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Gostaria esta noite poder articular algumas idéias que nos permitam
adentrarmos nas determinantes que a psicanálise nos oferece para entender este
fenômeno,que a medicina e as neurociências chamam de Síndrome de
Desatenção e Hiperatividade,que tanto se há popularizado e que, sem resta-lhe o
valor diagnostico que pode ter para alguns casos restritos ,tem vindo a ocupar
um lugar de receptáculo de grande numero de distúrbios que não correspondem
as patologias clássicas
Sem duvida que é alarmante a futilidade que a adquirido hoje a
possibilidade de dar as crianças remédios que deixarão marcas profundas em
seu psiquismo, por este motivo e desde uma ética psicanalítica devemos lutar a
favor da desmedicalização das doenças infantis e denunciar os perigos dos
excessos no uso de medicamentos2,mas alem de contestar,se faz necessário
trabalhar desde a especificidade de nosso saber, que entende que as patologias
infantis se organizam como resposta as determinantes inconscientes que
circulam na difícil tarefa de se constituir como sujeito.
Em principio a psicanálise não caracteriza estas manifestações como
síndrome porque trabalhamos com o conceito de singularidade e vemos que
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Atention Desatention Disturb:ADD.Com ou sem Hiperquinesia:ADHD
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Tratei este tema com profundidade no texto “O Sintoma e a Madicalização”,in O sintoma e suas fases,Escuta
Sedes Org Lucia Fuks e Flavio Ferraz
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quase todos os índices que são apontados pela neuro- biologia relacionados a
esta patologia,aparecem de forma conjunta ou isolada, em numerosas estrutura
ou organizações infantis, algumas patológicas e outra sem este caráter,já que
poderiam ser compreendidas como formas normopaticas, que representam a
singularidade de um sujeito.
Nos esforçamos para não reduzir tudo a uma unidade
totalizante,preservando a multiplicidade e complexidades dos fenômenos
psíquicos.Freud utiliza os quadros psicopatológicos não como nomenclatura e
sim como uma aproximação que permite decifrar os modos de produção de
sintomas.Na clinica nos interessa apoiarmos mas na metapsicologia e menos nos
fenômenos descritivos Pelo exposto vemos que para o psicanalista o inventario
de rasgos de caráter e sintomas, só tem um valor relativo e pouco confiável, se
não estão remitidos ao conflito e alinhavados na perspectiva de uma vida e uma
historia que determina a trama do recalcado que os origina.
Só a modo de exemplo, tomaremos alguns dos índices,
( são mais o menos 22), apontados pela tabela que caracteriza as doenças
psíquicas no” Manual de Diagnostico Diferencial do DSM IV 1994,publicado em
2000 por Artmed), cuja presencia em numero de seis manifestações configuraria
o síndrome de Desatenção:
mas será que é mais importante o fenômeno que as causas que são o
suporte destes sintomas,Na medicina a tosse é uma manifestação que pode
corresponder desde uma tuberculoses a um engasgamento,ela em si nos diz
muito poço ao respeito da doença que esta por trás.
Não permanecer sentado em classe, ter dificuldades de brincar
calado,falar excessivamente...,nos perguntamos que dizem estes índices por si, se
não investigamos as causas que os produzem.Que quer dizer que uma criança
fale demais e não permaneça sentado.
Podemos pensar que estas manifestações não tem sentido?,Não.Para a
psicanálise estão nos falando de dificuldades no encontro com o outro, de
conflitos expressados deste modo, há motivações subjetivas da ordem do desejo
que subjazem a estas questões, ou impossibilidade de transformar em discurso a
força de um mundo pulsional que invade o Eu e se transforma em ato.
Parece poço provável que uma medicação possa atuar sobre elementos
tão diversos que falam mais da alma que do organismo.
Já temos visto numerosos deste signos,em conjunto ou por
separado,formando parte de estruturas neuróticas ou psicóticas,pensamos que
um remédio só reprimirá ou adormecera,contenderá o disfarçará o que esta nos
expressando a criança,mas nunca resolvera a dinâmica inconsciente responsável
pelo sintoma ou transtorno.
Penso uma psicanálise que se preocupa com o ponto de articulação do
inconsciente com o cultural,social histórico de sua época, resgato um Freud no
qual o social se presentifica no individual a partir do modo em que as instancias
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Sigmund Freud, Psicologia de las Masas y Análisis del Yo (1921, BS AS. Amorrortu,tomo 18)
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Ver em S. Freud, Formulações sobre los dos Princípios del acaecer Psíquico ( 1911)Bs As Amorrortu Vol 12
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Vou a dividir esta segunda abordagem em dois items que, segundo como
tenham sido transitadas, podem dar origem a transtornos da ordem da atenção e
do movimento.
a) Causas precoces que produzem falhas na formação do sujeito
decorrentes do recalque primário ou da relação com o outro.
b) Causas que se originam no recalcamento secundário, produzindo
sintomas, formações do inconsciente que se expressam na desatenção e a
hipercinecia.
rede que os protege do break dawn a criança vai integrando seus movimentos
com a rede virtual da mãe.
Desde a mãe o que seria puro soma na criança, se transforma em psique-
soma.. A medida que a criança consegue momentos mas estáveis de integração,
a mãe vá se distanciando e se colocando como aquela rede que protege,a
distancia os
Quando falha este processo de rede ,a criança pode aliena-se,obrar
torpemente o encontrasse em estado de desorientação.É capaz de existir sem a
capacidade de dirigir seu interesse e movimento. A desatenção se apresenta
como um filtro para deter a voragine,o perigo que representa uma mãe
incontinente que demanda permanente resposta,para ela se sustententar no
vazio que decorre da separação pos-parto.
As crianças que de bebés, viveram uma invasão constante, aprendem um
modo de funcionamento protegido que as mentem a certa distancia dos
acontecimentos que as solicitam.O porque vam de um estimulo a outro
hipercinecia ou porque se repliegan e aparecem como desatentas.Winnicot
poderia nos dizer que são modos de proteção frente a invasão materna.
Para terminar podemos pensar a hiperatividade e a desatenção como
sintomas neuróticos,produto do recalcamento secundário,uma vez que o Édipo
faz marca.
Nestes casos os conflitos estaram demarcados pela exigência feroz de um
ideal de Ego inatingível
Um ideal inalcançável que confronta com uma imagem produzida pelos
imperativos de um super eu demolidor. As identificações pelas quais se
encontraria a saída do complexo Edipico impõem ideais distantes,que se
tornam inalcançáveis e o novo jogo desatenção- hipercinesia podem aparecer
aqui como sintomas.A desatenção é uma forma de recusa de se defrontar o que
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meio com uma agitação não muito diferente da que acontece nos adultos que não
param um segundo para incluir em seu horário as múltiplas demandas sociais.
Ultimamente temos lido na mídia que um professor de Harvard sugere a
administração de metilfenidato a todas as crianças ,já que isto poderia melhorar
o aprendizado,elevando a media de rendimento escolar.
Se nos estados Unidos, em 1978 havia 500.000 crianças diagnosticadas e
medicadas por ADD e em 1987 havia 4.400.000 não podemos ser ingênuos e
negar que por trás destes numero há uma ideologia que tenta apagar os
conflitos, arrasando ao mesmo tempo com a liberdade,utilizando o remédio para
negar a palavra.
Esta ideologia responde como foi precisamente enunciado no manifesto
contra a medicalização producido nos estados gerais Patologizar é, reduzir à
categoria de doença inúmeras manifestações subjetivas e sociais que,
dessa forma, são submetidas ao domínio de especialistas da área da
saúde. Tal operação política - legitimada socialmente, através do uso
do argumento de autoridade de uma suposta ciência neutra - destitui
os sujeitos de seu saber e aliena-os em relação a seus próprios corpos,
mentes e existências.
Frente a isto como psicanalistas temos o compromisso ético de denunciar
este movimento, e ao mesmo tempo pensar as causas que originam estas
dificuldades que crescem assustadoramente ,mas que como as depressões e aos
pânicos não podem ser relegadas ao campo da pura sustância orgânica.
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