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Complemento 8

Prática 5

CONSTRUÇÃO DE UMA EsTRUTURA ICoSAÉDRICA REPRESENTATIVA


DO ARRANJO MOLECULAR, DE UM TIPO DE VÍRUS NÃO ENVELOPADO
Maulori Curié Cabral
Maria Isabel Madeira Liberto
Introdução:

No que tange à Virologia atual, são conhecidas duas grandes classe de vírus: os vírus
clássicos e os vírus gigantes. Os clássicos são aqueles constituídos de apenas um tipo de
ácido nucleico (DNA ou RNA) e dimensão de até 250 nanômetros (nm). Os vírus gigantes,
como o próprio nome indica, estão acima deste tamanho e são constituídos por uma
estrutura nucleóide, contendo DNA, RNA e alguns fatores de transcrição e tradução.

Os parágrafos a seguir contam uma breve história dos fenômenos que alicerçaram os
conceitos fundamentais da Virologia, relacionados aos vírus clássicos, pois os vírus
gigantes só foram caracterizados como tal, em 2003.

As primeiras evidências registradas sobre as viroses na natureza foram descritas em 1892


pelo fitopatologista russo Dmitri Ivanowski e em 1898 pelo fitopatologista holandês
Martinus Beijerinck. Ambos estavam examinando plantas que apresentavam sinais da
doença conhecida como Mosaico do Tabaco, cujas folhas são utilizadas na fabricação de
cigarros, e concluíram que tal doença estava associada a agentes infecciosos, de tamanho
tão diminuto (Figura 1), que passavam pelos poros dos filtros que retinham bactérias. Isso
foi comprovado quando plantas de Fumo, saudáveis, foram contaminadas com o suco
filtrado de plantas, que apresentavam os sinais da doença. Julgando que as lesões
fossem decorrentes da presença de um tipo de toxina, os pesquisadores julgaram
pertinente atribuir a esses agentes filtráveis o nome de vírus, termo que, em latim, significa
veneno ou toxina.

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FIGURA 1 – Escala decimal que relaciona o tamanho dos Vírus com o de outros elementos
biológicos.

Entretanto, no mesmo ano de 1898, na Alemanha, os médicos veterinários Friedrich Loeffler e


Paul Frosh, estudando bovinos acometidos de uma doença chamada Febre aftosa,
demonstraram, que os agentes infecciosos isolados destes animais, além de serem filtráveis, a
quantidade deles era amplificada no corpo dos animais infectados, mesmo que neles fossem
inoculadas quantidades ínfimas do produto. Dessa época até o final dos anos 20 do século XX,
as práticas laboratoriais de Virologia consistiram em isolar tecidos infectados de animais ou
plantas, triturá-los, filtrá-los e inocular o filtrado em novos organismos, das respectivas espécies,
para caracterizar o produto inoculado como sendo vírus.

Na década de 1930, o bioquímico e virologista estadunidense Wendell Stanley,


utilizou métodos físico-químicos para demonstrar novas características dos vírus do Mosaico do
tabaco (TMV, em Inglês), além da propriedade de serem agentes infecciosos filtráveis.1- Não
sedimentavam quando submetidos aos processos de centrifugação; 2- não podiam ser cultivados
em meios de cultura usados em bacteriologia; 3- Eram invisíveis ao microscópio ótico e que, tal
qual as proteínas conhecidas à época, podiam ser obtidos sob a forma cristalizada (Figura 2.1),
quando as preparações virais eram submetidas ao mesmo processo laboratorial que era utilizado
para purificação de proteínas;. 4-Mostrou ainda que, as preparações virais cristalizadas, podiam

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ser dissolvidas em água e depois recristalizadas, mais de uma vez, sem perda da capacidade
infecciosa.

FIGURA 2 .1 - Cristais de vírus do mosaico do tabaco observados ao microscópio, obtidos a partir


da primeira preparação cristalizada. A barra corresponde a 0,1 mm, ou seja, 100 µm.

No começo da década de 1950, as preparações de vírus da poliomielite também foram purificadas até à
fase de cristalização, resultando nos cristais que estão mostrados na Figura 2.2.

FIGURA 2.2 - Cristais de uma preparação de vírus da poliomielite. Detalhe: enquanto os cristais têm
tamanho variando de 2 a 20 micrômetros (µm), o tamanho das partículas de vírus da poliomielite é
20 nanômetros (nm), ou seja, a dimensão dos cristais é 100 a 1000 vezes maior que a dimensão dos
vírus

Em 1957, os virologistas e bioquímicos H. L. Fraenkel-Conrat e B. Singer usaram dois tipos de


vírus do mosaico do tabaco, purificados pelas técnicas de precipitação de proteínas e, desses
materiais, isolaram os respectivos ácidos nucléicos. Usando proteínas de um dos tipos de vírus e
RNA de outro, prepararam um outro tipo de partícula de vírus híbrido. Essa preparação de vírus

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híbrido foi inoculada em plantas susceptíveis e, destas plantas, assim contaminadas, o tipo de
vírus isolado era idêntico aos vírus doadores do RNA, demonstrando, dessa forma, pela primeira
vez, que as moléculas de RNA, assim como as de DNA, também são fontes de informação
genética. (Figura 3 a e b).

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FIGURA 3a e 3b- Representação esquemática do experimento de Fraenkel-Conrat & Sanger
para desmontar e remontar partículas de vírus do mosaico do tabaco, que são formadas por
proteínas e uma fita de RNA.

A ideia de vírus como arranjos moleculares foi corroborada por A. Molla e colaboradores, em
1991, ao conseguirem sintetizar, usando técnicas moleculares, partículas de vírus da poliomielite,
para os quais propuseram a fórmula química C332.662 H492.388 N98245 O131.196 P7.500 S2.340.

Considerando os vírus como arranjos moleculares, para que os mesmos sejam produzidos, pelas
células, é necessário que as mesmas disponham do repertório enzimático adequado ao exercício
dessa função. Por isso, quanto mais amplo for o repertório enzimático de um determinado tipo
celular, maior será a probabilidade de ele ser competente para sintetizar os componentes virais.
Portanto, é fácil entender a frase “virose, só tem quem pode”. Também é pacífico perceber que,

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quanto maior for a quantidade de células, competentes para a produção dos componentes de
determinado vírus, presente no organismo de um indivíduo, mais intensa será a virose
apresentada pelo mesmo. Essa concepção justifica o fato das viroses poderem ser
assintomáticas (o indivíduo não tem sintomas, mas é um potencial disseminador da virose), ou
serem expressas de forma branda, intensa ou grave, levando até à morte ( neste caso, a seleção
natural se apresenta, eliminando os suscetíveis, ou seja, aqueles geneticamente preparados com
grande quantidade de células competentes para produzir aquele tipo de vírus, o que leva à intensa
produção de vírus, pelo envolvimento de uma ampla abundância de células competentes, levando
a extensa lesão tecidual e, com isso , importante disfunção orgânica, levando ao óbito).

De forma lúdica, você vai desenvolver uma atividade que lhe dará uma percepção bem
aproximada do que ocorre na célula, após receber um genoma viral. Você deve se imaginar sendo
uma célula competente (possuir todas as enzimas necessárias à produção dos componentes
virais), utilizando essas ferramentas enzimáticas que você dispõe.
Quanto mais pobre em nutrientes for o meio onde as células se encontram, mais diversificado ou
amplo será o seu repertório enzimático funcional, para que ela possa produzir os nutrientes de
que precisa, estando em um meio pobre e, portanto, maior será a probabilidade de expressar
todas as enzimas necessárias à produção de todos os componentes virais (entendeu o significado
da expressão “célula competente”?).

O desenvolvimento desta atividade prática visa demonstrar como os vírus são arranjados,
molecularmente, pelas células, em estruturas que montam e desmontam, de acordo com as
condições de pH do ambiente.

OBJETIVOS DA ATIVIDADE:
Ao final da atividade, o aluno deverá ser capaz de:
1. Reconhecer a importância da participação das endopeptidases, no processo de produção de
proteínas virais, pelas células infectadas;
2. Compreender como as células exercem o controle da qualidade pós traducional das
proteínas neoformadas;
3. Reconhecer a importância das mudanças conformacionais, nas proteínas, no processo de
montagem das proteínas virais;
4. Entender a expressão “só tem virose quem pode”, relacionando-a com a necessidade da
presença de células competentes, na quantidade necessária à grande produção dos componentes
virais;
5. Perceber que a expressão de sinais e sintomas de uma virose vai depender da quantidade
dessas células competentes, que o indivíduo possui no seu corpo.

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EXECUÇÃO:
Para iniciar a construção da estrutura icosaédrica (20 lados) você vai precisar ter 60 peças
cilíndricas do tamanho de meio canudo. Inclusive, podem ser preparadas com canudos, de
tamanho igual, cortados na metade. Mas, como está difícil encontrar canudos para comprar,
vamos iniciar as tarefas fabricando nossos próprios canudos:
1. Você vai precisar de oito folhas de papel (Preferencialmente, rascunho) tamanho A4. Dobrar
cada folha, ao longo do comprimento, para cortar em duas metades. Dobrar cada tira, ao
longo da largura, para cortá-la em duas metades. Dobrar cada uma destas metades, ao longo
da largura, e cortá-la para obter dois retângulos medindo 7,5 X10,6 cm. Assim, cada folha será
transformada em oito retângulos. Você vai precisar de 60 destes retângulos. Cortando as
dobras com uma faca afiada ou estilete, vai mais rápido, porém, requer muita atenção
para evitar acidente provocado pelo instrumento cortante.

2. Enrole o retângulo de papel cobrindo um palito de churrasco ou uma agulha de tricô, para
obter um canudo de 10,6 cm de comprimento. Atente para que o papel não esteja folgado nem
as bordas desencontradas. Passe cola branca na beirada interna do papel e cole antes de
despir a haste cilíndrica que você usou. Repetir esta atividade até aprontar os 60 canudos,
conforme indicado na Figura 4;

Figura 4- Produção de canudos de papel para montagem de estrutura trimérica

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3. Considere cada canudo como sendo uma molécula de proteína monomérica, que pode se
agregar, espontaneamente, para formar uma estrutura trimérica. Para isto, amasse as pontas
de três canudos e passe uma fina camada de cola em uma das faces do amassado. Junte as
extremidades dos três canudos de modo a formar um triângulo equilátero. Repetir esta
atividade até aprontar 20 triângulos (Figura 4). Extrapolando para a Virologia, considere cada
um deles como sendo um capsômero, que constitui a unidade proteica formadora do
capsídio viral;

4. O outro componente estrutural de uma partícula de vírus é o ácido nucleico. Para preparar a
mimetização desse componente, pegue uma tesoura é a considere como sendo uma
"polimerase". Usando a tesoura, transforme uma folha de papel A4 em uma fita contínua, com
2cm de largura. A fita ficará com curvas, correspondentes às quinas da folha de papel. Repetir
está atividade até aprontar três fitas. Depois cole uma das pontas da primeira fita na segunda
e a segunda na terceira. Pronto, considere então que você tem agora um genoma viral, linear,
que codifica para três proteínas: a polimerase, a reguladora e a estrutural;

5. Considerando que, no processo de montagem das partículas virais, os capsômeros


promovem uma auto agregação, então, para simular este evento, você vai precisar unir um
triangulo num outro, usando um pedaço de fita adesiva, para fixá-los, pela região central do
canudo. Repetir o processo, de modo a acrescentar o terceiro, o quarto e o quinto triângulo,
unidos lateralmente. Com este procedimento, você formou uma estrutura pentaméríca de
capsômeros. Durante a montagem de uma partícula viral, a formação deste primeiro
pentâmero é um estágio crucial, pois, as proteínas que estão no centro do pentâmero
modificam a conformação estrutural e passam a apresentar cargas positivas. Daí, essa região
central atrai para si o ácido nucleico que é rico em carga negativa, decorrente das bases
nitrogenadas e dos íons fosfato que o compõem. Isto significa que, para simular a ocorrência
desse fenômeno, você vai colar uma parte qualquer da fita no centro do pentâmero. A
estrutura formada será parecida a um chapéu com a fita pendurada, como pode ser visto na
Figura 5;

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Figura 5 - Ligação do Ácido nucléico com as Proteínas estruturais

6. Agora, para continuar a montagem, fixe um novo triangulo ao pentâmero, depois outro e
assim, sucessivamente, até montar novo pentâmero e, no centro dele, fixar outra parte da fita.
Repetir este procedimento, adicionando, gradualmente, triângulo por triângulo, e você verá
que vai sendo formada uma concha. Mantenha toda a fita dentro da concha quando for colocar
o último triangulo. Não se esqueça de prender o "Ácido nucleico" no vértice dos novos
pentâmeros formados.
7. Pronto. Você conseguiu. Está pronto o seu modelo de partícula viral feita com seu esforço e
perseverança (Figura 6).

Figura 6 – Layout da figura representativa da estrutura viral

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8. Desta tarefa fica o ensinamento: as células fabricam os vírus sob a forma de arranjos
moleculares. Essa estrutura icosaédrica representa um tipo de vírus não envelopado (ver
figuras 7 e 8)

Figura 7 – Esquema de um icosaedro

http://docente.ifsc.edu.br/melissa.kayser/MaterialDidatico/Microbiologia/Aula%209%20-
%20V%C3%ADrus.pdf
FIGURA 8– Figura esquemática do capsídio de adenovírus e micrografia da
partícula

Esta atividade constitui-se numa forma lúdica, para alcançar o entendimento de vírus como
produtos de células competentes. Os componentes desses arranjos são fabricados pelas
células que possuem, em seu repertório enzimático, todas as enzimas necessárias para a
construção das partículas virais. Células com essas características, são ditas competentes
para a produção do tipo viral que a contaminou.
In vitro, as partículas de vírus não envelopados podem ser desmontadas e montadas por
meio de processos físico-químicos, envolvendo: pH, temperatura e força iônica da
solução. Quanto mais amplo for o repertório enzimático de um tipo celular, mais chance
ele terá de ser competente para a produção de vírus e, quanto maior a quantidade de
células com essa competência um indivíduo possuir, mais intensa será a expressão dos

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sinais e sintomas da virose, que ele apresentará, se for contaminado com o tipo viral
compatível. Se você entendeu isso, poderá passar para seus futuros alunos esses
conceitos. A ludicidade é um elemento de grande auxílio na prática docente e, sempre que
possível, deve ser agregada à explicação dos conteúdos, simplificando uma aula e
tornando-a mais prazerosa. Brincando aprende-se mais e melhor, mas lembre-se que esta
brincadeira é coisa séria.

- Discussão dos resultados da prática anterior

ATENÇÃO: FAÇA UM RELATÓRIO O MAIS COMPLETO POSSÍVEL E BEM


ILUSTRADO COM SUAS FOTOS E/OU VÍDEO.

FONTES:

LIBERTO, M.I.M.; CABRAL, M.C.; LINS, U.G.C. Microbiologia.Vol. 2. Ed.CECIERJ RJ. 2010.

Apostila:Objetivos das aulas e Roteiros das aulas práticas de Virologia da Disciplina Microbiologia
e Imunologia, para o Curso de Enfermagem da UFRJ. 2016.

https://slideplayer.com.br/slide/5940516/

https://slideplayer.com.br/slide/380605/

http://docente.ifsc.edu.br/melissa.kayser/MaterialDidatico/Microbiologia/Aula%209%20-
%20V%C3%ADrus.pdf

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