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Capítulo 1
Divisões e Ramos:
Constituição dos direitos fundamentais: consagra os direitos e liberdades dos
particulares perante o Estado (Parte I da CRP- Art.12º até Art.79º);
Constituição económica e social: tem por objeto as normas constitucionais relativas
à esfera económica e social (Parte II da CRP- Art.80º até Art.107º);
Constituição política: organização e funcionamento dos órgãos do Estado (Parte III
da CRP- Art.108º até Art.276º);
Constituição garantística ou Justiça e o processo constitucional : regime da
fiscalização da constitucionalidade e processo nos tribunais constitucionais ou com
funções constitucionais (Parte IV da CRP- Art.277º até art.289º).
Direito constitucional como direito público: Na dicotomia entre direito público e direito
privado, o DC pertence irrefutavelmente ao direito público, qualquer que seja o critério
utilizado para operar a distinção:
Critério da natureza dos sujeitos, pois estão em causa, justamente, entidades e
órgãos eminentemente públicos;
Critério dos interesses em jogo, visto que o DC visa, justamente, regular a esfera
pública e estão em causa os mais eminentes interesses públicos;
Critério das naturezas das relações, pois trata-se de relações marcadas pelo poder e
autoridade pública em relação aos particulares (relações de autoridade e de
subordinação).
Ciência do DC: A ciência do DC é o saber que tem por objeto, ou seja, é aquilo que os
constitucionalista fazem, designadamente o estudo dos princípios e normas
constitucionais, a sua interpretação, integração, sistematização e explicação. A ciência do
DC compreende, também, diversos ramos:
Direito constitucional geral: estudo da constituição e da ordem constitucional, em
geral, sem considerar nenhuma constituição em especial;
Direito constitucional comparado: estudo “transversal” das instituições
constitucionais dos diversos países ou “famílias” constitucionais, confrontando as
diferentes soluções em cada área;
Direito constitucional nacional: estudo da constituição de cada país.
Capítulo 2
Constitucionalismo
Características da constituição:
Poder constituinte: é o poder de fazer uma nova constituição, que emite a constituição e
que assim que constitui juridicamente o Estado e os poderes públicos. É um poder
originário, pré-constitucional e em princípio ilimitado.
Poder constituinte democrático: é exercido diretamente pelo povo (referendo) ou
pelos seus representantes (assembleia constituinte);
Poder constituinte autocrático: é exercido diretamente pelos titulares do poder
político;
Procedimento constituinte:
Fase pré-constituinte: decisões pré-constituintes formais:
oAcionamento do procedimento constituinte;
oEscolha do procedimento constituinte;
oAdoção de leis constitucionais transitórias;
Fase constituinte: elaboração e aprovação da constituição, segundo um
determinado procedimento constituinte;
Compromisso constituinte: a constituição resulta do debate deliberativo entre as
diversas forças políticas.
Modificações das constituições: As constituições podem mudar de conteúdo de maneira
mais ou menos profunda, embora, mantendo a sua entidade sem serem substituídos
por outras. E podem mesmo ser substituídas por outras sem nova manifestação formal
do poder constituinte.
Revisões constitucionais:
Mutações constitucionais: induzidas pela mudança de interpretação e de aplicação
da constituição, pela falta ou défice de aplicação legislativa e jurisprudencial da
constituição. Operam de forma lenta e furtiva, por efeito de acumulação de
sucessivos elementos. São instrumentos informais de adaptação das constituições à
realidade constitucional;
Transição ou metamorfose constitucional: ocorre por efeito da união de estados ou
de integração federal ou parafederal de estados. Podem, também, consistir na
mudança da natureza do regime político;
Rutura Constitucional: a constituição é normalmente a mesma, mas deu-se uma
descontinuidade da legitimidade constitucional através da sua modificação por um
poder de revisão constitucional anómalo.
Finalidades da revisão Constitucional:
Atualizar a ordem constitucional, adequando-a à realidade constitucional;
Interpretar a ordem constitucional, estabelecendo novos critérios de interpretação
em aspetos que tenham ficado por esclarecer e que, em muitos casos, só a prática
constitucional permite detetar;
Completar a ordem constitucional, suprindo falhas e lacunas nas respetivas
disposições, para além de introduzir novos instrumentos.
Limites na CRP da revisão constitucional:
Limites orgânicos: atribuição do poder de revisão a certo órgão, em regime de
exclusividade dentro da partilha geral do poder legislativo pelos órgãos de
soberania (AR);
Limites temporais: impedem o exercício do poder de revisão a qualquer momento,
obedecendo a certos limites de tempo;
Limites formais: regras que introduzem particularidades em determinadas fases do
processo de revisão constitucional (maiorias agravadas);
Limites circunstanciais: regras que vedam a expressão do poder de revisão
constitucional na vigência de situações de exceção constitucional, assim
defendendo a verdade e o livre consentimento da vontade de mudar a Constituição
(estado sítio ou emergência);
Limites materiais: afastam do poder de revisão um conjunto de matérias, valores,
princípios ou institutos que integram o núcleo essencial do texto constitucional,
pondo em causa a identidade constitucional.
Cláusulas pétreas: limites materiais de revisão constitucional (288º), ou seja, matéria
não suscetível de alteração em sede de revisão constitucional, por serem elementos
fundamentais da identidade constitucional.
Fim das constituições: As constituições não têm vocação de vigência eterna. Guerras,
revoluções e golpes de Estado, cisões e fusões de Estados, autodeterminação e
secessão de Estados, provocam interrupções mais ou menos frequentes da
continuidade constitucional, exigindo nova manifestação de poder constituinte.
Desde o início da era constitucional, há mais de duzentos anos, as mudanças
constitucionais têm-se feito por vagas, acompanhando a história política. A
consolidação democrática em muitos países diminui o grau de rotatividade
constitucional, aumentando a longevidade média das constituições vigentes. E o
triunfo global do constitucionalismo liberal-democrático, assente sobre a
democracia representativa, os direitos fundamentais e a separação de poderes
tornam as constituições mais homogéneas, mais comparáveis e também mais
estáveis, por beneficiarem da sua legitimidade democrática.
Capítulo 3
A constituição constitui a norma suprema dos poderes públicos, que a têm de observar
na sua organização e funcionamento e que a têm de imprimir e implementar na sua
ação, sob pena de ilegitimidade constitucional (inconstitucionalidade).
A constituição é a norma fundamental da ordem jurídica, ou lei suprema, num duplo
sentido:
Capítulo 4
Brasil: O Brasil revelou uma notável estabilidade constitucional durante quase todo o
séc. XIX, sob monarquia constitucional. No entanto, nos cem anos seguintes à
implantação da República (1889) até à atual Constituição (1988), teve 5 constituições. Os
principais traços da Constituição de 1988 são:
Estado federal, com 26 estados federados. Os municípios são considerados
unidades federadas e não formas d descentralização dos estados federados;
Amplo bill rights;
República presidencialista, com eleição direta do Presidente da República por
maioria absoluta;
Duas câmaras federais: a Câmara dos Deputados, em representação dos cidadãos
da União, e o Senado, em representação igualitária dos estados federados;
Sistema eleitoral proporcional na eleição do Congresso;
Forte independência do poder judicial;
Sistema misto de fiscalização da constitucionalidade.
PALOPs: Todos os países africanos de língua oficial portuguesa (PALOPs) passaram por
dois regimes constitucionais muito distintos.
As constituições pós-coloniais de “democracia popular”: O primeiro período
constitucional foi caraterizado por regimes de partido oficial único. Os principais
traços comuns desse período constitucional:
oPrincípio da unidade do poder;
oPapel dirigente do partido oficial identificado com o movimento de libertação
do país;
oAbundância de fórmulas ideológicos de cariz marxista-leninista;
oColetivização das terras e nacionalizações generalizadas - Preferência pelos
direitos económicos, socias e culturais e restrição acentuada das liberdades
públicas e repressão das dissidências ou da oposição.
A transição democrática e consagração do Estado de direito democrático : O
segundo período constitucional inicia-se no princípio dos anos 90 do século passado
e é caracterizado pela liberalização política e económica e pela transição para
regimes de democracia pluripartidária. A transição constitucional implicou a
substituição da “democracia popular” pela democracia representativa, da unidade e
concentração do poder pela separação de poderes, do sistema de partido oficial
pelo pluralismo partidário, da repressão das liberdades pelo seu reconhecimento,
da economia coletivista pela economia de mercado.
A terceira geração de constituições: transição democrática do início dos anos 90 do
século passado foi efetuada por meio de revisões parciais das constituições
originárias e conduzida pelos partidos oficiais no poder. Sentiu-se a necessidade de
substituir integralmente as constituições primitivas por novas constituições mais
condizentes com o regime da democracia pluralista e da economia de mercado
entretanto consolidado. Essa terceira fase constitucional implicou também uma
diversificação do sistema de governo em relação ao semipresidencialismo adotado
na transição constitucional, ora num sentido mais parlamentarista.
Timor-Leste: Ao contrário dos países africanos de língua oficial portuguesa, Timor não
passou pela fase marxista-leninista daqueles. A sua primeira constituição, de 2002, foi
elaborada por uma assembleia constituinte eleita em 2001 e obedece aos cânones do
Estado de direito democrático, assente na democracia pluripartidária e na economia de
mercado.
Estado unitário com autonomia do poder local;
Amplo catálogo de direitos fundamentais;
Três órgãos do poder político: Presidente da República diretamente eleito por
maioria absoluta, parlamento unicameral eleito pelo sistema proporcional e
Governo designado pelo Presidente da Republica;
Sistema de governo semipresidencialista;
Fiscalização judicial da constitucionalidade;
Limites à revisão constitucional.
Capítulo 5
oPrincípio representativo (arts. 26º, 27º, 32º, 94º): Como foi antecipado,
sendo a Nação uma entidade abstrata, é necessário que o poder de que ela é
titular seja exercido, em nome dela, por “representantes legalmente eleitos”
(art. 26º).
Forma de Estado: Foi adotada, como forma de Estado, a monarquia hereditária (art.
4º). A submissão do monarca aos esquemas constitucionais atesta que o que está
em causa é uma monarquia constitucional, de natureza dualista, com partilha do
poder entre o soberano e o povo, supostamente representado nas cortes.
A Constituição de 1838:
Contexto histórico-político: A Carta Constitucional vigorou somente até 1828,
terminando com a restauração absolutista por D. Miguel. De 1828 a 1834 verifica-se um
novo período de interregno do regime constitucional, culminando com uma guerra civil
entre 1832-34, entre liberais e absolutistas. Com a vitória dos liberais, é restaurada a
Carta Constitucional. É reposta em vigor a Constituição de 1822 (segundo período de
vigência: 1836-38). Mas não tardou a ser eleita uma assembleia constituinte, que viria a
aprovar a Constituição de 1838.
Procedimento constituinte: A Constituição de 1838 foi elaborada por uma assembleia
constituinte eleita pelo povo, as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes.
Inicialmente pretendia-se apenas que as Cortes revissem a Constituição de 1822.
Ulteriormente, porém, ser-lhe-iam concedidos poderes constituintes para fazer uma
nova constituição. Depois de discutida e votada nas Cortes, ela foi submetida à
aprovação da Rainha D. Maria II, que a aceitou e jurou.
A feitura do texto constitucional seria assim o produto de uma cooperação entre as
Cortes e a monarca, resultando, pois, de um concurso de duas vontades, a real e a
parlamentar.
Consoante se atribua ou não valor jurídico constitutivo aos atos praticados pelo
monarca, poder-se-á dizer que foi utilizado um procedimento constituinte misto
representativo-monárquico ou um procedimento constituinte representativo ou
indireto.
Principais influências recebidas: A nova Constituição é essencialmente um compromisso
entre as duas que a precederam. Menos radical do que a de 1820, menos conservadora
do que a Carta de 1826.
Por isso, a Constituição de 1838 foi influenciada essencialmente pelas duas constituições
portuguesas anteriores, sendo em certo sentido uma combinação dos traços de ambas.
Da Constituição de 1822 reteve-se (a teoria da soberania nacional, a inexistência do
poder moderador e o sufrágio direto na eleição dos deputados). Da Carta Constitucional
de 1826 reteve-se (o bicameralismo do parlamento e a amplidão dos poderes do
monarca).
Influenciaram ainda a Constituição de 1838 a Carta Constitucional francesa de 1830, a
Constituição belga de 1831 e a Constituição espanhola de 1837.
A Constituição de 1911:
Contexto histórico-político: A crise da Monarquia desencadeia-se no final do século XIX,
dando lugar ao nascimento e crescimento rápido do Partido Republicano.
Vários foram os acontecimentos histórico-políticos que provocaram ou ajudaram à
decadência do regime monárquico. Destacam-se a o Ultimato inglês de 1890, a crise
económica e financeira, a desagregação dos partidos monárquicos com sucessivas
dissidências, a conivência régia com a repressão do “franquismo” e o regicídio em 1908,
o qual apressaria os acontecimentos subsequentes.
A primeira tentativa de revolução republicana teve lugar em 31 de janeiro de 1891, no
Porto. Mas a implantação da República só viria a ocorrer na sequência da Revolução de
5 de outubro de 1910. Com o fim do constitucionalismo monárquico, o
constitucionalismo republicano inicia-se com a eleição de uma assembleia constituinte e
a consequente feitura da Constituição de 1911.
Procedimento constituinte: Foi empregue um procedimento constituinte representativo
ou indireto.
A Constituição de 1911 foi elaborada e aprovada por uma assembleia constituinte eleita
pelo povo, Assembleia Nacional Constituinte. Esta assembleia especial não se limitou a
elaborar o texto constitucional, tendo-o também aprovado. Representa, deste modo,
uma assembleia constituinte soberana.
Principais influências recebidas: As Constituições republicanas suíça e brasileira (ambas
de 1891) são habitualmente referenciadas como as principais fontes de inspiração do
primeiro texto constitucional republicano.
Da Constituição suíça de 1891 reteve-se a impossibilidade de dissolução das câmaras
pelo Presidente da República e o referendo local. Da Constituição brasileira de 1891
reteve-se a fiscalização judicial da constitucionalidade das leis, o habeas corpus, a
equiparação de direitos entre portugueses e estrangeiros, etc.
Registam-se também influências das constituições monárquicas portuguesas e da
prática da III República francesa.
Direitos fundamentais: A nossa primeira constituição republicana possui um catálogo de
direitos fundamentais ainda muito marcados pelo individualismo liberal. Muitos dos
direitos fundamentais aí consagrados são ainda direitos de defesa do indivíduo contra o
Estado.
Encontramos, por um lado, a consagração da proibição da pena de morte, do direito de
habeas corpus, da liberdade de religião e culto. Por outro lado, é instituído um
igualitarismo jurídico-político, com a consequente extinção dos títulos nobiliárquicos.
É de assinalar a adoção de uma cláusula aberta ou de não tipicidade dos direitos
fundamentais, ou seja, admite-se a existência de direitos individuais fora da
Constituição.
A Constituição de 1933:
Contexto histórico-político: A revolução de 28 de maio de 1926 deu início a um período
de Ditadura militar, que durou até 1933.
Esta nova experiência revolucionária foi considerada inicialmente apenas como uma
tentativa de combater as deformações do regime parlamentar da Constituição de 1911,
causadas pela prática política. O principal objetivo a alcançar era o de pôr termo à
grande instabilidade política que marcou a I República.
A tentativa de corrigir a República dava lugar a um projeto mais ambicioso, tendente a
pôr fim à República parlamentar e a instituir um regime conservador autoritário.
Nesse sentido, a seu tempo a questão de uma nova Constituição veio a ser colocada. Em
1933, sete anos depois do golpe de Estado, o homem forte do novo regime (Salazar,
nessa altura já chefe do Governo), elaborava e submetia diretamente a plebiscito
nacional aquilo que veio a ser a Constituição do “Estado Novo”.
Procedimento constituinte: Em virtude do forte sentimento antiparlamentarista que se
fazia sentir na época, optou-se por um procedimento constituinte direto. Foi criado um
Conselho Político Nacional ao qual caberia apreciar projetos de constituição que fossem
apresentados.
Apreciado e aceite pelo Conselho Político Nacional o projeto de constituição seria
ulteriormente submetido a uma consulta popular a 19 março de 1933. O voto era
obrigatório e as abstenções valiam como voto a favor da Constituição.
De acordo com os resultados oficiais, a maioria dos portugueses com direito de voto
aceitou o projeto. Com a data oficial de 11 de abril de 1933 (data da publicação dos
resultados do referendo), a Constituição entrou em vigor em 23 de setembro do mesmo
ano.
Principais influências recebidas: Não existirá nenhum texto constitucional estrangeiro
que tenha influenciado de forma genérica a Constituição de 1933. Notam-se algumas
influências estrangeiras, designadamente da Constituição imperial alemã de 1875
(sistema de governo), da Constituição de Weimar (quanto à figura do Presidente da
República) e da experiência fascista italiana. Mas as raízes maiores da Constituição de
1933 encontram-se tanto na Carta Constitucional de 1826, como na própria Constituição
de 1911.
Direitos fundamentais: Contradições entre o texto constitucional e a prática ao nível dos
direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Consagração dos direitos anteriores e
acrescento de outros: Direito à vida e à integridade pessoal, direito ao bom nome e à
reputação, direito a instrução contraditória no processo criminal, direito à reparação de
toda a lesão efetiva, sendo pecuniária relativamente às lesões morais.
Organização do poder político:
Os principais princípios orientadores:
oPrincípio da soberania nacional (art. 71º): A Constituição de 1933 acentuava
especialmente o princípio da soberania nacional face ao exterior. E, em
correspondência com a ideologia corporativa, os “elementos estruturais da
Nação” incluíam sobretudo as famílias, as organizações sociais e os
organismos corporativos.
oPrincípio republicano (art. 5º): Embora radicalmente hostil ao
constitucionalismo da I República e a tudo o que ele significava e contasse
também com o apoio dos setores monárquicos remanescentes, a
Constituição do Estado Novo manteve fidelidade ao princípio republicana,
sendo o chefe do Estado um presidente da República, diretamente eleito.
Todavia a maior parte dos princípios republicanos originários (liberalismo,
democracia, laicidade) foram afastados ou altamente restringidos.
oPrincípio corporativo (art. 5º): Nos termos do artigo 5º da Constituição,
Portugal era uma “república corporativa”.
Esta afirmação constituía uma reação ao individualismo liberal. Em termos
políticos, isto significava o reconhecimento de que a Nação não assentava
apenas nos indivíduos — assentava igualmente numa série de “corpos
intermédios”, entre os quais se salientam a família, a Igreja e as autarquias
locais, bem como os organismos corporativos propriamente ditos, que eram
oficiais e únicos, por vezes de inscrição obrigatória.
oPrincípio da separação dos poderes: O texto constitucional de 1933 não faz
referência expressa ao princípio da separação dos poderes, apenas
mencionando a existência de órgãos de soberania (art. 71º).
Poder legislativo: foi confiado apenas à Assembleia Nacional (art. 91º),
concebida como um parlamento de base eletiva (art. 85º). Mas, o
Governo gozava desde o início da faculdade de emitir legislação quando
a Assembleia se não encontrasse reunida, bem como em casos de
urgência. Por esta via o Governo em breve se tornou o órgão legislativo
quase exclusivo. Na revisão de 1945, este poder legislativo do Governo
paralelo à Assembleia Nacional foi expressamente constitucionalizado.
Poder executivo: foi atribuído ao Governo, órgão colegial composto pelo
Presidente do Conselho e seus Ministros (art. 106º). O presidente do
Conselho era nomeado livremente pelo Presidente da República e só era
responsável perante ele, sendo o Governo independente de votações da
Assembleia Nacional.
Quarto Poder: A Constituição de 1933 restaurou uma espécie de quarto
poder, à maneira da carta Constitucional, investido no Presidente da
República. Este era diretamente eleito (até à revisão constitucional de
1969), o seu mandato era longo (sete anos) e tinha importantes poderes
independentes.
No sistema político do Estado Novo há a destacar a Câmara Corporativa,
composta por representantes das autarquias locais e dos interesses
sociais (art. 102º). Era um órgão consultivo (art. 103º), competindo-lhe
relatar e dar parecer sobre todas as propostas e projetos de lei e sobre
todas as convenções internacionais que fossem apresentados à
Assembleia Nacional, era, pois, um órgão auxiliar desta última, e mais
tarde também do Governo. Refira-se ainda a existência de um Conselho
de Estado (art. 83º), também ele um órgão de natureza consultiva, cuja
função era de assessorar o Chefe de Estado.
Capítulo 6
A Constituição de 1976:
Origem e influências:
Origem: A Constituição da República Portuguesa, de 2 de abril de 1976, começou por ser
uma criação da revolução de 25 de Abril de 1974. A revolução pôs fim ao regime do
“Estado Novo” e pôs termo à vigência da Constituição que lhe serviu de suporte (a
Constituição de 1933). Uma nova Constituição era, na verdade, um dos objetivos
primordiais da revolução.
A Assembleia Constituinte veio a ser eleita um ano depois, a 25 de abril de 1975, para
preparar um novo texto constitucional.
A Constituição foi efetivamente concluída tendo entrado em vigor em 25 de abril de
1976, dois anos após a revolução.
Fontes:
Imediatas:
oProjetos apresentados à Assembleia Constituinte pelos vários partidos
políticos;
oA segunda “Plataforma de Acordo Constitucional”, celebrada em fevereiro de
1976 entre o Conselho da Revolução e os partidos representados na
Assembleia Constituinte (PS, PPD, PCP, CDS e MDP/CDE), para substituir o
acordo anteriormente firmado em abril de 1975, que os projetos daqueles
partidos incorporavam.
Mediatas:
oOs textos constitucionais revolucionários, designadamente, o próprio
Programa do MFA e a Lei nº 5/75, de 14 de maio, que institucionalizou o MFA
e criou o Conselho da Revolução;
oOs documentos e as proclamações revolucionários, de carácter doutrinário
ou não, saídos a público especialmente no Verão de 1975;
oOs estudos e as propostas vindos então a lume e que influenciaram alguns
dos projetos apresentados na AC.
A transformação da CRP :
As revisões constitucionais:
A primeira revisão (LC nº 1/82, de 30/9):
oA substancial diminuição da componente ideológico-programática que
caracterizava a versão primitiva da CRP;
oA eliminação do Conselho da Revolução e criação do TC.
oA mudança do sistema de governo, deixando o Governo de ser responsável
perante o Presidente da República, que perdeu o poder ordinário de o
demitir.
A segunda revisão (LC nº 1/89, de 8/7):
oA flexibilização da constituição económica, através de numerosas alterações
de natureza estrutural e conceptual, destacando-se a eliminação do princípio
da irreversibilidade das nacionalizações (passando a ser admitidas as
privatizações), o aligeiramento das imposições constitucionais em matéria de
reforma agrária (tendo sido suprimida esta mesma expressão) e de
planeamento económico (que foi esvaziado);
oEliminação de limites materiais.
oCriação da figura das “leis orgânicas”, com processo de formação específico e
valor normativo reforçado em relação às leis ordinárias.
A CRP como lei constitucional: A CRP é uma lei diferente das outras, é uma lei específica.
Essa especificidade está logo na forma especial da sua elaboração, através de uma
Assembleia Constituinte especialmente eleita para o efeito.
A CRP é uma lei necessária, no sentido de que não pode ser dispensada ou revogada,
mas apenas modificada.
É uma lei hierarquicamente superior, a lei fundamental, a lei básica, que se encontra no
vértice da ordem jurídica, à qual todas as leis, e normas jurídicas em geral, têm de
submeter-se.