua noiva é uma baranga e então, ‘Foda-se isso, vou dar o fora daqui’. Antes que
você perceba, ele sumiu do casamento. – Houve um silêncio, e minha irmã deu a Jay
uma carranca. – Ou você sabe, vice-versa. Tem muito caro feio também, – ele emendou.
Marina apontou para ele. – Não é por isso que estou de cara feia. Eu estou de
cara feia porque você está tentando trazer má sorte para o casamento do meu irmão,
instando-o a quebrar uma tradição milenar.
Jay jogou as mãos no ar. – Ei, eu estou apenas dizendo os fatos. Você vai
descobrir que um monte dessas antigas superstições surgiram da simples praticidade. Os
casamentos eram pouco mais que transações comerciais naquela época.
Marina fez uma careta mais dura. – Quando minha amiga Rose quebrou um
espelho, ela ficou doente com uma doença diferente, pelo menos uma vez por ano
durante sete anos. Então, depois do sétimo ano, puf, sem doenças. Como você explica
isso, Sr. Prático?
– Eu te explico com uma palavra: coincidência, – Jay respondeu de volta.
Eu balancei minha cabeça. Aqueles dois estavam sempre discutindo sobre coisas
como esta. Na verdade, eu achava que eles gostavam. Marina tocou minha mão. – Não
dê ouvidos a ele. A cerimônia é em menos de meia hora. Você pode esperar.
Antes que eu pudesse responder, Jay falou novamente. – Ah, e mais evidências
para provar o meu ponto: véus. Por que ter um véu, se não para esconder um rosto
feio? Você já está casado no momento em que o padre te diz para levantar e, em seguida
aqui está o que você acabou de se comprometer toda a sua vida. Boa sorte com isso.
Jack, que estava ajeitando sua gravata no espelho, riu. Eu acho que isso deve ter
sido a primeira vez que eu tinha visto ele em um terno. Meu melhor homem. Meu
melhor amigo.
Marina continuou franzindo o cenho para Jay até que ele finalmente recebeu a
mensagem para calar a boca. Ela tornou uma espécie de mãe substituta aos irmãos, e
embora muitas vezes ela reclamasse sobre isso, eu sabia que ela gostava de ser
necessária.
Eu apertei sua mão. – Está bem. Eu vou esperar.
Eu não a ouvi entrar no apartamento. A música em meus dedos era muito alta e
consumia tudo para eu estar consciente de outra presença. Essa foi a melhor coisa
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sobre isso. Música poderia encher sua cabeça e te permitir escapar das preocupações
constantes que te consumia.
Um zumbido disparou, e parei. Virei-me, vi a roupa dela, e tentei reprimir um
sorriso.
– Oh, vá em frente, diga. Você sabe que você quer, – ela suspirou.
Deus, essa mulher. Mesmo quando os meus medos mais profundos tentavam me
arrastar para baixo, ela sempre encontrava alguma maneira de me fazer sentir mais
leve.
Eu soltei o sorriso que eu tinha retido e respondi: – Que diabos você está
vestindo?
A tenda estava cheia. Eu não estava muito certo porque, porque eu tinha sido
nada além de um bêbado rude e descuidado com essas pessoas há anos, mas parecia
todo o circo estava lá para assistir o nosso casamento. Cada vez que me viam agora, eles
pareciam surpresos com o quanto eu tinha mudado.
Cristo, toda vez que eu me via agora, ficava surpreso com o quanto eu tinha
mudado.
Eu usava um smoking equipado, feito pela esposa de Jay, Matilda. Ela também
desenhou o vestido de Alexis, mas eu não tinha permissão de vê-lo. Eu acreditava nas
superstições da minha irmã tanto quanto Jay, mas ainda assim, eu fui na dela. Marina
tinha me impedido de ir até o limite por muito tempo.
Falando da minha meia-irmã, ela era a única conduzir a cerimônia, e ela usava
roupa de mestre de cerimônias, com cartola e fraque. Jack parou ao meu lado; eu
sempre achei a sua presença calmante, mesmo quando eu estava tão longe que eu
esquecia semanas inteiras. Assim como Marina, que tinha sido uma rocha para mim, e
provavelmente a única corajosa o suficiente para me agarrar pelas bolas
(metaforicamente falando) e me dizer a verdade de que a maneira que eu estava vivendo
ia me matar.
Claro, eu não ouvi. Foi só quando Alexis voltou para a minha vida que eu
lembrei que não era eu. Beber não era eu. E eu era muito mais forte do que eu tinha me
dado crédito.
A música começou a tocar, e eu me virei para vê-la andando pelo corredor. Seu
vestido era lindo, o rosto radiante, e quando ela parou na minha frente.
Ela se sentou, montando em mim, e eu não podia esconder a minha
excitação. Ela estava bem ciente disso também, mas a reação dela não era o que eu
esperava. Algo forçou o meu olhar para baixo, longe de seus lábios bonitos e belos
olhos, e vi que seus mamilos estavam duros. Em um instante, tudo se encaixou. Ela
estava mentindo; com certeza. E eu estava chateado. Chateado e excitado, e sim,
presunçoso pra caralho. Meros segundos se passaram, e eu já estava imaginando todas
as maneiras que eu iria levá-la. Eu queria agarrar seu cabelo espesso e escuro
enquanto eu mergulhada em seu corpo suave e acolhedor.
Ela tremeu quando eu me inclinei perto o suficiente para que os nossos lábios
quase escovassem e eu sussurrei: – Porra eu sabia disso.
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Oliver era o pajem. Ele também sentou ao meu lado durante toda a recepção, e
eu passei a maior parte do meu tempo falando com ele, em vez de me socializar com os
convidados. Eu tinha perdido muito, e cada momento parecia como uma nova
oportunidade para recuperar algo daqueles anos perdidos.
– Eu acho que sua esposa gostaria de dançar com você agora, – Alexis
murmurou no meu ouvido, a qualidade rouca em sua voz enviando uma emoção na
minha espinha. Eu passei semanas pedindo-a em casamento, e ela finalmente disse que
sim. Agora, aqui estávamos, seis meses depois. O circo tinha voltado para Londres, e
nós éramos marido e mulher em um casamento que tinha sido nada menos que único.
Eu peguei a mão dela na minha, e minha mãe veio tomar o meu lugar vazio ao
lado de Oliver. Ela parecia mais feliz do que eu tinha visto desde que eu era um
adolescente. Depois de todo o tempo que eu passei pensando que ela estava morta,
parecia um pouco milagroso tê-la diante de mim, viva e muito mais saudável do que
nunca.
Levando a minha mulher para a pista de dança, passei meus braços ao redor da
cintura dela, a puxei para o meu corpo, e nós dois oscilamos ao ritmo da música. Seu
cabelo cheirava a rosas e sua pele do sol. Sua pele morena contrastava bastante contra o
branco do vestido, e meus dedos a agarram por trás, mal sendo capaz de esperar até hoje
à noite quando ficássemos sozinhos. Ela deu um pequeno tremor e descansou a cabeça
no meu ombro.
Em torno de nós, nossa família e amigos apreciavam a festa. Marina sentou-se
com os pais de Alexis, conversando como se fossem velhos amigos. Oliver estava
silencioso em seu colo agora, e eu sabia que o meu menino estava em seu mundo da
mesma maneira que ele estava no meu.
A mão de Alexis veio ao meu pescoço, seus dedos sondando a minha pele. – Eu
mal posso esperar por esta noite, – ela sussurrou, ecoando os meus próprios
sentimentos. – Talvez pudéssemos escapar um pouco.
Eu gemi baixo em minha garganta, sentindo-a mexer seu corpo de modo que
seus seios empurraram com mais força contra o meu peito.
– Ainda não, – eu sussurrei de volta. – Primeiro, eu tenho algo para você.
O corpo dela era um sonho, seu estômago suave e arredondado, os seios
pesados e cheios em minhas mãos. Enquanto eu olhava para ela, maravilhado com a
curva de seus quadris e os cabelos espalhados como um halo escuro em torno de sua
cabeça, senti algo estranho e intangível tomar posse. Minha garganta estava apertada,
e o gosto dela ainda estava na minha boca. Eu já amava o gosto dela.
Ela estava diante de mim, um milagre e Deus, muito mais bonita do que eu
mesmo recordava. Viver sem ela durante tantos anos tinha sido como viver em um
mundo sem sol. Eu não me sentia digno de tocá-la, e, no entanto, minhas mãos vagaram
de qualquer maneira. Começaram pela testa antes de descer. Bebendo-a com meus
olhos, eu senti meu caminho até chegar a sua garganta e uma respiração escapou dela.
Ela era de uma outra vida, a que eu tinha deixado para trás, mas tê-la ali, minhas mãos
em sua pele, me fez sentir como se eu estivesse saindo desta vida e indo para uma nova.
– Olá, – eu disse calmamente.
– Oi, – ela respondeu de volta.
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