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Universidade Católica de Moçambique

Faculdade de Ciências Sociais e Políticas

Curso de Licenciatura em CPRI/2020

Cadeira: fundamentos de teologia católica

Docente: Pe. Inld betinho Consura Lopes

Contactos: 842467136/869069842

E-mail: inldstinaconsura@gmail.com

INTRODUÇÃO

A cadeira de Fundamentos de Teologia Católica oferece a comunidade académica da UCM, em


particular aos seus estudantes, a oportunidade de um contacto com o pensamento católico em
algumas áreas do saber e conduta. É a esse propósito que, ela vem dar uma ideia de alguns
fundamentos do pensamento e posicionamento católico sobre as principais áreas teológicas.

OBJECTIVOS

A Cadeira de Fundamentos de Teologia Católica tem como objectivos principais:

1. Dar a conhecer a fé católica


2. Oferecer conceitos para a compreensão da pessoa humana à luz da fé
3. Transmitir o ensinamento da Igreja Católica, no campo Político-social e Cultural

ESTRUTURA

Para a prossecução dos objectivos enunciados anteriormente, ela obedecerá a seguinte estrutura:
O primeiro capítulo é um tratado sobre a Fé católica, o conceito e história de teologia, a
revelação que culmina com a Pessoa de Cristo. O segundo capítulo é uma abordagem
eclesiológica, isto é, o mistério da Igreja, a figura de Maria, modelo dos crentes, enquanto a

1
Igreja é assembleia dos crentes, e os Sacramentos. Por sua vez, o terceiro capítulo debruça-se
sobre a Pessoa humana à luz da fé, procura reflectir sobre a pessoa humana nas suas variadas
dimensões, enquanto o quarto e último capítulo apresenta o pensamento social da Igreja, a Igreja
intervindo nas questões sociais em favor do homem, porque o homem é o caminho da Igreja,
como defende João Paulo II na sua Encíclica Redemptor hominis.

Espera-se que esta matéria suscite nos destinatários interesse em matérias de natureza religiosa e
dê uma resposta do sentido último da vida humana que, para os cristãos católicos encontra a sua
resposta em Deus. Exclui-se das perspectivas desta cadeira, o fomento do proselitismo, isto é, a
conversão de todos ao catolicismo.

1. Conceito de fé e suas características

Entende-se por fé a convicção e abandono, que uma pessoa alimenta na sua relação com Deus. A
fé é sempre uma resposta positiva à iniciativa reveladora de Deus. Diante dos sinais reveladores
da sua presença do ser humano, este é convidado a responder por uma relação de confiança e fé
neste Deus que se dá a conhecer. A fé consiste no escutar a palavra da pregação e para conduzir à
obediência; vice-versa, a obediência é escuta.

A Fé, dom gratuito de Deus e acessível a quantos a pedem humildemente, é uma virtude
sobrenatural necessária para a salvação. O acto de fé é um acto humano, isto é, um acto da
inteligência do homem que, sob decisão da vontade movida por Deus, dá livremente o seu
assentimento à verdade divina. Além disso, a fé é certa porque fundada sobre a Palavra de Deus;
é operante «por meio da caridade» (Gal 5,6), é em contínuo crescimento, graças, em especial, à
escuta da Palavra de Deus e à oração. Ela faz-nos saborear, de antemão, a alegria celeste (CIC
28).

1.2. Crenças

Chama-se crença a convicção ou a lógica de pensamento, a filosofia que sustenta uma


cosmovisão e os valores apresentados por uma determinada cultura. As crenças representam
sempre um sistema de valores adquiridos, assimilados e proclamados como absolutos em si
mesmos e por isso mesmo negociáveis. A crença é uma convicção enraizada na pessoa que
orienta as atitudes e influencia a interpretação do real.

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1.3.Teologia ciência da fé

Etimologicamente, a palavra Teologia vem do grego, teo + logia => θϵōs, Deus + λoYiα =
discurso sobre Deus; arte de dirigir o espírito na investigação da verdade do discurso sobre Deus.

O dicionário de teologia define a Teologia como a ciência das coisas divinas.

1.4.Breve historial de Teologia

Na antiguidade a teologia era entendida como um hino, onde Deus era glorificado mais do que
explicado pelo espírito humano. Era o acto mesmo de louvar a Deus. Não se tratava de explicar
Deus, que é inexplicável, mas de o louvar sem cessar, pela sua grandeza.

Este sentido continua muito vivo nos escritos dos padres da Igreja 1, mesmo os que como
Orígenes farão mais uso instrumental de noções tiradas da filosofia grega ou os que como os
grandes teólogos ditos da Capadócia (São Basílio de Cesareia, São Gregório de Nazianzo e São
Gregório de Nice) se servem das noções teológicas para lutar contra os erros resultantes de uma
ilusão racionalista sobre a nossa capacidade de clarificar os mistérios divinos.

 Para o pseudo Dionísio2, a teologia mística é a única teologia plenamente digna desse
nome, ultrapassando as analogias insuficientes numa experiencia que se proclama ela
mesma inexprimível.
 Até antes da Idade Média latina a teologia era concebida, particularmente na ordem
monástica, não como uma ciência propriamente dita das coisas divinas, mas como
meditação de mistérios. A Teologia nessa altura é considerada importante apenas pelo
1
Padres da Igreja, Santos Padres ou Pais da Igreja foram influentes teólogos, professores e mestres cristãos e
importantes bispos. Seus trabalhos académicos foram utilizados como precedentes doutrinários para séculos
vindouros. Os padres da Igreja são classificados entre o século II e VII. O estudo dos escritos dos Padres da Igreja é
denominado Patrística.
2
Pseudo-Dionisio, o Areopagita ou simplesmente Pseudo-Dionisio é o nome pelo qual é conhecido o autor de um
conjunto de textos (corpus Areopagiticum) que exerceram, segundo os historiadores da filosofia e da arte, uma
forte influência em toda a mística cristã ocidental da Idade Média. Até o século XVI, os textos tinham valor quase
apostólico, já que Dionísio fora o primeiro discípulo de Paulo de Tarso. Nessa época surgiram as primeiras
controvérsias a respeito da sua autenticidade. Argumentava-se que os textos continham marcada influência de
Proclo, da escola neoplatónica de Atenas, e portanto não poderiam ser anteriores ao século V. Mas somente a
partir do século XIX essa tese foi aceita e o autor desconhecido passou a ser chamado Pseudo-Dionísio. A pesar
disso, por sua linguagem poética e pela coerente exposição de ideias, o Corpus permanece considerado como
expressão autêntica do neoplatonismo ateniense e da tradição mística cristã.

3
apelo que faz à razão para afastar as falsas interpretações preparar a contemplação onde a
razão é simplesmente ultrapassada.
 Santo Anselmo3 um dos primeiros a fazer o mais rigoroso uso do pensamento dialéctico 4
em teologia.
 Pedro Abelardo, no século XII – Tende a racionalizar completamente a teologia, ao
mesmo tempo que suscita em São Bernardo de Claraval, por exemplo, uma recusa
apaixonada. Provoca outros pensadores, mesmo próximos deste último como Guilherme
de Saint-Thierry, um esforço para utilizar mais sistematicamente uma crítica racional dos
conceitos e uma construção racionalmente ajustada das verdades da fé num sistema
ordenado.

S. Alberto Magno no Século XIII e S. Tomás de Aquino definem a Teologia como a ciência
sagrada, que coloca o conjunto das verdades da fé num sistema racional, à partir do
reconhecimento mais claro das verdades propriamente sobrenaturais, como tais recebidas da
revelação unicamente, por oposição das verdades sobre Deus que podem ser atingidas pela razão
sozinha.

Sustentam que a teologia é uma ciência da fé. E como tal não pode prosseguir e se desenvolver
senão na luz da fé. Esta teologia exige que o rigor racional do pensamento dialéctico seja
constantemente associado a uma exploração não somente alargada mas também penetrante de
todo dado revelado e tradicional, sob a salvaguarda do magistério vivo da Igreja e no espírito de
uma fé viva e vivida.

Como ciência sagrada, a Teologia tomista não alimenta a pretensão temerária e fútil de se
substituir a Palavra de Deus confiada à Igreja, em particular nas Sagradas Escrituras mas
alimenta somente a esperança de explorar respeitosamente as profundidades, não esvaziando o
mistério mas permitindo-nos melhor o situar em relação aos nossos conhecimentos simplesmente
naturais.

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Anselmo escreveu uma obra sobre a fé que busca a razão. É considerado um dos iniciadores da tradição
escolástica. “Não só a habilidade dialéctica fez de Anselmo o precursor da escolástica, como também o princípio
teológico fundamental que adotou: fidesquarensintelectum “a fé em busca da inteligência”. Foi ele também quem
forjou uma nova orientação à teoria dos universais e que reverteu em grande proveito para os intuitos da teologia
racional”.
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Dialéctica conjunto dos meios postos em obra na discussão em vista a demonstrar ou refutar. Ex: tese e anti-tese
+ resolução em síntese.

4
É uma teologia sistemática e, por isso, é reflexiva e crítica. Alimenta-se constantemente da
teologia positiva que se contenta de fazer inventário e a exegese da Palavra de Deus nos
documentos autênticos. Deve guardar e cultivar o contacto com o desenvolvimento do
pensamento simplesmente humano, «mas permanecendo sempre na escola viva da Igreja em
profunda comunhão da fé e com ela. Assim se compreende a teologia como um discurso
sistemático, reflexivo e crítico sobre Deus e tudo o que a Ele se refere. Uma teologia que se
alimenta da revelação divina contida na Palavra de Deus proclamada e anunciada pela Igreja em
seu Magistério. Um discurso aberto ao pensamento humano e capaz de iluminar a Razão e se
deixar interpelar por ela.

1.5. Diferentes estilos de reflexão teológica

Existe diferentes estilos de reflexão teológica, tanto o que se refere ao seu conteúdo como ao seu
género literário. Assim, podemos distinguir diferentes estilos de acordo com a época.

No primeiro século do cristianismo podemos encontrar três estilos principais: a teologia narrativa
dos Evangelhos, a literatura epistolar e apocalíptica. Em seu núcleo conjugam-se facto e
interpretação, compreensão e anúncio, sob notório influxo do judaísmo. Lentamente a
comunidade da fé se desprega da religião de Israel mas esta permanece o ponto de referência
básica; mesmo para os grupos advindos da genialidade. Esta teologia é:

 Pneumática (embebida pelo espírito que suscita a continuidade dos seguidores de Jesus)
 Eclesial, nascida no seio de uma comunidade;
 Missionária, destinada a transmitir e recriar a fé cristã;
 Vivencial, repleta de sentimento, conotações afectivas e força convocatória, proveniente
da experiência do seguimento do Ressuscitado;
 Contextualizada, elaborada na Historia da comunidade em que foi elaborada. Não relata
desejos explícitos de fazer reflexão única e universal, válida igualmente para todos como
anamnese da Palavra, torna presente o dado revelado em diversas situações.
 Aberta ao futuro, estimulando assim interpretações enriquecedoras, novas releituras
situadas.

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Na época patrística que abarca o período de seis séculos, compreendendo desde a geração
imediatamente posterior aos apóstolos até a dos que prepararam a teologia medieval,
encontramos um outro estilo de teologia devido ao objectivo do discurso: esclarecer a
identidade da fé cristã no seu encontro com as culturas helénicas, romanas e mesmos as
judaicas.

O cristianismo vê-se as voltas com o imenso desafio de traduzir para a cultura helénica a sua
boa nova. Necessita também justificar-se diante daquele que, utilizando a filosofia grega,
consideram o cristianismo e a fé cristã algo secundário ou de pouco valor. Após, o período
das perseguições, com o reconhecimento do império romano, a Igreja corre dois riscos:
helenizar a sua doutrina (por uma união entre fé e pensamento grego) e secularizar-se
(entrando nas estruturas do império pelo caminho das honras, privilégios, apoios do poder
político).

a) Helenizar a doutrina

A teologia grega tem sede de explicar a unidade do universo, explicar como tudo tem um
fundamento, uma αρχή, uma unidade, uma λογια que dá sentido ao múltiplo. Por isso, a fé
carrega a marca da preocupação do fundamento, e anuncia que em Cristo se recapitulam
todas as coisas, e particularmente, tudo o que é verdadeiro, bom e belo (ciência moral e
estática).

Da cultura grega, a reflexão teológica leva como empréstimo os valores, instrumentos e


desenvolve a questão da relação entre o humano e o divino.

A adopção das expressões de fé, categoria e esquemas mentais da teologia e filosofia grega
leva a impressões e dúvidas. Surgem grupos radicais que com o seu radicalismo ferem a
identidade trazida na mensagem cristã e, assim nascem as primeiras heresias. A tentativa de
responder a essas heresias estimula e permite o avanço da teologia porque obriga a uma
reflexão mais precisa e mais fiel ainda que criativa à Sagrada Escritura.

Temos assim vários concílios ecuménicos ao serviço da verdade que deve ser proclamada
(Niceia, Éfeso, Calcedónia, Constantinopla), regionais (Revila e Oras).

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O princípio patrístico é: crer para entender e entender para crer, em italiano intellige ut
credas ut entelega ( S. Agostinho in Sermão 43, 7, 9).

Não separa a inteligência e fé: a fé nos torna inteligentes:

b) Secularização

Quando no ano 313 foi proclamado o édito de Milão pelo imperador Constantino, o
cristianismo se tornou religião do Estado, no Império Romano. Assim foram adoptados
progressivamente maneiras e princípios seculares que contrariavam a simplicidade do
Evangelho.

Nasce a hierarquização sob o modelo do Império, a liturgia fortemente influenciada pelo


culto pagão. Esta situação se arrastou até a reforma trazida pelo Concílio Vaticano II.

FIM

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