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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG

FACULDADE DE MEDICINA - FAMED


DISCIPLINA DE PEDIATRIA

PORTFÓLIO
PEDIATRIA

Acadêmica: Caroline C. Ribeiro


Matrícula: 65819
Orientadora: Profª. MD Msc Milene Pinto Costa
Série: 5º ano

Rio Grande, RS, Brasil


2020
JUSTIFICATIVA

O presente portífolio foi produzido afim de relembrar todo o aprendizado obtido no


decorrer do estágio no primeiro rodízio que ocorreu na maternidade, estágio esse que foi de
suma importância para a melhor formação acadêmica e domínio do cuidado do recém nascido
(RN) e sala de parto nos plantões que intercalavam-se entre atendimentos realizados das 08
horas da manhã ao meio dia.
Todas as manhãs acompanhando cada caso na sua particularidade foi essencial para o
crescimento pessoal e profissional na medida que cada caso era discutido nos “rounds”
posteriores a cada atendimento. Nesse sentido, foi possível entender o porquê de cada
conduta tomada, assim como examinar adequadamente o RN, distinguir um exame físico
dentro do esperado daquele alterado.
Diversos foram os cenários, tivemos desde RNs, com casos de calcificações cerebrais
em decorrência de uma toxoplasmose não tratada durante a gestação até pacientes maternas
com HIV e sem o intuito de dividir a informação com o parceiro, trazendo até nós demandas
que envolveram questões éticas e nos fezem refletir sobre como agir frente ao quadro. Entre
hemogramas, BT + frações, reticulócitos, fator RH foi possível criar vínculos com cada
paciente assistida e reforçar a relação médico paciente tão necessária nos dias de hoje.
É válido ressaltar a primordial comunicação multiprofissional da equipe de saúde:
médicos, enfermagem, técnicos e fonoaudiologia em prol da saúde e bem estar de cada
paciente; no nosso caso, os RNs, que prontamente eram cuidados com zelo e dedicação, nos
mostrando que cada profissional é fundamental na sua área de atuação, e que muito mais
eficiente é uma equipe hospitalar do que um único profissional tomando a frente.
Trarei alguns casos, que mais me envolveram tanto como estagiária como ser humano,
fundamental nos colocarmos no lugar das mamães que em nós depositavam toda sua
esperança e confiança, assim sendo os casos apresentados terão somente suas iniciais
respeitando ao máximo cada paciente que por nós foram acolhidas. Lembrando que cada
conduta tomada era discutida e explicada no grande grupo, as questões levantadas e
prontamente sanadas foram indubitavelmente cruciais para o excelente aproveitamento e
andamento do estágio.
CASO 1: RN DE B.Q.V
Exame físico: BEG, ATIVO E REATIVO, reflexos presentes, extremidades aquecidas
e perfundidas. Coto umbilical: 1 artéria e 1 veia, vistos em ecografia com doppler durante a
gestação. A conduta pensada foi um US de vias urinárias para verificar se a alteração se
mantinha após o nascimento.
Acompanhei o RN durante US de vias urinárias, e felizmente, foi constatado que as
vias urinárias estavam dentro da normalidade e sem qualquer alteração. Após o achado o RN
recebeu alta hospitalar com as devidas orientações.
Nesse caso foi necessário aprender a lidar com a ansiedade e nervosismo da mãe,
demonstrando a importância da relação médico paciente ensinada lá nos primeiros anos da
faculdade e que agora foram colocados em prática.
CASO 2: RN DE R.P.M
Exame físico: BEG, ATIVO E REATIVO, eritema tóxico em face, reflexos presentes
e simétricos, extremidades aquecidas e perfundidas. Nesse caso a mãe do RN positivou no
teste rápido para HIV na internação não havendo diagnóstico anterior já que a mesma não
havia realizado nenhuma consulta no pré-natal. Além disso a paciente não autorizou
mencionar o diagnóstico ao parceiro. A conduta no momento foi RAC+FI, nevirapina e azt,
solicitado carga viral e CD4, além do sangue de cordão e rastreio de sepse com 12 hrs de
vida.
Aqui foi respeitada a escolha da paciente pois a mesma nos relatou que diria ao
parceiro assim que sentisse pronta para tal. O que foi de fato feito ainda no hospital. Estando
o RN em condições de alta, assim foi definido, com encaminhamento ao ambulatório de
infecto para avaliações e tratamentos posteriores.
Relembrando alguns cuidados com RN exposto ao HIV: limpar com compressas todo
o sangue e secreções visíveis no RN imediatamente após o nascimento e proceder com
banho, ainda na sala de parto, quando necessária realizar aspiração de VAS, proceder
delicadamente, evitando traumatismos em mucosas, iniciar AZT VO ainda na sala de parto
nas primeiras 4 horas após o nascimento, acrescentar Nevirapina ao esquema caso a mãe
tenha CV acima de 1000 cópias ou sem tratamento prévio, nas primeiras 48 horas.
É recomendado o alojamento conjunto em período integral, com intuito de aprimorar
o vínculo mãe-filho, recomenda-se também a substituição do LM por FI, a alta da
maternidade deve ser acompanhada de consulta agendada com serviço especializado para
seguimento de crianaças expostas ao HIV, entre 15 e 30 dias após o nascimento, preencher as
fichas de notificação da “criança exposta ao HIV” e enviá-las ao serviço de vigilância
epidemiológica.
CASO 3: RN DE T.S.N
Exame físico: BEG, ATIVO E REATIVO, reflexos presentes s simétricos,
extremidades aquecidas e perfundidas. Sorologias maternas todas não reagentes, TS da mãe
O+, bolsa rota sem horário definido, portanto foi solicitado exames para rastreio de sepse,
com os seguintes achados: Rodwell: 1 por neutrofilia I/T: 0.04 PCR: 2,3. Até então sem
necessidade de maiores preocupações.
Percebida leve icterícia foi feito o Bili check, em glabela: 8.4 Bili check em tórax: 6.7
NF para médio risco 9, sendo o valor dado no bili check próximo do nível de fototerapia, foi
solicitado para o RN tipagem sanguínea, fator RH, reticulócitos, BT + frações para
determinar a melhor conduta. Os exames coletados viram sem alterações que necessitassem
de fototerapia, logo o RN recebeu alta hospital com as orientações adequadas.
É válido lembrar alguns fatores de risco na sepse precoce: Temperatura intraparto
acima de 38 graus, bolsa rota a 18 h ou mais, procedimentos invasivos ( amniocentese,
cerclagem), trabalho de parto em gestação menor que 37 semanas, procedimentos fetais nas
últimas 72 h, ITU materna sem tratamento ou em tratamento menos de 72 h, colonização pelo
streptococo B em gestante, sem quimioprofilaxia intraparto quando indicada, sintomas
clinicos de infecção, prematuridade, baixo peso, óbito fetal ou natimorto sem causa aparente
em gestação anterior, apgar 5 minuto menor que 7, desconforto respiratório iniciado acima de
4 hrs após o nascimento, necessidade de VM em um RN á termo.
CASO 4: RN de F.G.S
Exame físico: BEG, ATIVO E REATIVO, extremidades aquecidas e perfundidas,
eritema tóxico em face, mancha mongólica em região sacral. O caso foi escolhido pelas
importantes intercorrências na sala de parto, uma cesareana devido a líquido meconial, no
decorrer do TP foi detectado também circular de cordão, o RN nasceu vigoroso, porém,
acianótico, necessitando de 02 por catéter, AVAS com grande quantidade de mecônio,
saturou 87% no primeiro minuto com melhora progressiva para 97%. Sabendo que mecônio é
indicativo para rastreio de sepse, assim o fizemos, os resultados foram: Rodwell: 1 por
neutrofilia, I/T: 0,02 PCR: 2,0. Solicitado também Raio X de tórax devido a grande
quantidade de mecônio aspirado. Este veio sem consolidação. Dadas as circunstâncias o RN
evoluiu bem, estando em condições de alta hospitalar.
Importante falar um pouco mais sobre o líquido meconial e suas complicações, em
especial a aspiração intraparto que pode causar pneneumonite inflamatória e obstrução
brônquica mecânica, produzindo uma síndrome de angústia respiratória. O quadro inclui
taquipnéia, roncos, sibilos e cianose ou dessaturação. O diagnóstico pode ser confirmado cm
radiografia de tórax. RNs com desconforto respiratório são intubados e colocados sob pressão
positiva contínua das vias respiratórias ou ventilação mecânica.
CASO 5: M.C.S
Exame físico: BEG, ATIVO E REATIVO, extremidades aquecidas e perfundidas, RN
á termo, AIG, com exposição vertical a toxoplamose. Á tomografia múltiplos focos de
calcificações esparsas pelos hemisférios cerebrais, cujo aspecto da imagem, embora não seja
específico, permite concluir primariamente dentre os diferentes alterações relacionadas a
toxoplasmose congênita.
Para esse RN a conduta foi a seguinte sulfadiazina 100 mg/kg/dia, pirimetamina 2
mg/kg/dia e ác. Folínico 10 mg, avaliação de neurologista, oftalmologista, e agendamento de
consulta com infectologista pediátrica.
Pesquisando sobre o assunto cerca de 70% dos RN com infecção congênita são
assintomáticos ao nascimento e, aproximadamente 10 % do total de crianças acometidas têm
manifestações graves nos primeiros dias de vida, apresenta –se com doença multissistêmica
ou com acometimento de sistema nervoso, associado ou não á forma ocular.
A doença congênita com manifestações predominantemente neurológica apresenta-se
com coriorretinite, hidrocefalia, meningoencefalite, calcificações cranianas, convulsões,
anemias, icterícia, febre e menos frequentemente, esplenomegalia, linfoadenomegalia,
hepatomegalia, microcefalia, vômitos, catarata, diástase hemorrágica, hipotermia, glaucoma,
atrofia óptica, microftalmia, rash e pneumonia.
Na doença sistêmica, apresentação de menor frequência, observa- se esplenomegalia
(90%) meningoencefalite (84%) icterícia ( 80%) anemia (77%) hepatomegalia (77%)
linfoadenomegalia (68%) coriorretinite(66%) pneumonia (41%) discrasia sanguínea (18%) e
calcificações cranianas (4%). Em resumo, toxoplasmose congênita caracteriza-se por
hidrocefalia, corioretinite, calcificações cranianas e elevada proteinorraquia bioquímico ao
exame do líquor.
CASO 6: FM
Esse foi um caso que ocorreu durante o plantão, a paciente estava em TP, sem
comorbidades, contrações e dilatação apropriadas, e houve parada da descida, o RN foi
conduzido ao exame físico, hipotônico, acianótico e já sem batimentos cardíacos, foram feitas
todas as manobras conforme as diretrizes de RCP, porém, infelizmente, apesar de todas as
tentativas o RN veio á óbito.
Foi um caso complexo, o qual pude relacionar a aula dada sobre como dar notícias
difíceis aos familiares. Acompanhei de perto a maneira como os preceptores conduziram, de
maneira clara e ao mesmo tempo acalentadora, dando todo o apoio necessário naquele
momento.
Certamente, esse fato contribuiu para o meu crescimento enquanto futura médica,
entender que se colocar no lugar do paciente é fundamental para uma melhor relação médico
e paciente e que se não pudermos curar, pelo menos amenizar a dor, nem que seja com
palavras acolhedoras e afáveis.
E para finalizar, uma frase que cabe nesse caso e que certamente faz repensar e mudar
a maneira como cuidamos do nosso paciente “Conheça todas as teorias, domine todas as
técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.

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