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O que é Cabala:

Cabala é o nome de uma ciência oculta ligada ao Judaísmo, mas é também


um termo usado com o significado de trama, intriga secreta,conspiração.
Para evitar confusões com o sentido figurado, alguns estudiosos defendem que
a pronúncia correta da doutrina filosófica em Português seja "cabalá", e não
"cabála" (tal como pronunciada no original"qabbalah").
Cabala é um método esotérico que engloba um conjunto de ensinamentos
relacionados com Deus, o universo, o homem, a criação do mundo, a vida e a
morte. É uma mística esotérica judia que se fundamenta na revelação de Deus
a Adão e a Moisés.

É uma escola de pensamento espiritual que tenta decifrar o conteúdo


da Torá (os primeiros cinco livros do Antigo Testamento da Bíblia, denominado
Pentateuco pelos cristãos), acreditando que os segredos do Universo foram
revelados por Deus, de forma codificada, naqueles livros.
A cabala também é vista como uma filosofia de vida que ensina aos cabalistas
formas de superar obstáculos para evoluir e atingir a paz espiritual.

As suas primeiras manifestações remontam aos primeiros tempos da era cristã,


mas a cabala se desenvolveu particularmente entre os séculos XI a XVI e  se
transcreveu como doutrina em livros secretos como o Zohar (Livro do
Esplendor), redigido em Espanha no século XIII e que contém os ensinamentos
da cabala e orienta os seus seguidores.
A Árvore da Vida é um dos mais importantes símbolos cabalísticos. É
representada por 10 esferas (sefirot), sendo que cada uma reflete os aspectos
de Deus dentro de cada pessoa: a Coroa, a Sabedoria, a Compreensão, a
Compaixão, a Justiça, a Beleza, a Vitória, a Renovação, o Fundamento, o
Reino.
Ao longo dos séculos a cabala foi transmitida oralmente a um número reduzido
de discípulos. Ainda hoje, o seu estudo não é plenamente aceito em algumas
vertentes do Judaísmo.

A cabala se tornou popular quando começou a ser seguida por celebridades


como Madonna, Mick Jagger, Angélica, Luciano Huck, entre outros.

Outras grafias encontradas para designar a cabala são:


kabbalah, kabbala, kabala, qabbala, cabbala, cabbalah.

Cabala - O misticismo judaico revelado


Qual a origem do Universo? Por que estamos aqui? De onde vem a vida? O
que acontece depois da morte? Imagine se você pudesse fazer todas essas
perguntas diretamente para a autoridade máxima no assunto. Isso mesmo: que
tal ter uma conversa com Deus e ouvir dele todas as respostas? Agora imagine
que as respostas já existem, e foram passadas de geração a geração por um
grupo de sábios estudiosos, do início dos tempos até os dias de hoje. Pois
essa é a definição da cabala: uma revelação feita por Deus para os homens,
capaz de esclarecer todos os mistérios que rondam a humanidade. Conheça
aqui a história do misticismo judaico e saiba como a cabala está conquistando
o planeta.

Texto Daniel Schneider

No princípio, Deus criou os céus e a Terra. "Faça-se a luz", e a luz foi feita.
Depois, Deus criou o homem e o chamou Adão. Findos os 7 dias da Criação, o
Senhor viu que tinha feito algo bom. O homem habitava o paraíso e tinha
contato direto e constante com Ele. E daí Deus resolveu passar ao homem
toda a sabedoria da cabala. "Adão conhecia a cabala", dizem alguns
praticantes. O assunto, porém, é controverso entre os próprios cabalistas. Teria
o conhecimento da cabala sido passado de Adão a seus descendentes até
Noé, depois até Abraão, Moisés e em seguida aos grandes mestres históricos,
que selecionavam rigorosamente aqueles que estariam aptos a ser seus
discípulos? Não há consenso sobre o momento em que a cabala foi revelada
ao homem, mas todos os cabalistas concordam que o ensinamento sagrado
veio diretamente do Criador, assim como os 613 mandamentos judaicos
contidos na Torá, a bíblia judaica, que os cristãos chamam de Pentateuco. "A
cabala é além do tempo, ela não tem nem começo nem fim", diz o rabino
israelense Joseph Saltoun, ex-professor do Centro de Estudos da Cabala, em
São Paulo, e que hoje leciona em Vancouver, no Canadá.

Mas, afinal, o que é a cabala? Bem, para tornar mais simples a tarefa de
explicar, vamos começar dizendo o que ela não é. Ok, cabala NÃO É religião,
autoajuda, superstição, magia, bruxaria, sociedade secreta, meditação,
adivinhação, interpretação de sonhos, ioga, hipnose ou espiritismo, embora
possa estar relacionada a todas essas coisas. Agora fica mais simples
entender o que a cabala É: um conjunto de ensinamentos sobre Deus, o
homem, o Universo, a Criação, o Caminho, a Verdade e coisas afins; uma
revelação de Deus para o homem. "Ela nos diz por que o homem existe, por
que nasce, por que vive, qual é o objetivo de sua vida, de onde vem e para
onde vai quando completa sua vida neste mundo", diz Marcelo Pinto,
representante do centro de cabala Bnei Baruch no Brasil. "O ser humano tem
muitas questões, e a cabala é um caminho espiritual que permite trazer de
volta o elo com a verdadeira origem de tudo", explica Ian Mecler, professor de
cabala no Rio de Janeiro e escritor de livros como O Poder de Realização da
Cabala (Editora Mauad). Para Shmuel Lemle, professor da Casa da Cabala,
também no Rio, "nada acontece por acaso. Existem leis de causa e efeito.
Assim como existem leis físicas como a lei da gravidade, existem leis
espirituais".

Independentemente de quando a cabala tenha surgido, o modo como a


conhecemos hoje é o resultado da transmissão desses ensinamentos por meio
da tradição judaica. A palavra cabala (????, em hebraico, cuja pronúncia mais
próxima do original é "cabalá") significa receber/recebimento. A cabala é uma
forma de misticismo, pois ensina que é possível ao homem ter contato direto
com esferas superiores da realidade, ou mesmo com manifestações do próprio
Criador. Portanto, de um modo simplificado, a cabala é o misticismo judaico, ou
a corrente mística ligada à tradição do judaísmo, para ser mais exato.

União com o criador

Grosso modo, a cabala está para o judaísmo assim como o gnosticismo está
para o cristianismo e o sufismo está para o islã. Gnosticismo e sufismo são as
correntes místicas ligadas respectivamente às tradições cristã e muçulmana.
Como misticismos, essas 3 correntes têm muito em comum (veja o quadro da
página ao lado). A maior parte das diferenças está no modo de transmissão do
conhecimento, adaptado à tradição em que aquele tipo de misticismo se
desenvolveu. Esse raciocínio não vale apenas para as 3 religiões chamadas
abraâmicas (por serem todas herdeiras do patriarca Abraão) mas também para
as místicas orientais, como hinduísmo, tao e budismo, além do zoroastrismo na
Pérsia, só para citar as mais conhecidas.

Se a cabala é um tipo de misticismo, talvez seja o caso de explicar: o que é


misticismo? Em poucas palavras, é a crença na possibilidade de percepção,
identidade, comunhão ou união com uma realidade superior, representada
como divindade(s), verdade espiritual ou o próprio Deus único, por meio de
forte intuição ou de experiência direta em vida. Na intenção de atingir esse tipo
de experiência, as tradições místicas fornecem ensinamentos e práticas
específicos, como meditação e aperfeiçoamento pessoal consciente. Nosso
foco nesta reportagem, a cabala, não é exceção. Para entender melhor, vamos
dar uma espiada no passado?

Tradição oral

Seja qual for o primeiro e privilegiado homem a ter recebido o conhecimento


esotérico da cabala, ninguém discute que os ensinamentos foram transmitidos
oralmente ao longo de muitas gerações, até que alguém resolvesse eternizá-
los na escrita. Os primeiros escritos conhecidos com referências a esses
ensinamentos datam do século 1. São livretos reunidos numa coleção
chamada Heichalot ("Os Palácios"), que versam sobre os passos necessários
para ascender evolutivamente através de 7 palácios celestiais, com ajuda de
espíritos angelicais. Mas os livros mais importantes da cabala são o Sefer
Yitizirah (Livro da Criação) e o Zohar (Livro do Esplendor), ambos de origem
incerta. O primeiro teria sido escrito no século 2, mas seu autor é
desconhecido. No caso do Zohar, a situação é ainda mais complexa. Para
alguns cabalistas, ele foi escrito pelo rabino Shimon bar Yochai, também no
século 2. A maioria dos estudiosos, porém, acredita que o Livro do Esplendor
seja de autoria do escritor judeu-espanhol Moisés de León, que divulgou os
manuscritos no século 13.

Embora o Sefer Yitizirah e o Zohar concentrem em suas páginas os principais


ensinamentos da cabala, é importante lembrar que a Torá é tão importante
quanto eles. Isso porque, segundo a cabala, a Torá contém ensinamentos
preciosos codificados dentro do texto sagrado - decifrar esses ensinamentos
ocultos é, por sinal, um dos principais propósitos do misticismo judaico. Uma
das maneiras de interpretar a bíblia hebraica é recorrer a códigos e números: a
guematria, a face matemática da cabala (veja reportagem na página 32), atribui
valores numéricos a cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico. A ordenação
dessas letras no texto bíblico seria uma das maneiras que Deus teria
encontrado para revelar ao homem os segredos do Universo.

As interpretações da Torá são tão importantes que foram divididas em 4 níveis


de profundidade. O 1º nível, Peshat, é aquele com que todos leitores estão
acostumados, mais simples, que compreende o sentido literal do texto. O 2º,
Remez, já considera os significados alegóricos da linguagem (alusões). No 3º
nível, Derash, entram comparações entre trechos similares e metáforas. O
último nível seria aquele que compreende o sentido secreto e misterioso da
mensagem divina: Sod. Juntos, os nomes das interpretações já possuem um
significado próprio. Combinando-se as primeiras letras de cada um, obtém-se a
palavra PaRDeS, que significa paraíso e remete à finalidade última do esforço
de interpretação. Isto é, ao finalmente compreender a mensagem que Deus
colocou nos textos sagrados, o cabalista receberia de volta o conhecimento do
paraíso, como se lhe fosse devolvida a chave para retornar ao Éden, do qual
Adão foi expulso por desobediência. "É como uma gota retornando ao oceano,
de volta à realidade divina. Não é um processo fácil", diz o rabino Leonardo
Alanati, da Congregação Israelita Mineira.

Mestres e discípulos

Durante séculos, especialmente após a destruição do Segundo Templo em


Jerusalém pelos romanos, no ano 70, a sabedoria da cabala foi
cuidadosamente transmitida "por mestres iluminados somente a pequenos
grupos de seus discípulos mais brilhantes e inspirados", conta Alanati. Os
discípulos ideais eram homens maduros (mais de 40 anos), pais de família, de
comportamento exemplar e ávidos por descobrir os segredos do Universo. Não
eram muitos, portanto, aqueles que se tornavam mestres e davam continuidade
à transmissão do conhecimento oral. 
Para boa parte dos cabalistas, as restrições tinham uma razão clara: o público
não estava preparado para receber esses ensinamentos. "Esse é o principal
motivo para a transmissão restrita", opina Mecler. "Hoje, a evolução da ciência
ajuda a compreender muitos dos ensinamentos antigos", diz. Mas o motivo de
tanto segredo não era somente a escassez de discípulos ideais. Em diversas
épocas, por razões diferentes, os judeus foram proibidos de professar
publicamente sua fé - a perseguição aos cabalistas atingiu o clímax no século
16, durante a Inquisição espanhola (veja reportagem na página 56). Além
disso, "a cabala contém uma reinterpretação revolucionária do texto bíblico,
que usa uma simbologia complexa e uma linguagem ambígua", diz Alanati. Por
causa disso, em muitas ocasiões os cabalistas foram considerados hereges.
Até hoje, o estudo da cabala é condenado por várias vertentes do judaísmo.

Entre o período final da Idade Média e o fim da Idade Moderna, houve um


ressurgimento da cabala. No século 13, o Zohar foi distribuído pelo escritor
espanhol Moisés de León; no século 16, os conhecimentos foram
sistematizados pelo místico Moisés Cordovero, um dos sábios a se refugiar na
cidade israelense de Safed; em seguida, Isaac Luria divulgou novas
interpretações dos ensinamentos, que foram espalhados por vários mestres
pela Europa, fazendo da cabala a teologia dominante em círculos escolásticos
e no imaginário popular judaico; e, no século 18, o rabino Baal Shem Tov
fundou o hassidismo, variante ortodoxa do judaísmo que ensinava uma versão
mais "fácil" da cabala. De todo modo, "a essência é a mesma há 4 mil anos",
diz Mecler. "O conhecimento não muda, assim como as leis da física não
mudam. Muda só a forma de transmitir", diz Lemle.

Hoje, com o advento da internet, o conhecimento da cabala é acessível a


qualquer interessado, ainda que de forma simplificada. "Estamos prontos,
então a hora chegou", conclama Lemle. Nos séculos 20 e 21, foram feitas
diversas traduções do Zohar para o hebraico moderno (o idioma original é o
aramaico) e para o inglês (não existe uma versão completa em português).
Mas o fator que mais contribuiu para a popularização da mística judaica foi a
recente adesão (desde a década de 1990) de celebridades como Madonna,
Mick Jagger, David Bechkam, Britney Spears e outras (veja reportagem na
página 44).

A organização responsável pelo surgimento da cabala pop é o Kabbalah


Centre, uma escola de cabala fundada em 1984 na cidade de Los Angeles. Lá,
como você pôde perceber ao ler o nome dos famosos, o acesso aos
ensinamentos não é restrito a judeus. "Temos alunos de várias religiões", diz
Yehuda Berg, um dos coordenadores do centro americano. "Não vejo problema
nisso." 

Nem todos estudiosos aceitam a ideia de que a cabala deva ser acessível a
todos. A atitude do Kabbalah Centre provocou reações indignadas de
cabalistas mais tradicionais, como o iraquiano Yitzhak Kadouri, um dos mais
importantes estudiosos da cabala no último século. "A cabala não é moda",
disse em 2004, comentando a adesão de Madonna ao misticismo. "Ela deve
ser estudada somente por judeus." 

Controvérsias à parte, a verdade é que a cabala ganhou milhares de aspirantes


de diversas religiões nos últimos anos. Mas essa não é a primeira vez que
acontece esse tipo de "sincretismo". Veja a seguir como diversas crenças e
religiões encontraram na cabala uma parceira de peso.

Parcerias poderosas

Durante o Renascimento, a cabala despertou interesse de grupos místicos


cristãos, intrigados com a compatibilidade entre as duas tradições. O resultado
foi a criação da cabala cristã (ou católica), que levou novos níveis de
interpretação aos textos sagrados cristãos. "Considero Jesus um mestre de
cabala", diz Mecler. Um sincretismo mais profundo resultou no surgimento da
chamada cabala hermética, que reúne ensinamentos de gnosticismo, alquimia,
astrologia, religiões egípcia, greco-romana e pagãs, tarô, tantra, maçonaria,
hermeticismo, neoplatonismo, hinduísmo e budismo, em uma espécie de
síntese de todas as tradições místicas ditas autênticas. Outra variante é a
cabala prática, que trabalhava com o uso da magia, incluindo a criação de
amuletos e encantamentos, e teve seu apogeu na Idade Média (veja
reportagem na página 62).

Mas, além dessas tradições cabalísticas distintas, a própria cabala judaica tem
diferentes correntes. Uma delas é a já citada cabala pop. Outra variante tem
como expoente o Bnei Baruch Kabbalah Education & Research Institute,
fundado em 1991. Autodenominado o maior grupo de cabalistas em Israel, o
Bnei Baruch não considera a cabala um misticismo, mas "uma ferramenta
científica para o estudo do mundo espiritual". A proposta deles para
compreender o Universo é aliar os estudos científicos da física, da química e
da biologia às ferramentas cabalísticas. Seu fundador e atual diretor, o filósofo
Michael Laitman, é Ph.D. em cabala pela Academia Russa de Ciências e
mestre em biocibernética médica.

Além dessas e, claro, do judaísmo hassídico, existem outras correntes - mais


conservadoras, mais literais, mais flexíveis... "Cada escola se liga mais em um
ou outro mestre", esclarece Mecler. As diferenças são na ênfase em cada
aspecto da sabedoria, mas todas seguem a base comum dos textos sagrados
e da tradição oral. "Existem muitos mestres, e cada um pode escolher aquele
com o qual se identifica, mas não há diferença na base do ensinamento", diz
Lemle. Afinal, como costumam dizer, "a Verdade é uma só". Que tal conhecer
um pouco dela?

Deus-infinito

Assim como a religião judaica, a cabala afirma que tudo o que existe vem de
Deus. Entretanto, o Deus único não é compreendido exatamente da mesma
maneira. Se, para a religião tradicional, Deus é o todo-poderoso Criador de
todas as coisas, para a cabala Ele não é somente o Criador mas é também a
Criação. Ou seja, a Criação não é dissociada do Criador, mas parte d’Ele. A
existência de Deus não seria, portanto, distinta do espaço e do tempo; o
espaço e o tempo estariam contidos no próprio Deus-Infinito. Mas não vá
pensando que já entendeu, porque isso não é assim tão simples. E nem
imagine que essas racionalizações vão proporcionar a você um entendimento
profundo de Deus. Por um simples fato: segundo a cabala, ou mesmo a religião
judaica, o Deus-Infinito não pode ser compreendido pela nossa mente física
limitada. 

Claro que, apesar disso, os cabalistas não deixam de estudar esses


ensinamentos, porque os consideram fundamentais para prosseguir no
caminho da evolução espiritual. Um dos estudos mais importantes é justamente
o que diz respeito à natureza da divindade. Para começar, os cabalistas
preferem o termo Deus-Infinito - uma tradução para ??? ??? (lê-se da direita
para a esquerda), ou Ein Sof, aquele que veio antes de tudo, que precede a
Criação. Veja o que diz o Zohar sobre o Ein Sof: "Antes de dar qualquer
formato ao mundo, antes de produzir qualquer forma, Ele estava só, sem forma
e sem semelhança com qualquer outra coisa. Quem então pode compreender
como Ele era antes da Criação? Por isso é proibido emprestar-Lhe qualquer
forma ou similitude, ou mesmo chamá-Lo pelo Seu nome sagrado, ou indicá-Lo
por uma simples letra ou um único ponto... Mas, depois que Ele criou a forma
do Homem Celestial, Ele a usou como um veículo por onde descer, e Ele
deseja ser chamado por Sua forma, que é o nome sagrado ‘YHWH’".

Pode parecer estranho não poder dar um nome a Deus, tornando-o de certa
maneira inacessível para os homens. Afinal, se é assim, como pode existir uma
experiência mística que permite esse acesso? Bem, a cabala explica que o
contato com Deus é realizado indiretamente, por meio de um de seus
desdobramentos. "Para tornar-se ativo e criativo, Deus criou as 10 sefirot ou
emanações. As sefirot formam a Árvore da Vida, que representa os aspectos
de Deus existentes dentro de nós", explica o rabino Alanati. Ou seja, uma
maneira de ter o contato místico com Deus é através de uma das 10 sefirot, as
mesmas representadas no famoso diagrama. Alanati explica que as 7 esferas
mais baixas estão diretamente relacionadas com os 7 dias da Criação descritos
no livro do Gênese.

Mas como teria se dado exatamente a Criação? A cabala tem um livro


dedicado a esse tema: o já citado Sefer Yitizirah. O texto ensina que a primeira
emanação do Ein Sof foi ruach (espírito/ar), que em seguida gerou fogo,
responsável por formar água. A existência real dessas substâncias potenciais
foi comandada por Deus, que as utilizou como matérias-primas de toda a
Criação. Por exemplo, a água deu origem à terra, o fogo originou o céu e o ar
ocupou o espaço entre eles para formar nosso planeta. Ainda segundo o Sefer,
o Cosmos é dividido em 3 partes (cada uma delas contendo uma combinação
dos 3 elementos primordiais): o mundo (ou, com alguma abstração, o espaço),
o ano (tempo) e o homem.

A cabala divide o Universo em 4 planos de existência, divididos


hierarquicamente a partir da emanação do Ein Sof até nós. Nessa ordem,
teríamos então: o Atziluth (Mundo da Emanação ou das Causas), que recebe a
luz diretamente do Ein Sof; o Beri’ah (Mundo da Criação), onde não há matéria
e onde moram os anjos de mais alta hierarquia; o Yitizirah (Mundo da
Formação), onde a Criação assume forma material; e o Assiah (Mundo da
Ação), onde se completa a Criação e se localiza todo o Universo físico e suas
criaturas. No sistema luriânico, um quinto mundo é mencionado, acima do
primeiro, e que serviria de mediação entre o Ein Sof e o Mundo da Emanação.

Planos superiores

É curioso observar que, na cabala luriânica, desenvolvida no século 16 pelo


rabino Isaac Luria, há um conceito que lembra a Teoria do Big Bang. Segundo
essa linha cabalística, a primeira ação de Ein Sof para criar o Universo teria
sido uma contração sobre si mesmo, que teria provocado uma catástrofe inicial
chamada tohu, gerando um vácuo. Em seguida, esse váculo teria sido
preenchido com as emanações divinas (de uma maneira explosiva, tendo em
vista a grande velocidade dos acontecimentos narrados) e, a seguir, "retificado"
nos mundos que você conheceu no parágrafo anterior.

Enquanto estiver no Mundo da Ação, o homem está sujeito a dirigir o corpo


físico que lhe foi concedido, mas seu objetivo deve ser sempre o mesmo:
aprender e evoluir para ascender aos planos superiores. "O judaísmo acredita
que a alma é eterna e subdividida", diz Alanati. "A vida continua em outras
realidades além da nossa, aguardando a ressurreição. A cabala é a única
corrente dentro do judaísmo que defende o conceito de reencarnação: algumas
almas retornam a este mundo em outro corpo, até acabar de cumprir a sua
missão. Ou então elas voltam para nos trazer bênçãos e luz através de seu ser
altamente desenvolvido". Segundo ele, seria possível uma alma atingir o
estágio de evolução necessário em uma única vida, mas é comum receber
mais algumas chances, num processo de reencarnação que também faz parte
dos aprendizados evolutivos.

Segundo a cabala, a alma humana é dividida em 3 partes básicas. A mais


"baixa", chamada nefesh, é a parte animal, responsável pelos instintos e
reflexos corporais. Acima dessa estaria ruach, o espírito ou alma média, que
contém as virtudes morais e a habilidade de distinguir o que é bom e o que é
ruim. A alma alta, neshamah, seria a terceira parte, que representa o intelecto e
distingue o homem das outras formas de vida, por permitir a vida após a morte.
É a neshamah que permite a percepção da existência de Deus.

Outras duas partes da alma humana são discutidas no Zohar: chayyah, que
permite a consciência da força divina, e yehidah, a parte da alma que é alta o
suficiente para atingir o maior nível possível de união com o Criador. "A meta é
alcançar o propósito para o qual fomos criados: a equivalência de forma com a
Força Superior. Todo o trabalho na cabala tem esse objetivo", resume Marcelo.
Na hipótese remota de a humanidade finalmente se unir ao Criador, em uma
fusão completa e perfeita, o que aconteceria? O fim do mundo? O começo de
uma nova e gloriosa Criação? Bom, isso nem mesmo os mestres cabalistas
sabem responder... 

VOLTA ÀS ORIGENS
Grupo de jovens israelenses se reúne em uma caverna perto da vila de Beit
Meir, em Jerusalém, para estudar a cabala, em maio de 2010. Uma vez por
semana, cerca de 12 judeus ortodoxos se encontram nesta caverna perto da
cidade sagrada para repetir um ritual antigo: analisar e discutir, por horas a fio,
os textos de livros como o Zohar. 
FESTA MÍSTICA
Mais de 2 mil estudantes da cabala se reuniram na Times Square, em Nova
York, para celebrar a chegada do Ano-Novo Judeu, Rosh Hashana, em
setembro de 2001. O canto, a dança e as vestes brancas são típicos de uma
nova geração de cabalistas, que considera a festa, a celebração e a alegria tão
importantes quanto a meditação e as longas sessões de estudo dos textos
antigos. 

LADO A LADO
Judeus ortodoxos e soldados israelenses rezam juntos na tumba do rabino
Isaac Luria, em Safed, Israel. Luria, um dos mais importantes cabalistas de
todos os tempos, foi o responsável pela renovação do misticismo no século 16
com a criação da cabala luriânica e a divulgação de seus ensinamentos para
além dos círculos judaicos.

BANHO SAGRADO
Um judeu se banha nas águas geladas da Mikve HaAri, localizada em Safed,
Israel. Cabalistas repetem há anos o ritual, prestando homenagem ao rabino
Isaac Luria, que teria utilizado as mesmas águas no século 16. Alguns se
banham todos os dias, mas o mais comum é realizar o ritual na véspera do
Shabat.

SÓ PARA JUDEUS
O cabalista Yitzhak Kadouri segura um exemplar do Zohar na biblioteca de sua
casa em Jerusalém, em 2004. Um dos maiores estudiosos contemporâneos da
cabala, Kadouri ganhou notoriedade por sua influência política e por suas
declarações polêmicas. Em 2004, durante visita de Madonna a Israel, ele se
recusou a falar com a cantora, dizendo que "o estudo de cabala é proibido para
as mulheres, e também para os que não são judeus".
A cabala no tempo 
Conheça a evolução da corrente mística judaica, da criação do Universo até os
dias de hoje 

Criação
Origem - 3700 a.C.
Deus cria Adão. Há quem defenda que ele teria sido o primeiro conhecedor da
cabala, obtida diretamente do Criador.

Patriarca - 1800 a.C.


Nasce Abraão, patriarca dos judeus, dos cristãos e dos muçulmanos. Para
alguns, ele seria o primeiro conhecedor da cabala.

Êxodo - 1500 a.C.


O profeta Moisés teria recebido a cabala diretamente de Deus no monte Sinai,
juntamente com a Torá e os Mandamentos.

Templo - 516 a.C.


É erguido o Segundo Templo em Jerusalém. A chamada Torá Oral é
transmitida ao longo dos anos.

Formação
Diáspora - 70 D.C.
Perseguição romana e destruição do Segundo Templo. Segunda diáspora.
Cabala é mantida em segredo.

Palácios - Séc. 1
É escrita a coleção de literatura judaica conhecida como Heichalot ("Os
Palácios"), que inspirou motivos cabalísticos.

Manuscritos - Séc. 2
É escrito o livro Sefer Yitizirah, a obra mais antiga do chamado esoterismo
judaico. Segundo a tradição, é escrito também o Zohar, no idioma aramaico,
pelo rabino Shimon bar Yochai.

Título - Séc. 11
O termo cabala passa a ser usado para identificar o misticismo judaico. Não há
consenso se o pioneiro nesse uso foi o filósofo judeu Shlomo ibn Gevirol ou o
cabalista espanhol Bahya ben Ahser. 

Expansão
Redescoberta - Séc. 13

O Zohar é descoberto (ou escrito, segundo alguns estudos) e distribuído pelo


escritor judeu-espanhol Moisés de León.

Renovação - Séc. 16
Sábios cabalistas refugiam-se na cidade de Safed, em Israel: entre eles está
Isaac Luria, criador da cabala luriânica. 

Vivência - Séc. 18
Fundado pelo rabino e místico judeu Baal Shem Tov, o judaísmo hassídico,
ramo ortodoxo que prega a vivência mística da fé judaica, populariza uma
forma mais simples de cabala no Leste Europeu. 

Tradução - Séc. 20
O rabino Yehuda Ashlag, fundador do Kabbalah Centre de Israel, completa em
1922 a primeira tradução do Zohar para o hebraico moderno. Em 1984, Philip
Berg funda o Kabbalah Centre de Los Angeles. 

Ao acompanhar esta linha do tempo, você vai notar algumas discrepâncias


entre o que dizem as tradições judaicas e a opinião dos estudiosos. O caso
mais exemplar é o do Zohar: no século 13, Moisés de León distribuiu a primeira
versão escrita da obra, alegando que havia encontrado os manuscritos
originais, do século 2. Conta-se, porém, que um homem rico ofereceu à viúva
de Moisés de León uma alta soma de dinheiro pelos originais. Desolada, ela
teria confessado que seu marido era o verdadeiro autor.

Uma verdade, muitos caminhos 


Cada misticismo tem seu próprio método para chegar até a Verdade. Mas a
essência é a mesma. Veja aqui as semelhanças e diferenças entre 6 correntes
místicas 

CABALA

O que é - O misticismo judaico é baseado na crença de que todos os segredos


do Universo foram revelados por Deus, de forma codificada, na Torá. Os
cabalistas procuram desvendar esses segredos.

Principal texto - Distribuído no século 13 pelo rabino Moisés de León, o Zohar


ajuda a explicar os ensinamentos ocultos na Torá.

Principal patriarca - Abraão, embora não haja consenso se o primeiro


conhecedor da cabala teria vindo antes (Adão ou Noé) ou depois (Moisés).

Entidade máxima - Ein Sof, o Deus-Infinito, que criou o Universo usando as 22


letras do alfabeto hebraico e as 10 emanações chamadas de sefirot.
GNOSTICISMO

O que é - Gnose é um tipo especial de conhecimento, uma espécie de saber


profundo. Ligado à história do cristianismo, o gnosticismo possui elementos
pagãos e outros sincretismos.

Principal texto - Escrito por volta do séc. 2, o Pistis Sophia relata os


ensinamentos de um Jesus ressuscitado aos apóstolos.

Principal patriarca - Para os gnósticos, Jesus Cristo é o maior mestre de todos


os tempos, mas não é considerado o próprio Deus.

Entidade máxima - O Absoluto. Num conceito próximo ao do Ein Sof, Ele


também tem emanações, conhecidas como "Æons".
SUFISMO

O que é - A palavra remete à ideia de pureza. Enquanto o islã crê no encontro


com Deus após a morte, o sufismo defende essa possibilidade ainda em vida,
por meio de uma experiência mística, chamada irfan.

Principal texto - Escrito no século 11 pelo sábio persa Hujwiri, o Kashf al


Mahjub ("Revelando o Velado") discute os principais conceitos sufistas.

Principal patriarca - O profeta Maomé teria transmitido os ensinamentos


sufistas àqueles que poderiam experimentar um encontro com Alá.

Entidade máxima - Seguindo a tradição islâmica, Alá é o único Deus, embora


tenha uma coleção de nomes, assim como acontece na cabala.

RAJA IOGA

O que é - Originado no hinduísmo, o raja ioga ("ligação", em sânscrito) também


está presente no budismo e consiste em disciplinas mentais muito além das
práticas mais conhecidas no Ocidente.

Principal texto - Os textos hindus conhecidos como Ioga Sutra explicam os


meios de atingir o Samadhi, que seria a união completa com Deus.

Principal patriarca - Não tem. Entretanto, uma figura histórica importante é


Patañjali, autor dos Yoga Sutra e de outros textos filosóficos.

Entidade máxima - Brahman é para o Ioga a Realidade Eterna, Infinita,


Imutável, Origem e Identidade de tudo o que há no Universo.

ZOROASTRISMO

O que é - Misticismo surgido na antiga Pérsia, baseado nos ensinamentos de


Zaratustra. Dizem que os iniciados detinham o conhecimento místico
necessário para dominar as forças da natureza.

Principal texto - Chamado Gathas, traz versos que exploram a essência divina
da Verdade, da Mente Sadia e do Espírito de Justiça.

Principal patriarca - O profeta Zaratustra (ou Zoroastro) viveu em algum


momento entre os séculos 16 e 10 a.C. e teria sido o autor do Gathas.

Entidade máxima - Chamado por Zaratustra de "o Deus não criado", por ser a
origem de tudo, Ahura Mazda é onisciente, mas não onipotente.

TAO

O que é - Profundamente dualista, o tao prega o caminho do equilíbrio entre os


eternos opostos. Viver em harmonia, agindo com sutileza por meio do "não
agir" (wu-wei), seria a chave para atingir o Tao.
Principal texto - O Tao Te Ching ("Livro do Caminho e da Virtude") serviu de
inspiração não só para o taoismo, mas também para o zen-budismo.

Principal patriarca - Autor do Tao Te Ching, o reverenciado Lao Tsé (o nome


significa Velho Mestre) é envolto em mistérios. 

Entidade máxima - Verdadeira natureza do Universo, o Tao o precede e o


abarca completamente. Não personificado, confunde-se com o próprio
Caminho.

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