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Sociologia do
Trabalho
É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Sociologia do Trabalho,
parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo
que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma
apresentação do conteúdo básico da disciplina.
A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-
ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.
Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br,
a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,
bem como acesso a redes de informação e documentação.
Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple-
mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para
uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.
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Unisa Digital
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................ 5
1 a disciplina chamada sociologia.............................................................................. 7
1.1 A Ciência da Sociedade..................................................................................................................................................7
1.2 As Divisões das Ciências Sociais..................................................................................................................................7
1.3 O Nascimento da Sociologia........................................................................................................................................8
1.4 O Antigo Regime e a Revolução Francesa..............................................................................................................8
1.5 Resumo do Capítulo........................................................................................................................................................9
1.6 Atividade Proposta........................................................................................................................................................10
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................ 35
RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS...................................... 37
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................................. 39
INTRODUÇÃO
Uma discussão profunda sobre o homem e a sociedade da qual este participa nunca foi tão impor-
tante quanto agora. Se hoje nos parece comum vivermos em sociedade, que, mesmo com sua complexi-
dade, nos oferece a certeza de que o homem sempre foi um ser social, a reflexão sobre essa “sociabilida-
de” nem sempre gerou respostas comuns. Das mais diversas possibilidades de discussão às mais simples,
a disciplina de Sociologia sempre procurou entender como se processam os mecanismos sociais, seja
através da compreensão do caráter da própria sociedade, seja por meio das diversas manifestações so-
ciais ou grupais.
Por isso, estudarmos a sociedade com base no aparato sociológico é uma das maneiras de visuali-
zarmos o papel do trabalho frente às mudanças e às manifestações do próprio ser social. Não poderia ser
diferente, pois foi esse mesmo homem quem criou, desenvolveu e continua promovendo a manutenção
de sua própria cultura e sociedade, principalmente por meio dos mecanismos de produção e relações de
trabalho.
Por isso, caro(a) aluno(a), é importante enfatizar a centralidade do trabalho na sociedade atual a
partir de teorias muito importantes que ajudam a explicar o mundo contemporâneo.
Espero que esta apostila seja um material que o(a) auxilie a concretizar esse objetivo. Vejamos, en-
tão, no próximo tópico, as bases da Sociologia.
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1 a disciplina chamada sociologia
OBJETIVOS TÓPICOS
Entender o que é Sociologia; 1. A ciência da Sociedade;
Compreender o nascimento das Ciên- 2. As divisões das Ciências Sociais;
cias Sociais; 3. O nascimento da Sociologia;
Conhecer as áreas das Ciências Sociais. 4. O Antigo Regime e a Revolução Fran-
cesa.
Caro(a) aluno(a), você saberia dizer quais Como ciência, as Ciências Sociais trabalham
são os principais interesses das Ciências Sociais? com os diversos fenômenos sociais e as formas
A reflexão sobre a vida em sociedade e so- pelas quais ocorrem.
bre os grupos que a compõem é o principal obje-
tivo do sociólogo. Através de pesquisas sociais, o Saiba mais
sociólogo tem a capacidade de encontrar respos-
tas para diversos problemas. O apoio das pesqui- Um grupo social pode ser conduzido a se tornar
produtor e consumidor de um determinado bem
sas de âmbito social é o que garante à Sociologia
somente e apenas pelo emprego de mecanismos
o caráter de ciência, pois ela própria depende do diferenciados de produção, distribuição e consumo.
emprego de procedimentos científicos, proces- Os mecanismos usados para “conduzir” esse grupo,
assim como o nível de resposta social, são objetos
sos que vão ao encontro do conhecimento atra-
de estudo do sociólogo.
vés de investigações diversas, sempre dentro dos
aspectos sociais.
Como muitas das outras ciências, as Ciên- Sociologia: estuda as relações sociais e
cias Sociais acabaram se desenvolvendo e cres- as formas de associação, considerando
cendo de maneira que o conhecimento sobre a as interações que ocorrem na vida em
sociedade avançou de forma a promover uma sociedade;
divisão nelas, principalmente para facilitar a sis-
tematização dos estudos e das pesquisas. Assim, Economia: tem por objeto de estudo
essa divisão abrange, atualmente, as seguintes as atividades sociais ligadas à produção,
disciplinas: circulação, distribuição e consumo de
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Antigo Regime foi o nome dado à forma que o poder era vinculado ao sistema de produ-
de governo baseado no poder da aristocracia. Na ção agrícola. Nesse sistema de produção, quem
realidade, essa forma de governo tem sua base no detinha o poder era quem possuía maior exten-
regime feudal e imediatamente pós-feudal, em são de terras para plantar. A aristocracia – como
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Sociologia do Trabalho
se denominava esse grupo – tinha o poder, que Mesmo sem grandes poderes econômicos,
era mantido de forma hereditária. Por isso, os reis a aristocracia procurava se manter em sua posi-
das nações da Europa se mantinham como tal, ção, afastando-se cada vez mais da realidade con-
porque eles possuíam enormes extensões de ter- creta, ou seja, do desenvolvimento de uma nova
ras. sociedade e das novas relações produtivas.
Contudo, eles não conseguiram manter tal Por conta disso, explode, em 1778, na Fran-
poder, principalmente porque uma nova forma ça, a chamada Revolução Francesa, que, na rea-
de relação de produção se desenvolvia, parti- lidade, foi uma grande revolução burguesa, em
cularmente a partir do século XV: o mercanti- que uma inevitável mudança de relações de po-
lismo. Para manterem-se no poder, muitos reis der ocorreu, de forma abrupta e necessária. Mui-
acabaram trocando suas terras por mercadorias, tos têm a própria Revolução Francesa como um
as quais, por sua vez, eram conseguidas por co- marco histórico, em que nasce efetivamente o
merciantes. Com essa troca, o poder econômico pensamento social, pois a burguesia, junto a ou-
gradativamente vai mudando de mãos, além de tros grupos sociais organizados ou não, promo-
contribuir com o avanço do capitalismo. veu uma verdadeira insurreição.
Com base nos fatos ocorridos nesse perío-
Saiba mais
do, um filósofo e pensador francês cunhou pela
O QUE É MERCANTILISMO?
primeira vez o termo Sociologia: Auguste Com-
Mercantilismo é o nome dado a um conjunto te. Com a obra Curso de filosofia positiva, de 1839,
de práticas econômicas desenvolvido na Europa Comte iniciou a linha de pensamento que daria
na Idade Moderna, entre o século XV e o final do
século XVIII. Originou um conjunto de medidas
forma às Ciências Sociais. Suas discussões ainda
econômicas diversas de acordo com os Estados e eram primárias, mas já delinearam o que mais
caracterizou-se por uma forte intervenção do Esta- tarde seria considerada uma das grandes ciências
do na economia. Consistiu numa série de medidas
tendentes a unificar o mercado interno e teve como
desse período, transformando Comte no pai da
finalidade a formação de fortes Estados nacionais. Sociologia.
Estudamos neste capítulo que um grupo social pode ser conduzido a se tornar produtor e consu-
midor de um determinado bem somente e apenas pelo emprego de mecanismos diferenciados de pro-
dução, distribuição e consumo. Os mecanismos usados para “conduzir” esse grupo, assim como o nível de
resposta social, são objetos de estudo do sociólogo.
Lemos que o mercantilismo é o nome dado a um conjunto de práticas econômicas desenvolvido
na Europa na Idade Moderna, entre o século XV e o final do século XVIII. Originou um conjunto de medi-
das econômicas diversas de acordo com os Estados e caracterizou-se por uma forte intervenção do Esta-
do na economia. Consistiu numa série de medidas tendentes a unificar o mercado interno e teve como
finalidade a formação de fortes Estados nacionais.
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2 AS PRINCIPAIS TEORIAS SOCIOLÓGICAS
OBJETIVOS TÓPICOS
Conhecer as três principais teorias so- 1. Émile Durkheim, a Sociologia e o fato
ciológicas; social;
Compreender sua importância para as 2. Carl Marx e a luta de classes;
Ciências Sociais; 3. Max Weber e a ética protestante;
Entender sua aplicabilidade.
Foi com Émile Durkheim que a Sociologia generalidade: o fato social é comum
ganhou caráter de ciência. Com seus profundos a todos os membros de um grupo ou à
estudos e conceitos, demonstrou que os fatos so- sua maioria;
ciais têm características próprias, devendo ser es- exterioridade: o fato social é externo
tudados por meio de métodos diferentes dos das ao indivíduo e existe independente-
outras ciências. mente de sua vontade;
Segundo Durkheim, fato social é o modo coercitividade: os indivíduos se sen-
de agir, pensar e sentir de um grupo social. Por tem pressionados a seguir comporta-
exemplo, o modo de se vestir numa sociedade é mentos estabelecidos.
um fato social, assim como a língua de um povo,
seu sistema monetário, a religião, as leis e outros
fenômenos do mesmo tipo. Esses fatos sociais, Por conta disso, Durkheim acreditava que
mesmo que externos ao indivíduo, exercem um os fatos sociais podiam e ainda podem ser estu-
poder de pressão social, ou seja, fazem com que dados de forma objetiva, como se fossem “coisas”,
membros de uma sociedade ajam exatamente assim como a Biologia estuda os fatos da nature-
como outros indivíduos dessa mesma sociedade, za, por exemplo.
contribuindo com as relações sociais necessárias
ao desenvolvimento do grupo.
Para Durkheim, os fatos sociais possuem as
seguintes características:
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Outro pensador cujas ideias promoveram Marx e Engels perceberam, em sua análise,
grandes transformações na visão sobre a socie- que tudo isso estava ligado à importância das
dade foi o alemão Karl Marx. A partir do apareci- condições materiais (econômicas) da existência
mento de uma nova classe revolucionária na so- na formação das sociedades, ou seja, “o modo de
ciedade – o proletariado, ou seja, o trabalhador produção da vida material condiciona o processo,
que possui conhecimento crítico sobre sua parti- em geral, da vida social, política e espiritual”. Por
cipação nas relações de produção e desenvolvi- isso, os estudos sobre a sociedade promovidos
mento econômico –, Marx, com Friedrich Engels, por eles se detiveram, especialmente, nas análises
elaborou sua crítica ao capitalismo. Nessa teoria, das relações materiais, ou seja, econômicas.
a maior discussão se baseava nas relações entre Marx, em sua obra Para a crítica da econo-
duas classes sociais: a classe operária, ou seja, o mia política, comentou o seguinte: “[...] não é
proletariado ou classe explorada, e as classes a consciência do homem que determina o seu
burguesas, capitalistas, exploradoras e domina- ser, mas, ao contrário, é seu ser que termina sua
doras, pois detinham o poder do capital. consciência.”
Nas obras de Marx e Engels, não havia Dessa forma, Marx procurou demonstrar
divisão de disciplinas, ou seja, Economia, Antro- que era nas relações de produção que o homem
pologia, Sociologia, Geografia, História ou Ciência determinava sua própria existência, sendo que
Política. Eles se aproveitaram de todas elas, ou os principais “personagens” dessas relações são
melhor, eles utilizaram todas para compor suas os participantes das principais classes sociais:
teorias referentes às relações de exploração en- proletariado e burguesia. Nesse processo, Marx
tre as classes sociais, que, como hoje, causavam dizia que os meios de produção, somados ao
uma situação de miséria e de opressão. Essa críti- trabalho humano, seriam o que chamamos for-
ca marxista teve como base os próprios levantes ças produtivas, as quais garantem o desenvol-
revolucionários que começaram a ocorrer já no vimento sistemático da sociedade. Caso algum
século XIX na Europa. Esses levantes reivindica- elemento dessa força produtiva entre em choque
vam igualdade entre todos, não só política, mas, ou se sobreponha ao outro, há um descompasso
e principalmente, quanto às condições sociais de negativo para a própria sociedade, ou seja, caso
vida. a classe burguesa (que garante os meios produti-
vos) se sobreponha (ou explore) à classe operária
Saiba mais (que garante o trabalho humano), ou vice-versa,
seria o descompasso que cria toda uma série de
Thomas Humprey Marshall (1893-1981) foi um
sociólogo britânico, conhecido principalmente por condições de miséria e exploração exacerbada.
seus ensaios, entre os quais se destaca Citizenship Caro(a) aluno(a), vamos ler um trecho de
and social class (Cidadania e classe social), publica-
do, em 1950, a partir de uma conferência proferida uma obra de referência de Marx, O manifesto do
no ano anterior. Analisou o desenvolvimento da ci- Partido Comunista (1948):
dadania como desenvolvimento dos direitos civis,
seguidos dos direitos políticos e dos direitos so-
ciais, nos séculos XVIII, XIX e XX, respectivamente.
Introduziu o conceito de direitos sociais, sustentan-
do que a cidadania só é plena se dotada de todos
os três tipos de direito e esta condição está ligada à
classe social.
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Sociologia do Trabalho
Curiosidade
A história de todas as sociedades que existiram até aos nossos dias é a história da luta de classes.
Homens livres e escravos, patrícios e plebeus, senhores e servos, mestres e oficiais, numa palavra: opressores e opri-
midos, em oposição constante, travaram uma guerra ininterrupta, ora aberta, ora dissimulada, uma guerra que acaba
sempre pela transformação revolucionária de toda a sociedade, ou pela destruição das duas classes beligerantes.
Nas primeiras épocas históricas, constatamos, quase por toda a parte, uma organização completa da sociedade em
classes distintas, uma escala gradual de condições sociais: na Roma antiga, encontramos patrícios, cavaleiros plebeus
e escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, mestres, oficiais e servos, e, além disso, em quase todas estas
classes encontramos graduações especiais.
A sociedade burguesa moderna, que saiu das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes.
Apenas substituiu as velhas classes, as velhas condições de opressão, as velhas formas de luta por outras novas.
Entretanto, o caráter distintivo da nossa época, da época da burguesia, é o de ter simplificado os antagonismos de
classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos inimigos, em duas grandes classes diametralmen-
te opostas: a burguesia e o proletariado.
A partir de um pensamento bem diferente dades levavam suas vidas e suas economias. Sua
do de Marx e Engels, outro alemão também pro- conduta era de tal forma rígida e religiosa que se
moveu grandes mudanças e inovações no pen- contrapunha às formas católicas, em que todo
samento sociológico: Max Weber. Sua produção acúmulo de capital sempre foi considerado uma
intelectual surge justamente num momento de afronta ao modo religioso de vida que a Igreja Ca-
grande surto de industrialização e crescimento tólica pregava.
econômico na Alemanha, ou seja, durante todo o Com esse pensamento, Weber não só gerou
início do século XX. uma das concepções e origens do capitalismo,
Em seu trabalho A Ética Protestante e o como apresentou uma nova forma de pesquisa
Espírito do Capitalismo, Weber examinou as im- sociológica, em que, além de temas ordinários,
plicações das orientações religiosas, particular- como Economia, Ciências Políticas e Antropolo-
mente as católicas e as protestantes, na conduta gia, juntou também a Arte e, principalmente, a
econômica dos homens. Ele percebeu que a ética Religião como temas essenciais para os estudos
protestante, particularmente a calvinista, contri- sociológicos. Assim, Weber acreditava que o ver-
buiu muito na promoção do moderno sistema dadeiro revolucionário não era o operário, como
econômico, especialmente na Alemanha, além pensavam Marx e Engels, mas o empresário, par-
de reconhecer que o desenvolvimento capitalista ticularmente o protestante, que, por meio de sua
ocorreu, principalmente, no final da Idade Média, rígida conduta e organização, promoveu a verda-
quando houve um grande acúmulo de capital por deira revolução na sociedade, abrindo caminho
parte de pioneiros do capitalismo, especialmente para a moderna sociedade, baseada no sistema
por empresários que participavam de seitas puri- capitalista.
tanas, orientadas por princípios religiosos.
As convicções religiosas levaram esses
empresários a considerarem o êxito econômico
como uma bênção de Deus, ou seja, havia a apro-
vação divina para o acúmulo de capital. Além dis-
so, havia a forma regrada com que essas comuni-
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Para Émile Durkheim, o objeto de estudo da Sociologia é os fatos sociais, que “apresentam caracte-
rísticas muito especiais: consistem em maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas
de um poder coercitivo em virtude do qual se lhe impõem”, sejam elas práticas e crenças constituídas
(regras jurídicas ou morais, dogmas religiosos, sistemas financeiros etc.) ou correntes sociais, ou seja, ma-
nifestações (de entusiasmo, de piedade etc.) que “chegam a cada um de nós do exterior e que são suscep-
tíveis de nos arrastar, mesmo contra a nossa vontade”, o que poderia nos levar a uma ilusão que nos faria
acreditar termos elaborado aquilo que nos foi imposto do exterior. Essas manifestações, que podem ser
passageiras e que são suscetíveis de nos conduzir a ações que poderiam contrariar nossa própria natu-
reza, apresentam um princípio que “aplica-se também aos movimentos de opinião mais duradouros que
se produzem incessantemente à nossa volta, mesmo em círculos mais restritos, sobre questões religiosas,
políticas, literárias, artísticas, etc.” (DURKHEIM, 1973, p. 391-392).
Desse modo, para Durkheim, o fenômeno social constitui-se do fato social, que pode ser religioso,
político, literário, artístico etc. e que é externo ao indivíduo e determinador de suas ações. Assim, a socie-
dade, que é externa aos indivíduos, determina as interações sociais.
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No processo de constituição dos indivíduos pela sociedade, o que são os fatos sociais para Dur-
kheim?
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3 PADRÕES CULTURAIS E SOCIAIS
OBJETIVOS TÓPICOS
Conhecer alguns conceitos sobre cultu- 1. Cultura;
ra e sociedade; 2. Ideologia e formas de governo;
Compreender sua importância para o 3. Instituições e valores sociais;
entendimento de fatos sociais; 4. Status social.
Entender sua aplicabilidade em discus-
sões pertinentes.
3.1 Cultura
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educativos, além de possuir o papel de transmitir de para que, assim, esse mesmo indivíduo tenha a
cultura, ela ainda adapta o indivíduo à sociedade capacidade de manter, interferir, influenciar, me-
e desenvolve suas potencialidades e personalida- lhorar e transformar a sua própria sociedade.
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Desde que nascemos, começamos a apren- existem várias formas de casamento, que depen-
der regras e procedimentos que devemos seguir dem justamente das necessidades reais de uma
em nossa vida, em coletividade. Essas regras, mui- sociedade. Mesmo assim, não há como ignorar o
tas vezes instituídas pelos nossos antepassados, papel da família em qualquer sociedade. A família
sofrem e já sofreram modificações ao longo do é um tipo de agrupamento social cuja estrutura
tempo; além disso, a própria sociedade exerce varia em alguns aspectos no tempo e no espaço,
pressão sobre os indivíduos para que elas sejam mas, mesmo assim, ainda é considerada a célula
cumpridas. As estruturas sociais baseadas nessas mater de toda sociedade.
regras e procedimentos padronizados são cha- A Igreja, enquanto instituição social, cum-
madas instituições sociais. Três das maiores Ins- pre um importantíssimo papel na sociedade: or-
tituições sociais são a família, a Igreja e o Estado. ganizar o caráter religioso dos membros da socie-
É sabido que cada família tem, ainda, suas dade e, assim, preencher ou ocupar o lugar não
próprias normas de conduta e de comportamen- físico do homem. Enquanto as outras instituições
to. No entanto, existem normas sociais institu- se ocupam das necessidades físicas e materiais do
cionalizadas, que determinam as regras de seu homem, a Igreja cumpre a função de preencher as
funcionamento e que existem para atender às necessidades espirituais, através da religião. Isso é
necessidades sociais de uma sociedade. Por isso, tão importante como a própria manutenção eco-
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Se as instituições sociais são formadas para já colocamos, conforme o valor social conferido
atender às necessidades de uma sociedade, os a cada posição. No entanto, em todos eles, há a
grupos sociais são reuniões de indivíduos que fa- referência de um papel social, que, como dever,
zem parte dessa sociedade, mas que se integram deve ser cumprido pelo indivíduo, ou seja, papel
e interagem por possuir interesses e objetivos co- social é os comportamentos que o grupo espera
muns, como, por exemplo, os membros de uma de qualquer pessoa que ocupe um determinado
empresa, que acabam por constituir um grupo status social. De um professor, espera-se o cum-
social formado por acionistas, administradores, primento de seu papel enquanto tal, frente a um
prestadores de serviços e empregados, cada um grupo de posição “menor” ou com menor respon-
com seus direitos, deveres e privilégios constituí- sabilidade (estudantes), por exemplo.
dos. Numa organização social, seja um grupo ou
No entanto, cada um desses direitos, deve- a própria sociedade, tanto o status social quanto
res e privilégios são diferentes, como sabemos. o papel social são indissolúveis. Possuir um de-
Isso se deve à posição que cada indivíduo ocupa terminado status social implica assumir a respon-
em seu grupo social ou, até mesmo, na própria so- sabilidade do cumprimento de seu papel social,
ciedade. A essa posição chamamos status social. sem o qual a própria sociedade não se manteria.
Esse status social implica direitos, deveres,
manifestações de prestígio e até privilégios, como
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Atenção
O trabalho, segundo Marx, é a energia necessária para transformar a natureza em algo que satisfaça as necessidades
do homem, “sejam elas do estômago ou da fantasia”. O homem, ao trabalhar, obtém o produto do seu trabalho, que
deve satisfazê-lo. Com a complexificação da Economia, por não ser possível produzir tudo que é necessário a si, o
homem passou a concentrar sua produção em poucos produtos e a trocá-los, o que, de maneira genérica, inicia a
Economia. Assim, os produtos passam a dotar dois valores: o valor de uso e o valor de troca.
Com a Revolução Industrial, a mecanização e a racionalização da produção, o valor de uso deixa de ser um valor
fundamental, já que o objetivo do capital, para sua reprodução, é a venda de mercadorias, independentemente de
quais, contanto que haja demanda.
Estudamos neste capítulo que o trabalho, segundo Marx, é a energia necessária para transformar
a natureza em algo que satisfaça as necessidades do homem, “sejam elas do estômago ou da fantasia”.
O homem, ao trabalhar, obtém o produto do seu trabalho, que deve satisfazê-lo. Com a complexificação
da Economia, por não ser possível produzir tudo que é necessário a si, o homem passou a concentrar sua
produção em poucos produtos e a trocá-los, o que, de maneira genérica, inicia a Economia. Assim, os
produtos passam a dotar dois valores: o valor de uso e o valor de troca.
Com a Revolução Industrial, a mecanização e a racionalização da produção, o valor de uso deixa de
ser um valor fundamental, já que o objetivo do capital, para sua reprodução, é a venda de mercadorias,
independentemente de quais, contanto que haja demanda.
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TRABALHO E PRODUÇÃO: A
4 ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA DA
SOCIEDADE
OBJETIVOS TÓPICOS
Conhecer conceitos sobre trabalho e 1. A produção;
produção; 2. O trabalho;
Compreender a importância dos pro- 3. Matéria-prima;
cessos produtivos e modos de produ- 4. Instrumentos de produção;
ção;
5. Forças produtivas e relações de produ-
Entender a aplicabilidade desse conhe- ção;
cimento.
6. Modos de produção;
7. O modo capitalista;
8. O modo socialista;
9. As novas relações de trabalho do sécu-
lo XXI;
10. A terceira onda: fonte de mudanças.
4.1 A Produção
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4.2 O Trabalho
Trabalho é toda atividade humana que re- lizado sem nenhuma aprendizagem, como, por
sulta em bens ou serviços. As atividades de um exemplo, o serviço de um servente de pedreiro.
operário numa fábrica, assim como as de um ven- É justamente a partir dessa classificação do
dedor numa loja, as de um professor numa esco- trabalho que são atribuídos os salários, ou seja,
la ou as de um médico num consultório, são con- o salário irá variar conforme o grau de capacita-
sideradas trabalho. Como denominou Karl Marx, ção ou qualificação do trabalhador, assim como
o trabalho, ou as atividades dos trabalhadores, é a necessidade específica de sua categoria profis-
uma das “forças produtivas” essenciais para a ma- sional. Numa sociedade tão dinâmica como a que
nutenção da própria sociedade. Segundo o setor vivemos, há também um dinamismo nas neces-
da Sociologia que tem o trabalho como objeto sidades de determinadas forças de trabalho. Por
de estudo, o trabalho é o resultado de dois tipos isso, historicamente, vimos aparecer e desapare-
de atividades: o manual e o intelectual, sendo cer categorias e/ou funções profissionais, que, de
que, dependendo do processo de produção, há tempos em tempos, criam-se, recriam-se, apare-
uma variação da proporção desses tipos de ativi- cem e desaparecem numa inconstância que só é
dades. O trabalho operário, por exemplo, pode- justificada por essa dinâmica social e econômica.
-se dizer que é mais manual que intelectual, po-
rém ainda exige o mínimo esforço intelectual. Já
podemos dizer que o trabalho de um engenheiro
é mais intelectual do que manual, mas não elimi- Multimídia
nando esse último por completo, pois ao enge- SUGESTÃO DE FILME
nheiro também se dá uma parcela manual, prin- Um filme interessante que contextualiza de
cipalmente no transporte de um projeto para o modo bem-humorado a divisão do trabalho é
Bee Movie (2007).
papel ou no manuseio de seus instrumentos de
trabalho.
Por isso, conforme o grau de capacitação
que se é exigido do profissional, teremos duas
classes de trabalho: o trabalho qualificado,
que só poderá ser realizado com o mínimo grau
de aprendizagem e conhecimento específicos,
como, por exemplo, o de um torneiro mecânico;
e o trabalho não qualificado, que pode ser rea-
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Sociologia do Trabalho
4.3 Matéria-Prima
Para se obter esses recursos, assim como Ao ignorarmos isso, estamos ignorando a própria
transformá-los em bens de consumo, são utili- relação de trabalho, a relação de produção, que
zados ferramentas, equipamentos e máquinas. também garante o desenvolvimento da socieda-
Tudo isso chamamos instrumentos de produção. de moderna como a conhecemos. São os meios
Porém, há outros instrumentos que também de produção que contribuíram com o desenvol-
contribuem com o processo, tais como: o próprio vimento da sociedade e de tudo que ela nos ofe-
local de trabalho, salas, iluminação, ventilação e rece.
todas as instalações necessárias à atividade pro-
dutiva. Por isso, quando se dá ênfase à manuten-
ção do meio ambiente de trabalho, sugerindo
aspectos e modelos de segurança e manuten-
ção de equipamentos e outros instrumentos de
produção, não estamos nos referindo apenas à
manutenção de bens materiais da empresa, mas
aos próprios instrumentos que garantem o pro-
cesso produtivo e o trabalho propriamente dito.
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Na atual sociedade capitalista, a combina- cialmente, ou seja, as relações produtivas são, an-
ção do trabalho com os meios de produção é cha- tes de tudo, relações sociais entre trabalhadores e
mada força produtiva, ou seja, o dono do capital proprietários dos meios de produção.
(o industrial ou o empresário) garante os meios Em momentos históricos distintos, a socie-
de produção, que são a matéria-prima e os instru- dade já conheceu algumas relações de produção
mentos de produção, enquanto os trabalhadores diferentes, como no Brasil colonial, por exemplo,
garantem a mão de obra (trabalho humano) ne- em que havia os senhores e seus escravos; na Eu-
cessária para a manutenção do processo produti- ropa feudal, os nobres e seus servos; e, na socieda-
vo. Como vimos em Karl Marx, é na relação entre de capitalista industrial moderna, os empresários
as forças produtivas que se determinam as rela- e seus assalariados, cada qual com suas relações
ções de produção. Essas relações, como já se dei- produtivas diferentes, o que determina, também,
xou claro, ocorrem entre quem garante os meios as relações sociais de cada época. Podemos dizer,
de produção e os que fornecem o trabalho hu- então, que as relações produtivas, ou de produ-
mano. Dependendo do modelo ou do modo de ção, determinam não apenas as relações das for-
produção de uma determinada sociedade num ças produtivas, mas também as próprias relações
momento histórico específico, haverá relações de internas de cada sociedade.
produção distintas, sendo estas reconhecidas so-
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divino pela Igreja Católica da época. Para melhor vés da produção local, e também detinha o poder
administrar seus domínios, os reis medievais di- político, determinando suas próprias leis.
vidiram seus reinos em “feudos”, que possuíam Entre os séculos XI e XVI, começou a surgir
vastas terras agrícolas de centenas de hectares de uma nova classe econômica, que determinaria o
terra arável. Administrando esse “feudo”, havia os surgimento de um novo processo econômico e,
senhores feudais, normalmente ex-generais ou mais tarde, um novo modo de produção: a bur-
parentes que recebiam títulos de nobreza confor- guesia. Essa burguesia era composta, principal-
me a quantidade de terra que detinham (para os mente, de pequenos comerciantes, que, livres das
condados havia o “conde”; para os ducados, o “du- amarras feudais, desenvolveram o mercantilis-
que”; e, para um grupo de condados, o “barão”). mo, base do sistema capitalista que viria a surgir a
Cada senhor feudal tinha poder econômico, atra- partir do século XVII.
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Segundo Karl Marx, em sua obra O capital, que antes seria do empresário. Dessa maneira, ou
o sistema capitalista, com seu modo de produção seja, através do modo de produção socialista, a
específico, estaria entrando em colapso dada a sociedade estaria garantindo seu caminho para
desarmonia entre suas forças produtivas, ou seja, um sistema mais harmonioso: o sistema comunis-
o não entendimento entre empresários e traba- ta, no qual não haveria mais a necessidade de o
lhadores, entre capital e mão de obra. Essa afir- Estado garantir os meios de produção, pois a pró-
mação se deu, principalmente, quando Marx es- pria comunidade cumpriria esse papel, e no qual
tudou as revoltas trabalhistas ocorridas no século acabariam as classes e as diferenças sociais.
XIX e percebeu que essas revoltas tinham como A história conheceu ao menos dois momen-
justificativa a exploração exacerbada dos empre- tos em que o socialismo e o modo de produção
sários sobre os trabalhadores. Para Marx, a garan- socialista existiu: a Comuna de Paris, durante o
tia da manutenção do capitalismo, assim como da início da Revolução Francesa, ainda sob os aspec-
própria sociedade, estaria comprometida. Have- tos utópicos do socialismo primitivo, e na antiga
ria a necessidade de se repensar tanto o sistema União Soviética, que, através de uma grande revo-
capitalista quanto seu modo de produção e as re- lução, tão importante quanto a Revolução Fran-
lações produtivas nele. Daí um novo pensamento cesa, colocou não só a Rússia como uma série de
surge das ideias de Marx e Engels: o socialismo. países sob a tutela socialista. Nesse último caso, o
Não tão novo como se pensa, pois, desde o socialismo científico pregado por Marx e Engels
século XVI, muitos filósofos e cientistas sociais o foi colocado em prática, mas com algumas refor-
tinham como fonte de suas pregações, o socialis- mulações, centralizando o poder da distribuição
mo primitivo era mais de cunho utópico, ou seja, dos meios de produção, da mão de obra e dos
impossível de ser praticado. Com os pensadores próprios bens oriundos dessa relação produtiva.
alemães Karl Marx e Friedrich Engels, o socialismo Essa experiência mostrou-se, anos depois,
ganha caráter científico, baseado em estudos e falida, dados os enormes problemas tecnológi-
discussões interdisciplinares de Economia, Polí- cos e de qualificação de mão de obra, além de
tica e Antropologia. Segundo eles, o capitalismo, um enorme território geográfico, impossível de
dado o seu dinamismo econômico e social, seria ser controlado sem burocracias, que engessaram
somente o início de um caminho que levaria a so- todo o sistema.
ciedade a um sistema econômico comunista, ou
seja, baseado na distribuição comunitária da pro-
dução. No entanto, para se chegar a isso, a socie-
dade e as relações produtivas tinham de mudar, Atenção
o que só seria possível através de um novo modo
Segundo Marx e Engels, as novas forças produ-
de produção que garantisse a harmonia desejada
tivas seriam o proletariado, uma vertente so-
entre as forças produtivas. cialista do trabalhador assalariado capitalista, e
Assim, o desenvolvimento de novas forças o Estado, o qual cumpriria o papel que antes
seria do empresário.
produtivas deveria acontecer. Essas forças produ-
tivas seriam, segundo Marx e Engels, o proletaria-
do e o Estado. O assim chamado proletariado se-
ria a vertente socialista do trabalhador assalariado
capitalista, enquanto o Estado cumpriria o papel
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No entanto, a partir do final do século XX, incremento das máquinas facilitou o rendimen-
muitos pensadores começaram a rever esses con- to do trabalho humano. Segundo Adam Schaff
ceitos de divisão histórica da sociedade humana, (1995), a segunda Revolução Industrial, que im-
particularmente quando começaram a ocorrer plantou novas configurações técnico-industriais
mudanças sociais sistemáticas e constantes, ad- a partir da microeletrônica, microbiologia e da
vindas dos novos sistemas de informação e co- energética, promoveu outro salto qualitativo,
municação baseadas na informática. No entender com a eliminação do trabalho humano em boa
de muitos pensadores, já na primeira Revolução parte dos casos, mas tanto com consequências
Industrial, ocorrida entre os séculos XVIII e XIX, o positivas quanto negativas. Para Schaff (1995),
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essa segunda revolução pode ser vista de duas ao deixar de ser nômade, desenvolve
maneiras: a primeira, mais otimista, aponta para um sistema social baseado no sistema
uma sociedade mais democrática e materialmen- de produção agrícola, ou seja, quando
te mais rica, pois as novas tecnologias realmente ele desenvolveu a arte do plantio, da
fornecem até mesmo redução das horas de tra- agricultura, produzindo seu próprio
balho e um rendimento produtivo maior. Além sustento e aprendendo a trabalhar a
disso, como já podemos sentir, essa segunda Re- terra (e, posteriormente, também os
volução Industrial aproxima culturas e promove animais). Basicamente, esse processo
uma universalização mais acirrada. No entanto, produtivo (a agricultura) diferenciou o
Schaff (1995) também mostra alguns caminhos homem dos outros animais, pois for-
um tanto negativos, tais como: a classe em declí- neceu a ele os quesitos necessários
nio, rumando ao totalitarismo; o poder nas mãos para sua organização social e cultural.
das multinacionais, interferindo na política inter- Durante esse longo período, a humani-
nacional; o fim das culturas locais e seus folclores dade desenvolveu, também, alguns sis-
únicos etc. temas produtivos, como o comunitário,
Contudo, há os que enxergam de maneira o escravista e o feudal, além de outros
diferente as mudanças promovidas pela socieda- sistemas relativos a eles. Nesse período,
de da informação. “A Informação será a maior mer- a base da formação da sociedade era,
cadoria a ser produzida pelo ser humano a partir tranquilamente, a agricultura. Assim,
do Século XXI”. Essa afirmação é do filósofo e so- podemos dizer que a 1ª onda durou até
ciólogo norte-americano Alvin Toffler (TOFFLER; o fim da Idade Média, quando do ad-
TOFLER, 1995), que, desde a década de 1970, vem vento da Revolução Industrial;
promovendo estudos relativos aos efeitos que a 2ª onda: nesta nova onda de mudan-
formação de uma rede mundial de informação ças, que surge com a Revolução Indus-
poderá trazer para a humanidade. trial, a própria sociedade se modifica,
Para entendermos o que Toffler quer nos pois, além de conhecer novas formas
dizer, precisamos compreender qual a lógica de trabalho (do produtor e mão de
desse seu pensamento. Segundo ele (TOFFLER; obra agrícolas ao industrial e mão de
TOFFLER, 1995), a História Econômica mostra obra qualificadas para a produção in-
que o desenvolvimento da humanidade se dá a dustrial seriada), conheceu novas re-
partir de grandes mudanças que os modelos de lações sociais e culturais que surgem
produção fornecem, ou seja, a sociedade humana daí: das pequenas “vilas” ou feudos para
deu grandes saltos de desenvolvimento a partir as grandes cidades (depois metrópo-
das mudanças nos processos de produção. Esses les), cujas bases estruturais já não mais
“saltos” foram chamados “ondas” pelo autor. Para eram os centros de produção agrícola,
ele, a metáfora das “ondas” explica, de forma sim- mas os grandes centros industriais, com
ples, o que tem ocorrido com o homem desde sua suas fábricas e todo um contingente de
Pré-História. Do mesmo modo que uma onda do trabalhadores semiqualificados para
mar, que, quando passa, modifica tudo que está a produção em série de produtos que
debaixo dela, as “ondas” tofflerianas também mo- iriam modificar as relações entre capital
dificam tudo por onde passam. e trabalho. Durante esse período (que
Toffler (TOFFLER; TOFFLER, 1995) esquema- basicamente perdurou até o século XX),
tiza dessa maneira: o homem conheceu uma diversidade
de produtos que transformou o modo
humano de estar e ver o mundo. A base
1ª onda: a primeira grande “onda” por
era estritamente industrial, pois agora a
qual o homem passou ocorreu quando,
agricultura estava em segundo plano e
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dependia totalmente dos processos in- ças quantitativas e qualitativas nas rela-
dustriais. ções culturais, cujas bases agora são os
Nessa 2ª onda, o homem pôde vislum- meios de comunicação de massa;
brar vários “sonhos”, antes utópicos, de 3ª onda: com o advento da indústria e,
uma sociedade mais justa, mais iguali- posteriormente, com as novas tecnolo-
tária, mais confortável. Mas, o que vimos gias, particularmente as da informação
não foi exatamente isso. As relações tra- e da comunicação, a sociedade se viu
balhistas que daí surgiram mostraram diante de um novo sistema social e cul-
ser tão desagradáveis quanto as escra- tural. A base agora não é mais os pro-
vistas da 1ª onda. Uma série de novos dutos oriundos da produção agrícola
problemas, como o abuso do poder do nem da produção industrial, mas sim da
capital (ou seja, dos donos das fábricas) produção da informação: daí o termo
com relação aos trabalhadores assala- ‘sociedade da informação’. Se, anterior-
riados, por exemplo, forneceu razões mente, a sociedade dependia do siste-
para uma grande crítica ao novo siste- ma de produção agrícola e, mais tarde,
ma, principalmente no século XIX, com do sistema de produção industrial, sem
diversos levantes trabalhistas sugerin- o detrimento do primeiro, agora a so-
do mudanças na forma de distribuição ciedade, assim como a agricultura e a
das rendas obtidas pela indústria. indústria, depende de um novo siste-
No entanto, não dá para negar que a ma, o de produção da informação.
Revolução Industrial também provo- Percebe-se que nem um nem outro
cou uma revolução no modo de agir e sistema descartam anterior, mas cria-
pensar do homem. Antes dela, o mun- -se uma interdependência, em que, de
do era muito maior, ou seja, antes das modo crescente, o anterior depende do
máquinas da Revolução Industrial, as posterior e assim por diante. Dessa ma-
distâncias eram muito maiores; o co- neira, a primeira riqueza produzida pela
mércio padecia da falta de estruturas sociedade, historicamente falando, foi
viárias; o conforto da vida social, a edu- retirada da agricultura; o segundo pe-
cação e a saúde públicas eram inviá- ríodo de riqueza surge dos processos
veis, oferecendo uma vida média de, industriais, que abraçaram a agricultu-
no máximo, trinta anos para o geral da ra; e o terceiro período de produção de
população. Com a 2ª onda, as distâncias riqueza agora está nas mãos do siste-
diminuíram, a idade média de vida da ma de informação, que tanto abraçou
população aumentou e, principalmen- a agricultura (sem informação não se
te, surgiram meios de informação e co- planta nem se colhe nada) quanto a in-
municação que permitiram com que o dústria (que depende totalmente dos
homem tivesse acesso às mais diversas processos gerados pelo sistema de in-
informações. formação, ou seja, basicamente de soft-
Do telégrafo à internet, passando pelo wares e tecnologias da informática).
rádio, pela televisão, pelo satélite e pelo Com essas tecnologias, também se sen-
computador, os mais diversos veícu- tem mudanças de âmbito político, eco-
los de informação e comunicação só nômico e cultural, através das quais a
puderam surgir com o advento da in- sociedade já percebe novos paradigmas
dústria. Dessa forma, além das grandes de comportamento, até mesmo familia-
mudanças provocadas nas relações de res. Por isso, entrar na 3ª onda não signi-
trabalho, também vimos surgir mudan- fica somente mudar comportamentos
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Quadro 2 – 3ª onda.
Bem, se o sistema de informação pode mo- dústrias para controlar, organizar e contabilizar a
dificar tanto as condições de produção da própria produção; os endereços pessoais de correio ele-
indústria, o que se pode falar do sistema cultural? trônico (e-mail) da internet, contribuindo na apro-
Ao entendermos que o “produto” final do sistema ximação das pessoas; até mesmo os programas
agrícola é toda a produção agrícola e pecuária, de TV e de rádio, que fornecem tanto informação
assim como o do sistema industrial é os produ- básica quanto entretenimento à população etc.;
tos industriais, como vestimentas, ferramentas, vimos, assim, uma série sem fim de utilização
objetos utilitários e uma série infindável de ma- dentro da atual sociedade, ao ponto de nos tor-
quinários que facilitam nossa vida, o sistema de narmos “dependentes” dessa estrutura, tal como
informação (ou informacional) oferece um bem a sociedade já foi da agricultura e dos produtos
genérico que não pode ser contabilizado como industriais. Vê-se, portanto, que um não descarta
“matéria”, mas como um bem “simbólico”, calcu- o outro, como foi visto anteriormente. Sente-se,
lável somente pelo seu caráter “imaterial”, porém porém, uma interdependência dos processos, ao
utilitário em toda nossa vida pessoal, social, tra- ponto de uma grande “convergência” de âmbito
balhista e cultural. digital, na qual informações agrícolas, industriais,
Grandes exemplos podem ser dados: os pessoais, comerciais etc. deverão estar totalmen-
softwares, ou programas, de computador, que são te inseridas nos próximos dez anos.
usados pela maioria (para não dizer todas) das in-
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Neste capítulo, estudamos a Economia, segundo o ponto de vista apresentado por Karl Marx, como
uma forma de compreender a organização da sociedade em classes e a importância do trabalho e da
renda na vida dos indivíduos em sociedade. Alguns dos conceitos utilizados pelo autor têm grande
importância na economia. São eles: mais-valia (mais valor), salário, lucro e preço.
Sabemos que mais-valia e lucro são diferentes, apesar de serem parecidos, já que um tem relação
à produção da mercadoria, enquanto o outro está ligado à circulação das mercadorias, não envolvendo
a produção de valor. Também sabemos que o salário tem uma função social específica, que possibilita
o surgimento da figura do “proletário”, ou seja, do trabalhador assalariado, que vende sua mão de obra.
“Para o aumento do mínimo de 2012 será utilizado o crescimento do PIB no ano de 2010. Por esse
mecanismo, considerando a inflação projetada para 2011 de 6% e um crescimento do PIB em 2010 de
7,5%, o aumento do salário mínimo será de 14% em 1º de janeiro de 2012.
[...] Com isso, ameaça disparar o gatilho dos preços em diversos setores da economia. Basta lem-
brar que, País afora, folhas de pagamento e preços oscilam com base justamente no salário mínimo.
Ao criar a lei, o governo não levou em conta que o aumento real dos salários deve ser obtido com
ganhos de produtividade. E corre o risco de transformar em perda para toda a sociedade aquilo que,
à primeira vista, pode parecer um ganho.”
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como pudemos perceber, os estudos sociológicos nos oferecem algumas possibilidades de am-
pliarmos nosso conhecimento sobre nós mesmos e a sociedades em que vivemos. São várias as áreas de
estudo referentes à Sociologia, entre elas a Antropologia, através da qual entendemos nossa produção
cultural, ou a Economia, pela qual compreendemos os processos de produção e distribuição de renda
etc.
Para a área do trabalho, os estudos sociológicos são referências para compreendermos os proces-
sos, as interações, os contatos e as aspirações sociais, sem as quais, como já vimos, não seria possível
nenhum processo de produção.
Compreender os meios de produção e as relações produtivas neste início de século sem entender
como e por que a própria sociedade os criou seria tentar entender a complexidade do Universo sem
conhecer o telescópio, ou seja, seria pura conjectura. Por isso, os estudos sociológicos, assim como suas
metodologias, contribuem para um conhecimento mais profundo do homem, seja de forma crítica, seja
de forma mais branda, reconhecendo a importância dos processos sociais, produtivos e econômicos,
assim como de seus agentes mais próximos.
Compreender as relações entre as classes sociais, assim como tudo aquilo que as gerou, significa,
então, reconhecer nossa participação, de alguma forma, nessas relações. Com isso, teremos a possibili-
dade de estendermos nossas relações em outros campos profissionais, na compreensão de nossa parti-
cipação direta ou indireta neles.
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RESPOSTAS COMENTADAS DAS
ATIVIDADES PROPOSTAS
Capítulo 1
Capítulo 2
1. Para Durkheim, os fatos sociais são fenômenos que existem no viver do indivíduo em socieda-
de. Possuem características coercitivas (normativas/restritivas), levando-o a conformarem-se
às regras da sociedade em que vivem, são aspectos preexistentes socialmente e alheios às
vontades e escolhas dos indivíduos, e ainda são generalistas – aplicam-se a todos os indivídu-
os que vivem em dada sociedade. Os fatos sociais, portanto, refletem crenças, valores e modos
de vida da sociedade observada. De acordo com essa inferência baseada em Durkheim, há
de se concluir que dos meios e condições externas de convivência, reflexos dos fatos sociais
e condicionantes necessárias para que haja o sujeito em sociedade, surge a constituição do
indivíduo.
Capítulo 3
1. O trabalho é a essência do homem, pois é o meio pelo qual nos relacionamos com a natureza
e a transformamos em bens, nos quais está o valor. O trabalho produz mercadoria, que possui
um valor de uso e um de valor de troca.
Capítulo 4
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REFERÊNCIAS
BEE movie. Direção de Steve Hickner e Simon J. Smith. Produção de Jerry Seinfeld e Christina Steinberg.
[S.l.]: DreamWorks, 2007. 1 DVD.
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico e outros textos. São Paulo: Abril, 1973. (Coleção Os
Pensadores).
FERREIRA, D. Manual de sociologia: dos clássicos à sociologia da informação. São Paulo: Atlas, 2001.
OLIVEIRA, P. S. Introdução à sociologia – série Brasil. 25. ed. São Paulo: Ática, 2006.
OLIVEIRA, S. L. Sociologia das organizações: uma análise do homem e das empresas no ambiente
competitivo. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
TOFFLER, A.; TOFFLER, H. Criando uma nova civilização: a política da terceira onda. Rio de Janeiro:
Record, 1995.
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