apresentar uma abordagem do que já vem sendo feito no contexto das escolas (públicas), mas
chama a atenção para uma nova visão e uma forma de desconstruir conceitos e ideias antigas sobre
as propostas pedagógicas.
Trazendo a possibilidade de enriquecer os projetos educacionais e a produção cultural
destes decorrente por meio de uma visão mais abrangente, que aborde o ser humano e sua
multiplicidade de contextos, originados por aspectos sociais, culturais, econômicos, religiosos etc.
No embasamento desta abordagem, o conteúdo do curso apresenta ideias e concepções do
sociólogo e filósofo Edgar Morin (1998; 2000), cuja produção intelectual aprofunda-se na teoria
da complexidade, que é assim descrita por Nardi (2019, p. 18):
(...) em busca de uma teoria que considere os diferentes elementos que compõem a alta
complexidade na caracterização do ser humano, nos amparamos na teoria da
complexidade de Edgar Morin, cujos elementos proporcionam o balizamento teórico dos
conteúdos que estudaremos. Em sua obra Ciência com consciência, o autor em questão
nos convida a pensar sobre a complexidade, não como uma possibilidade de receita ou
resposta às nossas indagações, mas como um grande desafio e mecanismo de motivação
intrínseca para o pensar. Além disso, longe desta teoria produzir completude ao
conhecimento humano, ela se propõe a tratar da “incompletude do conhecimento
humano” (MORIN, 1998, p. 176).
A Teoria apresentada por Morin (1998, p. 176) busca apresentar o ser humanos como um
ser complexo, produto da multiplicidade de fatores a qual está exposto em seus contextos e também
à complexidade de sua própria formação como ser físico e psíquico. Ao pensarmos neste aspecto
sem considerar esta complexidade, acabamos por fragmentar esses fatores. Desta forma, conclui-
se que o pensamento complexo almeja expor que não há uma definição que complete o ser humano
e nem uma certeza final que já esteja definida. Para o filósofo, a porta do conhecimento nunca se
fecha, o copo nunca enche, pois caso pensasse assim, poderia ter a impressão de que havia chegado
ao fim de um conhecimento, o que para ele não deve acontecer.
No contexto histórico há uma dificuldade em se fazer uma fiel linha do tempo em que
possamos reconhecer a infância, pois nas mais diferentes culturas mundiais, muitas vezes este era
um personagem sem figuração, assim como a mulher. De acordo com Nardi (2019, p. 23), no
decorrer da história humana “a criança já foi alijada da análise histórica”. O autor cita também os
estudos de Mause apud Piedrahita (2001) e Áries (1986), cujos conteúdos culminam na análise do
personagem infantil no contexto histórico e chegam à conclusão de que as crianças eram expostas
a maldades e não eram vistas como seres passíveis de respeito e dignidade. Áries (1986, apud
NARDI, 2019, p.24), revela que:
(...) em seus elementos centrais de suas argumentações relativas à infância é considerado
uma “descoberta” dos tempos modernos, ou seja, antigamente a criança não tinha o
mesmo estatuto de ser humano tal qual um indivíduo adulto e, consequentemente, não era
respeitada em sua dignidade humana, o que a tornou vítima dos mais variados caprichos
e omissões.
Nardi (2019, p.26) apresenta em seu texto várias análises de Áries (1986), que buscou fazer
um recorte sobre a representatividade da criança ao longo dos séculos, relatando desde a exposição
delas ao infanticídio nos tempos romanos, passando pelas eras medievais, quando a formação de
uma família suplantou a prática do infanticídio, também fez uma análise da forma como as crianças
eram retratadas nas obras de arte e a sua desimportância no contexto da Idade Média, onde não
havia citações relacionadas às crianças mortas. O autor também observou que de acosto com as
representações em pinturas, as crianças foram aos poucos sendo retratadas com maior
fidedignidade. A partir do século 16, a criança das famílias de melhores condições, do sexo
masculino, tinha vestes específicas. Nesta época também o autor afirma que havia um vínculo
afetivo maior entre os adultos e as crianças. De acordo com Áries (1986, apud NARDI, 2019,
p.32):
(...) começa a emergir, nos mais variados textos, a ideia de que a criança é um ser especial,
frágil e que necessita de cuidados especiais. Por fim, consideramos necessário apresentar,
ainda que brevemente, dado as especificidades de nossos objetivos, outros elementos que
favoreceram o surgimento deste sentimento que nutrimos na atualidade para com as
crianças, e, dentre estes, o surgimento da escolarização. No princípio, a escolarização
somente era fornecida aos meninos da nobreza, no entanto, à medida que se ampliam a
concepção de cidadania, em países como a Inglaterra e França, meninas e crianças de
níveis sócio-econômico inferiores também passam a ter esse direito.
Ainda, baseado o trabalho realizado por Vygotsky, em sua obra A Formação Social da
Mente (1998), Nardi (2019, p.66) afirma que subtraiu as seguintes conclusões, com relação ao
desenvolvimento infantil:
1) A criança é vista como um ser que busca ativamente o conhecimento; 2) A mente
humana é construída socialmente, ou seja, é por intermédio das nossas relações sociais,
com nossos amigos, família, sociedade etc., que se constrói a nossa mentalidade; 3) A
criança, desde o momento em que nasce, possui capacidade de memória, percepção
(exercitar os sentidos) e atenção; 4) A criança e o seu meio ambiente interagem juntos,
propiciando o desenvolvimento cognitivo mediante um modo culturalmente adaptativo;
5) O desenvolvimento advém do contato da criança com o seu meio ambiente.
Para Nardi (2019, p.66) ZPD, podem ser entendidos como “aqueles comportamentos e
conhecimentos que estão prestes e emergir em detrimento de todos os outros que poderão vir a
surgir”. Seriam então brotos do desenvolvimento, sendo considerado o desenvolvimento real,
quando a criança consegue sozinha encontrar as respostas necessárias para a solução dos
problemas apresentados a ela.
Sobre o desenvolvimento potencial, Nardi (2019, p. 70), explica que se trata da capacidade
latente da criança de resolver um problema, mas que carece da intervenção de um adulto para
orientá-la a conseguir, por meio de “imitação dos atos e processos vistos, a troca de informações
e experiências que nutram a criança com elementos necessários para conhecer a tarefa proposta
etc.”
IMPORTÂNCIA DO BRINCAR: O brincar tem uma relevância tão grande que, nas palavras de
Nardi (2019) Apud Ginsburg (2007), ele afirma que "brincar é tão importante para favorecer o
desenvolvimento infantil que foi reconhecido pela Alta Comissária para os Direitos Humanos das
Nações Unidas" (GINSBURG, 2007, p. 182). Para Nardi (2019, p.80):
Brincar possibilita à criança usar a sua criatividade enquanto desenvolve a sua
imaginação, destreza, e forças física, cognitiva e emocional. Brincar é importante para o
desenvolvimento cerebral. É através do jogo que a criança ainda muito cedo engaja-se e
interage com o mundo ao seu redor. Brincar possibilita à criança criar e explorar o mundo
que eles podem controlar, vencendo seus medos enquanto pratica as regras do mundo
adulto [...] o brincar ajuda a criança a desenvolver novas competências que a levam a
desenvolver confiança e resiliência que irão necessitar para fazer face aos futuros
desafios. Jogos não dirigidos possibilitam à criança a aprender como trabalhar em grupo,
tomar parte, negociar, resolver conflitos e aprender habilidades de auto-defesa.
Referências:
NARDI, E. R. Brincar é coisa séria. Batatais. 2019.