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a confecção de artefatos de borracha. Porém essas alternativas se mostram insuficientes pois,
para a primeira, existem diversas controvérsias quanto às emissões durante a queima, enquanto a
segunda apresenta redução de pequenos volumes.
A utilização de pneu moído, ou pó de pneu como adição ao cimento asfaltico tradicional,
tem se mostrado uma alternativa ambientalmente adequada, que pode apresentar grandes
reduções de volume desse resíduo. Há que se considerar ainda o aspecto mais importante, qual
seja a redução de custos de manutenção com a menor degradação do pavimento asfaltico com o
uso.
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Fig.1 Custos de manutenção com e sem asfalto emborrachado
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A mistura final é altamente resistente ao envelhecimento devido a incorporação de
antioxidantes e inibidores de raios ultravioleta existentes na borracha de pneu (Dados da
Rubberized Asphalt Concrete Technology Center – RATC). Maior resistência ao trincamento
(rupturas, fissuras, etc.). O asfalto emborrachado pode, então, ser aplicado para reduzir a
espessura (utilização de menos material – preservação de reservas e menos transporte). A
diminuição dos custos pelo aumento da vida útil do pavimento e menor utilização de material é
um resultado esperado o que representa uma enorme vantagem ambiental.
Além disso, segundo a RPA, pavimentos contendo borracha são mais flexíveis sob cargas
pesadas, o que resulta em menos rachaduras e problemas de durabilidade.
No Brasil, onde as altas tempe raturas são predominantes e as rodovias são submetidas ao
tráfego intenso de cargas pesadas, essas características se tornam ainda mais atraentes.
O número de pneus inservíveis pode ser reduzido. Relatórios da EPA mostram que mais
de US$5,500,000 são gastos todo ano, nos EUA, em combate a doenças transmitidas por
mosquitos, além dos riscos de incêndio e desastres ambientais conseqüentes dos depósitos
irregulares de carcaças de pneus. A recente epidemia de casos de Dengue no país ressalta as
vantagens segundo esse aspecto.
Os diversos trabalhos que tratam do tema mostram que, em geral, um quilômetro de
asfalto emborrachado, com quatro linhas, pode usar em torno de 2.000 a 3.000 pneus,
dependendo do tipo de aplicação. Considerando que cada pneu de veículo de passeio pesa 10Kg,
e que todos os pneus citados acima são de carros de passeio, temos um uso de 20 a 30t de pneus
por Km de via.
Uma outra vantagem é a redução do ruído de tráfego pelo uso do asfalto emborrachado. O
Relatório Sobre a Redução de Ruído de Tráfego pelo Uso de Asfalto Emborrachado, no Condado
de Sacramento na Califórnia (EUA), por exemplo, mostra uma diminuição considerável do nível
de ruído (3 a 5 decibéis). Existem autores que admitem que essa redução possa atingir 10 db,
como, por exemplo, estudos do presidente do Comitê Técnico do Asfalto Emborrachado de Bonn
na Alemanha, professor E. Nakkel.
O impacto de uma diminuição de 50% no nível de ruído (3 a 5db) representa uma redução
do volume de tráfego à metade, ou 25% de redução na velocidade, ou mesmo dobrar a distância
da fonte de ruído (fonte: RPA).
Essa redução pode também reduzir custos, se considerarmos a necessidade da obrigação
legal, em alguns países, da construção de paredes contra ruídos, que custam em torno de 200 a
400 dólares por pé linear.
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4. ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA
As principais barreiras que têm desencorajado a utilização de borracha de pneus em
pavimentação estão ligadas à expectativa de um maior custo nos processos produtivos do asfalto
emborrachado. A experiência no Rio Grande do Sul mostrou que os custos produtivos
praticamente não se alteram e a parcela maior de custo fica por conta da logística associada à
obtenção da borracha resultante da reciclagem do pneu.
O asfalto emborrachado contém borracha de pneus reciclados. Inicialmente o pneu deve
ser coletado e processado para obtenção da borracha. Essa borracha é fabricada sob condições
especiais para garantir as especificações. Ela é entregue na obra onde será adicionada ao concreto
asfaltico. Essas etapas extras, que não são necessárias para fabricar o asfalto convencional,
agregam um custo por tonelada ao custo do asfalto.
A análise feita nesse trabalho tomou como base o fluxo de caixa apresentado para o
projeto de duplicação da BR-101 no trecho Florianópolis/SC – Osório/RS. Os resultados de
viabilidade para a construção com asfalto convencional, está apresentada na Tabela I.
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Como os custos para a fabricação do asfalto emborrachado são maiores nos EUA, devido
ao maior custo da sua mão de obra, foram adotados os valores sugeridos pelo professor Ceratti,
tomados da experiência realizada no Rio Grande do Sul. Para o caso brasileiro, o custo do asfalto
emborrachado se mostrou na prática, em média, 40% superior ao custo do asfalto
convencional.
Admitiu-se que os valores dos custos iniciais foram desdobrados para toda a extensão da
rodovia, nos seguintes tiens: custo de pavimentação (35%), terraplanagem (30%), drenagem
(10%), sinalização (5%) e custos de obras de arte (20%).
Da mesma forma, o item pavimentação foi desdobrado em dois outros itens: custo do
revestimento (60%) e custo da base (40%) (Fonte: DNER/IME).
O acréscimo nos custos foi feito somente no desdobramento revestimento, dentro do item
pavimentação, pois segundo os trabalhos pesquisados não há nenhuma alteração de custo nos
demais desdobramentos.
A terceira hipótese está relacionada à maior vantagem apresentada, nos trabalhos
consultados, do asfalto emborrachado comparado ao asfalto convencional, ou seja: o custo de
manutenção.
Para a manutenção, foram analisados os dados da rodovia construída, em 1990, no estado
do Arizona/EUA (WAY 2000), de acordo com a figura 2 apresentada anteriormente.
Para os valores apresentados no gráfico, que representam 10 anos de construção da
rodovia (dados de 1999) foram adicionadas linhas de tendência lineares que apresentaram
coeficientes R2 satisfatórios, e a pa rtir das equações de regressão foram adotados os valores para
os demais anos da análise. Os resultados estão na tabela II e as curvas são apresentadas no
gráfico I.
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Tabela II - Custos reais e projetados para manutenção de rodovias
1600,00
1400,00
1200,00
y = 127,27x - 119,09
2
1000,00
R = 0,933
800,00
Custo
600,00
400,00
y = 46,909x + 41,364
200,00
R2 = 0,9443
0,00
0 2 4 6 8 10 12
-200,00
Tempo (anos)
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As hipóteses adotadas foram aplicadas na planilha consolidada, mostrada na Tabela I. Os
resultados podem ser vistos na Tabela III.
Para refinamento da análise, vários cenários foram simulados em uma análise de
sensibilidade, cujas premissas são apresentadas na tabela IV a seguir, e os gráficos II e III
mostram os momentos em que o Valor Presente Líquido - VPL passam a ser negativos
(inviabilidade do projeto), dado o item de custo implantação ou manutenção.
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GRAFICO II – ANÁLISE DE SENSIBILIDADE NO CUSTO DE IMPLANTAÇÃO
$100,0
$80,0
$60,0
$40,0
VPL (US$ milhões)
$20,0
$0,0
$937,0
($20,0)
($40,0)
($60,0)
($80,0)
($100,0)
US$1,019.4 US$861.00
VPL (US$82.4) US$76.00
$80,0
$60,0
$40,0
VPL (US$ milh ões)
$20,0
$0,0
$558,4
($20,0)
($40,0)
($60,0)
($80,0)
US$638.90 US$473.20
VPL US$56.30 US$60.60
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5. CONCLUSÕES
A partir das informações coletadas e analisadas, percebe-se que o asfalto emborrachado
parece ser viável e recomendável, como tendência de mercado, com um grau de acerto
satisfatório.
Os valores das variáveis de sensibilidade do modelo (custo de implantação e custo de
manutenção), quando alterados substancialmente, não apresentaram uma grande variação no
VPL ou na TIR do projeto do asfalto emborrachado, o que parece caracterizar uma maior
probabilidade de acerto quanto à viabilidade econômica do projeto do asfalto alternativo.
A taxa de desconto (TMA) estipulada para análise é análoga para ambas as metodologias
de construção (assim como a vida útil dos projetos), e ambos os projetos tiveram VPL positivo,
sendo, portanto, viáveis economicamente. Entretanto, o asfalto convencional apresentou um VPL
e uma TIR ligeiramente maiores do que o asfalto emborrachado. A rigor, se a análise terminasse
aqui, o asfalto convencional deveria ser o escolhido para a construção da duplicação da Rodovia
Florianópolis-Osório.
Cabe salientar que existem externalidades no projeto do asfalto convencional que
poderiam ser diminuídas com a escolha do asfalto emborrachado. Estas externalidades não foram
medidas porque não foram encontrados dados confiáveis que dessem consistência a uma análise
dessa natureza. Algumas externalidades que não foram medidas para fins de análise econômica
foram:
Diminuição de Ruídos;
Diminuição de Custo Operacionais de Veículos;
Diminuição do Número de Acidentes, etc.
Não menos importante é a avaliação ambiental dos projetos, que também não foi
considerada para fins desta análise. O benefício da retirada destes pneus do meio ambiente é
talvez o maior de todos os benefícios desse tipo alternativo de asfalto.
Desta forma, como a diferença de VPL e TIR entre os projetos é pequena, apenas
1,2% em termos de TIR e US$37.5 milhões de VPL, em 25 anos de vida útil, acredita-se que
o asfalto emborrachado seja a melhor opção econômica, quando levadas todas essas
externalidades em consideração na análise.
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6. BIBLIOGRAFIA
SILVA L. S., SPECHT L. P., CERATTI J. A. P., FORTE M. C., ROSSINI, G. Utilização
do ensaio de inchamento na seleção de polímeros como modificadores asfálticos. 6º
Congresso Brasileiro de Polímeros. Anais... 2001.
WAY, G. B. Flagstaff I-40 asphalt rubber overlay project, nine years of success.
Transportation Research Record, 78th Annual Meeting. Washington, 2000.
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